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SAYAD, Abdelmalek. [1979] 1998.

"O que é um imigrante", In Abdelmalek Sayad, A


imigração e os paradoxos da alteridade. São Paulo: Edusp, pp 45-72.

A VERDADEIRA NATUREZA DO FENÔMENO DA IMIGRAÇÃO

O fenômeno da imigração tem uma característica fundamental: ele geralmente esconde


sua verdadeira natureza. Isso acontece porque, na maioria das vezes, a imigração cria
uma situação ambígua. Não sabemos se é algo temporário que as pessoas preferem
prolongar indefinidamente, ou se é algo mais duradouro que as pessoas preferem viver
como se fosse temporário.

Em diferentes circunstâncias, a situação do imigrante pode ser interpretada de duas


maneiras: às vezes, as pessoas se concentram em seu status temporário, como se não
quisessem admitir que a imigração se tornou algo mais permanente. Outras vezes, as
pessoas enfatizam o fato de que os imigrantes estão se estabelecendo de forma mais
duradoura em seu novo país, como se quisessem negar a ideia de que a imigração é
apenas temporária.

Em resumo, o texto fala sobre como a imigração muitas vezes cria uma situação
ambígua em que as pessoas podem ver os imigrantes como temporários ou como
residentes permanentes, dependendo das circunstâncias e da perspectiva.

A CONDIÇÃO CONTRADITÓRIA DOS IMIGRANTES

O texto fala sobre uma contradição fundamental que afeta não apenas os imigrantes,
mas também a sociedade que os recebe e a sociedade de onde eles vêm. Essa
contradição é que a condição do imigrante parece estar em um estado que não é nem
temporário nem permanente. Em outras palavras, os imigrantes às vezes são vistos
como temporários, desde que esse estado temporário possa durar indefinidamente, e
outras vezes como residentes permanentes, desde que essa permanência não seja
explicitamente declarada.

Todos os envolvidos na questão da imigração parecem concordar com essa ilusão


coletiva porque ela permite que cada um lide com as contradições inerentes à sua
posição, sem desafiar as categorias habituais de como os imigrantes são percebidos e
como percebem a si mesmos.

Os imigrantes, em particular, muitas vezes precisam convencer a si mesmos de que sua


condição é realmente temporária, mesmo que a experiência mostre o contrário. Isso
ocorre porque eles entraram na sociedade de destino de maneira provisória, mas acabam
enfrentando uma realidade que parece tornar sua situação quase permanente, o que cria
uma contradição difícil de lidar.

Em resumo, o texto explora como a condição dos imigrantes muitas vezes envolve uma
contradição entre o status teoricamente temporário e a realidade prática que pode ser
quase definitiva, e como essa ambiguidade é mantida por todos os envolvidos na
questão da imigração.
A PRESENÇA DOS IMIGRANTES
Independentemente dos sentimentos e opiniões que as pessoas tinham sobre os
imigrantes, todos concordavam que eles eram necessários, e até indispensáveis, para a
economia e a demografia da França. Como resultado, todos acabaram acreditando que
os imigrantes tinham um lugar duradouro na sociedade, mesmo que fosse um lugar na
parte inferior da hierarquia social.
Isso aconteceu porque, por um lado, as pessoas reconheciam a utilidade econômica e
social dos imigrantes, agradecendo verbalmente ou defendendo seus direitos. Por outro
lado, algumas pessoas os consideravam parasitas e viam sua presença como um custo
social elevado para a sociedade. No entanto, ao mesmo tempo, essas pessoas gostavam
de se autoafirmar como virtuosas, apoiando tradições políticas e sociais humanitárias,
liberais e igualitárias.
Portanto, a ideia da permanência e continuidade da presença dos imigrantes era aceita
por todos, e isso incluía os próprios imigrantes. Independentemente das atitudes
individuais em relação aos imigrantes, a sociedade em geral reconhecia a importância
deles, seja para a economia ou para manter uma imagem de virtude na sociedade.
Imagine um país onde a economia depende muito do trabalho de imigrantes. As pessoas
locais têm opiniões variadas sobre os imigrantes. Algumas acreditam que eles
contribuem significativamente para a economia e são necessários para manter o país
funcionando. Eles podem expressar gratidão verbalmente e até mesmo apoiar a melhoria
dos direitos dos imigrantes.
Por outro lado, há também pessoas que consideram os imigrantes como "parasitas" e
argumentam que eles representam um custo social elevado. No entanto, a sociedade
como um todo gosta de se ver como uma sociedade humanitária e igualitária, então,
mesmo que algumas pessoas critiquem os imigrantes, a sociedade, de modo geral,
deseja manter uma imagem de virtude e aceitação.
Os próprios imigrantes podem perceber essa ambiguidade. Eles podem se sentir como
se tivessem um lugar duradouro na sociedade, mas ao mesmo tempo podem enfrentar
discriminação e tratamento desigual. Essa situação reflete a complexidade das atitudes
em relação aos imigrantes, onde a importância econômica deles é reconhecida, mas
também há discordância sobre seu papel e estatuto social.

CUSTO SOCIAL DE UM IMIGRANTE


O "custo social elevado" mencionado no texto se refere às despesas associadas à
presença dos imigrantes na sociedade. Isso pode incluir gastos relacionados a serviços
públicos, como educação, saúde e assistência social, que podem ser necessários para
atender às necessidades dos imigrantes. Além disso, o custo social também pode se
referir a possíveis desafios econômicos e sociais que a sociedade local percebe, como a
competição por empregos ou recursos.
Algumas pessoas podem alegar que os imigrantes representam um fardo para a
sociedade devido a esses custos adicionais, o que pode levar a preocupações sobre o
impacto econômico e social da imigração. No entanto, é importante observar que as
opiniões sobre o "custo social" da imigração variam amplamente e são frequentemente
objeto de debate, com muitos argumentando que os benefícios econômicos e culturais
da imigração podem superar os custos percebidos.

REDEFINIÇÃO DO STATUS DE IMIGRANTE E REAVALIAÇÃO DA POLÍTICA


DE IMIGRAÇÃO

Em resumo, o texto discute como os imigrantes começaram a reivindicar mais do que


apenas direitos trabalhistas e, ao fazer isso, desafiaram a definição tradicional de
imigrantes. No entanto, as mudanças nas circunstâncias atuais levaram a uma
reavaliação dessa definição, tornando mais difícil a perpetuação da imigração como algo
provisório.

Imagine um grupo de imigrantes que se mudou para um país em busca de empregos


temporários. Originalmente, eles eram considerados trabalhadores temporários, mas
com o tempo, muitos deles começaram a estabelecer raízes nesse novo país. Eles
investiram em suas comunidades, construíram famílias e se tornaram parte integrante da
sociedade local. Alguns deles passaram a reivindicar direitos e reconhecimento não
apenas como trabalhadores temporários, mas como membros de pleno direito da
sociedade.

Essa mudança na atitude dos imigrantes pode criar um dilema para a sociedade de
acolhimento. Por um lado, a sociedade pode reconhecer os benefícios que os imigrantes
trouxeram, como contribuições para a economia e a diversidade cultural. Por outro lado,
pode haver preocupações sobre a capacidade da sociedade de acomodar completamente
esses imigrantes e conceder-lhes um status permanente.

A sociedade de acolhimento pode, então, começar a reavaliar sua política de imigração


e definir novamente os critérios para quem é considerado um imigrante temporário e
quem tem a possibilidade de se tornar um residente permanente. Isso pode ser
influenciado por mudanças nas condições econômicas, sociais e políticas do país de
destino, bem como pela pressão da opinião pública em relação à imigração.

CONTRADIÇÃO ENTRE O CONCEITO TRADICIONAL DE IMIGRAÇÃO


(TÉCNICA) E REALIDADE SOCIAL DA IMIGRAÇÃO

O texto está dizendo que a distância entre a ideia tradicional de imigração, que a vê
principalmente como uma questão econômica e técnica, e a realidade atual da imigração
se tornou insuportável. Isso aconteceu porque a realidade da imigração, com seus
crescentes custos sociais e culturais, entrou em conflito com a visão econômica da
imigração, principalmente defendida pelos empregadores.

Um exemplo disso pode ser observado em um país onde a imigração era originalmente
vista como uma forma de trazer trabalhadores estrangeiros para preencher lacunas de
mão de obra em setores específicos, como agricultura ou construção. No entanto, ao
longo do tempo, a imigração cresceu e se diversificou, criando desafios sociais,
culturais e econômicos mais complexos. Por exemplo, a chegada de imigrantes pode
criar demandas nos sistemas de saúde, educação e assistência social, aumentando os
custos sociais.

Isso levou a uma contradição entre a visão tradicional da imigração como uma solução
econômica e a realidade, que envolve questões mais amplas, como integração cultural e
custos sociais. Essa contradição se torna mais evidente durante períodos de crise
econômica, desemprego e dificuldades sociais, quando as questões relacionadas à
imigração se tornam mais complexas e polêmicas.

MOTIVAÇÕES DA IMIGRAÇÃO

O texto descreve os imigrantes como sendo como grãos de areia que foram arrancados
de suas origens pela ação de uma tempestade. Eles foram transplantados para longe,
onde encontraram oportunidades de emprego, semelhantes a "acidentes de terreno",
como fábricas que precisavam de sua força de trabalho. Juntos, esses imigrantes
formaram uma grande comunidade, como uma "imensa duna", que é o resultado da
migração em massa.

Além disso, o texto aponta que os imigrantes estão percebendo que a tempestade inicial
que os levou a migrar e o elemento que os manteve em sua jornada são, na verdade, a
mesma coisa: a economia capitalista. Essa economia os moveu de um campo econômico
(a agricultura tradicional) para outro (a indústria moderna), de um país para outro, de
um continente para outro e, por fim, de uma civilização para outra.

Em resumo, o texto compara os imigrantes a grãos de areia arrancados de suas origens


pela economia capitalista, que os impulsionou a migrar e formar comunidades em busca
de oportunidades de trabalho em locais diferentes

(RESUMO)
SAYAD, Abdelmalek. [1979] 1998. "O que é um imigrante", In Abdelmalek Sayad, A
imigração e os paradoxos da alteridade. São Paulo: Edusp, pp 45-72.

A imigração é um fenômeno complexo que envolve uma contradição fundamental. De


um lado, os imigrantes são muitas vezes vistos como trabalhadores temporários, cuja
presença está estritamente ligada à dimensão econômica. Por outro lado, a realidade da
imigração frequentemente revela a presença de custos sociais, culturais e econômicos
mais amplos, que desafiam essa visão puramente econômica.

Os imigrantes, ao buscar uma existência mais completa e não apenas direitos parciais
como trabalhadores, muitas vezes desafiam a definição tradicional de imigrantes. No
entanto, a sociedade de acolhimento, em momentos de crise econômica e desemprego,
pode sentir a necessidade de reafirmar a visão de imigrantes como trabalhadores
temporários. Isso pode levar a uma revisão das políticas de imigração e à definição
restrita do status de imigrante.

A "solicitude" demonstrada por alguns setores da sociedade em relação aos imigrantes


pode ser influenciada pelas necessidades econômicas do momento, mas também pode
ser usada para mascarar a natureza provisória e utilitária da presença dos imigrantes. Os
próprios imigrantes, com base em suas experiências históricas, sabem que os grandes
princípios proclamados, como igualdade e direitos, nem sempre refletem a realidade
prática.

Em última análise, a imigração é impulsionada pela economia capitalista e seus efeitos


de transferência de um campo econômico para outro, de um país para outro, de um
continente para outro e até de uma civilização para outra. Os imigrantes são como grãos
de areia arrancados de suas origens pela tempestade da economia, formando
comunidades em busca de oportunidades de trabalho em locais diversos.

Assim, a imigração é um fenômeno complexo que envolve não apenas questões


econômicas, mas também sociais, culturais e políticas, e a percepção e definição dos
imigrantes muitas vezes variam de acordo com as circunstâncias e os interesses do
momento.

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