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Trabalho Rural

Verifica-se que, no Brasil, o trabalhador rural nem sempre teve a mesma proteção destinada ao
trabalhador urbano, destacando Vólia Bomfim Cassar que: “Não havia interesse político para a legislação
proteger esta categoria. Talvez porque o trabalho rural, assim como o doméstico, tenha nascido do trabalho
escravo. Ou porque o legislador também era o dono ou explorador dos grandes latifúndios. Em virtude disto,
raros foram os direitos dirigidos aos trabalhadores rurais”.1

Histórico

Prossegue a autora informando que:


Aos meeiros, parceiros, empreiteiros e arrendatários rurais (todos trabalhadores sem
vínculo de emprego) eram destinadas algumas normas do Código Civil.
O art. 7º, b, da CLT, conceituou o trabalho rural e o excluiu da CLT, salvo quando
expressamente autorizada sua aplicação [...]. Mais tarde, a Lei nº 605/49 estendeu o
RSR(*) aos rurais, salvo quando também fossem meeiros, arrendatários ou parceiros.
A partir do Estatuto do Trabalhador Rural – Lei nº 4.214/63, os rurais do campo
passaram a ter outros direitos, revogando os dispositivos da CLT naquilo que colidia
com o referido Estatuto.
[...]
A lei nº 5.889/73 revogou o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR), bem como as
demais leis em contrário.
A Carta de 1988 equiparou, em relação aos direitos trabalhistas, o empregado urbano
ao rural – art. 7º, caput da CRFB.2
(*) RSR – Repouso Semanal Remunerado.

Em relação à matéria, explica Amauri Mascaro Nascimento que desde 1963 vigorou no Brasil o
Estatuto do Trabalhador Rural, assegurando aos trabalhadores rurais quase o mesmo elenco de direitos
previstos aos trabalhadores urbanos e que o citado estatuto acabou sendo revogado pela Lei nº 5.889, de 08
de junho de 1973, “cujo critério é o da extensão, pura e simples, ao trabalhador rural, da legislação
trabalhista aplicável ao trabalhador urbano, com algumas restrições, o que não alterou substancialmente seu
elenco de direitos.”3
Importante ressaltar que embora o art. 7º da Constituição da República tenha unificado os direitos dos
trabalhadores urbanos e rurais, as normas especiais na Lei n. 5.889/73 não foram revogadas, permanecendo
em vigor as regras destinadas a situações particulares.

Sujeitos do contrato de emprego rural

Afirma Alice Monteiro de Barros que “O art. 2º da Lei n. 5.889, de 1973, em vigor, substitui o termo
trabalhador por empregado rural [...]”4, tendo-se como empregado rural toda pessoa física que, em
propriedade rural ou prédio rústico, presta serviço de natureza não eventual a empregador rural, sob
dependência deste, mediante pagamento de salário.
As peculiaridades do trabalho no campo permitiram ao legislador a adoção de contratos individuais
como safristas, os quais se obrigam à prestação de serviços apenas durante o período da safra, que tem sua

1
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho, Niterói: Impetus, 2008, p. 398.
2
Ibidem, 398.
3
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho, 24ª ed. rev., atual. e ampl., São Paulo, 2009, p. 739.
4
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho, 6ª edição, São Paulo: LTr, 2010, p. 407.
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duração dependente de variações estacionais das atividades agrárias, assim entendidas as tarefas
normalmente executadas no período compreendido entre o preparo do solo para o cultivo e a colheita.
Não se aplica a essa espécie de contratos a contagem de períodos descontínuos de que trata o art. 453
CLT, devendo o safrista ser indenizado ao fim de cada contrato que coincide com o término da safra.
Ensina Barros que:
Consideram-se, igualmente, empregados rurais os que, embora não trabalhando em
funções típicas da lavoura ou da pecuária, têm seus serviços direcionados para a
finalidade da empresa. Dessa forma, são rurais os motoristas, apontadores, fiscais,
administradores, tratoristas, pedreiros e outros, cujos serviços convergem para a
atividade agroeconômica, sendo relevante para a conceituação do rurícola a
finalidade da empresa.5
Ainda, o capataz, verdadeiro administrador de fazenda, sendo detentor de poder de mando
representação, encontra-se na excepcionalidade do art. 62, II, da CLT, aplicado analogicamente, não fazendo
jus às horas extras, devendo ter padrão salarial superior ao dos demais empregados para que possa ser
enquadrado no conceito de cargo de confiança.
A expressão prédio deriva do latim, significando qualquer porção de terra ou de solo que possa ser
objeto de propriedade de alguém, existindo, ou não, uma edificação.
Dessarte, um terreno baldio, é considerado juridicamente um prédio. Logo, o conceito de prédio
rústico corresponde a uma propriedade, localizada no campo ou na cidade, mas com designação específica
de atividade agrícola de qualquer tipo, podendo ser uma gleba de terra, com edificação ou não, destinado à
plantação, nada impedindo o cultivo de hortaliças ou de flores, na própria zona urbana.
O prédio rústico é definido conforme sua destinação, diferenciando-se do prédio urbano pelo uso de
atividade agrícola, atividade essa de natureza rústica.
O traço definidor entre o urbano e o rústico está no fim a que ele se destina, dentro ou fora do
perímetro urbano. Portanto, o prédio rústico se destina às atividades rurais, às atividades agrícolas ou de
criação, inclusive de frutas, hortaliças, flores, ou legumes, mesmo que esteja dentro das cidades.
Decorre logicamente, portanto, que a o traço distintivo é exatamente a destinação econômica a que o
prédio está submetido. Para se afirmar que um prédio é urbano ou rústico, pouco importa que se aponte sua
localização, que se saiba se está situado em área urbana ou rural, sendo fundamental, isso sim, que se
conheça sua destinação econômica, sendo este, pois, o critério diferenciador essencial.
Desse modo, determinado prédio poderá ser classificado como rústico, mesmo estando situado dentro
de perímetro urbano, se sua destinação econômica for uma atividade agrária qualquer, do mesmo modo que
outro se classificará como urbano, mesmo situado no campo, se sua destinação econômica for uma atividade
comercial ou industrial.
Propriedade rural e prédio rústico, são expressões que não possuem o mesmo significado ou
caracterizam uma mesma ideia. Daí o uso alternativo da expressão prédio rústico, que deve obrigatoriamente
ser entendida, no contexto em que foi empregada, como significando prédio rústico situado em área urbana,
em contraposição à propriedade rural, localizada sempre fora da área urbana.
Para a caracterização e conceituação da figura legal do empregado rural não basta, no entanto, a
prestação de serviços em propriedade rural ou prédio rústico, exigindo-se, também, que tais serviços sejam
prestados a empregador rural, assim conceituado como toda pessoa física ou jurídica, proprietária ou não,
que explore atividade agroeconômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio
de prepostos e com auxílio de empregados. Assim, não é empregador rural quem não realiza uma exploração
econômica do próprio rústico, ou que explorando economicamente a propriedade, não o faz por meio de
empregados.
Inclui-se na atividade econômica do tipo rural, a exploração industrial em estabelecimento agrário
não compreendido na CLT. Todavia, não será considerada indústria rural aquela que, alterando a natureza do
produto agrário, retira-lhe a condição de matéria-prima. Conclui-se, assim, que a indústria rural típica é a
5
Ibidem, p. 409.
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que mesmo operando transformação da matéria-prima, não lhe acrescenta uma utilidade capaz de atender
diretamente ao amplo e habitual consumo.
Necessário salientar que rural refere-se à terra, compreendendo a agrícola, o pastoril e, por extensão,
a pecuária, motivo pelo qual a preferência pelo termo agrário, entendendo-se por atividade agroeconômica,
tanto a agrícola, como a pastoril ou pecuária que não se destina, exclusivamente, ao consumo de seus
proprietários.

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