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Thaís Martins da Silva1, Daiana Freitas Ferreira1, Kamila Arêas Bastos2, Juliana Aparecida
Severi2, Juliana Alves Resende1,2, Janaina Cecília Oliveira Villanova1,2
Resumo – Aos diferentes tipos de extratos de Punica granatum (romã) são atribuídas atividades
cicatrizante e antimicrobiana. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a qualidade de uma
formulação de gel de carbômero (1% p/v) contendo extrato de cascas de romã (2,5% p/v), logo após
a manipulação do gel (T0). Nas formulações do gel base e do gel com extrato foram analisados os
parâmetros: aspecto, pH, densidade, desintegração, viscosidade e espalhabilidade. A incorporação
do extrato no gel base promoveu alteração do aspecto e redução do pH, da viscosidade e do tempo
de desintegração. Por outro lado, promoveu aumento do índice de espalhabilidade do produto. Os
parâmetros de qualidade do gel com extrato serão avaliados nos tempos 30, 60 e 90 dias (T1, T2 e
T3) após o preparo, para acompanhamento da estabilidade física do produto.
Introdução
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), planta medicinal é toda planta
ou partes dela que contém substâncias responsáveis por uma ação farmacológica, justificando seu
terapêutico (BRASIL, 2010). A farmacoterapia baseada em plantas medicinais é uma prática
amplamente difundida em todo o mundo e vêm ganhando maior notoriedade nos dias atuais, uma vez
que o uso dos produtos naturais pode causar menos danos tanto à saúde quanto ao meio-ambiente,
uma vez que são oriundos de fontes renováveis e podem ser menos tóxicos (VEIGA JÚNIOR; PINTO;
MACIEL, 2005). Uma das monografias das plantas medicinais incluídas na Relação Nacional de
Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS) é a da Punica Granatum, planta popularmente
conhecida como romãzeira. Extratos das folhas e das sementes, cascas e do pericapro dos romãs,
obtidos em diferentes solventes, são ricos em compostos fenólicos, sendo fontes importantes de
taninos hidrolisáveis, elagitaninos e ácido elágico, além de antocianinas e flavonoides, metabólitos
secundários aos quais são atribuídas, entre outra ações, a antioxidante e a antimicrobiana (JARDINI;
FILHO, 2007; PEREIRA et al., 2015; FLECK, 2016).
Entre as formas farmacêuticas disponíveis para o preparo de produtos tópicos com atividade
antimicrobiana e cicatrizante se destacam os géis. Estes podem ser definidos como formas
farmacêuticas semissólidas preparadas a partir de um polímero formador do gel (agente gelificante)
disperso em água. O agente gelificante é responsável pelo fornecimento de viscosidade para o
sistema, que apresenta partículas de dimensões coloidais. Além do gelificante, o gel pode conter
conservantes, sequestrantes e antioxidantes, consoante o tipo de ingrediente farmacologicamente
ativo a ser incorporado na formulação. Ainda, podem conter umectantes, tamponantes ou
modificadores de pH, conforme a necessidade e a indicação de uso (ALLEN; POPOVICH; ANSEL,
2016).
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O objetivo do presente trabalho foi preparar e avaliar, após o preparo em pequena escala,
parâmetros de qualidade de um gel de carbômero contendo extrato alcoólico de casca de romã a
2,5% p/p. Amostras dos géis foram armazenadas em temperatura ambiente e sob refrigeração e
serão avaliadas nos dias 30, 60 e 90 após o preparo.
Metodologia
Determinação do pH
O pH das formulações foi determinado por potenciometria, mediante inserção do eletrodo
diretamente nas amostras. Foi empregado potenciômetro digital com eletrodo de vidro e sensor de
temperatura (Digimed, modelo DM22). As medidas foram feitas em triplicata e foi calculada a média e
o desvio padrão.
Análise da viscosidade
A viscosidade aparente foi determinada empregado viscosímetro rotacional digital Brookfiield,
(modelo LV-DVII + Pro), em temperatura ambiente, com torque entre 10 e 90%, utilizando adaptador
de pequenas amostras e spindle LV64, nas velocidades de 1 e 2 rpm.
Tempo de desintegração
A desintegração do gel base e do gel com o extrato foi pesquisada utilizando método
adaptado, como descrito por Shah (2013), utilizando desintegrador Nova Ética (modelo 301/AC) e 980
mL de água purificada como meio, a 37°C. Amostras de 0,5 g foram pesados e colocados nos
cilindros do aparelho que foi ligado. O tempo necessário para a completa desintegração do gel foi
cronometrado e anotado. A análise foi feita em triplicata e os resultados apresentados como média ±
desvio padrão.
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Espalhabilidade pelo método das placas paralelas
Para avaliar a espalhabilidade do gel, foi pesado 0,5 g de cada amostra que foi depositada no
centro de uma placa de vidro devidamente posicionada sobre um papel milimetrado. Sobre esta, foi
colocada outra placa de vidro, de mesmo tamanho e peso conhecido. Após 1 minuto, o diâmetro
formado no papel foi anotado. O procedimento foi repetido com a adição de outras 9 placas com
massas conhecidas e registro do diâmetro de cada circunferência formada após 1 minuto. A partir dos
diâmetros obtidos, a área de espalhamento foi calculada conforme Equação 1. A espalhabilidade
máxima é considerada como o ponto no qual a adição do peso não ocasiona alterações significativas
nos valores da espalhabilidade.O teste foi repetido 3 vezes e os resultados no gráfico foram
expressos como a média e o desvio padrão.
2
Ei=d × π [ Equação 1]
4
onde, Ei = espalhabilidade da amostra (mm2); d = diâmetro médio (mm) da área; π = 3,14.
Resultados
Na Figura 1 pode ser vista a fotografia do gel antes e após a incorporação do extrato a 2,5%
p/p. Na Tabela 2 são dados os valores do pH, viscosidade, tempo de desintegração, densidade e
índice de espalhamento do gel base e do gel com o extrato. O gráfico da espalhabilidade é dado na
Figura 2.
Figura 1- Imagem representativa do gel base (A) e do gel com o extrato a 2,5% p/p (B).
Fonte: o autor.
Tabela 2- Valores médios encontrados nas determinações dos parâmetros físicos pesquisados
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Fonte: o autor.
Discussão
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a desenrolar. Com a adição do neutralizante, o pH da base foi de 6,39 e, após incorporação do
extrato, o valor foi de 5,68, permanecendo em conformidade com o valor para manutenção da
estabilidade do gel. Outro aspecto importante acerca do pH diz respeito ao local de aplicação e as
condições de uso do produto. O pH da pele dos animais e dos humanos é entre 8,0 a 9,95 e 3,0 a 6,5
respectivamente (MATOUSEK; CAMPBELL, 2002). Portanto, o pH observado para as formulações ao
longo do tempo é compatível com o local de aplicação pretendido.
Segundo More e Arruda (2007), para o adequado manejo de feridas, é necessário o
desenvolvimento de formulações que sejam de fácil aplicação e remoção, com o objetivo de
minimizar o desconforto do paciente e permitir o exame das lesões sem a retirada do produto. Neste
cenário, a viscosidade e a espalhabilidade são parâmetros que devem ser avaliados nos produtos
destinados ao uso diário nos cuidados de lesões, uma vez que haverá a necessidade de remover o
produto a fim de fazer a higienização e reaplicação do mesmo. Por outro lado, não existe
especificação farmacopeica a ser seguida para a viscosidade de formas farmacêuticas semissólidas,
uma vez que inúmeros fatores a afetam, especialmente, o tipo e a quantidade dos agentes
gelificantes utilizados e a presença de outros componentes nas formulações além de fatores
relacionados ao envase dos produtos, à aceitação e o espalhamento e às condições de realização do
ensaio de viscosidade, tais como o fundamento do método, tipo de equipamento, sensor e velocidade
empregados. Assim, uma faixa de viscosidade deve ser estabelecida pelo fabricante, dadas as
característica de uso, preparo e envase dosprodutos. No presente trabalho, a incorporação do extrato
de romã no gel base provocou uma redução na viscosidade inferior à 10% do valor obtido para a
viscosidade do gel base. No que diz respeito à espalhabilidade, a incorporação do extrato promoveu
aumento do espalhamento e do índice de espalhabilidade calculado. A espalhabilidade pode ser
definida como a expansão da preparação sobre uma superfície após determinado período, quando
submetida à uma força (BORGHETTI; KNORST, 2006; RODRIGUES, 2013). Em outras palavras, a
espalhabilidade de uma formulação semissólida se relaciona à força necessária para aplicar o
produto na pele até que este desapareça, sendo este parâmetro diretamente relacionado à
viscosidade. Uma vez que viscosidade expressa a resistência ao fluxo, quanto menor a viscosidade
de um produto, menor será sua resistência ao fluxo e mais facilmente o mesmo será espalhado
(ALMEIDA; BAHIA, 2003; CORRÊA et al., 2005). Assim, se espera que o gel contendo o extrato seja
mais facilmente espalhado e recubra uma área superficial maior quando comparado com o gel base.
O tempo de desintegração também pode ser correlacionado à facilidade de remoção de um
produto e com a manutenção da estrutura em rede nos géis de polímeros. Apesar de observamos
que a adição do extrato reduziu o tempo de desintegração completa das amostras, este tempo foi
longo (18 minutos). Maiores estudos são necessários para permitir uma melhor avaliação deste
parâmetro.
Conclusão
As análises realizadas após o preparo do gel de carbômero contendo extrato alcoólico das
cascas de romã na concentração de 2,5% p/p promoveu, quando comparado ao gel base, redução do
pH, da viscosidade e do tempo de desintegração do produto, com aumento no índice de
espalhabilidade. As formulações serão analisadas nos tempos 30, 60 e 90 dias após o preparo.
Referências
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