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PONTUANDO DIANTE DA QUESTÃO DA PALAVRA INFERNO

Atenção, este conteúdo não tem por objeto ofender princípios individuais de
religiosidade de ninguém, mas, dentro de um arcabouço escatológico e teológico,
respeitando-se a originalidade dos escritos reais das sagradas escrituras, nos levar a
real cabal compreensão do tema em questão.
Traduzido do hebraico Sheol e do grego Hades, o inferno hoje em dia é considerado
o lugar de tormento de fogo para as pessoas más. Essa palavra é frequentemente
usada para coagir aqueles que não creem em Jesus, afirmando-se que elas vão para lá
se não aceitarem-no. Mas há quem diga que a palavra inferno não existe na Bíblia,
isto é, nos idiomas originais em que a mesma foi escrita. Será isso verdade?
Jesus foi para o inferno?
O primeiro grande questionamento que eu quero trazer aqui é o seguinte: “se o
inferno é realmente o lugar de tormento e de fogo de punição dos ímpios,
então por que certas traduções bíblicas, procuram afirmar que o próprio Jesus
teria ido para lá após sua morte?
“Porque dele disse Davi: […] Não deixarás a minha alma no inferno, nem
permitirás que o teu Santo veja corrupção. […] Nesta previsão, disse da
ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua
carne viu a corrupção.“ (Atos 2:25,27,31 ACF)
O texto acima dá a entender que a alma de Jesus teria ido para o inferno após sua
morte, mas que não foi deixada lá.
Mas como pode o Justo, o homem que foi ungido por Deus para salvar e libertar Seu
povo, ter ido para o inferno após sua morte? Será que este lugar é realmente o que
imaginamos hoje? O que a Bíblia verdadeiramente diz no idioma original em que foi
escrita?
“Inferno” no idioma original da Bíblia.
As traduções bíblicas mais comuns e clássicas, como a Almeida Corrigida Fiel, que foi
citada acima, nos dizem que a palavra “inferno” foi dita por Jesus nos seguintes textos:
a) Mat. 5:22,29,30, 10:28, 11:23, 16:18, 18:9, 23:15,33,
b) Mac. 9:43,45,47,
c) Luc. 10:15, 12:5, 16:23.
Será possível que Jesus realmente não disse essas palavras que estamos tão
acostumados a ler em nossas bíblias e ouvir nos sermões? E se ele não disse tal
palavra, o que significaria então? Que o inferno não existe? O que ele realmente disse
no idioma no qual ele pregava sua mensagem?
Atenção: Vamos procurar entender no Texto original em grego:
Olhando no texto em grego, considerado o original pela grande maioria da cristandade,
tomando como base o texto de Mateus 5:29, pois a mesma palavra é usada em quase
todos os outros versículos.
Mateus 5:29 Interlinear Grego yéevva-gèena
Observe a última palavra que deixei destacada com a em itálico e que normalmente é
traduzida por “inferno”.
A palavra “inferno” é proveniente do latim Infernus, derivado de inferus, que significa “o
que está abaixo”, de infra, “abaixo”. Note a semelhança entre as palavras “inferior” e
“inferno”, por exemplo. Ou seja, originalmente, “inferno” designava algo que está
abaixo ou em baixo, e hoje em dia costumamos dizer que quem morreu está “em baixo
da terra”, não é mesmo?!
Mas o texto bíblico em grego do chamado “Novo Testamento”, de onde veio quase todas
as traduções cristãs, nos informa que o Senhor teria dito a palavra “geena“, e não
necessariamente “infernus“. Então o que seria essa tal “geena“, que por exemplo é
encontrada em outras traduções bíblicas, como a Tradução Brasileira e a Bíblia de
Jerusalém:
Se o teu olho direito te serve de pedra de tropeço, arranca-o e lança-o de ti;
pois te convém mais que se perca um dos teus membros, do que todo o teu
corpo seja lançado na geena.
(Mt 5:29 Tradução Brasileira)
Caso o teu olho direito te leve a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti,
pois é preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo
seja lançado na geena.
(Mt 5:29 Bíblia de Jerusalém 2002)
Mas o que é geena afinal de contas?
Vejamos o que diz o Dicionário Bíblico Cristão mais famoso que existe, o Dicionário
Strong.1067 γεεννα geenna, de origem hebraica 1516 e 2011;
“Geena” ou “Geena de fogo” traduz-se como inferno, isto é, o lugar da punição
futura. Designava, originalmente, o vale do Hinom, ao sul de Jerusalém, onde o
lixo e os animais mortos da cidade eram jogados e queimados.
e que foi, por Jesus Cristo, destacado como símbolo referencial apropriado para
descrever o perverso e sua destruição futura.
Com exceção de Mat. 11:23, 16:18, Luc. 10:15 e 16:23, onde no texto grego aparece a
palavra “Hades”, todas as outras ocorrências da palavra “inferno” nas traduções bíblicas
provenientes do grego mais conhecidas, o Senhor teria usado a palavra “geena”.
Como vimos, geena se refere ao Vale de Hinom, enquanto Hades faz referência
ao hebraico sheol, que significa literalmente “sepulcro“.
Então sim, é mesmo verdade que a palavra inferno não existe no idioma original
da Bíblia! E o conceito de inferno tal como conhecemos hoje foi popularizado em certa
ocasião da história, muito posterior aos tempos bíblicos, a qual veremos mais adiante.
A expressão grega geena tem sua origem no aramaico (gehena’) que, por sua
vez, vem do hebraico (geyhinnom – lê-se ‘gue‘ e não ‘ge‘).
Na Bíblia Peshitta da Editora BV Books, por exemplo, que tem como fonte textos
aramaicos dos Escritos Nazarenos (“Novo Testamento”), Mat. 5:29 foi traduzido assim:
E se teu olho direito te é ocasião de tropeço, arranca-o e lança-o de ti, porque é
melhor para ti que se perca um dos teus membros e não seja lançado todo o
teu corpo à Guehena.
Faço questão de lembrar que Jesus pregava sua mensagem em aramaico, e não em
grego, tão pouco em latim. O historiador Eusébio de Cesareia (dentre outros) registra
na História Eclesiástica, não só uma vez, que o relato (“evangelho”)
de Matias/Mateus foi escrito originalmente em hebraico/aramaico. Este era justamente o
idioma que o Senhor se comunicava e pregava, assim como seus discípulos e a nação
judaica de seu tempo. Obviamente, havia ainda um certo grupo de judeus de fala grega,
vide Atos 9:29, mas em geral na Palestina, incluindo a Galileia, principal local onde
Jesus Cristo exerceu seu ministério, falava-se o aramaico.
Existem centenas de manuscritos em aramaico dos Escritos Nazarenos, sendo alguns
deles tão antigos quanto os fragmentos de manuscritos gregos anteriores ao século IV
Alguns exemplos são Yonan codex, Khabouris codex, a Peshitta Sinaitica e Curetoniana,
dentre outros.
Portanto, nos textos de Mat. 5:22,29,30, 10:28, 18:9, 23:15,33, além de Mac.
9:43,45,47 e Luc. 12:5, em todas as vezes, o Senhor usa a palavra
aramaica Guehenna, que se refere ao Vale de Hinom, e não “inferno”, como vemos
na maioria das bíblias comuns.
Sendo assim, o versículo objeto deste tema, numa tradução mais honesta, eu diria,
ficaria dessa forma:
Portanto, se o teu olho direito te causa tropeço, arranque-o e atire-o para
longe; pois é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu
corpo lançado no Vale de Hinom!
Mas o que Jesus quis dizer ao mencionar o Vale de Hinom (e não o “inferno”)
em seus sermões?
Durante o reinado dos perversos Acaz e seu neto Manassés (respectivamente 735-716 e
697-643 AC), aconteciam naquele vale atrocidades terríveis. Os israelitas idólatras,
imitando costumes de outras nações, queimavam crianças recém nascidas em sacrifício
ao deus Moloque, a abominação dos cananeus e dos amonitas. O rei Acaz promoveu
essa prática, veja 2º Crônicas 28:13, e seu neto Manassés assassinou até mesmo seus
próprios no fogo (2º Cro. 33:1,6,9).
O rei Josias (641-609 AC), neto de Manassés, acabou com as idolatrias neste lugar,
profanando todos os altares e demais utensílios idólatras, veja 2º Reis 23:10.
Ele transformou este vale numa espécie de “lixão” (grande depósito de lixo e entulhos),
e ninguém mais praticou idolatrias ali. O Vale também era usado como sepulcro para
diversos tipos de pessoas e animais, como mencionado no Dicionário Bíblico que lemos
mais acima. Até hoje, ninguém construiu no Vale de HInom, pois é considerado um
lugar maldito. Suas ruínas podem ser vistas por qualquer um.
Se o inferno não existe na Bíblia, e Jesus falou originalmente o Vale de Hinom,
o que ele quis dizer com essa “analogia”?
Como este depósito de lixo ficava constantemente em chamas devido o uso de enxofre,
fez que este vale tipificasse o destino final dos pecadores impenitentes,
destinados ao fogo que nunca se apaga, ou seja, a uma destruição completa e
sem volta! Assim como o fogo queima algo por completo, aos poucos, até virar cinzas,
isto é, até ser destruído completamente.
O mestre Jesus então cita o Vale como analogia a uma morte desprezível, onde o fogo
consumia completamente o lixo, ou os vermes comiam os corpos sepultados ali e as
coisas que não eram alcançadas pelo fogo.
O próprio Deus declarou, através do profeta Jeremias (um contemporâneo do rei
Josias), que aquele lugar abominável se tornaria uma espécie de cemitério, veja Jer.
7:31,32. E até os dias de hoje é um local abandonado, com várias ruínas de sepulcros.
Atentando para esta forma correta e homilética grega dessa forma, textos como Mat.
10:28 fazem muito mais sentido; vejamos:
Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma, antes temais
Aquele que pode fazer perecer tanto a alma como o corpo na Guehena.
(Mt 10:28 Bíblia Peshitta BV Books)
Perecer é destruir, pôr fim à existência (veja também Joa. 3:15-16).
Confira ainda Mac. 9:43 e Jud. 1:7 como outros exemplos onde o fogo eterno é
mencionado como uma analogia à destruição completa. Especialmente no caso
das cidades de Sodoma e Gomorra, citadas nessa última referência, que não ficaram
queimando para sempre, mas para sempre foram destruídas pelo fogo.
Por fim, o Senhor usa a palavra aramaica guehenna como uma espécie
de metáfora para o dia do juízo, quando as pessoas que não herdarem a vida eterna
por meio da fidelidade a ele perecerão. Assim como aquele fogo incinerava os
cadáveres e o lixo lançados naquele vale, também as pessoas hipócritas e
perversas pereceriam.
Então, perecer no Vale de Hinom se refere a uma morte desprezível, a não herança
da vida eterna.
Com tudo isso, não seria uma espécie de adulteração do texto bíblico mudar o
que Jesus realmente disse por outra coisa que ele não disse? Além do mais, nós
perdemos de vista todo este contexto histórico e teológico abordado acima, e acabamos
desconhecendo a relação dessas palavras do Mestre com as profecias acerca do Vale,
registradas também em Isaías 66:23-24.
Muitos teólogos tem o hábito de assimilar narrativas bíblicas e ensinamentos do Senhor
com o contexto histórico-religioso greco-romano. Porém, o mestre Jesus Cristo não era
grego e muito menos romano; ele não era adepto das religiões e crenças dessas nações,
nem tão pouco as utilizava como ensinamento original divino. Ele era um homem
israelita/judeu, apregoava a Lei do Deus de Israel (Mat. 5:17-19) e defendia que a
“teologia” correta era proveniente dos judeus, ou seja, era aquela que os judeus
receberam de Deus por meio de seus profetas, basta ver João 4:22.
Analisando todo este contexto, você não acha que deveríamos conhecer melhor
a Bíblia nos idiomas que o Mestre e os profetas anunciaram a mensagem
divina, isto é, o aramaico, hebraico e grego, em vez de ficar fazendo
assimilações com crenças alheias às originais das Escrituras?
O contexto bíblico greco-romano pode ser considerado como um complemento histórico
cultural e religioso para se entender determinados acontecimentos. No entanto, o povo
de Deus tem seu próprio ensinamento “religioso” recebido do ETERNO.
Então não podemos tomar como base de crença e doutrina interpretações teológicas
influenciadas por outras culturas ou religiões antigas, porque os conceitos teológicos
deles eram simplesmente divorciados da verdadeira palavra de Deus.
De fato, muitos teólogos contemporâneos e modernos tem o hábito de comparar
ensinamentos do Senhor com a cultura e teologia greco-romana. Isso acontece porque
eles carregam consigo a errônea ideia de pensar que os Escritos Nazarenos foram
produzidos primeiramente na língua grega, e que os discípulos do Senhor em sua
maioria ou totalidade falavam o grego. A história, no entanto, nos mostra um lado
totalmente diferente.
Qual a origem da palavra “inferno” e por que ela está na Bíblia que lemos hoje?
Infelizmente, não poucas traduções bíblicas que lemos nos dias de hoje trazem consigo
uma série de palavras modificadas com ideologias de outras culturas e crenças antigas.
À medida que a Bíblia foi sendo traduzida para diversos idiomas ao longo da história,
por pessoas que não tinham conexão com a língua original e o povo eleito, identificados
como copistas, vários conceitos estranhos à verdadeira fé bíblica foram introduzidos, e
isso acabou fazendo parte da atual conjectura cultural. Tais mudanças também nos faz
perder de vista muito conteúdo histórico, além de distorcer ensinamentos teológicos
diversos. Como consequência, nossa qualidade de vida e relacionamento com Deus são
prejudicados.
Muitos tradutores e copistas infelizmente, ao longo da história, se deixaram levar pelas
culturas e crenças que os cercavam só porque eram populares. Além disso, por
desconhecerem certas palavras do hebraico bíblico, usaram de conhecimento fora do
contexto das Escrituras para traduzi-las. Alguns se esforçaram conforme podiam e
conforme os recursos que tinham ao alcance naquele momento histórico para fazer suas
traduções; quem sabe, de certa forma, a estes devemos nossos agradecimentos por
termos acesso hoje a uma Bíblia em nosso idioma.
Mas outros tradutores, de fato, especialmente os modernos, que desfrutam de
mais liberdade e recursos, não quiseram se desapegar do que já estava e está
enraizado em nossa cultura, mesmo não sendo o correto.
Dessa forma, eles continuam a alimentar entendimentos distorcidos do texto bíblico
original. Além do mais, vários tradutores ainda tentam “facilitar” o entendimento do
texto bíblico para o leitor moderno, através do que chama “NOVAS VERSÕES” mas o
que eles acabam fazendo, na verdade, é distorcê-lo ou continuar
alimentando deturpações. Tal atitude tem feito que a verdade bíblica seja ferida,
deturpada, suprimida ou solapada.
E quantas crenças mais temos que a grande maioria da população pensa estar correta,
mas que se colocadas em comparação ao texto bíblico em seu contexto e idioma
original, não está?
Por fim, a palavra “inferno” tem origem no latim, como já dissemos, e seu
conceito é um tanto diferente da guehana.
A origem do termo inferno é latino: infernum, que significa “as profundezas” ou o
“mundo inferior“. Origina-se da palavra latina pré-cristã inferus, que quer dizer
“lugares baixos“, infernus.
Como podemos notar, inicialmente, nos primeiros séculos de nossa era, a palavra
“inferno” não designava um lugar de tormento e de fogo, mas sua ideia era mais
próxima ao Hades grego, ou seja, um submundo onde os mortos estariam “vagando”,
digamos assim.
A primeira tradução das Escrituras Sagradas para o latim surgiu nas últimas décadas do
século 2 e posteriormente foi revisada em meados do século 4.
Primeiro havia os textos da Antiga Latina ou Vetus Latina. E, por fim, o monge São
Jerônimo fez uma tradução completamente nova de toda a Bíblia para o latim. Ela ficou
popularmente conhecida como Vulgata Latina.
Na Vulgata, foi usado o termo latino infernus 61 vezes para traduzir o hebraico sheol, o
grego hades e geena, sem distinção.
Isso fatalmente causou vários mal-entendidos ao longo da história, quando
desenvolveu-se, fora do ambiente bíblico, o conceito de inferno como um lugar espiritual
de tormento e de fogo. Entretanto, assim como hades na cultura
grega, infernus inicialmente se referia ao mundo dos mortos na mitologia
romana, ou simplesmente ao sepulcro (debaixo da terra). Ora, se essa palavra
permanecesse com este último sentido em nossa mentalidade, seria uma tradução
adequada para sheol, pelo menos. Mas o problema é que o significado dela “evoluiu”.
É um engano achar que sheol (hebraico), hades (grego) e infernus (latim) são termos
sinônimos pelo seguinte motivo: sheol é um termo encontrado apenas na Bíblia
Hebraica sem ideias mitológicas; já hades era um termo claramente mitológico no
tempo em que foi produzida a Septuaginta (séc. III AEC). Tratava-se de uma palavra
carregada de conteúdo religioso sobre a vida após a morte. O Sheol, no entanto,
significa simplesmente “sepultura” ou “cova”, em fim, a morte, o fim da vida e da
existência.
Jó, por exemplo, desejou ir para o sheol durante seu sofrimento. Ele queria ficar
lá até que sua fase difícil passasse (14:13). Então, se o sheol pudesse ser comparado
ao inferno tal como conhecemos hoje, como alguém poderia desejar ir para lá
procurando alívio para seus sofrimentos? Ou como uma mesma palavra poderia
descrever duas coisas tão antagônicas: a sepultura como o fim da vida e da existência,
e o suposto inferno, como local tormento sem fim?
Aliás, o próprio Deus afirmou que o homem voltaria ao pó da terra ao morrer, ou seja,
pereceria sua vida e seria sepultado debaixo da terra, e não que iria para um tal
de inferno ou para o céu (Gen. 3:19). E o apóstolo Paulo ao referi que Davi,
homem segundo o coração de Deus, morreu, foi sepultado, e o seu túmulo está
entre nós até o dia de hoje – e portanto ele (Davi) não foi elevado aos céus
(Atos 2: 29 e 34).
Ao usar o termo “inferno”, a maioria das versões bíblicas em português
seguem a tradição da Bíblia Vulgata Latina, e não dos originais bíblicos
hebraico e aramaico.
Embora inicialmente não tinha a ideia de tormento no fogo eterno, é atribuído a Dante
Alighieri, em sua obra clássica A Divina Comédia, escrita no século 14 EC, a
popularização do conceito de inferno como local de fogo onde os demônios
atormentam as almas condenadas. Essa visão veio a se tornar a ideia popular entre
cristãos e não cristãos de como é o inferno. E isso permanece até hoje. Talvez você já
tenha ouvido a expressão “inferno de Dante” por aí, estou certo?!
Então, será que o tal lugar de tormento de fogo chamado “inferno” não
existe? Bom, as Escrituras originais falam por si mesmas…
Por fim, a realidade então, consequentemente, é que, quando acreditamos em um tal
lugar de tormento e fogo eterno chamado “inferno”, estamos acreditando na Divina
Comédia do autor Dante, ou em crenças religiosas antigas, e não em um
ensinamento teológico bíblico de verdade.
Não é um tanto ridículo ver que tal palavra adentrou nas traduções bíblicas,
em detrimento das palavras que o Senhor realmente pronunciou?
Embora a palavra “inferno” originalmente não designasse tal lugar fictício de
fogo e tormento, posteriormente ganhou tal conotação popular através da obra
de Dante, homem que foi elogiado pelo Papa Francisco.
Os tradutores bíblicos modernos, aderindo à crença popular majoritariamente difundida
com a publicação do livro de estórias A Divina Comédia, continuam a modificar as
palavras do Salvador em suas traduções bíblicas, talvez por causa de fins comerciais,
mas naturalmente religiosos também.
Inferno de fogo.
Literalmente "géenna de fogo". Géenna é a translitera ção das palavras hebreus g'
hinnom, "vale do Hinom", ou g' Ben hinnom, "vale do filho de Hinom" (Jos.15: 8). Este
vale está ao sul e ao oeste de Jerusalém e se encontra com o vale do Cedrón,
imediatamente ao sul da cidade do David e o lago do Siloé. O ímpio rei Acaz (ver T. II,
P. 88) parece ter iniciado nos dias do Isaías a Bárbara costume pagão de queimar os
meninos, oferendando-os ao Moloc em um alto chamado Tofet, no vale do Hinom (2
Cron. 28: 3). Esses ritos abomináveis se descrevem em com. Lev. 18: 21; Deut. 18:
10; 32: 17; 2 Rei. 16: 3; 23: 10; Jer. 7: 31. Manasés, neto do Acaz, restabeleceu essa
prática (2 Cron. 33: 1, 6; cf. Jer. 32: 35). Anos depois, o bom rei Josías profanou
ceremonialmente os altos do vale do Hinom onde se realizou esse atroz tipo de culto (2
Rei. 23: 10), com o qual se acabaram esses sacrifícios. Como castigo por esse e outros
maus, Deus advertiu a seu povo que o vale do Hinom um dia seria o "Vale da Matança"
por causa dos "corpos mortos deste povo" (Jer. 7: 32-33; 19: 6; cf. Isa. 30: 33). Por
isso os fogos do Hinom se converteram em um símbolo do fogo consumidor do último
grande dia de julgamento e do castigo de os ímpios (cf. ISA. 66: 24). Segundo as
ideias escatológicas feijões, derivadas em parte da filosofia grega, géenna era o lugar
onde se reservavam as almas dos ímpios baixo castigo até o dia do julgamento final e
das retribuições.
A tradição que afirma que o vale da Geenna (forma latina do nome) era o lugar onde se
queimavam os desperdícios, e que portanto era uma figura do fogo do dia final, parece
haver-se originado com o rabino Kimchi, erudito judeu dos séculos XII e XIII. A antiga
literatura judia não contém nada disto. Os rabinos mais antigos apoiaram a ideia da
Gehenna como um símbolo do fogo do último dia no juízo final.
Em grego se emprega um outro verbo, tartaró, "jogar ao tártaro". Os antigos gregos
consideravam que o tártaro era a morada dos ímpios mortos e o lugar onde recebiam o
castigo. Corresponde, em certa medida, com a gehenna dos judeus. Pedro, que
escreve a gente que vivia em um ambiente helenístico, emprega um término grego para
transmitir seu pensamento; mas com isso não apoia nem a ideia grega do tártaro nem o
conceito popular dos judeus da gehenna. Tártaro simplesmente se revir ao lugar onde
os anjos maus estão confinados até o dia do julgamento.
Além de tudo isso, a inexistência da palavra “inferno” nos idiomas bíblicos originais nos
traz novos questionamentos. Agora que sabemos que a palavra inferno não existe na
Bíblia em seus idiomas originais, ficou surpreso de descobrir isso agora?

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