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INTRODUÇÃO
A
SILVANA SOUZA NETTO
MANDALOZZO. conciliação1 é um dos princípios que regem o processo do
trabalho. A redação original do artigo 114 da Constituição da
Mestre e Doutora em Direito pela República, ao tratar sobre a competência da Justiça do Trabalho,
Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Professora Associada do aludia que a esta competia “conciliar e julgar”. Com o advento da Emenda
Departamento de Direito das Constitucional 45/2004 a expressão foi suprimida, mas esta omissão
Relações Sociais e do Mestrado não desnaturou o princípio em comento, já que ele continua a existir
em Ciências Sociais Aplicadas infraconstitucionalmente e não é incompatível com a nova redação
da Universidade Estadual de
(BEZERRA LEITE, 2010).
Ponta Grossa-PR (UEPG). Juíza do
Trabalho.
A importância da conciliação é visível na em termos numéricos,
segundo dados extraídos do Tribunal Superior do Trabalho (TST). No ano
DIRCEIA MOREIRA. de 2010, o percentual de conciliação no país foi de 43,4% 2. O percentual
é elevado, e em termos de procedimento, o acerto entre as partes, ainda
Mestre e Doutora em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica que amparado pela autoridade do Poder Judiciário, é o melhor caminho
de São Paulo (PUC-SP). Professora a ser trilhado, caso haja esta possibilidade de solução, tendo em vista a
Adjunta do Departamento de celeridade que lhe acompanha na resolução de conflitos trabalhistas.
Direito do Estado e do Mestrado
em Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Estadual de Ponta Para fins de localização no decorrer do texto, o artigo contempla,
Grossa-PR (UEPG) inicialmente, os aspectos jurídicos envolvidos na conciliação, com a
apresentação de sua regulamentação legal e situando-a no contexto
da atuação do magistrado na Vara trabalhista. Em seguida, trata
das contribuições da Psicologia durante o processo de conciliação,
GLAUCIA MAYARA
NIEDERMEYER ORTH. apresentando algumas técnicas que podem vir a colaborar na comunicação
que se estabelece durante as tentativas de conciliação. O texto em questão
Graduada em Psicologia pela é produto de um estudo bibliográfico, que buscou aliar sob um mesmo
Universidade Estadual do Centro-
assunto (conciliação), as contribuições de duas áreas distintas: Direito e
Oeste – PR (UNICENTRO).
Mestranda em Ciências Sociais Psicologia.
Aplicadas na Universidade
Estadual de Ponta Grossa-PR 1 A conciliação a ser tratada é aquela que “vem do latim conciliare, de acerto dos
(UEPG). ânimos em choque”, segundo MARTINS (2010, p. 310).
2 Disponível em: < http://www.tst.jus.br/documents/10157/73639/Relat%C3%B3rio+
Anal%C3%ADtico+da+Justi%C3%A7a+do+Trabalho>. Acesso em: 4 mai. 2012.
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A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) se refere aos termos
“acordo” e “conciliação” como sinônimos da expressão “transação” (TEIXEIRA
FILHO, 2009). Logo, tanto um como outro termo, serão utilizados, para se
referir à mesma finalidade.
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de conhecimento. Um acordo celebrado perante a CCP é uma ação a menos
entregue ao Poder Judiciário para solução. Evidente que o descumprimento
deste acordo, em fase pré-judicial, acaba sendo executado na Justiça do
Trabalho, mas o procedimento de execução é diferenciado, sendo a fase
anterior abreviada, tornando o andamento mais célere.
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Já no processo individual do trabalho, toda demanda, em fase
de conhecimento, deve ser submetida a duas tentativas de conciliação,
determinadas legalmente. O primeiro momento, disposto no artigo 846 da
CLT, dispõe que “aberta a audiência, o juiz proporá a conciliação”, prevendo
nos parágrafos subsequentes a forma a ser utilizada, caso a tentativa reste
positiva. O segundo momento, disposto no artigo 850 do mesmo diploma
legal, determina que, após concedida a oportunidade para as partes
aduzirem razões finais, “o juiz renovará a proposta de conciliação”.
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Já a persuasão, originária do termo persuadir, tem os seguintes
sentidos (HOUAISS, p. 1.480):
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se, para tanto, dos institutos da mediana e do
desvio padrão oriundos da ciência da estatística,
privilegiando-se, em todos os casos, os magistrados
cujo índice de conciliação seja proporcionalmente
superior ao índice de sentenças proferidas dentro
da mesma média.
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de desempenho e com comprometimento ético em
relação ao Estado e à sociedade. (SCHULZE, 2011).
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bom rapport4 , ou seja, a capacidade do conciliador em criar um ambiente
de aceitação favorável à comunicação. No contexto da conciliação,
alguns fatores contribuem para o estabelecimento de um bom rapport -
quando se tem o estabelecimento das regras da comunicação e o efetivo
cumprimento das mesmas - , tais como:
• Esclarecer aos participantes que aquilo que é dito não será julgado
como falso ou verdadeiro, e ressaltar a importância da escuta do outro sem
a preocupação de buscar culpados (ANDRADE, 1999);
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da pessoa”, além de promover um afastamento da mesma do diálogo,
por se sentir incapaz ou em posição inferior de argumentar com a outra
parte ou com o magistrado (ANDRADE, 1999, p. 118). Portanto, clareza
e simplicidade na linguagem são atributos que favorecem um clima de
compreensão mútua 5.
5 A importância da linguagem adequada está presente, por exemplo, nas solicitações que são
feitas acerca de questões jurídicas. É importante que os pontos de dúvida sejam esclarecidos
com a maior objetividade, clareza e simplicidade possíveis, para facilitar a compreensão do(s)
solicitante(s) (ANDRADE, 1999).
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Outra intervenção importante por parte do conciliador diz
respeito à ação de perguntar. As perguntas podem ser caracterizadas em
abertas e fechadas, e o seu emprego depende do momento e da finalidade
almejada. Questões abertas propiciam abertura para que os envolvidos
sintam liberdade para falar e geralmente são empregadas quando se
quer conhecer algo de modo mais aprofundado (exemplo: você poderia
me falar mais sobre isso? Qual é a sua opinião?). Já as questões fechadas
são melhores usadas para clarificar pontos específicos do diálogo que não
tenham ficado claros, ou então para retomar a atenção das partes para o
foco da audiência (exemplo: quando isso ocorreu?). Embora a realização
de perguntas seja uma intervenção interessante por permitir explorar
pontos importantes do conflito e até mesmo para que a parte possa
clarificar melhor os reais motivos envolvidos na situação, vale ressaltar
que este recurso não deve ser usado em demasia, tomando o cuidado
de não transpor a situação de audiência para uma atmosfera psicológica
(ANDRADE, 1999). Tendo isso esclarecido, atribuem-se às perguntas as
seguintes funcionalidades:
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pessoas passam a compreender melhor suas próprias vivências e cognições
envolvidas com o conflito. Nesse processo, é importante que a parte que
se mostra mais ansiosa tenha abertura para falar primeiro, para que possa
amenizar seu estado emocional e melhor organizar suas ideias. Outro
ponto relevante a ser considerado diz respeito à ausência de julgamentos
por parte do conciliador, que deve colaborar para que as partes façam
o mesmo. Neste diálogo é preciso se certificar de que as partes estejam
prestando atenção no que a outra está falando. Ao perceber que isto
possa não estar ocorrendo, o conciliador deve reafirmar a importância da
escuta atenta, ou ainda, questionar a parte sobre o que a outra disse, com
detalhes (ANDRADE, 1999).
Desenvolver a confiança das partes entre si é, também, tarefa
essencial do conciliador, uma vez que, não acreditar no que o outro diz
impede o estabelecimento de qualquer acordo com o mesmo (KELLY,
1966 apud MOORE, 1998), pois dessa forma não existem garantias de que
a parte acordante irá cumprir com o que for resolvido. A construção deste
ambiente de confiança entre as partes pode ser favorecida por ações de
encorajamento, por parte do conciliador, nos seguintes aspectos:
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• Transformar a linguagem emocionalmente carregada em uma
linguagem inteligível, desprovida de juízos de valor;
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dito. Pode ser usado quando entra em contato com uma fala muito prolixa
ou confusa, ou então quando se quer encaminhar os debates para um
acordo final;
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manual a ser seguido fielmente por conciliadores. São sugestões que
podem ser adotadas no processo de conciliação, quando o magistrado
julgar que o momento é pertinente ao seu uso, o que depende muito de
cada situação. É o contexto particular de cada conciliação que irá ditar a
forma como o conciliador irá proceder, e nestas poderá ou não se valer dos
recursos aqui apresentados.
REFERÊNCIAS
MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 30. ed. São Paulo:
Atlas, 2010.
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download/revista/rev_75/Adriana_Sena.pdf. Acesso em: 5 mai. 2012.
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