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O SISTEMA AUDITIVO

Universidade Federal do Paraná- UFPR


Departamento de Terapia Ocupacional
Curso de Terapia Ocupacional
Docente: Richelliany Julião dos Santos Cardoso
Introdução
• O sistema auditivo humano é único e difere do das
outras espécies porque desenvolve a capacidade de
receber, interpretar e reagir à linguagem de forma
complexa.
A Estrutura do Sistema Auditivo
• A porção visível do ouvido consiste
basicamente em cartilagem coberta por pele,
formando um tipo de funil, chamado de
pavilhão do ouvido, que permite capturar o
som oriundo de um extensa área. A forma do
pavilhão nos torna mais sensíveis aos sons
que chegam de frente do que de trás.
A Estrutura do Sistema Auditivo
• A entrada para o ouvido interno é chamada de
meato acústico externo e estende-se cerca de 2,5
cm para o lado interno do crânio até terminar a
membrana timpânica, tímpano.
• Conectada a superfície medial da membrana
timpânica, está uma série de osso, ossículos.
Localizados em uma pequena câmara preenchida
de ar, os ossículos transferem os movimentos da
membrana timpânica para uma segunda
membrana que cobre um orifício no osso do
crânio, chamada de janela oval.
A Estrutura do Sistema Auditivo
• Atrás da janela oval, está a cóclea preenchida
por fluído, a qual contém o mecanismo que
transforma o movimento físico da membrana
da janela oval em uma resposta neural.
A Estrutura do Sistema Auditivo
Estágios das vias auditivas
Os O
A onda A O movimento
ossículos movimento do fluído na
sonora membrana
movem a da janela cóclea causa
move a timpânica uma resposta
membrana oval move
membrana move os nos neurônios
da janela o fluído da
timpânica ossículos sensoriais
oval cóclea
Desenvolvimento do sistema auditivo

• A parte estrutural da cóclea na orelha média


está formada na 15ª semana de gestação e é
anatomicamente funcional na 20ª semana
gestacional;
Desenvolvimento do sistema auditivo
• Da 25ª a 26ª semana gestacional, sons
intensos irão produzir mudanças na função
autônoma. Os batimentos cardíacos, a pressão
sanguínea, o padrão respiratório, a mobilidade
gastrointestinal e a oxigenação podem ser
afetados;
Desenvolvimento do sistema auditivo
• As conexões neurais para o lobo temporal do
córtex estão funcionais em torno da 28ª a 30ª
semana gestacional. Estas conexões iniciam o
desenvolvimento das colunas tonotópicas no
córtex auditivo e são necessárias para receber,
reconhecer e reagir à linguagem, a música e
sons ambientais significativos ;
Desenvolvimento do sistema auditivo
• As duas partes do sistema auditivo que são as
mais importantes durante o processo de
desenvolvimento são a cóclea (o órgão
receptor) e o córtex auditivo;
Desenvolvimento do sistema auditivo
• O córtex auditivo se desenvolve como uma área
com colunas de células tonotópicas ou
agrupamentos que representam as frequências
características. Os neurônios sintonizados para as
frequências agudas estão na região caudal e os
neurônios sintonizados para as frequências
graves estão na extremidade rostral ou frontal do
córtex auditivo. Isso cria agrupamentos de células
que são sensíveis a frequências específicas ou
tons.
Desenvolvimento do sistema auditivo
• O córtex auditivo também é dividido em
colunas que respondem a diferentes
frequências de uma ou de ambas as orelhas
Desenvolvimento do sistema auditivo
• A espécie humana é capaz de escutar uma
variedade de sons três meses antes do
nascimento. O córtex auditivo continua a
amadurecer nas semanas antes do nascimento e
continua a se desenvolver nos primeiros anos de
vida;
• À medida que o sistema auditivo se desenvolve
nas últimas semanas de gestação, o feto
responde melhor aos sons de alta frequência, o
que é consistente com o desenvolvimento da
resposta de frequências graves para agudas ;
Desenvolvimento do sistema auditivo
• Na 38ª semana gestacional, o feto é capaz de
processar fluxos acústicos com variação no
espectro e na amplitude dos sons em
intervalos de tempo curtos e longos com
resposta de alteração transitória dos
batimentos cardíacos para música e resposta
sustentada para estímulos de fala;
Desenvolvimento do sistema auditivo
• Durante o período neonatal, experimentos
controlados em laboratório mostraram que
bebês preferem escutar sons de fala quando
comparados com estímulos que não são de
fala, que eles diferenciam a língua nativa
materna de outras línguas estrangeiras e que
preferem ouvir a língua materna;
Desenvolvimento do sistema auditivo
• Na vida intrauterina o feto é capaz de
conhecer a voz materna, músicas simples e
sons comuns ao ambiente;
• O desenvolvimento auditivo e o
desenvolvimento da memória, no período
intrauterino, capacitam o bebê a reconhecer
diferenças no tom, padrões sonoros,
intensidade e ritmo;
Desenvolvimento do sistema auditivo
• Apesar desse aprendizado a criança só será
exposta ao espectro sonoro completo após o
nascimento, e é evidente que as experiências
pré-natais irão auxiliá-la a reconhecer alguns
sons nas primeiras semanas de vida, porém
após o nascimento os sons ambientais se
tornam uma fonte primordial de novas
informações.
Habilidades auditivas
• O desenvolvimento e a maturação do sistema
auditivo da criança com audição normal
seguem uma sequência de comportamentos
que se iniciam ao nascimento. Esse
desenvolvimento inclui as seguintes etapas:
detecção, discriminação, localização,
reconhecimento e compreensão auditiva.
Habilidades auditivas
• Detecção- habilidade de receber o estímulo.
Estudo com fetos, no período final da
gestação, e recém-nascido demonstrou que os
mesmos são capazes de perceber aspectos
sonoros que desempenham papel auxiliar na
comunicação no primeiro ano de vida.

MOON, 2011
Habilidades auditivas
• Discriminação- habilidade de resolução de
frequência, intensidade e duração. Uma pesquisa
com neonatos de até duas horas de vida
demonstrou que eles são capazes de responder
de forma seletiva a voz materna. Essas crianças
apresentaram aumento da atividade motora
quando ouviram a voz da mãe, porém o mesmo
não ocorreu com vozes que não lhes eram
familiares.

QUERLEU, LEFEBVRE, TITRAN et al, 1984


Habilidades auditivas
• Outros estudos mostraram que recém-
nascidos de até três dias de vida alteraram seu
padrão de sucção para ativarem uma gravação
com a voz materna, o que indicou que a voz
pode atuar como um reforço.

DECASPER e FIFER, 1980; FIFER e MOON, 1989.


Habilidades auditivas
• Experimentos de aprendizagem utilizando a
exposição pré-natal à música mostrou que os
neonatos respondem a melodia familiar no
primeiro mês de vida.

GRANIER-DEFERRE, BASSEREAU, RIBEIRO et al, 2011


Habilidades auditivas
• Localização- habilidade de analisar diferenças
de tempo e de intensidade dos sons recebidos
e transmitidos para cada um dos lados da
orelha. A criança é capaz de localizar um som
a partir do quarto mês de vida e esta
habilidade evolui com o aumento da idade.
Habilidades auditivas
• Reconhecimento auditivo- quando ocorre
associação significante significado, ou seja, a criança
é capaz de apontar figuras ou partes do corpo
nomeadas, cumprir ordens e repetir palavras. Surge
no final do primeiro ano de vida e parece evoluir dos
níveis mais simples para os mais complexos.
Habilidades auditivas
• Crianças de 8 a 10 meses inibem suas atividades ao
reconhecer a palavra “não”. A partir dos 9 meses são
capazes de reconhecer comandos verbais simples,
tais como: “dá tchau”, “joga beijo”, “bate palma”. A
partir dos 12 meses conseguem reconhecer o
próprio nome e reconhecem partes do corpo e
vocabulário familiar. Dos 18 aos 24 meses são
capazes de apontar para figuras ou objetos
conhecidos nomeados.
Habilidades auditivas
• Compreensão auditiva- é a evolução da habilidade
de reconhecimento auditivo. A partir dos 18 meses a
criança consegue entender a fala, responder a
perguntas relacionadas a um evento ou história e é
capaz de recontar histórias
Perdas auditivas
• São resultado de uma ruptura das estruturas
funcionais que transmitem o sinal acústico da
orelha externa até o córtex auditivo. Muitas
condições patológicas incluindo doenças,
traumas e distúrbios de desenvolvimento
causam perdas auditivas na infância.
Classificação das perdas auditivas
• As perdas auditivas são normalmente
classificadas de acordo com o tipo em
condutivas, sensorioneurais e neurais.
Classificação das perdas auditivas
• Perdas auditivas condutivas- resultam de problemas de
transmissão mecânica para a cóclea, e envolvem as
estruturas da orelha externa e média.
• As perdas auditivas condutivas são normalmente
transitórias, porém a flutuação na audição resultante
da otite média recorrente pode causar problemas de
linguagem /aprendizagem devido à inconsistência da
entrada auditiva durante o período crítico de
desenvolvimento auditivo.
Classificação das perdas auditivas
• As causas mais comuns de perdas auditivas
condutivas adquiridas no período pré-natal
são por atresia e anomalias de orelha média e,
as adquiridas no período pós-natal por otite
média com efusão, perfuração de membrana
timpânica, excesso de cerúmen e otite
externa.
Classificação das perdas auditivas
• Perdas auditivas sensorioneurais- resultam de
um problema de transdução de energia
hidráulica em energia elétrica e, envolvem as
estruturas da cóclea.
Classificação das perdas auditivas
• As perdas auditivas sensorioneurais são
geralmente permanentes e variam de leve a
profunda. Desordens nos processos cocleares
resultam em redução na sensibilidade das
células receptoras da cóclea, resolução de
frequência diminuída e redução da faixa
dinâmica.
Classificação das perdas auditivas
• A causa mais frequente de perda auditiva
sensorioneural congênita é genética. Algumas das
causas mais comuns de perdas auditivas
sensorioneurais adquiridas no período pré-natal são
devido a anomalias de orelha interna e infecções
congênitas, tais como: citomegalovírus, sífilis, rubéola
e toxoplasmose e; as pós-natais são por hipertensão
pulmonar persistente no recém-nascido, meningite,
doenças autoimunes da orelha interna, infecções virais
(caxumba e sarampo).
Classificação das perdas auditivas
• Perdas auditivas neurais- resultam de
problemas de transmissão do sinal elétrico
para e ao longo do sistema auditivo;
• Tendem a ser divididas em dois grupos:
retrococleares e alterações do processamento
auditivo.
Classificação das perdas auditivas
• As desordens retrococleares resultam de
lesões estruturais no sistema nervoso e são
causadas por neoplasias, hidrocefalia e
hipóxia.
Classificação das perdas auditivas
• As desordens de processamento auditivo são
devido a problemas de desenvolvimento ou
atrasos. Essas desordens são resultado de
lesões funcionais do sistema nervoso. Os
sintomas mais comuns de desordens auditivas
neurais são dificuldade de escutar em
ambiente ruidoso e de localização da fonte
sonora na presença de ruído ambiental.
Deficiência auditiva

• Ao nascer toda criança saudável grita, o que


confirma a circulação de ar em seus pulmões e se
constitui a confirmação para a criança de que é
uma nova fase e que a adaptação pode ser
dolorosa.
• Para a criança surda, a sensação de dor não é
acompanhada pela sonora, pois ela não houve o
seu grito, e não ouvirá muitos outros sons
durante a sua vida.
Deficiência auditiva
• Em geral a família ouvinte, ao detectar a
surdez, passa a não investir em estímulos
sonoros e consequentemente afetivos, como
niná-la, contar histórias, demonstrar os limites
por meio de palavras ou gestos
compreensíveis para a criança, o que pode
levar a um isolamento e a dificuldades em se
sentir parte do grupo familiar.
Deficiência auditiva
• Em consequência, ocorre ainda a escassez de
estímulos em geral, levando a uma integração
sensorial pobre, gerando percepções também
restritas.
Referências
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. Porto Alegre: Artemed, 2017.

CARDOSO, A. C. V. Reflexões sobre o desenvolvimento auditivo.


Verba Volant, v. 4 n.1, p. 104-116, 2013;

CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. Terapia ocupacional:


fundamentação & prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2007.

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