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Universidade Federal Fluminense

Departamento de Farmácia e Administração Farmacêutica

Disciplina de Farmacoepidemiologia e Prática Farmacêutica


Baseada em Evidências

Protocolos para o tratamento de Covid-19

Niterói, 2020
COVID-19 é a doença causada por um novo coronavírus denominado
SARS-CoV-2. A Organização Mundial da Saúde(OMS) tomou conhecimento
deste novo vírus em 31 de dezembro de 2019, após um relatório de um grupo
de casos de 'pneumonia viral' em Wuhan, na República Popular da China. Os
sintomas mais comuns da doença são:1

❖ Febre (>=37,8ºC)
❖ Tosse seca
❖ Fadiga

Há outros sintomas que são menos comuns, estes incluem: perda de


paladar e olfato, congestão nasal, conjuntivite, dores de garganta e cabeça,
náuseas ou vômitos, diarreias e calafrios ou tontura. Nos casos mais graves da
doença os sintomas incluem falta de ar, perda de apetite, confusão, dor
persistente ou pressão no peito e febre acima de 38°C.2

O período médio de incubação da infecção por coronavírus é de 5.2


dias, com intervalo que pode chegar até 12.5 dias. A transmissibilidade dos
pacientes infectados por SARS-CoV é em média de 7 dias após o início dos
sintomas. No entanto, dados preliminares do Novo Coronavírus (2019-nCoV)
sugerem que a transmissão possa ocorrer, mesmo sem o aparecimento de
sinais e sintomas. Até o momento, não há informação suficiente que defina
quantos dias anteriores ao início dos sinais e sintomas uma pessoa infectada
passa a transmitir o vírus.3

A prática clínica deve ser baseada em evidências para uma melhor


tomada de decisão sobre os cuidados dos pacientes. Nesse contexto, os
protocolos clínicos são condutas e procedimentos desenvolvidos baseando-se
em evidências atualizadas e consistentes cujo objetivo é promover uma melhor
prática na área da saúde.

Os protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas (PCDT), são documentos


que estabelecem critérios para diagnóstico da doença ou agravo à saúde, o
tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados,
quando couber; as posologias recomendadas, os mecanismos de controle
1
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Coronavirus disease (COVID-19). Disponível em
<https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/question-and-answers-hub/q-a-
detail/coronavirus-disease-covid-19> Acesso em 27 de novembro de 2020.
clínico e o acompanhamento e verificação dos resultados terapêuticos, a serem
seguidos pelos gestores do Sistema Único de Saúde. Estes devem ser
baseados em evidência científica e considerar critérios de eficácia, segurança,
efetividade e custo-efetividade das tecnologias recomendadas.2

A suscetibilidade é geral, por ser um vírus novo. Quanto a imunidade,


não se sabe se a infecção em humanos que não evoluíram para o óbito irá
gerar imunidade contra novas infecções e se essa imunidade é duradoura por
toda a vida. O que se sabe é que a projeção em relação aos números de casos
está intimamente ligada a transmissibilidade e suscetibilidade.

Este trabalho tem como proposta a pesquisa em bases de dados


confiáveis com os protocolos atualmente usados no tratamento da Covid-19. O
objetivo é produzir um resumo de protocolo clínico, a partir das evidências
encontradas.

Cientistas ao redor do mundo estão estudando para encontrar e


desenvolver possíveis tratamentos para o COVID-19. Um dos possíveis
tratamentos sugeridos foi o uso de cloroquina/hidroxicloroquina. No entanto,
estas não demonstraram qualquer benefício no tratamento de COVID-19,
conforme esclarecemos em um trabalho realizado anteriormente pelo nosso
grupo.

A OMS não recomenda a automedicação, com quaisquer que sejam os


medicamentos como prevenção ou cura para o COVID-19, principalmente
antibióticos uma vez que estes não funcionam em infecções virais. A OMS
ressalta, ainda, que o tratamento de suporte inclui oxigênio para pacientes
gravemente enfermos e aqueles que estão em risco de doença grave e suporte
respiratório mais avançado, como ventilação para pacientes graves.1

O Ministério da Saúde lançou o Protocolo de Tratamento do Novo


Coronavírus (2019-nCov)3 cujo objetivo é definir o papel dos serviços de
APS/ESF no manejo e controle da infecção COVID-19, bem como disponibilizar
2
SECRETARIA DA SAÚDE (Governo do Estado de Tocantins). Protocolos clínicos e diretrizes
terapêuticas (PCDT). Disponível em:
<https://saude.to.gov.br/vigilancia-em-saude/doencas-transmissiveis-e-nao-transmissiveis/dst-aids/
protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt/> Acesso em 27 de novembro de 2020.
3
FIOCRUZ. Ministério da Saúde lança Protocolo de Tratamento do Covid-19 Disponível em
<https://portal.fiocruz.br/noticia/ministerio-da-saude-lanca-protocolo-de-tratamento-do-covid-19>
Acesso em 27 de novembro de 2020.
os instrumentos de orientação clínica para os profissionais que atuam na porta
de entrada do SUS a partir da transmissão comunitária de COVID-19 no
Brasil.4

De acordo com o PCDT do Ministério da saúde, casos leves de COVID-


19 devem ser manejados com medidas não-farmacológicas como repouso,
hidratação, alimentação adequada, além de analgésicos e antitérmicos
(paracetamol e dipirona) e isolamento domiciliar por 14 dias a contar da data de
início dos sintomas. Indica-se o uso de oseltamivir para os casos de síndrome
gripal que tenham situações de risco para complicações. Casos classificados
como graves devem ser estabilizados e encaminhados aos serviços de
urgência ou hospitalares. 4

Em junho de 2020, no ensaio clínico RECOVERY realizado no Reino


Unido, o uso de dexametasona demonstrou ser benéfico para pacientes em
estado crítico. O estudo demonstrou que houve redução da mortalidade nesses
pacientes. Em setembro, a OMS publicou uma diretriz provisória sobre o uso
de corticoides, incluindo a dexametasona no tratamento de COVID-19. As
diretrizes foram baseadas em evidências coletadas em oito ensaios clínicos
randomizados. As diretrizes fazem duas recomendações: 5
Recomendação 1: Os corticosteróides (dexametasona, hidrocortisona
ou prednisona) devem ser administrados por via oral ou intravenosa para o
tratamento de pacientes com COVID-19 em estado grave e crítico.
Recomendação 2: Não se deve fazer o uso de corticosteróides no
tratamento de pacientes com COVID-19 não grave, a menos que o paciente já
esteja tomando esse medicamento para outra condição.
O tempo e a duração da medicação devem ser uma vez ao dia por 7 a
10 dias.A dose diária deve ser 6 mg de dexametasona, equivalente a 160 mg
de hidrocortisona (ou seja, 50 mg a cada 8 horas ou 100 mg a cada 12 horas),
40 mg de prednisona, 32 mg de metilprednisolona (8 mg a cada 6 horas)5

4
MINISTÉRIO DA SAÚDE/SAPS. Protocolo de manejo clínico do coronavírus (covid-19) na atenção
primária à saúde. Versão 9. Maio de 2020.
5
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Corticosteroids for COVID-19. Disponível em
< https://www.who.int/publications/i/item/WHO-2019-nCoV-Corticosteroids-2020.1> Acesso em 27 de
novembro de 2020.
Com base nas evidências científicas encontradas na literatura expostas
anteriormente, nosso grupo fez uma proposta para ser adotada no protocolo
clínico do tratamento de COVID-19 de acordo com a tabela abaixo:

Tabela 1. Tratamento para COVID-19 proposto pelo grupo

Casos leves de COVID-19

1. Medidas não farmacológicas

● Repouso

● Hidratação

● Alimentação adequada

● Isolamento domiciliar por 14 dias

2. Medidas Farmacológicas

● Uso de analgésicos e antitérmicos

o Paracetamol (200 mg/ml ou 500mg/cp), a cada 4/4 horas ou 6/6


horas a depender da frequência de febre ou dor.

• Crianças: 10-15 mg/kg/dose (máximo de 5 doses ao dia)

• Adultos: 500-1000 mg/dose (máximo de 3mg/dia)

o Dipirona (solução gotas 500mg/ml ou 500mg/cp) em caso de dor ou


febre, de 6/6 horas.

• Crianças: > 3 meses: (lactentes 10 mg/kg/dose; pré-escolares: 15


mg/kg/dose)

• Adultos: 500-1000 mg VO (dose máxima no adulto 4 gramas)

Casos graves de COVID-19


1. Uso de corticoides

● Dose diária de 6 mg de dexametasona, equivalente a 160 mg de

hidrocortisona (ou seja, 50 mg a cada 8 horas ou 100 mg a cada 12 horas),


40 mg de prednisona, 32 mg de metilprednisolona (8 mg a cada 6 horas).

● Uso por 7 a 10 dias.

2. X

3. X

4. X

5. X

Diagnóstico Clínico 3
O quadro clínico inicial da doença é caracterizado como síndrome gripal, no
entanto, casos iniciais leves, subfebris, podem evoluir para elevação
progressiva da temperatura e a febre ser persistente além de 3-4 dias, ao
contrário do descenso observado nos caso de Influenza. O diagnóstico
depende da investigação clínico-epidemiológica e do exame físico. É
recomendável que em todos os casos de síndrome gripal seja questionado o
histórico de viagem para o exterior ou contato próximo com pessoas que
tenham viajado para o exterior. Essas informações devem ser registradas no
prontuário do paciente para eventual investigação epidemiológica.
Diagnóstico Laboratorial 3
O diagnóstico laboratorial para identificação do vírus 2019-nCoV é realizado
por meio das técnicas de RT-PCR em tempo real e sequenciamento parcial ou
total do genoma viral.
Diagnóstico Diferencial 3
As características clínicas não são específicas e podem ser similares àquelas
causadas por outros vírus respiratórios, que também ocorrem sob a forma de
surtos e, eventualmente, circulam ao mesmo tempo, tais como influenza,
parainfluenza, rinovírus, vírus sincicial respiratório, adenovírus, outros
coronavírus, entre outros.

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