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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Fisiopatologia............................................................... 3
3. Dermatite de contato (DC)...................................... 4
4. Dermatite seborreica (DS).....................................16
5. Tratamento..................................................................21
6. Dermatite atópica (DA)...........................................24
7. Outras dermatites.....................................................33
8. Desidrótico..................................................................34
Referências bibliográficas .........................................36
DERMATITES ECZEMATOSAS 3

1. INTRODUÇÃO é, um afastamento entre si das célu-


las malpighianas, cujas pontes inter-
Os termos “dermatite” e “eczema”
celulares se adelgaçam, de modo que
são frequentemente utilizados como
os espaços se enchem de serosidade.
sinônimos. Quando o termo “ecze-
O processo continua e assim ocor-
ma” é usado sozinho, geralmente se
re marcado edema intracelular, que
refere à dermatite atópica (eczema
leva à degeneração reticular. Ocorre
atópico). “Eczematoso” também co-
também destruição das pontes in-
nota algumas escamas, crostas ou
tercelulares, levando à formação de
escoriações serosas, em oposição ao
vesículas intra-epidérmicas (vesícula
mero eritema. O termo “dermatite” é
histopatológica), que, a depender da
normalmente utilizado com qualifi-
intensidade, podem exteriorizar-se
cadores (por exemplo, “dermatite de
(vesículas clínicas), e que se rompen-
contato”) para descrever vários dis-
do, liberando exsudato, que, ao se-
túrbios da pele.
car, forma crostas. Interiormente às
Dermatoses eczematosas são co- vesículas pode-se encontrar linfóci-
muns, representando aproxima- tos. Além disso, o edema intracelular
damente 10 a 30% das consultas altera a ceratinização normal, dando
dermatológicas em diferentes popu- origem à formação de paraceratose
lações e grupos étnicos. Tipos espe- (permanência de núcleos achatados
cíficos de dermatite eczematosa são nas lâminas ceratínicas mais exte-
mais comuns em algumas faixas etá- riores), cuja expressão clínica é a es-
rias. Como exemplo, a dermatite ató- cama. No corpo papilar, ocorre vaso-
pica é muito mais comum em crianças dilatação e edema, o que justifica o
do que em adultos, enquanto eczema eritema. Na fase crônica, ocorre um
asteatótico e eczema numular são ti- espessamento de todas as camadas
picamente observados em adultos da epiderme, fazendo com que a le-
mais velhos. são se apresente clinicamente como
liquenificação.
2. FISIOPATOLOGIA
A característica básica do processo
do eczema é de natureza seroexsu-
dativa, que acomete a epiderme e
derme papilar. Na fase aguda, há, na
camada de Malpighi, exocitose e ede-
ma intercelular, o qual progride em
horas, provocando “espongiose”, isto
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3. DERMATITE DE a 80% dos casos de dermatite de


CONTATO (DC) contato. Irritantes comuns incluem
água, sabonetes, produtos de limpe-
Termo utilizado para denominar rea-
za, água sanitária, solventes, ácidos,
ções agudas ou crônicas a substân-
álcalis, poeira, plantas, solo.
cias que entram em contato com a
pele. É subclassificada ainda em: por A dermatite das mãos é o tipo mais
irritante e alérgica. A mais comum é a comum da DCI, principalmente asso-
por irritante, correspondendo a 80%. ciado a dermatite ocupacional (profis-
Porém, em região de face, essa pro- sionais de saúde, indústria mecânica,
porção é invertida, sendo mais co- empregadas domésticas). Os espa-
mum a alérgica, correspondendo a ços entre os dedos retêm substân-
80% dos casos. cias e podem ser a primeira área de
envolvimento.
Materiais como luvas podem induzir,
Dermatite de contato por irritante
além de uma dermatite de contato
(DCI)
alérgica pelo látex (como será mos-
A dermatite de contato por irritante trado posteriormente), uma DCI por
(DCI) é causada por irritante químico, atrito, bem como por acumulação re-
sendo o tipo de dermatite de contato petida de umidade sob as luvas.
mais comum. Ocorre após uma única As manifestações agudas de DCI de-
exposição ao agente desencadeante pendem do tipo de irritante, podendo
(irritante primário absoluto), que é tó- cursar com eritema, edema, vesículas
xico para a pele, podendo ser subs- e bolhas e exsudação. Na manifesta-
tâncias alcalinas ou ácidas fracas, que ção crônica, há predomínio de lique-
não tem a capacidade de provocar nificação, hiperceratose e fissuras,
queimaduras e/ou necrose da pele, como na figura abaixo. O prurido, em
apenas irritação cutânea. Ocorre em geral, é discreto ou ausente, sendo
todas as pessoas, dependendo da substituído por sensação de dor ou
penetrabilidade e da espessura do queimação.
estrato córneo da pele. Já a derma-
tite de contato por irritante primário
relativo, ocorre por vários contatos da
substância com a pele e corresponde
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Figura 1. Dermatite de contato por irritante primário crônica.

Figura 2. Dermatite de contato por irritante.


Fonte: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%2F59959~DERM%2F50299~DERM%-
2F116502&topicKey=DERM%2F1727&search=dermatite&rank=1~150&source=see_link
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SAIBA MAIS:
A dermatite de fraldas é um tipo de dermatite de contato por irritante mais prevalente na
faixa etária pediátrica. As lesões atingem a área de contato da fralda, ou seja, períneo, náde-
gas, abdome inferior e coxas. Podem ocorrer pela troca infrequente da fralda (fezes e urina)
ou por uso de irritantes químicos como talco, óleos, desodorante. A pomada de hidrocortisona
1% duas vezes ao dia por 5 dias pode ser utilizada como tratamento para dermatite leve

Figura 3. Quadro grave de dermatite de fraldas. Fonte: http://atlasvirtualuneb.blogspot.com/2017/03/cc-2-do-


encas-de-pele-te-assustam-parte-2.html

Dermatite de contato alérgica processam o antígeno, apresenta-


(DCA) -o aos linfócitos T, onde ocorre pro-
liferação, em linfonodos regionais,
A dermatite de contato alérgica (DCA)
desses linfócitos sensibilizados, que
é causada por um alérgeno que de-
penetram na corrente sanguínea, dis-
sencadeia uma reação de hipersensi-
seminando-se por toda a pele. Ao
bilidade tipo IV (celular ou tardia). Isso
segundo contato com o antígeno,
ocorre devido a ligação da substância
os linfócitos de memória já sensibi-
química com proteínas epidérmicas e/
lizados, reconhecem nos pontos de
ou dérmicas, originando um antígeno
contato, liberando citocinas e culmi-
completo. As células de Langerhans
nando em um processo inflamatório.
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Sensibilizadores comuns incluem intensamente pruriginosa, localizada


metais (por exemplo, níquel em jóias), na área da pele que entra em conta-
conservantes (por exemplo, formal- to com o alérgeno, por exemplo, cos-
deído), fragrâncias (perfumes, cos- méticos no rosto, níquel de joias onde
méticos), antibióticos tópicos e para- são usadas, botões de metal em rou-
fenilenodiamina (comumente usados pas que estão em contato com a pele,
em tinturas de cabelo). luvas de borracha e látex.
Apresenta como características erup-
ções eczematosas bem demarcadas,

Face
Pálpebras
Cosméticos, perfumes,
Esmalte de unhas, rímel,
medicamentos tópicos,
colírios, condicionador e
esmalte de unhas, tintura
tintura de cabelos
para cabelos, chapéus
Orelhas Bocas e lábios
Batons, pasta de dente,
Aparelhos auditivos,
antisséptico oral,
hastes para limpeza,
guardanapos, chicletes e
medicamento tópico
frutas
Colo
Perfumes, colares, Axilas
cosméticos Desodorantes e
antitranspirantes
Mãos e antebraços
Substâncias
Linhas axilares
ocupacionais, plantas,
pós, pulseiras, ant. e p.
medicamentos Roupas
tópicos, relógio

Região genital
Região anal
Preservativo, roupas,
Papel higiênico,
produtos sanitários,
supusitórios
medicamento tópico

Coxas e pernas
Roupas, medicamentos
tópicos, cadeiras

Pés
Sapatos, chinelos, botas
e meias
Figura 4. Eczemas, localizações e respectivos desencadeantes. Fonte: Azulay, RD., Azulay-Abulafia, L. Dermatologia.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017
DERMATITES ECZEMATOSAS 8

Figura 7. Eczema de contato ao metal. Fonte: ht-


tps://www.uptodate.com/contents/image?imageKe-
Figura 5. Dermatite de contato alérgica em face. Fonte: y=PEDS%2F70989&topicKey=DERM%2F1727&sear-
https://www.uptodate.com/contents/image?imageKe- ch=dermatite&rank=1~150&source=see_link
y=DERM%2F116461~DERM%2F67215&topicKey=-
DERM%2F1727&search=dermatite&rank=1~150&-
source=see_link

Figura 8. Eczema de contato ao látex. Fonte: https://


www.uptodate.com/contents/image?imageKey=ALLR-
G%2F51951&topicKey=DERM%2F1727&search=-
dermatite&rank=1~150&source=see_link

Figura 6. Eczema de contato ao níquel. Fonte: https://


www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DER-
M%2F70264&topicKey=DERM%2F1727&search=-
dermatite&rank=1~150&source=see_link
DERMATITES ECZEMATOSAS 9

A DCA, mais frequentemente induzi-


da por fragrâncias, lanolina (lã), con-
servantes e antibióticos tópicos, é
comum em pacientes com dermatite
de estase. Deve-se suspeitar de DCA
em pacientes com dermatite de esta-
se recalcitrante que não melhora ou
piora apesar dos cuidados com a pele
e da terapia tópica apropriados.

Figura 9. Eczema de contato à borracha da bota.


Fonte: Azulay

SAIBA MAIS
A dermatite de estase é uma dermatose inflamatória comum dos membros inferiores resultan-
te de uma manifestação tardia de insuficiência venosa crônica. Frequentemente se manifesta
com manchas ou placas eritematosas descamativas e eczematosas nas pernas cronicamente
edematosas. O tornozelo medial geralmente está envolvido, apresentando hiperpigmentação.

Figura 10. Dermatite de estase. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%-


2F70596~DERM%2F50640~DERM%2F78163~DERM%2F64878&topicKey=DERM%2F13670&search=-
dermatite&source=see_link
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Diferenciação entre DCI E DCA

DERMATITE DE CONTATO POR


DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA
IRRITANTE PRIMÁRIO

Frequência 20% 80%

Cosméticos: fragrâncias e conservantes


Sais metálicos: níquel, cromo, cobalto, Água
mercúrio Sabões
Germicidas (formaldeído) Detergentes
Plantas Solventes
Causas comuns
Aditivos da borracha (tiurans) Graxas
Resinas plásticas (epóxi, acrílico) Ácidos e álcalis
Resina (colofônio) Poeira
Látex Fibra de vidro
Medicamentos tópicos

Concentração do agente Menor Maior

Não imunológico - Lesão direta nos


Mecanismo Imunológico - Tipo IV (linfócito T)
queratinócitos

Sensibilização Necessária Desnecessária

Predisposição individual Sim Não

Teste de contato Positivo Negativo

Tempo de aparecimento das


Algumas horas a dias Alguns minutos até 48 h
lesões após contato

Demarcação anatômica das


Menos frequente Geralmente típica
lesões

Resolução clínica ± 3 semanas Após 96 h

Afastamento da causa Afastamento da causa


Tratamento Corticosteroide tópico/sistêmico Corticosteroide tópico/sistêmico
Anti-histamínico sistêmico Anti-histamínico sistêmico

Tabela 1. Principais diferenças entre as dermatites de contato alérgica e irritativa


DERMATITES ECZEMATOSAS 11

Diagnóstico das dermatites de da aplicação, apresentar sua derma-


contato tose em fase inativa. Os testes, em
geral, são aplicados no dorso dos pa-
É realizado por meio da história clíni-
cientes, por se tratar de área que, pela
ca e exames clínico e histopatológico.
sua extensão, possibilita colocação
Na história clínica busca-se por:
de número adequado de substâncias.
• Início das lesões Outras áreas, como coxas ou braços,
• Número de surtos podem ser, eventualmente, utilizadas.
As substâncias utilizadas nas baterias
• História de dermatite de contato de testes são sensibilizantes comuns
• Atividades ocupacionais e em concentrações suficientes para
gerar sensibilização e não irritar a pele.
• Outras atividades habituais/hobbies
• Contato com químicos. SE LIGA! O paciente não pode estar em
uso de corticosteroide tópico no local do
No quadro clínico, busca-se, princi-
teste e de corticosteroide sistêmico, es-
palmente por: pecialmente em doses imunossupres-
soras por 2 semanas. Além disso, não
• Presença de lesões eczematosas deve molhar as fitas ou se expor ao sol.
em qualquer fase evolutiva A prática de atividade física é desacon-
selhada para não descolar as fitas ou
• Localização da lesão molhá-las com suor.
• Características da lesão
Após 48 h da aplicação, os testes são
O teste de contato (Patch-test) é retirados e a primeira leitura é feita. A
utilizado para confirmar diagnósti- segunda leitura é feita em 96 h. Os
co e investigar o agente responsável critérios adotados para leitura são os
pelo quadro de dermatite de conta- preconizados pelo International Con-
to. O teste é realizado aplicando-se a tact Dermatitis Research Group de
substância suspeita sobre uma região 1981, dentre os resultados temos:
do corpo, e verificando se há indução
de lesão clínica do tipo eczematoso
• (–) negativo
naquele local. Os testes epicutâneos
são indicados apenas na investigação • (+) discreto eritema com algumas
de dermatite por contato alérgica, já pápulas
que na DC por irritante primário, não
• (++) eritema, pápulas e vesículas
há mecanismo imunológico envolvido.
O paciente, para ser submetido aos • (+++) intenso eritema, pápulas e
testes de contato, deve, no momento vesículas confluentes.
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Figura 11. Teste de contato ou patch test. Fonte: https://www.clinicavittagoiania.com.br/upload/blog/Zpe7znmSxVco-


Fv0i0nnOyBQs2YmMw6J2MTjat11h.jpeg

SUBSTÂNCIA CONC. VEÍCULO SUBSTÂNCIA CONC. VEÍCULO

Antraquinona 2% Vas. sol Neomicina 20% Vas. sol


Básamo do peru 25$ Vas. sol Nitrofurazona 1% Vas. sol
Benzocaína 5% Vas. sol Parabenos (2) 12% Vas. sol
Bicromato de potássio 0,5% Vas. sol Pafenilenodiama 1% Vas. sol
Butil fenol p-terciário 3% Vas. sol Perfume-mix (3) 8% Vas. sol
Carba-mix (1) 3% Vas. sol PPD-mi (4) 0,6% Vas. sol
Cloreto de cobalto 1% Vas. sol Prometazina 1% Vas. sol
Colofônia 20% Vas. sol Propilenoglicol 1% Vas. sol
Efilenodiamina 1% Vas. sol Quaternium 15 2% Vas. sol
Formaldeído 2% Água Quinolina-mix(5) 5% Vas. sol
Hidroquinona 1% Vas. sol Resina-epóxi 1% Vas. sol
Irgansan 1% Vas. sol Sulfato de ríquel 5% Vas. sol
Kathon CG 0,5% Vas. sol Terebintina 10% Vas. sol
Lanolina 20% Vas. sol Timerosol 0,1% Vas. sol
Mercaptobenzotiazol 1% Vas. sol Tiuram-mix (6) 1%

Figura 12. Bateria de testes de contato do Grupo Brasileiro de Estudos em Dermatite de Contato. Fonte: Manual de
Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti. 2014.
DERMATITES ECZEMATOSAS 13

O histopatológico não é, em geral, DCI:


utilizado no diagnóstico de rotina das
Fase aguda: identificar e remover o
dermatites de contato, é mais utiliza-
agente etiológico. Curativos úmidos
do como diagnóstico diferencial com
com solução de Burow (solução de
dermatoses não eczematosas.
acetato de alumínio, que é antissép-
tica), trocados a cada duas a três ho-
Profilaxia ras. As vesículas maiores podem ser
drenadas, porém, o teto não deve ser
DCI: removido. Preparações de glicocorti-
• Evitar substâncias químicas irritan- coides tópicos das classes I e II. Nos
tes ou cáusticas por meio do uso casos graves, pode-se indicar o uso
de equipamentos de proteção (i.e., de glicocorticoides sistêmicos. Pred-
óculos, aventais e luvas). nisona: ciclo de duas semanas, dose
inicial de 60 mg, com redução gradual
• Caso ocorra contato, lavar com em 10 mg.
água ou solução neutralizante
fraca. Fase subaguda e crônica. Remo-
ver o agente etiológico/patogênico.
• Cremes protetores. Glicocorticoides tópicos potentes
• Na DCI ocupacional que persiste, (dipropionato de betametasona ou
apesar da adoção das medidas propionato de clobetasol) e lubrifica-
descritas anteriormente, pode ser ção adequada. Com a regressão das
necessário. lesões, manter a lubrificação. O pime-
crolimo e o tacrolimo, que são inibido-
res tópicos da calcineurina, em geral
Tratamento não são potentes o suficiente para
No tratamento, a primeira providência suprimir efetivamente a inflamação
nessas dermatites é afastar o agente crônica das mãos.
causal e priorizar o tratamento de in-
fecções secundárias eventuais.
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DCA Tratamento sistêmico: os glicocor-


ticoides estão indicados nos casos
Inicialmente deve-se interromper a
graves e na DCA propagada pelo ar.
exposição ao se identificar o agente
Prednisona em dose inicial de 70 mg
etiológico.
(adultos), com redução gradual em 5
Tratamento tópico: pomadas/ géis a 10 mg/dia, no decorrer de um pe-
de glicocorticoides tópicos (classes ríodo de uma a duas semanas. Nos
I a III). As vesículas maiores podem casos em que pode não ser possível
ser drenadas, porém o teto não deve evitar totalmente o alérgeno respon-
ser removido. Curativos úmidos com sável pela DCA propagada pelo ar, a
compressas embebidas em solução imunossupressão com ciclosporina
de Burow, que devem ser trocadas a oral pode se tornar necessária.
cada duas a três horas. A DCA pro-
pagada pelo ar pode necessitar de
HORA DA REVISÃO
tratamento sistêmico. O pimecrolimo
e o tacrolimo são efetivos na DCA, Na dermatite alérgica de contato (DCA),
um alérgeno induz uma resposta imune,
porém em menor grau do que os enquanto na dermatite irritante de con-
glicocorticoides. tato (DCI), a própria substância desen-
cadeante danifica diretamente a pele.
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80% dos casos 20% dos casos

Mecanismo: não imunológico Mecanismo: imunológico (tipo IV)

Sensibilização desnecessária Sensibilização necessária

Predisposição atópica aumentada DC DC Predisposição atópica diminuida


IRRITATIVA ALÉRGICA

Concentração do agente maior Concentração do agente menor

Causas: cosméticos, plantas,


Sem teste de sensibilidade
germicidas, resina, latex

Causas: água, sabão, detergentes, DERMATITE DE


CONTATO Teste de contato tardio
solventes, poeira

Tratamento Tratamento

• Afastar agente causal • Afastar agente causal


• Tratar infecções secundárias • Tratar infecções secundárias
• Curativos com solução • Curativos com solução
antisséptica antisséptica
• Glicocorticoides tópicos • Glicocorticoides tópicos
• Casos graves: corticoides • Pimecrolimo e o tacrolimo
sistêmicos • Casos graves: corticoides
sistêmicos, ciclosporina oral.

Profilaxia

• Evitar substâncias químicas


irritantes ou cáusticas por
meio do uso de EPIs
• Caso ocorra contato, lavar
com água ou solução
neutralizante fraca.
• Cremes protetores.
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4. DERMATITE enquanto no adulto, a doença tem


SEBORREICA (DS) curso crônico. As lesões são placas
eritematosas e escamativas, de
Distúrbio cutâneo recorrente que aco-
graus variáveis de extensão e inten-
mete de 1 a 3% da população adulta.
sidade. As lesões são maculopapu-
Em crianças a dermatite seborreica
losas, eritematosas ou amareladas,
de couro cabeludo é frequentemente
sem brilho, delimitadas e recobertas
chamada de “tampa de berço”. É co-
por escamas de aspecto gorduroso,
mum sua apresentação em indivídu-
que se distribuem pelas áreas sebor-
os com infecção pelo vírus da imuno-
reicas (couro cabeludo, face, regiões
deficiência humana (HIV), em cerca
pré-esternal, interescapular, flexu-
de 80% desses indivíduos. Também
ras axilares e anogenitais). O prurido,
comum na doença de Parkinson.
quando presente, é discreto, à exce-
ção das lesões no couro cabeludo.
Etiopatogenia
Há nítida influência hormonal, pois a Dermatite seborreica infantil
secreção sebácea é estimulada por
A DS na infância ocorre com maior
hormônios androgênicos elevados no
prevalência nos três primeiros meses
período puberal, sendo que em lacten-
de vida (10% em meninos e 9,5%
tes decorrem da ação de andrógenos
em meninas), sendo a escamação do
maternos circulantes. Foi demonstra-
couro cabeludo a forma clínica mais
do ainda alterações dinâmicas na epi-
comum (42%). Caracteriza-se, logo
derme, como o aumento do índice de
após o nascimento, pelo surgimento
mitoses e do trânsito transepidérmi-
de escamas amareladas, aderentes e
co. O papel do fungo Malassezia spp.
de extensão variável, além de lesões
na dermatite seborreica ainda não é
eritemodescamativas não prurigino-
bem definido, mas alguns autores ar-
sas, sem comprometimento do estado
gumentam que o seu aumento nas
geral. Pode também ocorrer na face e
lesões é secundário ao aumento dos
nas dobras, tais como regiões retro-
nutrientes lipídicos nas escamas, en-
auriculares, pescoço, axilas, região in-
quanto a maioria acredita num papel
guinal e área de fraldas. A criança com
importante na etiologia da doença.
DS pode apresentar uma forma rara,
generalizada que, frequentemente, é
Quadro clínico associada a imunodeficiências.

A DS possui características distintas,


dependendo da faixa etária acometi-
da: na forma pediátrica é autolimitada,
DERMATITES ECZEMATOSAS 17

Dermatite seborreica do adulto


A DS do adulto é uma dermatose crô-
nica, de curso recidivante, que varia
desde um eritema leve a moderado
até lesões papulosas, exsudativas e/
ou escamativas, com períodos de
exacerbação relacionados ao estres-
se ou privação de sono.
As áreas afetadas, localizadas em áre-
as com alta densidade de glândulas
sebáceas, apresentam-se com man-
chas eritematosas e escamosas, como
nas laterais do nariz, dobras nasola-
biais, glabelas, dobras retroauricula-
res e couro cabeludo. A prevalência de
acometimento é de cerca de 88% em
Figura 13. Dermatite seborreica, crosta láctea. Fonte:
Fitzpatrick, T. B. et al. Tratado de Dermatologia. 7 ed. face, 70% couro cabeludo, 26% tórax,
Rio de Janeiro: Revinter, 2010. 5% as regiões de dobras e 1% MMSS.

Figura 14. Dermatite seborreica acometendo área de


fraldas em lactente. Fonte: Azulay, RD., Azulay-Abu- Figura 15. Topografia da dermatite seborreica. Fonte:
lafia, L. Dermatologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara http://www.scielo.br/pdf/abd/v86n6/v86n6a02
Koogan, 2017
DERMATITES ECZEMATOSAS 18

A pitiríase capitis (caspa), que se


apresenta como uma descamação
pulvurulenta e difusa, parece ser a
fase inicial da dermatite seborreica
no couro cabeludo. Ela pode progre-
dir gradualmente com surgimento de
eritema, aumento da quantidade de
escamas, bem como de sua espes-
sura, até um quadro franco de DS.
Pode ocorrer ainda uma transgressão
da orla do couro cabeludo, com com-
prometimento da pele adjacente, for-
mando a chamada coroa seborreica.

Figura 17. Dermatite seborreica no adulto, na


região da face, acometendo bochechas e bar-
ba . Fonte: https://www.uptodate.com/contents/
image?imageKey=DERM%2F126095&topi-
cKey=DERM%2F1727&search=dermatitis%20
eczematous&source=outline_link&selectedTitle=3~150

Figura 16. Coroa seborreica, presente na dermatite


seborreica.
DERMATITES ECZEMATOSAS 19

Figura 18. Dermatite seborreica no adulto fronte, nas bochechas, sulcos nasolabiais, couro cabeludo e as regiões
retroauriculares. Fonte: Fitzpatrick, T. B. et al. Tratado de Dermatologia. 7 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2010.

o diagnóstico for incerto. Deve-se


Diagnóstico
considerar a possibilidade de infec-
O diagnóstico de dermatite seborrei- ção pelo HIV nos casos mais inten-
ca é feito clinicamente com base nas sos e abruptos ou não responsivos ao
características e localização da lesão. tratamento.
A biópsia não é rotineiramente neces-
sária, mas pode ser indicada quando
DERMATITES ECZEMATOSAS 20

SAIBA MAIS
No histopatológico não existem características patognomônicas de dermatite seborreica. Em
pacientes que são soronegativos para HIV, a histologia mostra paraqueratose focal na cama-
da córnea da epiderme; crostas de escamas “em ombro” com neutrófilos picnóticos nos lábios
dos óstios foliculares dilatados; espongiose leve a moderada; infiltrado inflamatório escasso
na derme. Pacientes HIV +, a paraqueratose é mais generalizada e a epiderme mostra quera-
tinócitos necróticos; espongiose menos proeminente; infiltrado inflamatório mais denso.

Figura 19. Microscopia à esquerda demonstrando espongiose discreta no infundíbulo, com escamocros-
ta “em ombro”, no óstio folicular e formação de rolha córnea. A derme exibe infiltração inflamatória mononu-
clear. Microscopia à direita demonstrando detalhe da espongiose no infundíbulo e da escamocrosta “em om-
bro” no óstio folicular. Derme exibindo infiltração inflamatória mononuclear. Fonte: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962011000600002

Diagnóstico diferencial necessitam de confirmação labora-


torial. A dermatite alérgica também
O diagnóstico diferencial é feito com
pode ser considerada, principalmente
psoríase, rosácea, tinea versicolor,
quando apresentação atípica ou pru-
ptiríase rósea, sífilis secundária, lúpus
rido significativo.
eritematoso sistêmico e pênfigo fo-
liáceo. Porém, sífilis, lúpus e pênfigo
DERMATITES ECZEMATOSAS 21

• Shampoos: antiproliferativos com


SE LIGA! Geralmente as lesões psoriá- antimitóticos e citostáticos, dimi-
ticas são nitidamente demarcadas e eri- nuindo a formação de escamas;
tematosas e as escamas são mais abun-
com cetoconazol à 2%, com ciclo-
dantes e branco prateado. Às vezes, as
duas podem coexistir e o termo “sebop- pirox à 1% e com sulfeto de selê-
soríase” foi atribuído aos casos em que a nio e piritionato de zinco.
distinção não pode ser feita.
• Antifúngicos tópicos: cetoconazol,
bem como outros derivados imi-
dazólicos e antifúngicos de outras
classes, como o ciclopirox
• Corticosteroides tópicos: melhora
rápida dos sintomas (eritema, es-
camação e prurido), porém recidi-
vas frequentes. Devem ser usados
em menor tempo possível devido
aos efeitos colaterais de uso a lon-
go prazo

Figura 20. Psoríase em placas. Fonte: https://


• Antiinflamatórios inibidores de
www.uptodate.com/contents/image?imageKe- calcineurina: tacrolimus (0,03% e
y=DERM%2F115750&topicKey=DERM%-
2F13669&search=dermatite&source=see_link 1%) e pimecrolimus (1%), como
alternativa aos corticosteroides tó-
picos, por possuírem efeitos seme-
5. TRATAMENTO lhantes sem os efeitos colaterais
O tratamento é feito utilizando-se daqueles. Podem ser usados uma
corticosteroides, antifúngicos deriva- ou duas vezes por dia.
dos de imidazólicos, inibidores tópi- • Outras opções são: metronidazol
cos de calcineurina, anti-histamínicos 1% gel, comumente utilizado no
sistêmicos e diversas terapias natu- tratamento da rosácea; tacalcitol,
rais, dependendo de cada caso. Uti- para tratamento de psoríase
lização de:
• Na face e no tronco, além dos
• Sabonetes: com cetaconazol à 2% xampus e sabões contendo as
e com enxofre, com ou sem ácido substâncias já citadas, podem-se
salicílico. prescrever loção ou gel de Kum-
merfeld, cremes com cetocona-
zol e, eventualmente, cremes com
corticosteroide de baixa potência.
DERMATITES ECZEMATOSAS 22

• Devem ser utilizados antibióticos


tópicos ou sistêmicos em casos de
infecção secundária. HORA DA REVISÃO
Em casos de recidiva, antifúngicos via A dermatite seborréica é caracterizada
oral podem ser utilizados: por manchas eritematosas e escamosas
no couro cabeludo, na face e no tronco
• Cetoconazol 200mg/dia por 14dias superior. A caspa do couro cabeludo é
uma forma leve de dermatite seborreica
• Itraconazol 100mg/dia por 21 dias caracterizada por descamação com in-
flamação mínima. Dermatite seborreica
• Terbinafina 250mg/dia por 4 grave é comum na infecção pelo vírus da
semanas imunodeficiência humana (HIV).
DERMATITES ECZEMATOSAS 23

Autolimitada, caracterizada
por lesões maculopapulosas,
Laterais do nariz, dobras nasolabiais, eritematosas ou amareladas, sem
glabelas, dobras retroauriculares, brilho, delimitadas e recobertas
couro cabeludo, região pré-esternal e por escamas de aspecto
interescapular, flexuras axilares gorduroso
e anogenitais Dermatose crônica, de curso
recidivante, que varia desde um
eritema leve a moderado até
Placas eritematosas e escamativas, de lesões papulosas, exsudativas e/
graus variáveis de extensão e intensidade. DS infantil ou escamativas
As lesões são maculopapulosas, Clínica DS adulto
eritematosas ou amareladas, sem brilho,
delimitadas e recobertas por escamas Exacerbações relacionadas ao
estresse ou privação de sono

Locacometidosais mais

Psoríase, rosácea, tinea


Clínico: a partir da
DERMATITE Diagnóstico versicolor, ptiríase rósea, sífilis
característica e localização Diagnóstico
das lesões SEBORREICA diferencial secundária, lúpus eritematoso
sistêmico e pênfigo foliáceo.

Shampoos: antiproliferativos com antimitóticos e


citostáticos, diminuindo a formação de escamas; com
cetoconazol à 2%, com ciclopirox à 1% e com sulfeto de
Tratamento Etiologia
selênio e piritionato de zinco

Antiinflamatórios inibidores de calcineurina: tacrolimus Malassezia spp


(0,03% e 1%) e pimecrolimus (1%),
Influência hormonal

Corticosteroides tópicos - melhora rápida dos sintomas,


com recidivas frequentes Comum em pacientes com HIV positivo e
Doença de Parkinson

Sabonetes: com cetaconazol à 2% e com enxofre,


com ou sem ácido salicílico

Casos de recidiva

Cetoconazol 200mg/dia por 14dias


Itraconazol 100mg/dia por 21 dias
Terbinafina 250mg/dia por 4 semanas
DERMATITES ECZEMATOSAS 24

6. DERMATITE ATÓPICA a tendência à hiperplasia epidérmi-


(DA) ca que, por sua vez, é potencializada
pela coçadura – evoluiu com a cons-
Doença cutânea crônica, pruriginosa
tatação de um defeito associado ao
e inflamatória que ocorre com mais
aumento da atividade da enzima fos-
frequência em crianças, aproximada-
fodiesterase, degradadora de AMPc.
mente 5 a 20% das crianças em todo
o mundo, mas também afeta adultos. A inflamação aguda na DA está asso-
É a principal manifestação cutânea de ciada a um predomínio na expressão
alergia. de IL-4 e IL-13, enquanto a inflama-
ção crônica na DA está associada a
níveis aumentados de IL-5, do fator
Etiopatogenia de estimulação de colônias granulo-
A dermatite atópica está frequente- cíticas e macrofágicas, da IL-12 e do
mente associada ao nível sérico ele- interferon (IFN- gama). Por conse-
vado de imunoglobulina e a história guinte, a inflamação cutânea na DA
pessoal ou familiar de atopia, que exige um padrão bifásico de ativação
descreve um grupo de distúrbios que das células T.
incluem eczema, asma e rinite alérgi- Histopatologicamente, a dermatite
ca. A ocorrência de história familial de atópica é caracterizada por altera-
atopia em até 70% dos casos de DA ções epidérmicas, incluindo espon-
assegura o caráter hereditário, sendo giose (edema epidérmico), com graus
provavelmente de herança poligênica. variados de acantose e hiperquera-
Os níveis de AMP-cíclico (AMPc) in- tose, acompanhadas de um infiltra-
tracelulares estão diminuídos nos do linfohistocítico na derme. Na fase
macrófagos, basófilos e linfócitos. Os aguda, a espongiose leva a um alon-
baixos níveis de AMPc podem ser gamento e eventual ruptura dos ane-
responsáveis pelo aumento da libera- xos intercelulares, com a formação de
ção de histamina, diminuição dos lin- vesículas.
fócitos T supressores e aumento da
produção de IgE. A antiga hipótese Quadro clínico
do bloqueio dos receptores ẞ-adre-
nérgicos para justificar a diminuição As características da DA são pele
dos níveis intracelulares de AMPc seca, prurido intenso e hiper-reati-
na DA, assim como a diminuição dos vidade cutânea a vários estímulos
efeitos inibitórios das catecolaminas ambientais. A constante escarifica-
sobre a multiplicação celular, com au- ção (arranhões) leva a um ciclo vi-
mento de mitoses – o que explicaria cioso de prurido  escarificação 
erupção  prurido  escarificação.
DERMATITES ECZEMATOSAS 25

A apresentação clínica varia com a têm papel importante até o final des-
idade: sa fase. Observa-se que ao final do
Bebês e crianças < 2 anos: lesão segundo ano de vida algumas crian-
pruriginosa, eritematosa, escamosa e ças tem resolução espontânea (me-
com crostas na superfície extensora nos da metade dos casos), enquanto
dos membros, no tronco, face e couro o restante evolui para lesões menos
cabeludo. Inicia-se em regiões mala- exsudativas, mais papulosas, que
res e dissemina-se para regiões como possuem tendência a liquenificação,
couro cabeludo, pescoço, fronte, pu- acometendo dobras antecubitais e
nhos, face de extensão de membros e poplíteas, punhos, pálpebras, face
área das fraldas. Dentição, infecções, e pescoço. Ocorre ainda o aumento
distúrbios emocionais, alterações a hipersensibilidade a inalantes (pelo
ambientais (temperatura e umidade), de animais, pólen, penas e poeira do-
imunizações e outros fatores podem miciliar – ácaros). Pode haver ainda
agravá-la ou desencadeá-la. incidência aumentada, nos atópicos,
Acredita-se que antígenos alimen- de hipersensibilidade a níquel, neo-
tares como ovo, castanha, leite, soja, micina, oleorresinas e lanolina.
peixe, galinha e aditivos alimentares

Figura 21. Dermatite atópica infantil severa, caracterizada por eritema generalizado e crostas. Fonte: https://
www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%2F116080~DERM%2F116269~ALLRG%2F77457~-
DERM%2F77386~ALLRG%2F56461~DERM%2F116268~DERM%2F116270&topicKey=DERM%2F1727&se-
arch=dermatite&rank=1~150&source=see_link
DERMATITES ECZEMATOSAS 26

Em crianças > 2 anos e adolescen-


tes: as lesões tornam-se papulodes-
camtivas e liquenificadas em uma
distribuição flexural, principalmente
na fossa anticubital e poplítea, com
aspecto volar dos pulsos, tornozelos
e pescoço. Tais lesões são sujeitas a
agudização.

Figura 22. Dermatite atópica em áreas flexoras de


pernas. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/
image?topicKey=1729&search=dermatitis%20atopic&-
source=outline_link&imageKey=PC%2F52163&sp=0

Figura 23. Dermatite atópica infantil. Uma localização característica da dermatite atópica em crianças é a região ao re-
dor da boca. Nesta criança, há liquenificação, fissuras e crosta. Fonte: Fitzpatrick, T. B. et al. Tratado de Dermatologia.
7 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2010.
DERMATITES ECZEMATOSAS 27

Em adultos: lesão geralmente mais


localizada, com liquenificação predo-
minante, mas também pode ser vis-
ta em formas exsudativas, eczema
crônico nas mãos, dermatite facial e
eczema palpebral também são fre-
quentemente observados.

Figura 26. Dermatite ectópica em adulto. Obser-


va-se eczema palpebral, presença de pápulas finas
nas bochechas e escoriações na asa nasal. Fonte:
https://www.uptodate.com/contents/image?ima-
geKey=DERM%2F95889~DERM%2F116272~-
DERM%2F116274~DERM%2F116273&topicKey=-
DERM%2F1727&search=dermatite%20
atopic&rank=4~150&source=see_link

Figura 24. Dermatite atópica do adulto. Nesta mu-


lher jovem, observa-se liquenificação em flexu-
ras de joelho. Fonte: https://www.uptodate.com/
contents/image?imageKey=DERM%2F64525~-
DERM%2F55375~DERM%2F116286~DER-
M%2F116284~DERM%2F116283&topicKey=-
DERM%2F1727&search=dermatite&rank=1~150&-
source=see_link

Figura 27. Principais localizações da dermatite atópica.


Fonte: Fitzpatrick, T. B. et al. Tratado de Dermatologia.
7 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2010.

Figura 25. Eczema crônico em adulto, presente


na dermatite atópica. Fonte: https://www.upto-
date.com/contents/image?imageKey=DERM%-
2F95889~DERM%2F116272~DERM%2F116274~-
DERM%2F116273&topicKey=DERM%2F1727&sear-
ch=dermatite&rank=1~150&source=see_link
DERMATITES ECZEMATOSAS 28

SAIBA MAIS
Indivíduos com DA pode cursar ainda com ictiose vulgar, em 10% a 15%, que corresponde
a pele seca, escamosa ou espessa. A hiperlinearidade na palma das mãos e queratose pilar
também podem aparecer em paciente com DA e ictiose vulgar.

Figura 28. Ictiose vulgar. Fonte: https://www.sbd.org.br/ Figura 29. Hiperlinearidade palmar na ictiose vulgar.
dermatologia/pele/doencas-e-problemas/ictiose/42/ Fonte https://www.uptodate.com/contents/image?ima-
geKey=DERM%2F90481&topicKey=ENDO%2F7863&-
search=dermatite&source=see_link

Figura 30. Queratose pilar. Múltiplas pápulas eritematosas,


queratóticas e foliculares são características da queratose
pilar. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/image?ima-
geKey=DERM%2F90711~DERM%2F60786~DERM%-
2F68488&topicKey=DERM%2F1727&search=keratosis%20
pilaris%20pillar&source=see_link

DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%2F90711~DERM%2F60786~-


DERM%2F68488&topicKey=DERM%2F13663&search=dermatite&source=see_link
DERMATITES ECZEMATOSAS 29

Diagnóstico • A presença de pele seca generali-


zada no último ano.
O diagnóstico de dermatite atópica é
clínico, com base na história, morfolo- • Sintomas que começam em crian-
gia e distribuição de lesões de pele e ças antes dos dois anos de idade.
sinais clínicos associados. Este critério não é usado para fa-
O grupo de estudos do Reino Uni- zer o diagnóstico em crianças com
do sobre dermatite atópica publicou menos de quatro anos de idade.
critérios para diagnosticar dermatite • Dermatite visível envolvendo su-
atópica que incluem um obrigatório e perfícies flexurais. Para crianças
cinco principais critérios. menores de quatro anos, esse cri-
• Evidência de prurido na pele, in- tério é observado por dermatites
cluindo o relato dos pais de uma que afetam as bochechas, testa e
criança esfregando ou coçando a extremidades.
pele.
A análise do grupo de estudos do Rei-
Além da coceira na pele, são neces- no Unido excluiu os critérios de aler-
sários três ou mais dos seguintes gia, conforme proposto originalmente
itens para fazer o diagnóstico: por Hanifin e Rajka.

• História de pregas na pele em


fossa antecubital, fossa poplítea,
pescoço, áreas ao redor dos olhos,
frentes dos tornozelos.
• História de asma ou febre do feno
(ou história de doença atópica em
um parente de primeiro grau para
crianças menores de 4 anos).
DERMATITES ECZEMATOSAS 30

O diagnóstico baseado em Hanifin Esses critérios estão descritos na ta-


& Rajka necessita da presença de bela abaixo:
três critérios maiores e três menores.

CRITÉRIOS MAIORES (3 OU MAIS) CRITÉRIOS MENORES (3 OU MAIS)

Prurido Xerose cutânea

Erupção na face e/ou superfície extensora em crian- Prega de Dennie-Morgan (linha acentuada na pálpebra
ças menores e lactentes inferior)

Liquenificação nas áreas flexurais em crianças


Escurecimento ao redor dos olhos
maiores

Tendência a cronicidade ou recorrências crônicas Palidez facial

História pessoal ou familiar de manifestações de


Ptiríase alba
atopia: asma, rinite, dermatite atópica

Queratose pilar

Ictiose vulgar

Hiperlinearidade palmar e plantar

Dermografismo branco (linha branca aparece na pele


dentro de um minuto, após a pele ser friccionada com
um objeto)

Conjuntivite, ceratocone, catarata anterior subcapsular

Elevação da IgE sérica

Reatividade ao teste cutâneo imediato

Quadro 1. Características da dermatite atópica. Fonte: https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/pab/4/unida-


des_casos_complexos/unidade13/unidade13_ft_dermatite.pdf

O diagnóstico diferencial é feito com vesicopústulas nas palmas e na sola


base na dermatite por contato alérgi- sugerem o diagnóstico de sarna. A
ca ou por irritante, dermatite sebor- demonstração de ácaros ou ovos por
reica, psoríase e sarna (sendo que, raspagem da pele, dermatoscopia ou
nesse último caso, o envolvimento teste de fita adesiva pode confirmar o
das dobras cutâneas e a presença de diagnóstico).
DERMATITES ECZEMATOSAS 31

Tratamento • Corticoides tópicos são as medica-


ções efetivas no tratamento, porém
O tratamento consiste em orienta-
não devem ser usados indiscrimi-
ções ao paciente e à família de cuida-
nadamente. Como alternativa aos
dos tais como:
corticosteroides tópicos, pode-se
• A hidratação da pele com hidra- usar pastas e cremes com coaltar
tantes, especialmente óleo de 2 a 4%.
amêndoas doces, vaselina ou alfa-
• Inibidores de calcineurina (pime-
-hidroxiácidos, associados ou não
crolimus e tacrolimus) são imuno-
a cremes de corticosteroide de po-
moduladores de uso recente no
tência variável segundo a área, o
arsenal terapêutico da dermatite
tipo de lesão a ser tratada e a idade
atópica. Tem ação semelhante aos
do paciente. A ureia – um hidratan-
corticosteroides, sendo anti-infla-
te clássico – deve ser evitada pelo
matórios e inibindo a liberação de
fato de, por vezes, produzir ardor e
interleucinas, sem causar efeitos
irritação
colaterais indesejáveis conhecidos.
• Evitar banhos quentes e demora-
• Nos casos que existam lesões com
dos além do suor excessivo
infecções secundárias, o uso de
• Se precaver do contato com gra- antibiótico efetivo contra S. aureus
ma, roupas sintéticas, lã é fundamental para melhora do
• Anti-histamínicos são indicados quadro.
para controle do prurido
DERMATITES ECZEMATOSAS 32

Crianças > 2 anos e adolescentes: as lesões tornam-se


papulodescamtivas e liquenificadas em uma distribuição
flexural, principalmente na fossa anticubital e poplítea,
com aspecto volar dos pulsos, tornozelos e pescoço. Dermatite por contato alérgica
Diagnóstico ou por irritante, dermatite seborreica,
psoríase e sarna
Bebês e crianças < 2 anos: lesão pruriginosa,
eritematosa, escamosa e com crostas na superfície
extensora dos membros, no tronco, face
e couro cabeludo

Clínica Etiologia
Adultos: lesão geralmente mais localizada, com
liquenificação predominante, mas também pode ser
vista em formas exsudativas, eczema crônico nas
mãos, dermatite facial e eczema palpebral também são Aumento de IgE
frequentemente observados
História familiar de atopia em 70% dos casos
DERMATITE
Ciclo vicioso de prurido  escarificação  erupção ATÓPICA História familiar de atopia em 70% dos casos
 prurido  escarificação
Aumento de IL-4, IL-13, IL-5, IL-12, IFN-gama e
outros fatores inflamatórios

Com base na história, morfologia e distribuição de lesões


de pele e sinais clínicos associados.
Diagnóstico

Inibidores de calcineurina (pimecrolimus e


Tratamento tacrolimus)

Evitar banhos quentes e demorados além


do suor excessivo

Lesões com infecções secundárias, o uso de Evitar contato com grama, roupas sintéticas, lã
antibiótico efetivo contra S. aureus é fundamental
para melhora do quadro Corticosteroides tópicos

Anti-histamínicos são indicados para controle do


prurido

Hidratação da pele com hidratantes,


especialmente óleo de amêndoas doces, vaselina
ou alfa-hidroxiácidos, associados ou não a cremes
de corticosteroide
DERMATITES ECZEMATOSAS 33

7. OUTRAS DERMATITES
Numular
Também chamado de eczema discoi-
de. É uma doença inflamatória crôni-
ca da pele, recorrente e recidivante,
caracterizada por múltiplas lesões
eczematosas pruriginosas, em forma
de moeda, envolvendo as extremida-
des e, menos comumente, o tronco.
Ocorre com maior frequência em ho-
mens acima de 50 anos.

Figura 31. Eczema numular no braço, caracte-


rizado pela presença de lesões em formato de
moeda. Fonte: https://www.uptodate.com/con-
tents/image?imageKey=DERM%2F58067~-
Figura 31. Eczema numular. Fonte: https://www. DERM%2F96165~DERM%2F96164~DER-
uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%- M%2F66792~DERM%2F116644&topicKey=DER-
2F58067~DERM%2F96165~DERM%2F96164~DER- M%2F1727&search=dermatite&rank=1~150&sour-
M%2F66792~DERM%2F116644&topicKey=DER- ce=see_link
M%2F1727&search=dermatite&rank=1~150&sour-
ce=see_link
DERMATITES ECZEMATOSAS 34

Como manifestações clínicas ocor- com doença recalcitrante e/ou histó-


rem manchas altamente pruriginosas, ria sugerindo dermatite alérgica de
redondas e em forma de moedas. Na conta. A histopatologia, é indistin-
fase aguda, são avermelhadas, exsu- guível de outras formas de eczemas
dativas e com crostas. Com o tempo, por apresentar também espongio-
tornam-se secas e escamosas. Nor- se, infiltrado linfocitário perivascular
malmente, os locais mais frequen- superficial, com alguns eosinófilos e
temente acometidos são pernas e neutrófilos.
extremidades superiores. Caso aco- O tratamento é feito reduzindo a se-
metimento de face e pescoço, deve- cura da pele e a exposição a subs-
-se afastar outros diagnósticos, como tâncias irritantes e tratamento da
dermatite atópica e dermatite de inflamação da pele. A terapia farma-
contato. cológica de primeira linha é o uso de
O diagnóstico é clínico. No entanto, corticosteroides tópicos de alta ou ul-
um swab de pele para cultura bacte- tra potência, aplicados uma ou duas
riana pode ser realizado em pacientes vezes ao dia por duas a quatro sema-
com lesões exsudativas ou com cros- nas ou até a resolução das lesões. A
tas, se houver suspeita de infecção fototerapia e a terapia sistêmica (com
por organismos incomuns. O teste de triancinolona ou prednisona 40mg)
adesivo pode ser útil em pacientes também pode ser pensados para pa-
cientes graves ou refratários.

Figura 32. Características histológicas do eczema numular. (A) Acantose irregular, espongiose e infiltrado inflamató-
rio perivascular superficial. (B) Espongiose acompanhada de exocitose de células inflamatórias. Fonte: https://www.
uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%2F97004&topicKey=DERM%2F13666&search=dermatite&sour-
ce=see_link
DERMATITES ECZEMATOSAS 35

8. DESIDRÓTICO
Também chamado de eczema pal-
moplantar agudo. É uma dermatite
vesicular intensamente pruriginosa,
crônica e recorrente, com etiologia
desconhecida e que envolve palma
das mãos, planta dos pés e regiões
laterais dos dedos.
As manifestações clínicas caracte- Figura 33. Eczema desidrótico severo, com grandes
bolhas coalescentes em palmas das mãos do pa-
rísticas são presença de múltiplas ciente. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/
vesículas pequenas e profundas em image?imageKey=DERM%2F83007&topicKey=DER-
M%2F1727&search=dermatite&rank=1~150&sour-
região de mão e pé. Podem ocorrer ce=see_link
ainda formações bolhosas e podem
ficar superinfectadas. Duram por vá-
rias semanas, até que secam e des-
camam, desaparecendo.
O diagnóstico é clinico, raramente ne-
cessitando de biópsia ou teste de pa-
tch para diagnóstico diferencial (der-
matite de contato).
A conduta do eczema desidrótico é
identificar e prevenir fatores causais Figura 34. Eczema desidrótico severo com sinais de
infecção secundária associada. Fonte: https://www.
ou exacerbantes, tratar a inflamação uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%-
da pele (inibidores tópicos de calci- 2F83006&topicKey=DERM%2F1727&search=-
dermatite&rank=1~150&source=see_link
neurina, como primeira linha, ou corti-
costeroides tópicos) e adotar medidas
de cuidados com a pele para reduzir
irritação.

Figura 33. Eczema desidrótico plantar. Fonte: https://


www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DER-
M%2F82782~DERM%2F116641&topicKey=DER-
M%2F1727&search=dermatite&rank=1~150&sour-
ce=see_link
DERMATITES ECZEMATOSAS 36

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti. Artes Médicas. São Paulo, 2014.
Wolff, K., Johnson, R.A., Saavedra, A. P. Dermatologia de Fitzpatrick. 7. ed. 2015.
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Sasseville, D. Seborrheic dermatitis in adolescents and adults. Uptodate, 2018.
Sampaio, A.L., et al. Dermatite seborreica. Anais Brasileiros de Dermatologia. Vol 82. Rio de
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Fitzpatrick, T. B. et al. Tratado de Dermatologia. 7 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2010.
DERMATITES ECZEMATOSAS 37

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