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Como Nossa Mente Funciona

& Como Surgem as Doenças Mentais.


Segundo a Teoria da Personalidade de Sigmund Freud

A mente ou massa psíquica é formada por três energias: o ID


(louco, sem limites), o superego (censurador moral) e o ego
(regulador, mediador). São forças psíquicas internas opostas, as
quais travam uma luta constante diante das exigências e pressão
da realidade externa, as pessoas e as coisas, ao nosso redor,
desde os primeiros dias do nascimento do indivíduo. Estas três
partes não tem estruturas físicas ou neurológicas, servem apenas
para explicar de modo didático o mecanismo de como a mente
funciona.
Imagine o bebê, a mente dele é uma massa psíquica caótica, sem limites para os desejos
impulsivos, isso é o ID, com o tempo o bebê vai aprendendo as regras do certo e o errado com os
pais, forma-se o superego, depois uma terceira parte, o ego, surge tentando amenizar a luta
entre o Id e o superego.

O conflito constante ou tensão psíquica entre as


três forças causa o medo, a culpa, a vergonha, a
insegurança, a frustração, e outros sentimentos, os quais
causam a ansiedade, que por sua vez, origina os
transtornos mentais. É fácil entender que uma pessoa
muito tensa, frustrada, insegura, ansiosa, com medo, pode
com o tempo, de tanto se angustiar, se tornar mais
transtornada e sofrer com a depressão, síndromes como o
pânico, ter altos e baixos fortes (transtorno bipolar),
paranoias (mania de ser perseguida), neuroses e muitos
outras doenças mentais ou psicossomáticas, as quais
envolvem sintomas físicos e mentais.

O ID
O ID é cheio de energia, impulsivo, primitivo, caótico, cego, totalmente inconsciente, ele sedia
as forças biológicas instintivas como a libido (sexualidade) e a agressividade. O ID quer tudo o
que vê na realidade externa, quer a satisfação total das necessidades físicas, e também quer
prevalecer sobre a realidade interna, ele quer vencer o superego e o ego.

O ID é imediatista, movido pelo princípio do prazer, ou seja, maximizar o prazer, evitar a dor, e é
movido também pelo processo primário, que implica no raciocínio infantil, sem regras, amoral,
inconsequente. O ID é egoísta, quer porque quer, na hora, e pronto. É como uma criança, não
mede consequências, pois está mergulhado no inconsciente sem contato com a realidade.
O ID é a força propulsora da vida, porque a partir dos impulsos dele o indivíduo tem desejos,
cresce, evolui, sendo que o ID, vai precisar do controle do ego e do superego, para poder manter-
se vivo.

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O EGO
O ego, é parte consciente e parte inconsciente. Ele desenvolve-se a partir do ID. À medida que o
bebê, puro ID, cresce uma força cria a própria identidade, chamada de ego.
O ego é prático, movido pelo princípio da realidade ou processo secundário, que implica na
lógica, razão e no raciocínio maduro. O ego atua como mediador, ele tenta manter o equilíbrio
dinâmico da mente, criando mecanismos de defesa repressores e reguladores, contra as
forças sem limites do ID e as forças controladoras do superego.
Assim, de um lado fica o ID e o superego clamando, do outro o ego, tentando manter a ordem,
tendo ainda que suportar as exigências da realidade externa, que por si só faz pressão sobre
ele.

O ego tem a função de manter a saúde da personalidade do indivíduo, que está em constante
conflito. O ego decide se as necessidades do ID e do superego devem ou não ser satisfeitas. O
ego não contraria o ID e o superego, nem à realidade externa, ele serve a estas três forças, ajuda
a reduzir as tensões criando os mecanismos reguladores e de defesa, redirecionando as
energias em função das exigências da realidade, para manter o indivíduo sadio mentalmente.
O ego regula o conflito de forma prática e realística, ele é a força racional, mais inteligente,
sempre tira a energia do Id, do superego e da realidade externa, para colocar “ordem na casa”.

Numa analogia SIMPLES: o ego é o cavaleiro consciente, o ID o


cavalo indomável louco.

O SUPEREGO
O superego, é a força psíquica parte consciente e parte inconsciente, que desenvolve-se na
infância, assimilando os valores dos pais e da sociedade, as regras do certo e o errado,
o elogio e o castigo, a conduta boa e a ruim. Disso nasce a nossa consciência moral. O próprio
nome diz, SUPER – ego, um ego mais rigoroso, que atua como freio, ou força contrária aos
interesses práticos do ego e forças sem limites do ID. O superego proíbe, é implacável e até
cruel, na busca pela perfeição, ele julga, critica, censura e fixa normas. O superego é o depósito
de códigos de condutas, que formam as inibições da personalidade. Experimentamos culpa, ou
vergonha, porque o superego está funcionando. Enquanto o ego busca metas realistas, e o ID
metas amorais, o superego coloca a moralidade acima de tudo. Essa disputa tensa entre ID,
ego, superego e a realidade externa, causa os conflitos que fazem surgir a ansiedade e outros
sentimentos e sensações nagativas.
Os conflitos e os traumas causados pelo ID, superego e ego são inevitáveis, e quando não
resolvidos, eles persistem por toda a vida na forma de padrões repetitivos de comportamento, a
fixação neurótica, que formam a base dos transtornos mentais e da personalidade do indivíduo
(Tipo 1, 2, 3, etc. do Eneagrama). Por isso, é comum a pessoa falar que não consegue mudar o
seu comportamento, porque ela sofre da fixação neurótica, a qual se retirada do seu dia a dia
provocará sofrimento, vazio, pois a pessoa está acostumada com a sua neurose ou padrão
repetitivo de comportamento. É como tentar retirar de um alcoolista o álcool, do fumante o cigarro,
eles vão resistir.

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Assim, citando um exemplo, o tipo 1, o perfeccionista do Eneagrama, se ele deixar de ser muito
exigente, entenderá que sofrerá porque perderá a sua essência, ficará num vazio. Pode-se dizer
que todo indivíduo perturbado precisa da sua neurose para sobreviver.

Para manter o equilíbrio psíquico o ego satisfaz os impulsos do ID e do superego, no entanto, ao


gratificar é estabelecida uma formação ou relação de compromisso, ou seja, enquanto o ego
permite os impulsos, ele fica comprometido com os mecanismos defesa repressores, que não
querem a satisfação franca e imediata dos impulsos.
De um lado o ego permite, do outro precisa reprimir, serve a dois senhores, este fenômeno tenso
causa o surgimento dos conflitos não resolvidos e dos sintomas neuróticos, também chamados
de transtornos ou doenças mentais.

Os indivíduos apresentam muitos conflitos não resolvidos, uns se sobrepondo aos outros,
maiores e menores, desde a infância, que seguem pela vida adulta, e usam de vários
mecanismos inconscientes de defesa do ego. Cria-se assim uma hierarquia de conflitos e a
personalidade neurótica. Observe quantos problemas ou conflitos não resolvidos você identifica
quando estuda o seu tipo do Eneagrama.

A Ansiedade
Já vimos que a ansiedade surge da tensão entre o ID, o superego, o ego e a realidade externa.
Ela é fundamental para o desenvolvimento da neurose ou a psicose. A partir das primeiras
experiências ansiosas do bebê, cria-se padrões repetitivos de reações e sentimentos que
ocorrerão sempre que formos expostos a alguma ameaça.
Existem alguns tipos de ansiedade: a objetiva ou racional, frente à realidade que nos cerca,
como ter medo de animais ferozes, desastres; a neurótica, frente aos impulsos do ID não
satisfeitos e o medo de ser punido por exibir impulsos impróprios; a moral, resultado do confronto
entre o ego e o superego, quando este faz com que sintamos culpa ou vergonha; a traumática,
quando não conseguimos lidar com ela e corremos o risco de sermos subjugados por ela.
Pode-se lidar com a ansiedade de dois modos: 1) Diretamente, enfrentando consciente e
realisticamente o problema e resolvendo-o; 2) Distorcendo a realidade, usando de mecanismos
inconscientes do ego.

Os Mecanismos de Defesa do Ego


Os conflitos estão sempre presentes em nossa vida, pois os impulsos do ID, a moralidade e as
proibições do superego, e as demandas da realidade externa, pressionam e exigem gratificações,
muitas não cumpridas. Em geral, usamos ao mesmo tempo vários mecanismos inconscientes
de defesa para nos defender contra a ansiedade provocada pelos conflitos da vida.
Esses mecanismos envolvem distorções da realidade e o ego para proteger a nossa sanidade
mental, não vai economizar estratégias para falsificar soluções. Pessoas saudáveis e as
neuróticas usam os mecanismos de defesa. Veja alguns mecanismos do ego:

Repressão (afastar a realidade), negação (excluir a realidade), anulação (neutralizar a


realidade), evitação (fugir), racionalização (redefinir de modo astuto), projeção (transferir a
realidade, culpar o outro), deslocamento (redirecionar a realidade), fixação (estacionar a
realidade), introjeção (incorporar a realidade), formação reativa (fazer o contrário da realidade
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aparente), regressão (fugir da realidade presente para o passado), sublimação (desviar a
realidade imprópria para outra aceitável), etc.
Também usamos mecanismos de defesa conscientes para tentar escapar da responsabilidade
de resolver nossos conflitos: mentir, omitir, contar histórias, falsificar, corromper, etc.

Exemplos da luta entre as forças psíquicas, ID x superego x ego, a ansiedade e a


realidade externa:

Caso 1. Uma pessoa sente muita raiva de um colega de trabalho, o seu supervisor, porque é alvo
de DURAS críticas sobre o desempenho profissional. O Indivíduo diante dessa realidade externa
tensa tem o impulso (do ID) de agredir fisicamente o colega, com um soco. No entanto, surge
um conflito e muita ansiedade, a pessoa sente que algo a proíbe de realizar a agressão
(superego), pois seria demitida e até levada à delegacia. Então, o ego dá um jeito, como gestor
inteligente e astuto ele controla a situação, cria um mecanismo inconsciente de defesa
regulador. O indivíduo querendo agradar o chefe e amenizar o conflito, convida o seu supervisor
para jogar bola, e lá no jogo desfere golpes “sem querer” no colega, o que é aceitável num
esporte de confronto físico. MAS, jogar bola e agredir não resolve de fato o conflito, pois o
indivíduo poderia conversar com o supervisor e comunicar que ficava triste com as críticas. Com
o tempo, e o conflito não solucionado, há um aumento da tensão, a qual faz surgir uma forte
neurose. O indivíduo cria assim uma formação de compromisso, entre querer dar o soco (o ID
é impulsivo), mas não poder soquear (o superego proíbe) e o ato de jogar bola para agredir,
usando um mecanismo de defesa (*), que encobre as verdadeiras intenções. Ocorre então uma
solução falsa, típica dos mecanismos de defesa do ego. A partir daí o indivíduo passará a sofrer
de uma neurose crescente que poderá levá-lo a uma forte depressão ou outro tipo de doença
mental. Moral da história: não resolver verdadeiramente o conflito causa doenças!

(*) mecanismo de defesa, nesse caso a sublimação, onde o impulso impróprio de socar é
desviado para algo aceitável, jogar bola.
Caso 2. Um homem heterossexual casado é perturbado por fortes desejos de atos homossexuais
dirigidos a um amigo. O ID quer a imediata satisfação, mas o superego, a consciência moral do
homem, o proíbe de ter tal ato sexual com o amigo, causando-lhe forte sentimento de culpa,
medo, vergonha e ansiedade sem controle. Então, o ego cria um mecanismo de de defesa
conciliador, mas não totalmente eficaz, contra o ID e o superego, satisfazendo as duas forças,
deslocando (*) o desejo impróprio homossexual para uma atividade menos comprometedora,
como trocar beijos com outros homens numa peça de teatro aceitável socialmente, onde nas
cenas ocorrem relacionamentos homoafetivos, sem o ato sexual. O homem se matricula
imediatamente num curso de teatro. O superego agradece porque não ocorrerá o ato sexual, o ID
fica satisfeito porque os beijos podem ser extremamente libidinosos, podendo ser até mais
satisfatórios que o ato sexual, e o ego sai assim vitorioso, porque neutralizou a situação
conflituosa. No entanto, ainda assim, o homem não resolveu o problema dele, ter o ato sexual
real com o amigo.
O ego apenas criou uma saída que não solucionou o conflito verdadeiramente. Houve uma
solução falsa. Com o tempo, a pressão libidinosa reprimida, poderá ser tão grande que uma
neurose poderá surgir e crescer até provocar comportamentos e sentimentos muito prejudiciais
ao indivíduo. O homem poderá desenvolver comportamentos como impotência sexual,
depressão, ansiedade generalizada, sentimentos hostis contra mulheres ou homens,
comportamentos sádicos ou masoquistas, etc.
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(*) mecanismo de defesa, nesse caso o deslocamento, onde o impulso impróprio homossexual é disfarçado.

Qual a solução para uma vida feliz, sadia, não neurótica? Fazer psicanálise! Com a psicoterapia
os conteúdos reprimidos que estão no inconsciente serão trazidos ao consciente, interpretados
pelos analista, processados, ressignificados, e o analisando terá seus insights curativos. O
insight é a compreensão e o sentimento de que o material reprimido está originando um
determinado conflito. Uma vez que o analisando tem o insight intelectual (pensa) e também o
emocional (sente, chora), retirará a carga do estresse causado pela tensão psíquica acumulada,
desde quando os conteúdos foram reprimidos.

O objetivo prático da psicanálise é fortalecer o ego, fazê-lo mais independente em relação aos
desejos sem limites do ID e o controle exagerado do superego e às exigências da realidade
externa, de modo a assenhorar-se de novas partes do ID e do superego, e assim ter mais
controle da vida.

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Veja abaixo esquema que simplifica o funcionamento da mente, o surgimento da doença mental e
o objetivo da psicanálise:

1. Realidade Interna
ID (deseja tudo) x SUPEREGO (proíbe) x EGO (mediador).
Forças que lutam entre si, e pressionam a ego, além dele ter
que suportar a própria realidade externa.

3. Conflito 4. Ansiedade
Tensão psíquica. Medo
Desequilíbrio. Insegurança
2. Realidade Externa Sentimento de Frustração
Objetos de desejo: pais, irmãos, outras pessoas e perda, culpa,
coisas. Pressionam o ID, o ego e o superego. vergonha.

7. Transtornos
5. Mecanismos de mentais são
defesa do EGO para estabelecidos.
manter o equilíbrio 6. Forma-se uma relação de
psíquico:
compromisso, entre o ego que
gratifica o ID e o superego que
Repressão, negação,
proíbe. MAS, tal relação que
projeção, isolamento,
satisfaz as duas forças, não
sublimação, etc.
resolve o conflito de fato, o que 8. A neurose é fixada e
acaba causando as doenças pode permanecer a vida
O ego procura equilibrar a
mentais neuróticas ou toda, fazendo parte da
mente, a qual sofre com a
psicossomáticas. personalidade
luta constante entre o ID e o
superego. O ego reprime, neurótica do indivíduo:
nega, isola, etc., os conflitos 9. Solução: fazer psicanálise, a tipo 1, 2, 3, etc. do
impróprios (ideias, Eneagrama.
qual traz os conteúdos reprimidos do
impulsos, desejos), que são inconsciente ao consciente, para
armazenados no serem interpretados e fazerem surgir
inconsciente. os insights (compreensão
verdadeira ) da causa do conflito que
originou o transtorno mental.

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