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VOLTA REDONDA- RJ
2023
GUILHERME PEREIRA ANDRADE
VOLTA REDONDA- RJ
2023
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................4
2. DESENVOLVIMENTO...............................................................................................4
2.1.A SITUAÇÃO JURÍDICA DO TRABALHADOR RURAL ANTES DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988…………………...………………….……....4
2.2. A SITUAÇÃO JURÍDICA DO TRABALHADOR RURAL APÓS A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988…………………………….………………...6
2.2.1. Direito À Igualdade……………………….……………………………..6
2.2.2. Reforma Agrária………………………………………………………...8
2.2.3. Direitos Coletivos……………………………………………………….9
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................10
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................10
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1. INTRODUÇÃO
Por força do artigo 2º da Lei nº 5.889/731, entende-se como trabalho rural aquele
realizado por pessoa física, em propriedade rural ou prédio rústico, que presta serviços de
natureza não eventual a empregador rural. Nessa linha, nota-se que, ainda que a sociedade
brasileira tenha se pautado por muito tempo na atividade econômica agrícola como principal
meio de desenvolvimento socioeconômico, a legislação trabalhista nacional percorreu uma
longa caminhada no que toca à regulamentação das atividades dos trabalhadores rústicos, as
quais foram marcadas pela liberdade de relação, com ausência de garantias e de direitos2.
Ante a evidente exclusão desses trabalhadores do texto da Consolidação das Leis do Trabalho,
promulgou-se o obsoleto Estatuto do Trabalhador Rural, a Lei nº 4.214/1963, que tratou de
normatizar aspectos trabalhistas essenciais, como o regime de previdência do trabalhador
rural, a jornada de trabalho, e a remuneração.
Com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 -
CRFB/88, o trabalhador rural foi equiparado ao trabalhador urbano. Nesse viés, o texto
constitucional e a Emenda Constitucional 28/2000 tornaram equânimes os direitos trabalhistas
e previdenciários de ambos os tipos de trabalhadores. Todavia, é válido analisar a situação do
trabalho rural antes dessa concretização da igualdade entre essas modalidades de trabalho, a
fim de que se entenda o percurso trilhado por este ordenamento jurídico. Sob o viés de uma
pesquisa jurídica exploratória, verificar-se-ão as principais legislações sobre a temática.
2. DESENVOLVIMENTO
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Art. 2º Empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de
natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário.
2
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da
reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores - Mauricio Godinho Delgado. -
18. edição. São Paulo : LTr, 2019. p. 478.
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tratamento dado para o trabalho rural antes da CRFB/88, já que esta traz um marco social e
jurídico: a equiparação dos trabalhadores urbanos e rurais.
A primeira tratativa sobre a normatização do trabalho rural foi o Decreto nº 979/1903,
o qual facultou aos profissionais da agricultura e das indústrias rurais a organização de
sindicatos para a defesa dos seus interesses, permitindo, pois, que os sindicatos se
organizassem sem autorização do governo. Com o Decreto 6.532/1907, o decreto de 1903 foi
devidamente regulamentado. Posteriormente, na década de 1930, a Constituição da República
de 1934 determinou, em seu art. 1213, que deveria-se elaborar uma legislação especial que
tratasse sobre as condições de trabalho agrícola. Ainda, é válido pontuar que a Constituição
Outorgada de 1937 não tratou sobre esta temática.
Já na década de 1940, com a grande atuação dos movimentos trabalhistas, ascendem
as leis de natureza social que versavam sobre o trabalho rural. Nessa linha, a Consolidação
das Leis do Trabalho, promulgada em 1943, não abarcou os trabalhadores rústicos,
restringindo-se aos urbanos. Todavia, em 1941, com o intuito de iniciar uma certa
regulamentação, elaborou-se o Estatuto da Lavoura Canavieira - Decreto Lei nº 3.855/1941 -,
o qual visava positivar normas da produção canavieira e acabou por assegurar direitos aos
empregados de grandes usinas de exploração de cana-de-açúcar.
Em 1944, surge o Decreto-Lei 7.038/1944, que dispôs sobre a sindicalização rural.
Ainda, a Carta Magna de 1946 ressaltou que deve-se facilitar a fixação do homem no campo,
priorizando sempre o cidadão brasileiro pobre em detrimento dos imigrantes, bem como trazia
a determinação de que o trabalhador ganharia estabilidade na exploração rural e indenização
quando despedido. Há, pois, o início da discussão sobre garantias trabalhistas coletivas para
os trabalhadores agrícolas, de maneira ainda incipiente.
Quanto à década de 1960, verifica-se a criação do Estatuto do Trabalhador Rural (Lei
nº 4.214/1963), momento em que estabelece-se grande disparidade entre os trabalhadores
rurais e urbanos. Como os primeiros não estavam sujeitos ao regime celetista, utilizou-se do
Estatuto para regulamentar o acesso destes à previdência social4. Dessa maneira, criou-se o
Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, em 1963. Nessa linha, o FUNRURAL incidia
sobre a bruta proveniente da comercialização da produção rural, custeando a previdência para
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Art 121 - A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos
campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País.
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A previdência social é tratada no Título IX, Capítulos II e III, do Estatuto do Trabalhador Rural. Neste,
estabelece-se que o Instituto da Aposentadoria e Pensão dos Industriários ficaria encarregado de arrecadar verbas
para o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural. Ainda, determina-se quem seriam os segurados da
previdência social rural, bem como os dependentes do segurado, os quais poderiam usufruir destes benefícios
garantidos aos primeiros.
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aposentadoria e outros benefícios junto à Previdência Social. Outrossim, este Estatuto foi
responsável por tornar obrigatória a carteira profissional de trabalho, por determinar que a
jornada de trabalho rural deveria ser de 08 (oito) horas, e, dentre demais benefícios, por ter
estabelecido o salário-mínimo como a base da remuneração do trabalhador agrário.
Em 1971, a Lei Complementar nº 11/71 criou um programa de caráter assistencial - o
chamado Prorural-Funrural -, o qual assegurava certos benefícios aos trabalhadores rurais que
eram chefes de família, excluindo-se desta condição as mulheres e os jovens que trabalhavam
no meio rural, exceto no tocante à pensão por morte. Por último, cabe destacar que o Estatuto
de 1963 foi revogado pela Lei nº 5.889/1973, cujo teor estendeu as disposições da CLT aos
trabalhadores rurais, mantendo o prazo prescricional dos direitos assegurados para os
trabalhadores rurais como sendo de dois anos contados a partir do término do contrato de
trabalho, por conta da dificuldade de acesso destes ao Poder Judiciário, seja por distância
geográfica, seja por falta de instrução.
Portanto, é possível perceber que o trabalho rural percorreu um longo caminho para
ser equiparado ao trabalho citadino. Sobre esse prisma, analisa-se que a CRFB/1988 alterou
alguns paradigmas neste âmbito, os quais serão abordados a seguir.
Tratando-se dos assalariados rurais, tem-se que comporta definição no art. 11, I da Lei
Lei 8.292/91 nos seguintes termos: aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural, em
caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor
empregado.
Ao introduzir a figura do agricultor familiar e assalariado rural no rol de indivíduos
legitimados a gozar dos benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social mediante
contribuição contabilizada a partir de porcentagem inferida sobre o resultado de sua produção,
fixado em 2,1% nos termos do art. 25, I e II da Lei 8.292/91, promoveu-se drástica mudança
na qualidade de vida de expressiva parte da população brasileira. Na verdade, percebe-se que,
a partir da adoção de tal medida, o conceito de segurado especial passou a comportar
parâmetros que extrapolam aqueles restritos à condição de subsistência do segurado e deu
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origem à redação do art. 11, VII, da Lei 11.718/08 que, por sua vez, alterou a Lei nº 5.889/73 -
Lei do Trabalhador Rural -, uma vez que trouxe a expressão regime de economia familiar5.
Ademais, percebe-se que a preservação do desenvolvimento do núcleo familiar rural
encontra tutela nos demais incisos do art. 7º da CRFB/88, de maneira que se pretende dar
destaque àqueles considerados estruturantes dessa igualdade de tratamento com o núcleo
familiar citadino no âmbito trabalhista6. Nesses termos, há de ser pontuado o tratamento
igualitário no tocante à remuneração fixada com base no salário-mínimo, inciso IV e X c/c
art. 76 e ss. CLT/43, bem como jornada de trabalho de carga horária de 06 horas diárias, em
turno ininterruptos de revezamento, inciso XIV c/c art. 58 e ss. da CLT/43, descanso semanal
remunerado, inciso XV c/c art. 59 e ss. da CLT/43, e horas extras, inciso XVI c/c art. 58-A da
CLT/43. Nota-se, portanto, que o texto constitucional caminha por trazer tutela igualitária
entre as categorias de classes trabalhadoras em destaque, sendo indiscutível que a sua
literatura proporcionou clara constitucionalização da legislação pertinente já vigente.
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De modo objetivo, afirma-se que a expressão em destaque encontra desenvolvimento do §1º do artigo
supracitado e apresenta a seguinte redação: Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o
trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico
do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de
empregados permanentes. Ora, mostra-se claro aqui a tentativa do legislador infraconstitucional em adequar-se à
concepção trazida pelo legislador constitucional, pois se busca tutelar o desenvolvimento socioeconômico do
núcleo familiar como um todo.
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Alerta-se que a problemática em que se restringe esse trabalho acadêmico não permite que seja ressaltado,
detalhadamente, as peculiaridades trazidas pela Lei nº 5.889/73 quanto ao trabalhador rural e sua realidade
distinta ao trabalhador citadino. Na verdade, tem-se que busca-se ressaltar a equiparação entre ambos.
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Art. 16 – A Reforma Agrária visa estabelecer um sistema de relações entre o homem, a propriedade rural e o
uso da terra, capaz de promover a justiça social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o
desenvolvimento econômico do País, com gradual extermínio do minifúndio e do latifúndio.
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de reforma agrária. Dessa maneira, entende-se que a propriedade rural necessariamente deve
ater-se a sua função social, que nada mais seria do que a efetivação de seu viés produtivo
agregado aos demais tópicos previstos no art. 186 da CRFB/888 c/c o art. art. 2º, §1º9 e art.
1210 da Lei 4.504/64.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Art. 186 – a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critério e
graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: (gn) I – aproveitamento racional e adequado; II
– utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III – observância das
disposições que regulam as relações de trabalho; IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e
dos trabalhadores.
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Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função
social, na forma prevista nesta Lei. § 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social
quando, simultaneamente: a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim
como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c) assegura a conservação dos recursos
naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a
cultivem.
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Art. 12. À propriedade privada da terra cabe intrinsecamente uma função social e seu uso é condicionado ao
bem-estar coletivo previsto na Constituição Federal e caracterizado nesta Lei.
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Limitando-se à uma análise histórica acerca do tratamento que os trabalhadores rurais
receberam no ordenamento jurídico brasileiro, desde o período colonial até a realidade
contemporânea à vigência da CRFB/88, compreende-se que a categoria trilhou árduo caminho
para alcançar o gozo de direitos e garantias básicas de seus integrantes. Na verdade,
entende-se que tão-somente a partir do advento da constituição de 1988 é que direitos como a
liberdade sindical e direito à greve bem como uma nova concepção acerca do núcleo familiar
(que extrapolou os “muros da cidade”) e sobre a função social da propriedade se mostraram
passíveis de efetivação. No que tange a esse novo olhar trazido pelo legislador constituinte,
percebe-se que se consolidou a equiparação entre trabalhadores do campo e trabalhadores da
cidade e, por assim ser, se angariou condições necessárias para que no âmbito do direito
trabalhista e previdenciário drásticas mudanças ocorressem. Desse modo, extrai-se como
inquestionável a assertiva de que, com a promulgação do texto constitucional de 1988, os
trabalhadores rurais, enquanto classe trabalhadora e enquanto cidadão brasileiros, viram ser
reconhecidos direitos coletivos que anteriormente eram assustadoramente ignorados.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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