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LISSANDRA BAGGIO

PATRICIA CARDOSO

PAULA DOS SANTOS

VALDIR GOULART

A REALIDADE DA IMIGRAÇÃO HAITIANA NA REGIÃO NOROESTE/RS - UMA

VISÃO PSI

Três de Maio

2017
A REALIDADE DA IMIGRAÇÃO HAITIANA NA REGIÃO NOROESTE/RS - UMA

VISÃO PSI

Projeto de Pesquisa apresentado ao Programa

de Incentivo à Pesquisa SETREM

Pesquisadora responsável: Ma. Lissandra Baggio

Acadêmicos de iniciação científica: PATRÍCIA B. CARDOSO, PAULA ROBERTA S.

dos SANTOS, VALDIR L. GOULART

Três de Maio

2017

Abreviaturas (SE TIVER)


CFP - Conselho Federal de Psicologia

RS – Rio grande do Sul

SERCEPS – Serviço Clínica Escola de Psicologia

SETREM – Sociedade Educacional de três de maio

SUAS - Sistema Único de Assistência Social

TCLE – Termo de Consentimento Livre Esclarecido

UBS – Unidades Básicas de Saúde

EUA- Estados Unidos da América

ONU - Organização das Nações Unidas

MINUSTAH - Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti

Sumário
Capítulo I.............................................................................................................................. 06

Introdução.............................................................................................................................. 06

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO HAITI....................................................................... 06

1.2 EDUCAÇÃO NO HAITI…….……............................................................................. 06

1.3 AJUDA HUMANITÁRIA...............................................................................................09

1.4FATORES DE VULNERABILIDADE E PSIQUE DO

IMIGRANTE……………….................................................................................................10

OBJETIVOS.......................................................................................................................... 16

Objetivo Geral....................................................................................................................... 16

Objetivos Específicos............................................................................................................. 16

Capítulo II.............................................................................................................................. 17

Método.................................................................................................................................... 17

2.1 Delineamento................................................................................................................... 18

2.2 Participantes.................................................................................................................... 18

2.2.1 Os critérios de inclusão................................................................................................ 18

2.2.2 Os critérios de exclusão................................................................................................ 19

2.3 Instrumentos e Procedimentos....................................................................................... 19

2.4 Critérios de Análise de Dados........................................................................................ 20

2.5 Questões Éticas................................................................................................................ 20

2.5.1 Riscos............................................................................................................................. 21

2.5.2 Benefícios....................................................................................................................... 21

CRONOGRAMA.................................................................................................................. 22
ORÇAMENTO..................................................................................................................... 23

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 24

ANEXOS................................................................................................................................ 27
Anexo I - Termo de Concordância da Instituição...............................................................

27

Anexo II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................................


29

APENDICE............................................................................................................................ 31
Anexo I: Entrevista semi-estruturada................................................................................. 31

Capítulo I

Introdução
O presente trabalho vem apresentar a realidade de uma população que vem crescendo

cada dia mais em nossa sociedade. Podemos observar a cada dia o quanto estamos cercados

de pessoas que vivem uma realidade muito diferente da nossa. Nas mídias um tema que vem

sendo muito tratado é a evasão de pessoas de seus países de origem para outros que

supostamente estariam mais desenvolvidos. Alguns de países que estão sendo assolados por

guerras, outros por crises financeiras e outras pessoas apenas em busca de serem mais

reconhecidos por suas capacidades, porém todos com uma coisa em comum o desejo de

melhores condições de vida. Assim, podemos observar o quanto essas pessoas que procuram

o nosso país estão se tornando um grupo cada dia maior.

Pensando dessa maneira, percebemos a necessidade de dar voz a essa população que

está se inserindo em nossa região, e como percebemos, na região em que vivemos a maior

parte dos imigrantes que encontramos são vindos do Haiti, um país que vive uma realidade

muito conturbada. Assim decidimos pesquisar mais sobre essas pessoas, como elas estão

vivendo, quantas são, porque escolheram nosso país, enfim, entender a sua realidade atual e

principalmente, entender quais são as principais consequências para a psique dessas pessoas,

analisando também a vulnerabilidade a que estão expostas e percebendo de que maneira essa

mudança tão grandiosa afeta a vida psicológica dos mesmos.

1.1 Contexto histórico do Haiti

Em 1492, Cristóvão Colombo e sua esquadra descobrem uma ilha, que inicialmente

batizam de Hispaniola. Colonizada pelos espanhóis, a ilha teve sua população nativa

dizimada por massacres, trabalhos forçados, tráfico de escravos e suicídios. Atualmente a ilha

Hispaniola comporta o Haiti e a República Dominicana.


Em 1697 a parte ocidental da ilha, que é o Haiti, foi concedida a França que em pouco

tempo transformou na colônia mais produtiva do Caribe.

“O Haiti funcionava como uma empresa agroexportadora, comandada e

explorada visando o desenvolvimento do capitalismo internacional de

acordo com o que Marx chama de acumulação primitiva do capital. Este

processo de acumulação empreendida pelos europeus financiou a revolução

industrial que viria séculos depois.” (ARAÚJO, 2015 p. 32)

Foram anos de revolta daquela população às condições que estavam sendo

submetidos, e semelhante ao que ocorreu no Brasil escravista com a formação de quilombos,

as comunidades de fugitivos iniciavam as revoltas. O poder dessas revoltas se tornou tão

grande que, em 1804 a França decidiu conceder a independência àquela colônia, com receio

que essas revoltas se espalhassem. E como uma forma de “vingança” a França, os Estados

Unidos, a Holanda e a Inglaterra uniram-se para impor ao recém independente país uma

multa de 150 milhões de francos em ouro, alegando que muitos franceses perderam suas

terras. Essa multa totalizada dez vezes a renda anual do país, o que fez com que o Haiti

fizesse empréstimos com a França para pagar a dívida, que foi quitada apenas em 1913, mais

de um século depois da independência.

O Haiti se tornou um grande produtor de bens primários, sendo explorado pelos países

mais bem sucedidos, onde não havia produção daquela matéria prima. No entanto o país não

se voltava para a subsistência de seus cidadãos e para seu próprio consumo necessitava

importar os mesmos produtos que exportava. (ARAÚJO, 2015)

Sendo um terreno fértil e uma potência economicamente fragilizada, os Estados

Unidos encontraram no seu vizinho uma ótima oportunidade de ocupação, assim, de 1915 a

1934 o Haiti foi ocupado por tropas norte-americanas, com a justificativa de ajuda para

estabilizar a política do país.


“Durante o período de ocupação o capital estadunidense foi introduzido no

Haiti através de corporações voltadas à produção de bens primários em

larga escala, dentre eles banana, cana-de-açúcar, sisal e borracha.”

(ARAÚJO, 2015, p. 34)

Nesse período de ocupação norte-americana pode-se observar uma grande mudança

nos cenários mundiais devido a Primeira Guerra Mundial e a crise de 1929. Países da

América Latina que obtinham algumas reservas de capital, aproveitaram esse cenário para

iniciar o período de industrialização, como o Brasil, México, Chile e Argentina. O Haiti, no

entanto, estava com sua economia voltada para os interesses dos Estados Unidos, produzindo

a matéria prima e comprando o produto industrializado excedente. Em 1934, mesmo com a

saída das tropas norte-americanas, o país ainda era refém dos interesses dos mesmos.

Nos anos 60 com o avanço socialista, a potência norte-americana passou a se sentir

ameaçada e começou a intervir mais diretamente na política dos países da américa latina que

estavam em seu domínio. Apoiando explicitamente regimes ditatoriais. No Haiti a ditadura se

deu com a família Duvalier, onde em 1957 assumiu o pai, François Duvalier, que após eleito

dissolveu o congresso e se autoproclamou presidente vitalício. Após seu falecimento em

1971, assumiu seu filho, Jean-Claude Duvalier, que governou até 1986, quando foi deposto.

(ARAÚJO, 2015)

Segundo Louidor, 2013 citado por Araújo, 2015

“As quase três décadas da dinastia Duvalier foram marcadas por violência,

mortes e corrupção. Os Tontons Macoute eram os oficiais da polícia

Douvaleriana, encarregados de vigiar e punir violentamente os opositores

do governo. A família Duvalier enriqueceu-se à custa de desvios da receita

do país e de rendas provenientes de máfias estadunidenses. O regime de


Jean-Claude foi caracterizado, além disso, pela liberalização econômica do

país através da instalação de indústrias manufatureiras norte-americanas,

principalmente têxteis e de vestuário (LOUIDOR, 2013).” (ARAÚJO,

2015, p. 36)

Assim um novo cenário se desenhou no Haiti, que culmina na situação atual. Antes do

período ditatorial muitas famílias já haviam saído do interior pois perdiam suas terras para as

grandes empresas norte-americanas, desencorajando a produção agrícola de subsistência; e

depois com o apoio governamental à industrialização, houve um grande êxodo rural, fazendo

com que a população se concentrasse nas áreas urbanas para servir de mão-de-obra, porém os

empregos não eram suficientes para dar conta do número de trabalhadores existente, gerando

muitos desempregados.

Nos últimos 20 anos as políticas públicas do país vêm sendo elaboradas por

instituições financeiras internacionais, que com a ajuda de diplomatas e representantes

populares do país vem pensando maneiras de auxiliar o povo. No entanto algumas práticas

trazem consequências problemáticas fazendo com que o país se torne cada vez mais

dependente dessas instituições, privatizando empresas e abrindo o mercado cada vez mais; o

cenário conflituoso abre espaço para muitas missões de paz, que mais causam escândalos e

tumultos do que ajudam, por exemplo a população denuncia estupros e venda de produtos

destinados a doação fazendo com que a população mundial questione essas “missões de paz”

que muitas vezes trazem mais terror a população.

Em 2010, o mundo todo passou a tomar conhecimento do Haiti por meio de um

terrível terremoto de 7,3 graus de magnitude destruiu a pouca estrutura que havia no país.

Foram cerca de 300 mil mortos e 250 mil feridos. Porém o que o mundo não tem

conhecimento é de que tudo só tomou a proporção catastrófica que observamos por conta do

cenário deplorável já existente no país.


“O governo não foi capaz de prever, nem de lidar e nem de se reconstruir

das destruições causadas pelo terremoto. O país, que já vivia em uma

situação de caos social e econômico, teve sua situação ainda mais agravada

com a falência da máquina pública após o desastre. Em outubro de 2010

uma epidemia de cólera vitimou fatalmente mais de 3 mil pessoas, não

restando outra alternativa senão a migração por parte de muitos haitianos.”

(ARAÚJO, 2015, p. 42)

1.2 Educação no Haiti

Diante de uma história guiada pela dificuldade, pobreza e falta de estrutura, a

educação no Haiti é um reflexo disso. Existem vários fatores que contribuem para o fracasso

do sistema educativo do Haiti, pois, não há espaço para a escolarização em um lugar onde ter

o básico é um privilégio.

Tal cenário também é uma produção de décadas de (des)governos que não

investiram no país, como o exemplo da ditadura dos Duvalier que

terceirizara a educação, de forma que o país chegou a apresentar (Censo de

2010) que somente 10% das escolas de todo o país eram públicas. Uma

herança nada positiva, deixada pelo regime ditatorial: A ditadura de

Duvalier deixou uma herança de privatização educacional, brutal evidência

de sua persistente violação dos direitos humanos, da militarização, do

Estado e da expropriação quase ilimitada de riqueza Nacional. (Gentili,

2014 citado em Tisatto, 2016, p. 57).

Como visto o contexto educativo no Haiti, assim como em outras áreas vivencia a

falta de condições básicas, o que o faz ficar cada vez mais longe de sua total

“independência”. Ainda que diga na declaração dos direitos humanos, que todo o cidadão tem
direito ao acesso de diversos serviços e possui muitas garantias, porém isso não acontece

ainda mais em um país onde a educação trabalha numa perspectiva de não democratização de

seus serviços, e onde a diferença entre classes prevalecem. (TISATTO, 2016)

O sistema educativo haitiano é organizado por ciclos, começando pelo ciclo básico

pré-escolar; seguido de um ciclo de nove anos, que é chamado de ensino fundamental e,

depois o ciclo secundário de três anos, que corresponde ao ensino médio no Brasil. Existe

também o ensino técnico, que acolhe os alunos após o sexto ano do ensino fundamental, e o

ensino profissional cursado pelos alunos de oitava série, antes do ensino médio. No ensino

superior ingressam os alunos que concluem o ensino médio.

A única universidade pública do país é a Universidade do Estado de Haiti (UEH),

onde os alunos são preparados para as diferentes carreiras de engenharia, medicina,

agronomia, escola normais superiores, etc. Existem outras universidades, porém estas são

particulares. Cabe salientar que a maioria das escolas e universidades, tanto as públicas, como

as privadas funcionam em estabelecimentos precários, não têm, muitas vezes, bibliotecas,

laboratórios, tampouco uma estrutura administrativa. Por causa do baixo nível acadêmico,

profissional do corpo docente e do sistema educativo haitiano, este se encontra quase em

último lugar no ranking mundial em termo de eficiência. O acesso à educação no Haiti é

marcado por adversidades e a precariedade que existia se agravou após o terremoto que

ocorreu em 2010. A estrutura educacional do país que teve seu sistema de ensino 90%

terceirizado agora está abandonada e ligada ainda a uma série de outros problemas.

(PROSPERE ET AL. 2016)

Há uma desproporção entre as redes públicas e privadas de ensino,

desproporção esta que consideramos muito grande e desigual. Embora a

Constituição de 1987 no art. 32.3 destaque que o ensino fundamental em

todo o país deva ser gratuito, tal ocorrência encontra-se somente no


documento oficial, ou como se costuma afirmar, está apenas “no papel”. O

Estado Haitiano nunca se preocupou em investir massivamente no setor

educativo. Dessa forma, é importante analisar o problema educativo no

Haiti na sua base. (Prospere et al. 2016)

A situação do país vem se agravando ainda mais depois do terremoto que ocorreu no

país no ano de 2010 próximo a capital Porto Príncipe. O sistema educacional que já vinha

tendo muitos desafios, mesmo antes da tragédia, com escolas mal localizadas e com

estruturas precárias, nos dias de hoje estão ainda pior. (TISATTO, 2016).

Direitos como a alimentação, à educação que nunca de fato se efetivam,

também nunca estiveram tão longe da realidade haitiana. Embora com a

ajuda do exterior, de outras nações, passados anos, de ocupação

intervencionista, o cenário não apresentou significativos avanços, e a

população não acessa direitos humanos básicos para a sobrevivência

garantidos através da declaração universal dos direitos humanos. (Tisatto,

2016, p. 58)

1.3 Ajuda humanitária ao Haiti

O termo "ajuda humanitária" tem sido usado para se referir a uma ampla gama de

atividades internacionais, incluindo o amparo às vítimas de conflitos ou desastres ambientais,

bem como uma intervenção armada para restaurar a democracia. Neste sentido, a

enciclopédia livre caracteriza o conceito da seguinte forma:

A ajuda humanitária é a assistência material, logística, moral, legal e até

mesmo espiritual prestada para fins de conforto social humanitário. A ajuda

humanitária vem em resposta a calamidades eventuais ou crônicas,

normalmente motivada por crises humanitárias, incluindo desastres naturais


e desastres provocados pelo homem. O principal objetivo da ajuda

humanitária é aliviar o sofrimento de populações atingidas,

consequentemente, mantendo a dignidade humana, salvando vidas e

minimizando os desastres secundários. Por conseguinte, pode ser

distinguida da ajuda ao desenvolvimento, que procura abordar os fatores

subjacentes socioeconômicos que pode ter levado a uma crise ou de

emergência (Wikipédia).

De acordo com Artiaga (2012), a instabilidade política, econômica e social haitiana

atingiu o seu ponto mais alto no ano de 2004, dando existência a uma violência difusa,

culminando no mesmo ano, com a renúncia do atual presidente. Sendo que, de imediato, o

sucessor solicitou ajuda internacional para tentar amenizar a crise e restabelecer a paz e a

segurança da população. Conforme dados do Ministério da Defesa do Brasil, a ONU atendeu

ao pedido do presidente interino, criando em fevereiro de 2004 a Missão das Nações Unidas

para Estabilização do Haiti. O Brasil foi escolhido para comandar as forças de paz, com a

participação de tropas de 15 países.

Inicialmente o objetivo prioritário do Brasil era estabilizar o país, garantir que fossem

assegurados os direitos humanos do povo, pacificar desarmar grupos guerrilheiros e rebeldes,

fornecer alimentos para a população e promover eleições livres. Conforme salienta Brandão

(2015), após o terremoto de 2010 essa missão ampliou a precedência, passando a trabalhar na

recuperação da infraestrutura do país, recolhendo o lixo e entulhos, construindo hospitais,

escolas, estradas, poços artesianos.

Morais, Andrade e Mattos (2013) em seu estudo sobre a imigração haitiana para o

Brasil, afirmam que o abalo sísmico que ocorreu em janeiro de 2010 causou uma grande

destruição no sistema habitacional, rodoviário e aeroportuário. Os autores ainda tornam

evidente que além dos danos materiais houve milhares de haitianos que perderam suas vidas e
mais de 10% da população ficou desabrigada em consequência do tremor. Consequentemente

o país mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo, segundo estudo publicado

na revista Exame, ficou destroçado, com um sistema político desorganizado e a população

vulnerável e desesperançosa, em total dependência de ajuda humanitária. Esse quadro faz

com que grande parte da população haitiana deixe sua terra mãe, emigrando para territórios

distantes, dentre eles, o Canadá, França, Brasil.

Foi logo após o terremoto que o Brasil estreitou as relações com o Haiti, e com ação

junto à MINUSTAH¹ esteve presente no Haiti no momento de mais fragilidade vivenciada

pela população haitiana. Nesse dado momento, o governo brasileiro assumiu o

posicionamento de acolher aos haitianos que estivessem com a intenção de emigrar em busca

de novas oportunidades. No impasse entre a nomenclatura mais adequada, em meio a

refugiado e imigrante, a saída encontrada pelo Brasil foi realizar a criação do visto

humanitário, que por período determinado, concedia autorização para residência no território

brasileiro aos haitianos, vítimas do terremoto (FERNANDES, 2016).

Soares (2012) dá a conhecer um ponto importante sobre a imigração quando traz que

o Brasil é signatário da ONU que trata de refugiados, e a migração haitiana para o país é uma

questão de política e de relações internacionais, tanto com o Haiti quanto com a França, que

foi a colonizadora daquele país. Com isso, o Brasil manifesta sua solidariedade permitindo

que estes imigrantes residam no país, e possam trabalhar pelo sustento de suas famílias,

reconstruindo a vida após a tragédia do terremoto. Para tal, é fundamental que as empresas e

todos aqueles que possam oferecer vagas de trabalho, estejam abertos a acolher estas pessoas

e a ajudá-las na capacitação, principalmente a introdução à língua portuguesa. A Ajuda

Humanitária acontece por meio do Estado, da Igreja e de pessoas da Sociedade Civil, como

voluntários e doadores de objetos e alimentos.


A chegada ao Brasil era feita principalmente pelos estados do Acre e Amazonas, até o

mês de dezembro de 2015. Os imigrantes ao chegarem ao Acre, eram acolhidos por um

complexo de serviços do Estado, estruturado em parceria pelos governos estadual e federal.

Segundo Mamed (2016), o local que serviu de acolhimento aos estrangeiros, era uma

propriedade rural, no qual essa, possui piscina, campo de futebol, quadra de esportes, parque,

salões grandes, além de mais de 20 apartamentos. Então, os acolhidos eram acomodados,

recebendo as principais refeições diárias e orientações sobre o procedimento de regularização

da situação, bem como a retirada da documentação mínima para transitar e trabalhar no

Brasil. Já no Estado do Amazonas, a ajuda humanitária, “o amparo”, ficou por conta da

sociedade civil que, por meio da Pastoral do Migrante, gerenciou a questão, acolhendo-os,

oferecendo um espaço para comer, dormir, aprender o português, acertar a documentação e

buscar trabalho.

1.4 O que é vulnerabilidade e como ela afeta a psique do imigrante.

Os imigrantes haitianos que se encontram no Brasil vieram num processo migratório

que teve início em 2010, por conta de um terremoto que devastou o país deixando-os em

situação ainda mais vulnerável, este processo migratório tem crescido até formar um fluxo
que vem se transformando em permanente. Diferente do turismo, por exemplo, trata-se do

deslocamento feito por razões de situações de vulnerabilidade antes da migração.

“Ser vulnerável" significa estar suscetível a, ou em perigo de sofrer danos.

Além da vulnerabilidade básica, intrínseca à existência humana, comum a

todos os seres humanos, há pessoas que são afetadas por circunstâncias

desfavoráveis como a pobreza, falta de educação, difíceis condições

geográficas, enfermidades crônicas ou endêmicas, falta de acesso às

instituições de cidadania ou outro infortúnio que os tornam especialmente

vulneráveis.” (Ribeiro & Zoboli, 2007,p.5)

Atualmente, o que faz do Haiti um país de população vulnerável são inúmeras

problemáticas, com seu sistema político desorganizado, a economia despedaçada e a

população desnutrida, sofrendo com a rápida disseminação de doenças e grandes catástrofes

naturais, é fácil entender o porquê desta migração para outros países.

A vulnerabilidade de uma pessoa, ou de um grupo social específico, resulta

de um conjunto de fatores e aspectos não somente individuais, mas também

macrossociais, contextuais, relacionais, políticos e organizacionais que

determinam tanto o nível de susceptibilidade dos indivíduos a riscos como

sua capacidade para o enfrentamento desses e para a tomada de decisão

sobre sua vida e saúde. (Ribeiro, Zoboli. 2007, p.5)

Percebe-se que a vulnerabilidade vivida por essas pessoas podem ser prejudiciais ao

seu psiquismo, fazendo com que sejam mais suscetíveis a doenças mentais, físicas e

dificuldades cognitivas. É, portanto, em busca de melhores condições de vida e de saúde que

muitos haitianos saem do seu país de origem e entram como imigrantes em diversos países,

dispostos a enfrentar novos desafios em um lugar desconhecido. (RIBEIRO & ZOBOLI.

2007)
Após a chegada ao país desejado, os imigrantes entram em outro contexto, no qual

estão mais uma vez expostos a diversos riscos, problemas e dificuldades, assim como a

população daquele país, porém, os imigrantes já se encontram abaladas por conta da

vulnerabilidade em que viviam no seu país de origem e agora por conta da adaptação em um

local diferente. Entendemos que grandes podem ser os riscos deste deslocamento na saúde

física e mental, na estrutura familiar, nos processos de adaptação e transformação identitária

no meio de um novo contexto sociocultural e linguístico para estes imigrantes.

Segundo Lussi, 2009, a migração como um drama existencial, ocorre por causa do

luto não elaborado por abandonar a própria terra e das fragilidades psicológicas causadas

pelas perdas em termos de relações, referenciais de valores e de sentido típicos de processos

migratórios, ela traz que este processo muitas vezes pode causar desequilíbrio mental e

formas depressivas.

Apesar de toda a poesia e todos os argumentos em defesa da liberdade e do

direito de emigrar, da grandeza simbólica e da potencialidade real que o ato

de deixar sua terra em busca de sonhos e conquistas para uma vida melhor

no exterior traz consigo, o ato de migrar é também um drama, um luto e até

um trauma existencial. (Lussi, 2009, p. 5)

Segundo Lussi, 2009, outro fator de vulnerabilidade no processo de migração é o

desenraizamento cultural.

Estreitamente ligado, mas ao mesmo tempo distinto do conflito existencial,

o desenraizamento cultural é normalmente indicado pela expressão

“estresse de transculturação”. Trata-se dos conflitos internos e, sobretudo,

interpessoais, que surgem a causa da diferença cultural entre o quadro de

referência do país de origem dos/das migrantes e o dos interlocutores com

os quais a pessoa encontra e entra em contato no país de destino. (idem)


Os valores culturais ditos acima são basicamente, valores religiosos, familiares,

morais, etc. Portanto no desenraizamento ocorrem choques de visões e valores, que podem

gerar conflitos internos e até mal estar, mas não seria, normalmente, expressão de

contraposição, rejeição ou negação do ‘outro’, mas sim um estranhamento por conta da

diferença cultural, que às vezes, é tão grande que podem prejudicar severamente as

possibilidades de integração no país de migração.

Mais do que todos os conflitos relacionados ao desenraizamento cultural, a

principal causa de vulnerabilidade é o esforço constante e prolongado no

tempo de reconstrução indenitária que o processo migratório comporta, se a

pessoa quer ter sucesso em seu projeto. A rejeição de tal reelaboração é por

si mesma uma forma de perda irreparável no percurso e premissa para a

falência de qualquer projeto migratório. Neste processo, talvez mais do que

qualquer outro, os conflitos do processo migratório revelam sua grande

potencialidade por forjar identidades novas e renovadoras, complexas,

robustas e capazes de toda a flexibilidade que o mundo desafiador da era da

globalização exige para quem quer vencer, passando pelos riscos que a

migração impõe aos sujeitos que passam por ela. (Lussi, 2009, p. 7)

Outro problema que acarreta a vulnerabilidade, é que muitos moradores veem a

chegada desses migrantes como algo ruim para seu país, tornando ainda mais difícil a

convivência intercultural.

Considerados como causa dos problemas, mais do que ocasião para a

imersão dos mesmos, os migrantes são percebidos como culpados e como

tais são tratados pelos discursos midiáticos e políticos, especialmente em

alguns países como Itália e França, e se tornam até mesmo critério para a

formatação de leis anti-imigração, como o caso da Diretiva do Retorno,


aprovada pela União Europeia em meados de 2008. A vitimização imposta

facilmente se torna vitimização auto percebida e até mesmo internalizada; e,

portanto, adotada pelos sujeitos interessados, que passam a viver em estado

constante de medo de represálias, de agressão e até mesmo de expulsão, no

caso dos que vivem em situação irregular, a qual é a principal causa de

vulnerabilidades entre migrantes internacionais. (Lussi, 2009, p. 8)

1.2 Objetivos

Objetivo geral

Investigar o processo de imigração e seus impactos, quando vinculada a uma situação

de vulnerabilidade social.

1.2.1 Objetivos específicos:


a) Investigar os aspectos culturais, psíquicos e sociais que estão enleado ao processo de

imigração.

b) Conhecer a realidade dos imigrantes haitianos na região noroeste do Rio Grande do

Sul.

c) Conhecer a organização do Estado brasileiro para receber imigrantes em situação de

vulnerabilidade.

d) Investigar sobre vulnerabilidade social.

CAPÍTULO II

MÉTODO

2.1 Delineamento

O presente estudo terá, como abordagem e procedimento, um caráter qualitativo

exploratório do tipo pesquisa-ação.

De acordo com Gil, 2002:

(...) estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade

com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir

hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o

aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é,

portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais

variados aspectos relativos ao fato estudado. (Gil, 2002, p. 41)

Serão realizadas entrevistas e questionários como instrumento de coleta de dados,

bem como um diário de bordo e uma pesquisa bibliográfica assistemática,

2.2 Participantes
Participarão desta pesquisa 60 imigrantes haitianos residentes na cidade de Santa

Rosa/RS que frequentam a comunidade religiosa da Igreja Batista Filadélfia.

Os critério de inclusão da amostra serão ser imigrante haitiano, estar em situação de

vulnerabilidade social e que vieram estabelecer residência na região noroeste do Rio Grande

do Sul.

Como critério de exclusão será não estar residindo na região noroeste.

2.3 Instrumentos e procedimentos

Em relação aos instrumentos que serão utilizados, foi elaborado um questionário sócio

demográfico (ANEXO I), para se conhecer a realidade social do grupo de imigrantes

haitianos e uma entrevista semi estruturada (ANEXO II) abordando a temática da imigração e

seus impactos na vida dos sujeitos.

Em relação aos procedimentos, inicialmente se fará contato com uma organização

religiosa da referida cidade, visto que, essa tem acolhido os estrangeiros, e estabelecido

vínculo com esses imigrantes. Esse primeiro contato será para a apresentação dos objetivos

da pesquisa e solicitar que o Pastor possibilite o contato entre os pesquisadores e os

imigrantes. No caso do aceite será solicitada assinatura do Termo de Concordância da

Instituição religiosa (ANEXO III). Em seguida serão feitas as combinações para as primeiras

entrevistas com os líderes da comunidade haitiana. A coleta de dados será através de

entrevistas/questionários serão realizados em local a ser combinado com essa comunidade.

Será apresentado aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO

IV), garantindo todos os cuidados éticos concernentes à proteção dos direitos, bem-estar e

dignidade. O Termo será entregue ao participante e será solicitado que ele leia, juntamente

com o pesquisador e assine, sendo duas vias, uma via ficará de posse do pesquisador e a outra
com o participante. Será utilizado gravador de áudio, para posterior transcrição do material e

uma filmadora para registro de imagens.

2.4 Critério para análise dos dados

2.5 Questões éticas

2.5.1 Riscos

2.5.2 Benefícos

Cronograma

març abril maio


o

Período

Atividade

Revisão de X X X

literatura

Elaboração do X X

Projeto

Contato com a X
instituição
Orçamento

Previsão de despesas pessoais e materiais (de consumo e permanente) para a execução

das atividades.

Materiais Descrição
Quantidade

5. Referências

Ajuda humanitária
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ajuda_humanit%C3%A1ria

O BRASIL E A INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA NO HAITI, MINUSTAH (2004-

2011) Rodolfo Raja Gabaglia Artiaga

http://www.ie.ufrj.br/images/posgraducao/pepi/dissertacoes/

PEPI_DISSERTAO_RODOLFO_RAJA_GABAGLIA_ARTIAGA.pdf

Ministério da Defesa do Brasil

https://www.youtube.com/watch?v=JZld9ezsWDc

http://www.defesa.gov.br/relacoes-internacionais/missoes-de-paz/o-brasil-na-

minustah-haiti

http://exame.abril.com.br/mundo/conheca-melhor-o-haiti-pais-mais-pobre-das-

americas/

http://seer.ufrgs.br/ConjunturaAustral/article/view/35798

http://www.cefep.org.br/ajuda-humanitaria-brasileira-abriga-imigrantes-haitianos

http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/ruris/article/viewFile/2636/2047

http://www.iesb.br/Cms_Data/Contents/Portal/Media/arquivos/TCC-Vers-o-Final-

TCC-Fernanda-N-brega-1-.pdf

Marinha do Brasil

https://www.marinha.mil.br/cgcfn/?q=minustah
ANEXO I

Questionário para os líderes da comunidade

Nome:
Idade:
Escolaridade:

Pensando o individual:
A quanto tempo está no país?
Qual a principal razão que o levou a sair do seu país de origem?
Por que escolheu o Brasil?
Qual era a sua situação profissional no país de origem?
Qual a sua situação profissional nesse momento? Em que profissão atua?
Quais eram as suas expectativas?
Alguém o tem ajudado desde que chegou ao Brasil? Quem? Como?
Quais as principais dificuldades na adaptação?
Pra você é importante manter contato com o seu país de origem? Por que? Como?
Participa de alguma atividade social ou comunitária no Brasil?
O quanto de seus direitos legais você tem conhecimento quanto na sua situação de
imigrante?

Pensando o coletivo:
Como você se sente sendo um dos representantes da sua comunidade no Brasil?
Vocês possuem alguma forma de auxílio em grupo aos sujeitos que vão chegando?
Há pessoas da sua comunidade atual que você já conhecia no seu país de origem ou se
conhecem apenas quando chegam, compartilhando sua situação de imigrante?
Pensando sua vida em comunidade hoje, considera melhor, pior ou igual a que você
possuía no seu país de origem?
Como foi o acolhimento a vocês no momento em que chegaram ao Brasil? E mais
especificamente a cidade de Santa Rosa?
O que lhes fez escolherem a cidade de Santa Rosa?

Questionário para o Pr. Fabio

Como vocês receberam essas pessoas em sua comunidade?


Em que momento perceberam que eles necessitavam de um auxílio?
Como você percebe a situação deles aqui na cidade de Santa Rosa?
Quais as ações que vocês, como comunidade, promovem para auxiliar essa população?
Qual a sua visão como cidadão, ante a situação de migração que eles vivem?
Que política pública você considera necessária para atender a essas pessoas?
Como você vê o acolhimento dessas pessoas no âmbito social em geral (cidade)?

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