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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

JÉSSICA TAUANA DE ANDRADE DE CAMARGO

CETICISMO PIRRÔNICO

FOZ DO IGUAÇU, 2019


Pirro de Élis é considerado fundador do ceticismo (séculos III e IV a.C.). Seus
pensamentos foram fundamentais para o desencadeamento do que viria a ser o
ceticismo hoje conhecido. Partindo então da sua história e da sua filosofia de vida,
tem-se como objetivo salientar a importância desse sistema filosófico e a forma
como trata das verdades relativas. Porém, é necessário entender que antes de Pirro,
havia princípios céticos já incorporados na filosofia grega:

Antes de Pirro, alguns elementos do ceticismo são, portanto,


encontrados na filosofia grega, em particular a crítica do
conhecimento sensível e a idéia segundo a qual toda verdade é
relativa; mas só Metrodoro de Quio, que nos é bastante conhecido,
parece ter adotado a atitude da dúvida total que caracterizará a
filosofia pirrônica. (VERDAN, 1998, p.15)

Com base em Verdan (1998), Metrodoro de Quio, discípulo de Demócrito


iniciou pensamentos caracterizados céticos antes mesmo de Pirro, pois Metrodoro
foi mestre de Anaxargo, este, foi um mestre de Pirro. Entretanto, a abordagem do
ceticismo inicia-se pelo ceticismo primitivo, sendo seus personagens principais: Pirro
e Tímon de Fílionte,

A VIDA DE PIRRO

Pirro nasceu por volta de 365 a.C, em Élis, região da Grécia ocidental. Foi
pintor durante certo período, porém não permaneceu na arte. Durante muito tempo
acompanhou Alexandre, o grande, nas jornadas pela Ásia, porém, retornou para Élis
após a morte do conquistador e lá permaneceu vivendo com sua irmã Filista, de
maneira humilde e tranquila. (VERDAN, 1998)

Seus pensamentos céticos partiram da experiência de suas viagens, onde


notava diferentes povos, com diferentes costumes por toda a Ásia. Isso possibilitou
entender como a verdade pode ser relativa e distinta entre os povos.
CETICISMO COMO ESTILO DE VIDA

O ceticismo em sua trajetória passou por fases diferentes e pelo pensamento


de pessoas diferentes. O inicio do pensamento cético, com Pirro, era tido como
modo de viver, pois se buscava a ataraxia (tranquilidade da alma), alguma forma de
acompanhar a vida sem perturbação, incômodos e obstáculos mentais que
atrapalhavam o bem estar da alma. Portanto, Pirro procurava viver aquilo que
pensava:

Um dia em que ele viajava por mar desencadeou-se uma


tempestade, espalhando pânico entre os passageiros do navio.
Somente o filósofo permaneceu impassível. Avistando um porco que
comia cevada tranqüilamente. ele apresentou como exemplo a seus
companheiros de viagem a calma e a indiferença daquele animal.
(VERDAN, 1998, p.21)

Como o objetivo era alcançar a tranquilidade, dever-se-ia evitar confrontos e


momentos de preocupação, ou seja, era preciso suspender o juízo (epoché) e não
aceitar qualquer sentimento, pensamento ou emoção como real e verdadeiro.

MÉTODO PIRRÔNICO

Pirro desenvolveu o que é chamado de método pirrônico, uma sequência de


práticas para alcançar a ataraxia e a adiaforia (indiferença):

O método pirrônico se resume, assim, nos seguintes passos: 1)


zétesis (investigação); 2) diafonia (conflito de opiniões); 3) isostenia
(equipolência de teorias); 4) époké (suspensão do juízo); 5) afasia
(ausência de fala); 6) ataraxia (tranquilidade); e 7) adiaforia
(indiferença) (KRAUSE, 2000, p. 135-136 apud PIRES, 2009, p.4).

Segundo o método, a recusa em emitir uma opinião sobre determinada


situação e a ausência de fala sobre ela sucede na ataraxia, sendo possível alcançar
a felicidade e a imperturbabilidade da alma.
A VERDADE RELATIVA E O AVANÇO NO CETICISMO

Todos esses passos do método pirrônico e o objetivo de se alcançar a


tranquilidade está embutido em um contexto de divergências de opiniões da época.
O objetivo era encontrar alguma forma de em meio ao caos, buscar a felicidade
através da suspensão do juízo.

Pois, como eram muitos os confrontos de opiniões, achou-se por bem não
atribuir uma das verdades para si, e nem refutá-las sem base concreta. Portanto,
suspende-se o juízo e trata com indiferença todas as proposições.

Entretanto, mais tarde os céticos começam a confrontar os dogmáticos.


“Enesidemo rejeita as afirmações dogmáticas, baseadas puramente em relações de
causalidade. Para ele, se a causa de um fenômeno não é manifesta e evidente para
todos, mas apenas “suposta”, não deve ser aceita para a confirmação do fenômeno.”
(PIRES, 2009, p.6)

À vista disso, os sucessores do ceticismo vão confrontar argumentos e


pensamentos dogmáticos continuamente. Muitos pensadores céticos surgem após
Pirro e apresentam seus trabalhos em busca de encontrar um método de resolver as
questões pertinentes à verdade absoluta. O certo é que, durante toda essa trajetória
até os dias atuais, ainda não se sabe como se consensualizar toda essa situação,
talvez nem seja necessário ou até mesmo possível que isso aconteça.

Em suma, o que se pode extrair de toda complexidade dos pensamentos, é


que não existe como provar muitos fenômenos e argumentos pertinentes até hoje,
nem como provar a forma das coisas e o modo que as enxergamos. Porém, pode-se
crer naquilo que lhe é conveniente e assumir como verdade para si. Pois,
independentemente do modo de pensamento, o que se busca é viver bem,
independentemente do que seja o bem, atingir a plenitude da satisfação e da
tranquilidade da alma, independentemente do que a seja.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PIRES, I.V. Questão de método: O ceticismo na filosofia e na literatura. Rio de


Janeiro, 2009.

VERDAN, A. O ceticismo filosófico: Tradução de Jaimir Conte. Florianópolis: Ed.


da UFSC, 1998.

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