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PROPÓSITO
Compreender como o metabolismo de lipídios e aminoácidos e a integração de todas as vias
metabólicas é importante para facilitar o entendimento de como o organismo funciona de forma
harmônica.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
Reconhecer a integração metabólica em diferentes estágios e a regulação hormonal dessa
integração
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
Neste tema iremos aprender sobre o metabolismo dos lipídios e aminoácidos, e como as vias
que levam à biossíntese e degradação dessas moléculas energéticas se integram em
diferentes estágios, como o jejum, o jejum prolongado, o pós-prandial e no exercício intenso.
Da mesma forma, veremos como essa integração é regulada.
MÓDULO 1
Na verdade, esse e outros “mitos” sobre a gordura, principalmente quando se trata de sua
relação com a forma física, têm origem em uma premissa:
Todo e qualquer excesso que você coma – seja gordura, açúcar (carboidratos) ou proteínas – é
armazenado na forma de lipídios.
Neste módulo iremos aprender como os lipídios adquiridos na alimentação são degradados
para a obtenção de energia, e como eles são sintetizados para armazenamento.
Figura 2 – Micrografia óptica de tecido adiposo branco, corado com eosina e hematoxilina.
Os adipócitos contêm uma grande gota lipídica, que “empurra” o núcleo da célula para a
periferia.
O triacilglicerol é uma molécula formada por três moléculas de ácidos graxos (lipídio) e uma de
glicerol, que é um álcool (figura 3).
Figura 3 – Esquema representativo da molécula de triacilglicerol, exibindo a molécula de
glicerol e os ácidos graxos, representados por R1, R2 e R3.
São duas as fontes de lipídios: a reserva no tecido adiposo e o que é ingerido na dieta.
O glicerol é processado dentro do adipócito pelas enzimas glicerol quinase, formando o glicerol
3 fosfato. Nessa etapa há o consumo de uma molécula de ATP. Na segunda etapa, o glicerol 3
fosfato é oxidado à dihidroxicetona fosfato pela enzima glicerol-3-fosfato desidrogenase (figura
6).
Na conversão para piruvato, são formados 1 NADH e 2 ATP, totalizando 5 ATP. Na conversão
para Acetil-CoA, mais 1 NADH, convertido em mais 3 ATP. Por fim, no ciclo de Krebs, há a
formação de 3 NADH, 1 FADH2 e 1 ATP, totalizando mais 12 ATP. Somando tudo, são
Já os ácidos graxos não são degradados nos adipócitos. Eles saem dos adipócitos e se ligam
à albumina sanguínea; como são insolúveis no sangue, não podem viajar livremente na
corrente sanguínea. Assim, o ácido graxo é distribuído em todos os tecidos do corpo. Quando
ele chega às células, passa pela membrana e é levado para a mitocôndria. Porém, para entrar
na mitocôndria, ele deve ser ativado, acoplado a uma CoA na sua estrutura.
A adição da CoA ao ácido graxo é feita pela enzima acil-CoA sintetase, mas, para que isso
aconteça, há o consumo de uma molécula de ATP, utilizando duas ligações de alta energia e
liberando AMP e pirofosfato (PPi) (figura 7).
ÁCIDOS GRAXOS
Os ácidos graxos são formados por longas cadeias de carbono, e podem ser moléculas
saturadas (ligações simples) ou insaturadas (ligações duplas). No corpo humano, quando
precisamos de energia, o ácido graxo a ser degradado é o palmitato, que possui 16 carbonos.
Por isso, os exemplos que usaremos a seguir, falaremos deste ácido graxo.
Figura 7 – Conversão do ácido graxo em acil-CoA.
Depois de ativado no citoplasma, o acil-CoA pode entrar na mitocôndria para ser degradado.
Ele atravessa a membrana externa da mitocôndria, mas não atravessa a interna. Para ser
transportado para a matriz mitocondrial, o Acil-CoA se liga a um aminoácido, a carnitina, e é
transferido para a matriz mitocondrial por uma proteína que está presente na membrana interna
da mitocôndria, chamada carnitina acil transferase.
Uma vez na matriz mitocondrial, o ácido graxo irá sofrer sucessivas reações para formar
moléculas de acetil-CoA. Essas reações são chamadas de β-oxidação ou ciclo de Lynen. São
quatro reações sucessivas que formam, ao final, uma molécula de acetil-CoA e um outro acil-
CoA (n-2). Portanto, o ácido graxo permanece nesse ciclo dependendo do tamanho da
molécula.
O palmitato, que possui 16 carbonos, fica neste ciclo por sete voltas. Isso porque, na última
volta, ele forma duas moléculas de acetil-CoA (figura 9).
ETAPA 1
Na primeira reação ocorre uma desidrogenação da molécula de palmitoil-CoA mediada por
FAD, seguida de uma desidratação.
ETAPA 2
Depois ocorre uma outra desidrogenação, dessa vez mediada por NAD+.
ETAPA 3
E, por fim, a quebra da molécula pela entrada da CoA mediada pela tiolase.
Assim se forma a molécula de acetil-CoA e o que restou do ácido graxo permanece no ciclo até
formar as duas últimas moléculas de acetil-CoA. As moléculas de Acetil-CoA entram no ciclo de
Krebs e as moléculas de FADH2 e NADH vão para a cadeia transportadora de elétrons.
129
Saldo final
ATP
SAIBA MAIS
Se levarmos em conta o ácido esteárico (18 C), a produção energética é de 146 ATP. A glicose
tem seis carbonos e sua degradação forma 38 ATP. Três moléculas de glicose são os mesmos
18 carbonos do ácido esteárico, e a produção de ATP da degradação completa dessas três
moléculas de glicose seria de 114 ATP. Portanto, a molécula de gordura é mais eficiente na
produção de energia do que a quebra de moléculas de carboidratos.
Os ácidos graxos de cadeia longa, com mais de 20 carbonos ou com cadeias ramificadas, não
iniciam o processo de degradação na mitocôndria. Os peroxissomos são organelas que iniciam
a β-oxidação em ácidos graxos de cadeia muito longa e conseguem reduzir essas moléculas
em até 18, 20 carbonos. Em seguida, esses ácidos graxos menores vão para a mitocôndria,
para continuar a redução.
Os peroxissomos realizam a β-oxidação da mesma forma que a mitocôndria, porém eles não
possuem a cadeia transportadora de elétrons. Portanto, o NADH sai do peroxissomo (assim
como a acetil-CoA) e vai para a mitocôndria. Já o FADH2 é processado pelo próprio
peroxissomo, que utiliza o O2 para produzir peróxido de hidrogênio (H2O2) (figura 10). Como
essa molécula é extremamente tóxica, o peroxissomo possui uma outra enzima, a catalase,
que degrada esse peróxido de hidrogênio em água e meio mol de oxigênio.
Existe uma doença genética, a adrenoleucodistrofia, que é causada pela a falta de uma
molécula na membrana do peroxissomo.
ADRENOLEUCODISTROFIA
Assista ao vídeo em que será apresentado um trecho do filme O óleo de Lorenzo e uma
discussão sobre a importância da descoberta do conceito bioquímico da doença.
A biossíntese dos ácidos graxos ocorre a partir de uma molécula com três átomos de carbono,
o malonil-CoA. Sendo assim, o acetil-CoA é convertido em malonil-CoA pela ação da enzima
acetil-CoA carboxilase. Ela carboxila o acetil-CoA, que passa de dois para três carbonos (figura
12).
Após essa conversão inicia-se a formação do ácido graxo. Isso ocorre pela ação da enzima
complexo do ácido-graxo sintase (figura 13).
Figura 13 – Esquema da enzima complexo do ácido-graxo sintase.
Essa enzima contém diversas subunidades, cada uma com uma função. A primeira
subunidade, proteína carreadora de grupos acila (ACP), apresenta um radical SH, assim como
a β-ceto-ACP-sintase (KS). Esse grupo SH tem afinidade por receber coenzima A.
Da mesma forma que a enzima do primeiro passo, esta muda a sua conformação para
transferir um malonil-CoA para o radical SH da ACP, permanecendo grudada ao complexo.
O malonil-CoA, com o auxílio da enzima MT, se liga ao radical HS da enzima ACP, liberando
CoA.
Nessa reação, o malonil e o acetil se fundem, com o auxílio da enzima KS, formando butiril e
liberando CO2.
Nesta etapa o butiril é reduzido com o auxílio da enzima KR e o cofator NADPH, transformando
o cetoácido em álcool.
Nesta etapa, mais uma vez com o auxílio de um cofator NADPH, a molécula será reduzida,
adicionando hidrogênios à molécula, reação catalisada pela enzima ER.
7ª REAÇÃO: AÇÃO DA Β-CETO-ACP-SINTASE (KS)
Nesta etapa vai ocorrer a translocação do butiril para o sítio da KS, liberando o sítio da ACP e
permitindo a ligação de mais uma molécula de malonil-CoA.
Já vimos mais acima que na degradação do palmitato (16 carbonos) temos um saldo
energético de 129 ATP. Na síntese de uma molécula de palmitato, temos também três etapas
de gasto de ATP (tabela 3).
Natureza Gasto
RESUMINDO
Para degradar o ácido graxo há um saldo positivo de 129 ATP, mas para produzir a molécula,
são gastos 145 ATP.
O colesterol é uma gordura sintetizada pelo fígado, intestino, adrenal e gônadas. Encontramos
a forma livre, adquirida pela alimentação, e a esterificada, que é a forma de armazenamento,
representada pela molécula de colesterol ligada a um ácido graxo. Ele é transportado por
lipoproteínas e utilizado para a produção de sais biliares, hormônios esteroides, membrana
plasmática e lipoproteínas sanguíneas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
PROTEÍNAS
Nosso organismo obtém proteínas de duas formas: aquelas presentes na dieta (a carne, por
exemplo), que são degradadas no trato digestório por enzimas específicas a aminoácidos, e as
proteínas que constituem nosso organismo. Estas têm período de meia-vida variável, ou seja,
sua vida útil varia e depende de uma série de fatores. Temos proteínas que duram apenas
alguns minutos, mas outras chegam a durar meses, como é o caso da hemoglobina na
hemácia.
Um adulto saudável e com dieta apropriada elimina nitrogênio suficiente para formar 100
gramas de proteínas. Além disso, ele necessita renovar 400 gramas de suas proteínas/dia e,
desse modo, deve consumir cerca de 100 gramas de proteína/dia.
ATENÇÃO
Todo o excesso consumido vai ser excretado na forma de aminas, e o excesso dos esqueletos
carbônicos será armazenado na forma de gordura.
REAÇÕES DE TRANSAMINAÇÃO
As reações que iniciam a captação dos grupos amina dos aminoácidos são reações de
transaminação, como se pode ver no esquema geral a seguir.
Uma situação oposta é a falta de glicose. Quando o ácido graxo entra no ciclo de Krebs, até ele
chegar ao precursor da gliconeogênese, que é o oxaloacetato, já perdeu carbonos. Sendo
assim, ácidos graxos não viram açúcar. Porém, alguns aminoácidos conseguem entrar no ciclo
de Krebs e gerar glicose. É por isso que, em situação de jejum prolongado, existe a quebra de
proteínas para formar glicose para as hemácias e o cérebro.
Dietas muito radicais, em que a pessoa não se alimenta direito, e muitas vezes sem
carboidrato, fazem com que haja o consumo de proteínas musculares para a produção de
glicose. Uma vez que a pessoa volte a se alimentar adequadamente, ela irá recuperar o peso.
Existem grupos de aminoácidos, como veremos a seguir, que geram acetil-CoA, acetoacetil-
CoA, piruvato, α-cetoglutarato, entre outros intermediários do ciclo de Krebs. Alguns
aminoácidos possuem esqueleto carbônico grande e são capazes de produzir dois
intermediários, como é o caso da fenilalanina e da tirosina, que geram acetoacetil-CoA e
fumarato (figura 15). Os aminoácidos podem ser classificados da seguinte forma:
AMINOÁCIDOS CETOGÊNICOS
AMINOÁCIDOS GLICOGÊNICOS
AMINOÁCIDOS MISTOS
São aqueles que geram piruvato e, assim, podem seguir no ciclo de Krebs ao virar acetil-CoA,
ou participar da gliconeogênese, ao ser carboxilado e gerar oxaloacetato.
CORPOS CETÔNICOS
Os corpos cetônicos são formados principalmente pela oxidação de ácido graxo (figura 18).
Porém, uma rota alternativa para a produção de corpos cetônicos é o catabolismo dos
aminoácidos fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, tirosina, triptofano e treonina, fornecendo
energia de forma imediata ao ciclo de Krebs, uma vez que a Acetil-CoA produzida não pode ser
convertida em glicose. Dentre esses aminoácidos, apenas a leucina e a lisina são
exclusivamente cetogênicos e, como já vimos, serão catabolizados em acetoacetil-CoA
ou acetil-CoA, podendo se inserir na rota de síntese de corpos cetônicos no fígado.
EXCREÇÃO DO NITROGÊNIO
Como dito anteriormente, o nitrogênio é muito tóxico para o organismo e não deve permanecer
na forma livre. Dependendo do tipo de organismo, ele é eliminado sob três formas diferentes:
ORGANISMOS AMONIOTÉLICOS
ORGANISMOS UREOTÉLICOS
Excretam a amônia sob a forma de ureia. São os anelídeos, peixes cartilaginosos, anfíbios e
mamíferos.
ORGANISMOS URICOTÉLICOS
Excretam a amônia sob a forma de ácido úrico. São os insetos, répteis e aves.
Veremos agora como a ureia é formada (figura 19). Nos hepatócitos, mais precisamente dentro
da mitocôndria, a amônia se combina com o bicarbonato, formando carbamoil-fosfato. Este se
combina com a ornitina, que vem do citoplasma para dentro da mitocôndria através de canais
presentes na membrana da mitocôndria.
A combinação do carbamoil com a ornitina gera citrulina, que sai da mitocôndria para o
citoplasma e se combina com aspartato, formando argininosuccinato. Esse comporto se quebra
em fumarato, que pode voltar para o ciclo de Krebs, e arginina.
Por fim, a arginina se decompõe em ornitina e ureia. A ornitina volta para o ciclo da ureia e a
ureia é excretada pelos rins na urina.
Toda a ureia é produzida no fígado. Os grupamentos amônia produzidos nos tecidos (figura 20)
e nos músculos (figura 21) são transportados para o fígado em aminoácidos transportadores
desses grupos amina: a glutamina e a alanina.
Figura 20 – Sequência de reações que ocorrem para o transporte da amônia dos tecidos
para o fígado.
Figura 21 – Sequência de reações que ocorrem para o transporte da amônia dos músculos
para o fígado.
Uma das doenças, a fenilcetonúria, ocorre porque não existe a enzima que catalisa a reação
de fenilalanina para tirosina e daí para acetoacetato e fumarato. Assim, há o acúmulo de
fenilpiruvato na entrada para a mitocôndria, e produção de energia no cérebro. O tratamento
consiste em controlar a ingestão de fenilalanina.
ATENÇÃO
Outro aspecto importante a se discutir é sobre dietas constituídas por muita proteína. Como
vimos, o metabolito gerado é a ureia, que é eliminada pela urina. Assista ao vídeo para
entender um pouco melhor o que acontece com o organismo na dieta das proteínas.
DIETA DAS PROTEÍNAS
Assista ao vídeo que trata da dieta das proteínas e sua eficácia.
BIOSSÍNTESE DE AMINOÁCIDOS
São 20 os aminoácidos que compõem as nossas proteínas. Eles podem ser classificados como
aminoácidos essenciais e aminoácidos não essenciais.
Os aminoácidos essenciais são aqueles que só podem ser produzidos pelos organismos
autotróficos e devem ser ingeridos pelos seres humanos por meio da alimentação. A histidina
também é um aminoácido que precisa ser suplementado no início da vida humana.
Treonina.
Lisina.
Os aminoácidos não essenciais, em número de 12, são aqueles que podem ser sintetizados
pelo homem:
AMINOÁCIDOS COM GRUPO “R” APOLARES
Arginina e histidina.
Aspartato e glutamato.
No catabolismo, vimos que esses aminoácidos geram acetil-CoA, piruvato e outros compostos
que são pré ou estão presentes no ciclo de Krebs e, assim que o grupamento amônia é
eliminado, o esqueleto carbônico será utilizado para a geração de energia. Mas, no
anabolismo, nós estamos “cuidando” do excesso de alimentação.
ATENÇÃO
Importante lembrar que o anabolismo gasta energia. E cada vez que é utilizado um
intermediário do ciclo de Krebs para produzir um aminoácido, a célula deixa de produzir uma
quantidade significante de ATP. É claro que com uma alimentação saudável pouco aminoácido
será produzido, diminuindo consideravelmente o gasto energético.
HISTIDINA – HISTAMINA
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
ATENÇÃO
É importante salientar que essas reações são cadenciadas: uma depende da anterior para que
possa ocorrer.
Depois de tudo o que discutimos até agora, você deve ter reparado no seguinte: todas as vias
metabólicas, sem exceção, convergem para a produção de ATP. E todas elas têm etapas em
comum, indo finalizar no ciclo de Krebs e na cadeia transportadora de elétrons. Só que nosso
organismo passa por diversos “momentos”:
Jejum;
Jejum intenso;
Pós-alimentação (que chamaremos pelo termo técnico pós-prandial);
Exercício intenso.
FÍGADO
No processo de digestão, o organismo processa os nutrientes ingeridos na dieta – proteínas,
carboidratos e gorduras –, quebrando-os pela ação de enzimas específicas. Essas moléculas
menores são absorvidas pelo trato gastrointestinal e caem na corrente sanguínea até chegar
no fígado, onde serão processados. Esse caminho é feito de forma direta pela veia porta, de
onde sai todo o sangue que circula pelos vasos do trato gastrointestinal.
TECIDO ADIPOSO
O tecido adiposo se subdivide em duas partes: o tecido adiposo branco e o marrom. Cada um
deles exerce papéis bem distintos durante o processo metabólico, os quais serão apresentados
a seguir.
MÚSCULOS
O metabolismo energético no músculo esquelético se destaca pelo fornecimento de ATP como
fonte de energia direta no momento de contração. Além disso, esse tecido está preparado para
efetuar atividades mecânicas ininterruptas, que cessam e recomeçam, a depender da
exigência corporal. Em alguns casos, a musculatura esquelética precisa atingir seu rendimento
mais alto em pouco tempo.
CÉREBRO
O metabolismo energético que ocorre no cérebro é excepcional por múltiplas razões: os
neurônios do sistema nervoso de um mamífero adulto, em geral, utilizam apenas a glicose
como fonte de energia; os astrócitos, que são células do SNC, podem promover a oxidação
dos ácidos graxos; seu processo metabólico respiratório é extremamente ativo, pois utiliza
oxigênio de forma continuada e sem interrupção, totalizando 20% do total desse elemento
usado pelo corpo quando em inatividade. O cérebro possui pequena reserva de glicogênio e,
por isso, necessita sempre da concentração da glicose no sangue.
Apesar de os neurônios só utilizarem a glicose como fonte de energia, eles são capazes
também de usar, se preciso, os corpos cetônicos (β hidroxibutirato) originados no fígado por
meio de ácidos graxos. Essa capacidade é fundamental quando o corpo está em jejum
prolongado ou inanição, após a quebra integral do glicogênio, possibilitando que o cérebro
utilize a gordura armazenada como combustível.
SANGUE
A corrente sanguínea é responsável por deslocar os nutrientes provenientes do intestino
delgado em direção ao fígado, e deste e do tecido adiposo em direção aos demais órgãos.
Desloca, ainda, os resultados de excreção dos tecidos extra-hepáticos para que o fígado
realize o devido processamento, e, depois, sejam eliminados pelos rins.
O cérebro, que também exige combustível, manda sinais para a produção de insulina por meio
dos sistemas nervosos simpático (negativos) e parassimpático (positivos). Um ciclo básico de
retroalimentação demarca a secreção do hormônio, pois a insulina provoca a diminuição de
glicose no sangue pela sua absorção nos tecidos. E essa diminuição é identificada nas células
β pela redução do fluxo na hexoquinase, o que diminui ou encerra a produção de insulina.
ATENÇÃO
Todo esse processo tem como finalidade a conservação da quantidade de glicose sanguínea,
que se mantém estável (com pequenas variações), embora haja uma intensa modificação na
assimilação dietética.
Além disso, o glucagon impede o consumo de glicose, no fígado, pela glicólise; ao mesmo
tempo, ativa a sua produção pela gliconeogênese. Essas duas ações são produtos da
diminuição da quantidade de frutose-2,6-bifosfato, hormônio que também impede a atuação da
piruvatoquinase, impossibilitando a transformação do fosfoenolpiruvato em piruvato e,
consequentemente, a oxidação do último no ciclo do ácido cítrico. Como resultado do aumento
de fosfoenolpiruvato, a gliconeogênese é favorecida, o que também ocorre por causa da
ativação pelo glucagon. Portanto, a partir da intensificação da quebra de glicogênio, da
suspensão da glicólise e do favorecimento da gliconeogênese no fígado, o glucagon possibilita
que esse órgão libere glicose para o sangue, restabelecendo seu regular percentual.
Apesar de ter o fígado como destino principal, o glucagon produz alterações no tecido adiposo,
impulsionando a quebra de triacilgliceróis por provocar a fosforilação. As lipases em atividade
exportam ácidos graxos livres para serem utilizadas pelo fígado e por outros tecidos como
fonte de energia, visando conservar glicose para ser utilizada pelo cérebro (figura 23).
Figura 23: Fígado glicogênico: em estado de jejum.
RESUMINDO
Por meio do glicogênio guardado no fígado e nos músculos (em pequena quantidade).
Segunda etapa:
Passadas mais duas horas (totalizando quatro horas depois da ingestão), a taxa de glicose no
sangue se torna ainda mais baixa, restringindo a liberação de insulina e aumentando a do
glucagon. Essas indicações hormonais ativam os triacilgliceróis, que passam a ser, a priori , a
fonte de energia utilizada pelo fígado e pelos músculos.
Ainda no fígado e um pouco nos rins, a estrutura interna das moléculas de carbono dos
aminoácidos glicogênicos é transformada em piruvato ou intermediários do ciclo do ácido
cítrico. Esses intermediários, da mesma forma como o glicerol dos triacilgliceróis do tecido
adiposo, fornecem os substratos iniciais para a realização da gliconeogênese no fígado,
produzindo glicose para o cérebro.
Além disso, os ácidos graxos exportados do tecido adiposo passam pelo processo de
oxidação, gerando a acetil-CoA no fígado; entretanto, como o oxaloacetato é reduzido pela
utilização de intermediários do ciclo do ácido cítrico na gliconeogênese, o ingresso da acetil-
CoA no ciclo é prejudicado e, por consequência, sua quantidade começa a se concentrar. Tal
processo facilita a produção de acetoacetil-CoA e corpos cetônicos. Depois de dias sem
alimentação, as taxas de corpos cetônicos na corrente sanguínea se intensificam, uma vez que
estes são liberados pelo fígado para serem levados ao músculo esquelético, coração e
cérebro, que passam a usá-los como fonte de energia em lugar da glicose.
Em situações que demandam ação intensa, o cérebro libera sinais neuronais que ativam a
produção de adrenalina e noradrenalina da medula suprarrenal. Essas duas substâncias
dilatam as vias aéreas para auxiliar na assimilação de oxigênio, aceleram a frequência
cardíaca e, também, intensificam a pressão arterial, para que o deslocamento de oxigênio e
energia para os tecidos seja feito mais facilmente.
ATENÇÃO
A adrenalina atua, em essência, nos músculos, no fígado e no tecido adiposo, pois impulsiona
a glicogênio-fosforilase e limita a glicogênio-sintase por sua fosforilação (dependente de AMP
cíclico), promovendo a transformação do glicogênio presente no fígado em glicose sanguínea
(essencial para a atividade muscular anaeróbia).
Além disso, a adrenalina incentiva a quebra anaeróbica do glicogênio presente no músculo, por
meio da fermentação em ácido láctico, promovendo a produção glicolítica de ATP. Esse
hormônio também é capaz de estimular a ação de gordura, que intensifica a secreção de
glucagon e impede a de insulina, acentuando sua atuação em busca da produção de
combustível e da redução de sua conservação.
INTEGRAÇÃO DO METABOLISMO
Assista ao vídeo a seguir, que aborda a integração do metabolismo, suas principais
características e aporte enzimático.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4
ALIMENTOS X DISTÚRBIOS DO
METABOLISMO
Atualmente, com diversos tipos de alimentos – nem sempre saudáveis – cada vez mais
pessoas desenvolvem algum distúrbio do metabolismo. São doenças atuais, causadas, na
maior parte das vezes, por ingesta de alimentos de forma exagerada ou não saudável, que leva
a diversas complicações. Aqui iremos discutir sobre obesidade, síndrome metabólica e
diabetes mellitus .
OBESIDADE
A obesidade é o mais antigo distúrbio metabólico – há registros disso em esculturas gregas e
em múmias. Atualmente é considerada a desordem metabólica mais importante em países
desenvolvidos. Trata-se de uma epidemia mundial que afeta ambos os sexos.
Uma das causas do aumento de casos de obesidade é a mudança dos hábitos alimentares
ocorrida no último século, em que alimentos com maiores índices de gordura animal, açúcares,
e alimentos refinados foram introduzidos na dieta, com a diminuição de carboidratos complexos
e fibras. Além disso, existe também uma redução das atividades físicas dos indivíduos, o que
contribui para as alterações da composição corporal.
CAUSAS DA OBESIDADE
Embora não seja uma considerada uma desordem singular, apresenta diversas causas que
resultam no fenótipo de obesidade. Podemos considerar como as causas:
FATORES ALIMENTARES
INFLUÊNCIA GENÉTICA
PROBLEMAS PSICOLÓGICOS
HIPERTENSÃO
DOENÇAS CARDIOVASCULARES
Para cada 10% do aumento do peso corporal, há o aumento de 20% na incidência de doenças
coronarianas, como o infarto agudo do miocárdio, a insuficiencia cardíaca e o acidente vascular
cerebral.
NEOPLASIAS
DISFUNÇÕES ENDÓCRINAS
PROBLEMAS PULMONARES
ARTRITES
Neste caso, o problema é mecânico e não metabólico, uma vez que o excesso de peso
compromete as articulações.
Problemas Benefícios
DIETA
Muitos tratamentos para a obesidade envolvem a restrição da ingestão energética total, uma
das formas de alcançar o déficit energético e reduzir o peso corporal.
EXERCÍCIOS FÍSICOS
O exercício físico regular melhora a capacidade cardiovascular e respiratória, diminui a pressão
arterial, ajuda na tolerância à glicose e na ação da insulina. O exercício regular está associado
à diminuição da mortalidade em geral e a longo prazo.
MEDICAMENTOS
O tratamento medicamentoso para redução da obesidade utiliza as seguintes drogas:
anfetaminas, fenfluraminas, fenterminas, dietilpropriona, mazindol, pemolina,
fenilpropanolamina e os antidepressivos fluoxitena e sertralina, entre outras.
MUDANÇA COMPORTAMENTAL
O automonitoramento faz parte do programa de mudança comportamental e consiste em auto-
observação dos fatos, sentimentos, pensamentos e atitudes que ocorrem antes, durante e após
as tentativas de manter um comportamento prudente ao alimentar-se e na prática de exercícios
físicos.
SÍNDROME METABÓLICA (SM)
A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de risco que se manifestam em uma pessoa e
que aumentam as chances de ela desenvolver uma série de outras doenças, como as
cardíacas, derrames e diabetes.
A base dessa síndrome é a resistência à insulina, que age menos nos tecidos em função de
uma menor quantidade do receptor de insulina GLUT 4, fazendo com que a célula fique
dessensibilizada ao hormônio. Assim, o pâncreas produz mais insulina e eleva o nível de
hormônio no sangue.
Como já vimos, a insulina é um hormônio anabólico que estimula a absorção de glicose pela
ativação dos receptores de glicose intracelulares (GLUT4) em quase todos os tecidos, exceto o
nervoso, os testículos e as hemácias. Sabe-se também que a ação desse hormônio está ligada
à degradação de gordura.
Em homens, cintura com mais de 102 cm e nas mulheres, maior que 88 cm.
BAIXO HDL
("BOM COLESTEROL")
150mg/dL ou superior.
135/85 mmHg ou superior, ou se o indivíduo usa algum medicamento para reduzir a pressão.
GLICOSE ELEVADA
ATENÇÃO
Como na obesidade, o aumento da atividade física e a perda de peso são as melhores formas
de controle da síndrome, porém alguns medicamentos podem ser utilizados para tratar os
fatores de risco.
Causado pela destruição das células β do pâncreas, as que são responsáveis pela produção
de insulina. Normalmente essa destruição é autoimune e as manifestações ocorrem desde
muito cedo. Atinge de 5 a 10% das pessoas com diabetes.
TIPO 2
Existem outros tipos decorrentes de defeitos genéticos associados a outras doenças ou ao uso
de medicamentos.
DM tipo 1 – vontade de urinar diversas vezes; fome frequente; sede constante; perda de
peso; fraqueza; fadiga; nervosismo; mudanças de humor; náusea; vômito.
Nefropatia diabética – alterações nos vasos sanguíneos dos rins fazem com que haja a perda
de proteína na urina; o órgão pode reduzir sua função lentamente, porém de forma progressiva,
até sua paralisação total.
Neuropatia diabética – os nervos ficam incapazes de emitir e receber as mensagens do
cérebro, provocando sintomas como formigamento, dormência ou queimação das pernas, pés
e mãos; dores locais e desequilíbrio; enfraquecimento muscular; traumatismo dos pelos;
pressão baixa; distúrbios digestivos; excesso de transpiração e impotência.
Pé diabético – ocorre quando uma área machucada ou infeccionada nos pés desenvolve uma
úlcera (ferida). Seu aparecimento pode ocorrer quando a circulação sanguínea é deficiente e
os níveis de glicemia são mal controlados. Qualquer ferimento nos pés deve ser tratado
rapidamente para evitar complicações que podem levar à amputação do membro afetado
(Figura).
Infarto do miocárdio e acidente vascular – ocorrem quando os grandes vasos sanguíneos
são afetados, levando à obstrução (arteriosclerose) de órgãos vitais como o coração e o
cérebro. O bom controle da glicose, somado à atividade física e a medicamentos que possam
combater a pressão alta, o aumento do colesterol e a suspensão do tabagismo, são medidas
imprescindíveis de segurança. A incidência desse problema é de duas a quatro vezes maior
nas pessoas com diabetes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema estudamos o metabolismo dos lipídios e aminoácidos, e como ocorre sua
degradação e biossíntese. Isso é importante para entendermos como os maus hábitos
alimentares aliados à falta de exercícios físicos e a outros fatores podem gerar distúrbios que
aumentam muito a probabilidade de morbidades e mortalidade. Conhecemos com mais
detalhes doenças como a obesidade, a síndrome metabólica e o diabetes mellitus . Enfim,
tivemos uma visão bem abrangente do papel fundamental que a bioquímica desempenha nos
estudos sobre saúde.
PODCAST
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017.
EXPLORE+
Veja como as professoras Andrea Da Poian, Debora Foguel, Marília Petretsky e Olga
Machado abordam o tema no material Bioquímica II – volume 2.
CONTEUDISTA
Daniela de Oliveira Pinto
CURRÍCULO LATTES