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Noções Fundamentais de Direito

Meios de tutela jurídica: justiça pública e justiça privada


Consoante a qualidade do seu agente protetor, a proteção coativa ou a tutela dos
direitos pode ser:

▪ Justiça Pública, "heterotutela" ou tutela pública do direito – a garantia direta


opera pela força pública do Estado, através dos tribunais, a isso solicitados por
ato de um interessado (demanda), que dá origem a um processo, no exercício
do direito de ação (justiça pública)
Regra (art.1.º, 1.ª parte, CPC)

▪ Justiça Privada, "autotutela" ou tutela privada do direito também designada


por autodefesa, autotutela, “justiça pelas próprias mãos” – a garantia opera
por ação do próprio titular do direito ameaçado, ofendido ou violado que reage
por sua força e autoridade contra tal ameaça, ofensa ou violação (autodefesa,
vindicta privata)
Exceção (art.1.º, 2.ª parte, CPC)

Justiça Privada, Autotutela ou Tutela Privada do Direito (cfr. art. 1º, 2ª


parte, do CPC)
a) Ação direta (art. 336.º do CC)
OBJETIVO: Evitar a inutilização prática do direito do próprio sujeito.
A ação direta é legítima quando ocorrerem os seguintes pressupostos:
1. Se destine a realizar ou assegurar o próprio direito;
2. Seja impossível recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais;
3. Seja indispensável para evitar a inutilização prática desse direito;
4. O agente não pode exceder o necessário para evitar o prejuízo, ou seja, deve
haver racionalidade de meios;
5. Não pode sacrificar interesses superiores aos que o agente visa assegurar ou
realizar.
Exemplo: Casado, legítimo, 1 filho
Para segurar o meu direito de ficar com o meu filho para não ir com ele para o
estrangeiro.
Usado a ação direta  Não deixar sair de casa não usando a força excessiva.
Se existe um incêndio no prédio do lado, se nos baterem à porta um bombeiro a pedir
para passar. Temos de o deixar passar para um bem maior.
b) Legítima defesa (art. 337.º do CC)
OBJETIVO: Evitar a agressão atual e ilícita de um direito do agente ou terceiros.
A defesa é legítima quando concorrem os seguintes pressupostos:
1. Agressão ilegal, injusta ou ilícita - é a ilegalidade desta que justifica que o
agredido, defendendo-se, agrida por sua vez, com o fim de obstar a que o mal
se consume (EXEMPLO: Se alguém está-me a bater não pode porque é ilegal);
2. Em execução ou iminente/atualidade - se é agressão passada, não se justifica a
reação; se é futura, poderá recorrer-se aos meios coercitivos; não há agressão
apenas nos casos em que o agente ameaça de qualquer forma a integridade
física do ofendido;
3. Contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro - a agressão pode-se
dirigir contra a pessoa ou o património do defendente ou de terceiro;
4. Impossível recorrer à força pública - só é admitida quando não for possível
recorrer à autoridade pública;
5. Existir racionalidade dos meios empregues - o prejuízo causado pelo ato não
deve ser manifestamente superior ao que resultar da agressão

C
A B

Premissa do Direito Natural  Logo defendemos com os nossos próprios meios.

c) Erro acerca dos respetivos pressupostos (art. 338.º do CC)

d) Estado de necessidade (art. 339.º do CC)


OBJETIVO: Afastar o perigo de um dano manifestamente superior.

▪ Caraterística do estado de necessidade é a reação sobre a esfera jurídica de


outrem por quem está ameaçado por um perigo que não resulta de agressão
alheia. Com isso se distingue da legítima defesa, que é necessariamente a reação
contra a agressão alheia, atual e iminente. EXEMPLO: Para evitar que uma criança
seja morta, destrói-se uma montra.
▪ O estado de necessidade difere da ação direta porque esta visa a conservação
prática de um direito, enquanto naquele se procura evitar a consumação ou
ampliação de um dano.

e) Consentimento do lesado (art. 340.º do CC) Exemplos: Quando cortamos o cabelo;


Eutanásia.
f) Direito de resistência (art. 21.º da CRP)
g) Defesa da posse (art. 1277.º do CC) Exemplo: 2 hipóteses: ir ao tribunal ou recorrer
a uma ação.
h) Defesa da propriedade (art. 1314.º do CC)
i) Direitos reais (art. 1315.º do CC) Exemplo: Podemos usar a ação direta de defesa da
propriedade e quando se usufrui uma casa ou terreno.
j) Tribunais arbitrais (art. 209.º, n.º2, da CRP)
l) Segurança Privada

Fontes do direito
Sentidos da expressão “fonte do direito”

▪ Sentido filosófico – é empregue como significando o fundamento da


obrigatoriedade das normas jurídicas.
▪ Sentido sociológico – atende ao fator que determinou o aparecimento da
norma e condicionou o seu conteúdo.
▪ Sentido político ou orgânico – traduz os órgãos encarregados de emanar ou
produzir as normas jurídicas.
▪ Sentido instrumental – significa a sede material, o texto ou diploma legislativo
que contem normas jurídicas.
▪ Sentido técnico-jurídico ou formal – fontes do direito são os modos de
formação e de revelação das normas jurídicas.
Tipos de fontes de direito
Teoria clássica / Fontes clássicas

▪ Lei
▪ Costume
▪ Jurisprudência
▪ Doutrina

Teorias críticas às clássicas /Fontes críticas

▪ Guerra / revoluções
▪ Tratados Internacionais
▪ Princípios Gerais do Direito
▪ Regulamentos administrativos
▪ Proxys administrativas
▪ Convenções coletivas de Trabalho (C.C.T.)

Lei
 É a norma jurídica decidida e imposta por uma autoridade com poder para o
fazer na sociedade política, constituindo, desse modo, uma norma jurídica de
criação deliberada.
DIÁRIO DA REPÚBLICA – ISÉRIE-A

Norma jurídica ≠ artigo jurídico


Norma jurídica: Aquilo que determina um comportamento, conduta, ação; regra.
Artigo jurídico: Divisão ou subdivisão numerada que compõe um documento, uma
constituição, uma lei etc: uma Constituição pode possuir muitos artigos. Dentro de um
artigo há norma.
Costume
 Traduz-se na norma jurídica criada através da prática repetida e habitual de
uma conduta, quando chega a ser encarada como obrigatória pela
generalidade dos seus membros.

Jurisprudência
 É o conjunto das orientações que, em matéria de determinação e aplicação da
lei, decorrem da atividade prática de aplicação do direito pelos órgãos da
sociedade com competência para o efeito.

Jurisprudência e Doutrina (Fontes indiretas)  Estas desvendam a existência ou o


conteúdo de direito pré-existente, mas cujo conteúdo ou a existência são ignorados
pelo público.

Doutrina
 É a atividade de estudo teórico ou dogmático do direito reveladora de normas
jurídicas.

Lei: aspeto estático


V. art. 1.º, n.º1, do CC
A expressão lei pode entendida com vários sentidos, nomeadamente (SENTIDOS DA
LEI):

▪ Em sentido moral, a expressão lei é entendida como o conjunto dos princípios


que regem todos os seres humanos;
▪ Em sentido latíssimo, a expressão lei identifica-se com o Direito, ou seja, é toda
e qualquer regra jurídica;
▪ Em sentido lato, a expressão lei é entendida como norma jurídica criada de
certa forma, nomeadamente por decisão e imposição de uma autoridade com
poder para o efeito, por oposição ao costume;
▪ Em sentido intermédio, a expressão lei é entendida enquanto oposta a
regulamentos;
▪ Em sentido estrito, reconduz-se apenas às leis emanadas da Assembleia da
República por oposição aos decretos-leis emanados do Governo.

O que caracteriza a lei como fonte de Direito Positivo?


1. Origem: a lei deriva direta e unilateralmente – é um ato jurídico unilateral – do
Estado, a sua criação, emanação dos órgãos estatais / poder legislativo
2. Fim: destina-se a produzir Direito; é uma fonte voluntária, consciente, refletida;
é um ato intencionalmente dirigido a esse objetivo
3. Forma escrita
4. Forma solene

3 Definições de lei, segundo a Doutrina:


“Lei é um ato de Estado tendente à criação de direito”, segundo Galvão Telles
“Lei é a forma que reveste a norma jurídica quando estabelecida e decretada de uma
maneira oficial e solene pela autoridade de um órgão expressamente competente para
esse efeito”. (definição mais completa), segundo Cabral de Moncada
“Lei é um ato unilateral do Estado ou de uma região autónoma que de forma escrita e
solene cria, modifica ou distingue normas jurídicas com uma posição hierárquica
imediatamente abaixo da Constituição”, segundo Freitas de Amaral

NOTA: Quando pede para dizermos o que é uma lei? É para fazermos uma resposta
baseadas nas 3 doutrinas, de modo a formar a minha definição/doutrina.

Lei material e lei formal


Lei material é aquela que possui um conteúdo normativo (isto é, que contém uma ou
mais normas gerais e abstratas), seja qual for a sua forma externa.
Lei formal é a que se reveste das formas destinadas por excelência ao exercício da
função legislativa do Estado, ou seja, a atividade exercida pelos órgãos aos quais a
Constituição atribui o poder legislativo, que são três:
1. Assembleia da República  Leis
2. Governo  Decretos-leis
3. Assembleias Legislativas Regionais  Decretos Legislativos Regionais
V. art. 112.º CRP
Hierarquia das Leis

CRP (Constituição da República Portuguesa)  É a lei fundamental do Estado


que estabelece os princípios basilares da organização política e do ordenamento
jurídico nacional e bem assim os direitos e os deveres fundamentais do Estado. Art.
3o/3; 204o; 277o CRP

 (In) constitucionalidade
 Orgânica (art.164o; 165o CRP)
 Formal
 Material

Direito Internacional, Geral, Convencional e decorrente da UE


 Direito Internacional
 Convenção tratados Internacionais
 Normas UE
Arts. 8o/1, 2, 4; 161o i); 197o c); 277o/2 CRP

Leis e Decretos-Leis
Arts. 112o/2; 161o c); 198o/1 CRP
AR (art. 166o CRP): Leis constitucionais  arts. 166o/1; 161o a) CRP
Leis orgânicas  arts. 164o a) a f); 166o/2 CRP
Leis simples  arts. 166o/3; 161o b) a h) CRP
Moções arts. 166o/4; 163o d) c) CRP
Resoluções arts. 166o/5; 179o/3 c) f) CRP
Reservas arts. 164o; 161o; 165o; 161o a) CRP

DL arts. 198o/1; 200o d) CRP


NOTA: Em relação às Leis e DL, quando há situações de opinião contrária, aquela que é
válida/ para aprovar é a mais recente.
1ª Regra: Superioridade
2ª Regra: Posterioridade
3ª Regra: Especialidade

Decretos Legislativos Regionais


Arts. 112o/4; 227o/1 a) c) CRP

Decretos Regulamentares
 Resolução Conselho de Ministros
 Portarias
 Despachos

Regulamentos das Autarquias Locais


Art. 241o CRP

Lei: aspeto dinâmico


O processo legislativo, ou seja, o processo de elaboração de leis comporta diversas
fases ou momentos fundamentais:
1. Elaboração (art. 167.º CRP)
2. Aprovação (art. 168.º CRP)
3. Promulgação (art. 134.º, al b) ou veto (art. 136.º CRP) /Referenda (art. 140.º, n.º
1)
4. Publicação (art. 119.º CRP; art. 5.º, n.º 2, CC e art. 1.º Lei n.º74/98, de 11 de
novembro)
5. Entrada em vigor (art. 5.º, n.º 2, CC e Lei n.º74/98, de 11 de novembro) 
Vacatio legis
Esquema do processo legislativo comum

Cessação da vigência das leis


a) Caducidade: há um limite temporal ínsito na própria norma: de maneira direta ou
indireta, ela mesma marca o período da sua vigência, de modo que, decorrido esse
período, perde valor, morre, sem que o legislador nada diga (art. 7.º, n.º 1, 1.ª p.,
CC)

Decurso do tempo – do conteúdo da lei consta, seja a indicação do período de tempo


durante o qual estará em vigor, seja a determinação de uma data limite para a sua
vigência Leis temporárias
Impossibilidade fatual da situação abstrata desenhada na previsão Leis transitórias

Suspensão  Suspende os efeitos da lei durante determinado período de tempo.


Desuso  A lei continua a vigorar, mas como ninguém a usa entra em desuso.
A lei vigora durante 6 meses.
Esta lei vigora durante o Euro 2004.
b) Revogação: traduz-se no afastamento da lei por outra lei posterior, de valor
hierárquico igual ou superior (art. 7.º, n.º 1, 2.ª p., CC)

A ordem de prioridade não se define pela entrada em vigor mas sim pela publicação
V. art. 7.º, nos 3 e 4, CC

Revogação expressa - um preceito da nova lei designa uma lei anterior e a declara
revogada (art. 7.º, n.º 2, 1.ª p., CC)
Revogação tácita - não há revogação expressa, mas as normas da lei posterior são
incompatíveis com as da anterior (art. 7.º, n.º 2, 2.ª p., CC)
Revogação de sistema - tem lugar quando o legislador pretende que um determinado
diploma legal seja o único diploma legal incidente sobre determinada matéria (art. 7.º,
n.º 2, 3.ª p., CC)

Lei 24/98 – Conduzir aos 20 anos


Lei 37/2017 – Conduzir aos 18 anos
 Indica e revoga a lei antiga  Lei 24/98

Lei antiga ≠ Lei nova


Incompatibilidade  Nova lei é que entra em vigor  Revogação Tácita

Revogação
Abrogação: Incide sobre todas as leis de uma determinada matéria.
Derrogação: Incide apenas em algumas leis.

Costume
Noção: é a observância geral, constante e uniforme de uma regra de conduta social,
acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade por parte da opinião comum.
Requisitos do costume:

▪ Elemento material ou uso: observância geral, constante e uniforme de uma regra


de conduta social.
▪ Elemento Psicológico ou convicção de obrigatoriedade: acompanhada da
convicção da sua obrigatoriedade por parte da opinião comum.

Classificações do costume

▪ Costume secundum legem (Costume segundo a lei)


▪ Costume praeter legem (Costume para além da lei)
▪ Costume contra legem (Costumes contrários às leis)

O costume na ordem jurídica portuguesa atual


Art. 348.º CC – Aplicação do direito consuetudinário
Art. 8.º, n.º1, CRP – Direito Internacional Consuetudinário
Art. 3.º, n.º1, CC – “Os usos que não forem contrários ao princípio da boa-fé são
juridicamente atendíveis quando a lei determine.”
 Art. 218.º CC
 Art. 763.º CC
 Art. 885.º, n.º2, CC
 Usos podem contribuir para a correta aplicação dos critérios legais de
interpretação e integração dos negócios jurídicos, mesmo que a lei não lhe faça
referência.

Jurisprudência  tribunais
Noção: “conjunto das orientações que resultam da aplicação do direito a um caso
concreto pelos órgãos com competência para o efeito”

▪ Freitas do Amaral considera que, em certos casos, jurisprudência pode ser


considerada fonte iuris essendi:
a) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que declarem a
inconstitucionalidade ou a ilegalidade de uma norma em vigor - fonte iuris
essendi. V. art. 282.º, n.º1, da CRP.
b) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que uniformizem o modo de
interpretação de uma norma vigente, optando entre duas ou mais interpretações
possíveis - fonte iuris cognoscendi
c) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que uniformizem o modo de
integração de uma lacuna do ordenamento - fonte iuris essendi.
d) O mesmo se deve dizer das correntes jurisprudenciais uniformes: se forem
meramente interpretativas, serão fontes iuris cognoscendi; se forem
integradoras, serão fontes iuris essendi

▪ Assentos

Os “acórdãos com força obrigatória geral” (art. 119º, n.º1, al. g), da CRP)
a) A cargo do Tribunal Constitucional:

▪ Pronúncia de inconstitucionalidade com força obrigatória geral, em processos


de fiscalização abstrata preventiva (v. arts. 278.º, 279.º, da CRP);
▪ Declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral, em processos
de fiscalização abstrata sucessiva (v. art. 281, n.º1, al. a), da CRP);
▪ Declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral, de qualquer
norma que tenha sido julgada inconstitucional, pelo próprio Tribunal
Constitucional, em pelo menos três casos concretos (art. 281.º, n.º3, da CRP);
▪ Declaração de ilegalidade, com força obrigatória geral, em processos de
fiscalização abstrata sucessiva da legalidade de normas (v. arts. 281.º, n.º1, als.
b), c) e d);
▪ Declaração de ilegalidade, com força obrigatória geral, de qualquer norma que
tenha sido julgada inconstitucional, pelo próprio Tribunal Constitucional, em
pelo menos três casos concretos (art. 281.º, n.º3, da CRP).
b) A cargo do Supremo Tribunal Administrativo:

▪ Declaração de ilegalidade, com força obrigatória geral, de qualquer norma


violadora de disposições genéricas de Direito Administrativo, em processo
administrativo de impugnação de normas instaurado pelo MP (arts. 72.º, 73.º,
n.º3, e 76.º do CPTA);
▪ Declaração de ilegalidade, com força obrigatória geral, de qualquer norma
violadora de disposições genéricas de Direito Administrativo, em processo
administrativo de impugnação de normas anteriormente julgadas ilegais, por
qualquer tribunal, em pelo menos três casos concretos (arts. 72.º, 73.º, n.ºs 1 e
4, e 76.º do CPTA)
Os “acórdãos uniformizadores de jurisprudência”

▪ Em 1987, o recurso para uniformização de jurisprudência em processo penal


(arts. 437.º e ss. do CPP);
▪ Na mesma data, a figura do recurso obrigatório do MP de decisões judiciais
proferidas contra jurisprudência fixada pelo STJ (art. 446.º do CPP);
▪ O recurso no interesse da unidade do Direito, destinado a atualizar, sempre
que necessário, jurisprudência já fixada (art. 447.º do CPP);
▪ Em 1995, as figuras da revista ampliada, que consistem fundamentalmente no
julgamento de uma questão de direito, em recurso interposto para o Supremo
Tribunal de Justiça, se fazer com intervenção do plenário das secções cíveis, por
tal se revelar necessário para assegurar a uniformização de jurisprudência (arts.
686.º e 687.º do CPC);
▪ O recurso para uniformização de jurisprudência em processo civil (arts. 688.º e
ss. do CPC);
▪ Em 2002, a criação de um autêntico recurso para uniformização de
jurisprudência no âmbito do processo contencioso administrativo (art. 152.º do
CPTA).

Doutrina
Noção: “conjunto das noções, teorias e opiniões, formuladas por escrito pelos
teóricos da Ciência do Direito (“jusperitos”, que são os professores de Direito, que
ensinam, os escritores de Direito, que investigam e publicam os resultados do seu
estudo, e os jurisconsultos, que em pareceres técnicos se pronunciam sobre a
aplicação do Direito aos casos concretos da vida real), que dão a conhecer aos juristas
práticos (designadamente, os técnicos jurídicos da Administração Pública, os
profissionais do foro, os notários, conservadores, juristas de empresas, solicitadores,
etc.), aos estudantes e aos cidadãos comuns o conteúdo e significado de um certo
ordenamento jurídico (neste caso, a doutrina “transmite e informa” sobre o Direito
vigente), e influenciam os Poderes legislativo (doutrina é ouvida na maior parte das
reformas legislativas) e judicial (doutrina pronuncia-se sobre a melhor forma de aplicar
o Direito aos casos concretos) no exercício das respetivas funções”.
É fonte iuris cognoscendi. No entanto, Freitas do Amaral aponta três situações em que
a doutrina funciona como fonte iuris essendi:
a) A elaboração de “princípios gerais de Direito”
b) A decisão legislativa ou judicial-normativa tomada por uma mera remissão para um
texto doutrinal
c) A doutrina, ou Ciência do Direito, como fonte integradora de conceitos utilizados
pela lei, mas não definidos por ela (integração de conceitos jurídicos puros)
 Naturalísticos
 Jurídicos puros: Interessa para interpretação de conceitos jurídicos puros
Exemplo: contratos.
 Jurídicos valorativos: Bonus Pater Familias  Conforme um pai/ bom chefe de
família.
 Não jurídicos

Relação jurídica
É toda a relação da vida social disciplinada pelo direito e que consiste na atribuição a
um sujeito de um direito subjetivo e na adstrição de outro sujeito a uma vinculação
jurídica.

Lado ativo Lado passivo


Direito subjetivo propriamente dito Dever jurídico (norma cria uma
necessidade de realizar certa conduta
ativa ou passiva) Ex: Direito à imagem;
devemos respeitar este direito tal
como o direito à vida.

Direitos relativos (direitos de Dever jurídico. Ex: Se eu tiver a


crédito)  Opõe-se a 1 pessoa. dever dinheiro à Dani, tenho o
Ex: Alguém deve-me 50€. dever jurídico de lhe o dar, quer
através de outras.

Direitos absolutos (direitos reais


e direitos de personalidade) Obrigação passiva universal. Ex:
 Opõe-se a todas as pessoas. direito à vida.

Direito potestativo Sujeição (submissão às alterações que


a vontade do sujeito ativo haja
produzido na esfera jurídica o sujeito
Elementos da relação jurídica
1. Sujeitos (art. 66º e ss. CC)
 Personalidade jurídica (art. 66o CC) traduz-se na aptidão para ser titular
autónomo, ser sujeito, de relações jurídicas.  Qualidade
 Capacidade de Gozo de Direitos é a medida de direitos e vinculações de que a
pessoa é suscetível de ser titular (cfr. art. 67º CC).  Titularidade. EXCEÇÕES: art.
1601ºCC; 1850ºCC; 1913ºCC; 2189º CC.
 Capacidade de Exercício de Direitos é a medida dos direitos e vinculações que a
pessoa pode exercer por si, pessoal e livremente.  Exercício: aquilo que está na
minha esfera jurídica e não podemos fazer (menores e interditos  Pessoas a
fazer por mim; imobilizado  Pessoa a assistir.)

Os Sujeitos podem ser:


 Ativos  Quem tem direito.
 Passivos  Reunião das responsabilidades, débitos ou dívidas de uma pessoa
jurídica.
Além disso, os Sujeitos podem ser:
 Pessoas singulares  Tem direito à vida; direito a casar-se; pode fazer
testamento.
 Pessoas coletivas (art.157º e ss. CC)  Não podem fazer testamento; não
podem casar; não tem direito à vida; as associações não podem ter lucro; as
empresas não podem fazer doações. Exemplo: IPL.

2. Objeto
 Objeto imediato é o que dá origem à relação jurídica, ou seja, é o nexo formado
pelo direito subjetivo, por um lado, e pela vinculação, por outro.
 Objeto mediato corresponde à realidade sobre que recai o poder do sujeito ativo,
realidade essa que pode ser uma coisa, uma prestação, uma pessoa, ou um
direito.

3. Facto jurídico: É o acontecimento, o evento a que o Direito confere um efeito,


uma consequência jurídica: constituir uma relação jurídica, ou modificá-la, ou extingui-
la.
4. Garantia  Traduz-se na suscetibilidade que é conferida ao sujeito ativo de
recorrer à força se necessário por intermédio dos órgãos do Estado para tal
competentes para exercer o direito que lhe é conferido o que se consegue impondo ao
sujeito passivo a conduta que corporiza o respetivo dever ou sujeitá-lo às
consequências do eventual incumprimento.

NOTA: Só se verifica uma relação jurídica se se verificar estes 4 elementos.

Ramos do Direito
Direito Público
Direito Público  É o sistema de normas jurídicas que, tendo em vista a
prossecução de um interesse coletivo, conferem para esse efeito a um dos sujeitos da
relação jurídica poderes de autoridade sobre o outro.

Direito Constitucional  É o ramo do direito público composto pelo sistema de


normas jurídicas que regulam a organização e o funcionamento dos órgãos superiores
do Estado, bem como definem e asseguram os direitos e deveres fundamentais dos
cidadãos.

Direito Administrativo  É o ramo do direito público constituído pelo sistema de


normas jurídicas que regulam a organização e o funcionamento dos órgãos do poder
executivo do Estado, bem como dos entes públicos menores, e que asseguram a
proteção dos direitos dos particulares face à Administração Pública e desta perante
aqueles.

Direito Financeiro  É o ramo do direito público que fixa as regras a observar por
todos os servidores da coisa pública na arrecadação, contabilidade e gasto do dinheiro
dos contribuintes.

Direito Fiscal  É o ramo do direito público constituído pelo sistema de normas


jurídicas que definem os impostos e o respetivo montante a pagar pelos cidadãos e
pelas empresas ao Estado e aos entes públicos menores, e que asseguram a proteção
dos direitos dos contribuintes perante a Administração tributária, e desta perante
estes.
Direito Penal  É o ramo do direito público constituído pelo sistema de normas
jurídicas que qualificam os factos ilícitos de maior gravidade social como crimes e
estabelecem para eles as penas tidas por adequadas.

Direito Processual  É o ramo do direito público que disciplina a forma de


resolução dos litígios em tribunal, regulando a tramitação processual dessa resolução.

Direito Privado
Direito Privado  É o que corresponde à utilidade dos particulares enquanto tais,
ou seja, nas suas relações jurídicas uns com os outros, na sua vida privada – não como
cidadãos face a Estado mas como simples particulares em face uns dos outros, na
esfera dos assuntos de caráter meramente privado.

Direito Civil  É o ramo do direito privado constituído pelo sistema de normas


jurídicas que regulam a generalidade dos atos e atividades em que se desenvolve a
vida privada dos particulares, tanto na sua esfera pessoal como patrimonial, desde o
berço até ao túmulo.

Direito Comercial  É o ramo do direito privado constituído pelo sistema de


normas jurídicas que regulam o estatuto dos comerciantes e o regime dos atos e
atividades do comércio.

Direito do Trabalho  É o ramo do direito privado constituído pelo sistema de


normas jurídicas que regulam as relações individuais de trabalho subordinado, bem
como fenómenos coletivos com elas relacionadas.

Critérios distintos
Mas qual o interesse prático da distinção entre Direito Público e Direito
Privado?
 Interesse de ordem científica na sistematização e no lógico agrupamento de
normas jurídicas
 Interesse no próprio plano da aplicação do direito; por exemplo:
 Em determinadas situações, determina as vias judiciais a que o particular
lesado pelo Estado deve recorrer ou vice-versa, isto é, determina o tribunal
competente, em razão da matéria, para apreciar a lide (tribunais
judiciais/tribunais administrativos).
 Por outro lado, a responsabilidade civil decorrente de uma atividade de órgãos,
agentes ou representantes do Estado está sujeita a um regime diverso,
consoante os danos sejam causados no exercício de uma atividade de gestão
pública ou de uma atividade de gestão privada. Se os danos resultam de uma
atividade de gestão pública, os pedidos de indemnização são apreciados por
um tribunal administrativo e o regime de responsabilidade está previsto em lei
especial. Se os danos resultarem de uma atividade de gestão privada, será o
pedido apresentado nos tribunais judiciais e o regime está previsto nos arts.
501.º e 500.º do CC.

Interpretação da lei
Noção: é a investigação intelectual para determinação ou fixação do exato sentido e
alcance da lei, com vista à sua aplicação (art. 9.º do CC).

Elementos da lei:
 Literal / Gramatical  Temos de analisar o que está na lei.
 Racional / Volutivo  Onde vamos perceber a lógica da lei / quem a criou e o
que está escrito.

Lei 32/97 Lei 44/2017


Regulamento 32/2017

Classificações da interpretação
Classificação quanto ao agente ou quanto à sua Fonte e Valor
1. Interpretação legal – feita pelo legislador, mediante a chamada “lei interpretativa”.
(V. art. 13.º CC)
a) Interpretação autêntica – realizada por uma lei interpretativa de valor
hierárquico igual ou superior à lei interpretada; tem força obrigatória geral.
b) Interpretação oficial – realizada por lei interpretativa de inferior valor
hierárquico; tem valor vinculativo restrito à cadeia hierárquica subordinada ao órgão
criador da lei interpretativa.
2. Interpretação judicial, prática ou jurisprudencial – realizada por entidade com
funções judiciais, que aplica a lei aos casos concretos para tal efeito submetidos à sua
apreciação; força vinculativa circunscreve-se ao caso concreto a que a lei se aplicou.
3. Interpretação doutrinal, teórica ou particular – aquela cujo agente não é legislador
nem atua no decurso de função judicial; tem mero valor persuasivo.
Classificação quanto aos elementos da interpretação
1. Interpretação literal, gramatical ou filológica – debruça-se sobre a letra da
lei para encontrar o espírito da lei.
2 Funções / como pode ser vista:
Função negativa  Afasta uma interpretação que não tenha base de apoio na lei.
Função positiva  Vai privilegiar sucessivamente um significado técnico – jurídico, um
significado especial, um significado fixado pelo uso da linguagem.

Regresso  Ter o retorno daquilo que foi pago e deve voltar para o nosso bolso.
Exemplo de um direito de Regresso: O professor e o João vão comprar um carro a
meias, no entanto a Lesya que é a vendedora.
Cada um tinha que dar 50€, no entanto a Lesya pode pedir ao professor 100€, e, deste
modo, o João terá de dar 50€ ao professor (tem o direito de pedir o dinheiro).

2. Interpretação lógica, racional ou teleológica – procura conhecer a ratio legis,


ou seja, a razão de ser da lei.
3. Interpretação histórica – reporta-se aos antecedentes da lei interpretanda
(leis anteriores, trabalhos preparatórios, occasio legis).
4. Interpretação sistemática – interpreta a lei com conhecimento das grandes
linhas que caracterizam o Direito em que se insere.

Classificação quanto aos resultados


1. Interpretação declarativa – conduz à constatação de coincidência entre a
letra e o espírito da lei.
Esta pode ser de 2 sentidos:
Lato  Homem e Mulher | Filho e Filha
Restrito  Homem | Filho
2. Interpretação extensiva – conduz à conclusão de que a letra se situa aquém
do espírito da lei. (art. 1462º/1 CC)
3. Interpretação restritiva – conclui que a letra da lei foi além do espírito da lei.
(art. 282º/1 CC)
4. Interpretação revogatória ou abrogante – conclui que a lei mais recente
revogou a lei interpretanda.
5. Interpretação enunciativa – o intérprete extrai certas ilações, que não se
encontram expressas na lei mas que, ao abrigo de princípios lógicos fundamentais, hão
de nela estar implícitas.

Outras classificações
1. Interpretação subjetivista – visa perceber o sentido e alcance da lei que se
interpreta pela reconstituição do pensamento concreto do legislador; busca
descortinar a mens legislatoris.
2. Interpretação objetivista – visa fixar o sentido e alcance da lei desligando-a
do seu agente criador, ou seja, procura a mens legis.
3. Interpretação histórica – procura reconstituir o sentido e o alcance que a lei
coerentemente teria no momento histórico da sua elaboração e entrada em vigor, face
aos circunstancialismos então existentes.
4. Interpretação atualista – pretende captar o sentido e alcance que a lei tem
no momento da sua aplicação a cada caso concreto.

Integração de Lacunas da lei (art. 10º CC)


a) Analogia - “há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões
justificativas da regulamentação do caso previsto na lei” (art. 10º, n.º3, CC), ou seja,
sempre que a razão de decidir no caso omisso e no caso previsto seja a mesma.
 A analogia da lei (analogia legis) e a analogia do direito (analogia iuris)
 Extensão analógica e interpretação extensiva (art. 11.º CC)
 Lacunas rebeldes à analogia – a norma que regule caso contemplado,
semelhante ao omisso, não poderá ser tipificada como norma de direito
excecional, ou norma de direito penal incriminadora (art. 11.º CC, art. 29.º CRP
e art. 1.º, n.º3, CP)
b) Criação de um preceito conforme ao sistema – se o método analógico não for
possível “a situação é resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria, se
houvesse de legislar dentro do espírito do sistema” (art. 10.º, n.º3). Assim, são
estabelecidas balizas à iniciativa criadora do julgador:
 O julgador criará o preceito como se fora legislador, ou seja, abdicará da sua
plena subjetividade na valoração do caso omisso, no delineamento da
finalidade do preceito que vai criar;
 O preceito criado deverá ser conforme ao sistema.

Aplicação da lei
I. Aplicação da lei no tempo
É possível suceder que duas ou mais leis concorram na sua aplicabilidade a um caso
concreto (uma lei encontrava-se em vigor no momento em que o caso acontece, no
tempo em que o fato foi praticado, e foi entretanto revogada ou caducou; outra lei
está em vigor no instante em que o julgador decide), pelo que se coloca a questão de
saber qual das leis deverá ser aplicada.
a) Por vezes, o legislador prescreve expressamente as regras que vão regular a
aplicação temporal da nova lei (direito ou disposições transitórias).
b) Podem igualmente aplicar-se regras gerais que constituem critérios próprios de
certos ramos do direito (v.g. direito processual e direito penal)
c) Art. 12.º, n.º1, CC – a “lei nova só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja atribuída
eficácia retroativa, presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos
factos que a lei se destine regular” - Princípio da não retroatividade da lei
d) Art. 12.º, n.º2, CC
i. A lei que se destina a regular as condições de validade substancial ou formal de
quaisquer fatos ou sobre os seus efeitos só se aplica aos novos fatos, ou seja,
aos fatos que venham a ocorrer após a sua entrada em vigor.
ii. A lei que se refere diretamente ao conteúdo de certas relações jurídicas, isto é,
reguladora de direitos e deveres de que são titulares os respetivos sujeitos
aplica-se não só às relações jurídicas que depois se constituam, mas também às
relações já constituídas.
e) Art. 13.º CCl
II. Aplicação da lei no espaço

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