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Lê o seguinte texto.

Par Deus, infançom1, queredes perder


a terra2, pois nom temedes el-rei!
Ca já britades seu degred', e sei
que lho faremos mui cedo3 saber:
5 ca4 vos mandarom a capa, de pram5,
trager dous anos, e provar-vos-am
que vo-la virom três anos trager.

E provar-vos-á, das carnes, quem quer,


que duas carnes vos mandam comer,
10 e nom queredes vós d'ũa cozer;
e no degredo nom há já mester6;
nem já da capa nom hei a falar:
ca bem três anos a vimos andar
no vosso col'e de vossa molher.

15 E fará el-rei corte este mês,


e manda[rá]m-vos, infançom, chamar;
e vós querredes7 a capa levar
e provarám-vos, pero que vos pês8,
da vossa capa e vosso guarda-cós9,
20 em cas10 d'el-rei, vos provaremos nós,
que ham quatr'anos e passa[m] per três11.

Joam Garcia de Guilhade,


http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1526&pv=sim
(consultado em 29 de dezembro de 2015).

1
infanção, cavaleiro nobre.
2
perder a terra que o rei lhe tinha dado.
3
em breve.
4
porque.
5
de pram: certamente, realmente.
6
no decreto (real) não há já necessidade desses rigores (de se comer apenas um prato de carne ou mesmo nenhum, como é dito no verso anterior).
7
querereis.
8
ainda que vos pese.
9
sobreveste.
10
casa.
11
a capa e o guarda-cós pareciam ter três anos, mas tinham na verdade quatro.

5. Indica o assunto desta composição poética.


5.Esta cantiga contém uma sátira plena (cheia/grande) de ironia a um infanção pelintra (não tem dinheiro). Este teria transgredido um dos decretos reais que
estabelecia regras para os trajes (vestuário) e a alimentação, mas por defeito “ca vos mandaram a capa, de pram, trager dous anos, e provar-vos-am / que vo-la virom
três anos trager” (vv. 5-7) e “que duas carnes vosmandam comer, / e nom queredes vós d’ ũa cozer;” (vv. 9-10). Assim, se critica a pelintrice (falta de dinheiro) do
infanção, porque quer mostrar aquilo que já não tem.

6. Classifica a composição poética e insere-a no contexto literário a que pertence, justificando.


6.Esta composição insere-se na lírica trovadoresca e é uma cantiga de escárnio, pois critica-se um infanção, de forma velada (suave): “Par Deus, infançom (…) E provar-
vos-á, das carnes, quem quer,/que duas crnes vos mandam comer,/e nom queredes vós d’ ũa cozer;” (vv.1 e 8-10)

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