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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS

ALINE NOWOTNY EBERHART

DESENVOLVIMENTO DE SOLUÇÃO ORAL DE


FUROSEMIDA PARA ADMINISTRAÇÃO EM NEONATOS.

Dourados, 2017
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS

ALINE DE PAULA OVIEDO 202.905


ALINE NOWOTNY EBERHART 202.528
DANILO CARMELO FERREIRA 432.256
LUANA OLIVEIRA 202.686

DESENVOLVIMENTO DE SOLUÇÃO ORAL DE


FUROSEMIDA PARA ADMINISTRAÇÃO EM NEONATOS.

Artigo apresentado pelo Grupo 7 de


Desenvolvimento de Medicamento em
Estágio Supervisionado de 2017, do curso
de Farmácia, da Faculdade de Ciências
Biológicas e da Saúde da Unigran.

Orientadora: Professora Me. Ana Paula


Almeida.

Dourados, 2017
DESENVOLVIMENTO DE SOLUÇÃO ORAL DE FUROSEMIDA PARA
ADMINISTRAÇÃO EM NEONATOS.

EBERHART, Aline Nowotny; OVIEDO, Aline de Paula; FERREIRA, Danilo Carmelo, OLIVEIRA, Luana.

RESUMO

A furosemida é um diurético de alça amplamente utilizado no tratamento de diversas doenças, tais como a
hipertensão arterial, o edema cardíaco, renal e hepático e na insuficiência cardíaca congestiva (ICC). O
tratamento com furosemida em neonatos é feito de forma intravenosa, o que dificulta a alta dessas pacientes,
para continuação do tratamento em casa, Nesse sentido, objetivou-se desenvolver um medicamento com a
furosemida como princípio ativo, porém em uma forma farmacêutica de mais fácil administração, que
aumente a adesão ao tratamento, seja menos dolorosa ao paciente e agregue também a possibilidade de
tratamento sem a necessidade de internação hospitalar. Desenvolveu-se então uma solução oral do tipo
xarope, sugar free, procedendo-se então a avaliação do mesmo quanto a qualidade do produto final,
desenvolvimento de um protocolo de assistência farmacêutica e descrição dos efeitos adversos provenientes
do uso da furosemida. O medicamento resultante analisado encontrou-se dentro dos limites para os
parâmetros determinados, sendo então alcançado o objetivo proposto.

Palavras-chave: furosemida, via oral, xarope, neonatos, ICC.

Introdução

A furosemida é considerada o fármaco mais potente em uso clínico para a aplicação


a que se destina. É um diurético que atua no segmento espesso da alça de Henle, chamado
diurético de alça, utilizado no tratamento da hipertensão arterial, edema cardíaco, renal e
hepático e insuficiência cardíaca congestiva (LAMOLHA et al., 2011).
Em neonatos, é frequentemente administrada em casos de insuficiência cardíaca
congestiva, lesão renal aguda e prematuridade com prejuízo da função pulmonar. A forma
farmacêutica utilizada é a solução endovenosa, porém isto está associado ao desequilíbrio
de eletrólitos e fluídos nesses pacientes (FOERSTER et al., 2008).
Deve-se considerar também que a terapia intravenosa em recém-nascidos é
complexa, envolvendo uma série de cuidados e desafios. Características fisiológicas como
pele imatura, fragilidade da rede venosa, risco de infecção, alta sensibilidade à dor, menor
quantidade de tecido subcutâneo e risco para lesão cerebral, requerem critério e
conhecimentos específicos ao desenvolver essa prática (CARDOSO et al., 2011).
Em muitos casos, pacientes recém-nascidos que apresentam evolução em seu
quadro clínico poderiam continuar o tratamento em suas casas, sob a supervisão dos seus
pais e acompanhamento pediátrico periódico, não fosse a escassez no mercado de formas
farmacêuticas para essa faixa etária que possibilitem a administração do medicamento fora
do ambiente hospitalar.
Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo o desenvolvimento de uma forma
farmacêutica de fácil administração em neonatos, sendo a escolha um solução oral do tipo
xarope, sem açúcar, também chamada sugar free, de furosemida 4mg/ml.

Materiais e Métodos

1. Pesquisa e desenvolvimento da forma farmacêutica

Para o desenvolvimento do medicamento, a escolha feita foi de uma solução oral do


tipo xarope sugar free, devido a faixa etária alvo, onde a administração de comprimidos é
inviável considerando-se o perigo de engasgamento, sendo o xarope uma opção mais
segura e de fácil administração, com viscosidade e sabor doce.
Apesar de a formulação ser livre de açúcar, a presença de outras substâncias
edulcorantes conferem sabor mais agradável à formulação. A forma farmacêutica escolhida
apresenta outras vantagens, como maior facilidade de administração e possibilidade de
ajuste da dose e tratamento do paciente fora do ambiente hospitalar.
Um estudo realizado por Duarte (2013) procurou avaliar a estabilidade de solução
oral de furosemida preparada a partir de solução injetável. O resultado obtido demonstrou
uma boa estabilidade do fármaco em um período de teste de 60 dias.
Para garantir a estabilidade do medicamento durante seu período de validade, no
entanto, é imprescindível seguir as instruções de armazenamento, ou seja, o medicamento
deve ser mantido em sua embalagem original, em temperatura ambiente (entre 15 e 30ºC),
em local seco, fresco e ao abrigo da luz.
Tabela 1–Componentes da formulação de xarope sugar free de furosemida (100ml),
quantidades, funções e incompatibilidades.

COMPOSIÇÃO % / QUANTIDADE FUNÇÃO INCOMPATIBILIDADES

- Instável à luz e em soluções


Furosemida 4mg/ml – 0,4g Ativo
aquosas açucaradas;
- Soluções ácidas;
- Sais solúveis de ferro e
Doador de
CMC 0,5% - 0,5g alguns outros metais, como
viscosidade
alumínio, mercúrio e zinco;
- Goma Xantana.
- Tensoativos não- iônicos;
- Bentonite, trisilicato de
Metilparabeno 0,15% - 0,15g Conservante magnésio, talco, tragacanto,
alginato de sódio, óleos
essenciais, sorbitol e atropina;
- Pode reagir com grandes
moléculas, resultando na
Sacarina 0,10% - 0,10g Edulcorante formação de precipitado;
- Não sofre reação de
Maillard.
- Água com muitos íons
metálicos trivalentes em
condições fortemente ácidas e
Sorbitol 70% 5% - 5g Estabilizante
alcalinas.
- Penicilinas em soluções
neutras e aquosas;
- Substâncias susceptíveis à
Água Purificada q.s.p 100% - 93,85 ml Veículo
hidrólise;
Fonte:Handbook of pharmaceuticals excipients, 2009.

Os componentes da formulação foram calculados, pesados e medidos. Transferiu-se


para um béquer 50 ml de água purificada, 0,15 g de metilparabeno e 5 ml de sorbitol 70%.
Foi feito o aquecimento até total solubilização.
Adicionou-se 0,10g de Sacarina, solubilizando lentamente para não cristalizar.
Após a solubilização, o béquer foi retirado chapa aquecedora. Foi adicionado 2g de CMC,
pulverizando sobre a solução e homogeneizando lentamente.
O ativo foi levigado em vidro-relógio com um pouco de água e incorporado aos
demais componentes em solução já fria, procedendo-se as análises de controle de
qualidade. Constatando-se a conformidade do medicamento, foi feito o envase e o
acondicionamento.

2. Protocolo de Assistência Farmacêutica


No momento da dispensação do medicamento o profissional farmacêutico possui
diversas atribuições, entre elas fazer a avaliação criteriosa da receita médica, das
incompatibilidades, interações medicamentosas e qualquer outro aspecto que coloque em
risco o paciente e a eficácia do tratamento (OLIVEIRA et al., 2012).
Segundo a RDC nº 44 de 17 de agosto de 2009, no que tange à dispensação de
medicamentos, o usuário tem direito à assistência farmacêutica, onde receberá orientações
e informações sobre a terapia farmacológica, com ênfase no cumprimento da posologia, a
interação com outros medicamentos e influência dos alimentos, as condições de
armazenamento e o reconhecimento de possíveis reações adversas (BRASIL, 2009).
A dispensação do medicamento não deve ser apenas um ato de entrega do produto,
mas sim um momento privilegiado de contato do farmacêutico com o paciente. Assim, um
modelo pré-estabelecido de assistência e orientação que dá suporte ao profissionalserá
seguido para a dispensação do medicamento, compreendendo as seguintes etapas:
- Análise da prescrição: compreende a análise da compatibilidade dos
medicamentos prescritos com o quadro clínico do paciente, das possíveis interações entre
as substâncias prescritas e do intervalo entre as administrações.
- Aconselhamento ao paciente: compreende a prestação de informação pelo
farmacêutico acerca da finalidade de cada medicamento prescrito, forma de administração
e horários das tomadas, possíveis interações, reações adversas e sintomas ligados à
administração do medicamento, e importância de adesão e cumprimento correto da terapia.
- Finalização: o farmacêutico deverá se certificar que o paciente compreendeu todas
as informações e orientações prestadas.

3. Efeitos adversos e análises clínicas

A furosemida é um diurético de alça que bloqueia o sistema co-transportadorde Na+


K+ 2Cl- localizado na membrana celular luminal do ramo ascendente da alça de Henle. A
eficácia da ação depende do fármaco alcançar o lúmen tubular por um mecanismo de
transporte aniônico, levando à inibição da reabsorção de cloreto de sódio.
Como efeitos secundários, ocorre o aumento da excreção urinária e da secreção de
potássio, cálcio e magnésio.Os efeitos anti-hipertensivos da furosemida são devidos ao aumento
da excreção de sódio, redução da resposta do músculo liso vascular ao estímulo vasoconstritor e
redução do volume sanguíneo.
Estes efeitos secundários de perda de eletrólitos como potássio, cálcio e magnésio podem
levar a efeitos adversos tais como distúrbios eletrolíticos, desidratação e hipovolemia,
principalmente em pacientes idosos. Também são reações adversas comuns a hipotensão,
hiponatremia e hipocalemia, o aumento do volume urinário e a hemoconcentração.
Exames laboratoriais apontam aumento dos níveis séricos de colesterol, ácido úrico, uréia e
alcalose metabólica. Também ocorre comumente a hemoconcentração e, com menor frequência,
trombocitopenia. É rara a ocorrência de leucopenia, eosinofilia, agranulocitose, anemia aplástica
ou anemia hemolítica.
O quadro clinico apresentado em casos de superdosagem do fármaco depende da extensão
e consequências da perda de eletrólitos e fluídos, podendo ocorrer hipovolemia, desidratação,
arritmias cardíacas, hemoconcentração, hipotensão severa que poderá progredir para choque,
insuficiência renal aguda, trombose, delírio, apatia, paralisia flácida e confusão.

Resultados e Discussão

1. Controle de qualidade do produto final

Para verificar a qualidade do produto final obtido, foram realizados ensaios físicos
e organolépticos. Quanto as características organolépticas, o xarope deve apresentar-se
límpido, viscoso e com sabor doce agradável.
Os ensaios físicos compreendem a determinação da viscosidade, que deve ser em
torno de 190 cPo a 20ºC para xarope comum, e a determinação do pH, que deve estar entre
5,0 e 6,0, também para xarope comum.
Por se tratar de xarope artificial, não foram realizados ensaios químicos para
determinação de teor de sacarose e açúcar invertido, pois o mesmo não é a base de
sacarose como o xarope comum.
A determinação do pH foi feita a partir da imersão do eletrodo do pHmetro no
produto final, após a calibração do aparelho conforme instruções do fabricante. O resultado
obtido foi de 5,82.
A análise da viscosidade do xarope é feita através de viscosímetro, anotando-se o
valor dado pelo equipamento, porem esta não foi realizada devido a defeito no
equipamento disponibilizado pela universidade.
A determinação do aspecto foi realizada coletando-se 10 mL do xarope e
transferindo-se para tubo de ensaio, onde, após agitação, observa-se o aspecto e a
homogeneidade. O odor foi determinado a partir da mesma amostra, efetuando-se
movimentos circulares com o tubo de ensaio, aproximando a amostra às narinas. Ainda a
partir dessa amostra, foi retirado com o auxilio de uma espátula uma alíquota de 1 ml para
ser experimentada para a determinação do sabor. Em todos os parâmetros analisados o
produto encontrava-se dentro das especificações.

Conclusões

Avaliando a solução oral obtida e o resultado dos testes de controle de qualidade,


verifica-se que o objetivo inicial deste trabalho foi alcançado. Obteve-se uma forma
farmacêutica inovadora para o princípio ativo utilizado, que apresentou bom aspecto, sabor
agradável e mostrou-se estável no prazo compreendido entre o preparo e a finalização do
projeto.
Este estudo possibilitou o desenvolvimento de um protocolo de assistência
farmacêutica adequado para a orientação do paciente que fará uso do medicamento, além
do conhecimento dos potenciais efeitos adversos decorrentes do seu uso.
É muito importante o desenvolvimento de novas formas farmacêuticas, dentro das
características exigidas por cada princípio ativo, para aumentar as alternativas de
tratamento e, consequentemente, a adesão e correto cumprimento da terapêutica prescrita
pelo médico. Facilitar a administração, tornando mais agradável ou menos sofrível, como a
forma endovenosa, foi um dos principais objetivos alcançados no desenvolvimento desse
medicamento.

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