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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DR.

RAUL BAUAB
FACULDADES INTEGRADAS DE JAHU
VINÍCIUS DE SOUSA

ABORDAGENS
PSICODINÂMICAS
O EGO E O ID • Portanto as forças possuem certa energia,
entramos no campo da economia psíquica.
 Os impulsos fortes são mais difíceis de
A METAPSICOLOGIA FREUDIANA resistir que os fracos
• Freud cria um modelo de compreensão da vida  A energia de um impulso pode ser deslocada
mental que ele chama de “metapsicologia”. de objeto (p. ex. descontar a raiva no amigo
 do grego antigo μετα (metà) = depois de, por ter brigado com o chefe)
além de tudo • O problema econômico é saber quanto de energia
 do grego antigo ψυχή (psukhē) = alma, por ser suportada sem descarga e como isso
espírito + λογία (logia) = estudo, pesquisa acontece.
• A metapsicologia seria, então, a tentativa de • A economia psíquica ganha destaque quando
estudar aquilo que está além do perceptível em percebemos o desencadeamento da neurose na
psicologia, aquilo que não pode ser visto ou adolescência ou na menopausa (aumento ou
provado, mas apenas intuído através de outros diminuição absoluta de energia).
fenômenos. • Como princípio geral da psicanálise todo
• A metapsicologia freudiana se divide em 3 áreas aumento de excitação gera desprazer e toda
de estudo: a dinâmica, a econômica e a tópica diminuição gera prazer (hipótese tomada de
- Assim como podemos estudar um objeto por Gustav Fechner)
seu tamanho, peso e função, por exemplo.
• O modelo básico de compreensão dos fenômenos
mentais é o arco reflexo: O EGO E O ID
 Uma excitação externa exige uma descarga • O terceiro ângulo de estudo da mente é a estrutura
motora ou secretória para obter Relaxamento; psíquica
 Entre estímulo e descarga atuam forças  Primeira tópica: inconsciente, pré-consciente
contrárias e consciente.
• A psicologia se ocupa dos estudos destas forças  Segunda tópica:
contrárias (é por não descarregar tudo o tempo todo - Id: depositário das pulsões
que podemos falar em mente). - Ego: self e atribuições intelectuais,
• A psicanálise procura explicar os fenômenos regulação emocional etc
mentais como interação entre forças pró e contra - Superego: herdeiro da cultura e dos pais
descarga. (ideal de ego)
 É o estudo da dinâmica • Obs: Falamos em tópicas (do grego antigo τόπος
- A psicanálise se divide no estudo (tópos) = lugar), e não em tópicos (assuntos)
dinâmico, tópico e econômico da mente • As três instâncias (id, ego e superego) tem partes
como podemos estudar um objeto por seu conscientes e inconscientes, entretanto o ego num
tamanho, peso e função, por exemplo. sujeito saudável é a parte mais consciente.
• O princípio homeostático (conceitualiz. por • A etologia, por exemplo, busca tornar consciente
Cannon em 1932) é a propriedade de um sistema as partes inconscientes do Id.
aberto, a homeostase de um organismo vivo é uma • A etnografia, a sociologia, a economia etc.
lei da biologia. buscam tornar conscientes as partes inconscientes
 O princípio homeostático é originário, as do superego.
forças contrárias só são explicadas por fatores • O Id é tudo aquilo que temos de mais próximo aos
externos. animais, já nascemos com um Id e ele é o
• Na psicanálise os atos falhos, sintomas, erros, são “reservatório das pulsões e das paixões”:
todos exemplos de conflitos de forças a favor e  Fome, sede, sexualidade, agressividade em
contra a descarga. suas formas mais primitivas se originam do
 Quando as forças são de mesma magnitude, Id.
toda a energia se consome no conflito • O Ego se constrói desde a infância, ele busca se
interno. Clinicamente isso se mostra nos adaptar à realidade:
indivíduos exaustos sem trabalho perceptível.

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 Fala, inteligência, escolhas, percepção. • O id é tudo aquilo que o ser humano já nasce
• O Superego é o herdeiro (introjeção) da cultura e portando (necessidades básica e genética).
dos pais, Freud postula que ele surge por volta dos • O ego é uma diferenciação do id em função do
3-5 anos de idade: contato com a realidade (todo aparato perceptual é
 Leis, regras sociais, vergonha, culpa ego).
 Inicialmente foi descrito como a “instância • O ego trabalha seletivamente na percepção da
crítica” realidade (repressão)
 Percebam que até os 3-5 anos a criança • O ego atende a três senhores: id, superego e
precisa que um adulto diga que ela está realidade externa.
fazendo o certo, o justo, que a corrija. Depois • O superego é a cultura no sujeito, resultado da
desta idade ela própria sabe que está fazendo interiorização das figuras parentais (não é
algo errado. necessária mais vigilância externa, o sujeito vigia a
- Não necessariamente ela vai parar de fazer si mesmo).
tais coisas, mas podem surgir sentimentos
de culpa; a vigilância passa a ser interna e
não mais externa.
• Freud nos diz que o Ego deve “servir a três
senhores”: o Id, o Superego e a
Realidade.
 O Ego, valendo-se de suas capacidades (fala,
pensamento, movimento etc) deve escolher ANOTAÇÕES
qual ação tomar levando em consideração as
METAPSICOLOGIA é um conjunto de conceitos
exigências destes três lugares.
e pressupostos criados para se poder entender a
- Por exemplo alguém que está com fome
Psicologia. Esse conjunto de conceitos e
(Id), não tem dinheiro (realidade) pode
pressupostos não pode ser provado, mas a
pensar em roubar, mas talvez não o faça por
suposição deles permite que entendamos a
exigências do morais (superego). Esse
Psicologia.
conflito entre as instâncias é a essência da
compreensão psicanalítica clássica acerca Se eu pressupor a existência do inconsciente,
do ser humano. consigo entender e explicar o como o conceito de
• Podemos explicar várias patologias por um repressão funciona”.
submissão excessiva do Ego a cada uma destas A metapsicologia se divide em três ângulos (lados
instâncias: em que se pode observar). Não se estuda um objeto
 Ao Id: comportamentos impulsivos, apenas por um ângulo, mas sim pelos três,
perigosos e destrutivos simultaneamente; a dinâmica, a econômica e a
 Ao Superego: melancolia, autocrítica tópica.
excessiva, comportamentos obsessivos
 À realidade: todas as variações das patologias
do vazio (ausência de significado na vida) SINTOMA seria um caminho bizarro e ineficiente
• Muitas questões se modificaram e ampliaram com para lidar (dar a descarga) com a realidade e, por
a segunda tópica: não lidar diretamente com a vida concreta do
 Antes o objetivo da análise era tornar o sujeito, cria-se um sintoma como o sonho, onde a
inconsciente, consciente (lembrar da hipnose, pessoa poderá “dar uma descarga”, mesmo que
por exemplo) sendo falsa.
 Agora o objetivo é tornar o Ego senhor da Um obsessivo esgota a sua energia por causa dos
vida: “Lá onde estava o id, deve advir o ego”. conflitos internos entre as forças de descarrega e de
- Já que a submissão leva às patologias, o não descarrega, onde ambas possuem a mesma
objetivo da análise seria tornar estas magnitude e, por isso, são gastas nesse conflito
questões conscientes para que o sujeito interno e, nada acontece no meio externo.
pudesse optar (Ego) em continuar
seguindo-as de uma maneira compreensível Os humanos se controlam e evitam a descarga, por
(não obsessiva, não impulsiva etc) ou causa do mundo social.
rejeitá-las. “Diante de uma ofensa, socar a cara de quem
ofendeu”. O sujeito realiza a descarga
imediatamente ao momento em que recebe um
APANHADO GERAL estímulo que eleva sua tensão, contudo, seu

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comportamento afeta o mundo social, as Na segunda tópica, o id armazena as pulsões; o ego


regras morais e sociais. armazena o controle corporal, a memória,
percepção, atenção, controle e regulação emocional,
“Diante de uma ofensa, se segura e fica bravo”. O
assim como, o self (que seria uma especificação do
sujeito não deu a descarga, contudo,
ego, sendo o como o sujeito se vê e, importante
criou/amplificou a força de descarga.
dizer que, as patologias são da ordem do self, pois
dependem de como o sujeito se vê); o superego se
ARCO REFLEXO é um estímulo que mesmo relaciona aos valores sociais e morais aprendidos e
sendo involuntário, causa uma reação que é internalizados, junto que ao fato de ser um ideal de
forçada, que não se pode impedir (não da para ego.
impedir, pois não chega ao cérebro, chega à coluna Percebe-se que o sujeito não é unificado, que no
e volta). caso, ele é “dividido”, da para se perceber isso,
PRINCÍPIO DA CONSTÂNCIA se relaciona a diante de um exemplo cotidiano. Estou deitado na
ideia de que, para a mente funcionar cama o dia todo e, ‘alguém’/outro-eu me
adequadamente, precisa manter sempre o mesmo ‘fala’/surge um pensamento de que já é suficiente e
nível de estimulação/excitação e, caso esse nível que é para eu me levantar. Claramente não é o
caia ou suba muito, desencadeia em uma descarga ego/eu dizendo isso, no caso seria ou o id ou o
motora ou secretária, o que permite que o nível de superego.
estimulação /excitação se estabilize (busca manter a Os conteúdos das tópicas mais conscientes se
homeostasia). direcionam aos conteúdos do EGO, que são aqueles
Descarga motora se relaciona a reflexos em que achamos que possuímos controle; Já os
físicos, como chutar quando o médico bater conteúdos menos conscientes são os do ID e
com o “martelinho”, onde o corpo vai SUPEREGO, que se expressam e acontecem “sem
responder ao estímulo e, em seguida voltar querer”.
para a homeostasia. A etologia, por exemplo, busca tornar o ID
Descarga secretária se relaciona aos consciente (nos animais se têm os instintos, nos
hormônios, neurotransmissores e até mesmo o humanos as pulsões).
próprio suor, que são secretados em momentos Já a etnografia, a sociologia, a economia, por
que o corpo não se encontra em homeostase e, exemplo, buscam tornar o SUPEREGO mais
a sua função acaba por ser, trazer o mesmo consciente (por meio das leis, regras sociais,
para o equilíbrio interno e externo novamente. cultura, afins).
A maioria dos animais não possuem EGO
A mente acaba sendo responsável por calcular o (consciência de si próprio), na medida em que
quando o sujeito pode descarregar e carregar. diante de um espelho, não consegue se identificar.
Quanto mais o sujeito se “distanciar” de efetuar Nós homens, quando nascemos somos apenas ID,
uma descarga, mais “forte” é a mente (e o sujeito), enquanto o EGO é a diferenciação do ID, o
contudo, existe um problema econômico. SUPEREGO é acaba sendo construído
Problema econômico se relaciona ao posteriormente.
questionamento de o quanto a mente irá Sendo assim, nascemos com ID, parte do id se
conseguir “segurar/ suportar” das forças pró- modifica em EGO (parte do ID cria uma parte, o
descarga? Até que nível pode aguentar antes EGO).
de ocorrer uma descarga? O problema
O EGO é uma diferenciação do ID, onde que com
econômico lida com a intensidade das
um nível de exigências ambientais, o ID se
“coisas”.
diferencia em EGO, conforme o EGO se
desenvolve se aumenta a independência e
TÓPICAS se direcionam ao lugar onde se autonomia do indivíduo.
armazenam os pensamentos. Já o SUPEREGO (que se instala por volta dos 3-5
Na primeira tópica, o inconsciente armazenava os anos) é o herdeiro da cultura dos pais, que introjeta
pensamentos de difícil acesso; o pré-consciente em si o pai “perdido” no Complexo de Édipo, de
armazenava tudo que possa vir à mente modo que tenha em eu mesmo, um pouco dele em
rapidamente, como diante da pergunta “onde você mim.
mora?”, o conteúdo do seu endereço, que estava no É o herdeiro da cultura através dos pais.
pré-consciente surge na consciência; o consciente é
tudo que está na mente durante o momento.

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O SUPEREGO possui autonomia do EGO, é “uma


voz” (interna de cobrança, moralidade, exigência)
autônoma, não mais os pais que te cobram, agora
seu próprio SUPEREGO te cobra, fazendo o papel
do pai (cobrar, exigir).
O SUPEREGO também acaba possuindo o IDEAL
DE EGO (nossos pais idealizados de quando
éramos crianças, 3-5 anos, na medida em que
achávamos que os pais sabiam e podiam fazer de
tudo).
O SUPEREGO compara o comportamento do EGO
com o IDEAL DE EGO, se muito longe do ideal de
ego, sente culpa; se muito próximo do ideal de ego,
satisfação pessoal.
O SUPEREGO é muito rigoroso, pune
pensamentos, desejos e comportamentos que vão
contra o ideal de ego (por exemplo, se realizar uma
agressão em fantasia/sonho, irá se sentir culpado e
reparar o seu comportamento).
O EGO deve servir ao ID, SUPEREGO e a
realidade (os 3 senhores); para escolher o que irá
fazer, o EGO levará em consideração esses
senhores, contudo, ele (EGO) quem precisa
escolher o que fazer, ponderando os senhores.
Quando o EGO não consegue lidar com os
senhores, quando eles são mais fortes que o próprio
EGO, se desenvolve patologias, na medida em que
se tem um ego submisso.
Com o ID mais forte que o EGO, se tem
comportamentos impulsivos, perigosos e
destrutivos;
Com o SUPEREGO mais forte que o EGO, se tem AS DEFESAS
a melancolia, a autocrítica excessiva e
comportamentos excessivos;
O SER HUMANO É CONFLITO
Com a Realidade (tudo aquilo que não é instância • O modelo básico de compreensão dos fenômenos
interna, psíquica; seriam as exigências do meio mentais é o arco reflexo:
externo) mais forte que o EGO, se tem as patologias  Uma excitação externa exige uma descarga
do vazio, onde o sujeito não encontra significado na motora ou secretória para obter relaxamento
vida.  Entre estímulo e descarga atuam forças
“gosto de tocar piano, mas isso não me dará contrárias
dinheiro, o que é rentável é medicina”, - A psicologia se ocupa dos estudos destas
então faz faculdade de medicina. Acabando forças contrárias (é por não descarregar
atendendo muito as realidades da vida e não tudo o tempo todo que podemos falar em
consigo próprio, com seus interesses. mente).
Com tudo isso, percebe-se que na primeira tópica, o O INCONSCIENTE E AS DEFESAS
objetivo era trazer o inconsciente à tona, trazer para • Freud diferencia as questões que são inconscientes
a consciência; agora, com a segunda tópica, o em “estado latente”, que podem facilmente
objetivo é fazer o ego senhor da vida, podendo tornarem-se conscientes (o número de telefone de
escolher entre os senhores e ter um “balanço” entre algum amigo, por exemplo), daquelas que são
as coisas (objetiva um ego não submisso). inconscientes, pois foram reprimidas.
 Estas não podem facilmente se tornarem
conscientes, pois existem forçar que se opões
a isso.

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• As diversas maneiras pelas quais algo pode modo fantasístico, de ‘fora’ para ‘dentro’, objetos e
permanecer inconsciente após a repressão são qualidades inerentes a esses objetos.
chamadas de defesas/resistências pela psicanálise; • Sublimação – Processo postulado por Freud para
defesas contra a tomada de consciência de algo (por explicar atividades humanas sem qualquer relação
ser muito doloroso ou vergonhoso, por exemplo). aparente com a sexualidade, mas que encontrariam
o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual.
AS DEFESAS CLÁSSICAS Freud descreveu como atividades de sublimação
• Repressão – Operação psíquica que tende a fazer principalmente a atividade artística e a investigação
desaparecer da consciência um conteúdo intelectual. Diz-se que a pulsão é sublimada na
desagradável ou inoportuno: idéia, afeto, etc. Neste medida em que é derivada para um novo objetivo
sentido, o recalque seria uma modalidade especial não sexual e em que visa objetos socialmente
de repressão. valorizados.
• Regressão – Num processo psíquico que contenha
um sentido de percurso ou de desenvolvimento, ANOTAÇÕES
designa-se por regressão um retorno em sentido Diante de um estímulo que gere tensão (força pró-
inverso desde um ponto já atingido até um ponto descarga sobe), perante as regras sociais (força
situado antes desse. contra-descarga sobe), o indivíduo não pode
• Formação reativa – Atitude ou hábito psicológico realizar a descarga, precisando “se controlar”. Não
de sentido oposto a um desejo recalcado e pode dar a descarga em qualquer lugar, na medida
constituído em reação contra ele (o pudor opondo- em que se encontra em sociedade, com questões
se a tendências exibicionistas, por exemplo) [...] Do
morais, sociais e culturais que o impedem.
ponto de vista clínico, as formações reativas Uma defesa elimina o conflito entre as forças pró e
assumem um valor sintomático no que oferecem de contra descarga.
rígido, de forçado, de compulsivo, pelos seus A força pró descarga tem relação com o id,
fracassos acidentais, pelo fato de levarem, às vezes buscando satisfazer a tensão; A força contra
diretamente, a um resultado oposto ao que é descarga possui relação com o superego, segurando
conscientemente visado. a tensão por causa da internalização/introjeção de
• Isolamento – Mecanismo de defesa, típico, questões sociais, morais e culturais.
sobretudo da neurose obsessiva, e que consiste em A defesa pode eliminar o conflito entre as forças
isolar um pensamento ou comportamento, de tal pró e contra descarga, contudo, existe
modo que as suas conexões com outros consequência, o desejo vai surgir como um
pensamentos ou com o resto da existência do sintoma, sintoma este que vai revelar o desejo que,
sujeito ficam rompidas. Entre os processos de à vontade.
isolamento, citemos as pausas no decurso do Questiona-se o motivo de Freud acreditar que
pensamento, fórmulas, rituais, e, de um modo geral, existia uma força reprimindo os conteúdos e os
todas as medidas que permitem estabelecer um deixando inconsciente, isso se dá pelo fato de que
hiato na sucessão temporal dos pensamentos ou dos durante a hipnose (retirando o EGO da questão), o
atos. sujeito conseguia acessar todo o conteúdo de sua
• Anulação retroativa – Mecanismo psicológico memória.
pelo qual o sujeito se esforça por fazer com que Sendo assim, as defesas são ferramentas que
pensamentos, palavras, gestos e atos passados não protegem o ego de tomar consciência de algo
tenham acontecido; utiliza para isso um pensamento (doloroso, vergonhoso, afins).
ou um comportamento com uma significação Ao reprimir algo, por exemplo, irá se “livrar” do
oposta. Trata-se aqui de uma compulsão de tipo conflito entre as forças pró e contra descarga,
‘mágico’, particularmente característica da neurose contudo, ficará constantemente gastando energia
obsessiva. para manter o conteúdo reprimido no inconsciente;
• Projeção – No sentido propriamente psicanalítico, diante disso, sintomas como o ato falho vão revelar
operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza o conteúdo reprimido.
no outro – pessoa ou coisa – qualidades,
sentimentos, desejos e mesmos ‘objetos’ que ele Sobre as DEFESAS CLÁSSICAS, cita-se
desconhece ou recusa nele. Trata-se aqui de uma exemplos e uma breve definição:
defesa de origem muito arcaica, que vamos
encontrar em ação particularmente na paranoia, mas Repressão: tender a afastar algo da consciência,
também em modos de pensar ‘normais’, com a constantemente, com gasto energético;
superstição. Regressão: retornar a um ponto anterior do
• Introjeção – Processo evidenciado pela desenvolvimento psíquico, como um filho único
investigação analítica. O sujeito faz passar, de um que agora possui um irmãozinho, pode regredir para

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poder voltar a receber a atenção de volta e ser o


centro da atenção;
Formação reativa: fazer o exato oposto do
verdadeiro desejo, como o homofóbico
estereotipado que está tentando ocultar seus
próprios desejos homossexuais;
Isolamento: seria isolar a memória/desejo do resto
de sua vida mental, como os casos em que se dá
branco quando estiver próximo de tomar
consciência de algo;
Anulação retroativa: comum na neurose
obsessiva, seria o fazer e refazer algo, de modo que
anule o seu efeito, sua própria ação, como mexer no
gás para o fechar, depois ficar pensando se o gás já
estava fechado e na verdade foi aberto, e então
retorna, achando que não, o gás estava aberto e
realmente foi fechado agora, e então fica nesse
ciclo, gastando energia; o mesmo exemplo do bater
na madeira após falar algo que seja repreensível,
como se magicamente fosse anular o seu desejo (o
que escapou por ato falho, por exemplo).
Projeção: é típico da paranoia, onde as coisas que
não aceito em eu mesmo, eu coloco/projeto/’jogo’
no outro, como achar que Fulano de Tal me odeia,
por isso o odeio de volta, quando na verdade eu que
o odeio (não aceito isso).
Introjeção: seria incorporar/fazer como outra
pessoa, como o caso do melhor amigo que morre e,
você acaba começando a usar uma gíria que ele
usava, de modo que mantenha um ‘pedaço’ dele
dentro de si.
Sublimação: seria inibir a finalidade sexual de um
desejo socialmente inaceito, direcionando-o para
algo socialmente valorizado, como a violência não
é socialmente aceita, mas ser policial é algo
valorizado e em que pode ainda usar da violência.

ESCRITOS SOBRE A
TÉCNICA PSICANALÍTICA

• Os elementos que organizam o setting terapêutico


da psicanálise nunca foram inteiramente
compilados em uma única obra, mas estão
espalhados por diversos textos freudianos.
• Dentre esses alguns se destacam, conforme
Quinodoz (2007):
 O método psicanalítico de Freud (1904ª)
 Sobre a psicoterapia (1905ª)
 As perspectivas futuras da terapêutica
psicanalítica (1910d)
 Psicanálise “silvest.”/”selvag.” (1910k)
 O manejo da interpretação de sonhos na
psicanálise (1911e)

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 A dinâmica da transferência (1912b) que atendam pacientes na mesma frequência e que


 Recomendações aos médicos que exercem a façam supervisões desses atendimentos.
psicanálise (1912e) • Praticamente desde o surgimento da psicanálise já
 Sobre o início do tratamento (1913c) foram surgindo modificações técnicas (inicialmente
 Recordar, repetir e elaborar (1914g) por um discípulo e grande amigo de Freud chamado
 Observações sobre o amor transferencial Sándor Ferecnzi) que pouco a pouco levaram à
(1915a) criação das psicoterapias dinâmicas/ analíticas/
 Linhas de progresso na terapia psicanalítica psicanalíticas, com formato diferente.
(1919a)
TRATAMENTO CLÁSSICO
SETTING CLÁSSICO • Freud adverte que é impossível, embora desejável,
• Setting é o enquadre com todos os elementos que acelerar o tratamento. Ele será longo e custoso,
precisam se manter fixos. pois, embora muitos pacientes ficassem satisfeitos
• Praticamente inalterado desde sua criação por apenas com a eliminação de um sintoma, o método
Freud, o setting clássico ainda consiste em: psicanalítico trabalha com a totalidade da pessoa.
 Divã/poltrona: o paciente se deita num divã e o  “O psicanalista deve dar preferência aos que
psicanalista senta atrás dele, de modo que o aspiram à cura total na medida em que podem
paciente não consiga ver o psicanalista; conseguir isso e que dedicam todo o tempo
 A posição do divã precisa proporcionar a necessário ao tratamento. É preciso dizer que
ideia de que, se retirar o encosto, a cabeça são raros os casos em que se apresentam
do paciente cairia no colo do terapeuta. conjunturas tão favoráveis” (Freud, 1913c,
p.90)
 Cinco vezes por semana durante 50-60
minutos;  A psicanálise não possui como objetivo
fundamental a eliminação de sintomas, mas
 A hora do paciente é cobrada mesmo que ele
sim uma totalidade do sujeito, da pessoa.
não compareça, e isso lhe é comunicado;
• O respeito pelo “tempo do paciente”, pela demora
 Estabelecimento da regra fundamental da
das mudanças psíquicas e pela liberdade do sujeito
psicanálise (“regra de ouro”): associação-livre,
fazem da psicanálise um tratamento bastante
ou seja, comunicar ao analista tudo o que surgir
demorado.
em sua mente, sem escolher, sem julgar a
 Se ele sair da terapia e na semana seguinte
relevância, sem vergonha etc;
estiver igual, tudo bem, não existe
 Analista em posição de “tela em branco”, o
cobrança/pressão de mudanças, na medida em
analista como um espelho;
que o sujeito muda no seu próprio tempo, com
 Onde o desenho pintado do analista sua própria liberdade de escolher o que fazer.
(projeção) seria obra do próprio paciente,
 Por decorrência disso que o tratamento é longo
pintando o que possuía dentro de si, seus
e demorado.
próprios interesses, suas próprias
vivências.
A TRANSFERÊNCIA
 O analista como espelho fala sobre o
paciente, sobre o como o paciente mostra- •A transferência é talvez o ponto que mais
se, de modo que se conheça, “olha, você caracterize a psicanálise enquanto terapia: a atenção
parece funcionar assim, assim e assado”; o dada ao que se passa na relação analista-paciente
terapeuta apenas mostra ao paciente, fundamenta a maior parte das intervenções.
ficando a mercê do paciente escolher o • Freud define a transferência como um fenômeno
que fazer com essa informação, mudar ou cotidiano pelo qual as pessoas transferem para
não, por exemplo. pessoas novas os afetos ou comportamentos
 Analista com “atenção flutuante”. direcionados para pessoas de seu passado
 Dar a mesma atenção para tudo que o  Sendo assim a transferência envolve três
paciente fala, todo o conteúdo que é pessoas, onde o sujeito em questão1 transfere
expresso por meio da associação livre. para as pessoas novas2, os afetos remetentes a
• A psicanálise clássica ainda é praticada por alguns pessoas antigas3.
analistas, mas muito raramente.  A criança1 possui uma postura em relação
• A formação de um psicanalista pela Associação ao professor2 (pessoa nova), a postura que
Internacional de Psicanálise se portaria diante do pai 3 (pessoa antiga),
(IPA), criada por Freud em 1910, ainda obriga que o afeto em relação ao pai.
os candidatos se submetam às 5 sessões semanais,

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 Transferência negativa: Um pai agressivo  O terapeuta pode se envolver na transferência,


acarretaria em a criança se portar de forma baseando-se na sua própria história de vida, por
receosa em relação ao professor; isso que é importante o terapeuta fazer terapia,
 Transferência positiva: já um pai bondoso para não afetar o tratamento do paciente.
e afetuoso, faria a criança abraçar o  Sendo assim, diante de uma transferência,
professor, generalizando, com a esperança o que o terapeuta desperta precisa ser
de que o professor seja como o pai. trabalhado em análise, com o seu próprio
 Transferência erótica: uma menina que terapeuta.
não pôde (por causa do superego que não • Esse conceito ganhará muita força no
permite) vivenciar seu amor na relação desenvolvimento da psicanálise depois de Freud,
original (pai-filha) acabará fantasiando entretanto, para o pai da psicanálise, restringe-se
vivenciar essa relação incestuosa com o apenas aos sentimentos inconscientes despertados
professor. no analista pela transferência do paciente.
 A transferência, portanto, não é um fenômeno  A cura do paciente ocorre via transferência,
que ocorre apenas na clínica psicanalítica, ela pois durante a vivência da transferência que o
ocorre o tempo todo, mas apenas na clínica sujeito pode “evocar seus próprios demônios”,
psicanalítica é analisada. para ai então poder “expulsá-los”, lidar com
 Embora a transferência seja vivida no dia- eles.
a-dia, apenas na clínica que essa • A contratransferência depende da personalidade,
transferência passa a ser analisada, pelo história, traumas do analista, e devem ser
analista. trabalhados em sua própria análise para que não
• A transferência pode ser “positiva” ou “negativa”, atrapalhem o tratamento.
essa divisão refere-se aos sentimentos associados à • Daí Freud dizer, desde o princípio, que o “um
pessoa: analista só pode levar a bom termo seus tratamentos
 Positiva: pessoa inteligente, íntegra, cuidadosa, à medida que seus próprios complexos e suas
preocupada etc; resistências interiores o permitirem” e “quem não
 Negativa: incompetente, indiferente, consegue realizar essa auto-análise fará melhor se
interesseira; desistir, sem hesitação, de tratar doentes
 Existe um terceiro tipo que Freud destaca como analiticamente”.
“transferência erótica”, consistindo no
apaixonamento do(a) paciente pelo(a) analista. ANÁLISE SELVAGEM/SILVESTRE
 As relações edípicas seriam as relações • Freud adverte que o analista deve se familiarizar
substitutivas do pai/mãe, como a paixão com a técnica para que não pratique a “psicanálise
pelo professor ou pelo analista, por selvagem”, ou seja, dizer rapidamente todas as
exemplo. coisas que o analista já pôde concluir do paciente
 Na medida em que diante do complexo de logo de cara.
Édipo, o filho não pode se apaixonar pela  A psicanálise selvagem acaba indo contra a
mãe, nisso, como não pode vivenciar essa ideia de o paciente em seu próprio tempo, na
paixão (superego não permite), transfere medida em que o terapeuta “atira” sobre o
para a professora, a terapeuta, afins. paciente todas as percepções que possui do
 A transferência é uma fantasia do paciente, independente se este estiver pronto
fenômeno que não pode ser vivido; para ouvir aquilo ou não.
 Transferência pode ser vista como um • Mesmo com a desculpa do “furor curandis”, uma
deslocamento, uma forma de defesa (da interpretação só deve ser realizada quando paciente
ideia de se apaixonar pela mãe e conflitar está apto para recebê-la, muitas vezes quando está
com o pai?). precisando de muito pouco para percebê-la sozinho.
 Foi diante do fenômeno da transferência Antes ou depois disso ela frequentemente não tem
erótica – pacientes se apaixonando pelo função Terapêutica:
terapeuta – que Freud perceber a  Ou atua como convencimento e submissão do
existência da transferência. paciente ao saber do analista, ou se torna
dispensável, pois já era de conhecimento do
A CONTRATRANSFERÊNCIA paciente.
• Contratransferência é o nome dado aos
sentimentos que despertam no terapeuta, em relação ANALISTA: TELA EM BRANCO/ESPELHO
às transferências do paciente. • Freud adverte que não devemos partilhar nossos
próprios problemas ou nossas preferências com os

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pacientes, nem mesmo para que ele possa se sentir • Para diagnóstico recomendo o livro de
compreendido. McWilliams, “Diagnóstico Psicanalítico:
 O paciente começa a achar a análise do analista Entendendo a estrutura da personalidade no
mais interessante que sua própria, começa a processo clínico” e “A entrevista psiquiátrica na
estabelecer uma relação de amizade ao invés de prática clínica”, de Mackinnon, Michels e Buckley.
tratamento, que dificulta muito a liquidação da
transferência.
• É estabelecida uma postura de “tela em branco” INTRODUÇÃO ÀS ABORDAGENS
ou de “espelho”: PSICODINÂMICAS
 Uma tela em branco no sentido de que tudo que
o paciente vir no seu analista, será projeção sua
(já que o analista não revela nada da realidade • Nesta disciplina abordaremos os primeiros autores
de sua vida); Toda transferência do paciente pós-freudianos que abriram caminhos distintos de
sobre o terapeuta, estaria se referindo a uma pesquisa e tratamento em psicanálise.
fantasia do paciente. • De modos distintos, todos os autores abordados
 Quanto mais o terapeuta se revela, menos ampliaram ou discordaram de alguns pressupostos
aparenta ser uma tela em branco, servindo estabelecidos por Freud e permitiram que a
pouco para a interpretação da psicanálise estudasse questões mais profundas do
transferência, já que o comportamento do ser humano.
terapeuta acaba gerando interpretações • Freud acabava estudando sujeitos bem
pela parte do paciente. estruturados e com personalidades bem
 Um espelho na medida em que nada é organizadas, como as histéricas, por exemplo, que
acrescentado pelo psicanalista (seus valores), se relacionava a problemas neuróticos, “o que eu
ele apenas reflete aquilo que o paciente lhe quero?”, o sujeito tendo um problema com outro
conta (“Veja como você sempre assume que as sujeito;
pessoas estão tentando tirar vantagem de  Enquanto os autores pós-freudianos puderam
você... Por que você acha que isso acontece?”). implicar em problemas contemporâneos, “o
 Diante do tratamento, o terapeuta acaba que eu sou?”, mais profundos.
tentando identificar as causas da • Quatro nomes se destacam nesta revolução:
resistência do paciente, apresentada por  Heinz Hartmann (maior representante da
causa da transferência que o paciente Psicologia do Ego)
apresenta, sendo assim, o terapeuta  Melanie Klein (criadora e maior representante
precisa dosar o conteúdo que ira devolver da Escola Inglesa)
para o paciente diante do espelho, de  Donald Winnicott (maior nome do Grupo
modo que permita ao paciente tempo, para Independente)
que possa lidar e superar suas resistências  Jacques Lacan (criador da Escola Francesa)
(sendo um ponto importante e que conflita
com a ideia da psicanálise selvagem). A “TORRE DE BABEL” DA PSICANÁLISE
• Às vezes interessando-se por questões distintas e
COMPILADOS DA TÉCNICA às vezes descrevendo a partir de outros
PSICANALÍTICA pressupostos o mesmo fenômeno, a psicanálise foi
• Sem dúvida o livro mais completo sobre a técnica comparada por Guntrip com uma “torre de Babel”.
psicanalítica, clássica e contemporânea, é  Existem vários modos de se descrever uma
“Fundamentos da técnica psicanalítica”, de Horácio intervenção, por exemplo, a “aliança
Etchegoyen. terapêutica” de Zetzel é descrita como
• Outro trabalho interessante na mesma linha é o de “cooperação da parte adulta da personalidade na
David Zimerman, “Manual de técnica tarefa analítica” por Meltzer; ou a função de
psicanalítica”. holding de Winnicott é descrita como função de
• Para trabalhos sistematizados (quase continente por Bion.
manualizados) de psicoterapias psicodinâmicas • Outras questões, entretanto, são distintas, como a
recomendo o livro de Cligor, Kernberg e Clarkin, preocupação em entender a agressividade humana
“Psicoterapia dinâmica das patologias leves de (Klein), a influência do ambiente na maturação
personalidade” e o livro “Psicoterapia (Winnicott) ou a essência transcultural do ser
psicodinâmica para transtornos da personalidade: humano (Lacan), educação dos filhos (Bruno
Um manual clínico”, de Clarkin, Fonagy e Bettelheim, Fraçoise Dolto), as psicoses (Jean-
Gabbard. Claude Maleval), entre outros.

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O “NÚCLEO DURO” E AS MUDANÇAS sentimentos e o significado do seu


comportamento, o terapeuta o fará.
• Alguns fenômenos descritos e termos cunhados
por Freud são aceitos por toda a psicanálise:  “Você está me dando esse bombom
porque semana passada você quebrou um
 Inconsciente, transferência, sexualidade
dos brinquedos e não se desculpou, o
infantil, complexo de Édipo, associação livre,
bombom seria sua forma de se desculpar”.
abstinência do analista etc.
 Seu primeiro livro, A Psicanálise de Crianças,
 O sujeito que nega algo do núcleo básico/duro
estabelece o modo de trabalho com crianças e
da psicanálise, como Jung fez, negando a
explora a ansiedade e seu papel no
importância da sexualidade infantil, este acaba
desenvolvimento emocional e intelectual dos
sendo “jogado fora” da psicanálise.
pacientes que atendia.
• Freud “falou” a respeito de diversos temas, alguns
• Sua produção será marcada pelos temas da
superficialmente, por exemplo, fazendo com que
melancolia, depressão, culpa, amor, inveja, temas
fossem reavaliados, expandidos ou abandonados:
que ela experienciou várias vezes em sua vida
 Narcisismo, metapsicologia (Id, Ego e
pessoal.
Superego), pulsão de morte, modelo do
• Freud e Anna Freud não gostavam das teorizações
conflito entre pulsão e defesa, sexualidade
kleinianas, entretanto nunca a impediram de
feminina etc.
continuar produzindo e divulgando suas ideias.
• Quando Freud foge do nazismo e se refugia em
Londres, a Sociedade Britânica de Psicanálise se
MELANIE KLEIN: divide entre os “kleinianos” e os “freudianos”.
VIDA E OBRA  Dentre os kleinianos podemos encontrar Paula
Heimann, Suzan Isaacs, Joan Rivière, Hanna
Segal e, mais recentemente, Otto Kernberg
• Para Klein a psicanálise foi muito mais que um
(uma grande maioria de mulheres).
exercício intelectual.
• Melanie Klein é um dos grandes nomes da
 Sua primeira análise foi com Sándor Ferenczi, psicanálise, seus textos são estranhos à primeira
um excepcional psicanalista. Depois disso vista, sua escrita é “crua” e somos convidados a
passará a ser analisada por Karl Abraham e, entrar no mundo contraditório, bizarro e ilógico da
após a morte deste, por Ernest Jones. Os três vida infantil e da psicose.
eram amigos íntimos de Freud e grandes • As reações de ataque ao seu trabalho, de recusa
teóricos da psicanálise. em aceitar suas ideias, são frequentes e só se
• Melanie Klein inventa um modo de analisar dissipam quando vemos, na clínica, a confirmação
psicanaliticamente crianças que foge à adaptação de suas descrições.
preconizada por Anna Freud e os Psicólogos do
 A fonte de todas as afirmações kleinianas é
Ego.
(quase exclusivamente) a clínica com crianças
 Para estes últimos, a análise tinha um caráter e adultos psicóticos e neuróticos.
mais pedagógico e preventivo, um caráter • Durante as aulas veremos alguns conceitos várias
adaptativo (tal como vimos em Hartmann). vezes, por diversos ângulos, pois eles se conectam
• A análise de crianças, segundo Klein, deve possuir de maneiras distintas ao longo da obra kleiniana:
adaptações técnicas, mas seus objetivos
 Os conceitos de cisão, projeção, objeto interno,
permanecem o mesmo e, portanto, não incluem a
fantasia inconsciente, culpa etc. são
adaptação do sujeito via sugestão.
enriquecidos por novos trabalhos kleinianos.
 Klein usava da psicanálise com as crianças,
 A apresentação esquemática da obra kleiniana
objetivando a mesma coisa que com os adultos,
é difícil de ser realizada, a não ser de maneira
mudando apenas o modo, para Klein, através
muito simplificada. Tentaremos realizar um
do brincar que a criança irá conseguir expressar
acompanhamento histórico de seus conceitos,
seu mundo interno, pelo lúdico, onde a
mas muitas vezes teremos de fazer pausas para
brincadeira reflete o mundo interno da criança,
inserir conceitos que ainda não haviam sido
produzindo o autoconhecimento desta, não
completamente definidos.
reprovando a criança, diferentemente da forma
• A raiz da patologia para a psicanálise seria a
que Anna Freud fazia com sua visão adaptativa
infância (1ª infância e adolescência).
da psicanálise com crianças.
 A forma que o sujeito é acolhido, com as
 Para Klein, se torna necessário que o terapeuta
necessidades supridas, afins, cria um sujeito
possa assumir algumas responsabilidades para
com um bom “alicerce”, o que determina a
com a criança, da mesma forma que a mãe
forma que lidará futuramente com as situações
identifica e explicita à criança sobre seus

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da vida; não ter um bom “alicerce” acaba poder, domínio, retirando a dignidade e
abrindo margem para o adoecimento infantil. tudo de bom que o penetrado tem.

FANTASIA INCONSCIENTE
MELANIE KLEIN: • Esse é um tema central na obra kleiniana que
EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO começa a se desenvolver desde o início de seus
escritos.
• Klein percebe que todos os comportamentos são
• Klein começa a produzir na década de 1920 e, originados e podem ser explicados pela fantasia
neste período inicial, está relatando os atendimentos inconsciente que os acompanha.
de crianças nos seus aspectos de voracidade.  Sendo assim são as fantasias inconscientes que
 Voracidade, em Klein, quer dizer o quanto é sustentam uma ação, se faz algo por causa das
impossível de ser satisfeito. A voracidade na fantasias por trás.
criança ou no adulto aponta para a • Nas crianças e nos psicóticos, estas fantasias
insaciabilidade daquele desejo. aparecem de maneira bastante crua, são fantasias de
 Voracidade retrata um tipo de relação com dilacerar o outro, de roubar o que ele tem de bom,
o desejo, de que não é possível satisfazer de prendê-lo só para si e nunca mais sofrer com sua
o desejo daquela pessoa, onde o desejo/a ausência etc.
vontade aparenta não possuírem fim, onde  Um psicótico que “ama” o outro se contenta
fica demandando do outro por mais, na em “amar” sozinho, de um lado, mesmo que
medida em que responsabiliza esse outro tenha que fazer isso forçado, por meio de
por não conseguir satisfazer seus desejos. estupro, por exemplo. O outro não precisa
Como se um outro que não deixa com que querer de volta, retratando um lado masoquista;
eu vivencie a minha conquista.  Um neurótico que “ama”, deseja que o outro o
 Um exemplo de voracidade seria o desejo deseje de volta, sendo assim, o desejo não é
de concluir o ensino médio, quando pelo outro, é um desejo de o outro o desejar,
concluí, não vivencia a gratificação disso retratando um lado narcisista.
e já demanda por mais, entrar para a
faculdade; quando consegue entrar para a OBJETO INTERNO
faculdade, não aproveita o prazer disso e
acaba demandando mais, de que precisa • As fantasias dão-se sempre com um objeto
tirar 10 em tudo, e assim por diante, um interno, conceito fundamental em Klein.
desejo insaciável. • Existem os objetos externos e os internos.
 O controlar por controle, comer por  Criamos cópias mentais e deformadas/
comer, afins, fazer algo sem motivo distorcidas de tudo que é significativo para nós,
específico, sem o prazer por trás. um objeto interno é tudo aquilo que foi
• Klein fala em voracidade oral, anal e fálica. investido libidinalmente;
 Oral: desejos de incorporar o objeto de amor  Relaciona-se a tudo que foi internalizado,
(“Eu vou te comer, tia...”); introjetado, é o que eu projeto, percebo e
 Como os “desejos de grávida”, quer algo, entendo de Fulano, não é uma
quando consegue quer outra coisa, assim representação real de Fulano, apenas o
por diante, como se não tivesse fim, não que eu imagino dele.
aproveitando a conquista.  “O que meu namorado fará nessa situação
 Anal: desejo de posse, de controle (fantasia de é X, Y e Z, ele vai pensar W e fazer
estrangular, sufocar o outro); XYZ”.
 Como os desejos de apertar um bebê por  A questão é, será que o tal namorado
não saber como expressar mais amor; de realmente é assim? Ele faria isso mesmo?
colocar uma pessoa em um recipiente para Na visão internalizada que o sujeito
a ter para si próprio, por não encontrar possui, em suas fantasias inconscientes,
outra forma de satisfazer a necessidade sim, se tem um achismo de conhecer a
que encontra em ter aquela pessoa perto, verdade absoluta sobre o objeto em
por exemplo. questão.
 Fálica: desejo poder, ambição (na fantasia de  Nós não interagimos com o objeto externo
penetrar o outro, roubar o que ele tem de bom). (realidade), apenas com o interno (ideia mental
 Como a ideia de um homem hétero que temos das coisas, pessoas, ou seja, as
penetrar/estuprar outro homem hétero, cópias mentais deformadas/distorcidas).
como se estivesse em uma situação de

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 As fantasias lidam com estes objetos internos, • O tema da preocupação (concern) com o objeto
entretanto a criança e o psicótico têm será importantíssimo para Donald Winnicott, mas já
dificuldades em diferenciar os objetos internos tem seus primórdios em Klein.
dos externos (o superego do paranóico se • Especialmente no momento do desmame, o bebê
encontra lá fora, como se alguém ou algo perceberá que a mãe é um objeto único e separado
cumprisse o papel de instância crítica, por dele próprio, e então começará a cuidar deste objeto
exemplo, um CHIP dentro da cabeça, onde fica para que ele não se danifique nem o abandone.
ditando o que poderia fazer ou não; não sendo • Alcançar o objeto total vai ser uma tarefa da vida
si próprio e sim outrem); a criança que fantasia toda, segundo Melanie Klein. Estamos o tempo
com a morte de seu pai, corre para beijá-lo do todo nos relacionando com objetos parciais
nada, procurando reparar seu dano imaginário (frequentemente cindidos).
(já que não consegue diferenciar muito bem o  Alguns alunos podem me odiar por não
que é fantasia e realidade, fica com medo de responder suas demandas imediatamente e
que o que sonhou realmente tivesse ocorrido e, depois se preocuparem comigo quando
o abraço seria a sua forma de reparar o dano souberem o porque isso aconteceu.
imaginário, na realidade).  Namorado que trai é visto como um objeto
 Veremos esta confusão nos atendimentos dos cindido e completamente ruim; o namorado
psicóticos. que da flores é um objeto cindido e
• O primeiro objeto interno do bebê é o seio da mãe. completamente bom; não se tem uma
Ele será o primeiro objeto da realidade externa que continuidade de que o mesmo namorado que
é investido libidinalmente pelo bebê. está dando as flores agora, é o que a traiu.
• O bebê ainda não tem consciência da mãe como
um todo (se tem uma cisão do objeto), mas apenas OBJETOS INTERNOS E CISÃO
de parte dela, a mãe como um seio, uma mão, afins. • Melanie Klein percebe em crianças e psicóticos
Por volta dos 6-8 meses o bebê já pode reconhecer (com maior frequência), mas também em
na mãe um outro ser (um objeto unificado). neuróticos, os processos de cisão dos objetos.
 Até este momento a mãe resume-se à funções  Um objeto bom: objeto idealizado, que nunca
executadas que causam prazer ou desprazer frustra, que nunca exige nada, que nunca
para o bebê, é uma “mãe” (na verdade é abandona.
“algo”) que oferece o seio na hora certa ou
 Um objeto mau: objeto depreciado, sem
errada, que o limpa, que o esquenta etc.
qualidade alguma, sádico.
 Não é um objeto unificado. • Os objetos cindidos pouco a pouco serão
• No primeiro semestre, os objetos internos do bebê integrados nas crianças: é a mesma mãe que
são parciais (o seio, o rosto, o genital, o calor), conforta e castiga.
posteriormente, após o nono mês, mais ou menos,
 Em neuróticos vemos o processo de cisão
esses objetos parciais serão reunidos num objeto
acontecendo frequentemente entre pessoas
total.
apaixonadas: não é o(a) namorado(a) que está
 Ou seja, antes a mãe era uma função, “algo” me frustrando, é a mãe/pai/amigos dele que não
que supria (ou não) as necessidades do bebê; nos deixam ser felizes.
depois passa a ser um objeto parcial e
 “Meu namorado não é ruim, ele é ótimo,
cindido, um seio bom e um seio mau, ataca na
são os amigos dele que não deixam nosso
fantasia (e na realidade, mordendo, por
namoro dar certo, ficam levando ele para a
exemplo) o seio mau, idolatra o seio bom por
balada, fazendo ele me trair”.
suprir suas necessidades; por fim, a criança
 Podemos tomar o exemplo da política, onde se
percebe a mãe como um objeto integral, sendo
percebe uma posição esquizo-paranóide, a
o seio que atacava e o que idealizava, a mão
cisão entre os lados da política:
que acariciava, a fonte do calor que sentia,
tudo, simultaneamente.  Lula 100% ruim. Bolsonaro 100% bom;
• O objeto total é a reunião de todas as  Lula 100% bom. Bolsonaro 100% ruim.
características do objeto, as partes boas e ruins dele.  A mídia que distorce a visão do ídolo, ele
• O bebê relacionava-se com partes da mãe sem ter é 100%, ele é incrivelmente bom e
noção exatamente de que tudo aquilo provinha da honesto, o problema é que estão todos
mesma pessoa (do mesmo objeto). contra ele, querendo o fazer parecer um
• Enquanto não havia a percepção de unidade do monstro.
objeto, também não havia preocupação com ele.  Percebe-se uma visão cindida, que não
 Poderia o atacar física e mentalmente, sem corresponde a realidade (objeto externo),
nenhuma preocupação ou culpa. apenas condiz com a ideia mental que o
sujeito possui (objeto interno).

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• O mecanismo de reparação pode ser excessivo e


CULPA E REPARAÇÃO (SALTO TEMPORAL) dar origem às “defesas maníacas”:
• Quando um objeto parcial é atacado e depois dá-  As defesas maníacas procuram eliminar
se conta de seu caráter total, sobrevém culpa nos magicamente qualquer dano que tenha sido
neuróticos e psicóticos. Esta culpa tentará ser feito ao objeto.
aplacada pelo mecanismo da reparação.  Como a ideia de a esposa perceber que o
• A reparação é um mecanismo de defesa descrito marido está bravo com ela, não saber
por Melanie Klein que o encontrou principalmente identificar o que fez de errado, o dano que
na análise de crianças. causou, não sentindo culpa por seus
 Logo após quebrar alguma coisa da sala, tacar ataques, simplesmente se desculpa com
um brinquedo no analista, rasgar a folha, a um “me desculpe por qualquer coisa que
criança tentará reparar seu dano tentando colar, eu tenha feito”, como se magicamente
fazer um carinho no analista ou lhe pedir reparasse qualquer ataque que tenha
desculpas. sido causado.
• A culpa e reparação se repetem por toda a vida e  Para as crianças eles aparecem nos desenhos
são fundamentais para o desenvolvimento da animados: uma poção mágica que recupera o
criança. personagem quase morto, os amigos que
 Quando se ataca um objeto parcial, cindido, ao recuperam sua amizade depois de um pó
perceber esse objeto como inteiro, como um mágico etc.
sujeito que pode ser tanto bom como mau, • As defesas maníacas são onipotentes, elas podem
juntos, surge um sentimento de culpa (pelos reparar qualquer dano.
ataques realizados anteriormente, ao objeto • Caso a defesa maníaca seja executada na realidade
mau, cindido), por decorrência dessa culpa que e não produza efeitos, a criança experiência grande
o sujeito sente, ele busca realizar uma angústia e desespero, entrando em comportamentos
reparação, tentar concertar o que fez, o ataque alucinatórios. Esse desespero vem da percepção de
que havia sido feito. que algo muito valioso foi destruído, talvez algo
imprescindível para a sobrevivência da criança
 Mulher que liga para o marido e não é
(quando ela acredita que o pai não a ama mais).
atendida, o cinde e o interpreta apenas
• É importante ressaltar o caráter mágico das
como um sujeito mau (entra na posição
defesas maníacas:
esquizo-paranóide), traidor, nesse
momento a mulher pode o atacar sem  Se elas forem utilizadas com muita frequência,
sentir culpa, na medida em que é um a criança não entrará em contato com a dor e
objeto ruim (que culpa sentiria em matar com a perda real, sempre se defendendo delas
um demônio?), quando o marido retorna a através da fantasia de que tudo pode ser
ligação e diz não ter ouvido o celular tocar reparado.
pois estava no shopping comprando um  A defesa maníaca impede a reparação de
colar para a esposa, nesse momento volta fato!
a imagem de um marido inteiro (entra na  Depois de feito um ataque ao objeto
posição depressiva), tanto bom como enquanto cindido, ao se deparar com a
ruim, a mulher se sente culpada por ter ideia de o objeto unificado, o sujeito
atacado o seu marido que é um homem vivencia culpa pelos seus ataques,
bondoso, trabalhador, atencioso, afins, precisando fazer uma reparação; Se uma
com a culpa pelos ataques ao objeto mau criança ataca a mãe e depois acaba se
cindido, a mulher precisa fazer uma desculpando, mas, sente que a mãe ainda
reparação. está magoada (a reparação normal ou
• O mecanismo de reparação seria a forma utilizada mágica não funcionou, já que não
pelo sujeito para lidar com a culpa que sente pelos resolveu tudo), a criança sente que perdeu
ataques sádicos realizados. certo elo que tinha com a mãe, algo muito
 O sujeito pode utilizar da identificação valioso e que talvez tenha se perdido para
projetiva, “agir como”, introjeção, afins. sempre, pois a feriu e não sabe como
 Uma forma apropriada para realizar a concertar a situação, nisso ela entra em
reparação de um ataque, seria entrando em um estado frenético, em mania, buscando
contato com o dano causado e com a culpa a todo custo reparar seus ataques (o que só
por isso, um grande exemplo seria pedir atrapalha a reparação de fato, pois acaba
desculpas diretamente, explicitando e distanciando a criança de sua culpa e do
reconhecendo o próprio erro. dano causado, começando a tentar reparar

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o dano de qualquer forma, em qualquer severamente qualquer impulso sádico daquela


magnitude). criança com um enorme sentimento de culpa.
 Numa reparação real, o objeto nunca mais será • Um aparte é interessante para diferenciar a
o mesmo, não existe “voltar como era antes”, abordagem kleiniana de todas as outras em
os ataques sempre deixam marcas. psicoterapia infantil:
 Na reparação real, a reparação é  Klein irá suavizar o superego infantil. Ela irá
proporcional ao dano causado; já na apaziguar a culpa que a criança sente ao ser
reparação mágica, com uma simples ação, sádica, suportando a agressão da criança.
se nega todo o dano causado.  Sua técnica irá explorar (e não suprimir) as
• Podemos separar então a fantasia da realidade fantasias e tendências agressivas das crianças,
nestes dois pontos: desenvolvendo um fim sublimado às mesmas
 Um ataque real ou fantasiado além da capacidade de reparação aos objetos
 Diante de uma suspeita de traição, a danificados.
mulher pode tanto bater no marido e o • Comparem isso com o “treino de habilidades
ofender verbalmente (ataque real) como sociais” da TCC ou mesmo à tendência pedagógica
ficar o atacando mentalmente, desejando de Anna Freud e verão como Klein não abandona
que ele tenha pegado uma DST e que os objetivos da psicanálise de adultos mesmo
morra (ataque em fantasia). quando atende crianças.
 Uma reparação real ou mágica
 Uma reparação real seria aquela que
realmente entra em contato com o dano
causado e a culpa, a forma de reparar é
proporcional ao dano; já a reparação
mágica seria um “algo” que nega todo o
dano que foi causado, como se
magicamente voltasse no tempo, antes do
ataque ter sido desferido.

SUPEREGO PRECOCE
• As defesas mágicas podem auxiliar a suportar a
crueldade do superego infantil.
• Klein nota que as crianças possuem um superego
muito antes da data estipulada por Freud (5 anos
aproximadamente)
• Este superego precoce é bastante sádico, muito
rígido e cruel, ele segue a “Lei de Talião”.
• Mesmo o ataque fantasiado toma proporções
muito graves para as crianças, justamente por seu
superego.
 O superego é uma instância interna, não é
possível “esconder” as coisas dele... ele está
ciente até dos pensamentos da criança.

INIBIÇÃO INTELECTUAL
• Klein acompanha Freud na questão do
desenvolvimento intelectual: a vontade de
conhecer, de entender, é seguida e estimulada pela
de controlar. É uma derivação da pulsão sádica
que impulsiona o desenvolvimento intelectual da
criança.
• Klein percebe que as crianças que não puderam
tolerar seu sadismo, não tiveram tempo de
sublimar estas capacidades.
 Klein encontra pais que não puderam tolerar o
sadismo dos filhos, mas também crianças que
possuíam um superego tão rígido que punia

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