Você está na página 1de 6

Aspectos farmacotécnicos empregados em diluição geométrica e

homogeneização de pós

A diluição geométrica é um método utilizado para assegurar que pequenas


quantidades de pós estejam distribuídas uniformemente em uma mistura. É
empregada com o objetivo de facilitar e aumentar a segurança e a precisão da
pesagem de fármacos com baixa dose e difíceis de pesar com exatidão.

A faixa de dose do fármaco a ser empregada na preparação é que definirá a


proporção adequada para sua diluição geométrica:

• Até 0,1mg, recomenda-se a diluição 1:1000. Aplica-se fator de correção


1000;
• De 0,1mg a 1mg, recomenda-se a diluição 1:100. Aplica-se fator de
correção 100;
• De 1 a 10mg, recomenda-se a diluição 1:10. Aplica-se fator de correção
10.

Exemplos de fármacos que podem ser diluídos antes do processo de


pesagem:

Fármaco Proporção da Fármaco Proporção da


diluição diluição
Betametasona 1:100 Flufenazina 1:10
Bromazepam 1:10 Levotiroxina 1:1000
Cetotifeno 1:10 Tansulosina 1:100
Diazepam 1:10 Risperidona 1:10
Etinilestradiol 1:100 Alprazolam 1:10
Etapas de uma diluição geométrica

1ª) Procedimento operacional

É importante ter um procedimento operacional para a manipulação de diluição


geométrica, contemplando informações:

• Lista de insumos que serão diluídos e suas devidas proporções;


• Procedimento da diluição geométrica;
• Excipiente/diluente que será utilizado (escolha e padronização);
• Prazo de validade definido do uso, dentro do laboratório, desses diluídos;
• Monitoramento da retirada, de dentro do laboratório, dos diluídos perto do
vencimento;
• Processo de entrada no sistema do diluído (ordem de produção);
• Rastreabilidade (lote do ativo e dos diluentes);
• Controle de qualidade (estoque mínimo);
• Dupla checagem do farmacêutico (insumos controlados, antibióticos,
citostáticos e hormônios – Anexo III da RDC nº 67/07);
• Identificação com alerta e armazenamento dos diluídos e dos insumos
puros:
Concentrado: “Atenção! Esta substância somente deve ser utilizada
quando diluída”;
Diluído: “Substância Diluída”, nome da substância + fator de diluição.

2ª) Garantia da qualidade

Para o processo de diluição geométrica, devem ser considerados os seguintes


pontos.

• Tamisação de pós: para a obtenção de uma boa mistura, é recomendável


sempre utilizar o processo de tamisação, com a finalidade de obter pós
cujas partículas tenham um tamanho médio aproximado
• Armazenamento do diluído: em local distinto, preferencialmente sob
guarda do farmacêutico, com especificações de cuidados especiais para
armazenamento;
• Rotulagem: o farmacêutico deve estabelecer critérios de segurança na
rotulagem para que não ocorram erros de utilização da matéria-prima pura
e da matéria-prima diluída;
• Quantidade: recomendável manipular diluídos em pequenas quantidades,
de preferência que sejam utilizadas num prazo de até 30 dias,
principalmente para garantir a qualidade da homogeneização e evitar o
desperdício;
• Treinar funcionários envolvidos, de acordo com o procedimento
operacional padrão. Importante ter registro desses treinamentos.

3ª) Escolha do excipiente-diluente

Um dos fatores que deve ser considerado na diluição geométrica e na escolha


do diluente é a possibilidade da segregação dos pós, que pode interferir na
uniformidade de conteúdo da mistura. A segregação ocorre em misturas nas
quais as partículas se diferenciam quanto ao tamanho, à forma e à densidade.
O diluente e o diluído devem ser constituídos de partículas esféricas
monodispersas.

Ao escolher o excipiente/diluente para determinada diluição, o farmacêutico


deverá.

• Levar em consideração as características físico-químicas do fármaco


envolvido;
• Verificar se o insumo é higroscópico e requer um excipiente especial
(dióxido de silício coloidal 0,05% a 0,1%);
• Verificar se o fármaco a ser diluído é compatível com o diluente escolhido;
• Verificar se a granulometria e a densidade do diluente escolhido é
compatível com a granulometria e a densidade do fármaco a ser diluído
(pós mais pesados sedimentam com o decorrer do tempo);
• Exemplos de diluentes: lactose, celulose microcristalina, amido, amido
pré-gelatinizado, fosfato de cálcio dibásico, etc.

4ª) Cálculos empregados

Diluição 1:10

Quantidade desejada da diluição (exemplo): 30g.


Através da regra de três, descobre-se a quantidade a ser pesada para 30g de
diluído.
1g (ativo)-----------------------------------10g (diluído)
X gramas de ativo-----------------------30g (diluído)
X= 3g de ativo para 30g de diluído (3g de ativo + 27g de diluente).
Quantidade de ativo a ser pesado: 3g.
Quantidade total de excipiente inerte a ser utilizado: 27g.

Diluição 1:100

Quantidade desejada da diluição (exemplo): 30g.


Através da regra de três, descubro a quantidade a ser pesada para 30g de
diluído.
1g (ativo)---------------------------------100g (diluído)
X gramas de ativo-----------------------30g (diluído)
X= 0,3g de ativo para 30g de diluído (0,3g de ativo + 29,7g de diluente).
Quantidade de ativo a ser pesado: 0,3g.
Quantidade total de excipiente inerte a ser utilizado: 29,7g.

Diluição 1:1000

Quantidade desejada da diluição (exemplo): 30g.


Através da regra de três, descubro a quantidade a ser pesada para 30g de
diluído.
1g (ativo)-------------------------------1000g (diluído)
X gramas de ativo-----------------------30g (diluído)
X= 0,03g de ativo para 30g de diluído (0,03g de ativo + 29,97g de diluente).
Quantidade de ativo a ser pesado: 0,03g.
Quantidade total de excipiente inerte a ser utilizado: 29,97g.

5ª) Modo de preparo - Diluição geométrica volume/volume

1. Pese todos os componentes da diluição;


2. Coloque o componente presente em menor quantidade no gral, no caso
o ativo;
3. Selecione o componente presente em maior quantidade (excipiente
inerte) e coloque no gral uma quantidade aproximadamente igual ao
volume de pó do primeiro componente;
4. Triture bem os pós até obter uma mistura uniforme;
5. Adicione um volume de pó do segundo componente (excipiente inerte)
igual ao volume de pó da mistura presente no gral e triture bem;
6. Continue adicionando pó no gral desse modo, até que todo o excipiente
inerte seja adicionado.

Referências

Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução


nº 67, de 8 de outubro de 2007. Dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação
de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em Farmácias.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.


Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira 2ª edição – Revisão 2, 2012.
Acesso em: agosto/2020.

Ferreira, A.O.; Brandão, M.A.F e Polonini, H.C. Guia Prático da Farmácia


Magistral, 5ª edição. Juiz de Fora: Editar, 2018.

Thompson, J. E.; Davidow, L. W. A Prática Farmacêutica na Manipulação de


Medicamentos, 3ª edição. Porto Alegre: Artemed, 2013.
Remington. The Science and Practice of Pharmacy, 20ª edição. Editora
Lippincot Williams & Wilkins, 2000.

Você também pode gostar