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RAUL BAUAB
FACULDADES INTEGRADAS DE JAHU
VINÍCIUS DE SOUSA
ABORDAGENS
PSICODINÂMICAS
O EGO E O ID • Portanto as forças possuem certa energia,
entramos no campo da economia psíquica.
Os impulsos fortes são mais difíceis de
A METAPSICOLOGIA FREUDIANA resistir que os fracos
• Freud cria um modelo de compreensão da vida A energia de um impulso pode ser deslocada
mental que ele chama de “metapsicologia”. de objeto (p. ex. descontar a raiva no amigo
do grego antigo μετα (metà) = depois de, por ter brigado com o chefe)
além de tudo • O problema econômico é saber quanto de energia
do grego antigo ψυχή (psukhē) = alma, por ser suportada sem descarga e como isso
espírito + λογία (logia) = estudo, pesquisa acontece.
• A metapsicologia seria, então, a tentativa de • A economia psíquica ganha destaque quando
estudar aquilo que está além do perceptível em percebemos o desencadeamento da neurose na
psicologia, aquilo que não pode ser visto ou adolescência ou na menopausa (aumento ou
provado, mas apenas intuído através de outros diminuição absoluta de energia).
fenômenos. • Como princípio geral da psicanálise todo
• A metapsicologia freudiana se divide em 3 áreas aumento de excitação gera desprazer e toda
de estudo: a dinâmica, a econômica e a tópica diminuição gera prazer (hipótese tomada de
- Assim como podemos estudar um objeto por Gustav Fechner)
seu tamanho, peso e função, por exemplo.
• O modelo básico de compreensão dos fenômenos
mentais é o arco reflexo: O EGO E O ID
Uma excitação externa exige uma descarga • O terceiro ângulo de estudo da mente é a estrutura
motora ou secretória para obter Relaxamento; psíquica
Entre estímulo e descarga atuam forças Primeira tópica: inconsciente, pré-consciente
contrárias e consciente.
• A psicologia se ocupa dos estudos destas forças Segunda tópica:
contrárias (é por não descarregar tudo o tempo todo - Id: depositário das pulsões
que podemos falar em mente). - Ego: self e atribuições intelectuais,
• A psicanálise procura explicar os fenômenos regulação emocional etc
mentais como interação entre forças pró e contra - Superego: herdeiro da cultura e dos pais
descarga. (ideal de ego)
É o estudo da dinâmica • Obs: Falamos em tópicas (do grego antigo τόπος
- A psicanálise se divide no estudo (tópos) = lugar), e não em tópicos (assuntos)
dinâmico, tópico e econômico da mente • As três instâncias (id, ego e superego) tem partes
como podemos estudar um objeto por seu conscientes e inconscientes, entretanto o ego num
tamanho, peso e função, por exemplo. sujeito saudável é a parte mais consciente.
• O princípio homeostático (conceitualiz. por • A etologia, por exemplo, busca tornar consciente
Cannon em 1932) é a propriedade de um sistema as partes inconscientes do Id.
aberto, a homeostase de um organismo vivo é uma • A etnografia, a sociologia, a economia etc.
lei da biologia. buscam tornar conscientes as partes inconscientes
O princípio homeostático é originário, as do superego.
forças contrárias só são explicadas por fatores • O Id é tudo aquilo que temos de mais próximo aos
externos. animais, já nascemos com um Id e ele é o
• Na psicanálise os atos falhos, sintomas, erros, são “reservatório das pulsões e das paixões”:
todos exemplos de conflitos de forças a favor e Fome, sede, sexualidade, agressividade em
contra a descarga. suas formas mais primitivas se originam do
Quando as forças são de mesma magnitude, Id.
toda a energia se consome no conflito • O Ego se constrói desde a infância, ele busca se
interno. Clinicamente isso se mostra nos adaptar à realidade:
indivíduos exaustos sem trabalho perceptível.
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Fala, inteligência, escolhas, percepção. • O id é tudo aquilo que o ser humano já nasce
• O Superego é o herdeiro (introjeção) da cultura e portando (necessidades básica e genética).
dos pais, Freud postula que ele surge por volta dos • O ego é uma diferenciação do id em função do
3-5 anos de idade: contato com a realidade (todo aparato perceptual é
Leis, regras sociais, vergonha, culpa ego).
Inicialmente foi descrito como a “instância • O ego trabalha seletivamente na percepção da
crítica” realidade (repressão)
Percebam que até os 3-5 anos a criança • O ego atende a três senhores: id, superego e
precisa que um adulto diga que ela está realidade externa.
fazendo o certo, o justo, que a corrija. Depois • O superego é a cultura no sujeito, resultado da
desta idade ela própria sabe que está fazendo interiorização das figuras parentais (não é
algo errado. necessária mais vigilância externa, o sujeito vigia a
- Não necessariamente ela vai parar de fazer si mesmo).
tais coisas, mas podem surgir sentimentos
de culpa; a vigilância passa a ser interna e
não mais externa.
• Freud nos diz que o Ego deve “servir a três
senhores”: o Id, o Superego e a
Realidade.
O Ego, valendo-se de suas capacidades (fala,
pensamento, movimento etc) deve escolher ANOTAÇÕES
qual ação tomar levando em consideração as
METAPSICOLOGIA é um conjunto de conceitos
exigências destes três lugares.
e pressupostos criados para se poder entender a
- Por exemplo alguém que está com fome
Psicologia. Esse conjunto de conceitos e
(Id), não tem dinheiro (realidade) pode
pressupostos não pode ser provado, mas a
pensar em roubar, mas talvez não o faça por
suposição deles permite que entendamos a
exigências do morais (superego). Esse
Psicologia.
conflito entre as instâncias é a essência da
compreensão psicanalítica clássica acerca Se eu pressupor a existência do inconsciente,
do ser humano. consigo entender e explicar o como o conceito de
• Podemos explicar várias patologias por um repressão funciona”.
submissão excessiva do Ego a cada uma destas A metapsicologia se divide em três ângulos (lados
instâncias: em que se pode observar). Não se estuda um objeto
Ao Id: comportamentos impulsivos, apenas por um ângulo, mas sim pelos três,
perigosos e destrutivos simultaneamente; a dinâmica, a econômica e a
Ao Superego: melancolia, autocrítica tópica.
excessiva, comportamentos obsessivos
À realidade: todas as variações das patologias
do vazio (ausência de significado na vida) SINTOMA seria um caminho bizarro e ineficiente
• Muitas questões se modificaram e ampliaram com para lidar (dar a descarga) com a realidade e, por
a segunda tópica: não lidar diretamente com a vida concreta do
Antes o objetivo da análise era tornar o sujeito, cria-se um sintoma como o sonho, onde a
inconsciente, consciente (lembrar da hipnose, pessoa poderá “dar uma descarga”, mesmo que
por exemplo) sendo falsa.
Agora o objetivo é tornar o Ego senhor da Um obsessivo esgota a sua energia por causa dos
vida: “Lá onde estava o id, deve advir o ego”. conflitos internos entre as forças de descarrega e de
- Já que a submissão leva às patologias, o não descarrega, onde ambas possuem a mesma
objetivo da análise seria tornar estas magnitude e, por isso, são gastas nesse conflito
questões conscientes para que o sujeito interno e, nada acontece no meio externo.
pudesse optar (Ego) em continuar
seguindo-as de uma maneira compreensível Os humanos se controlam e evitam a descarga, por
(não obsessiva, não impulsiva etc) ou causa do mundo social.
rejeitá-las. “Diante de uma ofensa, socar a cara de quem
ofendeu”. O sujeito realiza a descarga
imediatamente ao momento em que recebe um
APANHADO GERAL estímulo que eleva sua tensão, contudo, seu
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• As diversas maneiras pelas quais algo pode modo fantasístico, de ‘fora’ para ‘dentro’, objetos e
permanecer inconsciente após a repressão são qualidades inerentes a esses objetos.
chamadas de defesas/resistências pela psicanálise; • Sublimação – Processo postulado por Freud para
defesas contra a tomada de consciência de algo (por explicar atividades humanas sem qualquer relação
ser muito doloroso ou vergonhoso, por exemplo). aparente com a sexualidade, mas que encontrariam
o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual.
AS DEFESAS CLÁSSICAS Freud descreveu como atividades de sublimação
• Repressão – Operação psíquica que tende a fazer principalmente a atividade artística e a investigação
desaparecer da consciência um conteúdo intelectual. Diz-se que a pulsão é sublimada na
desagradável ou inoportuno: idéia, afeto, etc. Neste medida em que é derivada para um novo objetivo
sentido, o recalque seria uma modalidade especial não sexual e em que visa objetos socialmente
de repressão. valorizados.
• Regressão – Num processo psíquico que contenha
um sentido de percurso ou de desenvolvimento, ANOTAÇÕES
designa-se por regressão um retorno em sentido Diante de um estímulo que gere tensão (força pró-
inverso desde um ponto já atingido até um ponto descarga sobe), perante as regras sociais (força
situado antes desse. contra-descarga sobe), o indivíduo não pode
• Formação reativa – Atitude ou hábito psicológico realizar a descarga, precisando “se controlar”. Não
de sentido oposto a um desejo recalcado e pode dar a descarga em qualquer lugar, na medida
constituído em reação contra ele (o pudor opondo- em que se encontra em sociedade, com questões
se a tendências exibicionistas, por exemplo) [...] Do
morais, sociais e culturais que o impedem.
ponto de vista clínico, as formações reativas Uma defesa elimina o conflito entre as forças pró e
assumem um valor sintomático no que oferecem de contra descarga.
rígido, de forçado, de compulsivo, pelos seus A força pró descarga tem relação com o id,
fracassos acidentais, pelo fato de levarem, às vezes buscando satisfazer a tensão; A força contra
diretamente, a um resultado oposto ao que é descarga possui relação com o superego, segurando
conscientemente visado. a tensão por causa da internalização/introjeção de
• Isolamento – Mecanismo de defesa, típico, questões sociais, morais e culturais.
sobretudo da neurose obsessiva, e que consiste em A defesa pode eliminar o conflito entre as forças
isolar um pensamento ou comportamento, de tal pró e contra descarga, contudo, existe
modo que as suas conexões com outros consequência, o desejo vai surgir como um
pensamentos ou com o resto da existência do sintoma, sintoma este que vai revelar o desejo que,
sujeito ficam rompidas. Entre os processos de à vontade.
isolamento, citemos as pausas no decurso do Questiona-se o motivo de Freud acreditar que
pensamento, fórmulas, rituais, e, de um modo geral, existia uma força reprimindo os conteúdos e os
todas as medidas que permitem estabelecer um deixando inconsciente, isso se dá pelo fato de que
hiato na sucessão temporal dos pensamentos ou dos durante a hipnose (retirando o EGO da questão), o
atos. sujeito conseguia acessar todo o conteúdo de sua
• Anulação retroativa – Mecanismo psicológico memória.
pelo qual o sujeito se esforça por fazer com que Sendo assim, as defesas são ferramentas que
pensamentos, palavras, gestos e atos passados não protegem o ego de tomar consciência de algo
tenham acontecido; utiliza para isso um pensamento (doloroso, vergonhoso, afins).
ou um comportamento com uma significação Ao reprimir algo, por exemplo, irá se “livrar” do
oposta. Trata-se aqui de uma compulsão de tipo conflito entre as forças pró e contra descarga,
‘mágico’, particularmente característica da neurose contudo, ficará constantemente gastando energia
obsessiva. para manter o conteúdo reprimido no inconsciente;
• Projeção – No sentido propriamente psicanalítico, diante disso, sintomas como o ato falho vão revelar
operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza o conteúdo reprimido.
no outro – pessoa ou coisa – qualidades,
sentimentos, desejos e mesmos ‘objetos’ que ele Sobre as DEFESAS CLÁSSICAS, cita-se
desconhece ou recusa nele. Trata-se aqui de uma exemplos e uma breve definição:
defesa de origem muito arcaica, que vamos
encontrar em ação particularmente na paranoia, mas Repressão: tender a afastar algo da consciência,
também em modos de pensar ‘normais’, com a constantemente, com gasto energético;
superstição. Regressão: retornar a um ponto anterior do
• Introjeção – Processo evidenciado pela desenvolvimento psíquico, como um filho único
investigação analítica. O sujeito faz passar, de um que agora possui um irmãozinho, pode regredir para
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ESCRITOS SOBRE A
TÉCNICA PSICANALÍTICA
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pacientes, nem mesmo para que ele possa se sentir • Para diagnóstico recomendo o livro de
compreendido. McWilliams, “Diagnóstico Psicanalítico:
O paciente começa a achar a análise do analista Entendendo a estrutura da personalidade no
mais interessante que sua própria, começa a processo clínico” e “A entrevista psiquiátrica na
estabelecer uma relação de amizade ao invés de prática clínica”, de Mackinnon, Michels e Buckley.
tratamento, que dificulta muito a liquidação da
transferência.
• É estabelecida uma postura de “tela em branco” INTRODUÇÃO ÀS ABORDAGENS
ou de “espelho”: PSICODINÂMICAS
Uma tela em branco no sentido de que tudo que
o paciente vir no seu analista, será projeção sua
(já que o analista não revela nada da realidade • Nesta disciplina abordaremos os primeiros autores
de sua vida); Toda transferência do paciente pós-freudianos que abriram caminhos distintos de
sobre o terapeuta, estaria se referindo a uma pesquisa e tratamento em psicanálise.
fantasia do paciente. • De modos distintos, todos os autores abordados
Quanto mais o terapeuta se revela, menos ampliaram ou discordaram de alguns pressupostos
aparenta ser uma tela em branco, servindo estabelecidos por Freud e permitiram que a
pouco para a interpretação da psicanálise estudasse questões mais profundas do
transferência, já que o comportamento do ser humano.
terapeuta acaba gerando interpretações • Freud acabava estudando sujeitos bem
pela parte do paciente. estruturados e com personalidades bem
Um espelho na medida em que nada é organizadas, como as histéricas, por exemplo, que
acrescentado pelo psicanalista (seus valores), se relacionava a problemas neuróticos, “o que eu
ele apenas reflete aquilo que o paciente lhe quero?”, o sujeito tendo um problema com outro
conta (“Veja como você sempre assume que as sujeito;
pessoas estão tentando tirar vantagem de Enquanto os autores pós-freudianos puderam
você... Por que você acha que isso acontece?”). implicar em problemas contemporâneos, “o
Diante do tratamento, o terapeuta acaba que eu sou?”, mais profundos.
tentando identificar as causas da • Quatro nomes se destacam nesta revolução:
resistência do paciente, apresentada por Heinz Hartmann (maior representante da
causa da transferência que o paciente Psicologia do Ego)
apresenta, sendo assim, o terapeuta Melanie Klein (criadora e maior representante
precisa dosar o conteúdo que ira devolver da Escola Inglesa)
para o paciente diante do espelho, de Donald Winnicott (maior nome do Grupo
modo que permita ao paciente tempo, para Independente)
que possa lidar e superar suas resistências Jacques Lacan (criador da Escola Francesa)
(sendo um ponto importante e que conflita
com a ideia da psicanálise selvagem). A “TORRE DE BABEL” DA PSICANÁLISE
• Às vezes interessando-se por questões distintas e
COMPILADOS DA TÉCNICA às vezes descrevendo a partir de outros
PSICANALÍTICA pressupostos o mesmo fenômeno, a psicanálise foi
• Sem dúvida o livro mais completo sobre a técnica comparada por Guntrip com uma “torre de Babel”.
psicanalítica, clássica e contemporânea, é Existem vários modos de se descrever uma
“Fundamentos da técnica psicanalítica”, de Horácio intervenção, por exemplo, a “aliança
Etchegoyen. terapêutica” de Zetzel é descrita como
• Outro trabalho interessante na mesma linha é o de “cooperação da parte adulta da personalidade na
David Zimerman, “Manual de técnica tarefa analítica” por Meltzer; ou a função de
psicanalítica”. holding de Winnicott é descrita como função de
• Para trabalhos sistematizados (quase continente por Bion.
manualizados) de psicoterapias psicodinâmicas • Outras questões, entretanto, são distintas, como a
recomendo o livro de Cligor, Kernberg e Clarkin, preocupação em entender a agressividade humana
“Psicoterapia dinâmica das patologias leves de (Klein), a influência do ambiente na maturação
personalidade” e o livro “Psicoterapia (Winnicott) ou a essência transcultural do ser
psicodinâmica para transtornos da personalidade: humano (Lacan), educação dos filhos (Bruno
Um manual clínico”, de Clarkin, Fonagy e Bettelheim, Fraçoise Dolto), as psicoses (Jean-
Gabbard. Claude Maleval), entre outros.
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da vida; não ter um bom “alicerce” acaba poder, domínio, retirando a dignidade e
abrindo margem para o adoecimento infantil. tudo de bom que o penetrado tem.
FANTASIA INCONSCIENTE
MELANIE KLEIN: • Esse é um tema central na obra kleiniana que
EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO começa a se desenvolver desde o início de seus
escritos.
• Klein percebe que todos os comportamentos são
• Klein começa a produzir na década de 1920 e, originados e podem ser explicados pela fantasia
neste período inicial, está relatando os atendimentos inconsciente que os acompanha.
de crianças nos seus aspectos de voracidade. Sendo assim são as fantasias inconscientes que
Voracidade, em Klein, quer dizer o quanto é sustentam uma ação, se faz algo por causa das
impossível de ser satisfeito. A voracidade na fantasias por trás.
criança ou no adulto aponta para a • Nas crianças e nos psicóticos, estas fantasias
insaciabilidade daquele desejo. aparecem de maneira bastante crua, são fantasias de
Voracidade retrata um tipo de relação com dilacerar o outro, de roubar o que ele tem de bom,
o desejo, de que não é possível satisfazer de prendê-lo só para si e nunca mais sofrer com sua
o desejo daquela pessoa, onde o desejo/a ausência etc.
vontade aparenta não possuírem fim, onde Um psicótico que “ama” o outro se contenta
fica demandando do outro por mais, na em “amar” sozinho, de um lado, mesmo que
medida em que responsabiliza esse outro tenha que fazer isso forçado, por meio de
por não conseguir satisfazer seus desejos. estupro, por exemplo. O outro não precisa
Como se um outro que não deixa com que querer de volta, retratando um lado masoquista;
eu vivencie a minha conquista. Um neurótico que “ama”, deseja que o outro o
Um exemplo de voracidade seria o desejo deseje de volta, sendo assim, o desejo não é
de concluir o ensino médio, quando pelo outro, é um desejo de o outro o desejar,
concluí, não vivencia a gratificação disso retratando um lado narcisista.
e já demanda por mais, entrar para a
faculdade; quando consegue entrar para a OBJETO INTERNO
faculdade, não aproveita o prazer disso e
acaba demandando mais, de que precisa • As fantasias dão-se sempre com um objeto
tirar 10 em tudo, e assim por diante, um interno, conceito fundamental em Klein.
desejo insaciável. • Existem os objetos externos e os internos.
O controlar por controle, comer por Criamos cópias mentais e deformadas/
comer, afins, fazer algo sem motivo distorcidas de tudo que é significativo para nós,
específico, sem o prazer por trás. um objeto interno é tudo aquilo que foi
• Klein fala em voracidade oral, anal e fálica. investido libidinalmente;
Oral: desejos de incorporar o objeto de amor Relaciona-se a tudo que foi internalizado,
(“Eu vou te comer, tia...”); introjetado, é o que eu projeto, percebo e
Como os “desejos de grávida”, quer algo, entendo de Fulano, não é uma
quando consegue quer outra coisa, assim representação real de Fulano, apenas o
por diante, como se não tivesse fim, não que eu imagino dele.
aproveitando a conquista. “O que meu namorado fará nessa situação
Anal: desejo de posse, de controle (fantasia de é X, Y e Z, ele vai pensar W e fazer
estrangular, sufocar o outro); XYZ”.
Como os desejos de apertar um bebê por A questão é, será que o tal namorado
não saber como expressar mais amor; de realmente é assim? Ele faria isso mesmo?
colocar uma pessoa em um recipiente para Na visão internalizada que o sujeito
a ter para si próprio, por não encontrar possui, em suas fantasias inconscientes,
outra forma de satisfazer a necessidade sim, se tem um achismo de conhecer a
que encontra em ter aquela pessoa perto, verdade absoluta sobre o objeto em
por exemplo. questão.
Fálica: desejo poder, ambição (na fantasia de Nós não interagimos com o objeto externo
penetrar o outro, roubar o que ele tem de bom). (realidade), apenas com o interno (ideia mental
Como a ideia de um homem hétero que temos das coisas, pessoas, ou seja, as
penetrar/estuprar outro homem hétero, cópias mentais deformadas/distorcidas).
como se estivesse em uma situação de
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As fantasias lidam com estes objetos internos, • O tema da preocupação (concern) com o objeto
entretanto a criança e o psicótico têm será importantíssimo para Donald Winnicott, mas já
dificuldades em diferenciar os objetos internos tem seus primórdios em Klein.
dos externos (o superego do paranóico se • Especialmente no momento do desmame, o bebê
encontra lá fora, como se alguém ou algo perceberá que a mãe é um objeto único e separado
cumprisse o papel de instância crítica, por dele próprio, e então começará a cuidar deste objeto
exemplo, um CHIP dentro da cabeça, onde fica para que ele não se danifique nem o abandone.
ditando o que poderia fazer ou não; não sendo • Alcançar o objeto total vai ser uma tarefa da vida
si próprio e sim outrem); a criança que fantasia toda, segundo Melanie Klein. Estamos o tempo
com a morte de seu pai, corre para beijá-lo do todo nos relacionando com objetos parciais
nada, procurando reparar seu dano imaginário (frequentemente cindidos).
(já que não consegue diferenciar muito bem o Alguns alunos podem me odiar por não
que é fantasia e realidade, fica com medo de responder suas demandas imediatamente e
que o que sonhou realmente tivesse ocorrido e, depois se preocuparem comigo quando
o abraço seria a sua forma de reparar o dano souberem o porque isso aconteceu.
imaginário, na realidade). Namorado que trai é visto como um objeto
Veremos esta confusão nos atendimentos dos cindido e completamente ruim; o namorado
psicóticos. que da flores é um objeto cindido e
• O primeiro objeto interno do bebê é o seio da mãe. completamente bom; não se tem uma
Ele será o primeiro objeto da realidade externa que continuidade de que o mesmo namorado que
é investido libidinalmente pelo bebê. está dando as flores agora, é o que a traiu.
• O bebê ainda não tem consciência da mãe como
um todo (se tem uma cisão do objeto), mas apenas OBJETOS INTERNOS E CISÃO
de parte dela, a mãe como um seio, uma mão, afins. • Melanie Klein percebe em crianças e psicóticos
Por volta dos 6-8 meses o bebê já pode reconhecer (com maior frequência), mas também em
na mãe um outro ser (um objeto unificado). neuróticos, os processos de cisão dos objetos.
Até este momento a mãe resume-se à funções Um objeto bom: objeto idealizado, que nunca
executadas que causam prazer ou desprazer frustra, que nunca exige nada, que nunca
para o bebê, é uma “mãe” (na verdade é abandona.
“algo”) que oferece o seio na hora certa ou
Um objeto mau: objeto depreciado, sem
errada, que o limpa, que o esquenta etc.
qualidade alguma, sádico.
Não é um objeto unificado. • Os objetos cindidos pouco a pouco serão
• No primeiro semestre, os objetos internos do bebê integrados nas crianças: é a mesma mãe que
são parciais (o seio, o rosto, o genital, o calor), conforta e castiga.
posteriormente, após o nono mês, mais ou menos,
Em neuróticos vemos o processo de cisão
esses objetos parciais serão reunidos num objeto
acontecendo frequentemente entre pessoas
total.
apaixonadas: não é o(a) namorado(a) que está
Ou seja, antes a mãe era uma função, “algo” me frustrando, é a mãe/pai/amigos dele que não
que supria (ou não) as necessidades do bebê; nos deixam ser felizes.
depois passa a ser um objeto parcial e
“Meu namorado não é ruim, ele é ótimo,
cindido, um seio bom e um seio mau, ataca na
são os amigos dele que não deixam nosso
fantasia (e na realidade, mordendo, por
namoro dar certo, ficam levando ele para a
exemplo) o seio mau, idolatra o seio bom por
balada, fazendo ele me trair”.
suprir suas necessidades; por fim, a criança
Podemos tomar o exemplo da política, onde se
percebe a mãe como um objeto integral, sendo
percebe uma posição esquizo-paranóide, a
o seio que atacava e o que idealizava, a mão
cisão entre os lados da política:
que acariciava, a fonte do calor que sentia,
tudo, simultaneamente. Lula 100% ruim. Bolsonaro 100% bom;
• O objeto total é a reunião de todas as Lula 100% bom. Bolsonaro 100% ruim.
características do objeto, as partes boas e ruins dele. A mídia que distorce a visão do ídolo, ele
• O bebê relacionava-se com partes da mãe sem ter é 100%, ele é incrivelmente bom e
noção exatamente de que tudo aquilo provinha da honesto, o problema é que estão todos
mesma pessoa (do mesmo objeto). contra ele, querendo o fazer parecer um
• Enquanto não havia a percepção de unidade do monstro.
objeto, também não havia preocupação com ele. Percebe-se uma visão cindida, que não
Poderia o atacar física e mentalmente, sem corresponde a realidade (objeto externo),
nenhuma preocupação ou culpa. apenas condiz com a ideia mental que o
sujeito possui (objeto interno).
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SUPEREGO PRECOCE
• As defesas mágicas podem auxiliar a suportar a
crueldade do superego infantil.
• Klein nota que as crianças possuem um superego
muito antes da data estipulada por Freud (5 anos
aproximadamente)
• Este superego precoce é bastante sádico, muito
rígido e cruel, ele segue a “Lei de Talião”.
• Mesmo o ataque fantasiado toma proporções
muito graves para as crianças, justamente por seu
superego.
O superego é uma instância interna, não é
possível “esconder” as coisas dele... ele está
ciente até dos pensamentos da criança.
INIBIÇÃO INTELECTUAL
• Klein acompanha Freud na questão do
desenvolvimento intelectual: a vontade de
conhecer, de entender, é seguida e estimulada pela
de controlar. É uma derivação da pulsão sádica
que impulsiona o desenvolvimento intelectual da
criança.
• Klein percebe que as crianças que não puderam
tolerar seu sadismo, não tiveram tempo de
sublimar estas capacidades.
Klein encontra pais que não puderam tolerar o
sadismo dos filhos, mas também crianças que
possuíam um superego tão rígido que punia
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