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PURIFICAÇÃO DO SAL DE CATALISADOR PRESENTE NO

GLICEROL POR LIXIVIAÇÃO E CONTROLE GRAVIMÉTRICO

Rogério Olavo Marçon1; Wellington Cyro de Almeida Leite2; Marcelo Mendes Pedroza3

1
Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, Doutorando,
rogerio.marcon@sou.unaerp.edu.br
2
Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, Pesquisador e Docente do Curso
de Pós-graduação em Planejamento Ambiental, wleite@unaerp.br
3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins Campus Palmas (IFTO/Palmas), Pesquisador
e Docente, mendes@ifto.edu.br

RESUMO

A glicerina proveniente da produção de biodiesel pode ser utilizada em vários setores


econômicos, convertendo-a em compostos de elevado valor agregado e larga aplicação no
ramo petroquímico. Entretanto, gargalos como custos com purificação e processos de
transformação mais eficientes e acessíveis ainda limitam a produção destes compostos em
grande escala. Nesse sentido, esta pesquisa procura tornar a purificação da glicerina mais
competitiva, com a transformação dos resíduos de sua purificação em coprodutos com valor
agregado e aplicabilidade. O Objeto desta pesquisa foi a purificação sal do catalisador obtido
pela quebra da emulsão no tratamento de limpeza da glicerina, pois este sal pela sua
composição tem aplicação em fertilizantes a base de fosfato (PO4-3) e potássio (K+), mas isto
só é possível pela retirada de impurezas/contaminantes como o glicerol, ácidos graxos livres e
umidade. A qual foi feita por meio da lixiviação deste resíduo com solvente (ciclo hexano,
metanol ou etanol anidro) seguida da secagem pela elevação da temperatura, e controlada de
forma simples e eficiente por meio da análise do conteúdo graxo por soxhlet e rendimento por
gravimetria, na fase inicial e final do tratamento. Dos solventes testados o ciclo hexano foi o
que apresentou total insolubilização, seguido pelo metanol e etanol ambos anidro, e todos os
solventes conferiram ao sal isenção de material graxo e unidade após os procedimentos de
lixiviação e secagem, tornando o sal plenamente aplicável na composição de fertilizantes que
levam em sua formulação fosfato e potássio, contribuído assim para tornar o processo de
produção de biodiesel cada vez mais ecológico e econômico.

Palavras Chave: Sustentabilidade; Valor Econômico; Composição Fertilizante.

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1 INTRODUÇÃO

A condição básica para a utilização da glicerina do processo de transesterificação de


óleos vegetais e gordura animal para a obtenção do biodiesel é a sua purificação. E consiste na
retirada dos sais de catalisador dissolvido, volvente como o metanol, sabões e a umidade
presentes na glicerina bruta, através de um tratamento químico de quebra de emulsão seguido
de separação mecânica (centrifugação) para aumentar a eficiência na separação e retirada das
impurezas sólidas (sais de catalisador) e líquidas (umidade e sabão), seguida do aquecimento
para evaporação do solvente e da umidade residual (combinada), proporcionando a geração de
vários “subcoprodutos” sólidos e líquidos, o primeiro (sólido) tem aplicação como
componente de fertilizante agrícola, o fosfato de potássio (K3PO4), quando o biodiesel
produzido utilizou como catalisador o Metilato de potássio. Por outro lado, os processos de
obtenção de biodiesel utilizando outro catalisador como o Metilato de sódio, experimentam o
mesmo procedimento para se retirar da glicerina os resíduos de catalisador, mas só geram a
fração fertilizante fosfática, sem o potássio. Portanto, para ter se uma glicerina com maior
valor agregado se faz necessário que a mesma passe por um processo de purificação através
da seguinte sequência: eliminação dos resíduos de catalisador (sal de sódio ou potássio),
gorduras (ácidos graxos livres e metil éster) insolúveis em água e material “glicerinoso”
(glicerol) solúvel em água.
A literatura apresenta o tratando da glicerina bruta, gerada na transesterificação de
óleos vegetais e gordura animal, usando como catalisador o hidróxido de potássio, através da
sua neutralização com ácido fosfórico, no processo denominado de hidrólise, o que gera a
formação de um complexo de potássio, que é convertido em um sal insolúvel em meio
óleo-aquoso e alcoólico e de caráter ácido a neutro, determinado pelo pH final da reação de
separação, esta mistura composta por hidrogênio fosfato de potássio (K2HPO4) e o fosfato de
potássio (K3PO4), que devido às condições de origem (glicerina bruta) estão impregnados
com material gorduroso e glicérico, os tornando impróprios para sua utilização direta, sendo
esta pesquisa desenvolvida no sentido de purificar este sal tornando viável sua aplicação como
componente na formulação de fertilizantes do tipo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio),
entrando como componente da base fosfática e potássica.
Segundo Marçon (2010) o precipitado na forma de sólido pastoso, está embebido e
material gorduroso e glicérico, fenômeno este que ocorreu em todos os ensaios, ou seja, de
precipitação natural e mecânica do tratamento da glicerina bruta, seja com o uso ou não de

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material auxiliar e floculação, porém após a lavagem do sólido precipitado, foi possível
quantificá-lo conforme apresentado na Tabela 01. Onde se observa que se formou uma
quantidade significativa deste sal quando o processo se faz de forma mecânica em detrimento
da precipitação natural para pH de 4,5 a 2,5 pela adição de ácido fosfórico comercial.

Tabela 01: Quantidade de sal precipitada no processo de neutralização da glicerina bruta


obtido por separação natural no pH final do ensaio e por centrifugação sem coagulante em
vários pH, após lavagem com metanol.
Quantidade de sal em porcentagem mássica com
Tipo de
pH do base na glicerina bruta utilizada (%)
N processo de
meio Meses de amostragem
º obtenção do
reacional Out. Fev. Jun. Out. Fev.
sal
2008 2009 2009 2009 2010
PP Natural 7,1 NPP NPP NPP NPP NPP
01
Centrifugação 7,0 NS NS NS NS NS
PP Natural 4,5 3,02 3,12 3,96 3,94 3,96
02
Centrifugação 4,5 10,21 10,15 10,15 10,77 10,33
PP Natural 2,5 9,34 9,22 9,36 9,74 9,76
03
Centrifugação 2,5 10,10 10,27 10,22 10,55 10,74
PP Natural – Precipitação Natural, NPP – Não precipita, NS – Não separa. (Fonte Marçon,
2010)

Com estes resultados verifica-se a viabilidade da purificação da glicerina, e ainda a


obtenção de um coproduto, que requer o desenvolvimento de técnicas para sua
purificação, o qual foi o objetivo desta pesquisa.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolver um procedimento de purificação dos sais de catalisador oriundo do


processo de purificação da glicerina bruto, gerada na transesterificação de óleos vegetais ou
gordura animal para produção de diesel vegetal (biodiesel).

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2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisar as características físico-química dos variados tipos de lavagem sólido líquido;


- Avaliar as possíveis alternativas de aplicação de produtos líquidos (solventes) na
lixiviação de sais inorgânicos;
- Qualificar e quantificar o produto obtido na lavagem;
- Analisar a composição química do sal de catalisador purificado;
- Pesquisar os métodos de tratamento de lavagem de sais inorgânicos e
- Propor, utilizando os resultados obtidos, um sistema de lavagem de sal inorgânico
para o uso em vários tipos de efluentes industriais e mistos (composto por efluentes
industriais e domésticos).

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 LOCAL

O experimento foi conduzido nos laboratórios de biotecnologia do Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins – Campus Palmas (IFTO/Palmas),, sob a
supervisão do Prof. Coorientador Dr. Marcelo Mendes Pedrosa e da Universidade Federal do
Tocantins – Campus Palmas, localizados na cidade de Palmas -TO, latitude 10012’46” Sul,
longitude 48021’37” Oeste e altitude de 230 metros.

3.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL E CARACTERIZAÇÃO DOS


ENSAIOS

Foi utilizado para purificação o sal de catalisador obtido da unidade de purificação de


uma indústria de biodiesel do estado do Tocantins que não autorizou a sua divulgação, por se
tratar de segredo industrial. O sal separado da glicerina bruta do processo de transesterificação
pela rota metílica de óleo vegetal de soja usando como catalisador o Metilato de potássio, foi
feita através da preparação de amostras com aproximadamente 10 g (dez gramas), extraídas
de um lote de sal quantificado em balança analítica com precisão de 10-4 gramas, qualificado
pela determinação do conteúdo de material graxo por soxhlet em hexano e umidade por
aquecimento em estufa de secagem a 120ºC até peso constante, tudo em triplicata. A

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lixiviação do sal foi com água (amostra controle) e os solventes orgânicos: ciclo hexano,
metanol e etanol anidro PA da Merk, na relação mássica de 1,0:1,0; 1,0:1,5 e 1,0:2,0 partes de
sal por parte de solvente, através da colocação dos elementos em um tubo de ensaio de vidro
com rosca de 10 ml de capacidade e massa conhecida, agitado por 10 minutos em plataforma
Quimis, seguido de centrifugação em centrífuga Quimis 500 na rotação de 3600 rpm por mais
10 minutos e posterior drenagem da fase líquida, colocação do tubo de vidro sem tampa para
secar numa estufa Fane 3000, até massa constante a 120ºC. Foram anotadas as massas inicial
e final de sal, o tempo de secagem e as quantidades iniciais e finais dos solventes.
O delineamento experimental desta pesquisa foi em blocos e analisados as médias e
desvio padrão das amostras (RODRIGUES E LEMMA, 2014).

Figura 01: Mostra a glicerina bruta tratada com ácido fosfórico e a separada em seus
componentes por decantação natural na temperatura ambiente (Fonte Marçon, 2010).

3.3 ESTUDO E ELEIÇÃO DE TRÊS TIPOS DE SOLVENTES

Os solventes estudados foram testados frente à característica de solubilidade e


rendimento na limpeza do sal de catalisador (VARGAS, 2004).

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3.4 AMOSTRA

As amostras de sal de catalisador separado da glicerina bruta, foram obtidas da


unidade de purificação da glicerina bruta de uma indústria produtora de biodiesel pela rota
catalítica de potássio, que não autorizou a divulgação da sua identificação.

3.5 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS

Foram executadas nos laboratórios do IFTO no momento de realização dos


experimentos, sendo medidos o pH, teor de gordura e umidade presente no sal precipitado.
Segundo Marçon (2010) o precipitado na forma de sólido pastoso, está embebido e material
oleoso (ácidos graxos livres AGL) e glicérico (Glicerol), fato este que ocorreu em todos os
ensaios, ou seja, de precipitação natural e mecânica, com ou sem material auxiliar e
floculação, que após a lavagem do sólido precipitado, foi possível quantificá-lo conforme
apresentado na Tabela 01. Onde se observa que se formou uma quantidade significativa deste
sal quando o processo se faz de forma mecânica em detrimento da precipitação natural para
pH de 4,5 a 2,5 pela adição de ácido fosfórico comercial.

3.6 EXTRAÇÃO OTIMIZADA DOS LIPÍDIOS PRESENTES NO SAL DE


CATALISADOR

Dos solventes testados (água, ciclo hexano, metanol e etanol anidro), com exceção da
água não promoveram a solubilização do sal, e os produtos de lavagem (mistura) da extração
de lipídio e glicerol do sal, foram coletados em backers de 50 ml e levados a secagem em
estufa a 120º C por 24 horas (MARÇON, 2010 apud LIMA, 2004).

3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados obtidos nos ensaios de extração foram comparados por análise de


variância utilizando o teste de Duncan, com o nível de significância de 5 %.

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4 REFERENCIAL TEÓRICO, RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando o cenário apresentado será apresentado o estado da arte no que se refere


a extração líquido-sólido de óleos em suporte sólido, para este caso verifica-se que a extração
de óleos em sólidos historicamente tem o hexano como um solvente universal, porém na
atualidade constata-se que trata-se de um agente de extração com elevados impactos ao
ambiente e saúde muito elevados, pois o hexano apresenta propriedades neurotóxicas em altas
concentrações, formadora de mistura explosiva quando dissolvido no ar em determinadas
concentrações, composto petroquímico derivado de petróleo e inflamável (HAMMOND et al.,
2005). Em função destes atributos o hexano não foi considerado como elemento para estudo
nesta pesquisa. Por outro lado, verificando as tendências mundiais e a preservação do meio
ambiente se observa que os solventes cíclicos e alcoólicos, além de apresentarem uma menor
inflamabilidade, baixa toxicidade e possibilidade de uma produção biogênica, são
considerados mais seguros e, portanto, usados nessa pesquisa (SCHARLACK, 2015). São
estes solventes o ciclo hexano, metanol e etanol hidratado a nível azeotrópico e anidro.
Especificamente sobre os álcoois de cadeia curta como o metanol e etanol (álcool
etílico) e não menos importante o ciclo hexano foram aplicados nesta pesquisa no sentido de
verificar seus graus de extração dos AGL, Glicerol e umidade presentes nos sais de
catalisador e assim torná-lo aplicável nos fertilizantes inorgânicos que apresente na sua
composição potássio (K+1) e fósforo e fosfato (P-3 e PO4-3).
Com base nas informações acima a pesquisa procurou avaliar a viabilidade técnica do
emprego dos solventes ciclo hexano, álcool metílico e álcool etílico (anidro e azeotrópico) e
suas capacidades de extração de material oleoso e não oleoso, como também promover a
minimização de resíduos neste processo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa demonstrou que os solventes, ciclo hexano, metanol e etanol (absoluto e


azeotrópico), apresentaram comportamento na extração semelhantes estatisticamente com
nível de significância de 5%, em concordância com a literatura, tendo a destacar que o álcool
etílico azeotrópico promoveu a dissolução de 3,5% em média de parte do sal, motivado pela
presença da água do álcool mas nada que inviabilize a sua utilização.

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Já sal purificado, obtido da extração/lixiviação com os vários solventes apresentou
características semelhantes ao sal de cozinha comercial, o que o torna plenamente aplicável na
composição de fertilizantes a base de potássio (K+1) e fósforo (P-3 ou PO4-3).
Recomenda-se que tal estudo seja expandido para outros tipos de sal oriundos da
produção de biodiesel com outras rotas catalíticas.

6 REFERÊNCIAS

HAMMOND, E.G., JOHNSON, L.A., SU, C., WANG, T., WHITE, P.J. Soybean Oil. In:
Bailey’s Industrial Oil and Fat Products. Vol 02 (Sixth ed., six volume set). Shahidi, F.
(Ed.). John Wiley and Sons, New Jersey, 2005.

MARÇON, R. O. Pré-tratamento da glicerina bruta gerada na produção de biodiesel por


transesterificação de óleos vegetais e gordura animal. Dissertação de Mestrado apresentada
na Universidade Federal do Tocantins (UFT). 2010.

RODRIGUES, M. I. e LEMMA, A. F. Planejamento de Experimentos e Otimização de


Processos. Casa do Pão Editora, Campinas, 2014 (3ª. edição). Acesso em 22 jan. 2018.

SCHARLACK, N. K. Estudo do efeito do tipo e grau de hidratação de solventes


alcoólicos na extração simultânea de óleo e de ácidos clorogênicos de torta de sementes
de girassol. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, 2015.

VARGAS, G. D. L. P. Estudo da produção de lipase por Penicillium simplicissimum


utilizando torta de soja como substrato. Erechim, 2004, 106 p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Alimentos) – Universidade Regional Integrada – URI. Acesso em: 20 jan.
2018.

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