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Fisiologia Animal

Digestão enzimática endógena


Fisiologia II
MIMV

UTAD/ECAV
Dep. Zootecnia
Victor Pinheiro
Digestão enzimática endógena
INTRODUÇÂO
Durante a passagem pelo aparelho digestivo os alimentos sofrem uma degradação, dando origem a elementos
de menor peso molecular que posteriormente são absorvidos. Neste processo de degradação intervém
fenómenos de ordem física e química.
As modificações dos alimentos por via física nos mamíferos dão-se durante a mastigação e nas aves durante
a trituração na moela. A motilidade do tubo digestivo e os processos de solubilização também fazem parte
destas modificações físicas.
0 ataque químico dos alimentos dá-se por ação das secreções das glândulas anexas e do próprio tubo
digestivo (digestão enzimática), e por ação de enzimas produzidas por bactérias e protozoários existentes no
aparelho digestivo (digestão microbiana).
As enzimas digestivas contidas nas secreções do tubo digestivo exercem a sua actividade sobre os três
principais grupos de nutrientes: proteínas, hidratos de carbono e gorduras e sobre os produtos intermédios
resultantes da degradação destes. A degradação dos alimentos por ação destas enzimas dá-se por ruptura
das ligações glicosídicas, peptídicas e esteres existentes entre as moléculas.
A origem das enzimas que intervêm na digestão e variável com a espécie e reflecte a importância dos
diferentes processos digestivos:
- Nos carnívoros a digestão é principalmente realizada com enzimas próprias, podendo ingerir alimentos
energéticos e ricos em proteínas.
- Nos herbívoros dá-se uma importante digestão de natureza microbiana o que lhes permite ingerir alimentos
vegetais ricos em celulose. A digestão com enzimas do animal é também importante. A ordem pela qual se
dão os dois tipos de digestão é diferente nos ruminantes e nos herbívoros monocavitários. Nos ruminantes dá-
se primeiro a digestão microbiana e depois a enzimática enquanto que nos monocavitários acontece o inverso,
do que resulta diferente eficiência digestiva.
-Nos omnívoros a digestão com enzimas microbianas têm uma importância intermédia entre as duas classes
anteriores.

1 - Digestão de proteínas
0 desdobramento dos compostos peptídicos no intestino delgado realiza-se em parte em situação intraluminal
por acçao das enzimas pancreáticas e em parte por uma digestão membranosa e degradação intracelular com
a ajuda das amino-peptidases da mucosa intestinal.
A tripsina, a quimiotripsina e as carboxipeptidases degradam as proteínas e os polipeptídeos de elevado peso
molecular. 0 posterior desdobramento dos oligopeptideos dá-se mediante digestão membranosa ou
intracelular por acção das enzimas aminopeptidases e dipeptidases.
Digestão enzimática endógena

2 - Digestão de hidratos de carbono


A degradação dos hidratos de carbono tem duas fases:
- desdobramento intraluminal dos polissacaáidos
- digestão membranosa dos oligossacáridos.
A degradação intraluminal e da responsabilidade da amilase. Esta enzima e responsável pela quebradas
ligações glicosídicas, com excepção das 1,4 glicosídicas terminais e das 1,6 a- e 1,4 -glicosídicas
próximas de ramificações.
Actua sobre o amido, amilose, amilopectina e glicogenio. Ao actuar no amido liberta as cadeias de
amilose e de amilopectina. Da sua ação sobre a ami1ose liberta-se a maltose e a maltotriose e da acçao
sobre a amilopectina liberta-se a maltose, a maltotriose e a a-dextrina.
As dissacaridáses (maltase, lactase e sacarase) estão localizadas na zona pilosa das ce1ulas epiteliais
do intestino delgado. Provocam a degradação dos dissacáridos em monossacáridos que são então
absorvidos.

3 - Digestão de gorduras
As gorduras alimentares emulsionam-se no intestino delgado com a colaboração de sais dos ácidos
biliares que actuam como detergentes. Os ácidos biliares reduzem também o pH óptimo de actuação da
lipase pancreática e impedem que OS ácidos gordos esterifiquem nas células epiteliais.
A lipase corta as ligações esteres da gordura originando monogliceridos e ácidos gordos. Se o
monoglicérido possuir um ácido gordo de cadeia curta a lípase pode também actuar sobre ele.
Os ácidos gordos, OS monoglicéridos e OS ácidos biliares formam agregados carregados negativamente
(micelas) que penetram nos espaços entre as microvilosidades sendo os ácidos gordos e os
monogliceridos rapidamente absorvidos e OS ácidos biliares absorvidos posteriormente no íleon.
As bacterias existentes no tubo digestivo constituem uma segunda fonte de enzimas. Especialmente nos
herbívoros, as bactérias encontram-se em altas concentrações e permitem aproveitar a celulose e outros
compostos fibrosos ao produzirem a enzima glucosidase e outras.
Digestão enzimática

 Objectivo

 Pretende-se exemplificar alguns aspectos da digestão enzimática endógena de proteínas,


hidratos de carbono e gorduras.

 Material e Reagentes  Espectrofotómetro


 Tubos de ensaio  Tubos espectrofotómetro
 Goblé de 500 ml  Solução de azul de bromotimol
 Termómetro  Solução de NaOH 1M
 Pipetas de 1, 2, 5 e 10ml  Solução de Benedict
 Pipetas de Pasteur  Solução de Biureto
 Goblés de 20 ml  Solução de amido
 Goblés de 50 ml  Saliva
 Lamparina  Solução de lugol
 Leite fresco  Reagente de biureto
 Solução de pancreatina 5%  HCl 5%
 Solução pepsina 5%  Água destilada
 Solução de amílase 1%  Soro fisiológico
 Deoxicolato de sódio (DOC)  Marcador
 Gelo  Placa de aquecimemnto
 Banho Maria 37ºC
Digestão de proteínas

 Preparar os tubos de ensaio de acordo com o Quadro 1.


 Colocar os tubos em banho Maria a 37ºC durante 1,5 hora
 Observar se ocorreu digestão do substrato e registar os resultados no Quadro 1

Quadro 1. Tubos a preparar e resultados da digestão das proteínas

Tubo Clara de Pancreati Pepsina Saliva NaOH H 2O HCl 5% Resulta


ovo na (ml) ml (ml) (ml) (ml) dos
cozida (g) (ml)
1 5 - 4 -

2 5 2 2 -

3 5 2 2

4 5 - 2 - 2

5 5 2 2 -

* A solução de saliva Humana pode ser substituída por amílase fúngica adicionando 5 gotas

Confirmação da digestão de proteínas

 A digestão das proteínas e do substrato usado pode ser verificada pelo desaparecimento físico
dos pedaços de clara de ovo, nomeadamente pelo burilamento das arestas dos pedaços usados
para a digestão
 No caso de haver dúvidas adigestão pode ser verificada pela determinação da concentração de
proteínas no sobrenadante dos tuboos , usando o método do Biureto
 Preparar os tubos de espectofotómetro com 4 ml de reagente de biureto e 1ml do sobrenadante
das amostras anteriormente preparadas
 Ler a densidade óptica no espectrofotómetro e registar os resultados
 Execução prática

Digestão do amido
Solução de amido
 Misturar uma colher de chá de farinha (amido) com um pouco de água fria de modo a obter uma
pasta homogénea
 Juntar 20 ml de água quente e mexer até diluir durante 2 a 3 minutos
 Deixar arrefecer antes de usar
Recolha de saliva
Recolher cerca de 2 ml de saliva, para o que deve lavar previamente a boca. Diluir a saliva com
soro fisiológico na proporção de 1:1

Preparar os tubos como a seguir se indica e se encontra resumido no Quadro 2


Padrões (Tubos 1 e 2)
 Colocar 3 ml de solução de amido num tubo de ensaio
 Adicionar 2-3 gotas de solução de lugol
Tubo 3, 4 , 5 e 6
 Colocar 3 ml de solução de amido nos tubos de ensaio
 Adicionar 2-3 gotas de solução de lugol
 Adicionar 2,5 ml de solução de pancreatina nos tubos 3 , 4 e 5
 No tubo 6 substituír a pancreatina por solução de amilase
 Colocar os tubos 1, 3 e 6 em banho Maria a 37ºC, o tubo 4 a 0ºC e os 2 e 4 a 60ºC.
 Registar a alteração de cor nos dois tubos ao fim de 10 minutos e efectuar o registo no Quadro 2

Nota: O soluto de lugol dá ao amido uma cor azul escura

Caso surjam dúvidas sobre a digestão do amido deve fazer a pesquisa de açucares redutores
utilizando o reagente de Benecdit. Seguir os passos a seguir indicados;

 Colocar 2 ml de solução de Benedict em dois tubos em que se pretende fazer a pesquisa de


açucares redutores
 Adicionar aos tubos 0,5 ml de solução do tubo a testar Colocar os tubos em banho Maria
fervente durante 5 minutos e deixar arrefecer lentamente. Observar a mudança de cor e
formação de precipitadoi

Nota: A solução Benedict contém sulfato de cobre. Os açucares redutores (ex. maltose e frutose)
reagem com o ião cúprico (azul) e formam um precipitado de óxido cuproso (vermelho).

açucares redutores ] vermelho > laranja > amarelo > verde  açucares redutores]

Quadro 2. Tubos a preparar para a digestão do amido

Tubo Amido Lugol Pancreatina Saliva* Temper Resultado


ml gotas ml ml ºÇ
1 3 2 - - 37
2 3 2 - - 70
3 3 2 2 - 37
4 3 2 2 - 0
5 3 2 2 - 70
6 3 2 - 2 37
* A solução de saliva Humana pode ser substituída por amílase fúngica adicionando 5 gotas
Resultados da pesquisa de açucares redutores

Tubo Digestão do amido


Identificação da glicose
Cor desenvolvida Precipitado
?
?

Digestão das gorduras

 Preparar 3 tubos de ensaio de acordo com o Quadro 3.


 Homogeneizar após adicionar o indicador de pH (bromotimol azul)
 Adicionar NaOH 1M caso após a adição do indicador não tiver obtido uma coloração azulada. O
número de gotas a adicionar deve ser de forma a obter uma ligeira coloração azul de idêntica
tonalidade entre tubos
 Homogeneizar os tubos e colocar em banho Maria a 37ºC
 Registar o tempo necessário para que haja alteração de cor do indicador de pH
 Registar os resultados no Quadro 3

Notas: O detergente deoxicolato de sódio (DOC) é um emulsificante e tem efeito dos sais biliars

H2O
Tiglicéridos Ácidos gordos + glicerol
Lipase

Quadro 3. Tubos a preparar e resultados da digestão das gorduras

Tubo Leite Bromotimol H2O ml Pancreatina Saliva * DOC NaOH Resultad


ml azul (gotas) ml ml gotas gotas os

1 2,5 2-3 2 3 ?

2 2,5 2-3 2 3 ?

3 2,5 2-3 2 ?

4 2,5 2-3 2 3 ?

* A solução de saliva Humana pode ser substituída por amílase fúngica adicionando 5 gotas
Questões.

A que se deve o desaparecimento da cor castanha no tubo colocado a 60ºC.

Que resultados lhe permitem demonstrar a especificidade da amilase

Qual a importância dos sias biliares na digestão das gorduras

Se a saliva fosse de uma animal jovem poderia haver digestão das gorduras

As enzimas pancreáticas atuam em meio alcalino ou ácido.

Como pode observar se houve digestão das proteínas.

Quais as enzimas pancreáticas responsáveis pela digestão das proteínas?

Qual a explicação da mudança de cor nos tubos na experiencia C?

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