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Universidade Federal Fluminense

Faculdade de Farmácia.
Departamento de Tecnologia Farmacêutica.
Disciplina de Farmacotécnica Experimental IV.

SUSPENSÕES FARMACÊUTICAS
Desenvolvimento de suspensões de Ibuprofeno

Niterói, 24 de junho de 2019.


1. Introdução

Suspensões são formas farmacêuticas líquidas de dispersão grosseira constituídas de


duas fases: uma interna sólida (descontinua ou dispersa) e outra externa, líquida (contínua
ou dispersante). A fase dispersa é insolúvel na fase líquida, mas, através de agitação
podem ser facilmente suspensas.
Uma suspensão aquosa é um sistema de formulação útil para a administração de
fármacos insolúveis ou pouco solúveis. A grande área superficial do fármaco disperso
garante uma alta disponibilidade para dissolução e, portanto, absorção. Neste contexto,
as suspensões de Ibuprofeno são amplamente empregadas.
O Ibuprofeno é um fármaco do grupo dos anti-inflamatórios não esteroidais (AINE)
utilizado para o tratamento da dor, febre e inflamação. Este fármaco atua inibindo as
ciclo-oxigenases 1 e 2 evitando assim a consequente formação de mediadores pró-
inflamatórios pela cascata do ácido araquidônico, inibindo a produção de prostaglandinas.

Pode ser utilizado para o alívio sintomático de enxaquecas, cólicas menstruais, dor
dentária, dor muscular, febre e dor pós-cirúrgica; e para quadros inflamatórios como os
que se apresentam em artrites, artrite reumatoide e artrite gotosa.

São muitos os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento e na


preparação de uma suspensão, além das estabilidades química, física e microbiológica, as
características desejadas para suspensões em geral são:

● O material suspenso não deve decantar muito rapidamente;


● As partículas que decantarem para o fundo do recipiente não devem formar uma
massa rígida, mas serem facilmente dispersas em uma mistura uniforme quando o
recipiente for agitado;
● A suspensão não deve ser excessivamente viscosa para escorrer livremente pelo
orifício do frasco ou fluir através da agulha da seringa

Alguns aspectos teóricos também devem ser considerados na formulação de uma


suspensão, para garantir sua estabilidade. A lei de Stokes fornece informações sobre os
parâmetros que influenciam na sedimentação das partículas, sendo útil para controlar e
retardar a velocidade de sedimentação:

V= [2r2 g (dsol – dliq)] / 9η

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Em que V = velocidade de sedimentação; r = raio da partícula; g = gravidade d =
densidade sólido e líquido e η = viscosidade.
Os aspectos reológicos da fase dispergente são igualmente críticos na velocidade
de separação de fases de uma suspensão. Segundo a Equação de Stokes, o aumento da
viscosidade (η) pode reduzir a velocidade de sedimentação, sendo um dos recursos mais
empregados para estabilizar suspensões.
No que diz respeito à densidade da fase interna, as suspensões ( > densidade que
o veículo) tendem à sedimentação. Igualmente, segundo a Lei de Stokes, quanto maior a
diferença entre densidade da partícula dispersa e veículo dispersante, maior será a
velocidade de sedimentação
Em sistemas dispersos, em que as fases dispersas e dispersantes apresentam afinidade
muito baixa, ou mesmo repulsão, a molhabilidade da partícula será baixa, podendo
inclusive ocorrer adsorção de gases, os quais tendem a deixar as partículas menos densas,
provocando, inclusive, a flutuação. Dependendo desta afinidade, pode formar-se um
ângulo de contato entre o líquido e o sólido. Quanto maior o ângulo, mais dificuldade em
obter uma suspensão.
A molhabilidade também pode ser aumentada com a adição de tensoativos,
macromoléculas muito hidrofílicas (CMC e gomas) ou ainda substâncias hidrófilas
inorgânicas insolúveis (bentonita, Veegum®, hidróxido de alumínio e Aerosil®). A
adição desses componentes, de modo geral, tende a aumentar a área de contato sólido
líquido.
O agente suspensor aumenta a viscosidade da fase externa da suspensão,
retardando a floculação e reduzindo a velocidade de sedimentação. Retardam a floculação
e reduzem a velocidade de sedimentação do material suspenso. Na escolha do agente
suspensor, deve-se considerar o pH do meio, a via de administração, a estabilidade e a
incompatibilidade com os componentes da suspensão.
Baseado nisso, foram propostas duas formulações de suspensão de ibuprofeno
para se avaliar a interferência dessas várias na sua estabilidade e características físico-
químicas.
2. Objetivo
Desenvolvimento de duas suspensões com diferentes formulações de ibuprofeno 30
mg/mL, analisando e comparando suas características físico-químicas por 21 dias.

3. Metodologia

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3.1 Formulação 1
No preparo da formulação 1, primeiro classificou-se as matérias-primas como parte
da fase dispersa ou da fase dispersante e em seguida escolheu-se a melhor forma para
manipulação

a)Fase dispersa: Ibuprofeno, sorbitol e tween 80.


Para a preparação da fase dispersa adicionou-se em um gral o Ibuprofeno e, com
auxílio do pistilo, foi feita a trituração para diminuir o tamanho das partículas do princípio
ativo. Em seguida foram adicionados o tween 80 e, após homogeneização, o sorbitol.
b)Fase dispersante: goma xantana, benzoato de sódio e ácido cítrico
A fase dispersante foi preparada em um bécher, onde se solubilizou a goma
xantana em cerca de 50 mL de água. Feito isto, a sacarina e o benzoato de sódio foram
adicionados à mistura.
A fase dispersante foi vertida sobre a fase dispersa e, após ser homogeneizada, a
mistura foi transferida para um cálice, onde foram adicionados o corante amarelo e 3
gotas da essência. Por fim, avolumou-se a mistura com água em purificada para 100 mL.

Composição Quantidades Função

Ibuprofeno 1,5% Princípio ativo

Goma xantana 0,3% Agente suspensor

Tween 80 0,05% Agente molhante

Sorbitol 10% Agente umectante

Acido cítrico 0,1% Regulador de pH

Essência q.s Flavorizante

Corante q.s Corante

Água purificada q.s.p 50 mL Veículo

Tabela 1 Matérias-primas com suas respectivas funções e quantidades necessárias para o


preparo da suspensão 1.

3.2 Formulação 2

No preparo da formulação 2, também se classificaram as matérias-primas como


parte da fase dispersa ou da fase dispersante e em seguida escolheu-se a melhor forma
para manipulação.

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Tabela 2. Matérias-primas com suas respectivas funções e quantidades necessárias para o
preparo da suspensão 2.

Nome Função Porcentagem Quantidade

Ibuprofeno Princípio ativo 3% 1,5g

Sorbitol Umectante/Edulcorante 20% 15mL

Goma Xantana Agente Suspensor 1% 0,5g

Benzoato de Sódio Conservante 0,2% 0,1g

Ácido cítrico Acidulante 1% 0,5mL

Sacarina sódica Edulcorante 0,2% 0,1mL

Corante laranja Corante - qs

Aromatizante laranja Flavorizante - qs

Água destilada Veículo - 50mL

4. Metodologia:
Triturou-se com gral e pistilo 1,5g de ibuprofeno, misturando-se, em seguida, 10
mL de sorbitol com o intuito de molhar o ativo. Em um bécher, 0,1g de ácido cítrico e
0,1g de sacarina sódica foram diluídos em 15mL de água destilada. Os componentes do
gral e do bécher foram transferidos para um cálice e homogeneizados com bastão de
vidro. Em um bécher, preparou-se uma solução de goma xantana a 1% com água sob
aquecimento. Essa solução, após esfriar, foi acrescentada ao cálice com agitação por
bastão de vidro até que se atingisse a viscosidade desejada, totalizando um volume de
59mL. Por fim, adicionou-se aromatizante de laranja até que o odor se tornasse persistente
e 5 gotas de corante laranja.

a) Fase dispersa:
b) Fase dispersante

Para avaliar a qualidade e estabilidade das suspensões produzidas foram realizadas


as caracterizações das mesmas, onde se avaliou os aspectos visuais (cor e
homogeneidade), o pH, o volume de sedimentação e a facilidade de redispersão do

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sedimento. As caracterizações foram realizadas 1, 7, 14 e 21 dias após a manipulação das
suspensões. Em cada análise, a altura do sedimento foi medida antes da homogeneização
da suspensão ser realizada.
5. Resultados e discussões
Formulação 1
Nas as análises realizadas (dia 1, 7, 14 e 21) observou-se que

Um ponto negativo da formulação foi que esta apresentou grande formação de


espuma quando homogeneizada, muito provavelmente pela presença do agente molhante
(tensoativo – tween 80). Por isso, uma possível melhoria poderia ser alcançada
diminuindo sua concentração na formulação ou substituindo-o por outro componente de
sua classe.
Como pontos positivos da formulação pode-se destacar algumas características
como cor e pH, que se mantiveram inalteradas durante toda a análise.
Tabela 3. Caracterização de cor, pH e altura do sedimento da suspensão de Ibuprofeno

Altura(cm)

DIA Cor pH Aspectos Aspecto Volum Sedimento Solução


da solução inicial após Redispersão e Total (antes da (fase
(após 5 min) (ml) redispersão) líquida)

1 Lilás 5,0 Solução Heterogênea com Solução de fácil redispersão 48ml 0,5 (depositado no fundo) 6,0
flutuação de partículas e com fase fluoculada e fase
pouquissimo sediemento aumento da fase sedimentada

7 Lilás 5,0 Solução Heterogênea com Solução de fácil redispersão 48ml 1,9 de sedimento 6,1
sedimento depositado ao longo com grumos ao longo da depositado no fundo
da solução toda solução toda e início de
sedimentação

14 Lilás 5,0 Solução límpida com Solução de fácil redispersão 48ml 1,8 cm de senimento 6,2
sedimentação ao fundo com partículas fluoculadsa e
fase sedimentada

21 Lilás 5,0 Solução límpida com Solução de fácil redispersão 48ml 0,2 cm de sedimento 7,8
sedimentação ao fundo partículas fluoculadas e
formação de espuma

Fotos das Suspensões:

● Dia da Formulação da Suspensão

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Dia 1 Aspecto Inicial Aspecto após
da Suspensão a Redispersão

Foto
da Formulação

Aspecto Inicial Aspecto após


Dia 7 da Suspensão a Redispersão

Foto da
Formulação

Dia 14 Aspecto Inicial Aspecto após


da Suspensão a Redispersão

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Foto da
Formulação

Dia 21 Aspecto Inicial Aspecto após


da Suspensão a Redispersão

Foto
da Formulação

Formulação 2

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Conclusão

● Formulção 1

Notou-se ao longo do experimento, que em grande parte dos dias em foram observadas
as possíveis mudanças na suspensão , cor, aspecto antes e após a redispersão, altura do
sedimento e volume total e realizado o teste de pH, que a suspensão apresentou
comportamento fora do esperado já que ao invés de ser de solução homogênea de fácil
redispersão e sedimentar lentamente ao longo do tempo houve floculação das partículas
e sedimentação ao mesmo tempo. Isso pode se dever ao fato da quantidade de tensoativo
ou umectante não terem não ter sido suficiente para diminuir o atrito entre as partículas e
molhá-las, respectivamente.

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Referências bibliográficas

1. Drugs.com - Know More, Be Sure. Disponível em:


<https://www.drugs.com/search.php?searchterm=ibuprofen&a=1.>. Acesso em 30
de maio de 2019.
2. Michael E. Aulton, Kevin M. G. Taylor. Aulton delineamento de formas
farmacêutica. 4° ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
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