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Farmacotécnica de sólidos – operações de trituração, mistura e

tamisação

Após a execução do procedimento de pesagem de ativos, excipientes e


adjuvantes farmacotécnicos utilizados em uma preparação de sólidos, com todos
os cuidados e técnicas que essa etapa requer, as operações seguintes de
trituração, mistura e tamisação dos pós continuam sendo de extrema e
fundamental importância para a boa qualidade da preparação final.

Da mesma forma que a etapa de pesagem, a aplicação das boas práticas de


manipulação, com apoio de procedimentos operacionais, treinamentos de
pessoal, estruturas adequadas e equipamentos/utensílios apropriados, deve ser
adotada pelo farmacêutico e sua equipe para garantir a qualidade do produto
manipulado.

Essas etapas garantem a uniformidade de conteúdo da preparação farmacêutica


em cápsula, essencial para a eficiência farmacológica do produto.

Trituração, mistura e tamisação

As operações de trituração, mistura e tamisação, consecutivamente, visam


garantir a homogeneidade dos “pós”. Os “pós”, misturas secas de fármacos e/ou
excipientes e adjuvantes farmacotécnicos finamente divididos, quando
destinados ao uso interno por meio de encapsulamento em doses unitárias em
cápsulas duras, devem estar divididos de forma exata e apresentar tamanhos de
partículas uniformes, além de possuir livre escoamento durante a encapsulagem.

O tamanho da partícula interfere na velocidade de dissolução do fármaco e na


sua biodisponibilidade. Como a área superficial de uma determinada quantidade
de sólidos aumenta à medida que o tamanho das partículas é reduzido, quanto
menor for o tamanho das partículas, maior será a área superficial e mais rápida
será a velocidade de dissolução. Para os “pós” contendo vários fármacos ou
quando associados a um excipiente, o que é muito frequente, é importante que
o tamanho das partículas seja uniforme, pois partículas de diferentes tamanhos
tendem a segregar quando em repouso. A segregação pode resultar em uma
dose não exata, afetando a uniformidade de conteúdo.

Em preparações farmacêuticas, os pós normalmente apresentam tamanhos de


partículas entre 0,1 e 10µ (micro). Para a encapsulação, o ideal é obter uma
mistura de “pós” finos a muito finos; os mais finos são mais indicados, inclusive,
para fármacos de baixa solubilidade. O tamanho das partículas é determinado
pela tamisação, e os termos descritivos de classificação (fino, muito fino, grosso,
moderadamente grosso) dão-se pela percentagem de pó na amostra que passa
através de um tamis com uma determinada abertura de malha. Ou seja, cada
tamis é designado por um número que corresponde ao espaço de sua malha e
sua respectiva tenuidade.

Para obter pós moderadamente grossos, finos e muito finos, use:

Tamis nº Mesh Descrição Emprego


50 Moderadamente grosso Pós efervescentes, pós
divididos, alguns pós
para encapsulação.
60 Fino Sais granulados
efervescentes, pós para
encapsulação.
80 Muito fino Sais granulados
efervescentes, pós para
encapsulação.
100 Muito fino Sais granulados
efervescentes, pós para
encapsulação.

Para obter uma mistura com a tenuidade mais adequada e uniforme, é


necessário previamente executar as operações de trituração e de mistura, a fim
de passar no tamis selecionado.
Como já citado, os sólidos (pós) devem estar finamente divididos; assim, se essa
não for uma característica da substância, faz-se necessário sua trituração. Deve-
se considerar também que algumas substâncias já finamente divididas por
natureza podem aglomerar-se durante seu armazenamento. Em escala
magistral, o farmacêutico reduz o tamanho da partícula de determinada
substância com o auxílio de um gral e do pistilo. Um grau de trituração mais fino
é conseguido por meio do uso de gral com superfície rugosa (como os de
porcelana) em vez de um com superfície lisa (como os de vidro). É importante
ter conhecimento do tipo de substância que se está triturando: por exemplo, a
trituração em demasia de ativos sensíveis a expõe a condições de umidade e
oxidação.

Posterior ao processo de trituração (cominuição), segue a operação de mistura,


cuja finalidade é criar um produto homogêneo entre os fármacos, os diluentes e
os adjuvantes farmacotécnicos. De grande importância no processo, assegura a
uniformidade de conteúdo da dose unitária da cápsula e permite a segurança de
uso do produto manipulado. A técnica emprega o uso de gral e pistilo ou de
equipamentos misturadores semiautomáticos ou automáticos, considerando
sempre as instruções de uso do equipamento e sua limpeza entre uma
formulação e outra. Em especial para fármacos de baixas doses e potentes, faz-
se uso de técnicas que garantam a homogeneidade através da diluição
geométrica.

Saiba mais sobre diluição geométrica.

Durante uma mistura e trituração, tenha sempre atenção com os pós


eflorescentes, higroscópicos, deliquescentes e as misturas eutéticas.

Pós eflorescentes Substâncias que contêm água de hidratação que pode


ser liberada quando são manipuladas ou armazenadas
em baixas condições de umidade relativa.
Pós higroscópicos Substâncias que absorvem umidade do ar.
Pós deliquescentes Substâncias que absorvem umidade do ar suficiente
para se dissolverem, formando uma solução
Mistura eutética Mistura de duas ou mais substâncias sólidas que
podem se liquefazer quando associadas à temperatura
ambiente.

Saiba mais sobre o tema assistindo ao treinamento “Homogeneização de pós”.

Veja também a Revista Anfarmag nº 70, jan/fevereiro/08 – Encarte técnico –


Diluição geométrica e homogeneização de pós.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.


Resolução nº 67, de 8 de outubro de 2007. Dispõe sobre Boas Práticas de
Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em
Farmácias.

BRASIL. Ministério da Indústria e do Comércio – Instituto Nacional de Metrologia,


Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO – Portaria INMETRO nº 236
de 22 de dezembro de 1994. Aprova o Regulamento Técnico Metrológico.

Thompson, J.E.; Davidow, L.W. A Prática Farmacêutica na Manipulação de


Medicamentos, 3ª edição. Porto Alegre: Artemed, 2013.

Allen Jr., et al. Formas Farmacêuticas e Sistema de Liberação de Fármacos,


9ª ed. Porto Alegre: 2013.

Ferreira, A. O.; Brandão, M.A.F. e Polonini, H. C. Guia Prático da Farmácia


Magistral, 5ª edição. Juiz de Fora: Edita, 2018.

Aulton, M. E.; e Taylor, K.M.G. Aulton. Delineamento de Formas


Farmacêuticas, 4ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
Garófalo, D. A. e Carvalho, C.H.M. Operações básicas de Laboratório de
Manipulação. São Paulo: Editora Érica, 2015.

Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais. Revista Anfarmag – nº 70,


jan/fevereiro/08 – Encarte técnico – Diluição geométrica e homogeneização de
pós.

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