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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PERFORMANCES CULTURAIS
DOUTORADO EM PERFORMANCES CULTURAIS
DISCIPLINA: TEORIAS E PRÁTICAS DAS PERFORMANCES
DOCENTE: ROBSON CORREA DE CAMARGO
DISCENTE: RAIMUNDO VAGNER LEITE DE OLIVEIRA

SÍNTESE

Argonautas do Pacífico Ocidental by Malinowski (1976)

Goiânia-GO

2023
RAIMUNDO VAGNER LEITE DE OLIVEIRA

SÍNTESE

Argonautas do Pacífico Ocidental by Malinowski (1976)

Relatório da disciplina “Teorias e


práticas das performances” do curso de
doutoramento do Programa de Pós-
Graduação em Performances Culturais
da Universidade Federal de Goiás, como
requisito parcial para aprovação na
matéria.

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
Performances Culturais.

LINHA DE PESQUISA: Teorias e


Práticas das Performances.

Goiânia-GO

2023
A leitura da parte introdutória do livro de Malinowski (1976, p. 21 - 38), que
está subdividida em nove partes, mostra o cuidado pormenorizado do autor na
apreensão dos fatos em sua coleta de dados. Noutras palavras, o autor buscou a
totalidade integrada da natureza humana. Destaca-se ainda que nesse exercício
estruturante, o autor não buscou por em revelo seus gostos, mas deixar emergir a
identidade daquele povo, sem destacar suas preferências.
Apesar da busca pela integralidade, o autor não deixa escapar os detalhes do dia
a dia daquela comunidade, o Kula. E nessa busca pela integralidade, nota-se nessa parte
introdutória – e aqui considerando, de modo mais expansivo, o livro na versão em – a
preocupação de Malinowski em detalhar a vida da comunidade Kula. Isso ganha mais
força na leitura da obra em Inglês.
Diante disso, ao observar o termo performance na versão na língua inglesa e
português, percebe-se ainda mais a profundidade da obra do autor na busca em escrever
a totalidade, ou melhor, integralidade dos fatos, conforme Quadro 1 abaixo:

Quadro 1 – Alguns exemplos de como Malinowski chama “performance” de


performance no texto em inglês?

TERMO EM PORTUGUÊS TERMO EM INGLÊS


habilidade dos habitantes, p. 21 places, according to the skill of the
inhabitants, p. 28
tradição herdada por cada tribo, p. 21 their inherited tribal tradition, p. 28
Tradição tribal, 28 tribal tradition, 44
Vida tribal, p. 22 tribal life, p. 29
Interpretações nativas, p. 22 native statements, p. 21
Fatos, p. 22 Facts, p. 22
Fatos etnográficos, 26 ethnographic evidence, 40
Material, p. 23 Material, p. 32
Ocupações/fabricação, p. 23 Manufacturing, 23
Expressões técnicas, 23 technical expressions, 33
Comportamento, 24 Behaviour, 33
Evidência, 24 Evidence, 35
Costumes, 33, 35 Custos, 36
acontecimentos importantes e festivos, 25 mportante or festive events, 37
Jogos e divertimentos, 26 Games and amusements, 39
Animismo, 27 (que possui uma essência Animism, 41
humana, alma)

Os conceitos de “fetichismo” e “culto ao


demônio” , termos vazios de significado,
foram suplantados pelo conceito de
animismo.
Maneiras e costumes behaviour and good manners, 43
Fenômenos culturais, 28 cultural phenomena, 43
Fenômeno, 31 Phenomenon, 52
phenomena, and oto f picking out the
sensational, the
singular, still less the funny and quaint.
Cerimônia ceremony
Magia, 30 Magic, 49
Demonstrações de excitação em relação a the casional ripples
uma festa, cerimônia ou fato peculiar, 31 of excitement over a feast, or ceremony,
or some
singular occurrence. 53
Ritual, 34 Rituals, 55
Ato, 35 Act, 55
Comportamento, 35 Behaviour, 55
Fonte: Malinowski (1976, 2014).

O vocabulário expresso na obra mostra de fato o esforço do autor de Argonautas


do Pacífico Ocidental em PRESENTAR e não representar, repito, a totalidade integrada
da natureza humana do povo Kula. Reforça essa perspectiva quando Malinowski (1976,
p. 27) relata: “As suas crenças e costumes são coerentes, e o conhecimento que os
nativos têm do mundo exterior lhes é suficiente para guiá-los em suas diversas
atividades e empreendimentos”. Essa suficiência é atestada em diversos pontos, como o
exemplo que segue: “Suas produções artísticas são prenhes de sentido e beleza” (Ibid.,
1976, p. 27).
A sensibilidade do autor bem como sua preocupação em guiar outros
pesquisadores a pensarem no mínimo como ele o encoraja a escrever que “O etnógrafo
de campo deve analisar com seriedade e moderação todos os fenômenos que
caracterizam cada aspecto da cultura tribal sem privilegiar aqueles que lhe causam
admiração ou estranheza em detrimento dos fatos comuns e rotineiros” (Ibid., 1976, p.
28).
Não satisfeito, ele reforça que esse profissional, o etnógrafo, “[...] que se propõe
estudar apenas a religião, ou somente a tecnologia, ou ainda exclusivamente a
organização social, estabelece um campo de pesquisa artificial e acaba por prejudicar
seriamente seu trabalho” (Ibid., 1976, p. 28).
Mais uma vez Malinowski (1976) põe em relevo a necessidade da totalidade
integrada da natureza humana do povo que se objeta investigar.
Nas linhas introdutórias da obra, ele, o autor, preocupa-se mais do que com uma
simples descrição de trocas existentes. Talvez numa forma poética de falar, há uma
sensibilidade estética em suas descrições. O autor busca revelar não só o superficial (a
carne), mas o subjetivo (o sangue), ou seja, o não visível. Nesse sentido, a vida
escondida (a vida está no sangue).
Parece ficar claro na introdução que Malinowski busca (talvez até um objetivo)
reconstituir o Kula – e por isso o destaque em relação ao que já inclusive reforçamos
aqui sobre a questão da totalidade integrada da natureza humana – para a qual se pode
chegar a uma síntese da nossa sociedade
Diante disso, ademais, a ideia central não é simplesmente compreender uma
instituição em particular, apesar de uma de suas preocupações está envolta numa
sociologia nativa.
Reforça esse pensamento se considerarmos a metodologia adotada por
Malinowski. Segundo ele, faz-se necessário considerar o primeiro momento de contato
com os nativos. Aspecto esse que fez com que ele fizesse vários esboços dessa
instituição. Isso o levou a novos desafios e questões outras. Assim, esse cuidado com os
procedimentos metodológicos o atingir a “atitude mental” do nativo, a carne e sangue
do Kula. Com esse trabalho ele encoraja outros a trilharem esse caminho.
REFERÊNCIAS

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental – Um relato do


empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia.
São Paulo: Editora Abril, 1976.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonauts of the Western Pacific – An Account of


Native Enterprise and Adventure in the Archipelagoes of Melanesian New Guinea..
Nova York: Routledge, 2014.

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