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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA

ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL CARLOS DE CAMPOS


Ensino Técnico Integrado ao Médio em Nutrição e Dietética

Julia Alves da Silva


Luana Beatriz Gonçalves Dantas
Pedro Henrique de Souza Silva
Wagner Venço de Lima Junior

ANÁLISE DA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS DESTINADOS AO PÚBLICO


PRÉ-ESCOLAR

São Paulo
2019
Julia Alves da Silva
Luana Beatriz Gonçalves Dantas
Pedro Henrique de Souza Silva
Wagner Venço de Lima Junior

ANÁLISE DA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS DESTINADOS AO PÚBLIDO


PRÉ-ESCOLAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao ETIM em 2019, da Etec Carlos de Campos,
orientado pela professora Aparecida Oliveira,
como requisito parcial para obtenção do título
de Técnico em Nutrição e Dietética

São Paulo
2019
DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho a nossos pais


e familiares que nos apoiaram durante
esta jornada, além de amigos e
companheiros que também serviram
de base e suporte nos momentos que
precisamos.
AGRADECIMENTOS

Agradecemos a nossos professores de informática, língua portuguesa e literatura e


à nossa orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso, por terem nos auxiliado em todo
o processo de elaboração deste trabalho. Também agradecemos um ao outro pela
parceria que exercemos para que tudo saísse como esperado.
EPÍGRAFE

“Não existe revelação mais nítida da alma de uma sociedade do que a forma como esta
trata suas crianças”
-Nelson Mandela
RESUMO

SILVA, Julia Alves de; DANTAS, Luana Beatriz Gonçalves; SILVA, Pedro Henrique de
Souza; LIMA JUNIOR; Wagner Venço de. Análise da aquisição de alimentos
destinados ao público pré-escolar. 2019 42f. [Trabalho de Conclusão do Ensino
Técnico Integrado ao Médio – Nutrição e Dietética – ETEC CARLOS DE CAMPOS].

Introdução: As más escolhas alimentares em crianças podem levar ao


desenvolvimento de diversas complicações, o que mostra a necessidade de analisar as
escolhas alimentares, para posteriormente elaborar programas específicos de orientação
alimentar destinados às crianças. Objetivo: Analisar a escolha da aquisição de alimentos
destinados ao pré-escolar. Métodos: pesquisa de campo, descritiva e qualitativa. Foram
consultados livros e artigos publicados nos últimos 25 anos nas línguas portuguesa e
inglesa. Os artigos selecionados foram localizados por meio eletrônico. Resultados:
observou-se que 76% da população estudada compartilhava a residência com quatro a
seis pessoas. Quanto a arrecadação mensal, percebeu-se que a maioria (60%)
apresentou a renda entre um e três salários mínimos. Entre a influência de personagens
infantis nas embalagens de alimentos destinados às crianças, 60% afirmou ser
influenciada. De acordo com a composição do lanche, a maioria (36%) afirmou que levava
frutas. Sobre a aquisição de hortaliças, grande parcela da população estudada (80%)
declarou que as adquiriam semanalmente. No que se refere a aquisição de frutas,
observou-se a predominância de 76% na aquisição semanal. Em relação a classificação
de alimentos de acordo com o Guia Alimentar para População Brasileira, percebeu-se que
85% da população estudada adquiria alimentos in natura ou minimamente processados
semanalmente. Conclusão: é possível concluir que a embalagem influência na aquisição
de alimentos; frutas, bebidas adoçadas e bolachas são os alimentos mais consumidos no
lanche pelas crianças e embora o consumo de alimentos in natura ou minimamente
processado foi de maior aquisição, observou-se alta aquisição de alimento ultra
processados.

Palavras-chave: Alimentos. Pré-escolar. Publicidade de alimentos.


ABSTRACT

SILVA, Julia Alves de; DANTAS, Luana Beatriz Gonçalves; SILVA, Pedro Henrique de
Souza; LIMA JUNIOR; Wagner Venço de. Analysis of the purchase of food intended
for preschoolers. 2019 42f. [Completion Paper of the Integrated Technical High School -
Nutrition and Dietetics - ETEC CARLOS DE CAMPOS].

Introduction: Poor dietary choices in children can lead to the development of various
complications, which shows the need to analyze dietary choices in order to develop
specific dietary orientation programs for children. Objective: To analyze the choice of
purchase of food intended for preschool. Methods: field, descriptive and qualitative
research. Books and articles published in the last 25 years in the Portuguese and English
languages were consulted. The selected articles were electronically located. Results: It
was observed that 76% of the studied population shared the residence with four to six
people. As for the family monthly income, it was noticed that the majority (60%) had
income between one and three Brazilian minimum wages. Among the influence of
children's characters on food packaging for children, 60% said to be influenced. According
to the composition of the snack, the majority (36%) stated that they had fruits. Regarding
the purchase of vegetables, a large portion of the population studied (80%) stated that
they purchased vegetables weekly. Regarding the acquisition of fruits, there was a
predominance of 76% in weekly acquisition. Regarding the classification of foods
according to the Food Guide for the Brazilian Population, it was found that 85% of the
population studied purchased fresh or minimally processed foods. Conclusion: it is
possible to conclude that packaging influences food acquisition; Fruits, sweetened drinks
and cookies are the most consumed snack foods by children and although the
consumption of fresh or minimally processed foods was of greater acquisition, there was a
high acquisition of ultra-processed foods.

Key words: Food. Preschool. Food Publicity.


SUMÁRI
O

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................. 8

2. REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................. 9

2.1 Formação dos hábitos alimentares.....................................................................9

2.2 Aspectos fisiológicos e nutricionais do pré-escolar.......................................10

2.3 A influência da publicidade................................................................................12

2.4 Prática alimentar saudável.................................................................................13

3. JUSTIFICATIVA.............................................................................................................15

4. OBJETIVOS...................................................................................................................16

4.1. Objetivo geral...................................................................................................... 16

4.2. Objetivos específicos............................................................................................16

5. Metodologia.................................................................................................................. 17

5.1. Casuística............................................................................................................ 17

5.2. Método................................................................................................................. 17

6. RESULTADOS...............................................................................................................18

7. DISCUSSÃO..................................................................................................................25

8. CONCLUSÃO................................................................................................................ 31

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................32

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................33

APÊNDICE A – Formulário de consentimento

APÊNDICE B – Questionário sobre escolhas alimentares


8

1. Introdução

As taxas de excesso de peso e a obesidade infantil apresentam crescimento no


Brasil, como apontam dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN,
no qual relata a prevalência de 16,1% de crianças brasileiras menores de cinco anos em
estado de sobrepeso e 15,3% em situações de obesidade (INSTITUTO DA INFÂNCIA,
2014). Segundo estudo publicado no Jornal de Pediatria (2004), o índice de crianças com
obesidade era de 3,8%, entre indivíduos de 0 a 59 meses de idade, na cidade de São
Paulo em 1995/96. (MELLO; et al, 2004)
Dislipidemias e doenças cardiovasculares podem ser desencadeadas tanto ainda
na infância quanto na fase adulta, como mostra o estudo de Gama, et al. (2007). A
Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) também apresenta crescimento elevado em crianças
atualmente.
As más escolhas alimentares em crianças podem levar ao desenvolvimento de
diversas complicações, sejam imediatas ou posteriores, como obesidade, desnutrição,
anemias, doenças respiratórias e outras.
Diante disso, é necessário analisar as escolhas alimentares, para posteriormente
elaborar programas específicos de orientação alimentar destinados às crianças.
9

2. Referencial Teórico
A obesidade já pode ser considerada epidemia mundial por apresentar um
crescimento excessivo em crianças menores de cinco anos nos últimos 40 anos. Estima-
se mais de 200 milhões de crianças em fase escolar com sobrepeso, diminuindo a
estimativa de vida útil dessa geração (SECRETÁRIA DA SAÚDE, 2019; JAACKS, et al,
2019; RALSTON, et al, 2019).
Em 2008, no Brasil, 33,5% das crianças de cinco a nove anos apresentavam
sobrepeso: 16,6% meninos e 11,8% meninas eram obesos, tendo destaque o Sudeste
com índices de 40,3% dos meninos de 38% das meninas com sobrepeso (IBGE, 2010).
Na cidade de São Paulo, em 1995/6, o índice de obesidade em crianças de zero a
cinco anos de idade era de 3,8%. Em 2009, de acordo com estudo realizado em escolas
do município de São Paulo, a obesidade e sobrepeso atingiram 37,2% dos meninos e
33,4% das meninas (MELLO, et al, 2004; SIMON, et al, 2009).

2.1 Formação dos hábitos alimentares

Hábito alimentar corresponde à adoção de um tipo de prática relacionada aos


costumes estabelecidos tradicionalmente e que atravessam gerações com as
possibilidades reais de aquisição dos alimentos e com uma sociabilidade construída tanto
no âmbito familiar e comunitário quanto compartilhada e atualizada pelas outras
dimensões da vida social (FONTES, et al, 2011).
A infância é o período em que o hábito alimentar se forma no qual fatores
ambientais, psicológicos, hereditários e nutricionais influenciam as inúmeras modificações
características dessa fase que vão desde as transformações físicas no corpo até as
mudanças psicológicas (OLIVEIRA, 2017).
Desse modo, o comportamento do consumidor e as habilidades cognitivas se
diferem ao decorrer das faixas etárias e, somado a convivência fora de casa, tais crianças
apresentam gostos diferentes muitas vezes influenciados por seus colegas, uma vez que
as estratégias utilizadas variam até chegar ao ato de compra, podendo ser novos pedidos
ou substituições de alimentos por outros (OLIVEIRA, 2017).
10

2.2 Aspectos fisiológicos e nutricionais do pré-escolar

O pré-escolar é o período que compreende dos dois aos seis anos de idade no
qual apresenta crescimento regular e inferior ao lactente. A velocidade de crescimento e
ganho de peso é menor nos primeiros anos de vida (cerca de 2 a 3 kg/ano e 5 a 7
cm/ano), igual a baixa nas necessidades nutricionais e do apetite. O comportamento do
pré-escolar muitas vezes é imprevisível e, caso os familiares não aceitarem este hábito
como passageiro para a criança, este poderá desenvolver distúrbios alimentares em fases
seguintes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018).
Neste período, é comum a criança apresentar neofobia: dificuldade de aceitação de
alimentos desconhecidos. Para modificar esta característica, é necessário oferecer o
mesmo alimento em preparações diferentes de 8 a 10 vezes para que o pré-escolar possa
decidir introduzi-lo em suas preferencias alimentares. Se a recusa persistir, deve-se fazer
a substituição por outro alimento que possua os mesmos nutrientes (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018).
A maneira como os pais atuam na alimentação da criança é importante para
estimular o consumo de quantidades adequadas para suprir suas necessidades, assim
que o pré-escolar tiver condições de se servir, alimentar-se à mesa junto aos familiares e
participar da preparação das refeições estes costumes devem ser adotados, aumentando
sua curiosidade pelos aromas, sabores e texturas, além de promover sensação de
maturidade e integração à família. Não devem ser utilizados subornos, recompensas,
castigos ou outras formas de persuasão relacionadas às refeições, pois estas ações
podem gerar efeito negativo na maneira que a criança vê o ato de se alimentar
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018).
A qualidade de vida da criança é resultado da maturação óssea, maior capacidade
do sistema respiratório e circulatório, habilidade motora, aumento da resistência física e
maturação do sistema imunológico. Os primeiros dentes começam a aparecer,
possibilitando a mastigação de alimentos de diversas texturas, melhorando a alimentação
em qualidade e quantidade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018).
Em relação à saúde bucal, observa-se também maturidade, sendo a mastigação
uma atividade importante para o desenvolvimento da musculatura do rosto, em que a
partir do desenvolvimento dos dentes do pré-escolar, alimentos amassados são
11

substituídos por alimentos inteiros e, em seguida, pelos crus (SOCIEDADE BRASILEIRA


DE PEDIATRIA, 2018).
Dentre as recomendações para o pré-escolar, é importante observar (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018):
1) o sabor doce é o mais preferido pela criança e, por isso, o seu consumo merece
atenção especial para evitar o excesso. É permitido o consumo máximo de 25 gramas de
açúcar por dia;
2) recomenda-se reduzir o consumo de alimentos com excesso de gordura, sal e
açúcar, pois são comprovadamente fatores de risco para as doenças crônicas e podem
levar a distúrbios nutricionais a curto, médio e longo prazo, como anemia, desnutrição,
hipertensão arterial sistêmica, doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo 2,
osteoporose entre outras;
3) oferecer alimentos ricos em ferro, cálcio, vitamina A e D, zinco e fibras
alimentares, pois são essenciais nesta fase da vida ingestão diária recomendada de
cálcio para crianças de um a três anos é de 500 a 700mg/dia e para crianças de quatro a
oito anos é de 800 a 1000mg/dia. Caso a recomendação não seja atingida na dieta, a
suplementação é indicada.
A distribuição de macro nutrientes em relação à oferta energética total pode ser
observada no Quadro 1
Quadro 1. Faixa de distribuição aceitável de macro nutrientes, segundo as Ingestões Dietéticas de
Referência (DRIs):
Nutriente / idade 1 a 3 anos 4-18 anos

Proteína 5 a 20% do VET 10-30% do VET

Lipídios 30-40% do VET 25-30% do VET

Ácidos graxos W-6 5 – 10% do VET 5 – 10% do VET


(linoleico)
Ácidos graxos W-3 0,6 a 1,2% do VET 0,6 a 1,2% do VET
(linolênico)
Carboidratos 45-65% do VET 45-65% do VET

Fibras Idade + 5g(no máximo 25 Idade + 5g(no máximo 25


g/dia) g/dia)

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2018. Nota: VET = Valor Energético Total.
12

2.3 A influência da publicidade

Publicidade é um ato comercial que tem como objetivo mostrar características do


produto ou serviço como sendo o melhor e com mais benefícios por meio de rádios,
televisão, mídia, redes sociais e outras formas. Com muita frequência, a publicidade é
direcionada as crianças que, consequentemente, convencem seus responsáveis (ALVES,
2015).
A função da publicidade é divulgar produtos, sejam eles bons ou maus,
estimulando o consumo oferecendo opções. É isenta de ideologias, ideias e programas
preestabelecidos pela sociedade (LARA, 2017).
A fixação pela publicidade de narrativas, romances e beleza, por exemplo, em bens
materiais, como automóveis, eletrodomésticos e até simples lanches industrializados,
corrobora para o encantamento do consumidor e, consequentemente, pelo seu consumo.
Diante disso, Featherstone (1995) afirma que "o consumo não deve ser compreendido
apenas como consumo de valores de uso, de utilidades materiais, mas primordialmente
com o consumo de signos".
Logo, estes bens materiais transmitem um estilo para suprir o imaginário produzido
pelos consumidores (IBAÑEZ,1994; FEATHERSTONE, 1995; BAUDRILLARD,1994)
Baudrillard (1994) aponta:
Antigamente bastava ao capital produzir mercadorias, o consumo sendo
mera consequência. Hoje é preciso produzir consumidores, é preciso
produzir a própria demanda e essa produção é infinitamente mais custosa
do que das mercadorias [...] É a produção dessa demanda de sentido que
se tornou crucial para o sistema. (Baudrillard, 1994)

Na publicidade o conceito de consumidor vai além de quem adquire tal produto ou


serviço, pois atinge qualquer um que está suscetível à propaganda (ALVES, 2015). Com a
rotina acelerada da população atual, as pessoas têm menos tempo em casa e,
concomitantemente, menos tempo para se alimentar. Devido a isso, as indústrias
aproveitam a situação ofertando alimentos de fácil consumo e alta variedade com
propaganda, nem sempre relacionada à palatabilidade, mas às embalagens e slogans
(BLOEMER, GARCIA, 2018).
13

A publicidade de produtos, geralmente, vem acompanhada de mensagens


motivacionais, induzindo o consumidor a pensar que será mais feliz e satisfeito ao
consumi-lo, propondo diversas vantagens físicas e emocionais, além de soluções para
todos os problemas do cliente (BLOEMER, GARCIA, 2018).
O público infantil vem assumindo um papel muito importante no mercado de consumo,
porém, por ser altamente sugestionado às técnicas empregadas pelas agências de
publicidade, muitas vezes acabam se tornando alvo, sujeito as persuasões da publicidade
por sua imaturidade e incapacidade de compreensão (MATTEI, 2012).

2.4 Prática alimentar saudável

O Guia Alimentar para a População Brasileira (2014) fornece recomendações para


uma alimentação saudável e adequada. Um fato importante é que a alimentação saudável
deve estar ligada a boas praticas desde a hora do plantio dos alimentos, como o cuidado
com fertilizantes e pragas, condições de trabalho, repartição de lucro, e impacto ambiental
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).
O Guia auxilia a população sobre as fontes necessárias de consumo. As escolhas
alimentares são individuais, mas sofrem influencia do modo e lugar onde o indivíduo vive
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).
Quatro categorias de alimentos são adotadas pelo Guia. São elas (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2014):
· Alimentos in natura ou minimamente processados;
· Óleos, gorduras, sal e açúcar;
· Alimentos processados;
· Alimentos ultra processados.
Os alimentos in natura são obtidos através das plantas e animais e devem ser a
base da alimentação, pois são balanceados e nutritivos. Quando o alimento passa por
processos de secagem, resfriamento, pasteurização, moagem e outros, são os
minimamente processados que também devem ser consumidos em maior quantidade. A
importância desses alimentos se deve ao fato de serem ricos em vitaminas, minerais e
fibras.
Os óleos, gorduras, sal e açúcar são utilizados com a finalidade de dar sabor aos
alimentos, podendo criar novas receitas se combinados aos alimentos in natura ou
14

minimamente processados. Devem ser consumidos com moderação, assim, não criando
um desbalanceamento nutricional.
Os alimentos processados têm como objetivo aumentar a validade de alimentos in
natura ou minimamente processados por meio de conservas, secagem, cozimento,
defumação e outros. Seu consumo deve ser limitado porque as etapas de processamento,
geralmente, alteram a composição nutricional do alimento.
Alimentos ultra processados sofrem etapas de processamento, adições de
substâncias e são desbalanceados, sendo encontrados facilmente nos mercados.
Exemplos disso são: bolachas, salgados, bebidas, temperos prontos e sopas em pó.
Devem ser evitados por serem ricos em açúcares, gorduras e sódio, possuírem baixo
valor nutricional e serem pobres em fibras alimentares, vitaminas e minerais.
O pouco tempo disponível para se alimentar tem sido a justificativa para maior
consumo de ultra processados, tanto na alimentação de adultos quanto na do pré-escolar
(BLOEMER, GARCIA, 2018).
15

3 Justificativa

A alimentação adequada dos indivíduos em fase pré-escolar é de suma


importância, pois é o momento em que os mesmos estão em processo de crescimento e
formação de seus hábitos alimentares. Geralmente esses hábitos são influenciados pela
alimentação e costumes da família, podendo haver relação de acordo com gênero, idade
e classe econômica do responsável pelas compras da casa.
Além dos costumes da família, a publicidade também pode interferir na decisão de
compra de alimentos destinados ao público infantil, oferecendo brindes e embalagens
chamativas associados a, na maioria das vezes, à alimentos ultra processados e com
baixo valor nutricional.
Diante deste cenário, torna-se necessário analisar o que se adquire para a
alimentação do pré-escolar, para o planejamento nutricional de intervenções futuras.
16

4 Objetivos

1.1. Objetivo geral

· Analisar a aquisição de alimentos destinados ao pré-escolar.

4.2. Objetivos específicos

· Caracterizar a população estudada, quanto ao gênero, idade e renda econômica


familiar;

· Analisar a influência das embalagens na decisão no momento de compra de


alimentos destinados ao público pré-escolar;

· Identificar a escolha de lanches para serem consumidos na escola;

· Identificar a frequência de aquisição de alimentos para composição da alimentação


do pré-escolar;

· Analisar os resultados obtidos, com as recomendações para uma alimentação


saudável.

5.
17

5. Metodologia

A presente pesquisa foi de campo, descritiva e qualitativa.


Foram consultados livros e artigos publicados nos últimos 25 anos nas línguas
portuguesa e inglesa.
O levantamento bibliográfico foi realizado por meio das seguintes palavras-chave:
“publicidade”, “publicidade de alimentos”, “formação do comportamento alimentar do pré-
escolar”, “aspectos fisiológicos e nutricionais do pré-escolar”. Os artigos e livros foram
selecionados por meio eletrônico.

5.1. Casuística

A população de estudo foi de responsáveis por crianças na fase pré-escolar,


avaliada no mês de agosto de 2019.
Ter disponibilidade dos dados necessários à pesquisa foi o critério de inclusão para
o estudo.
Quanto ao critério de exclusão, não ser o responsável pelas compras de gêneros
alimentícios da residência, foi o motivo da não participação.

5.2. Método

Foi entregue o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (Apêndice A) e após a


devolutiva do mesmo, assinado, foi entregue o questionário.
Os dados referentes à aquisição de produtos destinados à alimentação do pré-
escolar foram coletados por meio de questionário específico (Apêndice B).
Os dados foram armazenados em bancos de dados do “Excel (2010) – Microsoft®
Office” (Microsoft® Corporation, EUA) e, posteriormente, analisados.
As variáveis qualitativas foram analisadas, por meio do cálculo das frequências
relativas.
Quanto a análise de aquisição alimentar, utilizou-se o Guia Alimentar para a
População Brasileira (2014).
18

6. Resultados

Foram analisados 25 indivíduos adultos, sendo a maioria do gênero feminino


(92%), conforme a Figura 1.

Figura 1. Distribuição da população estudada, segundo o gênero. São Paulo. 2019.

100%
92%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10% 8%

0%
Feminino Masculino

Quanto à prevalência de idade, observou-se que a maioria (48%) se encontrava na


faixa de 40 a 49 anos, conforme a Figura 2.

Figura 2. Distribuição da população estudada, segundo a idade. São Paulo. 2019.


60%

50% 48%
44%
40%

30%

20%

10% 8%

0% 0%
0%
20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos maior ou igual a 60
anos
19

A maioria da população estudada (76%) compartilhava a residência com quatro a


seis pessoas, conforme a Figura 3.

Figura 3. Distribuição da população estudada, segundo quantidade de residentes na casa.


São Paulo. 2019.
80% 76%

70%

60%

50%

40%

30%
20%
20%

10%
4%
0%
0%
1 a 3 pessoas 4 a 6 pessoas 7 a 9 pessoas 10 ou mais pessoas

Sobre a renda econômica mensal familiar, observou-se que a maioria (60%)


apresentou a renda entre um e três salários mínimos, conforme a Figura 4.

Figura 4. Distribuição da população estudada segundo renda mensal da família em


salários mínimos. São Paulo. 2019.

70%
60%
60%

50%

40%

30%
20%
20% 16%

10%
4%
0%
1 a 3 s.m. 4 a 5 s.m. 6 a 7 s.m. Maior ou igual a 8 s.m.

Nota: s.m.: salários mínimos.


20

Quanto à influência de personagens infantis nas embalagens de alimentos, na


decisão para compra de alimentos destinados às crianças na fase pré-escolar, 60% da
população estudada afirmou ser influenciada, conforme a Figura 5.

Figura 5. Distribuição da população estudada, segundo a influência de personagens


infantis nas embalagens de alimentos na decisão de compra de alimentos destinados às
crianças em fase pré-escolar. São Paulo. 2019.
70%
60%
60%

50%

40%
32%
30%

20%

10% 8%

0%
Sim Não Às vezes

Na figura 6 é possível observar a composição do lanche, daqueles que o levam


para a escola, sendo que a maioria (36%) levava frutas.

Figura 6. Distribuição da população estudada segundo à composição do lanche levado à


escola pela criança. São Paulo. 2019.
40%
36%
35%

30% 28%
25% 24%

20%
16%
15% 12%
10% 8% 8%
5% 4%

0%
Lacticíneos Bolachas Bebidas Bolinhos Frutas Salgadinhos Pães Embutidos
adoçadas
21

Analisando as respostas sobre aquisição de carnes e embutidos, 70% da


população estudada alegou adquiri-los semanalmente, conforme a Figura 7.

Figura 7. Distribuição da população estudada, de acordo com a aquisição de carnes e


embutidos para a alimentação dos pré-escolares. São Paulo. 2019.
100%
90%
80%
70%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 18%
12%
10%
0%
0%
Semanalmente Mensalmente Raramente Não adquire

Sobre a aquisição de hortaliças, observamos que a maioria da população estudada


(80%) as adquiriam semanalmente, conforme a Figura 8.

Figura 8. Distribuição da população estudada de acordo com aquisição de hortaliças para


a alimentação dos pré-escolares. São Paulo. 2019.
90%
80%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
12%
10% 8%
0%
0%
Semanalmente Mensalmente Raramente Não adquire
22

Sobre a aquisição de frutas, foi observada que a predominância foi de 76% na


aquisição semanal, conforme a Figura 9

Figura 9. Distribuição da população estudada, de acordo com a aquisição de frutas para a


alimentação do pré-escolar. São Paulo. 2019.
80% 76%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 16%
10% 8%
0%
0%
Semanalmente Mensalmente Raramente Não adquire

No que se refere à aquisição de guloseimas, a maioria da população estudada


(52%) as adquiriam semanalmente, conforme a Figura 10.

Figura 10. Distribuição da população estudada, de acordo com aquisição de guloseimas


para a alimentação dos pré-escolares. São Paulo. 2019.
60%
52%
50%

40%

30%
20%
20% 16%
12%
10%
0%
0%
Diariamente Semanalmente Mensalmente Raramente Não adquire

Classificando os alimentos inseridos no questionário de acordo com as categorias


do Guia Alimentar para a População Brasileira (2014), observa-se que a maioria da
população estudada adquiria os alimentos in natura ou minimamente processados e os
alimentos ultra processados semanalmente, sendo os in natura ou minimamente
23

processados em 85% da população estudada e os ultra processados, 45%, conforme


Figura 11.

Figura 11. Distribuição da população estudada, de acordo com aquisição de alimentos in


natura ou minimamente processados. São Paulo. 2019.

90% 85%
80%
70%
60%
50% 45%
40%
30% 27%
19%
20%
9% 9%
10% 5%
0% 0% 0%
0%
Diariamente Semanalmente Mensalmente Raramente Não adquire

Minimamente Processados Ultra processados

Relacionando a idade da população estudada com a aquisição de alimentos


categorizados de acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira (2014),
verificou-se que em todas as faixas etárias os alimentos in natura ou minimamente
processados eram adquiridos, em sua maioria, semanalmente, sendo 100% da população
estudada na faixa etária entre 20 e 29 anos, 88% na faixa etária entre 30 e 39 anos e 81%
entre 40 e 49 anos, conforme a Figura 12.

Figura 12. Distribuição da população estudada, de acordo com aquisição de alimentos in


natura ou minimamente processados relacionada à idade. São Paulo. 2019
100%
100%
88%
90% 81%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 12% 11%
8%
10% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
0%
Semanalmente Mensalmente Raramente Não adquire

20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos


24

Ainda associando a idade da população estudada com as categorias do Guia


Alimentar para a População Brasileira (2014), notou-se que em todas as faixas etárias os
alimentos ultra processados eram adquiridos, em sua maioria, semanalmente, sendo 83%
pela população localizada na faixa etária entre 20 e 29 anos e 42% nas populações
localizadas nas faixas etárias entre 30 e 39 anos e entre 40 e 49 anos, conforme a Figura
13.

Figura 13. Distribuição da população estudada, de acordo com aquisição de alimentos


ultra processados, relacionada à idade. São Paulo. 2019

90% 83%
80%
70%
60%
50% 42% 42%
40% 36%
30% 22% 22%
17% 18%
20% 14%
10% 3% 0% 0% 0% 0%
0%
Diariamente Semanalmente Mensalmente Raramente Não adquire

20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos


25

7. Discussão

Observou-se que, em relação à população estudada, o público feminino


predominou em 92%. Ao analisar os resultados de Bento et al. (2015) que, ao estudar a
percepção de pais/responsáveis de pré-escolares de uma creche, na capital mineira,
também observaram que a maioria da população estudada eram mulheres (97,4%).
Isso se deve ao fato de que, historicamente, a mulher assume o trabalho e as
responsabilidades da casa. De acordo com uma pesquisa realizada pela agência de
publicidade Thompson (2016) que, ao analisar o gênero que é responsável pelas
decisões de compra dos lares, obteve o resultado de que em 61% dos lares, as mulheres
são responsáveis pelas decisões de compra, em 36% as decisões são tomadas em
conjunto e em apenas 3% das casas os homens que tomam as decisões.
Em relação à idade, observamos que a maioria da população estudada se
encontrava na faixa etária entre 40 e 49 anos (48%) e entre 30 e 39 anos (44%). Bento et
al. (2015) obteve resultados diferentes em seu trabalho, em que apenas 9% da população
estudada apresentava idade entre 40 e 49 anos, sendo que a predominância da
população estudada se encontrava na faixa etária entre 30 e 39 anos (48,1%).
Uma possível explicação para nossos resultados é o fato da realização de nosso
estudo ocorrer com responsáveis por alunos do ensino médio técnico que também
possuíam filhos em fase pré-escolar, sendo assim, a população estudada era de idade
mais elevada.
Em nosso estudo, o número de residentes demonstrou prevalência de 76% de
quatro a seis pessoas por domicílio e apenas 20% da população estudada residia com
uma a três pessoas. Tal porcentagem é baixa se comparada com a Pesquisa de
Orçamentos Familiares de 2017-2018 (POF – 2017-2018), em que o tamanho médio das
famílias era de 2,9 pessoas na região sudeste. Esta diferença interfere diretamente na
quantidade de alimentos que deve ser adquirida mensalmente, sendo que quanto mais
residentes, maior deve ser a aquisição, havendo, assim, mais gastos para a família.
Analisando a renda mensal familiar, obteve-se o resultado de que 60% recebem de
um a três salários mínimos (R$998,00 a R$2.994,00) e apenas 4% convivem com seis a
sete salários mínimos (R$5.988,00 a R$6.986,00). Tal resultado também vai de encontro
26

com o POF - 2017-2018 em que apenas 5,5% dos brasileiros viviam com até R$1.908,00
(pouco menos que dois salários mínimos) e 73% conviviam com até R$5.724,00
(aproximadamente seis salários mínimos).
Valmórbida et al. (2014), ao estudar os fatores associados ao baixo consumo de
frutas e verduras entre pré-escolares de baixo nível econômico, constatou que as crianças
pertencentes a famílias de alta renda possuem menor chance de consumir frutas, sendo
uma possível hipótese para este resultado a substituição das frutas por alimentos
processados. Então, comparando este estudo com o resultado que obtivemos, é possível
supor que haja maior consumo de frutas, pois a maioria da população estudada
demonstrou baixa renda.
Em relação à influência de personagens infantis nas embalagens de alimentos na
decisão de compra de alimentos destinados ao pré-escolar, observa-se que, enquanto
60% da população estudada afirma ser influenciado, 32% acreditam que não há relação
direta entre influência e aquisição de alimentos. Este resultado confirma os achados de
McNeal (1992) que diz que a publicidade tem um papel decisivo nas decisões de
compras, com acentuação ao ambiente escolar e familiar.
Na maioria das vezes, a publicidade exibe alimentos de baixo valor nutricional, o
que torna preocupante a população estudada afirmar ser influenciada pela mesma, pois
isto pode indicar um alto consumo de alimentos ultra processados.
Analisando a composição do lanche levado pelo pré-escolar para a alimentação na
escola, 36% levam frutas como forma de alimentar-se, 24% levam bolachas, 28% levam
bebidas adoçadas e apenas 6% levam pães. Pode-se afirmar que o resultado obtido se
difere do estudo de Cunha (2016) que, ao analisar a caracterização dos lanches escolares
de crianças do pré-escolar e primeiro ciclo do Ensino Básico do conselho de Chaves,
observou que os alimentos mais consumidos eram as bolachas (63,1%) e, também, os
pães (74,4%). As frutas apresentavam 27,9% dos resultados observados.
Segundo Faria, et al. (2011), que analisou o excesso de peso e a obesidade infantil
no Externato João Alberto Faria, em Portugal, percebeu que o resultado obtido foi de
apenas 29,7% da população que ingeria a quantidade recomendada de frutas por dia,
confirmando o baixo consumo visto anteriormente.
27

O maior consumo de frutas no Brasil pode ser explicado pelo clima tropical,
diferente de Portugal que possui o clima mediterrâneo, pois não são todas as frutas que
suportam as temperaturas locais.
A baixa presença dos pães na composição dos lanches é incomum, pois estes são,
geralmente, os mais consumidos em horário de lanche por serem alimentos presentes no
hábito alimentar dos brasileiros e pela facilidade de combinação. As bolachas são as
preferidas das crianças por serem atrativas, além da praticidade para os pais, por não
demandarem tempo de preparo, serem de fácil transporte e encontradas na maioria dos
supermercados.
O consumo de bebidas adoçadas (28%), por apresentarem alto valor de açúcar,
demonstra outro ponto de atenção nutricional. As bebidas adoçadas não são ricas em
outros nutrientes e, em muitos casos, os pré-escolares as utilizam como substituição à
água, o que pode acarretar o desenvolvimento de doenças futuras.
Em relação à aquisição de carnes e embutidos, a maioria da população estudada
(70%) os adquiria semanalmente, resultado que coincide com o estudo de Santos (2017)
que, ao analisar a influência de personagens infantis sobre escolhas alimentares em
crianças, observou que, em seus três métodos, a maioria das crianças consumiam carnes
e peixes todos os dias, o que necessita de uma aquisição regular e frequente dos
mesmos, por se tratar de um produto perecível.
O resultado obtido em relação ao consumo de carnes está adequado, pois estas
são de suma importância devido aos aminoácidos essenciais presentes em suas
proteínas que participam de toda a formação de músculos e órgãos, principalmente na
fase dos 2 a 6 anos em que a criança apresenta grande crescimento e desenvolvimento.
Quanto à aquisição de hortaliças, a compra semanal foi a que apresentou maior
resultado (78%), o que se assemelha ao estudo de Santos (2017) que observou em seu
primeiro método que 75% das crianças estudadas consumiam legumes e verduras
diariamente, em seu segundo método 80% e no terceiro apenas 39% apresentava
consumo diário, sendo assim, apenas o terceiro método da pesquisa de Santos se difere.
Tal resultado é interessante, pois, na maioria das vezes, as crianças não
demonstram interesse no consumo de hortaliças, com isso, se torna necessário o
incentivo dos pais para auxiliar neste processo.
28

As hortaliças são alimentos que perdem suas características organolépticas


facilmente, portanto, para um consumo diário, sua compra deve ser no mínimo semanal,
logo os resultados obtidos em ambos os estudos estão adequados. Phillip (2013) mostra
que, de acordo com a atualização da Pirâmide Alimentar Brasileira, o consumo de
legumes e verduras (hortaliças) deve ser realizado em três porções diárias.
Analisando a aquisição de frutas, foi constatado que 76% as adquiria
semanalmente, confirmando o estudo de Santos (2017) que, em sua primeira
metodologia, apresentou resultado de que 75% da população estudada consumia frutas
diariamente, em seu segundo método 90% e no terceiro 56% das crianças realizavam
consumo de frutas todos os dias.
Os resultados referentes à aquisição e consumo de frutas estão adequados, pois
as frutas desempenham fator importante na alimentação das crianças, por oferecer água,
fibras, vitaminas, sais minerais e diversos nutrientes. A Pirâmide Alimentar Brasileira,
presente no estudo de Phillip (2013), mostra que o consumo de frutas deve ser realizado
em três porções diárias, o que requere uma aquisição frequente.
É possível supor que os responsáveis por pré-escolares incentivam o consumo
frequente de frutas por terem conhecimento de seus benefícios para a criança, além de
serem alimentos de baixo custo e haver a possibilidade de inserção destes na
alimentação dos pré-escolares a partir dos seis meses de idade, ou seja, já são alimentos
conhecidos e presentes nos hábitos alimentares da criança.
Sobre a aquisição de guloseimas, cerca de 52% as adquiria semanalmente e
apenas 12% apresentava aquisição rara. É possível haver comparação entre os
resultados com a pesquisa de Santos (2017) que obteve, em seu primeiro método, uma
maioria de 50% da população estudada que as consumia diariamente, em seu segundo
método 60%, e no terceiro método apenas 44% apresentou consumo de guloseimas
muitas vezes, sendo a prevalência (56%) ingerindo-os poucas vezes.
Santos (2017) apresentou diferenças na metodologia de seu trabalho se
comparado ao nosso, porém as semelhanças de resultados são evidentes e de possível
comparação.
O consumo de guloseimas deveria ser limitado, uma vez que apresentam
quantidade elevada de açúcares, gorduras e sódio e, na maioria das vezes, não há
quantidade relevante de outros nutrientes, porém os resultados obtidos demonstram que
29

estas indicações não estão sendo seguidas pela população estudada. Isto pode ter
relação com a facilidade de acesso a estes alimentos, facilidade de transporte e consumo,
além de serem atrativas às crianças por apresentarem sabor doce, o preferido delas.
Analisando a aquisição de alimentos conforme as categorias do Guia Alimentar
para a População Brasileira (2014), é possível observar que a aquisição de alimentos in
natura ou minimamente processados é a que apresenta maior aquisição, indo ao encontro
do preconizado com referido Guia.
Comparando nossos resultados com o estudo de Oliveira S. Filha, et al. (2017)
que, ao analisar o consumo dos grupos alimentares em crianças usuárias da rede pública
de saúde do município de Aracaju, obteve resultado divergente, em que o de consumo
dos alimentos in natura ou minimamente processados apresentou apenas 8% classificada
como adequado. O valor predominante (51%) se deu no consumo classificado como
abaixo do adequado.
O resultado obtido em nosso trabalho está adequado, uma vez que os alimentos in
natura ou minimamente processados devem compor a base da alimentação,
principalmente em crianças que estão em fase de desenvolvimento de seus hábitos
alimentares. Esse distingue-se dos resultados obtidos por Oliveira S. Filha, et al. (2017),
que apresentou baixo consumo destes alimentos.
Ainda utilizando as categorias do Guia Alimentar para a População Brasileira
(2014), verificamos que a aquisição semanal de alimentos ultra processados apresentou
prevalência de 45%, resultado acima do indicado pelo Guia que orienta que tais alimentos
devem ser evitados, pois são nutricionalmente desbalanceados e favorecem o consumo
excessivo de calorias. Para a aquisição estar adequada, a maioria deveria se enquadrar
nas variáveis “raramente” ou até “mensalmente”, porém estas frequências apresentaram
27% e 19%, respectivamente.
Lamano-Ferreira (2016), ao comparar as dietas rurais e urbanas para analisar as
escolhas de alimentos pelas mães de crianças pré-escolares na cidade de Piracicaba em
São Paulo, observou que as carnes processadas (como nuggets, embutidos,
hambúrgueres, etc) se encontram nas escolhas alimentares de 23% da população urbana
estudada e os doces e guloseimas (arroz doce, chiclete, bombom, achocolatado, etc.)
correspondem a 3% das escolhas alimentares também na população urbana.
Comparando nosso estudo com o de Lamano-Ferreira (2016), há grande contraste nos
30

resultados, em que os resultados do artigo em comparação apresentam melhor


adequação ao Guia, sendo que a maioria da população estudada não demonstra
interesse em alimentos ultra processados (carnes processadas e guloseimas), enquanto
em nossa pesquisa os mesmos são adquiridos com certa frequência.
Realizando associação entre idade dos pais e aquisição de alimentos in natura ou
minimamente processados, é possível constatar que, em todas as faixas etárias, estes
alimentos são adquiridos majoritariamente toda semana, sendo que 100% dos adultos
entre 20 e 29 anos realizavam aquisição semanal dos mesmos. Estes resultados são
importantes pois, geralmente, as pessoas mais novas são associadas à baixa aquisição
de alimentos in natura ou minimamente processados, então, é um diferencial a aquisição
destes ser elevada por pessoas de idade entre 20 e 29 anos.
Ainda associando a idade à aquisição de alimentos categorizados de acordo com
Guia Alimentar, os alimentos ultra processados são adquiridos semanalmente por todas
as faixas etárias, porém o resultado mais preocupante foi a população classificada entre
20 e 29 anos, em que 83% destes adquiria tais alimentos semanalmente, enquanto as
faixas de 30 a 39 e 40 a 49 apresentaram ambas 42% de aquisição semanal.
Isto confirma o estudo de Bielemann, et al (2015) que, ao analisar o consumo de
alimentos ultra processados e impacto na dieta de adultos jovens, constatou que 51% das
calorias diárias de jovens presentes na média de 22 anos provém de alimentos ultra
processados.
Foi observado que os pais que compõem a faixa etária entre 20 e 29 anos realizam
todas as compras da casa semanalmente, uma vez que a maioria demonstrou adquirir
alimentos in natura, minimamente processados e ultra processados toda semana. A
aquisição dos ultras processados preocupa, pois a aquisição semanal prevê um alto
consumo destes pelo pré-escolar, o que diminui o consumo de in natura e minimamente
processados, diminuindo a oferta nutricional para o mesmo e podendo acarretar diversas
complicações de saúde em sua fase adolescente e adulta.
A faixa etária entre 40 e 49 anos foi a que retratou melhor adequação de aquisição
de alimentos ultra processados, de acordo com o Guia, uma vez que 42% os adquiria
semanalmente, e ambas as variáveis “mensalmente” e “raramente” resultaram em 22%.
Uma possível explicação para isto é as pessoas de maior idade não serem familiarizadas
31

com alimentos industrializados, preferindo a preparação de comidas caseiras,


principalmente para as crianças.
32

8. Conclusão

Foi possível concluir, que:

 A população de estudo compreendeu, em sua maioria, ao gênero feminino, entre


40 e 49 anos, com renda familiar entre um e três salários mínimos.

 A embalagem influência na aquisição de alimentos.

 Frutas, bebidas adoçadas e bolachas são os alimentos mais consumidos no


lanche, pelas crianças.

 “Semanalmente” foi a frequência de maior observação em todos os alimentos,


sendo as carnes, hortaliças e frutas os de aquisição frequente.

 O consumo de alimentos in natura ou minimamente processados foi o de maior


aquisição, comportamento este adequado. Entretanto, observou-se alta aquisição
de alimentos ultra processados.
33

9. Considerações Finais

 A alta aquisição de alimentos ultra processados preocupa, pois estes produtos se


consumidos em excesso podem resultar em doenças futuras, sendo necessária a
elaboração de um programa de orientação alimentar específico para esta categoria
de alimentos, no futuro.

 Possivelmente, os resultados seriam mais precisos se a elaboração do


questionário houvesse sido realizada de maneira diferente, sobre consumo
alimentar e não frequência de aquisição de alimentos, pois a aquisição é realizada
para a alimentação de todos os residentes da casa, sendo assim, não é possível
analisar o consumo de cada categoria alimentar pelo pré-escolar com esta
metodologia.

 Os resultados também poderiam ter sido diferentes se o estudo tivesse sido


realizado com as crianças, ao invés dos responsáveis pelas mesmas, pois essas
responderiam com sinceridade, de acordo com os alimentos que mais chamam sua
atenção.

 Uma vez que foi observada a influência das embalagens na decisão de compra de
alimentos destinados ao público pré-escolar, se mostra necessária uma
intervenção relacionada a estes, pois os alimentos alvo de publicidade são,
geralmente de baixo valor nutricional.
34

10. Referências Bibliográficas

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APÊNDICE A – Formulário de consentimento


39
40

APÊNDICE B – Questionário sobre escolhas alimentares

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