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NASCIMENTO, A. C. A. A Psicoterapia Breve com Crianças. 2016. 6 f.

Apostila da disciplina
de Ludoterapia, Departamento de Psicologia, Universidade de Taubaté – São Paulo, 2016.
Apostila confeccionada para fins didáticos da disciplina.
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PSICOTERAPIA BREVE DE CRIANÇAS

PSICOTERAPIA BREVE (PB):

- A Psicoterapia Breve consiste de um “processo planejado, com foco, objetivo e


estratégias terapêuticas estabelecidas a partir de uma compreensão diagnóstica do
caso.” (OLIVEIRA, 2002, p. 43)

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

- A literatura sobre o tema sugere que Freud foi um de seus precursores. Seus
primeiros casos foram realizados em períodos de tempo bastante abreviados. Os
pacientes apresentavam queixas específicas, sintomatologia claramente
configurada em categorias nosológicas e o objetivo do tratamento era a remissão
dos sintomas;
- Na medida que os objetivos da psicanálise se tornaram mais ambiciosos os
tratamentos tornaram-se cada vez mais extensos. De certa forma a 2ª tópica
diminuiu muito a possibilidade de se abreviar a técnica psicanalítica, uma vez que
a ênfase passou a recair sobre a “Reorganização estrutural" e não mais em tornar
o "inconsciente consciente".
-Um efeito das grandes guerras mundiais, principalmente na Segunda Guerra:
preocupação em buscar formas que tornassem possível tratamentos de curta
duração.
A relevância da Psicoterapia Breve

✓ Na atualidade, a Psicoterapia Breve (PB) representa uma alternativa


importante e, reconhecida pela literatura científica, para que se possa
estender o atendimento psicológico a parcelas mais amplas da população;

✓ Principalmente, no atendimento institucional, a PB deve ser considerada


como uma modalidade de atendimento de grande repercussão e valia.

Equívocos na definição da PB:


✓ PB não é apenas uma psicoterapia com um número restrito de sessões;
✓ A PB não deve ser utilizada de forma indiscriminada;
✓ A PB não se constitui de um processo rígido em que não é levada em
consideração o desenvolvimento do cliente ao longo do atendimento.
NASCIMENTO, A. C. A. A Psicoterapia Breve com Crianças. 2016. 6 f. Apostila da disciplina
de Ludoterapia, Departamento de Psicologia, Universidade de Taubaté – São Paulo, 2016.
Apostila confeccionada para fins didáticos da disciplina.
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O que é Psicoterapia Breve:


- É uma modalidade de psicoterapia que se desenvolve a partir de um planejamento;
- Tal planejamento é obtido a partir de etapas pré-determinadas;
- Para o estabelecimento desse planejamento é preciso levar em consideração as
características do cliente, do próprio terapeuta e do contexto em que a PB irá de
desenvolver;
- Um processo planejado não significa um programa rígido a ser cumprido, visto que
toda modalidade psicoterápica precisa ser transformadora para o cliente.
- Dá realce às condições de vida do paciente, dirigindo-se à experiência atual da
"realidade" do cliente.
Condições de vida:
✓ Constelação de vínculos interpessoais;
✓ Condições de socioeconômicas;
✓ Condições de trabalho;
✓ Perspectivas de futuro;
✓ Cultura, preconceitos, mitos, crenças, tensões do seu grupo social, etc.
- O terapeuta desempenha papel essencialmente ativo;
- O cliente também é estimulado a exercer um papel ativo. Regressões ou uma
relação terapêutica de dependência não são estimuladas;
- O relacionamento terapêutico precisa se desenvolver a partir de uma aliança
terapêutica positiva;
- O terapeuta busca concentrar a tarefa terapêutica (foco) em determinado sintoma,
problemática ou setor da psicopatologia do paciente;
- O paciente é encaminhado para o foco por meio de intervenções diversas que
estimulem a atenção seletiva;
- Principais intervenções verbais: informação, esclarecimentos, clarificações,
assinalamentos, confrontações.
Condições para realização da PB:

(a) Identificação precisa de uma queixa principal:


✓ Entrevistas Iniciais para delimitação do motivo da consulta;
✓ Considerar critérios de indicação para PB.
(b) Realização de Psicodiagnóstico para compreensão aprofundada da queixa:
✓ Delimitação de uma hipótese diagnóstica.
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(c) Devolutiva dos resultados do diagnóstico:


✓ Estabelecimento do Foco (em conjunto com o cliente);
✓ No contrato informação sobre os objetivos, a duração e a frequência.
(d) Desenvolvimento do processo:
✓ Pode-se utilizar recursos e estratégias diversas (inclusive de outras
concepções teóricas);
✓ Mas atenção: isso não significa uma “bagunça indiscriminada” de técnicas
aleatórias.
(e) Avaliação de resultados da PB:
- A avaliação deve ser realizada a partir de indicadores precisos;
- Deve ser discutida em conjunto com o cliente;
- Pode utilizar instrumentos direcionados a tal finalidade (escalas, reaplicação de
testes anteriormente utilizados na fase diagnóstica).
(f) Devolutiva dos resultados da avaliação:
✓ Decisão sobre o término ou continuidade.
Indicações para PB:

- Pacientes que obtém maior benefício:


✓ Quadros agudos, particularmente situações de crises;
✓ Situações de mudança relativas à transição de etapas evolutivas
(adolescência, casamento, envelhecimento, etc);
✓ Distúrbios de natureza reativa em pacientes que preservam um nível de
adaptação aceitável.
Contraindicações (não existe consenso entre os autores):

✓ Pacientes dependentes, com dificuldades de se vincular e desvincular


rapidamente;
✓ Riscos de suicídio;
✓ Dependência a drogas ilícitas e alcoolismo;
✓ Sintomas obsessivos ou crônicos incapacitantes;
✓ Comportamento autodestrutivo,
✓ Surtos psicóticos atuais ou anteriores.
PARTICULARIDADES DA PSICOTERAPIA BREVE DE CRIANÇAS
- A Psicoterapia Breve Infantil (PBI) é um campo ainda pouco conhecido e discutido
pela literatura, principalmente a brasileira;
- Se desenvolveu entre o fim da década de 1960 e durante a década de 1980;
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- A PBI pode ser definida como uma “modalidade de intervenção psicoterapêutica


planejada, com duração limitada e objetivos definidos, dirigida à criança e aos seus
pais ou responsáveis, que se utiliza de referencial teórico [...] e flexibilidade técnica.”
(OLIVEIRA, 2012, p.60)
- As mesmas etapas que fundamentam a PB de adultos também devem ser
cumpridas na PB de crianças. Entretanto, alguns aspectos próprios da infância,
favorecem certas particularidades.
Particularidades:
- Na Psicoterapia Breve Infantil (PBI) devem ser incluídos outros contextos
terapêuticos como o atendimento conjunto com os pais/responsáveis e a escola da
criança;
- O processo de psicoterapia da criança é diretamente afetado pelo seu meio
familiar, e as mudanças que ocorrerem precisarão ser toleradas e reforçadas pelo
ambiente familiar.
- Encontra-se menção na literatura sobre o tema que o Foco da PBI deveria ser
direcionado a uma “área de conflito mútuo”, que segundo Cramer (apud OLIVEIRA,
2002) consiste de uma área de indiferenciação entre os pais e a criança em que
ocorrem projeções e identificações recíprocas. (OLIVEIRA, 2002, p.43)
- A motivação para o tratamento e para a mudança, em crianças, bem como o
estabelecimento de um bom vínculo terapêutico está relacionada à motivação dos
pais e com a possibilidade deles se perceberem como fazendo parte do processo
de mudança. (OLIVEIRA, 2002)
Critérios de indicação e contraindicação em Psicoterapia Breve Infantil:
- Considerar a gravidade dos sintomas e a patologia apresentada;
Considerar a habilidade da criança para estabelecer rapidamente uma aliança
terapêutica;
- A queixa principal apresenta uma situação focal rapidamente identificável;
- Critérios de indicação e contraindicação em Psicoterapia Breve Infantil
- Avaliar se o ambiente familiar da criança oferece suporte suficiente para lidar com
as aquisições da psicoterapia;
- Considerar a capacidade da criança de estabelecer vínculos rapidamente e se
suportar se desligar de uma relação significativa;
- Considerar a disponibilidade para a mudança não só da criança, mas também dos
próprios pais/responsáveis;
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- São contraindicados: patologias graves, dificuldades prolongadas e crônicas,


déficits precoces no desenvolvimento resultantes de vínculos maternos precários,
presença de sintomas psicóticos;
Critérios de indicação e contraindicação em Psicoterapia Breve Infantil
(OLIVEIRA, 2002):
(a) Nível de dependência ou independência afetivo emocional da criança:
- Para a PBI a criança deveria ser mais independente, de forma a depender menos
das condições do seu ambiente para preservar e dar continuidade às aquisições da
terapia;
(b) Tipo e intensidade das expectativas que os pais têm em relação à criança:
- Se refere às projeções positivas ou negativas direcionadas à criança, oriunda das
próprias experiência parentais com seus progenitores. A rigidez e inflexibilidade dos
responsáveis não são consideradas como indicadores positivos.
(c) Considerar a capacidade dos pais de se verem envolvidos no problema e nas
possibilidades de solução:
- Se os pais apresentarem intensas dificuldades em reconhecer suas próprias
características e responsabilidade pela situação-problema, menor será a
possibilidade de mudança;
(d) As condições dos pais/responsáveis de tolerar as mudanças provocadas pela
psicoterapia;
(e) Possibilidades de estabelecimento de uma aliança terapêutica;
(f) Considerar as condições psíquicas e o nível de desenvolvimento da criança: o
profissional deve adotar uma postura flexível e coerente;

A questão dos critérios de indicação para psicoterapia breve coloca o


profissional perante um impasse: por um lado, é preciso considerar a
pressão da demanda por atendimento psicológico, especialmente das
camadas menos favorecidas da população, e a escassez de recursos para
atendê-la; por outro, nossas expectativas em relação à amplitude da ajuda
que gostaríamos de oferecer a nossos pacientes. (OLIVEIRA, 2002, p.46)
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de Ludoterapia, Departamento de Psicologia, Universidade de Taubaté – São Paulo, 2016.
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REFERÊNCIAS

- LIPP, M. E. N.; YOSHIDA, E. M. P. (Orgs.). Psicoterapias Breves nos


diferentes estágios evolutivos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012.
- OLIVEIRA, I. T. Critérios de indicação para psicoterapia breve de crianças e pais.
Psicologia: Teoria e Prática, 4 (1), p. 39-48, 2002. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
36872002000100005>. Acesso em: 19 de mar. 2016.
- OLIVEIRA, I. T. Psicoterapia Breve Psicodinâmica com crianças. In: LIPP, M.
E. N.; YOSHIDA, E. M. P. (Orgs.). Psicoterapias Breves nos diferentes estágios
evolutivos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012.

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