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23/08/2022 19:21 Técnicas de pesquisa

Técnicas de pesquisa
Prof.ª Mirian Goldenberg

Descrição
A importância da pesquisa de modelos qualitativo e quantitativo para a produção acadêmica. A pesquisa de
campo e a análise de dados nas abordagens quantitativa e qualitativa.

Propósito
Compreender as características da pesquisa de abordagens qualitativa e quantitativa, bem como suas
possíveis interfaces. Perceber que a análise de dados, proveniente da pesquisa de campo, pode tornar-se
instrumento eficaz na pesquisa acadêmica, em ambas as abordagens.

Objetivos
Módulo 1

Pesquisa quantitativa x Pesquisa qualitativa


Distinguir pesquisa quantitativa de pesquisa qualitativa a partir da relevância da pesquisa de campo para a
produção acadêmica.
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Módulo 2

Análise de dados
Reconhecer a importância da análise de dados para a pesquisa acadêmica no âmbito das análises
quantitativa e qualitativa.

meeting_room
Introdução
A professora Mirian Goldenberg deu seu depoimento sobre o assunto metodologia de pesquisa. Veja a
seguir.

Quando inicio um curso presencial de metodologia de pesquisa, noto no semblante de meus alunos uma
profunda desconfiança. Costumo perguntar sobre suas experiências anteriores com a disciplina e, salvo
raríssimas exceções, eles são unânimes em afirmar que a matéria foi muito desinteressante em suas
experiências anteriores. Com essa recepção, não é fácil iniciar um curso de dezenas de horas, semanas ou
meses. Ao final do curso, no entanto, sempre encontro alunos entusiasmados, empolgados com seus
projetos, e não raro com manifestações de carinho e gratidão. Aqui quero compartilhar um pouco dessa
experiência prazerosa em sala de aula e mostrar que a pesquisa científica não é algo de apenas alguns
eleitos, podendo ser exercida em qualquer campo de estudo.

Metodologia científica é muito mais do que algumas regras de como fazer uma pesquisa; ela auxilia a
refletir e propicia um “novo” olhar sobre o mundo: um olhar científico, curioso, indagador e criativo. Portanto,
a pesquisa não se reduz a certos procedimentos metodológicos. A pesquisa científica exige criatividade,
disciplina, empatia, flexibilidade, humildade, interesse genuíno, organização e sensibilidade, baseando‐se no
confronto permanente entre o possível e o impossível, entre o conhecimento e o desconhecimento.

Nenhuma pesquisa é totalmente controlável, com início, meio e fim previsíveis. A pesquisa é um processo
em que é impossível prever todas as etapas. O pesquisador está sempre em estado de tensão porque sabe
que seu conhecimento é parcial e limitado — o “possível” para ele. Nesse mesmo sentido, não existe um

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único modelo de pesquisa. Neste material, veremos um dos caminhos possíveis: aquele que tenho buscado
seguir nas últimas quatro décadas e com diferentes abordagens de acordo com o tema escolhido.

Todos os pesquisadores precisam estar abertos para um verdadeiro debate de ideias. É a discussão dos
nossos achados que pode contribuir para o amadurecimento de nosso trabalho. A pesquisa científica exige
um exercício permanente de crítica e autocrítica. Por isso, aceite o estudo deste conteúdo como um
prazeroso desafio: um exercício para aprender a pensar cientificamente, com clareza, criatividade,
organização e, acima de tudo, sabor.

1 - Pesquisa quantitativa x Pesquisa


qualitativa
Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir pesquisa quantitativa
de pesquisa qualitativa a partir da relevância da pesquisa de campo para a
produção acadêmica.

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Construindo o problema da pesquisa


Fazer uma pesquisa significa aprender a pôr ordem nas próprias ideias. Não importa tanto o tema escolhido,
mas a experiência de trabalho de pesquisa. Trabalhando‐se bem, não existe tema que seja tolo ou pouco
importante. A pesquisa deve ser entendida como uma ocasião singular para fazer alguns exercícios que
servirão por toda a vida. O trabalho de pesquisa deve ser instigante, mesmo que o objeto não pareça ser tão
interessante. O que o verdadeiro pesquisador busca é o jogo criativo de aprender como pensar e olhar
cientificamente.

Observe que aqui falamos em objeto da pesquisa e não em objetivos. Em metodologia científica, o que
chamamos objeto da pesquisa é exatamente aquilo que será pesquisado. Já os objetivos de uma pesquisa
dependerão de muitos fatores, inclusive do tipo de objeto pesquisado.

Qualquer tema ou assunto da atualidade pode ser objeto de uma pesquisa científica.

É preciso ter estudado muito, possuir uma sólida bagagem teórica e muita experiência de pesquisa para
enxergar o que outros não conseguem ver. O pesquisador experiente descobre assuntos que podem parecer
banais e os transforma em pesquisas fecundas.

O desejo de reconhecimento não só leva o cientista a comunicar os seus resultados, mas também o
influencia na escolha de temas e métodos que tornem seu trabalho mais aceitável por seus pares. Quanto
maior a consciência de suas motivações, mais o pesquisador é capaz de evitar os desvios (ou bias) próprios
daqueles que trabalham com a ilusão de serem orientados apenas por propósitos científicos.

Comentário

Existe uma hierarquia de legitimidade dentro do campo científico traçada de acordo


com os temas que dão prestígio, recursos para a pesquisa, cargos universitários,
publicações em editoras prestigiadas etc. Assim, falar de “liberdade de escolha” nesse
campo é desconsiderar as pressões (evidentes ou sutis) às quais o pesquisador
permanentemente se submete. Tendo consciência de tais pressões, muitas
dificuldades e contradições podem ser mais bem compreendidas na escolha de um
assunto e na sua formulação como um projeto de pesquisa.

Nessa “arte” de fazer pesquisa, é necessário ter alguns atributos para poder entrar no campo científico.
Alguns podem ser vistos como internos, atributos pessoais que devem fazer parte do indivíduo que deseja
ser um pesquisador:

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Clareza.

Concentração.

Criatividade.

Curiosidade.

Delicadeza.

Disciplina.

Empatia.

Equilíbrio.

Flexibilidade.

Humildade.

Iniciativa.

Interesse real.

Objetividade.

Organização.

Paciência.

Paixão.

Respeito ao entrevistado.

Saber escutar.

Tranquilidade.

Outras qualidades podem ser chamadas de externas, porque dependem da formação científica do
pesquisador. São elas:

Bom domínio da teoria.

Domínio das técnicas de pesquisa.

Boa escrita.

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Experiência com pesquisa.

Relacionar os dados empíricos com a teoria.

As principais etapas da pesquisa científica envolvem a concepção de um tema de estudo, a coleta de dados,
a apresentação de um relatório com os resultados e, em alguns casos, a aplicação dos resultados. O passo
inicial está ligado à formulação do problema e consequente definição do objeto da pesquisa.

O primeiro passo é tornar o problema concreto e explícito pelos seguintes meios:

Imersão sistemática no assunto.

Estudo da literatura existente.

Discussão com pessoas que acumularam experiência prática no campo de estudo.


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A boa resposta depende da boa pergunta. O pesquisador deve estar consciente da importância da pergunta
que faz e deve saber colocar as questões necessárias para o sucesso de sua pesquisa.

O pesquisador, ao escolher seu objeto de estudo, deve pensar em como:

Primeiro passo

Identificar um tema preciso (recorte do objeto).

Segundo passo

Escolher e organizar o tempo de trabalho.

Terceiro passo

Realizar a pesquisa bibliográfica (revisão da literatura).

Quarto passo

Organizar e analisar o material selecionado.

Quinto passo

Fazer com que o leitor compreenda o seu estudo e possa recorrer aos resultados caso queira
dar continuidade à pesquisa.

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Para tanto, o objeto de estudo deve responder aos interesses do pesquisador e ter as fontes de consulta
acessíveis e de fácil manuseio. Quanto mais se recorta o tema, com mais segurança e criatividade se
trabalha. O estudo científico deve ser claro, interessante e objetivo, tanto para as pessoas familiarizadas
com o assunto quanto para as que não são. Muitos acadêmicos se perdem em parágrafos herméticos que
não são compreendidos nem pelos seus pares. O pesquisador não precisa utilizar termos obscuros para se
mostrar profundo. A profundidade e a seriedade do estudo podem ser mais bem percebidas se o
pesquisador utilizar uma linguagem compreensível para o maior número de alunos e leitores.

A pesquisa apresenta diferentes fases, conforme veremos a seguir:

Fase exploratória expand_more

A fase inicial, que pode ser chamada de exploratória, lembra uma “paquera” de dois adolescentes. É
o momento em que se tenta descobrir algo sobre o objeto de desejo, quem mais escreveu (ou se
interessou) sobre ele, como poderia haver uma aproximação, qual a melhor abordagem (ou
metodologia) entre todas as possíveis para conquistar esse objeto.

Fase de elaboração expand_more

Em seguida, vem a fase que equivale ao “namoro”, quando há maior compromisso e que exige um
conhecimento mais profundo, uma dedicação quase exclusiva ao objeto de paixão. É a fase de
elaboração do projeto de pesquisa, quando o estudioso mergulha profundamente no tema
estudado.

Fase de resolução de problemas expand_more

A terceira fase é o “casamento”, em que a pesquisa exige fidelidade, dedicação, atenção ao seu
cotidiano, que é feito de altos e baixos. O pesquisador deve resolver os problemas que vão
aparecendo, desde os mais simples (como se vestir para realizar as entrevistas) até os mais
cruciais (como garantir a verba para a execução da pesquisa).

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Fase de diagnóstico expand_more

Por último, a fase de “separação”, em que o pesquisador precisa se distanciar do seu objeto para
escrever o relatório final da pesquisa. É o momento em que é necessário olhar o mais criticamente
possível para o objeto estudado, quando é preciso fazer rupturas, sugerir novas pesquisas. É o
momento de ver os defeitos e as qualidades do objeto amado.

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Relevância da pesquisa na vida acadêmica
Neste vídeo, veja a importância da vida acadêmica e da clareza do problema pesquisado.

Pesquisa quantitativa x Pesquisa qualitativa

Características de uma pesquisa


Durante muito tempo, as ciências se pautavam por um modelo quantitativo de pesquisa, em que a
veracidade de um estudo era constatada pela quantidade de pesquisados. Muitos pesquisadores, no
entanto, questionaram a representatividade e o caráter de objetividade com que a pesquisa quantitativa se
revestia.

É preciso aceitar o fato de que, mesmo nas pesquisas quantitativas, a subjetividade do


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pesquisador está presente.

Na escolha do tema, dos entrevistados, no roteiro de perguntas, na bibliografia consultada e na análise do


material coletado, existe um autor, um sujeito que decide os passos a serem dados.

Na pesquisa qualitativa, a preocupação do pesquisador não é com a quantidade de indivíduos, mas com o
aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma
trajetória etc.

Ao se pensar nas origens da pesquisa qualitativa em ciências sociais, corre‐se o risco de se perder em um
caminho longo demais que, procurando as origens das origens, não chega jamais ao fim. Poderia chegar a
Heródoto (495 AEC-425 AEC) que, descrevendo a guerra entre a Pérsia e a Grécia, dedicou-se a esboçar os
costumes, as vestimentas, as armas, os barcos, os tabus alimentares e as cerimônias religiosas dos persas
e dos povos circunvizinhos.

Heródoto
Uma boa reflexão sobre a importância de Heródoto nesse contexto, bem como um ótimo exemplo de
pesquisa podem ser encontrados no artigo O selvagem e a História: Heródoto e a questão do Outro, de
Klaas Woortmann. Pesquise-o na plataforma SciELO.

Comentário

Não pretendendo fazer um caminho tão longo, mas, para situar a questão do uso de
técnicas e métodos qualitativos de pesquisa nas ciências sociais dentro de uma
discussão mais ampla, elucidaremos o debate entre a sociologia positivista e a
sociologia compreensiva.

Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa em pesquisa se opõem ao pressuposto que defende
um modelo único de pesquisa para todas as ciências, baseado no modelo de estudo das ciências da
natureza. Esses pesquisadores se recusam a legitimar seus conhecimentos por processos quantificáveis
que venham a se transformar em leis e explicações gerais. Afirmam que as ciências sociais têm sua
especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Vamos conhecê-los!

Comte

Os pesquisadores qualitativistas recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social. O


fundador do positivismo, Augusto Comte, defendia a unidade de todas as ciências e a aplicação da

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abordagem científica na realidade social humana. Com base em critérios de abstração, complexidade e
relevância prática, Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências, em que a matemática ocupava o
primeiro lugar e a sociologia ou “física social”, o último, precedida, em ordem decrescente, por astronomia,
física, química e biologia. Para Comte, cada ciência dependia do desenvolvimento da que a precedeu.
Portanto, a sociologia não poderia existir sem a biologia, que não existiria sem a química, e assim por
diante.

Fundador do positivismo
A origem do positivismo é atribuída ao francês Augusto Comte (1798-1857), autor dos famosos Sistema de
filosofia positiva (1830-1842) e Catecismo positivista (1852), além de outras publicações. A relação que se
estabelece entre a filosofia do francês Comte — chamada de filosofia positiva ou positivismo — e as várias
correntes denominadas de "positivismo" baseia-se em diversas possibilidades: a primeira, claro, é a
identidade de nome em diversas situações; em seguida, alguns vínculos históricos (teóricos e políticos)
entre eles; por fim, mera extensão ou ampliação de sentido (LACERDA, 2009).

Retrato de Augusto Comte.

Segundo a perspectiva de que o objeto das ciências sociais deve ser estudado como o das ciências físicas,
a pesquisa é uma atividade neutra e objetiva, que busca descobrir regularidades ou leis, em que o
pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e suas crenças contaminem a
pesquisa.

Durkheim

Émile Durkheim, como Comte, preocupado com a ordem na sociedade e com a primazia da sociedade sobre
o indivíduo, também se posicionou a favor da unidade das ciências. Tomando “os fatos sociais como
coisas”, Durkheim (1985) defendia que o social é real e externo ao indivíduo, ou seja, o fenômeno social,
como o fenômeno físico, é independente da consciência humana e verificável pela experiência dos sentidos
e da observação.

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Émile Durkheim
David Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e
filósofo francês. Formalmente, tornou a sociologia uma ciência e, com Karl Marx (1818-1883) e Max Weber
(1864-1920), é comumente citado como o principal arquiteto da ciência social moderna e pai da sociologia.

Retrato de Émile Durkheim.

Durkheim acreditava que os fatos sociais só poderiam ser explicados por outros fatos sociais, e não por
fatos psicológicos ou biológicos, como pretendiam alguns pensadores de seu tempo. Defendendo a visão
da ciência social como neutra e objetiva, na qual sujeito e objeto do conhecimento estão radicalmente
separados, Durkheim teve uma influência decisiva para que as ciências sociais adotassem o método
científico das ciências naturais.

Dilthey

Na segunda metade do século passado, alguns pensadores, influenciados pelo idealismo de Kant, reagiram
criticamente ao modelo positivista de conhecimento aplicado às ciências sociais, acreditando que o estudo
da realidade social por meio de métodos de outras ciências poderia destruir a própria essência dessa
realidade, já que esquecia a dimensão de liberdade e individualidade do ser humano.

Retrato de Wilhelm Dilthey.

A sociologia compreensiva, distinguindo “natureza” de “cultura”, mostrou que era necessário, para estudar os
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fenômenos sociais, um procedimento metodológico diferente daquele utilizado nas ciências físicas e
matemáticas. O filósofo alemão Wilhelm Dilthey foi um dos primeiros a criticar o uso da metodologia das
ciências naturais pelas ciências sociais, em função da diferença fundamental entre seus objetos de estudo.
Nas primeiras, os cientistas lidam com objetos externos passíveis de serem conhecidos de forma objetiva,
enquanto nas ciências sociais lidam com emoções, valores, subjetividades. Essa diferença se traduz em
diferenças nos objetivos e nos métodos de pesquisa.

Para Dilthey, os fatos sociais não são suscetíveis de quantificação, já que cada um deles tem um sentido
próprio, diferente dos demais, e isso torna necessário que cada caso concreto seja compreendido em sua
singularidade. Portanto, as ciências sociais devem se preocupar com a compreensão de casos particulares
e não com a formulação de leis generalizantes, como fazem as ciências naturais.

Wilhelm Dilthey
Wilhelm Christian Ludwig Dilthey (1833‐1911) foi um filósofo hermenêutico, psicólogo, historiador, sociólogo
e pedagogo alemão. Dilthey lecionou filosofia na Universidade de Berlim.

Weber

O maior representante da chamada sociologia compreensiva é Max Weber. Para ele, o principal interesse da
ciência social era o comportamento significativo dos indivíduos engajados na ação social, ou seja, o
comportamento ao qual os indivíduos agregam significado considerando o comportamento de outros
indivíduos.

Max Weber
Maximilian Karl Emil Weber (1864‐1920) foi um intelectual, jurista e economista alemão considerado um dos
fundadores da sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e economista Alfred Weber.

Retrato de Max Weber.

Os cientistas sociais, que pesquisam os significados das ações sociais de outros indivíduos e deles
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próprios, são sujeito e objeto de suas pesquisas. Nessa perspectiva — que se opõe à visão positivista de
objetividade e de separação radical entre sujeito e objeto da pesquisa —, é natural que cientistas sociais se
interessem por pesquisar aquilo que valorizam. Esses cientistas buscam compreender os valores, as
crenças, as motivações e os sentimentos humanos, compreensão que só pode ocorrer se a ação for
colocada dentro de um contexto de significado.

Pesquisa de campo
A discussão apresentada anteriormente, que diferencia as ciências sociais das demais ciências físicas,
contextualiza o surgimento e o desenvolvimento das técnicas e dos métodos qualitativos de pesquisa
social. Veja as descobertas de alguns antropólogos a respeito desse tipo de pesquisa.

Le Play
Frédéric Le Play (1806-1882), contemporâneo de Comte, foi um dos primeiros a estudar a realidade social
dentro de uma perspectiva científica que considerava a observação direta, controlável e objetiva da
sociedade como o método mais adequado à pesquisa social. Em La Réforme Sociale en France (1864), Le
Play expõe o método das monografias, que se caracteriza por ser uma técnica, ordenada e metódica, de
observação direta da sociedade.

Trouxe de sua experiência de mineralogista, na qual estava habituado a colher amostras de jazidas para
serem analisadas, a preocupação de observar diretamente e analisar sistematicamente as famílias
operárias localizadas em diferentes países da Europa onde pesquisou. De seus registros minuciosos e
ordenados, resultou um conjunto de monografias reunidas em Les ouvriers européens (1855).

Morgan, Boas e Malinowski

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No final do século XIX e início do século XX, os estudos dos antropólogos nas sociedades chamadas então
de “primitivas” foram determinantes para o desenvolvimento das técnicas de pesquisa que permitem
recolher diretamente observações e informações sobre a cultura nativa.

As sociedades estudadas diretamente por esses antropólogos eram sociedades sem escrita, longínquas,
isoladas, de pequenas dimensões, com reduzida especialização das atividades sociais, tendo sido
classificadas como “simples” ou “primitivas” em contraste com a organização “complexa” das sociedades
dos pesquisadores.

O primeiro antropólogo a conviver com os nativos foi o americano Lewis Henry Morgan, um dos mais
expressivos representantes do pensamento evolucionista. Jurista de formação, em 1851 publicou The
League of Hodénosaunee, or Iroquois, considerado o primeiro tratado científico de etnografia.

Mas foram os trabalhos de campo de Franz Boas e Bronislaw Malinowski, entre 1883 e 1902, e,
particularmente, a expedição às Ilhas Trobriand, que consagraram a ideia de que os antropólogos deveriam
passar um longo período na sociedade que estão estudando para encontrar e interpretar seus próprios
dados, em vez de depender dos relatos dos viajantes, como faziam os chamados “antropólogos de
gabinete”.

Nos primeiros 30 anos do século XX, o trabalho de campo passou a orientar as pesquisas antropológicas.
Boas, um geógrafo de formação, crítico radical dos antropólogos evolucionistas, ensinou que no campo
tudo deveria ser anotado meticulosamente e que um costume só tem significado se estiver relacionado ao
seu contexto particular. Ensinou também o “relativismo cultural”: o pesquisador deveria estudar as culturas
com um mínimo de preconceitos etnocêntricos.

Você sabe quem foi Franz Boas?

Lewis Henry Morgan


Lewis Henry Morgan (1818-1881) foi um antropólogo, etnólogo e escritor norte-americano. Considerado um
dos fundadores da antropologia moderna, fez pesquisa de campo entre os iroqueses, de onde retirou
material para sua reflexão sobre cultura e sociedade.

Franz Boas

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Franz Uri Boas (1858-1942) foi um antropólogo teuto-americano e um dos pioneiros da antropologia
moderna que tem sido chamado de "pai da antropologia americana". Estudando na Alemanha, Boas foi
premiado com um doutorado em física em 1881, enquanto estudava geografia.

Bronislaw Malinowski
Bronislaw Kasper Malinowski (1884-1942) foi um antropólogo polonês. É considerado um dos fundadores
da antropologia social. Atuando na London School of Economics, fundou a Escola Funcionalista. Suas
grandes influências incluíam James Frazer e Ernst Mach.

Malinowski, considerado o pai do funcionalismo, acreditava que cada cultura tivesse como função a
satisfação das necessidades básicas dos indivíduos que a compõem, criando instituições capazes de
responder a essas necessidades. A análise funcional consiste em verificar todo fato social do ponto de vista
das relações de interdependência que ele mantém, sincronicamente, com outros fatos sociais no interior de
uma totalidade.

Resposta

Boas foi o grande mestre da antropologia americana na primeira metade do século XX.
Formou toda uma geração de antropólogos importantes no campo, como Ralph
Linton, Ruth Benedict e Margaret Mead, considerados representantes da antropologia
cultural americana, que utiliza métodos e técnicas de pesquisa qualitativa somados a
modelos conceituais próximos da psicologia e da psicanálise. São de autoria de Boas
muitos trabalhos clássicos, inclusive Raça, linguagem e cultura — provavelmente o
mais veemente texto antirracista a surgir do mundo acadêmico em sua época.

Ralph Linton
Ralph Linton (1893-1953) foi um respeitado antropólogo americano de meados do século XX,
particularmente lembrado por seus textos O estudo do homem e A árvore da cultura. Uma das principais
contribuições de Linton para a antropologia foi definir uma distinção entre status e papel.

Ruth Benedict
Ruth Benedict (1887-1948) foi uma antropóloga americana, iniciou sua graduação na Universidade de
Columbia em 1919. Lá, entrou em contato com Franz Boas e se tornou PhD. Em 1923, tornou-se membro da
mesma universidade.

Margaret Mead
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Margaret Mead (1901-1978) foi uma antropóloga cultural norte-americana. Nasceu na Pensilvânia, criada na
localidade de Doylestown por um pai professor universitário e uma mãe ativista social. Graduou-se no
Barnard College em 1923 e fez doutorado na Universidade de Columbia em 1929.

Para Boas, o que constitui o “gênio próprio” de um povo repousa sobre as experiências individuais e,
portanto, o objetivo do pesquisador é compreender a vida do indivíduo dentro da própria sociedade em que
vive.

A primeira experiência de campo de Malinowski foi em 1914, entre os mailu, na Melanésia. Impedido de
voltar à Inglaterra no início da Primeira Guerra Mundial, ele começou sua pesquisa nas Ilhas Trobriand, de
1915 a 1916, retornando em 1917 para viver com os nativos por mais um ano. Essa longa convivência com
os nativos teve uma influência decisiva na inovação do método de pesquisa antropológica.

Malinowski demonstrou que o comportamento nativo não é irracional, mas se explica por uma lógica própria
que precisa ser descoberta pelo pesquisador. Colocou em prática a observação participante, criando um
modelo do que deve ser o trabalho de campo: o pesquisador, por meio de uma estada de longa duração,
deve mergulhar profundamente na cultura nativa, impregnando‐se da mentalidade nativa. Deve viver, falar,
pensar e sentir como os nativos. Portanto, a convivência íntima com os nativos passou a ser considerada o
melhor instrumento de que o antropólogo dispõe para compreender “de dentro” o significado das lógicas
particulares características de cada cultura.

Grande parte da renovação das ciências sociais se deve às influências (diretas ou indiretas) dos métodos de
pesquisa de Malinowski. Argonauts of the Western Pacific provocou uma verdadeira ruptura metodológica na
antropologia, priorizando a observação direta e a experiência pessoal do pesquisador no campo. Publicado
em 1922, é um verdadeiro tratado sobre o trabalho de campo.

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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.

Módulo 1 - Vem que eu te explico!

Interesse pelo Objeto da Pesquisa

Módulo 1 - Vem que eu te explico!

Processo de Revisão da Literatura

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Módulo 1 - Vem que eu te explico!

Importância da Pesquisa de Campo

Todos

keyboard_arrow_left Todos Módulo 1 Módulo 2 keyboard_arrow_right


Módulo 1 - Video

Relevância da pesquisa na vida acadêmica

Módulo 2 - Video

Pesquisa quantitativa x Pesquisa qualitativa

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

Sobre o conceito de pesquisa estudado neste material, considere as seguintes


afirmações:

I. A pesquisa não é uma ação isolada, mas uma oportunidade de fazer exercícios que
servirão por toda a vida.

II. O autêntico pesquisador compreende a pesquisa como um jogo que lhe proporciona
a criatividade e o desenvolvimento do olhar científico.

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III. Ainda que o objeto não seja ou não pareça interessante, é preciso que o trabalho do
pesquisador seja instigante.

IV. Não é qualquer tema ou assunto da atualidade que pode ser objeto de uma
pesquisa científica.

V. Mesmo temas do cotidiano e banais, dependendo da experiência do pesquisador,


podem se tornar grandes e profundas pesquisas.

Está correto o que se afirma em

A I, II, IV e V.

B II, III, IV e V.

C I, II e III.

D I, II, III e V.

E III, IV e V.

Parabéns! A alternativa D está correta.


Qualquer tema ou assunto da atualidade pode ser objeto de uma pesquisa
científica. A pesquisa não é uma ação isolada, mas uma oportunidade de fazer
exercícios que servirão por toda a vida. O autêntico pesquisador compreende a
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pesquisa como um jogo que lhe proporciona a criatividade e o


desenvolvimento do olhar científico. Ainda que o objeto não seja ou não
pareça interessante, é preciso que o trabalho do pesquisador seja instigante.
Questão 2
Mesmo temas do cotidiano e banais, dependendo da experiência do
pesquisador, podem se tornar grandes e profundas pesquisas.
Para este pensador, os fatos sociais somente podem ser explicados por outros fatos
sociais e não por explicações psicológicas ou biológicas, diferenciando-se de muitos
outros pensadores de sua época. A adoção do método científico nas ciências sociais
tem, com certeza, a sua influência direta e determinante. Esse pensador é

A Durkheim.

B Comte.

C Malinowski.

D Dilthey.

E Weber.

Parabéns! A alternativa A está correta.


É fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda a maneira de fazer que
é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma

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existência própria, independentemente de suas manifestações individuais. O


fato social é tudo o que se produz na e pela sociedade, ou ainda, aquilo que
interessa e afeta o grupo de alguma forma (DURKHEIM, 1985).

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2 - Análise de dados
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a importância da
análise de dados para a pesquisa acadêmica no âmbito das análises
quantitativa e qualitativa.

Análise dos dados: da fase da coleta à


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interpretação

Como acontece a pesquisa de campo


Agora vamos nos aprofundar um pouco mais na pesquisa de campo e como ela acontece. Isso possibilitará
que você encontre a melhor metodologia para realizá-la quando estiver elaborando seu próprio projeto de
pesquisa ou mesmo já buscando os dados de seu objeto. Para isso, continuaremos aproveitando a
experiência antropológica citada.

Malinowski sugeriu três questões para o trabalho de campo:

O que os nativos dizem sobre o que fazem?

O que realmente fazem?

O que pensam a respeito do que fazem?

Por meio do contato íntimo com a vida nativa, exaustivamente registrado no diário de campo, Malinowski
buscou as respostas dessas questões preocupando‐se em compreender o ponto de vista nativo.

Para Malinowski, a antropologia era o estudo segundo o qual, compreendendo o


“primitivo”, poderíamos chegar a compreender melhor a nós mesmos.

A rica experiência de campo de Malinowski, assim como suas propostas metodológicas, influenciaram
decisivamente a aplicação de técnicas e métodos de pesquisa qualitativa em ciências sociais.

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Malinowski em pesquisa de campo com nativos das Ilhas Trobriand.

Na década de 1970, surge nos EUA, inspirada na ideia weberiana de que a observação dos fatos sociais
deve levar à compreensão (e não a um conjunto de leis), a antropologia interpretativa. Um dos principais
representantes da abordagem interpretativa é Clifford Geertz, que propõe um modelo de análise cultural
hermenêutico: o antropólogo deve fazer uma descrição em profundidade (descrição densa) das culturas
como “textos” vividos, como “teias de significados” que devem ser interpretados.

De acordo com Geertz (1978), os “textos” antropológicos são interpretações sobre as interpretações
nativas, já que os nativos produzem interpretações de sua própria experiência. Essa perspectiva se traduz
em um permanente questionamento do antropólogo a respeito dos limites de sua capacidade de conhecer o
grupo que estuda, e na necessidade de expor, em seu texto, suas dúvidas, perplexidades e os caminhos que
levaram à sua interpretação, percebida sempre como parcial e provisória.

Geertz inspirou a tendência atual da chamada antropologia reflexiva (ou pós‐interpretativa), que propõe uma
autorreflexão a respeito do trabalho de campo nos seus aspectos morais e epistemológicos. Essa
antropologia questiona a autoridade do texto antropológico e propõe que o resultado da pesquisa não seja
fruto da observação pura e simples, mas de um diálogo e de uma negociação de pontos de vista entre
pesquisador e pesquisados.

Clifford Geertz
Clifford James Geertz (1926-2006) foi um antropólogo estadunidense, professor emérito da Universidade de
Princeton, em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Seu trabalho no Institute for Advanced Study de Princeton
se destacou pela análise da prática simbólica no fato antropológico.

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Retrato de Clifford Geertz.

Partindo do princípio de que o ato de compreender está ligado ao universo existencial humano, as
abordagens qualitativas não se preocupam em fixar leis para se produzir generalizações. Os dados da
pesquisa qualitativa objetivam uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no
pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social. Contrapõem‐se, assim, à
incapacidade da estatística de dar conta dos fenômenos complexos e da singularidade dos fenômenos que
não podem ser identificados por meio de questionários padronizados.

Atenção!

Enquanto os métodos quantitativos supõem uma população de objetos comparáveis,


os métodos qualitativos enfatizam as particularidades de um fenômeno em termos de
seu significado para o grupo pesquisado. É como um mergulho em profundidade
dentro de um grupo “bom para pensar” questões relevantes para o tema estudado.

O reconhecimento da especificidade das ciências sociais conduz à elaboração de um método que permita o
tratamento da subjetividade e da singularidade dos fenômenos sociais. Com esses pressupostos básicos, a
representatividade dos dados na pesquisa qualitativa em ciências sociais está relacionada à sua
capacidade de possibilitar a compreensão do significado e a “descrição densa” dos fenômenos estudados
em seus contextos, e não à sua expressividade numérica.

A quantidade é, então, substituída pela intensidade, pela imersão profunda — por meio da observação
participante por um longo período, das entrevistas em profundidade, da análise de diferentes fontes que
possam ser cruzadas — que atinge níveis de compreensão que não podem ser alcançados por meio de uma
pesquisa quantitativa.

O pesquisador qualitativo buscará casos exemplares que possam ser reveladores da cultura em que estão
inseridos. O número de pessoas é menos importante do que a insistência em enxergar a questão sob várias
perspectivas. Observar aspectos diferentes, sob enfoques diversos, pode não só contribuir para reduzir o
bias da pesquisa, como também propiciar uma compreensão mais profunda do problema estudado.

Grande parte dos problemas metodológicos da pesquisa qualitativa é decorrente da tentativa de se ter como
referência o modelo positivista das ciências naturais, não se considerando a especificidade dos objetos de
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estudo das ciências sociais. Os dados qualitativos consistem em descrições detalhadas de situações, com
o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos. Esses dados não são padronizáveis
como os dados quantitativos, obrigando o pesquisador a ter flexibilidade e criatividade no momento de
coletá‐los e analisá‐los.

Duas pesquisadoras destacam-se nesse cenário:

Ruth Cardoso expand_more

Ruth Cardoso (1930-2008) apontou em sua obra (CARDOSO, 1986) para a falta de uma crítica
teórico‐metodológica consistente no campo das ciências sociais e para algumas das armadilhas e
limitações das pesquisas qualitativas. A autora descreve um “indisfarçado pragmatismo”, que
dominou as ciências sociais contemporâneas e desqualificou o debate sobre os compromissos
teóricos que cada método exige.

Eunice Durham expand_more

Eunice Durham (1932 - ) concorda com essa crítica de Ruth Cardoso e mostra (DURHAM, 1986) a
preocupação dos pesquisadores em descobrirem uma aplicação imediata e direta dos resultados
de sua pesquisa que beneficie a população estudada. Sem deixar de ver como necessária a
identificação do pesquisador com seu objeto, porque sem ela é impossível a compreensão “de
dentro”, Durham adverte para o risco de se explicar a sociedade por meio das categorias “nativas”,
sem uma análise científica sobre elas e sem uma reflexão teórica e metodológica sobre a postura
do cientista social.

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Aaron Cicourel, Mariza Peirano e Maria Isaura Pereira de Queiroz apresentam importantes alertas:

Aaron Cicourel (1928 - ) já havia advertido em sua obra (CICOUREL, 1980) para o perigo de o pesquisador
ficar tão envolvido com o grupo estudado que poderia se tornar um “nativo”, sem compreender as
consequências dessa “conversão” para os objetivos da pesquisa, como, por exemplo, “tornar‐se cego
para muitas questões importantes cientificamente”. Cicourel aponta para as faltas de regras processuais
claras que definam o papel do pesquisador no campo desde o momento de sua inserção.

Mariza Peirano (1942 - ), em A favor da etnografia (PEIRANO, 1995) afirma que não se pode ensinar a
fazer pesquisa de campo como se ensinam os métodos estatísticos, as técnicas de surveys (tipo de
investigação quantitativa, baseada principalmente na coleta de dados), a aplicação de questionário. A
pesquisa qualitativa depende da biografia do pesquisador, das opções teóricas, do contexto mais amplo e
das imprevisíveis situações que ocorrem no dia a dia da pesquisa. Um dos principais problemas a ser
enfrentado na pesquisa qualitativa diz respeito à possível contaminação dos seus resultados em função
da personalidade do pesquisador e de seus valores. O pesquisador interfere nas respostas do grupo ou
do indivíduo que pesquisa. A melhor maneira de controlar essa interferência é ter a consciência de como
sua presença afeta o grupo e até que ponto esse fato pode ser minimizado ou, inclusive, analisado como
dado da pesquisa.

Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918 - 2018) enfatiza em sua obra (QUEIROZ, 1983) que a omissão de
fatos, de ocorrências, de detalhes pode ser tão significativa quanto a sua inclusão nos depoimentos. Para
a autora, o importante não é verificar se o entrevistado conhece ou não o fato, mas sim buscar saber por
que razão ele o havia esquecido, ou o havia ocultado, ou simplesmente dele não tivera registro.

O pesquisador deve estabelecer um difícil equilíbrio para não ir além do que pode perguntar, mas, também,
não ficar aquém do possível. Além disso, a memória é seletiva, a lembrança diz respeito ao passado, mas se
atualiza sempre a partir de um ponto do presente.

As lembranças não são falsas ou verdadeiras, simplesmente contam o passado através dos olhos de quem
o vivenciou. Um trabalho de negociação e compromisso, como afirma Michael Pollak (1896), que consiste
em interpretar, ordenar ou rechaçar (temporária ou definitivamente) toda experiência vivida de maneira a
torná‐la coerente com uma identidade construída.

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Existem algumas qualidades essenciais que o pesquisador deve possuir para ter sucesso em suas
entrevistas: interesse real e respeito pelos seus pesquisados, flexibilidade e criatividade para explorar novos
problemas em sua pesquisa, capacidade de demonstrar compreensão e simpatia por eles, sensibilidade
para saber o momento de encerrar uma entrevista ou “sair de cena” e, como lembra Paul Thompson (1992),
principalmente, disposição para ficar calado e ouvir.

Michael Pollak
Michael Pollak (1948-1992) estudou sociologia na Universidade de Linz e escreveu uma tese sob a
orientação de Pierre Bourdieu (1930-2002). Em 1982, trabalhou nas condições de vida em campos de
concentração e conduziu entrevistas com sobreviventes. Ele também estudava o estilo de vida dos
homossexuais. Em 1985, lançou a primeira pesquisa sobre AIDS na França. No final da década de 1980,
desenvolveu estudos sobre a história das tecnologias de pesquisa em colaboração com Alain Desrosières
(1940-2013), com foco nas pesquisas realizadas por Max Weber na Prússia Oriental.

Paul Thompson
Paul Thompson (1935 - ) é professor aposentado de sociologia da Universidade de Essex; é um dos
pioneiros da história oral na Grã-Bretanha e atualmente uma das autoridades mundiais na reflexão e na
utilização desse método para o registro histórico. Dirige a National Life Story Collection, da Biblioteca
Nacional de Londres.

Atenção!

Thompson, ao analisar a situação de entrevista, afirma que quem não consegue parar
de falar nem resistir à tentação de discordar do informante e de impor suas próprias
ideias, obterá informações inúteis ou enganosas.

Howard Becker admite que, no lugar de procedimentos uniformes, prefere um modelo artesanal de ciência,
no qual cada pesquisador produz as teorias e técnicas necessárias para o trabalho que está sendo feito.

Becker (1997) alerta que a escolha das teorias que orientam a pesquisa também está contaminada pelas
preferências e dificuldades do pesquisador, já que uma organização ou um grupo pode ser visto de muitas
maneiras diferentes, nenhuma delas certa ou errada, visto que são alternativas possíveis e talvez
complementares. Não é possível formular regras precisas sobre as técnicas de pesquisa qualitativa porque
cada entrevista ou observação é única: depende do tema, do pesquisador e de seus pesquisados.

Howard Becker
Howard Saul Becker (1928 - ) é um sociólogo norte-americano que fez grandes contribuições à sociologia do

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desvio, sociologia da arte e sociologia da música. Becker também escreveu extensivamente sobre estilos e
metodologias de escrita sociológica. O livro de Becker, Outsiders, de 1963, forneceu as bases para a teoria
da rotulagem.

A delimitação do objeto de estudo deve ser claramente explicitada pelo


pesquisador para que outros pesquisadores analisem as conclusões obtidas. A
escolha do objeto está relacionada a um problema central desse tipo de
abordagem: a questão da representatividade do caso escolhido.

Ao contrário das pesquisas quantitativas, em que a representatividade se estabelece por meio de


procedimentos claros, não existem regras precisas para a escolha de um caso a ser estudado de maneira
aprofundada pelo cientista social. A exemplaridade de um indivíduo ou grupo e a possibilidade de explorar
um problema em profundidade em uma instituição ou família são alguns dos motivos que levam à escolha
do objeto de estudo. Essa escolha depende, fortemente, da sensibilidade e da experiência do pesquisador, e
não apenas das características objetivas do grupo estudado.

O pesquisador deve:

Apresentar claramente as características do indivíduo, da organização ou do grupo que foram


determinantes para sua escolha, de tal forma que o leitor possa tirar suas próprias
conclusões sobre os resultados e a sua possível aplicação em outros grupos ou indivíduos
em situações similares.

Explicitar as dificuldades e os limites da pesquisa, as pessoas que o ajudaram em sua


entrada no campo (que são determinantes para a construção da identidade do pesquisador
pelo grupo estudado), as pessoas que se recusaram a dar entrevistas, as perguntas que não
foram respondidas pelos pesquisados, as contradições apresentadas, a (in)consistência das
respostas, possibilitando uma visão ampla do estudo e não apenas dos aspectos que “deram
certo”.

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O fato de ter uma convivência profunda com o grupo estudado pode contribuir para que o pesquisador
“naturalize” certas práticas e alguns comportamentos que deveria “estranhar” para compreender.
Malinowski chama a atenção para a “explosão de significados” no momento de entrada no campo, em que
cada fato observado na cultura nativa é significativo para o pesquisador. O olhar que “estranha”, em um
primeiro momento, passa a “naturalizar” em seguida e torna‐se “cego” para dados valiosos.

É comum que pesquisadores se vejam em situações delicadas com o indivíduo ou grupo pesquisado que
extrapolam os limites da pesquisa, como pedido de dinheiro ou de favores, convites inapropriados,
telefonemas após o término da pesquisa etc. Todos esses problemas, decorrentes do envolvimento intenso
com o objeto de estudo, precisam ser administrados pelo pesquisador para que sua pesquisa não fique
comprometida.

Quanto mais intensa a relação, maior a necessidade de um “distanciamento” do


pesquisador, que torne possível a sua reflexão sobre cada dificuldade que, com
certeza, terá de enfrentar.

A questão do relacionamento entre pesquisador e objeto, da possível dependência ou disputa de poder, é


um dos maiores problemas que devem ser enfrentados. O pesquisador necessita ter bom senso e
criatividade para encaminhar as soluções para cada situação. A experiência e a maturidade do pesquisador
são fatores determinantes para que a pesquisa seja bem‐sucedida.

Integração dos dados da análise quantitativa


e qualitativa
Muitos pesquisadores que utilizam métodos de pesquisa qualitativos consideram que os surveys apenas
servem para dar legitimidade ao senso comum, visto que não contribuem para a compreensão dos
fenômenos sociais. Para esses cientistas sociais, os métodos quantitativos simplificam a vida social
limitando‐a aos fenômenos que podem ser enumerados. Afirmam que as abordagens quantitativas
sacrificam a compreensão do significado em troca do rigor matemático.

Comentário

Max Weber acreditava que se podia tirar proveito da quantificação na sociologia,


desde que esse método se mostrasse fértil para a compreensão de determinado
problema e não obscurecesse a singularidade dos fenômenos que não poderia ser
captada por meio da generalização. Como nenhum pesquisador tem condições para

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produzir um conhecimento completo da realidade, diferentes abordagens de pesquisa


podem projetar luz sobre distintas questões. É o conjunto de diversos pontos de vista
e de maneiras de coletar e analisar os dados (qualitativa e quantitativamente) que
permite uma ideia mais ampla e inteligível da complexidade de um problema.

A integração das pesquisas quantitativa e qualitativa permite que o pesquisador faça um cruzamento de
suas conclusões de modo a ter maior confiança de que seus dados não são produto de um procedimento
específico ou de alguma situação particular. Ele não se limita ao que pode ser coletado em uma entrevista:
pode entrevistar repetidamente, pode aplicar questionários, pode investigar diversas questões em diferentes
ocasiões, pode utilizar fontes documentais e dados estatísticos.

A maior parte dos pesquisadores em ciências sociais admite que não há uma única
técnica, um único meio válido de coletar os dados em todas as pesquisas.

Há uma interdependência entre os aspectos quantificáveis e a vivência da realidade objetiva no cotidiano. A


escolha de trabalhar com dados estatísticos ou com um único grupo ou indivíduo, ou com ambos, depende
das questões levantadas e dos problemas que se quer resolver.

É o processo da pesquisa que determina as técnicas e os procedimentos necessários para as respostas que
se quer alcançar. Cada pesquisador deve estabelecer os procedimentos de coleta de dados que sejam mais
adequados para o seu objeto particular. O importante é ser criativo e flexível para explorar todos os
possíveis caminhos e não reificar a ideia positivista de que os dados qualitativos comprometem a
objetividade, a neutralidade e o rigor científico.

A combinação de metodologias diversas no estudo do mesmo fenômeno tem por objetivo abranger a
máxima amplitude na descrição, na explicação e na compreensão do objeto de estudo. Parte de princípios
que sustentam que é impossível conceber a existência isolada de um fenômeno social. Enquanto os
métodos quantitativos pressupõem uma população de objetos de estudo comparáveis, que fornecerá dados
que podem ser generalizáveis, os métodos qualitativos poderão observar, diretamente, como cada indivíduo,
grupo ou instituição experimenta, concretamente, a realidade pesquisada.

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A pesquisa qualitativa é útil para identificar os conceitos e as variáveis relevantes de situações que podem
ser estudadas quantitativamente. É inegável a riqueza que pode ser explorada nos casos desviantes da
“média” que ficam obscurecidos nos relatórios estatísticos. Também é evidente o valor da pesquisa
qualitativa para estudar questões difíceis de quantificar, como os sentimentos, as motivações, as crenças e
as atitudes individuais.

Comentário

A premissa básica da integração repousa na ideia de que os limites de um método


poderão ser contrabalançados pelo alcance de outro. Os métodos qualitativos e
quantitativos, nessa perspectiva, deixam de ser percebidos como opostos para serem
vistos como complementares.

Um exemplo de integração de observação participante e survey é o estudo de Neuma Aguiar no Cariri, uma
região no sul do Ceará, sobre os modos de organização social da produção e na transformação de três tipos
de matéria‐prima.

Neuma Aguiar
Neuma Figueiredo de Aguiar (1938 - ) possui graduação em história pela PUC-Rio (1960), mestrado em
sociologia e antropologia pela Boston University (1962), doutorado em sociologia pela Washington
University (1969) e doutorado em ciências pela University of Wisconsin-Madison (2003). Tem experiência na
área de sociologia, com ênfase em gênero e sociedade, atuando principalmente nos seguintes temas:
gênero e patriarcado, movimentos de mulheres, estratificação e mobilidade social, sociologia internacional
comparada e sociologia dos usos do tempo.

A pesquisadora procurou observar as atividades envolvidas na produção do milho, do barro e da mandioca,


assim como as representações elaboradas pelos próprios trabalhadores. Aguiar (1978) afirma que os dados
da observação participante são profundos pois atingem níveis de compreensão dos fatos sociais não
alcançados pelos surveys. Por outro lado, os dados dos surveys atingem um nível de mensuração que a
observação participante não pode atingir. A autora propõe que um modo de superar a dificuldade de
generalização dos dados qualitativos e a dificuldade de interpretação das correlações alcançadas pelos
surveys seja tentar integrar os dois métodos.
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Para aumentar a variabilidade dos dados a fim de situar o fenômeno estudado em um contexto mais
abrangente, Aguiar propõe que as categorias relevantes, selecionadas por meio do processo de observação
participante, sejam empregadas de modo amplo e sistemático com a utilização do questionário. Durante
seis meses, a autora estudou, mediante a observação participante, duas indústrias de produtos cerâmicos e
duas indústrias de farinha de milho. Também recolheu, por intermédio de entrevistas e documentos, dados
sobre uma fábrica de fécula de mandioca que havia fechado. Foram aplicados, depois disso, 250
questionários.

Atenção!

A autora afirma que a generalização não é o único objetivo de sua pesquisa, e que a
observação participante foi de fundamental importância para explorar o tema e
levantar as hipóteses, para questionar as categorias de seu vocabulário (que não
foram compreendidas pelos trabalhadores), para especificar os conceitos e as
perguntas de seus questionários. Aguiar demonstra que a combinação do survey com
a observação participante possibilitou ir além das generalizações sobre o processo de
industrialização na região e permitiu a compreensão das representações dos
trabalhadores sobre suas atividades.

Outro exemplo de integração de dados qualitativos e quantitativos é a pesquisa da professora Miriam


Goldenberg (1990) sobre amantes de homens casados. Foram realizadas entrevistas em profundidade com
oito mulheres, em um primeiro estudo. Em seguida, foram entrevistados nove homens casados que
refletiram sobre as suas experiências extraconjugais. Por fim, realizou-se um estudo de caso, em que foram
entrevistados o homem casado, sua amante e toda a sua família (pai, mãe, duas irmãs e um irmão). Além
desses dados qualitativos, foram fundamentais para as conclusões as análises demográficas feitas por Elza
Berquó, a partir dos dados do censo de 1980.

Elza Berquó
Elza Salvatori Berquó (1931 - ) é uma das fundadoras da Associação Brasileira de Estudos Populacionais
(Abep), da qual foi presidente e na qual tem ativa participação. Também é membro da International Union for
the Scientific Study of Population, da Population Association of America e da Associación Latinoamericana
de Población.

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Berquó (1989) percebeu que, entre a população com mais de 65 anos, somente 32% das mulheres estavam
casadas enquanto 76% dos homens estavam casados. A maior mortalidade dos homens e o fato de o
homem brasileiro se casar com mulheres mais jovens que ele geram esse desequilíbrio. As mulheres teriam,
assim, chances iguais aos homens somente até os 30 anos, no máximo. Berquó levanta a hipótese de que
no Brasil exista uma poligamia disfarçada, já que as mulheres sem possibilidades de casamento acabam se
unindo a homens casados.

Nesse caso, apenas para ilustrar, os dados quantitativos revelam uma realidade demográfica e as
entrevistas em profundidade retratam como cada mulher vivencia essa situação. É interessante como as
entrevistadas se queixam que “falta homem no mercado”, constatação que pode ser facilmente verificada
pelos dados do censo.

Os dados do IBGE sobre idade, sexo e estado civil foram usados para pensar situações complexas, não
quantificáveis, como a situação de ser amante de um homem casado. Esses dados ajudaram a interpretar o
discurso e a compreender a situação de uma forma mais ampla.

Interpretados à luz da questão, Goldenberg concluiu (1990) que as mulheres têm menos chances de casar, e
essa pode ser uma possível explicação para a situação da amante. Sem os dados do IBGE, a pesquisadora
poderia se restringir às explicações dos pesquisados: a ideia de que o fato de ser amante deve corresponder
a um tipo determinado de personalidade de mulher “que não se valoriza” ou que “não quer compromisso”. A
integração dos dados quantitativos e qualitativos permite verificar a tensão existente entre a “escolha
individual” e o “campo de possibilidades” das mulheres que são amantes de homens casados.

Resumindo

Mediante essa análise concreta, é possível demonstrar que a análise e a interpretação


dos dados quantitativos e qualitativos podem proporcionar uma melhor compreensão
do problema estudado. O conflito entre a pesquisa qualitativa e a quantitativa é
artificial. Cada vez mais os pesquisadores estão descobrindo que devem utilizar todos
os recursos e as técnicas existentes que possam contribuir para o entendimento do
problema estudado.

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video_library
Pesquisa quantitativa x Pesquisa qualitativa
Confira as características dos dois tipos de pesquisa.

playlist_play
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.

Módulo 2 - Vem que eu te explico!

Questionário e Entrevista

Módulo 2 - Vem que eu te explico!

Análise de Dados Quantitativos

Módulo 2 - Vem que eu te explico!

Bancos de Dados Oficiais

Todos

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keyboard_arrow_left Todos Módulo 1 Módulo 2


keyboard_arrow_right
Módulo 1 - Video

Relevância da pesquisa na vida acadêmica

Módulo 2 - Video

Pesquisa quantitativa x Pesquisa qualitativa

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

Este pensador marcou a história e a conceituação da pesquisa ao apresentar sua


teoria de que é no trabalho de campo, no contato íntimo com o cotidiano dos nativos,
na vivência diária e com os registros de todas as atividades que será possível obter as
respostas para as principais questões que envolvem as interrogações acerca da vida
dos nativos. Esse pensador é

A Durkheim.

B Comte.

C Malinowski.

D Dilthey.
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00962/index.html# 35/40
D
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Dilthey. Técnicas de pesquisa

E Weber.

Parabéns! A alternativa C está correta.


Para Malinowski, o trabalho de campo possibilita a compreensão do estado
mais primitivo do objeto de estudo. Ele influenciou decisivamente a pesquisa
ao apresentar sua proposta investigativa de campo com a aplicação de
técnicas específicas de pesquisa, principalmente no diário de campo, que deve
Questão 2 o relato das observações. Ele é um dos representantes da pesquisa
conter
qualitativa em ciências sociais.
Este pensador não aceitava a generalização na compreensão dos fenômenos. Por
isso, ele afirmava que o método quantitativo defendido pelo positivismo somente
poderia ser proveitoso se não obscurecesse a compreensão. Afirma ele em seu livro
Metodologia das ciências sociais (2001): “Não há um ‘agir racional’ sem a
experimentação de regras referentes ao decurso histórico que apenas podem ser
percebidas e elaboradas mediante uma ‘percepção e observação objetivantes’”. Esse
pensador é

A Malinowski.

B Durkheim.

C Comte.

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D Weber.

E Dilthey.

Parabéns! A alternativa D está correta.


Max Weber defendia a pesquisa qualitativa e, por isso, questionou a validade
do método positivista das metodologias das ciências sociais como uma física
social capaz de compreender os fenômenos sem generalizá-los.

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Considerações finais
Para finalizarmos, trazemos mais um relato da professora Goldenberg, que talvez lhe ajude a compreender a
importância de tudo que aqui estudamos!

Minha primeira experiência com pesquisa científica foi em 1978, aos 21 anos, quando ingressei no mestrado
de educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Após dois anos e meio, defendi minha
dissertação O deficiente auditivo no mundo do trabalho: um estudo sobre a satisfação profissional. Com a
pressão da minha orientadora, que cobrava relatórios semanais, fui a primeira da turma a defender a
dissertação.

É preciso registrar a importância dos nossos primeiros orientadores, que nos ensinam a pensar, ter
disciplina e escrever corretamente.

A minha verdadeira formação como pesquisadora, no entanto, iniciou-se dez anos depois, em 1988, com o
meu doutoramento. Em um ambiente de intensas e calorosas discussões, de professores e alunos

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brilhantes, encontrei solo fértil para começar a fazer pesquisa na área das chamadas ciências humanas ou
ciências sociais. Desde então, contagiada pelo vírus do “olhar científico”, não consegui parar de pesquisar.

E é exatamente assim que você deve estar se sentindo! Ao trazer toda a reflexão feita em nosso material
para a sua prática de estudante (e futuro pesquisador), você já deve identificar a seriedade de uma pesquisa
acadêmica e a importância da utilização de modelos qualitativos e quantitativos — ou da integração deles —
de acordo com o objeto pesquisado e seus objetivos. E, quem sabe, já esteja contagiado pelo brilho nos
olhos, mantendo sempre acesa a chama do olhar científico.

headset
Podcast
Ouça agora um bate-papo abordando os pontos estudados aqui.

Referências
AGUIAR, N. Observação participante e “survey”: uma experiência de conjugação. In: NUNES, E. de O. A
aventura sociológica: objetividade, paixão, improviso e método na pesquisa social. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.

BECKER, H. Métodos de pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Hucitec, 1997.

BERQUÓ, E. A família no século XXI. Ciência Hoje. v. 10, n. 58, out. 1989.

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A obra A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais (1997) apresenta
elementos importantes para o aprofundamento do conteúdo aqui apresentado. Vale conferir.

No artigo O parentesco como consciência humana, de P. Gow, conheça um dos principais conceitos do
antropólogo Lewis H. Morgan.

Leia o artigo Memória, esquecimento, silêncio, de Michael Pollak, sociólogo e historiador austríaco, e
conheça um pouco mais sobre um importante conceito: memória.

Em seu artigo História oral e contemporaneidade, o sociólogo britânico Paul Thompson desenvolve esse
importante conceito em sua produção acadêmica.

Em seu trabalho Qual a contribuição dos métodos quantitativos em ciências sociais para o conhecimento
da sociedade brasileira?, apresentado no XXV Encontro Anual da ANPOCS, a pesquisadora Neuma Aguiar já
se preocupava com a integração entre a abordagem quantitativa e a qualitativa.

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23/08/2022 19:21 Técnicas de pesquisa

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