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CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTE EM UMA CARVEJARIA

Eduardo Ferrarezi 1
Eduardo Mineiro2
Malcon3
Patrick4

RESUMO
Neste artigo apresenta-se a pesquisa de caracterização e a execução de um sistema de
tratamento para efluentes provenientes da produção cervejeira. A escolha do tema justifica-
se pela crescente onda de cervejarias artesanais devido à moderada simplicidade que pode
envolver a sua produção. Devido as grandes cargas de efluentes gerados pela indústria
necessita-se de ferramentas para tratar os mesmos para que possam ser descartados ou
reutilizados da melhor forma possível, mitigando ao máximo quaisquer danos ambientais.
Dessa forma foi coletado e analisado uma amostra de efluente de uma cervejaria da região,
após foi proposto e desenvolvido um sistema de tratamento de bancada para o tratamento
desse mesmo efluente, seguido de novas análises e comparações entre os resultados para se
obter um índice de eficiência do reator proposto. Todo o processo executado e descrito na
presente pesquisa tem por finalidade classificar o efluente gerado e optar pelo melhor meio
de tratamento, reutilização ou descarte.

Palavras-chave: Gestão ambiental. Tratamento de efluentes. Produção de cerveja


artesanal.

1 INTRODUÇÃO

A prática de ações que priorizam a preservação do meio ambiente cresce a cada dia,
dessa forma a destinação correta e o tratamento de efluentes se tornam exigências
obrigatórias para empresas geradoras (TERA AMBIENTAL, 2017).
A cerveja, juntamente com água, chá e café, está entre as quatro bebidas mais
consumidas do mundo. Acredita-se que tenha sido uma das primeiras bebidas alcoólicas a
serem produzidas pelo homem. O Brasil é o quarto maior produtor de cerveja, com
produção de 10 bilhões de litros por ano e consumo anual de 47,6 litros por habitante
(CETESB, 2005).
Em linhas gerais, o conceito de tratamento de efluentes pode ser resumido como
uma série de estratégias, práticas e condutas econômicas, ambientais e técnicas, que evitam
ou reduzem a emissão de poluentes no meio ambiente por meio de ações preventivas, ou
seja, evitando a geração de poluentes ou criando alternativas para que estes sejam
reutilizados ou reciclados. Vale enfatizar que a geração de efluentes abrange todos os

1
Bacharelando em Engenharia Química; UCEFF; Chapecó; eduardogd20@gmail.com
2
Bacharelando em Engenharia Química; UCEFF; Chapecó; ?
3
Bacharelando em Engenharia Química; UCEFF; Chapecó; ?
4
Bacharelando em Engenharia Química; UCEFF; Chapecó; ?
2

procedimentos ligados direta ou indiretamente à produção de uma indústria (CETESB,


2005).
Os efluentes da produção de cervejas são geralmente provenientes da limpeza de
caldeiras, mostura, tubulações, filtros, whirpool, trocadores de calor, tanque de leveduras,
garrafas de vidro, barris de aço ou madeira, latas de alumínio, caixas plásticas e pisos.
A composição destes efluentes é fortemente influenciada pelo tipo de cerveja
fabricado, qualidade dos processos de filtração, tipo de aditivos eventualmente
acrescentados e eficiência dos processos de limpeza de equipamentos (TERA
AMBIENTAL, 2013).
Por conta destes fatores e da variabilidade de condições operacionais do processo
cervejeiro, tanto a composição como a taxa de geração dos rejeitos deste setor produtivo é
fortemente variável (TERA AMBIENTAL, 2013).
Para entender melhor, foram pontuados aspectos de produção de uma empresa de
cerveja do oeste catarinense que durante seu processo de produção gera efluentes que
devem ser tratados e reutilizados.
Desta forma, o objetivo desta pesquisa se resume em caracterizar os efluentes provenientes
da produção de cerveja e apresentar uma proposta de tratamento, a partir de experimentos
de bancada.

2 METODOLOGIA

Neste capítulo apresenta-se a revisão bibliográfica embasada em textos escritos por


pesquisadores do assunto, em fontes disponíveis no item referências, último capítulo deste
trabalho. Compreende-se que a revisão de literatura contribui nas construções teóricas, nas
comparações e na validação de resultados obtidos neste estudo.

2.1 REFERENCIAL TEÓRICO

Toda indústria ligada à produção de cerveja produz grandes quantidades de


efluentes Tal qualidade se dá pelo fato de se utilizar água em várias etapas do processo
produtivo (confecção, limpeza, aquecimento e resfriamento). Todo efluente oriundo dessa
produção depende muito da cerveja a ser produzida e pelos insumos utilizados que podem
ser leveduras, malte, milho, aditivos normalmente acrescentados além de produtos de
limpeza derivados da higienização dos equipamentos utilizados (GAUDÊNCIO, 2013).
A higienização de garrafas gera a maior parte do efluente proveniente da produção,
mas na maioria das vezes dispõem de um baixo teor de partículas orgânicas, por outro
3

lado, a fermentação e filtragem geram um volume mais baixo de efluente, mas representam
cerca de 96% da carga orgânica total da produção (GUERREIRO, 2006; PAIVA, 2011).
Dessa forma, o efluente da cerveja é caracterizado por possuir elevadas cargas de
partículas orgânicas além de uma alta quantidade de sólidos em suspensão, fósforo e
nitrogênio, se tornando assim possíveis poluidoras se não tratados adequadamente
(GUERREIRO, 2006).
Dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) demonstram
os compostos gerados em cada uma das mais comuns etapas do processo de produção
cervejeiro e que se encontram presentes nas águas residuais das indústrias (SANTOS,
2005). A Tabela 1 a seguir demonstra a composição qualitativa dos efluentes gerados
durante o processo produtivo de uma cervejaria.

Tabela 1: Compostos gerados no processo produtivo cervejeiro


Processo Origem Composição
Impurezas nas matérias Restos de grãos, sólidos,
Maltaria
primas proteínas e açúcares
Resto de mosto / Higiene Açúcares, proteínas, taninos
Cozimento do mosto
dos equipamentos e resina vegetal
Álcoois, ácidos orgânicos,
Fermentação Higiene das dornas aldeídos, cetonas, ésteres e
leveduras
Proteínas e produtos de
Maturação Fundo das cubas
degradação
Fonte: CETESB (2005)

Através de pesquisas bibliográficas e o auxílio em específico de uma solução já


existente, foi desenvolvido um reator de bancada para tratar o efluente proposto. Efluente
ao qual foi recolhido de uma empresa cervejeira catarinense, proveniente da produção de
cerveja.
O reator desenvolvido pelos acadêmicos desta pesquisa sofreu grande influência da
estação de tratamento para efluentes de cerveja desenvolvido pela empresa Águas Claras
Engenharia. Porém tal reator foi amplamente reduzido e simplificado, ajustes necessários
para deixar o seu desenvolvimento viável, com uma construção mais simples e capaz de
tratar uma pequena quantidade de efluente e capaz de ser desenvolvido dentro do tempo
proposto pela disciplina.
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2.2 METODOS DE ANÁLISES

Visando propor uma solução adequada de reuso aos efluentes gerados pela
produção cervejeira foram recolhidos 2,5 litros de efluentes provenientes da produção e
submetidos a algumas análises de caracterização. As análises ao qual o efluente foi
submetido se encontram na Tabela 2 a seguir:

Tabela 2: Análises de caracterização


Unidade de
Análise Método Preservação
medida
Refrigeração (4 a
pH - Potenciométrico
8°C)
Refrigeração (4 a
Turbidez - Nefelométrico
8°C)
Cor aparente / Refrigeração (4 a
- Espectrofotométrico
verdadeira 8°C)
Refrigeração (4 a
DBO5 mg/l Respirométrico
8°C)
Refrigeração (4 a
DQO mg/l Micro Refluxo Fechado
8°C)
Sólidos Refrigeração (4 a
mg/l Cone de Imhoff
Sedimentáveis 8°C)
Refrigeração (4 a
Ferro mg/l Colorimétrico
8°C)
Refrigeração (4 a
Ortofosfato mg/l Colorimétrico
8°C)
Nitrogênio Destilação de amostra em Refrigeração (4 a
mg/l
Amoniacal meio básico 8°C)
Refrigeração (4 a
Óleos e Graxas mg/l Extração Soxhlet
8°C)
Fonte: O autor (2021)

Referente aos métodos utilizados foram realizados seguindo os padrões da Standard


Methods, que são práticas padronizadas, conhecidas e recomendadas para o tratamento de
esgoto (LABB, 2021). Tais métodos são produzidos com os recursos e conhecimentos
combinados das maiores associações de saúde pública e água do mundo (STANDARD
METHODS, 2021).
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2.2.1 Análises para caracterização do efluente

Como demonstrado no capítulo 2.2 (Métodos de análises), foram realizadas


algumas análises laboratoriais para caracterizar o efluente para entender o melhor jeito de
tratá-lo posteriormente.
A análise do Potencial Hidrogeniônico (pH) foi realizada para determinar se o
efluente a ser tratado se tratava de uma solução ácida, neutra ou básica (MANUAL DA
QUÍMICA, 2021).
A Turbidez, outra análise realizada, é um dos parâmetros de qualidade para
avaliação das características físicas da água bruta ou da água tratada. Sua causa se dá pela
presença de materiais sólidos em suspensão como silte, argila, sílica ou colóides, matérias
orgânicas e inorgânicas finamente divididas, organismos microscópicos e algas (BLOG 2
ENGENHEIROS, 2021).
A análise da cor indica a presença de metais, húmus, plâncton dentre outras
substâncias dissolvidas na água. A cor verdadeira se refere à determinação de cor em
amostras sem turbidez geralmente após filtração ou centrifugação. A cor aparente se refere
à determinação de cor em amostras com turbidez com material coloidal ou em suspensão
(C2O PRO, 2021).
Análises de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) corresponde à quantidade de
oxigênio necessária para ocorrer a oxidação da matéria orgânica biodegradável sob
condições aeróbicas. Essa Demanda Bioquímica de Oxigênio é o parâmetro mais utilizado
para medir a poluição, e é importante para verificar-se a quantidade de oxigênio necessária
para estabilizar a matéria orgânica (MUNDO EDUCAÇÃO, 2021). Por outro lado, a DQO
significa a demanda química de oxigênio que determina a quantidade de OD necessária
para oxidação da matéria orgânica de uma amostra por meio de um reagente químico
(TECNAL, 2021).
Os sólidos sedimentáveis são indicadores de poluição e possuem um parâmetro
importante de legislações. Sua análise é importante para garantir que os efluentes estejam
livres de contaminação e, por ser um elemento de controle legal do tratamento de efluentes,
a análise de sólidos sedimentáveis deve ser realizada de forma recorrente (PROMATEC
AMBIENTAL, 2021).
O ferro e o manganês estão presentes na natureza em diversas formas, criando certo
desafio para o tratamento adequado destes contaminantes na água. Dessa forma, análises
laboratoriais são importantes para apresentar a concentração e especificar a forma destes
contaminantes (LITER, 2021).
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O fósforo é um dos principais nutrientes para os processos biológicos. É um dos


macro-nutrientes, por ser exigido grandes quantidades pelas células. Na qualidade da água,
é um parâmetro imprescindível em programas de caracterização de efluentes industriais
que se pretende tratar por processo biológico, além de participar também na composição de
índices de qualidade das águas (AQUASOLUTION, 2021).
Análises de nitrogênio amoniacal são de grande importância. Tal substância é
tóxica para a vida aquática, especialmente a forma não ionizada. O Nitrogênio amoniacal
será oxidado nos corpos receptores por bactérias nitrificantes, o que pode causar
significativo déficit de oxigênio dissolvido, com consequências prejudiciais aos
ecossistemas aquáticos (FOXWATER, 2021).
O teste de óleos e graxas é uma determinação pouco rotineira dentre as análises
realizadas com fins de abastecimento de água, sendo sua execução limitada para os casos
especiais onde ocorreram contaminações acidentais. Já para os esgotos, as aplicações do
teste são maiores. As determinações de óleos e graxas estão voltadas principalmente para a
operação de tratamento de esgotos e aplicações da legislação referente ao lançamento de
esgotos em redes coletoras ou em corpos d’água (SABESP, 1997).

3 RESULTADOS

A seguir é descrito aspectos relevantes para o sucesso da pesquisa. Tais aspectos se


tornam de grande necessidade para a validação do presente trabalho, onde será explanado
e explicado os resultados finais obtidos.

3.1 FÍSICO-QUÍMICO

De acordo com o site Dinâmica Ambiental (2013), quando um tratamento não é


realizado o efluente descartado nos rios e no solo se tornam nocivos à composição química
da água e ao lençol freático, que aos poucos vão sendo contaminados. As consequências
disso são proliferações de doenças, redução do oxigênio na água e inutilização da água e
do solo para determinadas funções.
Com o tratamento adequado o efluente deixa de ser destinado aos rios de forma
contaminada, ou seja, ao ser devolvido ao meio ambiente ela não poluirá o curso d’água ao
qual entrará em contato. O tratamento ainda auxilia na redução de captação de água, pois
dessa forma a indústria pode reutilizar o efluente tratado auxiliando na manutenção das
reservas naturais (TERA AMBIENTAL, 2015).
Em geral, para o processo de tratamento de efluentes podemos dividi-la em quatro
etapas. Por primeiro tem-se o pré tratamento, etapa onde é realizada a quantificação da
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vazão do efluente através de equipamentos reguladores de vazão, onde seu controle é


fundamental para definir o tipo de tratamento, se ajustar a legislação ambiental e estimar a
capacidade de autodepuração do corpo receptor e capacidade de trabalho da estação de
tratamento. Ainda nessa etapa é realizada a remoção de sólidos grotescos através da
utilização de grades, peneiras ou caixas de areia capazes de restringir a passagem desses
sólidos para as etapas seguintes (ACQUASOLUTION, 2021).
Como próxima etapa tem-se o tratamento primário, seu objetivo é a remoção dos
sólidos em suspensão sedimentáveis, materiais flutuantes e parte da matéria orgânica em
suspensão. Efluentes provenientes de indústria alimentícia podem contêm quantidades
elevadas de óleos, graxas, gorduras, ceras ou outros materiais de densidade inferior à da
água, que devem ser removidos nesta etapa para não gerarem problemas nas demais
sequências do processo de tratamento (ACQUASOLUTION, 2021).
Em seguida é no tratamento secundário onde será empregado técnicas para a
remoção, via ação biológica, do material em solução de natureza biodegradável. Sendo
assim, característico de todos os processos de tratamento por ação de microorganismos,
podendo ser classificados como aeróbios e anaeróbios (ACQUASOLUTION, 2021).
Dentro do tratamento secundário é onde podemos incluir o tratamento de lodo.
Todos os sistemas de tratamento biológico de águas residuárias geram lodos na forma de
uma suspensão de flocos. O lodo primário é gerado a partir da sedimentação de material
particulado do afluente, já o secundário ou biológico é gerado no reator biológico do
sistema de tratamento, constituindo-se em uma mistura de sólidos não-biodegradáveis do
afluente e massa bacteriana que cresce no reator. Dependendo do ambiente no reator, o
lodo secundário pode ser de natureza aeróbia ou anaeróbia (ACQUASOLUTION, 2021).
O tratamento de lodo também pode ser subdividido em etapas (adensamento,
digestão, desidratação e secagem), embora dependendo do sistema de tratamento de
efluentes adotado, algumas delas podem ser suprimidas (ACQUASOLUTION, 2021).
E para finalizar o tratamento terciário é a última etapa e serve para a realizar a
remoção do material em solução que não foi tratado nas etapas de tratamento anteriores,
como é o caso da remoção de macro nutrientes de metais pesados, compostos orgânicos
recalcitrantes ou refratários ou ainda na remoção da cor ou até mesmo na desinfecção do
despejo (ACQUASOLUTION, 2021).
A Ilustração 1 a seguir mostra de forma mais simplificada as etapas de tratamento
citadas nos parágrafos anteriores.
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Ilustração 1: Etapas do processo de tratamento

Fonte: Acquasolution (2021)

3.2 OPERAÇÕES UNITÁRIAS PARA O TRATAMENTO DE EFLUENTES

Um processo de tratamento que é vendido, implantado e que serviu como base para
o desenvolvimento de uma estação de tratamento de bancada é a solução para efluentes de
cerveja da empresa Águas Claras Engenharia. Empresa que busca atuar de forma séria e
inovadora promovendo a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente (ÁGUAS
CLARAS, 2021). Abaixo (Ilustração 2) observa-se a solução criada pela empresa Águas
Claras Engenharia para o tratamento de tal efluente.

Ilustração 2: Solução Águas Claras Engenharia

Fonte: Águas Claras Engenharia (2021)

Nessa estação de tratamento da Águas Claras Engenharia, os efluentes industriais


são guiados por gravidade, para um sistema de gradeamento. Logo após o efluente irá para
um equalizador para adição de nutrientes e correção do pH. Em seguida, ele é bombeado
para o tratamento primário, constituído por reatores UASB. No canal de alimentação dos
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reatores será instalado uma tubulação de retorno para o equalizador, permitindo o ajuste da
vazão de alimentação dos reatores (ÁGUAS CLARAS, 2021).
Será dosado, na entrada do reator anaeróbio, um coagulante orgânico através de
dosadora com separação gravitacional de sólidos, e com compartimentos de digestão e
adensamento do lodo orgânico, seguindo para o reator de lodo ativado com remoção de
nutrientes. No compartimento aeróbio do reator, o líquido sobrenadante será coletado. Uma
parte deste líquido será dirigida para o decantador secundário, que processa a separação
dos sólidos sedimentáveis. Outra parte irá para o compartimento anóxico, no setor
intermediário entre os compartimentos anaeróbio e aeróbio (ÁGUAS CLARAS, 2021).
No decantador secundário, uma parte do lodo biológico decantado será dirigido
para o compartimento anaeróbio no início do reator e outra parte para descarte no
decantador primário onde será submetido aos processos de digestão e adensamento. O
sobrenadante do decantador secundário será dirigido para o tanque pulmão de onde será
bombeada para a estação de tratamento físico-química, a uma vazão contínua. No canal de
alimentação da estação de tratamento físico-químico será adicionada uma solução
alcalinizante, para ajuste do pH. Após o ajuste do pH, que deve permanecer em um valor
entre 9,0 e 10,0, o líquido estabilizado penetra em um reservatório de mistura até
transbordar para a calha de floculação (ÁGUAS CLARAS, 2021).
Na passagem de líquido do reservatório de mistura para a calha de floculação, será
adicionada uma solução floculante, reduzindo o pH para um valor entre 6,5 e 7,5 e em
seguida um polímero auxiliar de coagulação. O líquido passa, então, pela calha de
floculação, que possui uma série de paredes internas, com aberturas laterais intercaladas,
forçando a passagem do líquido em um fluxo sinuoso e permitindo um tempo de residência
ideal para a formação adequada dos flocos (ÁGUAS CLARAS, 2021).
Da calha de floculação, o efluente é dirigido, por gravidade, ao decantador, onde se
distribui por toda a área perpendicular ao fluxo de líquido, formando as várias camadas de
concentrações características destes processos de tratamento. No interior do decantador
estão instaladas placas lamelares que formam um ângulo de 50 graus com a horizontal,
impedindo o fluxo livre das partículas e dificultando a sua entrada para a zona de líquido
límpido, na superfície (ÁGUAS CLARAS, 2021).
O processo de decantação dos sólidos, forma na superfície, uma lâmina bem
definida de líquido límpido que flui para o tanque de contato para desinfecção do efluente
e, assim, segue por gravidade para o filtro gravitacional. O filtro é dotado de uma camada
suporte de brita e de um leito de carvão, para retenção dos sólidos e remoção de outras
impurezas indesejáveis que, por ventura, forem arrastadas, garantindo a eficiência do
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tratamento. Nesse momento o líquido tratado estará pronto para ser dirigido ao corpo
receptor para o seu descarte (ÁGUAS CLARAS, 2021).
O material sedimentado, resultante da decantação, é encaminhado para o leito de
secagem, onde sofre o processo de desidratação, sendo que após a desidratação deverá ser
retirado manualmente e encaminhado para um aterro apropriado, devidamente licenciado
pelo órgão ambiental vigente. Todo descarte de lodo gerado na Estação de Tratamento de
Efluentes para Cervejarias será direcionado para o adensador de lodo e logo após será
encaminhado ao decanter centrífugo e o lodo seco será encaminhado para um aterro
industrial (ÁGUAS CLARAS, 2021).

3.3 ANÁLISES DE BANCADA

Conforme citado no capítulo anterior 2,5 Litros de amostras foram coletadas da


produção cervejeira de uma empresa da região e submetidos a algumas análises para
caracterização do efluente. As análises realizadas e seus resultados se encontram na Tabela
3 a seguir:

Tabela 3: Análise do efluente bruto


Análise Unidade de medida Efluente bruto VMP
pH - 5,25 6 a 8,5
Turbidez NTU 751 6,9

Cor aparente / verdadeira - 118,5 / 265,5 Incolor / 70

DBO5 mg/l 5.465 48

DQO mg/l 1765 32

Sólidos totais mg/l 4,0 1,0

Sólidos fixos mg/l 1,0 -


Sólidos voláteis mg/l 3,0 -
Sólidos sedimentáveis mg/l 3,4 -
Ferro mg/l 4,67 0,3
Fósforo mg/l 8,6 0,10
Nitrogênio - - 0,10
Óleos e Graxas - - -
Fonte: O autor (2021)
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3.4 REATOR DE BANCADA

Para tratar o efluente referido será realizada a construção de uma estação de


tratamento de bancada dirigidos por gravidade, a figura abaixo esboça o fluxograma da
estação que encontra-se dividida em seis etapas. São elas: peneira, tanque equalizador,
reator uasb, decantador, reator aeróbio e um filtro de areia e carvão (Ilustração 3).

Ilustração 3: Fases do tratamento

Fonte: O autor (2021)

Como vantagens do sistema de tratamento proposto podemos citar a baixa


requisição de área para implantação, facilidade de operação, sistema compacto e modular,
baixo consumo de energia, baixo custo com produtos químicos, fácil operação e controle,
além de atender integralmente as normas ambientais vigentes, como o CONAMA
430/2011.
Antes da primeira etapa de tratamento o efluente passará por um regulador de
vazão. De acordo com o site AgE (2021), tal ajuste evita que venham ocorrer picos de
vazão muito altos ou muito baixos, facilitando assim o ajuste dos equipamentos que se
encontram ao longo do processo de tratamento.
Como primeira etapa de tratamento o efluente passará por uma peneira com uma
vazão pré determinada. A utilização de peneiras se dá pela necessidade de remoção de
sólidos muito finos e fibrosos que podem estar presentes no efluente a ser tratado
(ACQUASOLUTION, 2021).
Seguindo no processo de tratamento, como segunda etapa tem-se um tanque
equalizador, tendo por objetivo homogeneizar o composto e estabilizar o Ph, facilitando
assim o dimensionamento de produtos químicos a ser utilizado (AGE, 2021).
Acquasolution (2021), complementa informando que equalizar o efluente é uma prática
necessária para manter a boa performance do tratamento.
Como terceiro processo de tratamento tem-se um reator UASB. Esse reator é
utilizado tanto em estação de tratamento de esgoto quanto em estação de tratamento de
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efluentes, normalmente aplicado em processos primários para a estabilização da matéria


orgânica (ÁGUAS CLARAS, 2021).
A próxima etapa do processo é a decantação. Essa fase é extremamente importante
pois ela é a etapa responsável por realizar a separação dos sólidos através da gravidade,
dessa forma os sólidos são sedimentados em seu fundo para serem removidos em forma de
lodo deixando assim o efluente livre de resíduos sólidos (MULTIÁGUA, 2021).
Após a decantação o efluente segue para um reator aeróbio responsável por
minimizar a matéria orgânica e sólidos suspensos. Esse reator promove a digestão e
diminuição de carga orgânica. A biomassa que se forma nos reatores utilizará a matéria
orgânica como alimento para se desenvolver. Com a entrada contínua de alimento,
quantificado na forma de DBO5, e na presença de oxigênio, introduzido pelo equipamento
de aeração, os microrganismos se irão se reproduzir continuamente (HIDROSUL, 2021).
Por fim tem-se o filtro de areia e carvão, utilizado para remover impurezas
presentes na água que será tratada. Dessa forma, é possível atingir uma maior pureza da
água com a garantia de um processo prático, ágil e eficiente. Nos filtros de areia e carvão é
possível utilizar o carvão ativado ou o antracito. Esses dois tipos são recomendados pois
além de ajudarem com a purificação da água, também aumentam a vida útil do filtro,
evitando possíveis entupimentos que possam ocorrer. Já a areia, por sua vez, é um material
que também colabora com o tratamento, já que possibilita filtrar impurezas existentes nos
efluentes (YETE, 2021).
Todas as etapas que constituem a estrutura do reator desenvolvido foram fabricadas
artesanalmente com a utilização de alguns materiais reciclados. Foram utilizadas garrafas
pet e mangueiras de silicone para ligar as etapas de tratamento, como resultado final
obteve-se uma estação de tratamento de baixo custo, desenvolvida apenas para tratar uma
pequena quantidade de efluente em laboratório.

3.5 COMPARAÇÃO DE ANÁLISES (BRUTO X TRATADO)

Na Tabela 4, encontram-se os resultados das análises realizadas sobre o efluente


tratado juntamente com as análises do efluente bruto para comparação.

Tabela 4: Resultados do efluente tratado


Análise Unidade de medida Efluente bruto Efluente tratado
pH - 5,25 7,3
DQO mg/l 1765 32
DBO5 mg/l 5.465 48
13

Turbidez - 751 6,9


Fonte: O autor (2021)

Vale ressaltar que embora tenha sido planejado e desenvolvido o sistema completo
para o tratamento do efluente, foi apenas utilizado o filtro de areia e carvão como
ferramenta de tratamento, e os resultados da tabela acima apresentam os dados deste
tratamento.
Comparando os resultados observa-se que o trabalho realizado pelo filtro de areia e
carvão obteve resultados bons e significativos, embora tenha sido desenvolvido de forma
artesanal e simplificada utilizando garrafas pets. O filtro de areia e carvão é utilizado
quando há grande concentração de impurezas na água, com sua utilização pode-se atingir
uma melhor qualidade de água com um processo simples, eficiente e ágil.

4 CONCLUSÃO

Objetiva-se com o presente trabalho a caracterização do efluente proveniente da


produção cervejeira industrial, visando propor/desenvolver uma solução viável e simples
capaz de tornar o efluente gerado adequado a reutilização ou a sua devolução ao meio
natural de forma adequada.
De acordo com algumas bibliografias, foram confirmadas algumas informações
proveniente das análises de caracterização. Verificou-se uma elevada taxa de partículas
orgânicas, o'que até mesmo já era esperado pelo simples fato de se lidar com materiais
como leveduras, malte, milho e aditivos dependendo da cerveja que se deseja produzir.
Sobre o efluente parcialmente tratado foram repetidas algumas análises e seus
resultados foram melhores do que se esperava, partindo do pressuposto que foi
desenvolvido por estudantes sem muita experiência dentro de um tempo razoavelmente
curto.
Contudo fica registrado aqui algumas possíveis melhorias e soluções para gerar
resultados mais satisfatórios. Aconselha-se a utilização de areia grossa e fina na confecção
do filtro, uma vez que utilizar somente da grossa reduz a eficácia do filtro. Utilizar uma
menor vazão juntamente com um regulador, ao tornar o processo mais lento pode-se
melhorar o resultado final. E para finalizar aconselhasse passar o efluente por todas as
etapas do processo de tratamento, realizando assim o tratamento adequado para que o
mesmo possa ser reutilizado ou devolvido ao seu meio natural.
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5 REFERÊNCIAS

ACQUASOLUTION, Conheça as etapas do processo de tratamento de efluentes 2021.


Disponível em <https://acquablog.acquasolution.com/etapas-do-processo-de-tratamento-
de-efluentes/>. Acesso em 09 Nov. 2021.

ACQUASOLUTION, O processo de equalização no tratamento de efluentes 2021.


Disponível em <https://acquablog.acquasolution.com/efluentes/>. Acesso em 06 Nov.
2021.

ACQUASOLUTION, Porque a análise de fósforo é essencial no tratamento de


efluentes. 2021. Disponível em <https://acquablog.acquasolution.com/porque-analise-de-
fosforo-e-essencial-no-tratamento-de-efluentes/>. Acesso em 27 Nov. 2021.

ACQUASOLUTION, Você sabe qual a finalidade do tratamento preliminar em uma


ETE? 2021. Disponível em <https://acquablog.acquasolution.com/voce-sabe-qual-a-
finalidade-do-tratamento-preliminar-em-uma-ete/>. Acesso em 06 Nov. 2021.

ÁGUAS CLARAS, Conheça um pouco da nossa história. 2021. Disponível em


<https://aguasclarasengenharia.com.br/empresa/>. Acesso em 14 Nov. 2021.

ÁGUAS CLARAS, Estação de tratamento de efluentes para cervejarias. 2021.


Disponível em <https://aguasclarasengenharia.com.br/estacao-de-tratamento-de-efluentes-
para-cervejarias-2/>. Acesso em 15 Nov. 2021.

ÁGUAS CLARAS, Reator UASB: saiba o que é e como funciona. 2021. Disponível em
<https://aguasclarasengenharia.com.br/como-funciona-reator-uasb/>. Acesso em 06 Nov.
2021.

AGE, Tanques de Equalização. 2021. Disponível em <https://agetec.com.br/meio-


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