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Escola Inglesa

Melanie Klein

TEXTO:

ALGUMAS CONCLUSÕES TEÓRICAS


SOBRE A VIDA EMOCIONAL DO BEBÊ
Contribuições Gerais
 Uma das grandes figuras da psicanálise com ideias originais, e
sem grandes pretensões de construir um conjunto teórico
coerente em suas hipóteses. Também, uma figura polêmica
na área.
 Primeiro trabalho publicado em 1919.
 Seus trabalhos transmitem uma preocupação em descrever o
mundo rico de fantasias e vivências que os pacientes em
tratamento apresentam.
 Klein quer explicar os eventos que acontecem no consultório e
no vínculo interpessoal entre paciente e analista.
 Está interessada em descrever o desenvolvimento psíquico
precoce, principalmente o primeiro ano de vida, por
considerar fundamental para o desenvolvimento psíquico
posterior.
 O objetivo principal é a compreensão de fantasias e a
ansiedade predominante.
 Defendeu que as crianças poderiam ser atendidas, assim como os adultos.
 Melanie Klein conferiu uma autonomia emocional criativa aos bebês, dentro
das limitações de um ego incipiente e fundamentalmente corporal.
 Alguns temas clássicos passaram para segundo plano: como a teoria do
narcisismo.
 Essa experiência lhe permitiu observar e reformular concepções teóricas
freudianas, tais como:

superego precoce
Complexo de Édipo precoce
(desde o início da vida Instintos como expressões de
psíquica, nos períodos pré- forças mentais em luta
genitais)
Mecanismos de defesa
inveja primária primitivos
(agressão desde o início da
vida) Ego incipiente
Contribuições Gerais
 Suas contribuições foram fundamentais para a compreensão de
fenômenos tanto do desenvolvimento normal quanto psicopatológico do
sujeito, compreensão esta que ampliou em muito o campo de aplicação
clínica da psicanálise.
 A teoria de Klein visa compreender as ansiedades experimentadas pelo
ego, os conteúdos da fantasia a elas associadas e as defesas contra elas
erigidas.
 A ansiedade o foco primordial da investigação.
 Hipótese principal: a ansiedade existe desde o início da vida, é o motor
essencial que põe em marcha o desenvolvimento psíquico, é também a
origem da patologia mental. Ela surge pela tensão entre o instinto de vida
(construção) e o instinto de morte (destruição).
 O sujeito está fadado a lidar com o eterno conflito entre os instintos de
vida e de morte.
 Não existe vida mental fora da relação com o outro.
4 Pontos básicos

 A admissão de relações objetais (interação mundo


interno e mundo externo) desde o nascimento, sendo
o primeiro objeto o seio materno.
 As relações objetais incluem os elementos
fundamentais: amor, ódio, fantasias, ansiedades e
defesas.
 Ego novato/incipiente, rudimentar.
 A teoria das posições esquizo-paranóide e
depressiva e o conceito de identificação projetiva.
Funcionamento mental primitivo

Ansiedade
Impulsos destrutivos predominante:
(Instinto de morte/ódio)
Ego Dissolução do ego
inicial Busca por
sobrevivência do
Impulsos construtivos ego aos impulsos
(Instinto de vida/amor) destrutivos.

Relação
objetal
desde o
início
Objeto
externo
Primeiras relações com o mundo externo

 No mundo externo, a dor e o desconforto da perda do


estado intra-uterino são sentidos pelo bebê como uma
agressão por forças hostis, isto é como uma
perseguição.
 A ansiedade persecutória participa desde o início em
sua relação com os objetos, na medida em que o bebê
está exposto a privações.
 A prevalência dos impulsos destrutivos é
decorrente da interação entre fatores constitucionais
(intensidade do instinto de morte) e fatores
ambientais, atuando em conjunto. O resultado é uma
grande intolerância a frustração, à dor mental.
Instinto de Vida e de Morte
 Ela usa a terminologia instinto, não fala em pulsão.
 Instinto de morte é a fonte primária da ansiedade. Só ganha
significado afetivo frente ao instinto de vida; não faz sentido
falar em medo de morrer sem pressupor o amor à vida, em
ansiedade pela preservação do objeto, alvo de ataques
destrutivos, sem pressupor o amor a ele. O conflito existe por
toda a vida.
 A atividade interna do instinto de morte dá origem a ansiedade
de aniquilamento e essa é a causa primária da ansiedade
persecutória. (Klein, p.216).
 As manifestações instintivas só se dão nas relações de objeto.
...os impulsos oral-libidinais e oral-destrutivos, desde o
começo da vida, estão dirigidos, em particular para o seio da
mãe (p. 217).
 A pulsão de morte age como uma força destrutiva dentro do
sujeito e tem forças exteriores que são as frustrações.
Início da vida psíquica
 Ego que tem alguns rudimentos de integração e coesão e progride cada vez
mais nessa direção (p.228)
 Relações objetais, modeladas pela libido e agressividade, pelo amor e ódio.
 A mente do sujeito é um espaço povoado de objetos internos, que
interagem com os externos, através dos processos de projeção e introjeção.
 Defende que as fantasias agressivas da criança não devem ser reprimidas
mas, pelo contrário, deve-se deixar que as sinta e as exprima assim como
aparecem. A função do analista é compreender a mente do paciente e
transmitir-lhe o que ocorre com ela.
 À medida que o ego vai ficando cada vez mais apto a suportar a ansiedade,
os mecanismos de defesa sofrem uma correspondente alteração (p. 229)
 Os impulsos destrutivos e a ansiedade persecutória diminuem de poder; a
ansiedade depressiva ganha em vigor e atinge o clímax.
 Muda o conceito de fases libidinais, ao afirmar que, nas
crianças pequenas, observa uma mescla de pulsões orais,
anais e genitais que se sobrepõem a partir das primeiras
relações de objeto.
 Afasta-se da ideia de um desenvolvimento cronológico,
substituindo pela ideia de posição, considerando o
caráter dinâmico do funcionamento mental.
 A vida psíquica se organiza tanto em sua evolução
como em seu funcionamento, em volta de duas
posições fundamentais: esquizo-paranoide e
depressiva.
Posição Esquizo-paranoide

 Predominante nos primeiros três ou quatro meses


 Objetos parciais
 A ansiedade primordial é quanto à sobrevivência do ego, sem
consideração pelo objeto.
 Predomínio do sadismo – oral, uretral e anal.
 Vivências persecutórias
 Ansiedade paranoide (quem com ferro ferre com ferro será ferido/ ai
coitadinho de mim!)
 Processos de cisão e fragmentação dos objetos e do ego
 Idealização
 Negação onipotente da realidade psíquica
 Predominância dos processos projetivos – expulsão dos maus afetos
 Não há percepção do objeto como autônomo (onipotência)
 Identificação projetiva
Posição Esquizo-paranoide

Cisão/
Objetos maus internalizados
Splitting
(frustrantes)
P B B
Projeção
P B
Objeto
Ego Aspectos do self: bons e maus externo
inicial Aspectos do obj: bons e persecutórios M
B
M M
B Introjeção
B

Relação objetal parcial

Negação da realidade
psíquica Objetos bons internalizados(gratificantes)
Mecanismos de defesa
 Projeção - é uma forma de neutralizar a vivencia emocional de destruição do
ego por parte dos impulsos destrutivos. Contudo, é possível também se
projetar objetos bons.
 Introjeção - é internalização de aspectos dos objetos externos no self.
 Negação onipotente da realidade psíquica - é um mecanismo
onipotente, pelo qual a mente nega a existência de objetos persecutórios. A
frustração e a dor são negadas, tanto o objeto persecutório quanto à própria
parte do self, que experimenta ódio e ansiedade, são fantasticamente
aniquilados, refugiando a personalidade em um mundo alucinatório de
gratificações.
 Cisão/ splitting: Permite que se efetue uma primeira divisão entre bom-mau
dos objetos externos e internos. É uma defesa útil para favorecer o
desenvolvimento da mente. É realizada uma cisão do ego que ainda é frágil. É
preciso fazer uma cisão bem feita para se poder internalizar o objeto bom de
maneira segura. Fundamental para a preservação do self e evolui para o
sentido crítico de discriminação entre o que satisfaz ou não. Quanto mais forte
o ataque na fantasia, maior a ansiedade persecutória, mais violenta a defesa e
o processo de internalização do bom objeto é prejudicado.
Mecanismos de defesa
 Idealização - Constitui um aumento mágico dos traços bons e protetores do
objeto bom para se proteger a perseguição.
 Identificação projetiva - A mente tem a capacidade de se liberar de uma parte
do self, atribuindo-a ao objeto, por meio de fantasias inconscientes onipotentes.
Através da cisão e projeção de partes indesejáveis, ou mesmo desejáveis do self,
para dentro do objeto, ficando a personalidade empobrecida. O resultado é uma
confusão da identidade, uma perda da diferença real entre sujeito e objeto. O
sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmo, identificando-se com o
não projetado; ao objeto são atribuídos os aspectos projetados, dos quais o
sujeito se desprendeu. Para Klein, uma das bases principais dos processos de
confusão. Uma das consequências é o ego ficar debilitado e muito dependente
dos outros para se proteger das ameaças. (Ex: B& B, p.101-102 )
 Dupla paciente-analista: O comportamento do paciente contém sempre uma
comunicação que se traduz por: “sinta o que eu sinto” ou “abrigue um pedaço
meu”, pode ainda ser uma provocação à resposta no ambiente externo que dê
realidade aos sentimentos por ele experimentados, por ex: sente-se perseguido,
cria uma situação que provoca raiva e uma atitude de retaliação do analista, tem
assim justificados os seus sentimentos de perseguição.
Posição Esquizo-paranoide
Mundo externo muito persecutório
M
M M
M M
Ego
Obj mau
Fantasias de ataque intenso (ódio)
M
Aspectos objeto bom Obj Bom

B Idealização
B B
B B
B

Objetos bons grandiosos Mais Inveja


Fantasias de dependência
Posição Esquizo-paranoide

B B B
B
B B
Identificação Projetiva
B
Objeto M
Ego Aspectos do self: bons e maus externo
inicial Aspectos do obj: bons e maus
M M

M M
M M
Fantasias primitivas

 O caráter primitivo é definido pela qualidade da ansiedade e as


caraterísticas dos mecanismos de defesa. Ela os considerou de natureza
psicótica. Pensa que toda criança passa por uma psicose infantil, seria uma
etapa normal.
 As pulsões agressivas expressam-se desde o começo da vida, através de
fantasias inconscientes, que estão dirigidas para o corpo da mãe. A criança
tem desejos de penetrar no corpo da mãe, atacando-o sadicamente. Ela
quer ver o que tem no corpo materno, querendo se apropriar de seus
conteúdos e também destruí-los.
 Voracidade
 Klein considera que angustia persecutória do corpo da mãe e do seu
interior , por tê-lo destruído em suas fantasias sádicas é o que leva o ego a
procurar novos objetos no exterior, para acalmar a ansiedade.
 O bebê percebe tanto o mundo externo, como a sim próprio, divididos em
duas partes inconciliáveis, um objeto idealizado gratificante e outro objeto
persecutório frustrante.
Processo de evolução das posições

 À medida em que há uma evolução do psiquismo,


existem momentos de integração dos objetos dissociados,
a introjeção do objeto bom fortalece o ego permitindo ele
tolerar mais a ansiedade, sem projetá-la, assim se produz
a passagem para a organização da posição depressiva.
 O seio bom interno e externo é o protótipo de todos os
objetos protetores gratificantes. O seio mau é o protótipo
de todos os objetos perseguidores.
 Fatores externos são muito importantes, desde o começo,
pois toda a experiência boa fortalece a confiança no
objeto bom externo, favorecendo o processo de
integração.
Posição Depressiva

 A ansiedade básica é pela preservação do objeto amoroso.


 Predominância a partir do segundo trimestre de vida.
 Liga o seio à mãe
 Objeto total
 Existe a vivência de Culpa, que se for intensa pode haver uma regressão à perseguição.
 Integração dos objetos bons e maus.
 Ansiedade depressiva, voltada pra o objeto (“Posso ter destruído aquilo que amo/ ai
coitadinho de mim sem isso”!)
 Desespero - desconfiança da capacidade de realizar a reparação.
 Reparação como principal mecanismo de defesa.
 Identificação do ego com os objetos bons internalizados é estável.
 A predominância da posição depressiva no funcionamento psíquico depende da
confiança nos bons objetos.
 Um mesmo objeto é sentido como alvo de amor e ódio (objeto que gratifica e frustra).
 Diminui a projeção com medo de expelir os objetos bons do ego.
 É percebida a ambivalência do próprio ego em relação ao objeto.
Posição Depressiva

 Baixa a onipotência dos mecanismos de defesa.


 O vínculo com a realidade externa se modifica, sendo mais realista, pois é
reconhecido em seus aspectos bons e maus, com menos distorções.
 Há uma maior discriminação entre fantasias e realidade, assim entre
realidade interna e externa.
 Muitas dificuldades podem surgir no processo da posição depressiva, e
defesas maníacas podem ser acionadas para lidar com a culpa e a perda,
caracterizando-se pelas vivências emocionais de triunfo, controle
onipotente e desprezo nas relações de objeto.
 Orientações técnicas: a principal função do analista é se deixar envolver
pelo clima emocional da sessão, transformando isso em uma
interpretação, receber as projeções que o paciente faz sobre ele, ser muito
sensível as manifestações transferenciais e contratransferenciais para
extrair a organização básica mental do paciente. O principal para oferecer
o paciente não é só uma compreensão, mas que ele possa tolerar a dor
mental que suas vivências e o vínculo com a realidade externa produzem.
 A teoria kleiniana é clínica.
 Baseia-se, sobretudo, nas teorias que os próprios
pacientes têm sobre suas mentes.
 Leva em consideração a experiência subjetiva do
paciente.

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