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METABOLISMO DO COLESTEROL
E ÁCIDOS BILIARES
O colesterol é uma substância cuja estrutura contém um núcleo ciclo-pentano-peridro-
fenantreno hidroxilado em C3, com uma dupla ligação em C5, uma cadeia alifática
ramificada com 8 carbonos em C17 e dois grupos metilo, um ligado ao carbono 10 e outro
ao carbono 13. No total são 27 carbonos.
O colesterol do organismo pode estar na forma livre ou pode estar esterificado com
ácidos gordos - ésteres de colesterol. O colesterol presente nas membranas, na bílis e na
periferia das lipoproteínas plasmáticas é colesterol não esterificado. Já o que está presente
nas gotículas de gordura do citoplasma das células ou no miolo das lipoproteínas
plasmáticas está esterificado com ácidos gordos e misturado com triacilgliceróis.
Para além dos seus papeis estruturais o colesterol é o precursor dos sais biliares, das
hormonas esteroides (sexuais e do córtex suprarrenal) e da vitamina D.
SÍNTESE DO COLESTEROL
1. TRANSPORTE DE ACETIL-COA
2. SÍNTESE DE HMG-COA
1. A tiólase
2 acetil-CoA → acetoacetil-CoA + CoA
2. A síntase do HMG-CoA
acetoacetil-CoA + acetil-CoA → HMG-CoA + CoA
Embora a sequência reativa seja a mesma, estas enzimas são isoenzimas das que, nas
mitocôndrias hepáticas, estão envolvidas na síntese dos corpos cetónicos. Formado a
partir de 3 resíduos acetilo (2C) do acetil-CoA, o resíduo hidroximetilglutarilo do HMG-
CoA contém 6 carbonos.
3. SÍNTESE DE MEVALONATO
4. SÍNTESE DE ESQUALENO
isopentenil-pirofosfato ↔ dimetilalil-pirofosfato
PPi + H2O → 2 Pi
NOTA: Doze das treze moléculas de NADPH que se oxidam neste processo são oxidadas
pela ação da redútase do HMG-CoA e a restante pela ação catalítica da síntase do
esqualeno.
Dos 36 átomos de carbono existentes nos resíduos de acetato das 18 moléculas de acetil-
CoA donde se partiu, apenas 27 passam a fazer parte do colesterol. Os nove átomos de
carbono sobrantes perdem-se na forma de CO2 (8 moléculas) e de formato (uma
molécula).
Estas unidades estão na origem de compostos como, por exemplo, a ubiquinona (da
cadeia respiratória), o dolicol (álcool envolvido na N-glicosilação de proteínas no retículo
endoplasmático) e também participa na formação do grupo heme a dos citocromos a e
a3 do complexo IV da cadeia respiratória.
Os ésteres de colesterol da dieta são hidrolisados no lúmen intestinal por ação de uma
hidrólase de origem pancreática (estérase de ésteres de colesterol). Para a absorção do
colesterol é indispensável a presença de sais biliares no lúmen intestinal - sem formação
das micelas mistas o colesterol não entra em contacto com a membrana celular do polo
apical dos enterócitos.
O fígado excreta colesterol na bílis (também exreta colesterol não esterificado, sais
biliares formados a partir do colesterol), mas parte do colesterol hepático passa para a
corrente sanguínea incorporado nas VLDL. As VLDL contêm colesterol não esterificado
e esterificado. Tal como em todas as células do organismo, a esterificação hepática do
colesterol ocorre por ação da ACAT (acil-colesterol-acil-transférase). Como já sabemos,
as VLDL podem (via IDL) dar origem às LDL.
NOTA: A importância das LDL resulta do facto de fornecerem colesterol às células onde
este composto tem papeis biológicos relevantes.
NOTA: O efeito das hormonas tiroideias nos recetores de LDL permite compreender que
estas hormonas baixem a concentração plasmática de LDL. Assim, no hipotiroidismo os
doentes têm o colesterol plasmático (associado às LDL) aumentado.
Como podemos observar na figura acima, a insulina ativa a redútase do HMG-CoA por
2 meios:
ELIMINAÇÃO DO COLESTEROL
Nos tecidos extrahepáticos, o colesterol que vai sendo sintetizado e o que é captado do
plasma também acaba eliminado na bílis através do chamado transporte reverso do
colesterol.
SAIS BILIARES
A bílis, além de conter sais biliares, contém também colesterol (excretado no polo
canalicular dos hepatócitos por transporte ativo) e fosfolipídos.
O colesterol mantém-se solúvel na bílis devido à presença dos sais biliares e dos
fosfolipídos mas, quando há alterações nas proporções dos componentes da bílis, o
colesterol pode precipitar dentro da vesícula biliar dando origem a cálculos.
Tal como acontece com os sais biliares, uma parte do colesterol excretado na bílis acaba
por se perder nas fezes. Uma outra parte do colesterol da bílis é, juntamente com o
colesterol da dieta, reabsorvida e incorporada nos quilomicra.
Os sais biliares são sintetizados nos hepatócitos e esta síntese é muito complexa. Os
ácidos biliares primários são o glicocólico, o taurocólico, o glicoquenodesoxicólico e o
tauroquenodesoxicólico. O prefixo glico significa que contêm um resíduo de glicina e o
prefixo tauro que contêm um resíduo de taurina (derivado da cisteína).
A reação limitante da velocidade da síntese dos sais biliares é a catalisada pela 7-α-
hidroxílase do retículo endoplasmático, uma mono-oxigénase de função mista da
família dos citocromos P450 também designada por CYP7A1.
O ácido biliar sintetizado em maior quantidade é o ácido cólico, que contém 24 carbonos
e que, para além do grupo hidroxilo em C3 (o que já existia no colesterol) e C7 (formado
pela ação da 7-α-hidroxílase), contém um grupo hidroxilo em C12. No decurso da
síntese do ácido cólico a partir do 7-α-hidroxicolesterol, ocorre uma hidroxilação no
carbono 12 e liberta-se propionil-CoA. O ácido cólico, por ação de uma sintétase com
uma atividade similar à sintétase de acil-CoA que envolve os ácidos gordos, é
tioesterificado com a coenzima A.
Os ácidos biliares secundários resultam da ação das bactérias intestinais que promovem,
quer a rotura das ligações com a taurina e a glicina, quer a redução do hidroxilo em C7.
Estas reações geram os ácidos desoxicólico (derivado do ácido cólico e contendo dois
grupos hidroxilo, um em C3 e outro em C12) e o litocólico (derivado do ácido
quenodesoxicólico e contendo apenas um grupo hidroxilo em C3).
REGULAÇÃO DA 7-Α-HIDROXÍLASE
O efeito inibidor dos sais biliares é mediado por um fator de transcrição denominado
FXR. O FXR liga-se aos sais biliares e esta forma ligada tem efeito inibidor na transcrição
do gene da 7-α-hidroxílase.
A colestiramina é um fármaco que pode ser usado para baixar o colesterol plasmático.
O seu mecanismo de ação baseia-se na sua capacidade de se ligar aos sais biliares no
lúmen do intestino impedindo a sua reabsorção. A diminuição dos sais biliares no
fígado provoca diminuição da forma ligada do FXR o que estimula (desinibição) a síntese
da 7-α-hidroxílase e, consequentemente, o catabolismo do colesterol (ou seja, a sua
conversão em sais biliares).
Atualmente, os medicamentos mais usados para baixar o colesterol das LDL são os
inibidores da redútase da HMG-CoA (as estatinas): o efeito inibidor das estatinas
deve-se ao facto de competirem com o substrato fisiológico (o HMG-CoA) pelo centro
ativo da enzima.