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EXAME DE MEDICINA LEGAL

Época Normal
ANO ESCOLAR 2017/2018
17-01-2018

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Exame com critérios de correção


Pergunta 1 - Cotada para 4 valores
1. Mencione a importância da Genética Forense no âmbito da investigação de
acidentes de viação.

- Aspetos relativos à identificação da posição relativa dos ocupantes no veículo: 1 valor

- Aspetos relativos à identificação em casos de atropelamento: 1 valor

- Aspetos relativos à identificação de corpos não identificados: 1 valor

- Outras possibilidades de identificação (por exemplo de animais): 1 valor

Pergunta 2 - Cotada para 3 valores


Comente a necessidade de realização de autópsia em situações de enforcamento.
0,5 Por item
Até 0,5 - para eventuais aspetos da autópsia de enforcamento tangencialmente
relevantes para a questão colocada
Até 0,5 descontos para a eventualidade de incorreções científicas

- Enforcamento traduz normalmente situação de suicídio mas é necessário excluir


eventual intervenção de terceiros (cuidado particular no caso de vítima femininas).

A autópsia permite, entre outros aspetos:

- Excluir simulação de enforcamento na presença de outras mortes asfíxicas como seja


o estrangulamento por laço (presença de vários sulcos).
- Exclusão de sinais de defesa
- Exclusão de sinais de arrastamento
- Visualização das lesões cervicais internas e dos sinais de vitalidade (infiltrações
sanguíneas dos músculos, fraturas da cartilagem e osso hióide vitais)
- Sinais de lesões prévias auto-infligidas (sugestiva de suicídio)
- Estado toxicológico (aferir estado de influência de substância e consoante a demais
informação circunstancial e documentação clínica, averiguar eventual administração
de terceiros para efeitos de

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Pergunta 3 - Cotada para 3 valores

Explicite os cuidados a ter na entrevista a uma criança vítima de maus tratos e a


informação clínica que é necessária colher.
(1,5) As boas práticas da intervenção médico-legal nestes casos visam
especificamente:
- Assegurar a recolha da prova dos factos com validade à luz do direito
processual penal (atos periciais urgentes);
- Evitar a vitimização secundária;
- Evitar a contaminação dos relatos.
Quando se fala com a criança deve ter-se em consideração os pontos seguintes:
- Limitar-se ao minimamente indispensável
- Usar linguagem e abordagem adequado à vítima no que diz respeito à sua
idade, capacidade de compreensão e situação física/emocional)
- Garantir o seu adequado suporte emocional e privacidade
- Nunca criar falsas expectativas/ promessas
- Entrevista curta, única
- Sala iluminada, acolhedora, que respeita e privacidade da vítima
- Perguntas abertas; sem repetições
- Tempo de resposta adequado
- Aceitar lacunas de informação ou dificuldade de relato da criança
- Orientar do geral para o específico

(1,5) Colheita da informação – idealmente deve ser colhida junto da pessoa que
acompanha a criança, ou junto da própria criança para melhor esclarecimento de
alguns pontos.
A entrevista deve incluir os seguintes pontos:
- Data, hora e local do último abuso
- Data do início do abuso
- Descrição do evento(s)
o Cronologia das ocorrências
o Local(ais)
o Frequência do abuso
o Tipos de abuso (físico, sexual e/ou emocional/psicológico)
o Tempo decorrido desse mesmo abuso
o Caracterização de circunstâncias específicas (por ex. objetos
específicos, ameaças usadas, uso de preservativo, etc)
o Comportamento da vítima após as agressões (lavagens, mudanças
de roupa, atos fisiológicos – possibilidade de destruição de
vestígios)
- Relação entre a vitima e o alegado abusador
- Se possível antecedentes do abusador (por ex. Infeções sexualmente
transmissíveis, consumo de substâncias, comportamentos desviantes,
práticas anteriores de outros abusos)
- Antecedentes pessoais da vítima – patológicos e/ou traumáticos, de
consumo de substâncias e/ou comportamentos desviantes

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- No casos das meninas, antecedentes ginecológicos/obstétricos (de acordo
com o tipo de abuso relatado)
- Sintomatologia (dor na superfície corporal, dor genital/anal, prurido,
perturbações funcionais como alterações do sono, apetite, controlo de
esfíncteres, etc)
- Alterações de comportamento (por ex. alteração do rendimento escolar,
das atividades diárias, sociais e de lazer)
- Perspectiva que os cuidadores da criança têm sobre a situação (grau de
conhecimento)
- Saber qual o contexto em que surge a denúncia
- Percepção da criança sobre o eventual processo judicial (de acordo com a
sua idade

Pergunta 4 - Cotada para 4 valores


Descreva quais os objetivos do exame do local e que elementos devem ser registados
relativamente ao local e ao cadáver que sejam relevantes para atingir os objetivos
propostos quando há uma suspeita de homicídio.
O enquadramento da resposta contempla aspetos relativos aos conteúdos, à
organização lógico-temática e à utilização de terminologia científica. Porém, se os
elementos referidos revelarem uma contradição entre si ou desconhecimento sobre
o que efetivamente se pergunta, a cotação a atribuir é de zero pontos. Sempre que
houver erros descritivos graves, incongruências, afirmações que revelem
desconhecimento científico sobre o tema ou divergindo para descrições que, podendo
estar certas, não se enquadram na resposta pretendida, não será atribuída qualquer
cotação.
A cotação a atribuir é a seguinte:

 Enumeração correta e completa dos objetivos da atuação do perito médico-


legal aquando exame do local abordados na aula e contemplados no ficheiro
de apoio, não se pretendendo com a resposta normas de procedimento
pericial (cotação de 2,0 valores)
 Enumeração correta e lógica dos elementos que devem ser registados
relativamente ao local e ao cadáver que sejam relevantes para indiciar uma
suspeita de homicídio (cotação de 2,0 valores).

Pergunta 5 – Cotação para 3 valores

Quem pode pedir análises a um Serviço de Química e Toxicologia Forense? E em que


âmbito?

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A pergunta valia 3 valores, pelo que o aluno tinha 0,3 valores por cada entidade que
pode solicitar e 0,3 valores se acertasse o âmbito de cada solicitação:

Entidade: Serviço de Patologia Forense e GMLF (0,3 valores) - Âmbito: autópsias


médico-legais para avaliar a presença de substâncias tóxicas num cadáver (0,3
valores)

1- Entidade: Clínica Forense (0,3 valores) - Âmbito: exames sexuais e/ou


violência doméstica (0,3 valores)
2- Entidade: Hospitais (0,3 valores) - Âmbito: intoxicações – identificação do
agente causal (0,3 valores)
3- Entidade: Particulares (0,3 valores) - Âmbito: amostras não biológicas (0,3
valores)
4- Entidade: PSP/GNR (0,3 valores) - Âmbito: código da estrada – controlo
rodoviário (0,3 valores)

Pergunta 6 - Cotada para 3 valores


O parâmetro do dano correspondente à incapacidade permanente atribuída
segundo a Tabela de Incapacidades é distinto, consoante a perícia médica se
processa no âmbito do Direito do Trabalho ou do Direito Civil. Comente a afirmação.

O enquadramento das respostas num determinado nível de desempenho contempla


aspectos relativos aos conteúdos, à organização lógico-temática e à utilização de
terminologia científica. Porém, se os elementos adiante referidos revelarem uma
contradição entre si, a cotação a atribuir é de zero pontos. A descrição dos níveis
referentes à organização lógico-temática e à terminologia científica é a que se
apresenta.

 A incapacidade permanente em Direito do Trabalho corresponde um


coeficiente expresso em percentagem, que pretende traduzir a proporção da
perda de capacidade de trabalho resultante da disfunção. A quantificação
dessas sequelas concretizada através da tabela Nacional de incapacidades por
acidentes de trabalho ou doenças Profissionais (TNI - anexo I do decreto Lei nº
352/2007, de 23 de outubro). No caso das sequelas múltiplas recorre-se à
utilização da Regra de Balthazard ou da Capacidade Restante para obtenção
do coeficiente global de incapacidade. (cotação de 1.5 valor).
 A incapacidade permanente em Direito Civil corresponde à afectação
definitiva da integridade física e/ou psíquica da pessoa, constitutiva de um
défice funcional permanente com eventual repercussão nos atos da vida
diária, incluindo as familiares e sociais, e sendo independente das atividades
profissionais. A quantificação dessas sequelas concretizada através da TIC
(anexo II do decreto-Lei nº 352/2007, de 23 de outubro) e referido na Portaria
nº 377/2008, de 26 de Maio, como dano biológico. É avaliado relativamente à

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capacidade integral do indivíduo (100 pontos), podendo, eventualmente,
traduzir-se num compromisso total dessa capacidade (ex.: estado vegetativo).
Valoriza-se não só o dano no corpo como a sua repercussão funcional e para
as atividades da vida diária (cotação de 1.5 valor).

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