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FORMAS FARMACÊUTICAS LÍQUIDAS

I - PRINCIPAIS VEÍCULOS, AGENTES COADJUVANTES E INCOMPATIBILIDADES

CARACTERÍSTICAS DOS EXCIPIENTES:

Nas formas farmacêuticas, os excipientes representam a maior parte da forma farmacêutica


(em relação ao volume da forma), quando comparados com a concentração do ativo.

Do ponto de vista químico, a inércia atribuída aos excipientes deve ser encarada com certas
reservas. Sua reatividade, apesar de baixa, pode ser potencializada por fatores físico-
químicos do meio, desencadeando reações que podem levar à desestabilização da forma
e/ou degradação do fármaco: presença de grupos funcionais alcoólicos, grupos terpênicos
em flavorizantes, corantes contendo iodo, espécies complexantes (EDTA) ou substâncias
redutoras (lactose). Inúmeros excipientes possuem centros quirais (amido e celulose) que
podem interagir com fármacos racêmicos.

Outra característica dos excipientes clássicos é a inatividade farmacológica e toxicológica, o


que não pode ser generalizado.

CARACTERÍSTICAS DE UM EXCIPIENTE IDEAL:

Ø - Toxicologicamente inativo.

Ø - Química e fisicamente inerte frente ao fármaco.

Ø - Compatível com outros ingredientes da formulação.

Ø - Incolor e insípido.

Ø - Elevada fluidez e boa capacidade de escoamento.

Ø - Disponível a partir de diversas fontes, com custos adequados.

Ø - Fácil de ser armazenado.

Ø - Características reprodutíveis lote-a-lote.

Ø - Desempenho consistente com a forma farmacêutica ao qual se destina.

INSTABILIDADES E ASPECTOS CRÍTICOS NA FORMULAÇÃO DE LÍQUIDOS:

A. Instabilidade Química:
Fármacos em preparações líquidas podem estar mais susceptíveis a reações químicas de
degradação, como hidrólise, oxidação e redução. A velocidade da reação de degradação é
influenciada pelo pH, pela presença de metais, pela exposição à luz, pela temperatura
(geralmente é maior em temperaturas mais altas). Fármacos em solução são mais
vulneráveis à degradação química do que no estado sólido (em suspensões).

B. Instabilidade Física:

Suspensões podem ser susceptíveis à sedimentação dos fármacos não solubilizados,


causando “caking” (massa compacta formada pela sedimentação das partículas que estavam
suspensas de difícil dispersão).

A dificuldade de ressuspender ou a rápida sedimentação após agitação pode levar à erro de


medida da dose do medicamento (no caso de suspensões para uso oral); a própria
refrigeração, aconselhável para aumentar a estabilidade química e reduzir o crescimento
microbiano, também pode aumentar demasiadamente a viscosidade de uma suspensão
dificultando a sua ressuspensão ou causar a precipitação do fármaco ou de conservantes; o
pH também pode causar a precipitação de fármacos.

C. Instabilidade Microbiológica:

O crescimento microbiano em uma preparação oral líquida pode causar um odor


desagradável, turbidez, um efeito indesejável de palatabilidade e na aparência da
formulação (o metabolismo microbiano pode causar alterações no pH da preparação e
reduzir a estabilidade química ou solubilidade do fármaco).

A contaminação microbiana durante a preparação da formulação deve ser minimizada pela


utilização de equipamentos e vidrarias limpos e sanitizados, pela utilização de água
purificada e/ou outros veículos com qualidade microbiológica adequados e evitando a
utilização de matérias-primas e embalagens contaminadas.

O pH final da preparação deve ser compatível com o conservante a ser utilizado (o benzoato
de sódio ou o ácido benzóico, por exemplo, apresentam atividade antimicrobiana numa faixa
de pH menor que 5,0) e com a estabilidade do fármaco.

PRINCIPAIS EXCIPIENTES FARMACOTÉCNICOS:


Avaliadas as propriedades físico-químicas do fármaco e estabelecida a melhor via de
administração, a escolha dos adjuvantes mais adequados para determinada formulação
deverá basear-se nas características das substâncias contidas na fórmula, bem como na
possibilidade de interações entre os excipientes e o(s) fármaco(s). Os principais adjuvantes
farmacotécnicos encontram-se descritos a seguir:

Veículos: preparação inerte destinada à incorporação do (s) ativo(s). Podem ser edulcorados
e conter agentes suspensores.

Exemplos: xarope simples, sorbitol 70%, glicerina, água, etc.

Solventes: usados para dissolver outra substância na preparação de uma solução; pode ser
aquoso ou não (ex. oleaginoso). Co-solventes, como a água e álcool (hidroalcóolico) e água e
glicerina, podem ser usados quando necessários.

Exemplos: álcool, óleo de milho, óleo de algodão, glicerina, álcool isopropílico, óleo mineral,
ácido oléico, óleo de amendoim, água purificada, água para injeção.

Absorventes: substâncias adicionadas para absorverem água presente nos extratos ou para
fixar certos compostos voláteis, como as essências. Exemplos: fosfato de cálcio, caolim,
carbonato de magnésio, bentonita, talco.

Agentes molhantes: substâncias adicionadas com a finalidade de diminuir a tensão


superficial na interface sólido/líquido. Age diminuindo o ângulo de contato entre a água e as
partículas sólidas, aumentando a molhabilidade das partículas. Exemplos: lauril sulfato de
sódio (LSS), docusato sódico, polissorbatos 20, 60, 80 (Tweens®).

Agentes tamponantes: usados para fornecerem às formulações, resistência contra variações


de pH, em casos de adição de substâncias ácidas ou básicas. Exemplos: tampão citrato,
tampão fosfato, tampão borato.

Corantes, aromatizantes e flavorizantes: adjuvantes empregados para corrigir cor, odor e


sabor desagradáveis, tornando a preparação mais atraente. Os corantes devem ser
escolhidos em uma tabela que fornece os nomes daqueles que são permitidos para uso
alimentício. Alguns podem causar reações alérgicas e/ou desencadear processos de irritação
gástrica. Exemplos de flavorizantes: baunilha, mentol, óleo de canela, óleo de anis, cacau,
dentre outros.
Agentes emulsificantes: usados para estabilizar formulações que possuem um líquido
disperso no seio de outro líquido com ele imiscível. O emulsionante ou emulsificante
mantém a estabilidade da dispersão. O produto final pode ser uma emulsão líquida ou
semisólida (creme). Podem ser aniônicos, catiônicos ou anfotéricos. Ainda, podem ser
naturais ou sintéticos. Exemplos: monoestearato de glicerila, álcool cetílico e gelatina.
Podem ser empregados como agentes emulsivos auxiliares: CMC-Na, MC, alginato e pectina.

Agentes surfactantes (tensoativos): substâncias que reduzem a tensão superficial. Podem ser
usados como agentes molhantes, detergentes ou emulsificantes. Exemplos: cloreto de
benzalcônio, nonoxinol 10, octoxinol 9, polissorbato 80, lauril sulfato de sódio.

Agentes suspensores: agentes utilizados para aumentar a viscosidade da fase externa de


uma suspensão (dispersão de sólidos, finamente divididos, no seio de um líquido no qual o
fármaco é insolúvel). Reduzem a velocidade de sedimentação das partículas do fármaco.
Agente doador de viscosidade ao meio.

EXEMPLOS:

Agente suspensor Concentração pH aplicável


usual

Goma adraganta 0,50 - 2,00% 1,90 - 8,50

Goma arábica (goma acácia) 5,00 - 10,00 % --------

Goma xantana 0,3 - 0,5 % 3,0 - 12,0

Celulose microcristalina/CMC-Na 0,50 - 2,00% 3,50 - 11,00

(Avicel® RC 591)

CMC-Na 0,50 - 2,00% 2,00 - 10,00

Hidroxipropilmetilcelulose (HPMC) 0,30 - 2,00% 3,00 - 11,00

Metilcelulose 0,50 - 5,00% 3,00 -11,00

Hidroxietilcelulose (Natrosol®) 0,10 - 2,00% 2,00 - 12,00

Bentonita 0,50 - 5,00% 3,00 - 10,00

Dispersões

melhores em

pH neutro

Agente suspensor Concentração pH aplicável


usual

Alginato sódico 1,00 - 5,00% 4,00 -10,00

Carbômero (Carbopol®) 0,50 - 1,00% 5,00 - 11,00

Povidona Até 5,00% Não é afetado

pelo pH, exceto

por pH

muito cáustico

Pectina 1,00 - 3,00% 2,00 - 9,00

Silicato de Alumíno e Magnésio 0,50 - 2,50% 3,50 - 11,00

(Veegun®)

Dióxido de silício coloidal 2,00 - 10,00% Até 10,70


(Aerosil®)

Adaptado: Rowe et al., 2003.

Agentes de tonicidade (Isotonizantes): usados para obtenção de soluções com características


osmóticas semelhantes às dos fluidos biológicos, à serem administradas pelas vias: ocular,
nasal, parenteral. Exemplos: NaCl , manitol e dextrose.

Agentes levigantes: líquido usado como agente facilitador no processo de redução de


partículas do fármaco, durante o preparo de emulsões, bases oleosas, dentre outras.
Triturado juntamente com o fármaco.

Exemplos:

Agente levigante Densidade MIscibilidade Uso

Óleo mineral (vaselina 0,88 miscível em óleos fixos bases oleosas


líquida) (exceto óleo de rícino)
base de absorção
imiscível com água, álcool,
glicerina, propilenoglicol, emulsões água/óleo
PEG 400, e óleo de rícino

Glicerina 1,26 miscível com água, álcool, emulsões bases


propilenoglicol e PEG 400 óleo/água

imiscível com óleo mineral bases solúveis em


água e ictiol
e óleos fixos

Propilenoglicol 1,04 miscível com água, álcool, emulsões base


glicerina e PEG 400 óleo/água

imiscível com óleo mineral bases solúveis em


água
e óleos fixos

PEG 400 1,13 miscível em água, álcool, emulsões base


glicerina e propilenoglicol
óleo/água
imiscível com óleo mineral
bases solúveis em
e óleos fixos
água

Óleo de algodão 0,92 miscível com óleo mineral o óleo de algodão


e outros óleos fixos ou algum outro
incluindo o óleo de rícino óleo vegetal; pode
ser usado
imiscível com água, álcool,
glicerina , propilenoglicol e como substituto
PEG 400 para o óleo mineral
quando um óleo
vegetal é preferido
ou quando o sólido
pode ser
incorporado mais
facilmente nestes
óleos.

Óleo de rícino 0,96 miscível com álcool e ictiol ou bálsamo do


outros óleos fixos. Peru, mesmos usos
descritos para o
Imiscível com água,
óleo de algodão.
glicerina, propilenoglicol,
PEG 400 e óleo mineral

Polissorbato 80 1,06-1,09 miscível com água, álcool, Coaltar

(Tween ® 80) glicerina, propilenoglicol, Circunstâncias em


que um surfactante
PEG 400, óleo mineral e
é desejado, pode
óleos fixos.
ser incompatível
com algumas
emulsões

água / óleo

Agentes alcalinizantes ou acidificantes ; usados para alcalinizar ou acidificar o meio,


respectivamente, para fornecer estabilidade ao ativo ou promover sua dissolução.

Exemplos:
Agentes acificantes (acidulantes) Agentes alcalinizantes

Ácido cítrico Solução de amônia

Ácido acético Carbonato de amônio

Ácido tartárico Hidróxido de potássio (KOH)

Ácido fumárico Dietanolamina

Ácido clorídrico (HCl) Monoetanolamina

Ácido bórico Hidróxido de sódio (NaOH)

Bicarbonato de sódio

Trietanolamina

Borato de sódio

Conservantes: usados em preparações líquidas e semi-sólidas para prevenção do


crescimento e desenvolvimento de microrganismos (fungos e bactérias). Exemplos de anti-
fúngicos: ácido benzóico, benzoato de sódio, butilparabeno, metilparabeno (Nipagin®),
propilparabeno (Nipasol®), etilparabeno, propionato de sódio. Anti- bacterianos: cloreto de
benzalcônio, cloreto de benzetônio, álcool benzílico, cloreto de cetilpiridíneo, clorobutanol,
fenol.

Agentes antioxidantes: empregados na tentativa de proteger a formulação de qualquer


processo oxidativo e conseqüente desenvolvimento de ranço em substâncias de natureza
oleosa e gordurosa e/ou inativação do fármaco. Podem atuar de diferentes modos:
interrompendo a formação de radicais livres (BHA, BHT, ά-tocoferol); promovendo redução
das espécies oxidadas (ácido ascórbico, palmitato de ascorbila, metabissulfito de sódio);
prevenindo a oxidação (EDTA, ácido cítrico, cisteína, glutationa). Em sistemas aquosos,
preferencialmente, são empregados: vitamina C, metabissulfito de sódio, cisteína e
tiossulfato de sódio. Nos sistemas lipofílicos, preferencialmente, BHT, BHA e vitamina E.

Agentes quelantes (seqüestrantes): substância que forma complexos estáveis (quelatos) com
metais. São usados em preparações líquidas como estabilizantes para complexar os metais
pesados que podem promover instabilidade. Exemplos: EDTA-Na2, ácido edético.

II - SOLUÇÕES

“Soluções são preparações líquidas que contêm uma ou mais substâncias químicas
dissolvidas, ou seja, molecularmente dispersas, em um solvente adequado ou em uma
mistura miscível de solventes (USP Pharmacist’s, 2005).
Podem ser destinadas para uso oral, tópico ou parenteral.

Também chamadas de soluções verdadeiras ou soluções completas, são dispersões


moleculares, ou seja, os fármacos estão completamente dissolvidos, acarretando em
sistemas monofásicos, homogêneos, termodinamicamente estáveis.

Vantagens:

v - Flexibilidade de dosagem;

v - Facilidade de administração;

v - Rápida absorção (em relação às formas sólidas);

v - Homogeneidade na dosificação, independente da agitação quando comparada à forma


de suspensão;

v - Possibilidade de adição de co-solventes para princípios ativos pouco solúveis no veículo


principal.

Desvantagens:

v - Maior possibilidade de alterações físico-químicas;

v - Maior possibilidade de contaminação;

v - São mais difíceis de serem transportadas pelo paciente do que as formas sólidas;

v - O paciente pode não ter acesso a sistema de medida de volume preciso e uniforme,
podendo haver variação de uma dose para outra.

Expressão de concentração do soluto em soluções:

A concentração do soluto pode ser expressa como:

* % p/p = gramas presentes em 100g da solução;

* % p/v = gramas presentes em 100ml da solução;

* % v/v = mililitros do soluto líquido miscível em 100ml da solução;

* Quantidade / unidades de volume: ex.: 100mg/5ml; 500mg/10ml; etc.


Aditivação de Princípios Ativos em Soluções:

1- Incorporar o(s) ativo(s), diluindo-o(s) previamente em solvente adequado compatível (ex.:


água, qs de álcool) ou diretamente no veículo. Se o ativo não for facilmente solúvel, será
recomendável levigá-lo antes com agente levigante apropriado (glicerina, propilenoglicol),
como forma de favorecer sua dissolução.

2- Adicionar aos poucos o veículo solicitado pelo prescritor (ou o qmais apropriado à
formulação) ao passo anterior, até obter um volume próximo ao final. Agitar com auxílio do
bastão de vidro ou agitador magnético;

3- Medir o pH, se necessário ajustar para um valor na faixa compatível com a maior
estabilidade do(s) ingrediente(s) ativo(s).

4- Se necessário, filtrar em gaze.

5- Envasar e rotular.

III - SUSPENSÕES

“Uma suspensão consiste em um sistema bifásico composto por uma fase sólida finamente
dividida (fase interna, descontínua ou dispersa) dispersa em uma fase líquida (fase externa,
contínua ou dispersante) (USP Pharmacists.Pharmacopeia, 2005)”.

Também chamadas de dispersões particuladas, onde os fármacos estão dispersos,


acarretando em sistemas bifásicos, heterogêneos, termodinamicamente instáveis.

As partículas sólidas são insolúveis na fase líquida e tendem a sedimentar. Porém, devem
ser facilmente dispersas com agitação. A fase líquida consiste em um líquido que possui uma
certa consistência e que pode ser aquoso ou de natureza graxa (ex. óleos fixos). A fase
dispersa não atravessa o papel de filtro, portanto por este motivo as suspensões não devem
ser filtradas.

As suspensões são utilizadas para formulações de uso oral (suspensão oral), parenteral,
dermatológico, oftálmico, nasal, retal, otológico dentre outros. Algumas suspensões orais já
vêm prontas para o uso, ou seja, já estão devidamente dispersas num veículo líquido com ou
sem estabilizantes e outros adjuvantes farmacêuticos.

Outras preparações estão disponíveis para uso na forma de pó seco destinado a ser
misturado com veículos líquidos. Este tipo de produto geralmente é uma mistura de pós que
contém fármaco e agentes suspensores e de dispersão; essa mistura, ao ser diluída é agitada
com uma quantidade especificada do veículo (geralmente água purificada), formando uma
suspensão apropriada à administração chamada suspensão extemporânea. Esta forma em
pó é ideal para veicular fármacos instáveis em meio líquido (ex.antibióticos betalactâmicos).

Vantagens das Suspensões:

v - Forma farmacêutica ideal para veicular ingredientes ativos insolúveis em veículos


normalmente utilizados em formulações líquidas.

v - Apresentam maior estabilidade quando comparadas às soluções. Por estar disperso e


não solubilizado o fármaco está mais protegido da rápida degradação ocasionada pela
presença de água.

v -Fármacos instáveis quando em contato com o veículo aquoso, podem ser preparadas na
forma de suspensão extemporânea (forma de pó para reconstituição caseira).

v - Fármacos que se degradam em soluções aquosas podem ser suspendidos em fase não
aquosa (anidra), por exemplo em óleos.

Características de uma boa suspensão:

- Formada por partículas sólidas de tamanho reduzido, distribuídas uniformemente na fase


contínua. No preparo de suspensões, as partículas sólidas devem ser reduzidas para diminuir
a velocidade de sedimentação destas. Um suspensão ideal apresenta as partículas sólidas
com tamanhos variáveis entre 1 a 50 µm, embora várias suspensões apresentem tamanho
de partículas variando de 1 a 100 µm (USP Pharmacists., 2005).

O tamanho reduzido das partículas sólidas é uma característica muito importante pois
evitam que as mesmas se sedimentem facilmente, facilitando também sua redispersão e
prevenindo ainda a formação de cristais (crescimento cristalino).

O tamanho das partículas dispersas deve permanecer constante ao longo dos períodos de
repouso.
v - Uma boa suspensão deve sedimentar lentamente e redispersar facilmente com a
agitação suave do recipiente.

v - Não formar sedimento duro não dispersível (caking.) no fundo do frasco.

v - Não produzir o fenômeno de crescimento cristalino.

v - Fluidez: quanto mais viscosas, mais estáveis serão as suspensões. Porém, o excesso de
viscosidade compromete o aspecto e a retirada do medicamento do frasco. A suspensão
deve escoar com rapidez e uniformidade do recipiente.

v - Elegância farmacêutica: conceito que envolve a idéia de cor, odor, sabor, bom aspecto
aceitável para o paciente.

v - Um boa suspensão deve apresentar estabilidade química, física e microbiológica.

v - Uma suspensão deve permitir a administração ao paciente de uma dose uniforme,


terapeuticamente ativa do medicamento em uma preparação agradável de tomar ou usar.

v A velocidade de sedimentação das partículas suspendidas em um veículo com uma dada


densidade será maior para partículas maiores que para partículas menores. Além disso,
quanto maior for a densidade das partículas maior será a velocidade de sedimentação.
Aumentando-se a viscosidade do meio (dentro de certos limites em que a suspensão ainda
permaneça fluida e escoável) reduz-se a velocidade de sedimentação das partículas sólidas
do fármaco.

Portanto, o decréscimo da sedimentação das partículas sólidas em uma suspensão pode ser
obtido pela redução do tamanho das partículas a serem dispersadas e pelo aumento da
densidade e viscosidade da fase contínua (líquida).

Composição básica de uma suspensão

v - Fármaco sólido a ser disperso: devem ser triturados em um gral com auxílio de um
pistilo, por levigação com o veículo viscoso ou com agentes de levigação (ex. glicerina,
propilenoglicol, polietinoglicol de baixo PM). Geralmente, a parte sólida de suspensões pode
estar presente em concentração de até 40% do total da formulação.

v - Agente suspensor: é usado para aumentar a viscosidade e retardar a sedimentação.

v - Agentes floculantes: favorecem a floculação, processo no qual as partículas se agrupam


formando aglomerados frouxos facilmente redispersíveis. A defloculação é o processo
oposto à floculação, caracterizado pela quebra dos aglomerados em partículas individuais
formando um sedimento compacto de difícil redispersão. Os sistemas defloculados originam
sedimentos que formam muito facilmente uma pasta ou massa de difícil redispersão (caking.
) e não convenientes para uso farmacêutico. Do ponto vista farmacêutico, as suspensões
floculadas são mais desejáveis que as defloculadas. Esses agentes são divididos em
surfactantes, polímeros hidrofílicos, argilas e eletrólitos.

Agentes floculantes:

- Lauril sulfato de sódio (0,5 . 1,0%)

- Docusato sódico (0,01-1,0%)

- Polissorbato 80 (Tween®80) - (0,1 . 3%)

- Monooleato de sorbitano (Span® 80) . (0,1- 3,0%)

- Polietilenoglicol 300 / 400 . (até 10%)

- Colóides hidrofóbicos (ex. goma xantana, Veegum®, CMC, etc)

- Argilas (ex.bentonita)

- Cloreto de sódio (até 1%)

- Fosfato diácido de potássio (KH2PO4) .

Propriedades Floculadas Defloculadas

Velocidade de sedimentação Rápida Lenta

Sobrenadante Límpido Turvo

Sedimento Volumoso Compacto

Redispersibilidade Fácil Difícil

Adaptado: Prista et al., 1995.


Figura: Tipos de agregados de partículas que podem originar por sedimentação de
suspensões: a) suspensões floculadas, b) suspensões defloculadas.

Cargas Superficiais e Redispersibilidade:

As partículas dispersas em uma suspensão podem apresentar, na sua superfície, grupos


ionizáveis ou podem adsorver íons da solução, os quais lhe conferem carga positiva ou
negativa. As moléculas do solvente (veículo) podem igualmente se fixarem fortemente nas
superfícies das partículas suspensas. Estas partículas, ficando carregadas eletricamente, são
rodeadas por uma atmosfera iônica. em que predominam íons de cargas opostas.

Estes íons formam uma camada elétrica dupla, consistindo numa camada à superfície das
partículas e numa camada difusa, livremente móvel. A partícula suspensa com a sua camada
elétrica fixa move-se num campo elétrico e a diferença de potencial ao longo da parte difusa
da dupla camada é designada de potencial zeta.

Se esse potencial zeta, negativo ou positivo, for elevado, as partículas terão pequena
tendência a aglutinar, uma vez que se repelem em virtude da carga elétrica. Se não houver
baixa do potencial zeta, as partículas acabam, muito lentamente, por se aproximarem umas
das outras (por ação da gravidade e também por forças de atração entre as partículas),
constituindo agregados compactos que sedimentam, deixando sempre a camada do líquido
sobrenadante com certa turvação (suspensão defloculada). Por um outro lado, uma rápida
baixa do potencial zeta leva a que as partículas se reúnam em flóculos, os quais depositam.
Origina-se desta forma um sedimento pouco compacto, ficando o líquido sobrenadante
destituído de partículas e por isso perfeitamente límpido (suspensão floculada) (Prista et al.,
1995).

- Agentes umectantes (agentes molhantes): são acrescidos nas formulações de suspensões


com o objetivo de auxiliar a dispersão do(s) componente(s) ativo(s). São eles:

- Agentes tensioativos (ex. polissorbatos 20, 60 e 80), glicerina (2-20%), propilenoglicol (5 -


25%), polietilenoglicol de baixo PM como o PEG 300 ou 400 (2-30%), sorbitol 70% (5 - 100%),
dentre outros. A umectação de um sólido por um líquido será maior quanto menor for o
ângulo de contato (veja esquema a seguir).

Sustâncias hidrofílicas se umectam facilmente em água ou outros solventes polares.


Substâncias hidrofóbicas não se molham em água ou solventes polares. Portanto, na
elaboração de uma suspensão de uma substância hidrofóbica em um meio aquoso, as
partículas tendem a flutuarem na superfície do líquido devido a presença de ar aderido às
partículas secas ou umectadas de forma insuficiente.

Esta flutuação das partículas pode ser evitada com o auxílio de agentes umectantes. Os
agentes umectantes diminuem o ângulo de contato sólido-líquido, facilitando a umectação
das partículas sólidas. Substâncias hidrofóbicas podem ser umectadas mais facilmente com
auxílio de agentes tensioativos (ex. polissorbatos, docusato sódico, etc).

- Outros adjuvantes farmacotécnicos utilizados: edulcorantes, flavorizantes, corantes,


corretores de pH (acidulantes, alcalinizantes), tampões, co-solventes (ex. álcool) e
conservantes.

Preparo de Suspensões

Materiais e equipamentos necessários:

- Gral e pistilo / agitador mecânico / moinho coloidal ou moinho de rolos.

- Vidrarias apropriadas: cálice graduado, béquer, bastão de vidro, etc.

-  Placa de aquecimento (eventualmente necessária).

- Balança eletrônica de precisão semi-analítica.

Requisitos prévios:
- O manipulador deverá estar adequadamente paramentado.

- Ligar a balança 30 minutos antes de se iniciar a pesagem.

-  Verificar a limpeza e sanitização das bancadas, vidrarias e utensílios utilizados.

- As vidrarias, utensílios e matérias-primas necessárias deverão ser previamente separados.

- Proceder conforme as B.P.M.F., seguindo as técnicas descritas em formulário de fórmulas


padronizadas ou seguindo técnicas gerais apropriadas para a manipulação da formulação em
específico.

- Condições ambientais recomendadas: umidade relativa até 60% e temperatura de 25± 5ºC
(AGEMED). Observar esta condição exceto nos casos em que as especificações da formulação
requeiram outras condições.

- É recomendável o preparo de um excesso de 5% da formulação para compensar eventuais


perdas que ocorram durante o processo de manipulação.

Fórmula padrão das suspensões

Ingrediente ativo (sólido)............................ X %

Umectante (agente molhante).................... q.s.

Conservante............................................... q.s.

Agente suspensor ...................................... q.s.

Agente floculante (se necessário) .............. q.s.

Meio dispersante líquido (veículo).............. q.s.p. volume final.

Em função de cada formulação outros componentes poderão ser acrescidos na formulação,


como: corretivos do sabor, flavorizantes, antioxidantes, conservantes, floculantes, corretores
de pH, etc.

Procedimentos gerais para o preparo de suspensões:

Esquematicamente temos os seguintes métodos para o preparo de suspensões:

1. (sólido + líquido)

2. (sólido + suspensor) + líquido

3. (sólido + molhante) + (líquido + suspensor) ***

4. (sólido + molhante + suspensor) + líquido


5. (sólido + floculante + suspensor) + líquido

*** Procedimento de preparo mais comum.

Controle da Qualidade de Suspensões

O controle de qualidade envolve verificar certas características da suspensão:

-  Avaliação das características organolépticas.

- Verificação do peso / volume.

- Controle do pH.

- Determinação da viscosidade (a viscosidade deve permitir o fácil escoamento da suspensão


do frasco).

- Determinação da densidade relativa.

- Grau de floculação*.

- Facilidade de dispersão (a redispersão do sedimento deve ser fácil).

- Determinação do volume de sedimentação.

- Controle microbiológico.

* O grau de floculação de uma suspensão pode ser observado através da determinação da


relação entre a altura do sedimento (Hs) e a altura da fase líquida (Hl). A relação Hs/Hl indica
o volume de sedimentação (VS).

Quanto maior for o volume de sedimentação (VS) tanto mais elevado será o grau

de floculação da suspensão e mais facilmente será sua redispersão. Todavia, os agentes


floculantes não devem ser adicionados em excesso pois podem originar inversão da carga
elétrica das partículas dispersas. De modo geral, é recomendável a adição de pequenas
quantidades de agente floculante (Prista et al., 1995).

A técnica para determinação do volume de sedimentação consiste em introduzir a suspensão


redispersa após agitação numa proveta e deixá-la em repouso até que não aumente a altura
do sedimento (em geral deixa-se em repouso por 24 horas) (Prista et al.,1995; Lachman et
al., 2001). A figura abaixo ilustra a determinação da velocidade de sedimentação de duas
suspensões diferentes:
Suspensão A Suspensão B

VS(A) = Hs / Hl = 10 / 70 = 0,142 VS(B) = Hs / Hl = 40 /70 = 0,571

Figura: Exemplos da determinação do volume de sedimentação (VS) em duas suspensões.

Embalagem/ Armazenamento/ Rotulagem ( suspensões)

- As suspensões devem ser embaladas em recipientes bem vedados e que contenham uma
boca larga suficiente para permitir o escoamento de líquidos viscosos.

- Deve haver um espaço vazio compreendido entre o produto e a tampa do recipiente


(.headspace.) suficiente para permitir uma fácil agitação.

- O armazenamento em temperatura ambiente ou sob refrigeração depende das


características físico-químicas e de estabilidade do(s) componente(s) ativo(s) incorporados
na suspensão.

- As suspensões são sistemas contendo partículas sólidas dispersas que tendem a


sedimentarem-se. Portanto, requerem rótulo auxiliar com a inscrição de “agite antes de
usar”.

Estabilidade

A estabilidade de suspensões poderá ser avaliada através da observação das suas


propriedades físicas como a uniformidade, sedimento, presença de caking, crescimento
cristalino*, dificuldade de resuspensão, bem como o crescimento de bolores/bactérias, odor
e perda de volume.

*Crescimento cristalino
Quando os cristais de uma determinada substância encontram-se em suspensão num
meio líquido no qual a substância é parcialmente solúvel, pode observar-se o fenômeno do
crescimento dos cristais. Isto ocorre quando a concentração da substância na solução é
superior ao coeficiente de solubilidade desta. Este fenômeno pode ocorrer devido a
variações de temperatura (abaixamento da temperatura), ao polimorfismo da substância
suspensa ou ainda às diferenças de tamanho dos cristais dispersos (Prista et al., 1995). As
suspensões são menos susceptíveis à degradação química que as soluções, mas com a
presença de água na formulação seu prazo de validade é geralmente curto.

Orientação ao paciente

- O paciente deve ser instruído da importância de se agitar o frasco antes de usar o


medicamento para garantir a administração da correta dose ou concentração do ingrediente
ativo veiculado.

PRÁTICA DE FARMACOTÉCNICA : PÓS-SIMPLES E COMPOSTOS.

PRÁTICA DE FARMACOTÉCNICA :

PÓS-SIMPLES E COMPOSTOS

PROCESSOS DE PULVERIZAÇÃO DE PÓS

1 - PULVERIZAÇÃO POR ATRITO OU TRITURAÇÃO.

Ø Usado para drogas em geral.

Ø Utiliza movimentos do pistilo em espiral.

Ø Usa gral de porcelana e/ou vidro.

2 - PULVERIZAÇÃO POR CONTUSÃO OU CHOQUE.

Ø Usado para drogas vegetais brutas ou para produtos químicos na forma de cristais
grandes.

Ø Utiliza movimentos do pistilo em vertical ("ato de bater na droga").

Ø Usa gral de ferro ou de materiais ainda mais duros.

3 - PULVERIZAÇÃO POR MOINHOS (ESCALA INDUSTRIAL).

Ø Moinho de faca ou martelo.

Ø Moinho de bolas.

4 -- PROCESSOS ESPECIAIS
4.1 - Pulverização por intermédio:

Ø Intermédio é uma substância estranha que facilita a redução da segunda substância em


pó.

Ø O intermédio pode ser líquido, sólido ou gasoso:

Exemplos: Substância Intermédio

Ø Mentol ou canfora Éter ou álcool (líquido)

Ø Baunilha Açúcar (sólido)

4.2 - Pulverização química.

Ø D.2.1 - Hidratação.

CaO + H2O = Ca(OH)2 (Água de cal)

Ø D.2.2 - Desidratação.

CuSO4.5H2O + Aquecimento ® CuSO4¯ + 5H2O

Contra-exemplo:

Na2SO4.10H2O ou Na3PO4.12H2O + Aquecimento ® Funde ou encrosta (não Desidrata)

4.3 - Reação química.

CaCl2 + Na2CO3 ® CaCO3¯ + 2NaCl

4.4 Tamisação.

Tem por finalidade obter pós com a mesma tenuidade (tamanho médio similar). É feita em
tamises que são classificados como está descrito na tabela.

Tamis no (Mesh) Abertura (mm) Pó

2 9,52 Muito grosso

8 2,38 Muito grosso

10 2,00 Muito grosso

20 0,84 Grosso

30 0,59 Grosso
40 0,42 Moderadamente grosso

50 0,297 Moderadamente grosso

60 0,250 Fino

80 0,177 Muito fino

120 0,125 Muito fino

200 0,074 Micronizados

325 0,044 Micronizados

HOMOGENEIZAÇÃO DE PÓS.

Deve ser feita com pós de tenuidade similares. Ela pode ser feita por trituração, espatulação
(?), tamisação ou mistura (saco plástico ou misturador em V).

PROBLEMAS RELACIONADOS À MANIPULAÇÃO DE PÓS.

Problema Medida corretiva

Formação de mistura eutética(pós se liquefazem à Interpor entre os pós incompatíveis


temperatura ambiente após serem misturados em um pó absorvente de elevada
determinada proporção). temperatura de fusão (exs: MgCO3,
MgO, caulim, amido, talco, etc.).

Formação de misturas explosivas(trituração de Evitar ou interpor pós inertes entre o


agentes oxidantes e redutores fortes). agente oxidante e o redutor.

Pós Higroscópicos (absorvem umidade do ar) Controlar a umidade relativa do ar,


e Deliqüescentes(se liquefazem total ou granular os pós, manipular evitando a
parcialmente). exposição à atmosfera úmida,
adicionar um pó absorvente à
preparação.
Pós eflorescentes (aqueles que possuem água de Substituir o pó hidratado pelo anidro
hidratação que é liberada tornando o pó pastoso ou ou secar o pó antes de manipula-lo.
liquefeito).

Pós leves e “fofos”. Compactar com álcool ou óleo


mineral.

Pós de difícil escoamento. Acrescentar estearato de magnésio


em concentração inferior a 1%.

Pós com carga estática. Neutralizar as cargas com laurilsulfato


de sódio em concentração inferior a
1%.

Incorporar líquidos à pós. Além do líquido acrescentar um pó


absorvente; concentrar o líquido até
uma consistência mais viscosa.

REGRAS GERAIS PARA A PREPARAÇÃO DE PÓS-COMPOSTOS.

1 - Antes iniciar a preparação do pó composto, verifique se existe incompatibilidade entre os


pós simples. Caso haja alguma incompatibilidade, verifique qual seria a maneira de eliminar
essa incompatibilidade.

2 - Pulverize em gral (de vidro para substâncias coloridas ou com cheiro) e tamise
isoladamente cada um dos pós presentes na fórmula. Caso necessário utilise um intermédio.

3 - No caso de haver um pó em quantidade muito pequena, acrescente um corante visando


facilitar a visualização da mistura.

4 - Homogeneíze seguindo a Regra do Mistão (ordem crescente de quantidade) adicionando


o excipiente em qsp, por último. Misture em um gral utilizando o método da diluição
geométrica. Tamise a mistura final.

5 - Envase em frasco de vidro âmbar ou em um saco plástico de tamanho compatível com o


volume formulado visando obter uma melhor estética e até mesmo dificultar degradações.
Antes do envase verifique a compatibilidade da preparação com o material de envase.

6 - Rotule e registre.

PÓS DILUÍDOS.
A maioria das substâncias encontradas no mercado, diluídas (Vitamina E à 50% e
Betacaroteno à 10%, por exemplo) ou não, são de fácil pesagem em relação a dose desejada.
Entretanto, são também encontrados princípios ativos muito potentes em baixa
concentração (drogas heroicas).

Estas drogas podem ser diluídas de tal forma que a dosagem seja de fácil pesagem, evitando
riscos de sobredosagens. Usualmente, esta diluição é feita utilizando um pó inerte tal como
a lactose, o talco, o amido, etc.

Após escolher o diluente de acordo com a sua compatibilidade em relação ao princípio ativo
e com a formulação a ser empregada, o princípio ativo é diluído à 1:10 (exemplos:
Alprazolam, Clonazepam, Diazepam, Prednisolona, etc.), 1:100 (exemplos: Bumetamida,
Clonidina, Digitoxina, Digoxina, Fludrocortisona, etc.) ou à 1:1000 (exemplos: T3, T4) antes
de ser estocado.

Estes pós diluídos; denominados respectivamente de pós decimais, centesimais ou


milesimais; são os empregados no momento de elaborar a formulação.

PÓS EFERVESCENTES.

A efervescência destina-se a proporcionar um paladar agradável, corrigindo eventualmente


o gosto de certos fármacos utilizando as propriedades ácidas do CO 2, o qual vai ainda atuar
secundariamente como estabilizante da mucosa gástrica, podendo aumentar a absorção do
medicamento.

A efervescência é conseguida à custa da reação de um carbonato ou bicarbonato com um


ácido orgânico, como o cítrico ou o tartárico, na presença da água usada para a ingestão do
medicamento, produzindo-se a liberação de CO2.

Geralmente usa-se uma quantidade fixa e arbitrária de ácido tartárico, ácido cítrico ou
NaH2PO4, podendo ainda associarem-se estes três compostos. A quantidade de NaHCO 3 que
é necessária adicionar pode-se calcular em função da acidez conferida pelos ácidos e o
NaH2PO4, de tal modo que a reação entre eles em presença de água, gera uma solução
próximo da neutralidade.

Os pós efervescentes constituem uma fórmula dotada de má conservação, pois absorvem


facilmente umidade atmosférica dada a grande superfície que apresentam. É por isso que
eles são geralmente substituídos por granulados, menos sujeitos a esta alteração.

REGRAS GERAIS PARA A PREPARAÇÃO DE PÓS EFERVESCENTES.

Além das regras utilizadas para a preparação de pós compostos, devemos:


a - Logo após a pulverização e tamisação de cada um dos pós presentes na fórmula, secar
cada um desses pós em estufa à 50-60°C durante 20 minutos.

b - Pulverizar e tamisar isoladamente cada um dos pós secos, misturá-los em um gral. Secar o
pó composto obtido em estufa à 50°C durante 20 minutos aproximadamente.

c - Após o término da etapa anterior, caso necessário, tamisar a mistura final obtida.
embalar, rotular e registrar conforme as mesmas exigências dos pós compostos acima
descritas.

PAPÉIS MEDICAMENTOSOS E GRANULADOS

PAPÉIS MEDICAMENTOSOS OU PÓS DIVIDIDOS.

São formas farmacêuticas em pó acondicionados de forma individual onde cada papel


corresponde a uma dose. Eles podem ser obtidos por DIVISÃO GEOMÉTRICA, DIVISÃO
VISUAL, PESADOS UM A UM, ou ainda, utilizando MEDIDORES DE VOLUME.

GRANULADOS.

Pode ser uma forma farmacêutica definitiva ou ser uma etapa intermediária para a obtenção
de comprimidos. Os granulados podem ser obtidos por via seca ou via úmida e possuem as
seguintes vantagens em relação aos pós compostos:

1. Não libertam pó durante a armazenagem e administração.

2. Mais agradáveis de ingerir.

3. Melhor conservação devido a menor superfície.

4. Existe a possibilidade de revesti-los tornando-os gastroresistente ou de ação


prolongada.

NOTA: Deve-se durante a granulação deixar uma quantidade de excipiente à parte (10 a
20%) visando fazer, em caso de necessidade, futuras correções.

CÁPSULAS GELATINOSAS (DURAS), PASTILHAS E PÍLULAS.

CÁPSULAS GELATINOSAS.

1 - CONCEITO.

"São formas farmacêuticas sólidas que encerram o fármaco em invólucro mais ou menos
elástico, constituído de gelatina".
2 - VANTAGENS.

· Proteção dos princípios ativos contra luz, ar e umidade.

· Facilmente administradas.

· Mascaram o sabor e o odor desagradáveis dos fármacos.

· Ocupam pequeno volume.

· Boa apresentação e conservação.

· Podem viabilizar a administração de medicamentos de ação prolongada (utilização de


grânulos de diferentes liberações).

3 - PREENCHIMENTO DAS CÁPSULAS.

3.1 - As cápsulas gelatinosas duras são encontradas no mercado em vários tamanhos, cada
qual com uma capacidade específica para acondicionar um determinado volume de pó. Cada
tamanho é designado por um número arbitrário. Quanto maior o número, menor a
capacidade do invólucro.

Número Capacidade Diâmetro Comprimento

(mL) (cm) (cm)

00 0,95 0,85 2,03

0A 0,75 0,80 2,02

0 0,68 0,73 1,85

1 0,50 0,66 1,67

2 0,38 0,60 1,54


3 0,30 0,56 1,36

De acordo com a densidade do fármaco, podem ocorrer variações na relação massa/volume.


Um mesmo fármaco fornecido por distribuidores diferentes, com a mesma massa, mas com
densidades distintas ocuparão volumes diferentes numa mesma cápsula.

Dap = M/Vap onde: Dap = densidade aparente

M = massa

Vap = volume aparente

Exemplo 1: 500 mg de carbonato de cálcio (fornecedor A) cuja densidade é 0,523 g/mL


ocupará um volume V por cápsula, que será calculado.

Dap = M/Vap Þ 0,523 g/mL = 0,500 g/V Þ V =0,95 mL

Pelo volume de carbonato de cálcio ele deverá ser acondicionado na Cápsula 00.

Exemplo 2: 500 mg de carbonato de cálcio (fornecedor B), Dap=0,73 g/mL e Vap=0,68 mL,
deverá ser acondicionado na Cápsula 0.

3.2 - Quando a dose ultrapassa a capacidade da maior das cápsulas (00), faz-se necessário
usar mais de uma cápsula para acondicionar uma únicas dose do fármaco. Quando isso
acontecer É MUITO IMPORTANTE escrever no rótulo e orientar o paciente para a utilização
correta da dose prescrita.

3.3 - Um aspecto a se considerar é a porção farmacológicamente ativa da molécula.

Exemplo 1: CaCO3 500 mg.

A farmácia entenderá que o médico está pedindo que cada dose contenha 500 mg de CaCO 3,
os quais fornecerão 200 mg de cálcio elementar. O mesmo ocorrerá se a prescrição tiver a
descrição cálcio carbonato 500 mg.

Exemplo 2: Cálcio (carbonato) 500 mg.

A farmácia entenderá que o médico está pedindo que cada dose contenha 500 mg de cálcio
elementar. Portanto, serão utilizados 1250 mg de carbonato de cálcio que fornecerão os 500
mg de cálcio solicitados. É FUNDAMENTAL QUE A PARTE "INATIVA" DA MOLÉCULA SEJA
DESCRITA ENTRE PARÊNTESES.

3.4 - Alguns fármacos somente são encontrados no mercado na sua forma diluída. Por
exemplo temos a Vitamina E pó que somente é encontrada à 50 %. Caso o médico prescreva
Vitamina E 400 mg, a farmácia deverá usar 800 mg da matéria prima (Vitamina E à 50 %).

3.5 - Sendo volumétrico o processo de enchimento das cápsulas, impõem-se que estas
fiquem perfeitamente cheias, pois de modo contrário haverão erros posológicos. Além disso,
não é aconselhável a existência de uma camada de ar sobre os pós susceptíveis de oxidação.
Nestes casos, é necessário completar com um pó inerte o volume da cápsula, caso o volume
de princípio ativo seja inferior a 90 % da capacidade do receptáculo.

3.5.1 - Deve-se considerar a densidade do p.a. e do diluente quando este último for
necessário.

V = M1/D1 + M2/D2 (Índice l para o p.a. e índice 2 para o diluente)

3.5.2 O aparelho utilizado para o preenchimento das cápsulas é chamado de capsuleiro e


eles podem ter diferentes tamanhos. Para um capsuleiro n°00, 2.6% de erro é encontrado
para um operador experimentado.

PASTILHAS.

1 - CONCEITO

"São preparações farmacêuticas de consistência sólida, destinadas a dissolverem-se


lentamente na boca. São preparadas por moldagem de uma massa plástica constituída, na
maioria das vezes, por mucilagem e/ou açúcar associado a princípios ativos".

2 - TIPOS.

· Com grande quantidade de açúcar e mucilagens. Feita a frio.

· Com elevado teor de goma. Feita a quente.

· Sem mucilagem, sómente açúcar (pouco usada).

· Contendo gelatina (glico-gelatina).

PÍLULAS.

1 - CONCEITO.

"São formas farmacêuticas de consistência firme, de formato globular contendo um ou mais


princípios ativos incorporados a excipientes adequados destinadas a serem deglutidas sem
se desfazerem na boca".

2 - VANTAGENS.

· Facilidade de administração.

· Encerra grande quantidade de p.a.

· Odor e sabor atenuados ou evitados.

· Fácil produção.
· Passível de revestimento gastro-solúvel e gastro-resistente.

3 - DESVANTAGENS.

· Desagregação lenta.

· Não apropriadas para pós volumosos ou para líquidos.

FONTE : Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Farmácia, Departamento de


Produtos Farmacêuticos

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

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http://farmaciabrasileira.blogspot.com/2012/11/introducao-farmacotecnica-parte-1.html

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