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Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto

PROTOCOLO DE MANEJO DA SÍNDROME PÓS-COVID NA


ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Ribeirão Preto, 2022


Jane Aparecida Cristina
Secretária Municipal da Saúde

Adriana Mafra Brienza


Secretária Adjunta

Dilson Braz da Silva Júnior


Diretor do Departamento de Planejamento em Saúde (DPS-SMSRP)

Vanessa Colmanetti Borin Danelutti


Diretora do Departamento de Atenção à Saúde das Pessoas (DASP-SMSRP)

Elaboração
Adrielen Aparecida Silva Calixto - Coordenadora I da Atenção às Pessoas com
Doenças Crônicas não Transmissíveis - DPS-SMS
Juliana Barcelos da Costa Lima - Equipe técnica - DASP

Revisão e Apoio
Equipe multidisciplinar do Programa de Aprimoramento Multiprofissional em
Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus - SMS-RP
DASP-SMSRP
Divisão de Enfermagem - SMSRP

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Autorizada a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a
fonte

PROTOCOLO DE MANEJO DA SÍNDROME PÓS-COVID NA ATENÇÃO


PRIMÁRIA À SAÚDE

Ribeirão Preto. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal da Saúde.


Departamento de Planejamento em Saúde. Departamento de Atenção à Saúde
das Pessoas. Coordenadoria I de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas
não Transmissíveis.

Protocolo de manejo da síndrome pós-COVID na atenção primária à saúde. 2022.


Versão 1.

25.p

1. Síndrome pós-COVID. 2. Atenção Primária à Saúde.

3
PROTOCOLO DE MANEJO DA SÍNDROME PÓS-COVID NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE

1. Introdução

Trata-se de manifestações clínicas novas, recorrentes ou persistentes


presentes após a infecção aguda por SARS-CoV-2, e não atribuídas a outras causas.
Na literatura, essas manifestações clínicas também podem ser descritas como COVID
longa, COVID-19 pós-aguda, síndrome pós-COVID, efeitos de longo prazo da COVID,
síndrome COVID pós-aguda, COVID crônica.
Até três quartos dos pacientes acometidos pela Covid-19 descrevem pelo
menos um sintoma 6 meses após a recuperação e sintomas multissistêmicos, sendo
os mais recorrentes a fadiga, fraqueza muscular e dificuldades para dormir.
Este protocolo visa orientar os serviços de Atenção Primária à Saúde do
município de Ribeirão Preto - SP para o reconhecimento, diagnóstico e conduta diante
das condições clínicas denominadas pós-COVID.
Ressalta-se que as potenciais sequelas da COVID-19 ainda estão sendo
amplamente estudadas, sendo que novas evidências podem surgir com o tempo. O
profissional de saúde envolvido no cuidado deve estar atento às atualizações,
tomando decisões compartilhadas com a equipe e condutas individualizadas
conforme o quadro clínico apresentado pelo paciente.

2. Definições

● COVID- 19 aguda: manifestações que ocorrem até 4 semanas após o início


da doença.
● COVID-19 sintomática persistente: manifestações que duram entre 4 e 12
semanas do início do quadro agudo
● Síndrome pós-COVID: manifestações persistentes que se prolongam para
além de 12 semanas e que não podem ser atribuídas a outros diagnósticos
alternativos.

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* COVID longa é um termo comumente usado para descrever sinais e sintomas que
continuam ou se desenvolvem após COVID-19 agudo. Inclui COVID-19 sintomático
persistente e síndrome pós-COVID.

CID10: U09.9 - Condição de saúde posterior à COVID-19, não especificada

O uso do CID U09.9 em todo atendimento médico ao paciente com alguma dessas
situações é extremamente importante para o monitoramento, geração de indicadores
e criação de estratégias para melhoria dos serviços.

3. Manifestações clínicas

As manifestações clínicas são variáveis e dependem de fatores de risco pré-


mórbidos e da gravidade da doença durante o quadro agudo. Embora os pacientes
que foram hospitalizados, especialmente aqueles em cuidados intensivos, sejam mais
propensos a uma recuperação mais lenta, a Síndrome pós-COVID pode acometer
inclusive as pessoas que tiveram formas leves da doença.
Destaca-se algumas manifestações mais graves, como: fibrose pulmonar,
sequela de dano miocárdico viral com redução de função sistólica e arritmias,
distúrbios tromboembólicos, déficit neurocognitivo e síndrome de Guillain-Barré.

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Quadro 1 – Sintomas mais comumente observados na síndrome pós-COVID.

Fonte: Ministério da Saúde, 2022.

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4. Avaliação e Manejo da Síndrome pós-COVID

Figura 1 – Fluxograma do atendimento inicial do paciente com pós-COVID

Fonte: Adaptado de Governo de Santa Catarina, 2021


* Consultar protocolo SERERP - SMS-RP: Reabilitação pós-covid
<https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/saude/consultas>

Avaliação inicial

A avaliação inicial de um paciente com condições pós-COVID deve abordar:


● Em caso de internação hospitalar, avaliação das condições da alta para
entender riscos e demandas;
● Avaliação das comorbidades descompensadas, como diabetes, hipertensão,
DPOC, asma, cardiopatia, entre outras;
● Anamnese e exame físico direcionado:
○ função cardiopulmonar;
○ função neurológica (cognição e comunicação);
○ condicionamento físico e fraqueza muscular;

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○ transtornos de saúde mental e necessidade de apoio psicossocial.
● Avaliação da frequência respiratória, oximetria de pulso (SpO2), ausculta
pulmonar e sinais de desconforto respiratório;

A solicitação de exames deve acontecer de maneira individualizada,


considerando história clínica atual e condições crônicas:
● Radiografia de tórax está indicada em pacientes com dispneia;
● Se necessário, para investigar causas secundárias de sintomas persistentes,
piora de sintomas, excluir complicações ou diagnóstico diferencial, considere
solicitar:
○ hemograma, a anemia deve ser excluída no paciente com queixa de
falta de ar;
○ exame de urina;
○ dosagem de eletrólitos;
○ função renal e hepática;
○ função tireoidiana, naqueles com fadiga inexplicável e fraqueza;
○ eletrocardiograma de repouso;
○ troponinas, em casos de suspeita de IAM (na urgência).
● Rastreie tuberculose se tosse ≥ 3 semanas, sudorese noturna, febre por mais
de 2 semanas, dor no peito ao respirar ou escarro sanguinolento;
● Dosagem de FAN e CPK em pacientes com artralgias, mialgias e outros
sintomas relacionados a doenças reumatológicas.

Sinais de Alerta:
hipoxemia severa
Sinais de doença pulmonar severa
Dor torácica
Síndrome inflamatória multissistêmica (crianças)

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Cuidados e orientações gerais

● Manejo das comorbidades descompensadas;


● Atenção aos cuidados de saúde geral: alimentação adequada, evitar
tabagismo e uso de álcool, qualidade do sono;
● Aumento gradual do exercício físico, conforme tolerado;
● Atenção à saúde mental: escuta com empatia, avaliação e tratamento;
● Abordagem familiar, identificando cuidadores e rede de apoio que possam
colaborar no processo de reabilitação;
● Encaminhamento para especialidades e equipe multiprofissional, caso
necessário.

Não há transmissão viral após 10 dias do início de sintomas para casos leves e
moderados e 20 dias do início dos sintomas para casos graves. Oriente que testes
não são necessários para verificar transmissibilidade ou imunidade adquirida.

Quadro 2 - Manejo direcionado a controle de sintomas e complicações

Fadiga

Fadiga persistente: avaliar se sintomas são decorrentes de fraqueza ou atrofia


muscular, descondicionamento físico, distúrbios do sono e do humor, dor,
sintomas cardiopulmonares ou uso de medicamentos (anti-histamínicos,
anticolinérgicos, ansiolíticos).

Investigação: descartar causas subjacentes que necessitem de tratamento


específico.

Exames complementares:
1. Hemograma, TSH, função hepática, função renal, eletrólitos e glicemia.

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Manejo
Após a exclusão de causas subjacentes, o tratamento é conservador:
• Retomar atividades físicas de forma lenta, gradual, e conforme tolerância.
Suspender as atividades físicas caso o paciente volte a apresentar febre,
dispneia, fadiga importante ou mialgia.
• Hidratação, alimentação saudável, descanso adequado e higiene do sono.
• Realizar planejamento e priorização das atividades, além de manter uma
rotina preestabelecida.
Alguns exercícios de respiração diafragmática auxiliam a normalizar os
padrões de respiração e aumentar a eficiência dos músculos respiratórios
resultando em menor gasto de energia, menos irritação das vias aéreas e
redução da fadiga e da dispneia. Como fazer: o paciente deve sentar-se em
uma posição apoiada e inspirar pelo nariz e expirar pela boca lentamente,
enquanto relaxa o tórax e os ombros, permitindo que o abdome suba. A
respiração deve ter como objetivo uma relação inspiração/expiração de 1:2,
com a expiração durando o dobro de tempo da inspiração. Essa técnica
pode ser usada com frequência ao longo do dia, em séries de 5 a 10
minutos (ou mais, se for útil).

Tosse residual e dispneia persistente

Descartar causas subjacentes e realizar o manejo inicial. Acompanhamento


longitudinal deve ser mantido no intuito de identificar complicações que demandem
encaminhamento ao serviço especializado.

Complicações pulmonares de longo prazo mais relevantes: doença pulmonar


intersticial e doença pulmonar vascular.

Avaliação inicial:
Caracterizar a dispneia: ao repouso ou ao esforço, presença de ortopnéia;
Sinais e sintomas associados: desconforto torácico, dor pleurítica, edema
periférico, palpitações, tontura, pré-síncope e síncope.

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Exame físico: medida de saturação de oxigênio, pressão arterial e frequência
cardíaca, além da ausculta cardíaca e pulmonar.

Exames complementares:
1. Pacientes com persistência ou piora de sintomas respiratórios, ou
alterações na ausculta respiratória:
• Radiografia de tórax: descartar complicações como infecção secundária ou
derrame parapneumônico.
• Exames laboratoriais a se considerar: Hemograma, TSH, glicemia,
creatinina, Na, K, Mg, Ca.

2. Início ou piora da dispneia, associada ou não à redução da saturação de


oxigênio ou à taquicardia inexplicada: considerar a possibilidade de
tromboembolismo pulmonar – é necessária a realização de angiotomografia
de tórax em emergência hospitalar.

3. Exames radiológicos de controle: indivíduos que tiveram alterações de


exames de imagem durante o curso agudo da doença, pode ser realizado
controle da imagem se sintomas ainda estiverem presentes:
• Aguardar no mínimo 12 semanas da infecção aguda para repetir exames
radiológicos em pacientes com sintomas respiratórios persistentes, se não
ocorrer nenhuma piora antes;
• Se linfonodo ou nódulo pulmonar for identificado no primeiro exame, o ideal
é repetir em seis semanas.

O exame de controle escolhido depende dos achados prévios e


preocupação em relação à concomitância de outra patologia pulmonar:
• Radiografia: no geral é suficiente;
• Tomografia computadorizada (TC): solicitada conforme disponibilidade e se
suspeita de malignidade, ou de doença intersticial;

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• Provas de função pulmonar (espirometria): úteis em pacientes com
sintomas respiratórios persistentes e progressivos. A orientação é realizar
após 12 semanas da alta hospitalar ou do término do isolamento domiciliar;
• Teste de dessaturação ao esforço físico: para pacientes com dispneia ou
tontura ao esforço físico, com saturação de O2 ao repouso normal.
• Ecocardiograma, angiotomografia e cintilografia: a depender da avaliação
médica e disponibilidade, para pacientes que tiveram embolia pulmonar
pós-covid e permanecem sintomáticos, para avaliar complicações
(hipertensão pulmonar) - como esses exames geralmente não estão
disponíveis na APS, o encaminhamento para a pneumologia faz-se
necessário.
Baciloscopia 2 amostras: tosse ≥3 semanas

Manejo
• Descartar complicações da covid-19;
• Abordagem terapêutica da dispneia persistente deve ser baseada na causa
subjacente: otimizar o tratamento da patologia associada
• Pacientes covid longa que permanecem com dispneia, mesmo com função
pulmonar e demais exames normais: considerar o descondicionamento
físico secundário ao sedentarismo – estimular prática de atividades físicas.
• Na ausência de suspeita de causas secundárias ou outras complicações, a
tosse e a dispneia devem ser manejadas com exercícios de controle da
respiração.
O manejo da tosse após infecções virais é, na maioria das vezes, expectante, pois
grande parte dos casos tem resolução espontânea em até três meses.
• Avaliar e manejar as demais condições que podem exacerbar ou contribuir
para o sintoma (DRGE, asma, sinusite bacteriana, tuberculose e rinite
alérgica).
• Corticoide inalatório - evidências limitadas.
• Ipratrópio, corticoesteroides orais e codeína: não há evidências claras sobre
o benefício, apesar de serem medicações frequentemente usadas como
opção terapêutica para tosse intratável.

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A maioria dos pacientes com covid-19 leve a moderada, que não necessitou de
internação hospitalar, costumam apresentar melhora lenta e gradual ao longo de
quatro a seis semanas de exercícios aeróbicos leves, com aumento gradual em
intensidade conforme tolerância, além dos exercícios respiratórios

Pacientes com comprometimento pulmonar grave, fibrose pulmonar ou ventilação


mecânica prolongada têm indicação de reabilitação respiratória específica.

Tromboembolismo

O tempo que pacientes permanecem em estado de hipercoagulabilidade após um


quadro agudo de covid-19 ainda não é determinado.

Complicações tromboembólicas podem ocorrer semanas após o acometimento


agudo por covid-19 e são mais comuns em pessoas com outras comorbidades.

Fatores de risco: imobilização recente, neoplasia, história prévia de


tromboembolismo, covid-19.

Quando suspeitar?
• Embolia pulmonar (TEP): paciente com dispneia de início recente ou que
teve piora e/ou taquicardia e/ou redução da saturação de O2.
• Trombose venosa profunda (TVP) em membro inferior: edema unilateral,
dor e empastamento da panturrilha, porém nem sempre todos esses sinais
estão presentes.

Exames de coagulação como D-dímero e fibrinogênio:


• Têm utilidade prognóstica em casos de hospitalização por covid-19 aguda;
• Podem estar aumentados mesmo na ausência de complicações
tromboembólicas;

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• D-dímero de rotina em pacientes após a alta ou no acompanhamento para
definir início ou duração de anticoagulação em pacientes pós-covid: ainda
sem papel claro da utilidade.

Manejo

Suspeita clínica de TEP ou TVP: poderá ser encaminhado para avaliação em


serviço de emergência.
Tratamento: anticoagulação terapêutica por no mínimo três meses

Anticoagulação profilática após a alta hospitalar:


• Não há indicação de profilaxia de rotina.
Casos selecionados de pacientes com baixo risco de sangramento e alto risco de
tromboembolismo venoso (TEV), como história de prévia de TEV, imobilidade,
trombofilia, cirurgia importante ou trauma nos últimos três meses, a profilaxia
antitrombótica pode ser estendida após a alta hospitalar por até 40 dias - avaliação
clínica individual.

Dor torácica

Investigação é similar à de pacientes que não tiveram covid-19 e baseado na


história clínica:
• Tempo de início, características da dor e exame físico;
• Exames complementares podem ser solicitados.

Suspeita de evento cardiopulmonar agudo grave ou caso o paciente apresente


piora significativa do estado clínico geral: avaliação em serviço de emergência.

Diagnósticos diferenciais de dor musculoesquelética ou inespecífica (sintomas


comuns em casos pós-infecção):
• Síndrome coronariana aguda
• Dissecção de aorta
• Pericardite

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• Miocardite
• Embolia/infarto pulmonar
• Derrame pleural

Manejo

A dor torácica de origem musculoesquelética ou a dor torácica inespecífica, que


ocorrem em pacientes pós-covid, quando descartada doença aguda, geralmente
se resolve lentamente.
Anti-inflamatórios não esteroides (AINES): se prejuízo da qualidade de vida e não
houver contraindicações: Ibuprofeno 600 mg, via oral, de 8h/8h por 1 ou 2
semanas.

Outras possíveis complicações cardiovasculares devido à covid-19:


• Arritmias ou palpitações (18,4%)
• Dano miocárdico (10,3%)
• Angina (10,2%)
• Infarto agudo do miocárdio (3,5%)
• Insuficiência cardíaca aguda (2%).
• Casos de miocardite fulminante, cor pulmonale, síndrome de takotsubo e
pericardite também foram relatados.

Avaliar individualmente sinais e sintomas.


Exames, por exemplo, ECG, troponina, ecocardiograma transtorácico, deverão ser
solicitados conforme a suspeita clínica.

Manejo

Exercícios cardiovasculares intensos devem ser evitados por três meses em todos
os pacientes que apresentaram miocardite ou pericardite.

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Atletas devem ser orientados a suspender totalmente o treinamento cardiovascular
por seis meses seguidos de retorno gradual às suas atividades, com
acompanhamento especializado adequado.

Alopecia

Caracterizada por uma perda capilar difusa, pode ser atribuída ao eflúvio telógeno
resultado da infecção viral ou da resposta ao estresse.

A maioria dos casos cessa espontaneamente após três a seis meses do seu início
e a recuperação completa da quantidade e da espessura dos fios pode demorar
até 18 meses.

Alopecia desproporcional à gravidade do quadro, duração maior que seis meses


ou achados no exame físico que sugiram outras etiologias, é necessário afastar
outras causas de eflúvio telógeno. Exames que podem auxiliar:
• Hemograma, TSH e ferritina.

Manejo

● Fornecer suporte psicológico, visto que muitos pacientes podem apresentar


quadros psiquiátricos associados como depressão, ansiedade e desordem
de ajustamento.
● Tranquilização e educação do paciente em relação ao caráter autolimitado
do quadro e no início de repilação espontânea após seis meses.
● Orientar consumo adequado de vitaminas e proteínas (carnes -
especialmente fígado - peixes, ovos, sementes de girassol, amêndoas,
amendoim e vegetais verdes escuros.

Anosmia / alterações do olfato

Anosmia, hiposmia ou parosmia parecem ser mais frequentes na covid-19 do que


em relação a outras infecções virais e costumam ter instalação abrupta.

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Manejo

A maioria dos pacientes se recupera após 14 dias do início dos sintomas sem
nenhum tratamento específico.

Anosmia persistente: até o momento não existem tratamentos farmacológicos com


eficácia comprovada, possibilidade de tratamento:
• Treinamento olfativo - uma das características do sistema olfativo é sua
capacidade de regeneração, a exposição repetida a odores, força o cérebro
a se concentrar no cheiro, estimulando assim a regeneração dos neurônios
olfatórios. Os odores podem ser: limão, laranja, banana, baunilha, eucalipto,
canela e cravo.
Terapias farmacológicas (corticoesteroides spray nasal ou irrigação com solução
salina): estão indicadas para casos com outras doenças nasais concomitantes,
como rinossinusite.

Disgeusia

Disgeusia é relatada com frequência após a infecção por SARS-CoV-2: estudos


apontam o fato de o coronavírus ter a capacidade de invasão do bulbo olfatório e
glândulas salivares.

O tempo de permanência deste sintoma ainda é incerto, mas dados baseados em


observações clínicas relatam desaparecimento entre 8 a 60 dias na média.

Sintomas persistentes: investigar outras possíveis causas (medicamentos,


deficiência de zinco, diabetes mellitus, doença do refluxo gastroesofágico, doença
cardíaca, candidíase, Alzheimer, asma, doenças hepáticas e renais,
hipotireoidismo, doença de Parkinson e depressão).

Manejo

Disgeusia pela covid-19: nenhum tratamento farmacológico eficaz está disponível;

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Disgeusia associadas a outras condições, como síndrome da ardência bucal:
• Clonazepam 0,5 a 1 mg à noite, amitriptilina ou anestésicos tópicos, como
lidocaína gel.
*É importante a avaliação do médico, em decisão compartilhada com o paciente,
sobre o uso dessas medicações, podendo ser indicadas em casos persistentes,
graves e com prejuízo à qualidade de vida.

Diarreia

Diarreia crônica (>4 semanas):


• Avaliação inicial: anamnese, exame físico e pesquisa de sinais de alarme;
• Podendo complementar a investigação com exames: hemograma, glicemia,
TSH, anti-HIV, exame parasitológico de fezes (EPF), coprocultura,
leucócitos fecais e pesquisa de sangue oculto nas fezes.

Principais causas de diarreia crônica:


● Parasitoses/ infecções;
● Giardíase;
● Infecção por Clostridium difficile: suspeitar em casos de diarreia aguda
clinicamente significativa (mínimo três evacuações amolecidas ao dia),
associada a uso recente de antibiótico, hospitalização ou idade avançada.
Realizar a pesquisa de toxina do Clostridium difficile nas fezes, quando
disponível.
● Doença inflamatória intestinal;
● Síndrome do intestino irritável;
● Síndrome da má absorção intestinal.
*Síndrome do intestino irritável e síndrome da má absorção intestinal podem
ocorrer após quadros infecciosos.

Manejo

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Tratamento da diarreia visa reduzir complicações como desidratação, distúrbios
hidroeletrolíticos e isquemia colônica:
● Tratar causa subjacente, se houver;
● Hidratação;
● Antieméticos: se náuseas ou vômitos
Se alta suspeição de infecção por Clostridium, iniciar tratamento empírico com
metronidazol 500 mg, de 8h/8h por 10 dias.
Sinais de alerta (hipotensão, taquicardia, febre, distensão abdominal importante e
redução dos ruídos hidroaéreos): avaliação hospitalar.

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Figura 2 – Fluxograma de avaliação e manejo inicial da diarreia pós-COVID.

Fonte: Ministério da saúde, 2022

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Sintomas neurológicos

Comuns: cefaleia, tontura, sensações vagas de raciocínio lentificado ou leve


obnubilação são sintomas comumente observados em pacientes após quadros
agudos de covid-19.

Raros: acidentes vasculares isquêmicos ou hemorrágicos, convulsões, encefalite,


encefalomielite, hemorragia intracerebral, trombose de seio venoso cerebral,
síndrome da encefalopatia posterior reversível, síndrome de Guillain-Barré,
demência, síndromes parksonianas, lesões desmielinizantes periféricas, miopatia,
miastenia gravis.

Manejo

Os casos devem ser conduzidos conforme a clínica. A investigação e o manejo


não diferem de pacientes com essas condições por outras causas que não a
covid-19.

Pacientes com cefaleia intensa, delirium, agitação, sonolência, convulsões,


fraqueza muscular ascendente, sinais neurológicos focais, devem ser submetidos
a exame físico neurológico, podendo ser encaminhados à emergência para
identificação de complicações potencialmente graves.

Problemas de saúde mental

A covid-19 está associada a um aumento na incidência de problemas de saúde


mental e essas alterações ocorreram de forma independente das manifestações
pulmonares e, em até 70% dos casos, persistiram por vários meses após os
sintomas respiratórios agudos.

Mais comuns: transtornos de ansiedade e do humor, distúrbios do sono e psicose.


Também encontrados: sintomas de depressão, redução da concentração,
sintomas de déficit de atenção, perda de memória, síndrome demencial, sintomas
psicóticos, ideação suicida e transtorno de estresse pós-traumático.

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Manejo

Deve ser individualizado e conforme a gravidade do quadro.

Recomendado o acompanhamento de:


• Pacientes que tiveram covid-19 e seus familiares;
• Trabalhadores da área da saúde;
• Pessoas com condições mentais preexistentes

Monitorar o surgimento de sintomas depressivos e ideação suicida, sintomas de


ansiedade, alterações do sono, entre outras possíveis alterações psiquiátricas.

Quadros leves:
• Psicoeducação, orientação e escuta empática podem ser oferecidos.

Quadros moderados e graves:


• Tratamentos farmacológico e psicoterápico deverão ser indicados de
acordo com o diagnóstico, conforme as recomendações de tratamento para
a população em geral.

Avaliação e manejo do comportamento suicida:


Deve ser realizada a estratificação por fatores de risco como: tentativa prévia,
transtorno psiquiátrico, história passada de ideação e comportamento suicida,
história familiar de suicidio, desesperança e falta de visão de futuro, desamparo e
falta de sensação de controle, sentimento de inutilidade, presença de estressores
de vida atuais, história de heteroagressividade, dor e outras doenças crônicas e
apatia durante a entrevista

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Figura 3 – Manejo inicial do comportamento suicida

Fonte: adaptado de Rio Grande do Sul, 2019.

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Síndrome pós-cuidado intensivo

Pacientes que passam por cuidados em terapia intensiva podem experimentar


uma ampla gama de complicações secundárias aos procedimentos de ventilação
mecânica, sedação, bloqueio neuromuscular e imobilização prolongada:

• Descondicionamento físico e respiratório;


• Perda de massa muscular;
• Desnutrição;
• Problemas de deglutição;
• Polineuropatia;
• Lesões de decúbito;
• Déficits cognitivos e condições psiquiátricas.

Idosos e com doenças crônicas têm maior risco de desenvolver essas


complicações.

Manejo

Reabilitação com equipe multidisciplinar (fisioterapia motora ou respiratória,


nutrição, fonoaudiologia, terapia ocupacional), focando na recuperação da
funcionalidade prévia

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Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual para avaliação e manejo de condições pós-
covid na Atenção Primária à Saúde / Ministério da Saúde, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 49 p.: il. Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_avaliação_manejo_condições_c
ovid.pdf> ISBN 978-65-5993-174-3.

PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Guia para manejo pós-COVID-19. Belo


Horizonte, 2021. Disponível em:
<https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-
governo/saude/2021/guia_manejo_pos-covid-21-09-2021.pdf>

GOVERNO DE SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Saúde. Protocolo de


reabilitação da COVID-19 na atenção primária à saúde. Florianópolis, 2021.
Disponível em: <https://www.saude.sc.gov.br/index.php/informacoes-gerais-
documentos/ascom/arquivos-noticias-2021/19408-protocolo-reabilitacao-pos-
covid/file>

VASCONCELOS, SE., DIAS, PAB., BITENCOURT, HK., CARVALHO PSS de.,


QUADROS, EAS., VIVIANI, MMF., NUNES, ALH., SAMPAIO, CER. Impactos de
uma pandemia na saúde mental: analisando o efeito causado pelo COVID-19.
Revista Eletrônica Acervo Saúde, online, 2020. Disponível em:
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Ago. 2022.

LAFRENIERE, D. Taste and olfactory disorders in adults: evaluation and


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dynamed.com/topics/dmp~AN~T921617. Acesso em: 17 dez. 2021.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Programa de Pós-


Graduação em Epidemiologia. TelessaúdeRS (TelessaúdeRS-UFRGS). Avaliação
e Manejo de sintomas prolongados de COVID-19. Porto Alegre: TelessaúdeRS-
UFRGS; Out 2022 [citado em 17 Agos 2022]. Disponível em:
https://www.ufrgs.br/telessauders/documentos/Avaliacao_e_manejo_de_sintomas_p
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MONTEIRO, ILL. Queda de cabelo e Covid-19: o que sabemos até agora?. PebMed
2021.

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:220-32. 10.1016/S0140-6736(20)32656-8 [ PMC free article ] [ PubMed ]

25

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