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PERIO

DONTIA
larissa albuquerque
odontologia | ufpe
Anatomia e histofisiologia do periodonto
Periodontia – UFPE

Introdução à Periodontia *A origem embrionária do periodonto ocorre


principalmente na fase de capuz, fase em que o órgão
*A Periodontia é a especialidade odontológica
do esmalte origina o esmalte; a papila dentária, o
responsável pelos cuidados aos tecidos adjacentes
complexo dentina-polpa e o folículo dentário, o
aos dentes, prestando cuidados em situações de periodonto de sustentação.
saúde periodontal, doenças e condições gengivais,
periodontite e outras condições que afetam o Gengiva: aspectos macroscópicos
periodonto.
*A mucosa oral é contínua com a pele dos lábios e
*As doenças gengivais normalmente têm origem
com a mucosa do palato mole e da faringe e é
inflamatória e apresentam características clínicas
formada pela:
diversas. Por isso, o tratamento do paciente deve ser
sempre individualizado. • Mucosa mastigatória: é formada pela
*A periodontite atinge outros tecidos além da gengiva gengiva e revestimento do palato duro.
e é mais frequente na população, atingindo de adultos • Mucosa especializada: revestimento do
jovens a idosos, tendo maior prevalência em idades dorso da língua.
mais avançadas. Ela causa a perda de inserção dos • Mucosa de revestimento: na parte restante
tecidos periodontais e a reabsorção óssea, exigindo da mucosa oral.
conhecimentos de radiologia para avaliar a condição *A gengiva faz parte da mucosa mastigatória que
do paciente. A periodontite ainda pode levar à perda recobre o processo alveolar e circunda a porção
do elemento dentário em casos de grande reabsorção cervical dos dentes. Histologicamente, ela é formada
óssea e mobilidade dental. por uma camada epitelial e por tecido conjuntivo
*A remoção do biofilme ou cálculo dentário é um dos subjacente, a lâmina própria.
componentes do tratamento periodontal e é muito *Nas regiões que a mucosa mastigatória recobre o
comum na prática clínica, que é feita pela raspagem processo alveolar, mas não circunda a região cervical
ou alisamento coronário ou radicular. O tratamento dos dentes e sim de implantes, é chamada de
periodontal também pode ser feito por procedimentos mucosa peri-implante.
cirúrgicos, estéticos ou não, a depender do caso do *A gengiva é delimitada na região coronária pela
paciente. margem gengival e na região apical pela junção
mucogengival.
Anatomia e histofisiologia do periodonto *A gengiva pode ser dividida em três partes: gengiva
livre, interdental e inserida.
*O periodonto de sustentação tem a função de
inserir o dente no tecido ósseo da maxila e mandíbula • A gengiva livre (ou marginal ou não inserida)
e de manter a integridade da superfície da mucosa é a região terminal da gengiva que circunda o
mastigatória da cavidade oral. Ele é formado pelo colo dos dentes, delimitada pela ranhura
ligamento periodontal, cemento radicular e osso gengival livre que fica no nível da junção
alveolar propriamente dito. O periodonto de proteção cemento-esmalte. Ela tem cor rósea,
é composto pela gengiva e tem a função de manter a superfície opaca, consistência firme e
integridade da superfície da mucosa mastigatória. contorno festonado. No sentido apical, ela é
contínua à mucosa de revestimento alveolar,
de cor vermelha mais escura, sendo a
separação delimitada pela linha
mucogengival (limite apical da gengiva).
Essa linha é presente apenas na gengiva
vestibular, pois no palato duro e no processo
alveolar da maxila o revestimento é feito pelo
mesmo tipo de mucosa mastigatória.

G: gengiva; PL: ligamento periodontal; ABP: osso alveolar


propriamente dito; RC: cemento radicular e AB: osso alveolar
(visualizado nas radiografias como lâmina dura).
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Gengiva vestibular com linha mucogengival, indicada pelas Obs: a falta da gengiva inserida pode causar
setas (a); Gengiva palatina, sem delimitação, pois é formada
mobilidade da gengiva livre, dor na escovação
pelo mesmo epitélio (b).
pelo contato das cerdas com a mucosa e
• A gengiva interdental ocupa o espaço
facilitar o acúmulo de biofilme.
interproximal abaixo da área de contato dos
*O sulco gengival é a região localizada ao redor dos
dentes (ameia gengival). Pode ter formato
dentes delimitada pela superfície dental de um lado e
piramidal ou de vale com uma depressão. O
pelo epitélio que reveste a gengiva marginal do outro,
seu formato varia de acordo com os pontos ou
tendo como medida compatível com saúde
superfícies de contato, largura da superfície
periodontal até 3mm.
proximal, altura do ponto de contato à crista
óssea e anatomia da junção cemento- Gengiva: aspectos microscópicos
esmalte.
*O epitélio gengival é formado por um revestimento
contínuo de epitélio escamoso estratificado, dividido
em epitélio oral, epitélio oral do sulco (sulcular) e
epitélio juncional. O epitélio gengival realiza a
proteção mecânica, química e antimicrobiana e o seu
tipo celular mais abundante são os queratinócitos,
mas também possui células de Langerhans, células
de Merkel e melanócitos. É um epitélio que está em
A forma da gengiva depende do ponto de contato (ponto preto) constante renovação.
entre dois dentes adjacentes. A papila interdental acompanha a *Como o tecido epitelial não tem vasos, a nutrição é
forma do ponto de contato. Na região anterior, a forma é piramidal
e na região de pré-molares e molares, é achatada no sentido
feita pelas papilas e cristas epiteliais do tecido
vestíbulo-lingual e na área de COL (região da papila interdental conjuntivo.
abaixo do ponto de contato recoberta por epitélio não *O sulco gengival clínico consiste na porção da
queratinizado). gengiva livre que pode ser destacada em até 3mm,
• A gengiva inserida é contínua à gengiva formada pelo epitélio oral do sulco e pelo epitélio
marginal e se estende até a junção juncional, que garante adesão. Entretanto, é apenas
mucogengival. É firme e fortemente ligada ao a primeira porção do epitélio que histologicamente é
periósteo do osso alveolar subjacente e tem destacada, conhecida como epitélio oral do sulco
largura variável a depender da região, sendo histológico.
maior nos incisivos e mais estreita nos dentes *Divisão do tecido gengival:
posteriores. Tem a função de proteger contra • O epitélio oral é um epitélio pavimentoso
traumas, já que seu epitélio é escamoso estratificado e queratinizado, contendo
estratificado queratinizado, e de auxiliar na camada basal (1), espinhosa (2), granulosa (3)
imobilidade da margem gengival. Ela tem e queratinizada (4).
aspecto pontilhado ou de casca de laranja
devido à inserção das fibras da gengiva
inserida, que auxiliam na fixação da margem
gengival.

• O epitélio oral do sulco (histológico) é


formado de epitélio pavimentoso estratificado
não-queratinizado, constituído pelas camadas
Pontos anatômicos de referência da gengiva. basal e espinhosa. O fato de ser não-
queratinizado deve ocorrer pela irritação local
constante natural do biofilme. Além disso,
Diferenças dos esse epitélio age como uma membrana
aspectos macros- semipermeável (subprodutos bacterianos).
cópicos da gengiva • O epitélio juncional é formado pelo epitélio
inserida, com aspecto
de casca de laranja, e
pavimentoso estratificado não-queratinizado,
da gengiva livre, com constituído pelas camadas basal e
aspecto liso. suprabasais. Possui neutrófilos (PMNs) e
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monócitos nos espaços intercelulares e blástica (fibroblastos, cementoblastos
apresenta aderência epitelial pelos e osteoblastos).
hemidesmossomos, que não deve ser *As fibras do tecido conjuntivo são
confundida com inserção periodontal. Esse predominantemente fibras colágenas,
epitélio é o responsável por permitir o acesso classificadas de acordo com a sua inserção e
do fluido gengival, das células inflamatórias trajetória no tecido em:
e dos componentes do sistema imunológico ⇾ Fibras dentogengivais (1): se
de defesa do hospedeiro à gengiva marginal. projetam a partir do cemento, em
Suas células são renovadas rapidamente, o forma de leque, para o tecido gengival
que contribui para o equilíbrio hospedeiro- livre das superfícies vestibular, lingual
parasita e permite a rápida reparação dos e interproximal. São integradas no
danos teciduais. cemento da porção supra-alveolar da
*Obs: o fluido gengival é representado como raiz.
transudato ou exsudato e pode ser usado ⇾ Fibras transeptais (2): estendem-se
como um biomarcador de diagnóstico ou entre o cemento supra-alveolar de
prognóstico do estado biológico do periodonto dentes vizinhos e seguem trajeto
na saúde e na doença. Ele é composto por retilíneo pelo septo interdental e estão
componentes dos tecidos conjuntivos e inseridas no cemento de dentes
epitelial, células inflamatórias, soro e vizunhos.
microrganismos que habitam a margem ⇾ Fibras dentoperiósteas (3): também
gengival, sulco gengival ou bolsa gengival. estão integradas na mesma porção do
• O tecido conjuntivo é o componente cemento que as fibras dentogengivais,
predominante da gengiva e é composto por porém fazem a trajetória em sentido
fibras colágenas (60%), fibroblastos (5%) e apical sobre a crista óssea vestibular e
vasos, nervos e matriz (35%). É conhecido lingual, terminando no tecido da
também como lâmina própria e é formado gengiva inserida.
pelas camadas papilar (subjacente ao epitélio) ⇾ Fibras circulares (4): localizadas na
e reticular (contigua com o periósteo do osso gengiva livre e circundas o dente como
alveolar). Possui diferentes tipos de células, se fosse um anel.
como os mastócitos, macrófagos, células
inflamatórias e predominância de fibroblastos
(65% da população total). Os fibroblastos
participam da produção de vários tipos de
fibras encontradas no tecido conjuntivo e
também atuam na síntese da matriz do tecido
conjuntivo. As funções dos tipos celulares são:
⇾ Fibroblastos: produção de colágeno,
elastina, glicoproteínas e
proteoglicanas.
⇾ Mastócitos: produção de alguns
componentes da matriz, contendo *As fibras da gengiva inserida correspondem
grânulos de heparina e histamina à inserção conjuntiva. Dessa forma, quando é
participando nos mecanismos de falado em perda da inserção relacionada à
defesa por meio de liberação de periodontite, essa perda é da inserção
mediadores químicos. conjuntiva.
⇾ Macrófagos: fagocitose e função de *A região de epitélio juncional e de inserção
células apresentadores de antígeno conjuntiva é conhecida como espaço biológico
aos linfócitos. ou como tecidos inseridos supracrestais,
⇾ Neutrófilos: primeira linha de defesa. com cerca de 2,04mm. Em caso de
⇾ Linfócitos: participam da resposta restauração, ela nunca pode invadir o espaço
imune humoral e celular. Produzem biológico, pois o organismo reage com
anticorpos ou transformam-se em inflamação ou retração gengival.
células produtoras de anticorpos
(linfócitos).
⇾ Células mesenquimais indiferencia-
das: são localizadas principalmente ao
redor de vasos sanguíneos, podendo
se transformar em qualquer célula
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Ligamento periodontal
*Compõe o periodonto de inserção e fornece
nutrientes para o cemento, osso e gengiva por meio
dos vasos sanguíneos.
*É abundantemente suprido por fibras nervosas
sensoriais capazes de transmitir sensações táteis, de
pressão e de dor através dos ramos do nervo A: espaço fisiológico entre o esmalte e o cemento com a dentina,
trigêmeo. podendo causar hipersensibilidade dentinária mesmo sem haver
*É um tecido conjuntivo frouxo, ricamente retração gengival; B: relação “topo a topo” de esmalte e cemento;
C: cemento sobrepõe o esmalte.
vascularizado e celular que une o cemento radicular
*O cemento é dividido em 4:
ao osso alveolar propriamente dito. Tem a função de
manter o dente inserido no osso e de amortecer as • Cemento radicular acelular afibrilar (AAC):
forças oclusais. é o que ocorre principalmente na porção
*O espaço do ligamento periodontal tem forma de cervical do esmalte.
ampulheta e é mais estreito no nível do terço médio • Cemento radicular acelular de fibras
da porção radicular. extrínsecas (AEFC): é o que ocorre nas
*O ligamento periodontal é formado pelo conjunto de porções coronal e média da raiz. Contém
fibras colágenas: fibras da crista alveolar, fibras principalmente feixes de fibras de Sharpey e é
horizontais, fibras obliquas e fibras periodontais parte importante dos tecidos de inserção e
apicais. conecta o dente ao osso alveolar
propriamente dito.
• Cemento radicular celular estratificado
misto (CMSC): está presente no terço apical
das raízes e nas áreas de ramificação. Possui
fibras extrínsecas e intrínsecas e
cementócitos.
• Cemento radicular celular de fibras
ACF: fibras da crista
intrínsecas (CIFC): está presente nas
alveolar; HF: fibras
horizontais; OF: fibras lacunas de reabsorção e contém as fibras
oblíquas; APF: fibras intrínsecas e cementócitos.
apicais; ABP: osso
alveolar propriamente Osso alveolar propriamente dito
dito: RC: cemento
radicular. *Também conhecido como osso fasciculado ou
lâmina dura, é a parte da maxila e da mandíbula que
*As fibras de Sharpey são as porções terminais das forma o alvéolo dentária e dá suporte aos dentes
fibras principais do ligamento periodontal que se (placa cribiforme) e tem elevada taxa de renovação
inserem no cemento e no osso. São fibras extrínsecas celular e inserção das fibras colágenas do ligamento
produzidas pelos fibroblastos. periodontal (fibras de Sharpey).
Cemento radicular *O osso alveolar difere do cemento radicular pela
presença de vasos, nervos e pelo processo de
*É o tecido mineralizado, especializado, que recobre remodelação tecidual.
as superfícies radiculares dos dentes e, *Tem a função de absorver e distribuir as forças
ocasionalmente, pequenas porções das coroas. 65% geradas pela mastigação e outros contatos dentários.
do seu peso é composto por hidroxiapatita. A sua morfologia é determinada pelo tamanho, forma,
*Ele faz o aposicionamento (ajusta a posição dos localização e função dos dentes. É composto em 2/3
dentes às demandas) e não o remodelamento (que é por substância inorgânica (cálcio, fosfato e hidroxila)
feito apenas por osso), ou seja, não contém vasos, e 1/3 por matriz orgânica (90% colágeno tipo 1, 10%
nervos ou células que não sejam cementócitos e proteínas não colágenas).
cementoblastos. Em caso de dano ao cemento, sua *O osso alveolar propriamente dito só existe enquanto
capacidade de recuperação é mínima. houver dente. Se o elemento dentário for perdido, o
*O cemento tem a função de inserir as fibras do osso alveolar será reabsorvido.
ligamento periodontal à raiz e participa do processo *O osso alveolar propriamente dito pode apresentar
de reparo após danos à superfície radicular. defeitos de formação, pela cobertura óssea das raízes
*Existem diferentes relações entre o cemento e a serem muito finas ou inexistentes: a deiscência
junção cemento-esmalte: óssea (o osso alveolar não recobre a região radicular)
e fenestração óssea (o osso alveolar não recobre
toda a porção radicular).

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*O suprimento sanguíneo principal da gengiva livre
provém dos vasos sanguíneos supraperiosteais, que
se anastomosam na gengiva com vasos sanguíneos
do osso alveolar e do ligamento periodontal.
*O epitélio juncional é suprido pelo plexo
dentogengival.
*A mucosa mastigatória do palato é suprida pelos
ramos da artéria palatina maior (a.p.), que é ramo
terminal da artéria palatina ascendente, e tem
localização no canal palatino maior até o palato.
*O osso alveolar é formado por camadas de tecido
conjuntivo diferenciado que cobrem toda as Sistema linfático do periodonto
superfícies ósseas. Externamente é revestido pelo
tecido conjuntivo periósteo e internamente às *Todos os dentes, com seus tecidos periodontais
cavidades ósseas pelo conjuntivo endósteo. adjacentes, drenam para os linfonodos
submandibulares (sma), exceto:
Vascularização do periodonto • Terceiros molares: linfonodos jugulo-
*O suprimento sanguíneo dos dentes e tecidos digástricos (jd).
periodontais é feito pela artéria dentária (a.d.), que • Incisivos inferiores: linfonodos submentuais
é um ramo da artéria dentária alveolar superior ou (sme).
inferior (a.a.i.), que emite a artéria intrasseptal (a.i.) • Gengiva palatina da maxila: linfonodos
antes de penetrar no alvéolo. Os ramos terminais da cervicais profundos (cp).
artéria intrasseptal (ramos perfurantes, rr.p.)
penetram no osso alveolar propriamente dito pelos
canais em todos os níveis do alvéolo. No espaço do
ligamento periodontal, eles se anastomosam com os
vasos sanguíneos
originários da porção
apical do ligamento
periodontal e com os
demais ramos terminais
da artéria intrasseptal
(a.i.). Antes de penetrar
no canal radicular, a
artéria dentária (a.d.)
fornece ramos que
suprem a porção apical
do ligamento periodontal. Sistema nervoso do periodonto
*A gengiva é irrigada principalmente pelos vasos *A inervação do periodonto é feita pelos ramos
sanguíneos supraperiosteais, que são ramos terminais do nervo trigêmeo:
terminais da artéria sublingual (a.s.), da artéria • Gengiva vestibular dos incisivos caninos e
mentual (a.m.), da artéria oral (a.o.), da artéria pré-molares superiores: ramos labiais
facial (a.f.), da artéria palatina maior (a.p.), da superiores do nervo infraorbital.
artéria infraorbitária (a.i.) e da artéria dentária • Gengiva vestibular de molares superiores:
superior posterior (a.ap.). ramos do nervo maxilar (ramos alveolares
superiores posteriores) ou nervo dentário
superior posterior.
• Gengiva palatina (exceto incisivos): nervo
palatino maior.
• Incisivos: nervo nasopalatino.
• Gengiva lingual inferior: nervo sublingual.
• Gengiva vestibular dos incisivos e caninos
inferiores: nervo mentoniano.
• Gengiva vestibular dos molares inferiores:
nervo oral ou bucal.
• Dentes e ligamentos periodontais da
mandíbula: nervo alveolar inferior.
• Dentes da maxila: plexo alveolar superior.
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Referência:

• Tratado de periodontia clínica e implantologia


oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução
Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed. -
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

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Controle mecânico da placa supragengival
Periodontia – UFPE

Importância da remoção da placa supragengival interdental, já que não atinge as superfícies


interdentais.
*A placa dental é um biofilme bacteriano que se adere
*O resultado da escovação depende do desenho da
à estrutura dentária e é de difícil remoção e é formado
escova, da habilidade do indivíduo em utilizá-la, da
por uma comunidade complexa de espécies
frequência e tempo de escovação. Além disso,
bacterianas, em torno de 400 a 1000, que residem
alterações morfológicas e o comprometimento do
sobre as superfícies dos dentes e dos tecidos moles.
paciente são muito importantes quando se trata da
Os produtos do biofilme geram uma cadeia de
escovação. Por isso, a instrução de higiene oral deve
reações que levam à destruição tecidual. Diante
ser adaptada para cada indivíduo e uma mesma
disso, para preservar a saúde oral, é necessário
escova de dentes pode não ser adequada a todas as
remover a placa microbiana para prevenir o seu
populações.
acúmulo nos dentes e gengiva.
*A melhora da saúde oral dos pacientes depende da
*A placa pode ser supra ou subgengival e pode estar
sua cooperação com o profissional de odontologia e
aderida ou não ao dente ou tecidos. A sua
também do seu interesse em manter a saúde dos
composição microbiana varia de acordo com a
tecidos e estar interessado e motivado na proposta do
pessoa e de acordo com o local dentro da boca de um plano de tratamento.
mesmo indivíduo.
*Para prevenir e controlar a doença periodontal é Escova de dentes
preciso fazer um controle eficaz da placa e, para isso,
*A escovação consiste na remoção da placa dental
é preciso que ela seja removida frequentemente por
pelo contato direto entre as cerdas da escova e a
métodos ativos, visto que, apesar da placa
superfície dos dentes e dos tecidos. A escova de
supragengival estar exposta à saliva e às forças
dentes manual ideal deve seguir os critérios:
fisiológicas da cavidade oral, a limpeza natural da
dentição é quase inexistente. • Ter tamanho de cabo apropriado para idade e
*Dessa forma, a limpeza da cavidade oral deve ser destreza manual do usuário, para que a sua
cuidadosa e realizada em intervalos para obter o utilização seja fácil e correta.
controle da placa, pois o alto padrão de higiene • Tamanho da cabeça adequado às dimensões
garante a estabilidade dos tecidos periodontais de da boca do paciente.
suporte, sendo essencial para a saúde dentária e • Cerdas de filamentos de poliéster ou náilon,
periodontal. com extremidades arredondadas e até
*A higiene oral age como redutora não específica da 0,23mm de diâmetro.
massa de placa, o que é importante pois reduz a • Cerdas macias segundo os padrões
carga lesionada dos tecidos atingidos. Os métodos de internacionais da indústria.
autorremoção da placa modificam a quantidade e a • Modelo de cerdas que aumentem a remoção
composição da placa subgengival e qualquer de placa.
diminuição na massa de placa é benéfica para os *Além dessas características, é interessante que a
tecidos inflamados que estão próximos aos depósitos escova tenha baixo preço, tenha boa durabilidade,
bacterianos. seja impermeável à umidade e de fácil limpeza.
*O ótimo controle da placa supragengival consegue *No mercado, existem diferentes tipos de escovas
alterar a composição da microbiota da bolsa disponíveis. Em relação às cerdas, as escovas
periodontal e reduzir o porcentual de bactérias multinível e anguladas podem oferecer um melhor
periodontopatogênicas. desempenho em relação às escovas planas, pois os
múltiplos tufos de cerdas, geralmente angulados em
Autocontrole da placa várias direções, conseguem fazer uma melhor
*O autocontrole da placa tem diversos benefícios, higienização considerando que a técnica de
como manter a dentição funcional durante a vida, escovação mais utilizada é a horizontal simples. Além
reduzir o risco de perda de inserção periodontal, disso, as escovas de cerdas planas convencionais
manter a boa aparência e bom hálito e reduzir o risco podem apresentar inconveniências como o “efeito
de cuidados dentários complexos, desconfortáveis e bloqueador” causado pelos tufos apertados de cerdas
caros. que impedem que os tufos individuais alcancem as
*A escovação é a prática mais implementada na áreas interproximais.
higiene oral, é de fácil aplicação e baixo custo, porém
sozinha não proporciona a limpeza adequada
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*Em relação ao cabo, o ideal é que ele seja longo,
arredondado e tenha tamanho apropriado
considerando o tamanho da mão do usuário.
*Tendo em vista a morfologia bucal, destreza manual
e particularidades de cada paciente, não é possível a
existência de uma escova de dente ideal para todas
as pessoas. A escolha da escova deve seguir a
preferência individual e a que seja melhor utilizada
pelo paciente.
Método de escovação
• Técnica vibratória de Stillman: além da
*Cada paciente possui uma morfologia de distribuição limpeza das áreas cervicais dos dentes, tem
da dentição diferente, como presença de diastema, como função massagear e estimular as
apinhamento dentário e fenótipo gengival, tipo e gengivas. A escova é posicionada em direção
gravidade de destruição dos tecidos periodontais e obliqua ao ápice da raiz, com as cerdas
habilidade manual. Dessa maneira, não existe um parcialmente localizadas na gengiva e na
único método correto de escovação para todos superfície dos dentes. Deve ser aplicada leve
pacientes, pois cada um terá necessidades pressão juntamente com movimento vibratório
diferentes. Existem diversas técnicas de escovação e leve, sem deslocar a posição da escova.
a ideal é a que permite a remoção completa da placa • Técnica vibratória de Chartes: tem maior
dental no menor tempo possível, sem causar dano efetividade de limpeza e estimulação das
aos tecidos. áreas gengivais interproximais. A cabeça da
• Escovação horizontal: é o método mais escova deve estar posicionada obliquamente
comum e geralmente é utilizado por pessoas em relação à superfície dentária, com as
que nunca receberam instruções sobre as cerdas direcionadas para a superfície oclusal
técnicas de higiene oral. A técnica é simples e ou incisal. Deve-se aplicar
consiste em posicionar a escova leve pressão para flexionar
perpendicularmente à superfície dentária e as cerdas em direção aos
fazer movimentos horizontais de vai e vem. espaços interproximais e
• Escovação vertical de Leonard: é fazer movimento vibratório
semelhante à técnica horizontal e consiste em leve. É indicado
aplicar o movimento da escova na direção principalmente para casos
vertical, com movimentos para cima e para de recessão das papilas
baixo. interdentais e para
• Escovação circular de Fones: a técnica pacientes de ortodontia.
consiste em fazer movimentos rápidos e • Técnica de rotação: a cabeça da escova é
circulares da gengiva da maxila até a da posicionada de forma oblíqua ao ápice da raiz,
mandíbula, com uma leve pressão. Já na com as cerdas parcialmente na gengiva e na
superfície lingual ou palatina, são utilizados superfície dos dentes. As cerdas devem
movimentos horizontais. pressionar levemente a gengiva e a cabeça da
• Técnica de esfregaço: consiste na escova deve ser girada sobre a gengiva para
combinação de movimentos horizontais, a direção oclusal.
verticais e rotatórios. • Técnica de Bass/Stillman modificada: a
• Escovação sulcular de Bass: essa técnica modificação adicionou o movimento de
enfatiza a limpeza diretamente abaixo da rotação às técnicas, com rotação da escova
margem gengival e, por isso, é indicada para sobre a gengiva e os dentes na direção
pacientes com periodontite. A cabeça da oclusal, de forma que as cerdas alcancem o
escova deve ser posicionada obliquamente espaço interproximal.
voltada para o ápice radicular, com as cerdas *Não há superioridade significativa entre os métodos
direcionadas para dentro do sulco, em ângulo de escovação. Dessa forma, não é preciso ensinar
de 45º em relação ao longo eixo do dente. Em uma nova técnica ao paciente e sim realizar pequenas
seguida, a escova deve ser deslocada no mudanças no método já utilizado para torná-lo mais
sentido anteroposterior com movimentos eficiente.
curtos, sem remover as cerdas de dentro do *Considerando o paciente médio e que nem sempre
sulco. Na superfície lingual ou palatina, o a escovação será realizada de forma eficiente, é
movimento é na direção vertical. recomendado a remoção mecânica da placa pela
escovação duas vezes ao dia e remoção da placa

Periodontia Larissa Albuquerque


interdental uma vez ao dia. Dessa forma, é possível *As escovas modernas removem a placa em menos
prevenir a gengivite e a doença cárie. tempo que as escovas manuais. Em comparação, o
*A duração da escovação está diretamente uso por 2 minutos de uma escova elétrica tem a
relacionada com a quantidade de placa que é mesma remoção de placa do que o uso por 6 minutos
removida durante o processo, independentemente do de uma escova manual. Diante disso, as escovas
tipo de escova utilizada. Por isso, deve ser estimulada elétricas, que têm movimentos oscilantes e rotatórios,
a escovação por no mínimo 2 minutos ou mais. são clinicamente superiores às manuais e têm maior
redução de placa e gengivite.
Cerdas
Limpeza interdental
*A rigidez da escova é definida pelo tipo de cerda
utilizado. Geralmente são de náilon e apresentam Área proximal: espaços visíveis que não estão
diferentes graus de dureza e rigidez a depender do sob a área de contato.
material, diâmetro e comprimento. Área interproximal e interdental: áreas sob o
*Escovas com cerdas mais finas são mais macias e ponto de contato e relacionado a ele.
cerdas curvas são mais flexíveis e menos rígidas que
as retas. A densidade de cerdas nos tufos também *As escovas não alcançam as superfícies proximais
influencia na dureza da escova, pois quanto mais de forma eficiente, nem as áreas interproximais. Por
cerdas, maior será a rigidez, que impede a flexão da isso, existem métodos auxiliares à escovação no
ponta da cerda durante a escovação e evita o risco de controle da placa.
dano da gengiva. Apesar de cerdas macias serem as *O aparelho de limpeza interdental ideal deve ser de
mais recomendadas, elas devem ter rigidez suficiente fácil utilização, remover a placa efetivamente e não
para possibilitar a remoção adequada da placa. causar efeitos deletérios sobre os tecidos moles ou
*É indicado que cerdas afiladas duros.
com a ponta em forma acentuada *É importante reforçar ao paciente que o sangramento
de um elipsoide garantam maior durante a limpeza gengival pode ser causado por
maciez às cerdas e boa trauma ou devido à inflamação e que isso não é
estabilidade ao corpo, tornando- indicativo para evitar a limpeza e sim de tratar a
as flexíveis e menos prejudiciais inflamação. Também é preciso informar que a função
aos tecidos moles. da limpeza interdental não é retirar restos de
*Cerdas macias são preferíveis em relação às duras alimentos entre os dentes e sim remover a placa
devido ao risco de trauma dos tecidos gengivais, interdental.
porém em pacientes sem indicação clínica para uso *O fio dental é o método mais utilizado, mas nem
de escova macia pode-se recomendar escovas de sempre será a melhor recomendação para o paciente,
rigidez média, pois estudos indicam que a limpeza é visto que a sua indicação varia de acordo com fatores
mais significativa. como o contorno e consistência do tecido gengival, o
tamanho e forma do espaço interproximal, a posição
Substituição da escova
e alinhamento dos dentes e capacidade e motivação
*Não há evidência científica que embase o tempo do paciente.
correto de troca da escova. Isso se dá devido às *Em indivíduos com contorno gengival e espaços de
diferentes técnicas de escovação e força aplicada ameia normais (com as papilas interdentais
durante a escovação, tornando variável o grau de preenchendo completamente o espaço da ameia
desgaste de escovas de diferentes indivíduos. interdental), pode-se recomendar o uso de fio ou fita
*A troca da escova se faz necesária, pois quando está dental, pois ele consegue remover até 80% da placa
gasta, ocorre a redução da sua capacidade de gengival e até de placa subgengival quando é
remover a placa, já que as cerdas se tornam mais possível introduzir de 2 a 3,5mm no sulco gengival.
afiladas com o uso e, consequentemente, mais *O fio dental pode ser encerado ou não e não há
macias. diferença significativa na sua efetividade. O fio sem
*Em geral, é recomendada a troca a cada 3 ou 4 cera é recomendado para pacientes com pontos de
meses, porém a recomendação deveria estar contato normais, pois a passagem pelo ponto de
relacionada ao desgaste da escova e não do seu contato é mais fácil, até mesmo quando desfia, já que
tempo de uso. ainda cobre uma superfície maior que a do fio
encerado. Os fios encerados são recomentados para
Escovas elétricas pacientes com contatos dentais muito apertados.
*As escovas elétricas tem o potencial de melhorar a *O uso rotineiro do fio dental não possui evidência
remoção da placa e a motivação do paciente na científica, mas é recomendado o seu uso pelo menos
escovação, principalmente em pacientes que têm uma vez ao dia para evitar gengivite e a doença cárie.
dificuldade de controlar a escova manual da maneira Além disso, para ter eficácia, o uso do fio deve ter
correta. instrução apropriada, bom nível de destreza manual
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do paciente e motivação para fazer o uso de forma *As escovas unitufo cônicas podem
habitual. ser indicadas para a limpeza de
*Caso o paciente apresente recessão gengival, a superfícies distais dos molares
eficiência do fio dental é menor e deve ser posteriores, dentes mal posicionados,
recomendado outro método. O palito dental, que não girovertidos, para limpar em torno de
deve ser confundido com palitos de madeira, pode ser próteses fixas parciais, dispositivos
uma alternativa viável para pacientes com maior ortodônticos ou de inserção imprecisa
espaço interdental. e limpar dentes com recessão gengival e margem
*O palito dental é feito com madeira macia e tem gengivais irregulares ou com envolvimento de furca.
desenho triangular/cuneiforme. O vértice do triângulo Dessa forma, remove a placa de modo efetivo em
deve estar voltado para a oclusal e a base para o lado locais de difícil alcance.
gengival. O palito dental pode ser usado até por
pacientes com destreza manual insatisfatória, Situação Método
contanto que possua espaço interdental suficiente.
Papila interdental • Fio dental
*O palito dental apresenta a desvantagem de, quando
intacta; espaço • Pequeno palito dental
interdental pequeno
utilizado em dentições saudáveis, poder causar o Recessão papilar • Fio dental
rebaixamento da margem gengival, pois o longo moderada; espaço • Pequeno palito
período de uso pode causar a perda permanente da interdental • Escova interproximal
papila e abertura do espaço de ameia, causando discretamente aberto pequena
alterações estéticas na dentição anterior Perda completa da • Escova interproximal
indesejáveis. papila; amplo espaço
interdental
Amplo espaço de • Escova unitufo
ameia; diastema • Tiras de gaze

Métodos auxiliares
*Os métodos auxiliares foram desenvolvidos com a
função de aumentar os efeitos da escovação dental
*As escovas interdentais também podem ser na redução da placa interdental.
utilizadas e consistem em cerdas de náilon macio *Os jatos de água ou irrigadores orais podem
torcidas em um fino fio de aço inoxidável, na forma auxiliar na remoção mecânica da placa em uso
cônica ou cilíndrica. O comprimento conjunto com a escovação. A sua eficácia ainda não
das cerdas deve ser compatível com o é comprovada clinicamente, mas estudos apontaram
espaço interdental e acredita-se que a benefícios no seu uso para redução do sangramento
limpeza é mais eficiente quando a gengival e inflamação. Entretanto, nem sempre foi
cerda da escova é levemente maior vista a redução da placa interdental. Isso pode
que o espaço interproximal. acontecer, pois, quando pacientes com gengivite
*São indicadas principalmente quando as superfícies fazem a irrigação supragengival, as populações
radiculares expostas apresentam concavidades e patógenas são alteradas e reduzem a inflamação e
ranhuras e para a limpeza delicada das áreas de também porque a pulsação da água pode alterar a
defeitos de furca grau III. Também são recomendadas interação entre hospedeiro e microrganismo,
para pacientes com periodontite, pois são capazes de reduzindo a inflamação independentemente da
manter a superfície proximal supragengival livre de remoção de placa. A irrigação é segura para
placa e de remover parte da placa subgengival abaixo pacientes saudáveis, mas pode não ser recomendada
da margem gengival, podendo ser até mais eficiente para pacientes com doença periodontal mais
que o fio dental nesses casos. avançada, pois a força aplicada nos tecidos gengivais
*As escovas interdentais devem ser utilizadas sem é considerável e pode levar à bacteremia.
dentifrícios e por curto período de tempo. Devem ser
descartadas quando as cerdas estiverem
desgastadas ou se destacando.
*As escovas interdentais apresentam a desvantagem
de possivelmente precisar de tipos diferentes para
espaços interproximais diferentes, pois os espaços de
dentes posteriores costumam ser maiores, enquanto
que o de dentes anteriores, menor. Além disso, o uso
inadequado pode causar hipersensibilidade *A língua pode ser considerada um reservatório que
dentinária. permite o acúmulo e estagnação de bactérias e

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resíduos alimentares, servindo como fonte de dentária ocorre em conjunto com a recessão
disseminação bacteriana para outras partes da gengival.
cavidade oral e contribuindo para a formação da
Instrução e motivação do paciente
placa. Dessa forma, a sua limpeza deve ser realizada.
*Os limpadores de língua ou raspadores são mais *O controle mecânico da placa exige a participação
efetivos do que as escovas para a limpeza da língua ativa do paciente, pois é preciso estabelecer hábitos
e têm o benefício de reduzir o reflexo de vômito de higiene oral apropriados, o que envolve mudança
induzido pelas escovas. Isso permite uma de comportamento. Por isso, o paciente deve ser
higienização melhor do posterior do dorso da língua, informado da importância da sua colaboração para
que é a região mais importante a ser limpa. estabelecer a saúde oral e prevenir cáries e a doença
*Outro método são as dedeiras ou escovas de dedo, periodontal.
porém não são tão efetivas na remoção da placa e, *É preciso instruir o paciente acerca da importância
por isso, não são recomendadas, pois não da remoção da placa e quando, onde e como removê-
apresentam efeitos benéficos em comparação às la, considerando a rotina de higienização oral do
escovas manuais. paciente (frequência, duração, padrão, força e
*Para manter a higiene oral de pacientes método de escovação) e as características da escova
hospitalizados, pode ser utilizadas escovas de e do dentifrício. O tipo de escova e técnicas
espuma embebidas em clorexidina. Elas específicas de escovação são de importância
apresentam eficiência similar à escova de dentes secundária em comparação a sua habilidade em
manual no controle da placa e gengivite. Essa utilizar a escova.
eficiência só é observada quando embebida em *Deve ser preferido e recomendado o procedimento
clorexidina, já que apenas o uso da escova de mais simples e que remove de modo efetivo a placa
espuma não apresenta benefícios. bacteriana e mantém a higiene oral, consumindo o
menor tempo. O interessante é que o profissional se
Dentifrícios
baseie na técnica já utilizada pelo paciente para fazer
*O uso da escova dental deve ser feito juntamente pequenos ajustes que melhorem a sua eficácia do
com o dentifrício, que tem a função de facilitar a que ensinar uma técnica nova.
remoção da placa e aplicar agentes no dente com fins *Caso o paciente seja interessado e motivado a ter
terapêuticos ou preventivos. uma boa higiene oral, é possível fazer o uso de
*Geralmente contém abrasivos, com o princípio de agentes reveladores de placa na margem gengival ou
facilitar a remoção da placa. A maioria dos dentifrícios espaço interdental para que o paciente possa
atuais utilizam a sílica, pois aumenta a abrasividade visualizar onde a higienização está sendo deficiente e
do dentifrício e consegue remover mais placa. corrigi-la com o auxílio do dentista.
*Apesar da inserção dos abrasivos ter o princípio de *Apesar da revelação de placa servir como agente
aumentar a remoção de placa, estudos apontam que motivador para o paciente, outros fatores podem
esse aumento não é significativo e que a remoção de influenciar para a modificação do seu
placa está minimamente relacionada a eles. Isso se comportamento. Fatores sociais, pessoais,
dá porque a remoção da placa ocorre pela ação das ambientais e experiência dental passada estão fora
cerdas da escova e não dos abrasivos. do alcance do profissional e fatores como condições
*O detergente ou surfactante é uma substância de tratamento, instrução e educação do paciente
contida na fórmula e tem a função de fazer a limpeza estão ao alcance do dentista. Esses fatores precisam
da placa solta e de proporcionar a sensação ser levados em consideração ao traçar um programa
prazerosa de limpeza. A maioria dos dentifrícios de higiene oral individualizado. Além disso, a
também contém fluoreto. instrução de higiene oral deve ser oferecida durante
várias consultas para que o paciente tenha um
Efeitos colaterais da escovação
feedback imediato e consiga reforçar os seus
*A força durante a escovação está relacionada com a cuidados orais caseiros, utilizando o reforço positivo
capacidade de remover a placa, porém, caso a força como forma de incentivo.
seja excessiva, pode causar danos aos tecidos moles
e duros.
*No tecido duro, o trauma causa abrasão das
margens cervicais das superfícies dos dentes e pode
Referência:
ser causada pela dureza das escovas, ao método e à
frequência de escovação. • Tratado de periodontia clínica e implantologia
*A experiência clínica indica que a escovação dental oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução
inadequada pode causar dano superficial para os Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed. -
tecidos gengivais. Em muitos casos, a abrasão Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

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Controle químico do biofilme dental e oral
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Base racional do controle do biofilme adequada ou não manutenção dos hábitos de higiene
supragengival (efeito Hawthowne).
*Além disso, há situações em que o paciente se
*A cárie e as doenças periodontais são as doenças
encontra impossibilitado de realizar a higienização
mais prevalentes em humanos e são causadas pelas
oral, seja por cirurgia oral ou periodontal, infecções
bactérias do biofilme e, por isso, o biofilme precisa ser
dolorosas que impedem a higienização mecânica ou
controlado para prevenir essas doenças. deficiência física ou mental.
*A prevenção das doenças periodontais ocorre em
três níveis: Controle químico do biofilme
• Prevenção primária: protege os indivíduos
*Os produtos químicos devem ser adjuvantes aos
dos patógenos por meio de barreiras entre
dispositivos mecânicos, principalmente nos pacientes
eles e o hospedeiro. Tenta manter a
que não conseguem controlar o biofilme
população saudável e evitar o
supragengival apenas pelos métodos mecânicos.
desenvolvimento da doença. A prevenção
*Os produtos químicos reduzem a quantidade de
primária é baseada no controle do biofilme
biofilme e alteram a sua estrutura, permitindo uma
supragengival pelos produtos de higiene oral
ação mais efetiva das formulações químicas. Como a
mecânicos e/ou químicos, que limitam o
maioria dos produtos químicos apenas conseguem
desenvolvimento da gengivite, pois uma
agir contra as partes externas do biofilme, esses
gengiva saudável não deve desenvolver a
produtos devem ser utilizados de forma adjuvante
periodontite. Para isso, deve-se considerar
com os métodos manuais.
que:
*O mecanismo de ação do controle químico da placa
⇾ A escovação deve ser um hábito diário
pode ser por efeito quantitativo (pela redução do
de higiene.
número de microrganismos) e/ou qualitativo (pela
⇾ Deve-se considerar os fatores
alteração da vitalidade do biofilme), sendo eles:
comportamentais.
• Prevenção da adesão bacteriana.
⇾ Os métodos de limpeza devem ser
socialmente aceitos, de fácil execução • Evitar o crescimento de bactérias e/ou
diária e simples de realizar. coagregação.
⇾ A qualidade deve ser garantida por • Eliminar um biofilme já estabelecido.
métodos de controle. • Alterar a patogenicidade do biofilme.
• Prevenção secundária: limita a progressão *As formulações para o controle químico podem ser
da doença após o patógeno já ter contato com classificadas de acordo com seus efeitos:
o hospedeiro, tentando recuperar a saúde • Agentes antimicrobianos: efeito
sem causar danos ao tecido. bacteriostático ou bactericida in vitro.
• Prevenção terciária: limita a progressão da • Agentes inibidores/redutores da placa: efeito
doença, tentando restaurar os tecidos do quantitativo ou qualitativo sobre a placa que
hospedeiro, mas há determinado grau de pode ou não ser suficiente para afetar a
dano funcional. gengivite ou cárie.
*A prevenção secundária e terciária, após o bloqueio • Agentes antiplaca: capacidade de reduzir os
da progressão das doenças periodontais, ocorre pela níveis de placa ou de afetar a placa o
terapia periodontal de apoio, a qual inclui o controle suficiente para ter benefícios no controle da
individual do biofilme e a reavaliação periódica com gengivite ou cárie.
controle de placa pelo dentista. • Agentes antigengivite: capacidade de reduzir
os níveis de gengivite ou de reduzir a
Limites do controle mecânico do biofilme inflamação gengival sem necessariamente
*O controle mecânico, apesar de eficaz, não é afetar a placa dental.
suficiente sozinho para maioria da população para Características ideais dos agentes químicos
prevenir o aparecimento ou reativação das doenças
periodontais. Isso pode ocorrer pelo tempo de *Especificidade: os agentes e formulações devem
escovação inferior ao necessário para uma limpeza ter amplo espectro de ação contra bactérias, vírus e
eficaz, baixo uso de dispositivos de limpeza fungos. Os produtos específicos, como antibióticos,
interdental, falta de instrução em limpeza bucal devem ser usados apenas para a prevenção de
bacteremia em pacientes de risco e no tratamento de
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algumas condições periodontais (e não na prevenção do à sequência de avaliação:
das doenças periodontais). • Estudos in vitro: o teste bacteriano avalia a
*Eficácia: a capacidade antimicrobiana deve ser atividade microbiana de um produto pela
demonstrada contra microrganismos envolvidos na medição da concentração inibidora mínima
gengivite e periodontite em estudos in vitro e in vivo. (CIM) e da concentração bactericida mínima
*Substantividade: é a duração da ação (CBM) contra diferentes espécies bacterianas.
antimicrobiana in vivo e a medida do tempo de contato Apesar dos efeitos in vivo serem influenciados
entre o agente e o substrato de um meio definido. É por outros fatores, esse tipo de estudo é
classificada em três gerações: importante para fazer a triagem inicial ou
• Primeira geração: substantividade muito avaliação dos efeitos da adição de um novo
limitada com tempo de ação limitado. agente na formulação. Tamém é possível
Exemplos: derivados fenólicos, extratos de realizar estudos de captação que avaliam a
plantas, fluoretos, compostos de amônia adsorção dos produtos em diferentes
quaternária e agentes oxidantes. superfícies e estudos de modelos de biofilme.
• Segunda geração: boa substantividade. • Estudos in vivo: os estudos de
Exemplo: CHX, pois tem efeito antiplaca mais armazenamento avaliam a retenção de um
forte. agente na boca após uma aplicação pela
• Terceira geração: apenas os agentes que medida do nível do agente na saliva ou na
interferem ou previnem a adesão bacteriana placa dental. Os modelos de estudo do
ou do biofilme. biofilme avaliam os efeitos de diferentes
formulações sobre discos de esmalte, dentina
ou outros matérias inseridos na boca. Os
testes antimicrobianos (estudo cruzado: grupo
placebo e controle) fornecem informações
sobre a atividade antimicrobiana e a sua
duração. Os modelos de recrescimento da
placa indicam a capacidade inibidora da placa
da formulação. Os modelos de gengivite
experimental seguem o mesmo princípio do de
recrescimento.
• Ensaios clínicos de uso caseiro: a atividade
inibidora de placa e antiplaca precisa ser
demonstrada em ensaios clínicos, de uso
caseiro, a longo prazo (mínimo de 6 meses) e
ter segurança (sem efeitos colaterais
importantes). As formulações testadas são
adjuvantes ao controle mecânico da placa e o
estudo deve ser feito com uma população
representativa, ser claro, permitir comparação
e ter validade interna e externa, com, pelo
menos, duas investigações independentes em
6 meses. Além disso, precisa ser duplo-cego,
Os agentes possuem substantividades diferentes, com o tempo, controlado, ter avaliação microbiológica e
a concentração deles diminui e a concentração bacteriana amostragem microbiológica e avaliação do
aumenta. O produto A tem melhor substantividade que o B, pois
índice de placa e gengival no mínimo na
tem maior ação antimicrobiana.
primeira consulta, avaliação final e ponto
*Segurança: antes do uso em humanos, a segurança
intermediário.
deve ser demonstrada em modelos animais e os
efeitos secundários devem ser mínimos. Agentes ativos
*Estabilidade: os agentes precisam ser estáveis em
temperatura ambiente por um longo período de *Antibióticos:
tempo. Deve-se evitar mistura de ingredientes na • Penicilinas, tetraciclinas, metronidazol
formulação para não ter interferência entre as vancomicina, Canamicina e espiramicina.
moléculas. • Características: têm efeito maior pela via
sistêmica pela manutenção da estabilidade
Avaliação do controle químico do biofilme dos níveis séricos e no líquido crevicular
*Para avaliar a atividade inibidora da placa e antiplaca gengival. Quando aplicados topicamente, os
dos compostos químicos, o agente deve ser submeti- efeitos são menores, pois o tempo de ação é
limitado.
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• Avaliação: grupos diferentes têm efeito sobre *Agentes oxigenantes:
o biofilme. • Peroxiborato de sódio, peroxicarbonato de
• Limitações: o uso contra a placa não é sódio e peróxido de hidrogênio.
recomendado visto o risco-benefício, já que • Características: tem efeito antimicrobiano
tem efeitos adversos e aumenta a resistência pela liberação do oxigênio.
bacteriana. • Avaliação: o peroxiborato e peroxicarbonato
• Utilidade: não deve ser usado para controle têm alguma atividade antimicrobiana e
químico da placa. inibidora de placa. O peróxido de hidrogênio
*Enzimas: interferência no biofilme: tem benefícios significativos no índice
• Dextranase, mutanase, proteases e lipases. gengival modificado.
• Características: substantividade muito • Limitações: não há dados a longo prazo
limitada e efeitos colaterais frequentes. disponíveis para o peroxiborato e
• Avaliação: o uso in vivo é limitado pelos peroxicarbonato. Há um estudo sobre
efeitos colaterais. peroxido de hidrogênio apontando que em
• Limitações: efeitos colaterais. baixas concentrações (<1,5%) eventos
• Utilidade: nenhuma. adversos não são comuns, apenas quando
*Enzimas: melhora das defesas do hospedeiro: em concentrações mais altas, com sensação
• Glicose oxidase e amiloglicosidade. dolorosa na boca e ulceras frequentes.
• Características: os mecanismos de ação *Sais metálicos: sais de zinco:
dependem da catalização do tiocianato em • Lactato de zinco, citrato de zinco, sulfato de
hipotiocinato pelo sistema lactoperoxidase zinco e cloreto de zinco.
salivar. • Características: sem efeitos adversos em
• Avaliação: os efeitos in vivo contra a baixa concentração.
gengivite foram contraditórios e não já estudo • Avaliação: isolados têm ação limitada sobre
a longo prazo disponível. a placa, mas combinados com outros agentes
• Limitações: evidências científicas limitadas. ativos, têm melhora na substantividade e na
*Aminoálcoois: ação.
• Delmopinol e octapinol. • Limitações: não há dados isolados sobre os
• Características: o mecanismo de ação não é sais de zinco.
completamente compreendido. Não são • Utilidade: em combinação com CHX, cloreto
antimicrobianos e o efeito é alcançado pela de cetilpiridínio (CPC), triclosana, hexetidina
inibição da formação da matriz do biofilme ou etc.
pela interferência nela. O delmopinol ainda *Fluoreto estanoso:
inibe a síntese do glucano pelo Streptococcus • Características: combinação de estanho
mutans e reduz a síntese de ácido pelas com fluoreto. É difícil de formular nos
bactérias. produtos de higiene oral pela estabilidade
• Avaliação: o delmopinol foi avaliado como limitada em solução aquosa, por isso, não é
enxaguatório bucal a 0,1 e 0,2%, com eficácia comumente formulado em enxaguatórios
como agente antiplaca. Foi aprovado como orais.
enxaguatório bucal a 0,2% para o tratamento • Avaliação: pode ter benefícios significativos
da gengivite. para a gengivite.
• Limitações: coloração dentária, sensação • Limitações: coloração dental.
temporária de dormência na mucosa e *Fluoreto estanoso com fluoreto de amina:
sensação de ardor. • Características: quando combinado fluoreto
*Detergentes: estanoso com fluoreto de amina, exercem
• O surfactante mais usado é o lauril sulfato de atividade bactericida aumentada. O fluoreto
sódio (LSS). de amina tem ação antimicrobiana pelo efeito
• Avaliação: tem efeito antimicrobiano e antiglicolítico e o fluoreto estanoso/de amina
inibidor da placa limitado. tem ação maior com um dentifrício.
• Limitações: foi associado a reações de • Avaliação: o uso em enxaguatório bucal teve
hipersensibilidade oral, incluindo queilite, significativa redução de placa e gengivite.
estomatite ou ulceras aftosas, queimação e • Limitações: coloração dental.
descamação. *Outros fluoretos:
• Utilidade: é encontrado em muitos • Fluoreto de sódio e monofluorofosfato de
dentifrícios e enxaguatórios oral. Não é sódio.
formulado como agente ativo único. • Características: reduz a incidência de cárie.

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• Avaliação: o íon fluoreto não teve • Utilidade: muitas formulações com CHX
propriedade inibidora de placa ou antiplaca. estão disponíveis.
• Limitações: não foram avaliados como *Bisbiguanidas: clorexidina:
agentes individuais. • É o agente mais eficaz contra biofilmes orais
• Utilidade: presenta na maioria dos e muito formulada em enxaguatórios orais em
dentifrícios. concentração de 0,1 a 0,2%, atingindo
*Produtos naturais: dosagem de 18 a 20 mg/aplicação. A atividade
• Extrato de sanguinária e outros fitoterápicos clínica é observada com dosagens de 5 a 6mg
(camomila, sálvia, mirra, ratânia e óleo de 3 vezes ao dia e dosagens mais altas não
hortelã). aumentam o efeito, apenas os efeitos
• Avaliação: o seu uso combinado com cloreto adversos. Por causa disso, foram
de zinco como dentifrício apresentou redução comercializados enxaguatórios com
de placa e gengivite. concentrações mais baixas em 0,05%, com
• Limitações: leucoplasia oral. dosagem de 5mg por aplicação, o que é o
*Óleos essenciais: limite inferior para ter atividade clínico, sendo
• Enxaguatório oral com eucaliptol, mentol, preciso haver a combinação com outros
salicilato de metila, timol e álcool. agentes ativos para garantir a
• Características: os mecanismos de ação biodisponibilidade da CHX.
podem ser por interferência na parede celular, • Características: é ativa contra bactérias
inibição das enzimas bacterianas, extração gram-positivas e gram-negativas, fungos e
de endotoxinas derivadas de vírus, incluindo o da HIV e hepatite B. O efeito
lipopolissacarídeos de bactérias gram antimicrobiano depende da concentração, em
negativas. baixa concentração tem efeito bacteriostático
• Avaliação: apresentou efeito inibidor de e em alta, efeito bactericida. O efeito inibidor
placa e antiplaca em diferentes estudos. da placa ocorre pela interferência com a
• Limitações: os efeitos secundários são ardor adesão bacteriana e redução da formação da
e coloração dentária. Não deve ser associado película salivar. Ainda possui alta
ao álcool pelo possível risco de câncer oral. substantividade devido à liberação lenta,
*Triclosana: permitindo efeitos antimicrobianos constantes
até 12 horas.
• Agente bisfenólico, não iônico,
antibacteriano de amplo espectro. • Avaliação: os enxaguatórios orais
apresentam benefícios para os índices de
• Características: em enxaguatórios a 0,2%
placa e gengival. Os que contém óleo
tem atividade bactericida limitada, com
essencial apresentaram valores significativos
substantividade de 5 horas. Como dentifrício,
para placa, mas nenhuma diferença para
é detectada por até 8 horas na placa dental
inflamação gengival, além de poder ter
depois do uso. Pode ser formulada com
eficiência reduzida em relação à versão sem
outros agentes para melhorar a
os óleos. A formulação em dentifrício é menos
substantividade ou atividade antimicrobiana.
popular devido ao risco de inativação, mas
• Avaliação: estudos domésticos de higiene
apresenta benefícios para placa e inflamação
foram realizados para três formulações de
gengival.
dentifrícios e um de enxaguatório.
• Limitações: se for aquecida por muito tempo
• Limitações: não há efeitos colaterais
pode formar 4-cloro-anilina, que é
relevantes. Há risco de formação de um
carcinogênico e mutagênico, e, por isso, deve
produto carcinogênico (clorofórmio) na
ser comercializada em recipientes escuros,
combinação de triclosana e cloro livre
mantida longe da luz solar direta e
presente na água.
temperaturas altas. Os eventos adversos
*Bisbiguanidas:
incluem hipersensibilidade, alterações no
• Digliconato de clorexidina (CHX), di-
paladar, erosão na mucosa e manchas nos
hidrocloreto de alexidina e dicloridrato de
dentes, mucosa, dorso da língua e
octenidina.
restaurações.
• Características: moléculas simétricas com
• Utilidade: muitas formulações são
dois anéis clorofenólicos e dois grupos
comercializadas, mas é importante frisar que
biguanidas conectados por ponte central de
apenas a presença da clorexidina não garante
hexametileno.
a atividade clínica, sendo preciso passar por
• Avaliação: excelente agente antiplaca, estudos clínicos para confirmar a eficácia. A
sendo a CHX a referência. preocupação com os efeitos adversos e
• Limitações: similar em todas bisbiguanidas. presença de álcool, permitiu formulações sem
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álcool, com concentrações mais baixas ou plano. O álcool ainda pode causar desconforto
combinadas com outros agentes ativos. intraoral e abrandar a dureza do composto.
*Compostos de amônia quaternária: *Os dentifrícios são a apresentação ideal visando a
• Cloreto de benzalcônio e cloreto de prevenção, já que são usados como adjuvante para a
cetilpiridínio. escovação. Porém eles apresentam algumas
• Características: são rapidamente absorvidos desvantagens, como a formulação poder ser mais
pelas superfícies orais, com substantividade difícil, a farmacocinética ser menos previsível, não ser
de 3 a 5 horas. possível em determinadas situações clínicas que
• Avaliação: formulações de 0,05 a 0,07% impeçam a escovação (deficiência, cirurgia oral etc.)
apresentam benefícios no índice de placa e de e não alcança locais de difícil acesso, como dorso de
gengivite. língua e tonsilas.
• Limitações: a segurança foi demonstrada *Geralmente as formulações dos dentifrícios são
para formulações de 0,045 a 0,1% e os efeitos compostas por:
adversos são menos frequentes do que os da • Abrasivos: determinam a consistência do
CHX e incluem coloração dental e da língua, dentifrício e facilitam a remoção da placa e
irritação gengival e úlceras aftosas. manchas. O aumento da abrasividade,
*Hexetidina: entretanto, não aumenta a remoção da placa.
• Características: é derivado da pirimidina e Os abrasivos mais comuns são: carbonato de
tem propriedades antimicrobianas contra cálcio, alumina, fosfato dicálcico e sílica.
bactérias gram-positivas e gram-negativas e • Detergentes: o mais utilizado é o LSS, pois
fungos (Candida albicans), porém sua tem leve ação antimicrobiana.
retenção oral é limitada e a atividade • Espessantes: influenciam na viscosidade da
antimicrobiana dura apenas até 90 minutos. pasta de dentes, são eles a sílica e gomas.
• Avaliação: os resultados in vitro sugerem • Adoçantes: sacarina sódica.
atividade bactericida, mas os resultados in • Umectantes: previnem o secamento da
vivo não demonstraram atividade inibidora de pasta. Os mais usados são glicerina e sorbitol.
placa. • Aromatizantes: hortelã e morango.
• Limitações: coloração dental, erosão da • Agentes corantes.
mucosa e tumefação da glândula parótida. • Agentes ativos: fluoretos, triclosana, CHX,
*Iodopovidona: CPC, agentes anticálculo, produtos
• Combinação do iodo com o polímero sintético branqueadores e agentes dessensibilizantes.
povidona. *Os géis não possuem abrasivos ou detergentes e os
• Características: a 1% tem substantividade agentes ativos são formulados mais facilmente do que
por apenas 1 hora. nos dentifrícios, porém ainda apresenta
• Avaliação: tem substantividade limitada, o desvantagens similares. Existem géis de CHX em
que leva à ação inibidora de placa muito diferentes concentrações para utilizar na escovação
limitada. Quando combinado com o peróxido ou em moldeiras, apresentando redução nos níveis de
de hidrogênio a 1,5%, teve ação na gengivite. placa e inflamação. Ainda pode ser usado para
• Limitações: sem efeitos colaterais relevantes, prevenção de alveolite após extração dentária e
mas pode afetar a função da tireoide. desinfecção de boca toda.
*A CHX pode ser formulada em gomas de mascar
Apresentações para uso adjunto ou substituto a curto prazo do
*Os enxaguatórios orais são muito utilizados para o controle mecânico da placa, apresentando redução
controle químico da placa devido as suas vantagens, nos níveis de placa e inflamação gengival.
como a farmacocinética favorável, sendo mais fácil *Os vernizes de CHX são usados na prevenção da
atingir a dosagem efetiva, o uso independente da cárie radicular e formulações em pastilhas de CPC e
escovação dentária, o acesso a áreas de difícil CHX apresentam redução da placa e gengivite,
alcance (como as tonsilas pelo gargarejo) e por ser apesar de ser menos eficaz que o enxaguatório.
fácil de usar e ser bem aceito pelos pacientes. *Os agentes podem ser usados com irrigação,
*Um dos estabilizantes dos enxaguatórios mais obtendo algum efeito sobre a inflamação gengival,
usados é o álcool, porém há controvérsia sobre seu mas não sobre a placa. Os sprays (aerossóis) podem
uso, já que estudos o associam ao câncer de ser aplicados exatamente onde é necessário para
orofaringe. Além disso, o álcool não é recomendado prevenir o biofilme e têm eficiência similar ao
nos enxaguatórios para crianças, pelo risco de enxaguatório oral, porém possui as mesmas
toxicidade sistêmica, para etilistas e pacientes com desvantagens. A CHX ainda pode ser formulada em
condições que afetem a mucosa, como o líquen dispositivos de liberação constante, como chips,
géis e gel xantana.

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Indicações clínicas para o controle químico
*A depender da duração do uso do produto e do
objetivo principal da intervenção, é preciso considerar
as diferentes situações clínicas para indicar o tipo de
agente, podendo ser de uso único, a curto prazo ou a
longo prazo.
*Uso único: é recomendado para diferentes
objetivos, como diminuir a carga bacteriana, diminuir
o risco de bacteremia (porém as lavagens tópicas
antissépticas não aparentam ser efetivas, já que não
penetram além de 3mm na bolsa periodontal) e
diminuir o risco de infecção da área cirúrgica.
*Uso a curto prazo: pode ser recomendado para
prevenir a formação do biofilme dental (na
impossibilidade de controle mecânico), depois de
raspagem e alisamento radicular ou cirurgia
periodontal, prevenção de infecção pós-cirúrgica,
pacientes com fixação intermaxilar (impossibilidade
de higiene mecânica) e pacientes com infecção na
mucosa ou gengival aguda (a dor impede a higiene
mecânica).
*Uso a curto prazo para terapia: geralmente é
utilizada a clorexidina para terapia de gengivite
necrosante (juntamente com o desbridamento
mecânico), de candidíase (em combinação com
agentes antifúngicos), de mucosite peri-implante,
para peri-implantite (a terapia adjuvante tem efeitos
limitados), da periodontite.
*Uso a longo prazo para a prevenção da formação
do biofilme dental: em pacientes com aparelho
ortodôntico fixos ou removíveis, pacientes com
deficiência, em pacientes com crescimento excessivo
ou aumento gengival, pacientes com periodontite
(juntamente com terapia de apoio), em pacientes com
implantes dentários e para controle de biofilme na
população geral.
*Uso a longo prazo para prevenção de outras
condições orais: indicado para pacientes
predispostos com alto risco de sofrerem infecções
orais, prevenção de mucosite oral associada à
radiação ou quimioterapia em pacientes com câncer
de cabeça e pescoço (não há consenso na literatura),
prevenção da cárie, prevenção de candidíase em
pacientes com doenças sistêmicas e prótese
dentária, prevenção de úlceras aftosas recorrentes e
para terapia e prevenção secundária da halitose
(juntamente com escovação da língua).

Referência:

• Tratado de periodontia clínica e implantologia


oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução
Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed. -
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

Periodontia Larissa Albuquerque


Etiopatogenia das doenças periodontais
Periodontia – UFPE

Doenças periodontais Patogenicidade do biofilme


*A gengivite é uma condição inflamatória restrita aos *O biofilme é considerado patogênico devido a sua
tecidos moles que circundam os dentes que se natureza física de proteção às bactérias por uma
desenvolve em reposta ao acúmulo de biofilme na matriz polimérica, a sua localização, quantidade (a
superfície dentária. É uma doença reversível com o sua alta quantidade impede a retirada total por meio
tratamento. da escovação), pela capacidade de invasão
*Já a periodontite é uma doença desencadeada por tecidual e fatores de virulência. (característica que
um biofilme dental disbiótico que resulta em torna o microrganismo capaz de causar uma doença).
inflamação e destruição das estruturas de suporte dos *Os fatores de virulência podem ser de destruição
dentes, levando a sua perda de inserção progressiva. direta, por meio de enzimas e ácidos, ou por
O tratamento consegue eliminar a infecção bucal, interferência na resposta imune, por LPS, gingipains
mas as suas consequências são permanentes. e leucotoxina do AA.
*Toda periodontite é precedida por uma gengivite,
Formação do biofilme
mas nem toda gengivite progride para uma
periodontite, mesmo que não haja tratamento *Tem início com a deposição da película adquirida,
adequado. que é um filme orgânico acelular e é formada poucos
minutos após a higiene oral. A película adquirida tem
Etiopatogenia da doença periodontal
como função proteger o dente da ação de ácidos.
*O processo tem início com o acúmulo de biofilme, *Em seguida, ocorre a colonização inicial pelas
que contém bactérias que secretam substâncias adesinas das bactérias S. sanguis e A. viscosus que
solúveis que penetram no tecido gengival e provocam se ligam à película adquirida.
uma resposta imune, manifestando-se como uma *A etapa de acumulação e coagregação ocorre com
inflamação gengival crônica, causando alterações a proliferação de colonizadores iniciais e produção de
ambientais (edemaciamento da gengiva) que levam matriz extracelular com agregação de colonizadores
à disbiose do biofilme, desencadeando uma intermediários e tardios, tornando o ambiente cada
inflamação excessiva e descontrolada, resultando vez mais anaeróbico. É nesta fase que o biofilme
na periodontite. O acúmulo de biofilme e a resposta começa a ter capacidade de provocar alterações
imune podem ser influenciados por fatores etiológicos teciduais.
secundários, locais e gerais. *A fase de dispersão é caracterizada pela liberação
de bactérias/agregados celulares do biofilme. O
Disbiose
biofilme passa por um controle mecânico, nutricional
*É o rompimento da homeostase microbiológica do e genético e é visto como uma estratégia de
biofilme em que atividades funcionais ou metabólicas sobrevivência (limitação de nutrientes) e
passam a sofrer maior influência de certos grupos disseminação (popular outras regiões na cavidade
bacterianos patogênicos. oral).
*As espécies bacterianas mais envolvidas nesse Biofilme associado à gengivite
processo são a T. denticula e, principalmente, a P.
gingivalis. Mesmo não causando diretamente dano *É visualizado junto à margem gengival (coronário),
periodontal, elas podem mobilizar outras bactérias com proporções iguais de GRAM+ e GRAM- e
que tenham essa capacidade e, por isso, são infecção polibacteriana inespecífica.
chamadas de espécies chaves.
Biofilme associado à periodontite
*A disbiose não é exclusiva da doença periodontal,
podendo estar associada a outras doenças, como a *O biofilme é mais observado na região
doença de Crohn, vaginose, psoríase. Em todas subgengival/radicular e tem aumento significativo de
essas doenças, a disbiose causa uma resposta imune microrganismos anaeróbios.
não eficaz, descontrolada e destrutiva.
Mecanismos de defesa do periodonto
Associação biofilme e gengivite
*Os mecanismos de defesa incluem a barreira
*Estudos longitudinais observaram que a gengivite epitelial, os mecanismos salivares (ação física e
pode ser induzida suspendendo-se medidas de agentes antimicrobianos) e, principalmente, a
higiene oral e que o controle de placa previne resposta imune.
gengivite ou restabelece saúde periodontal.
Larissa Albuquerque
Resposta imune inata inespecífica maior, ocorrendo o aumento de macrófagos e
predominância de linfócitos T. Os eventos de
*É a primeira linha de defesa, com resposta rápida e
inflamação aguda continuam e ocorre lesão de
inespecífica, sendo os principais agentes efetores os
colágeno e proliferação de cristas epiteliais. Ainda
neutrófilos, macrófagos, células residentes não
aparecem os primeiros sinais clínicos, com
profissionais, sistema complemento e citocinas.
inflamação (sangramento à sondagem, seguido por
*Tem a função de diluir, isolar e, se possível, eliminar
vermelhidão e edema).
agentes agressores.
*Gengivite estabelecida (semana 3): ocorre
*Na doença periodontal, essa resposta é muito
aumento do infiltrado, com predominância de
observada no ambiente do sulco, epitélio juncional e
linfócitos B ou plasmócitos com produção de
adjacências.
anticorpos. Ocorre o aumento da profundidade do
*Tem eficácia limitada, pois se não houver a remoção
sulco e extensão subgengival do biofilme (ainda não
do biofilme a resposta imune inata não consegue
se classifica como bolsa periodontal, pois é causado
impedir a gengivite ou periodontite.
pelo edema). Também há o aumento de destruição de
Resposta imune adquirida específica colágeno, mas sem perda de inserção ou migração
apical do epitélio juncional. Os sinais clínicos de
*É a segunda linha de defesa e é específica para os inflamação são mais exacerbados.
patógenos presentes, podendo ser celular ou *Periodontite (+/- 6 meses): ocorre um infiltrado mais
humoral, ao ser estimulada com penetração de extenso, porém de composição similar à gengivite
agentes patogênicos no tecido conjuntivo. estabelecida, e produção intensa de anticorpos e
*Os seus principais componentes são os linfócitos T, mediadores inflamatórios. Ocorre a perda de
linfócitos B ou plasmócitos, anticorpos, células inserção, migração apical do epitélio juncional,
apresentadoras de antígenos (APCs), citocinas e destruição do ligamento periodontal e do osso. Há
mecanismos da resposta inespecífica. maior entrada de produtos bacterianos. Clinicamente,
*O seu grau de proteção ainda não é claro, mas é visualizada bolsa periodontal (com ou sem
aparenta estar presente quando há destruição do recessão) e radiograficamente, perda óssea.
periodonto.
Padrão de progressão da periodontite
Resposta imune e destruição periodontal
*Após adquirir a doença, ocorrem longos períodos em
*A doença periodontal parece ocorrer quando há que não há destruição tecidual seguidos de períodos
resposta imune desregulada e o dano tecidual mais de destruição intensa.
intenso parece estar associado à resposta imune
específica, isso ocorre principalmente por mediadores Fatores contribuintes
produzidos em excesso.
*Fatores locais: são fatores que favorecem o
Agentes de destruição acúmulo de biofilme por dificultarem a higienização, a
diminuição de fluxo salivar e forças oclusais
*Causam destruição quando produzidos em excesso: inadequada. São eles:
• Citocinas: IL-1, IL-6, IL-8, TNF-alfa, IFN- • Cálculo dental: ele é o mais frequente e não
gama e RANKL. provoca diretamente inflamação gengival,
• Enzimas proteolíticas: metaloproteinases. atuando apenas como fator retentor de
• Prostaglandinas. biofilme. Além disso, sempre possui biofilme
não mineralizado presente na superfície.
Resolução da inflamação
• Lesões cariosas: é um fator retentor de
*É um processo ativo, mediado por substâncias biofilme.
(resolvinas, lipoxinas, protectinas, maresinas), com a • Fatores anatômicos: apinhamentos
ação de interrupção de recrutamento neutrófilico, dentários, concavidades radiculares, pérola
estímulo à retirada de tecido necrótico, ações de esmalte, inserção alta do freio labial e
antibacterianas e promoção de reparo. sulcos palatinos de desenvolvimento.
• Fatores iatrogênicos: restaurações em
Progressão das doenças periodontais
excesso, aparelhos ortodônticos, coroa com
*Lesão inicial (semana 1): a gengiva libera sobrecontorno e margem da restauração
mediadores inflamatórios e causa o aumento da muito próxima à crista óssea.
permeabilidade vascular, levando ao aumento do • Hipofunção salivar: maior tendência à
fluido gengival, de neutrófilos e poucos macrófagos. acúmulo de biofilme.
Ainda ocorre o aumento das células inflamatórias e • Forças oclusais excessivas: não causam
ocorrências subclínicas. diretamente gengivite ou periodontite, mas
*Lesão precoce (semana 2): ocorre maior pode acelerar a destruição tecidual em
quantidade de biofilme, e o infiltrado ocupa uma área
Periodontia Larissa Albuquerque
pacientes que já apresentem essas • Outras condições que ainda não estão bem
condições. estabelecidas: estresse crônico,
*Fatores gerais ou sistêmicos: trombocitopenia, agranulocitose, neutropenia,
• Alterações hormonais: ocorrem osteopenia/osteoporose, obesidade/síndrome
principalmente na puberdade, gravidez e metabólica, hipertensão, doenças, defeitos e
menopausa pela alteração nos hormônios polimorfismos genéticos, condição socio-
estrogênio, progesterona e testosterona. A econômica e determinantes não modificáveis.
etiologia é o aumento da sensibilidade a
irritantes locais (biofilme) e alteração do perfil
microbiológico intensificando a resposta
imune. Isso leva às possíveis manifestações
de gengivite severa e granuloma piogênico
gravídico.
• Medicamentos: podem ser classificados em
medicamentos que causam crescimentos
gengivais, como a fenitoína, nifedipina e
ciclosporina, e que causam aumento de
severidade da gengivite, como
contraceptivos orais, ansiolíticos,
antidepressivos e anti-hipertensivos.
• Tabagismo: pacientes tabagistas apresentam
risco aumentado para periodontite e
destruição mais severa, apresentam resposta
menos favorável ao tratamento e ao cessar o
uso, há redução progressiva do risco.
Possíveis mecanismos de ação:
⇾ Redução na resposta do hospedeiro.
⇾ Alteração do perfil da microflora.
⇾ Alteração do metabolismo ósseo e do
colágeno.
• Diabetes: é observado inflamação mais
intensa, maior prevalência e severidade de
gengivite e periodontite. As manifestações
irão depender do nível de descontrole do
diabete. Possíveis mecanismos de ação:
⇾ Aumento da secreção de citocinas pró-
inflamatórias.
⇾ Alterações no metabolismo do
colágeno e tecidos mineralizados.
⇾ Produção de PMNs e anticorpos
defeituosos.
• Leucemia: os pacientes podem apresentar
gengivite associada à leucemia que ocorre por
trombocitopenia ou crescimento gengival que
ocorre pela infiltração de leucócitos imaturos.
• HIV/AIDS: esses pacientes apresentam
imunidade celular reduzida e as formas de
manifestações clínicas são eritema gengival
linear, periodontite necrosante e periodontite
severa. As manifestações são associadas ao
grau de imunossupressão.
• Síndrome de Down: esses pacientes, além Referência:
da trissomia do cromossomo 21, apresentam
função neutrofílica anormal. As características • Tratado de periodontia clínica e implantologia
clínicas são xerostomia, índice de placa oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução
elevada, inflamação severa e bolsas Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed. -
periodontais profundas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

Periodontia Larissa Albuquerque


Instrumentos periodontais
Periodontia – UFPE

Exame clínico periodontal • Sonda Carolina do Norte: é usada para o


exame periodontal detalhado, que identifica
*Espelho bucal ou odontoscópio: visualização das
ausência ou presença de doença periodontal
estruturas bucais.
e mede a profundidade do sulco gengival ou
*Pinça clínica: apreensão de materiais.
bolsa periodontal e o nível de inserção clínica.
*Sonda exploradora (nº 17): localização de
Mede até 15mm, com intervalos de 1mm.
depósitos de cálculos e cáries e verificação da lisura
da superfície radicular.

*Sondas periodontais: utilizadas para localizar,


medir e determinar a forma de bolsas periodontais. É
um instrumento afilado, de forma cilíndrica calibrado
em milímetros, com ponta redonda e cega. • Sonda Nabers: é usada para identificar e
• Sonda OMS ou WHO: é usada para o exame classificar lesão de furca e mede a
periodontal simplificado, que identifica a profundidade horizontal da lesão. Mede até
ausência ou presença de bolsas e categoriza 10mm e não apresenta as marcas de 4 e
a gravidade da doença. A sonda tem 6mm.
marcações milimetradas e a sua extremidade
possui uma circunferência de 0,5mm de
diâmetro. Preferencialmente deve ser fina e
com haste angulada para permitir a inserção
na bolsa.

Na disciplina de periodontia são utilizadas as sondas


OMS + Carolina do Norte ou Williams + Nabers.

Terapia básica periodontal


*É feita com instrumentos para raspagem e
alisamento corono-radicular, sendo eles as foices,
curetas, enxadas, limas e cinzéis e instrumentos
sônicos e ultrassônicos, que são utilizados para
• Sonda Williams: é usada para o exame remoção da placa e cálculo e para curetagem do
periodontal detalhado, que identifica tecido mole da bolsa periodontal.
ausência ou presença de doença periodontal *Foice: é utilizada para remoção de cálculo
e mede a profundidade do sulco gengival ou supragengival. Possui superfície plana e bordas
bolsa periodontal e o nível de inserção clínica. cortantes que convergem em uma ponta aguda e
Não tem as marcas de 4 e 6mm. afiada. Como suas margens são cortantes e devido
ao seu tamanho, não é recomendada para remoção
de cálculo subgengival.

Larissa Albuquerque
• Foice McCall 1-10: é usada para remoção de ⇾ Cureta Gracey 5-6: é utilizada para
cálculo supragengival na interproximal de remoção de cálculo supra e
dentes anteriores. subgengival nas faces dos dentes
anteriores e pré-molares.

• Foice McCall 11-12: é usada para remoção


de cálculo supragengival na interproximal de ⇾ Cureta Gracey 7-8: é utilizada para
dentes posteriores. Possui haste curva, dessa remoção de cálculo supra e
forma, a haste, cabo e extremidade ativa estão subgengival nas faces livres dos
em planos diferentes. dentes posteriores.

⇾ Cureta Gracey 11-12: é utilizada para


*Cureta: é utilizada para remover calculo
remoção de cálculo supra e
supragengival e subgengival, alisamento radicular e
subgengival nas faces mesiais dos
curetagem do tecido mole da bolsa periodontal. A
dentes posteriores.
extremidade ativa possui borda cortante em ambos os
lados da lâmina e ponta arredondada, por isso, é mais
delicada que as foices e pode ser utilizada para ⇾ Cureta Gracey 13-14: é utilizada para
remoção de cálculo subgengival. remoção de cálculo supra e
subgengival nas faces distais dos
dentes posteriores.

*Cinzel: é utilizado em superfícies proximais


de dentes muito próximos que apresentem
dificuldade ao uso de outros instrumentos. É
Pode ser universal, quando apresentam angulação um instrumental retilíneo com extremidade
de 90º, com bordas cortantes e lâmina curva e final da ponta ativa biselada em 45º.
perpendicular em relação à haste, permitindo o uso
em qualquer região da arcada, ou específicas,
quando permite o acesso a uma área específica, com *Enxada: é utilizada para remoção de grandes
angulação da lâmina entre 60 e 70º. massas de cálculo e é manuseada com movimentos
de tração. A lâmina apresenta inclinação de 99º e a
ponta ativa é biselada em 45º.

*Lima: é utilizada para fragmentar o cálculo e possui


uma série de lâminas numa base. Não é adequada
para raspagem delicada e alisamento radicular.

• Cureta McCall 13-14: é utilizada para


remoção de cálculo supragengival em todas
as faces dos dentes anteriores.
*Instrumentos sônicos e ultrassônicos: fazem a
• Cureta McCall 17-18: é utilizada para remoção de placa, cálculo e manchas.
remoção de cálculo supragengival em todas
Ergonomia
as faces de todos os dentes.
*A posição correta de trabalho fornece acessibilidade
máxima à área da operação, sendo necessária para
• Curetas Gracey: são os instrumentais mais
permitir a instrumentação completa e eficiência
indicados para raspagem e alisamento
máxima, evitando o cansaço prematuro do operador.
subgengival, devido a sua melhor adaptação à
*Para isso, o profissional deve estar sentado em um
complexa anatomia radicular.
mocho confortável, com as plantas dos pés
Periodontia Larissa Albuquerque
totalmente apoiadas no solo e com as coxas paralelas Estabilização do instrumento
ao solo. As coxas deverão ficar levemente afastadas
*A estabilidade é obtida pela empunhadura do
(equivalente à largura dos ombros) e as nádegas em
instrumento e do apoio digital.
posição mais posterior possível no mocho e a coluna
*A empunhadura adequada é necessária para o
ao encosto, que deve ser regulado na altura da cintura
controle preciso dos movimentos durante a
para permitir a curvatura natural da região lombar.
instrumentação. A mais eficaz é a empunhadura de
*Os antebraços e braços devem estar com angulação
caneta modificada, que consiste em usar o polegar,
entre 60º e 90º, com os cotovelos levemente
dedo indicador e médio para segurar o instrumento
afastados do corpo ou apoiados no encosto da
como se fosse uma caneta, porém o dedo médio é
cadeira. As mãos devem ficar com uma leve
posicionado para que o lado da polpa do dedo
inclinação em relação ao chão para facilitar o apoio e
próximo à unha seja repousado na haste do
manuseio dos instrumentos.
instrumento. O dedo indicador é posicionado acima
*A observação do campo operatória deve ser possível
do dedo médio no mesmo lado da mão e a polpa do
com a coluna reta e cabeça ereta ou com leve
polegar é posicionada no meio do caminho entre o
inclinação para frente, permitindo a distância de 25 a
médio e indicador, no lado oposto da mão, criando um
30cm da boca do paciente.
triangulo de forças que impede a tendência de rotação
do instrumental durante a raspagem.

*O paciente deve estar em posição supina (com a *O apoio digital estabiliza a mão e o instrumento,
cadeira entre 160º a 180º) e posicionada com a boca garantindo firmeza aos movimentos de ativação do
próxima ao apoio de cotovelo do profissional. Para instrumental, evitando lesões e laceração de gengiva
instrumentação da arcada superior, o paciente deve e tecidos circunjacentes. O dedo anelar é o preferido
estar com o queixo levemente elevado e para para o apoio digital. Tipos de apoio digital intraoral:
instrumentação da arcada inferior, com o queixo • Convencional: o apoio digital é feito nas
abaixado até que a mandíbula esteja paralela ao solo. superfícies dentárias imediatamente
adjacente à área de trabalho.

Visibilidade, iluminação e afastamento


*É desejável que seja utilizada a visão direta com a • Arco cruzado: o apoio digital é feito nas
iluminação direta, mas, caso não seja possível, deve- superfícies dentárias no lado oposto do
se utilizar a visão indireta por meio do odontoscópio e mesmo arco.
a iluminação indireta obtida pela reflexão do espelho
para iluminar a área de interesse.
*O afastamento dos tecidos fornece visibilidade,
acessibilidade e iluminação. Para isso, podem ser
utilizados o espelho para afastar bochechas e língua
e o dedo indicador da mão não operatória para afastar
lábios e bochechas. Os métodos de afastamento
podem ser combinados de acordo com a preferência
do operador.

Periodontia Larissa Albuquerque


• Arco oposto: o apoio digital é feito nas Movimentos de raspagem
superfícies dentárias no arco oposto.
*São movimentos curtos, de puxar com força e
usados com instrumentais laminados para remoção
de calculo supragengival e subgengival. O movimento
é iniciado no antebraço e transmitido do punho para a
mão com leve flexão dos dedos. A rotação do pulso é
sincronizada com o movimento do antebraço.
*Tipos de movimentos:
• Vertical: movimento de apical para
incisal/oclusal. É utilizado principalmente em
dentes anteriores.
• Dedo no dedo: o apoio digital é feito no dedo
indicador ou polegar da mão não operatória.

• Oblíquo: é feito da distal para mesial em


sentido diagonal no dente. É utilizado em
dentes posteriores.

*O apoio ainda pode ser extraoral, sendo necessário


para instrumentação de parte dos dentes posteriores
superiores, permitindo ótimo acesso e angulação.
Nesse apoio, as superfícies dos dedos são colocadas • Horizontal: movimento de sentido distal para
na face do paciente para garantir a estabilidade. São mesial de forma retilínea. É usado
eles: principalmente quando não é possível utilizar
• Palma para cima: é feito com o repouso do os outros movimentos.
dorso dos dedos médio e anular na pele que
reveste a lateral da mandíbula no lado direito
da face.

Organização da mesa clínica


1. Kit clínico:
a. Odontoscópio;
b. Sonda nº 5;
c. Pinça;
• Palma para baixo: é feito com o repouso das 2. Sondas periodontais:
superfícies anteriores dos dedos médio e a. Sonda OMS;
anular na pele que reveste a lateral da b. Sonda Williams ou Carolina do Norte;
mandíbula no lado esquerdo da face. c. Sonda Nabers;
3. Foice e cureta universal:
a. Foice 1-10: proximal de dentes
anteriores.
b. Foice 11/12: proximal de dentes
posteriores;
c. McCall 13/14: todas as faces de
dentes anteriores;
d. McCall 17/18: todas as faces de
dentes posteriores;
4. Curetas Gracey:

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a. 5-6: todas as faces de dentes
anteriores;
b. 7/8: todas as faces de dentes
posteriores;
c. 11/12: faces mesiais dos dentes
posteriores;
d. 13/14: faces distais de dentes
posteriores.

Referências:
• Carranza FA, Newman MG, Takei HH,
Klokkevold PR. Periodontia Clínica. 11. ed.
Rio de Janeiro: Saunders Elsevier; 2012.
• Júnior CA, Pombo LM, Barbosa MSM.
Periodontia: Roteiro de Aulas Práticas em
Laboratório. Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal de Alagoas; 2018.
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Instrumentos periodontais
Periodontia – UFPE

Exame clínico periodontal • Sonda Carolina do Norte: é usada para o


exame periodontal detalhado, que identifica
*Espelho bucal ou odontoscópio: visualização das
ausência ou presença de doença periodontal
estruturas bucais.
e mede a profundidade do sulco gengival ou
*Pinça clínica: apreensão de materiais.
bolsa periodontal e o nível de inserção clínica.
*Sonda exploradora (nº 17): localização de
Mede até 15mm, com intervalos de 1mm.
depósitos de cálculos e cáries e verificação da lisura
da superfície radicular.

*Sondas periodontais: utilizadas para localizar,


medir e determinar a forma de bolsas periodontais. É
um instrumento afilado, de forma cilíndrica calibrado
em milímetros, com ponta redonda e cega. • Sonda Nabers: é usada para identificar e
• Sonda OMS ou WHO: é usada para o exame classificar lesão de furca e mede a
periodontal simplificado, que identifica a profundidade horizontal da lesão. Mede até
ausência ou presença de bolsas e categoriza 10mm e não apresenta as marcas de 4 e
a gravidade da doença. A sonda tem 6mm.
marcações milimetradas e a sua extremidade
possui uma circunferência de 0,5mm de
diâmetro. Preferencialmente deve ser fina e
com haste angulada para permitir a inserção
na bolsa.
Na disciplina de periodontia são utilizadas as sondas
OMS + Carolina do Norte ou Williams + Nabers.

Terapia básica periodontal


*É feita com instrumentos para raspagem e
alisamento corono-radicular, sendo eles as foices,
curetas, enxadas, limas e cinzéis e instrumentos
sônicos e ultrassônicos, que são utilizados para
• Sonda Williams: é usada para o exame remoção da placa e cálculo e para curetagem do
periodontal detalhado, que identifica tecido mole da bolsa periodontal.
ausência ou presença de doença periodontal *Foice: é utilizada para remoção de cálculo
e mede a profundidade do sulco gengival ou supragengival. Possui superfície plana e bordas
bolsa periodontal e o nível de inserção clínica. cortantes que convergem em uma ponta aguda e
Não tem as marcas de a e 6mm. afiada. Como suas margens são cortantes e devido
ao seu tamanho, não é recomendada para remoção
de cálculo subgengival.

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• Foice McCall 1-10: é usada para remoção de ⇾ Cureta Gracey 5-6: é utilizada para
cálculo supragengival na interproximal de remoção de cálculo supra e
dentes anteriores. subgengival nas faces dos dentes
anteriores e pré-molares.

• Foice McCall 11-12: é usada para remoção


de cálculo supragengival na interproximal de ⇾ Cureta Gracey 7-8: é utilizada para
dentes posteriores. Possui haste curva, dessa remoção de cálculo supra e
forma, a haste, cabo e extremidade ativa estão subgengival nas faces livres dos
em planos diferentes. dentes posteriores.

⇾ Cureta Gracey 11-12: é utilizada para


*Cureta: é utilizada para remover calculo
remoção de cálculo supra e
supragengival e subgengival, alisamento radicular e
subgengival nas faces mesiais dos
curetagem do tecido mole da bolsa periodontal. A
dentes posteriores.
extremidade ativa possui borda cortante em ambos os
lados da lâmina e ponta arredondada, por isso, é mais
delicada que as foices e pode ser utilizada para ⇾ Cureta Gracey 13-14: é utilizada para
remoção de cálculo subgengival. remoção de cálculo supra e
subgengival nas faces distais dos
dentes posteriores.

*Cinzel: é utilizado em superfícies proximais


de dentes muito próximos que apresentem
dificuldade ao uso de outros instrumentos. É
Pode ser universal, quando apresentam angulação um instrumental retilíneo com extremidade
de 90º, com bordas cortantes e lâmina curva e final da ponta ativa biselada em 45º.
perpendicular em relação à haste, permitindo o uso
em qualquer região da arcada, ou específicas,
quando permite o acesso a uma área específica, com *Enxada: é utilizada para remoção de grandes
angulação da lâmina entre 60 e 70º. massas de cálculo e é manuseada com movimentos
de tração. A lâmina apresenta inclinação de 99º e a
ponta ativa é biselada em 45º.

*Lima: é utilizada para fragmentar o cálculo e possui


uma série de lâminas numa base. Não é adequada
para raspagem delicada e alisamento radicular.

• Cureta McCall 13-14: é utilizada para


remoção de calculo supragengival em todas
as faces dos dentes anteriores.
*Instrumentos sônicos e ultrassônicos: fazem a
• Cureta McCall 17-18: é utilizada para remoção de placa, cálculo e manchas.
remoção de cálculo supragengival em todas
Referências:
as faces de todos os dentes.
• Carranza FA, Newman MG, Takei HH, Klokkevold
PR. Periodontia Clínica. 11. ed. Rio de Janeiro:
• Curetas Gracey: são os instrumentais mais Saunders Elsevier; 2012.
indicados para raspagem e alisamento • Júnior CA, Pombo LM, Barbosa MSM. Periodontia:
Roteiro de Aulas Práticas em Laboratório.
subgengival, devido a sua melhor adaptação à
Faculdade de Odontologia da Universidade
complexa anatomia radicular.
Federal de Alagoas; 2018.
Periodontia Larissa Albuquerque
Classificação das doenças periodontais
Periodontia – UFPE

*A classificação das doenças e condições controle dos fatores modificadores. É o resultado do


periodontais e periimplantares se faz necessária aos sucesso da terapia periodontal.
clínicos para diagnosticar e fazer o plano de
tratamento adequado aos pacientes, assim como
para auxiliar pesquisadores na investigação da
etiologia, patogênese, história natural e tratamento
das doenças e condições.
*Essa classificação é dividida em três subgrupos:
• Saúde periodontal, doenças e condições *Controle ou remissão da doença periodontal: em
gengivais: um periodonto reduzido (que já teve periodontite e
⇾ Saúde periodontal e gengival; perda de inserção clínica), observa-se a diminuição
⇾ Gengivite induzida por biofilme dental; significante da inflamação mínima, melhora dos
⇾ Doenças gengivais não induzidas por parâmetros clínicos e estabilização da progressão da
biofilme dental. doença, porém sem controle dos fatores
• Periodontite: modificadores.
⇾ Doenças periodontais necrosantes;
Gengivite induzida pelo biofilme dental
⇾ Periodontite;
⇾ Periodontite como manifestação de *Exibe padrões variáveis de sinais e sintomas de
doenças sistêmicas. inflamação que são localizados na gengiva e se
• Outras condições que afetam o periodonto: iniciam em decorrência do acúmulo de biofilme
⇾ Doenças ou condições sistêmicas que microbiano sobre os dentes. Pode ser associada
afetam os tecidos periodontais de apenas com biofilme dental bacteriano, com
suporte; fatores modificadores potenciais ou pelo aumento
⇾ Abscessos periodontais e lesões gengival influenciado por drogas.
endodôntico-periodontais;
⇾ Forças oclusais traumáticas;
⇾ Fatores relacionados a dentes e
próteses.
Saúde periodontal, doenças e outras condições
Saúde periodontal e gengival
*Saúde periodontal plena: total ausência de
inflamação clínica e vigilância imune fisiológica em Gengivite associada apenas com biofilme dental bacteriano
generalizada e severa, pois não foi relatado fatores modificantes
um periodonto com suporte normal (ausência de além do biofilme e há a alteração de cor e textura da gengiva, com
perda óssea ou de inserção). Não é observada edema e eritema, ainda apresenta sangramento gengival
clinicamente. espontâneo.
*Saúde periodontal clínica: ausência ou níveis *Geralmente, apresenta sinais e sintomas limitados à
mínimos de inflamação clínica em um periodonto com gengiva e a doença tem início pela presença de placa.
suporte normal. Os sinais clínicos da inflamação incluem edema
(aumento do contorno gengival), eritema
(vermelhidão), sangramento a estímulo e halitose.
*Usualmente, não há evidência de perda das
estruturas de suporte e é reversível após a remoção
do fator etiológico (biofilme).
*É um possível precursor para perda de inserção
Periodonto em estado de saúde clínica. Na sondagem não é clínica, sendo preciso realizar o tratamento precoce.
observado sangramento gengival, edema ou características
inflamatórias. Gengivite associada apenas ao biofilme
*Estabilidade da doença periodontal: em um
periodonto reduzido (que já apresentou reabsorção *Classificação da gengivite:
óssea e perda de inserção clínica), observa-se • Com relação à extensão:
inflamação mínima, ótima resposta terapêutica e ⇾ Localizada: <30% dos dentes;

Larissa Albuquerque
⇾ Generalizada: >30% dos dentes. Doenças gengivais não induzidas por biofilme
• Com relação à severidade:
*A gengiva humana pode exibir diversas lesões não
⇾ Leve: quando há mudanças discretas
induzidas por placa. Essas lesões podem representar
de cor e textura;
manifestações de condições sistêmicas, bem como
⇾ Moderada: área com eritema, edema,
mudanças patológicas limitadas aos tecidos
aumento gengival e sangramento à
gengivais.
sondagem;
*O curso clínico das lesões não induzidas por placa
⇾ Severa: eritema e edema severos e
pode ser impactado pelo seu acúmulo e consequente
sangramento ao toque.
inflamação gengival.
Gengivite com fatores modificadores potenciais *Essas alterações gengivais podem ser causadas por
desordens genéticas ou de desenvolvimento, por
*Pode estar associada a condições sistêmicas, infecções específicas, condições e lesões
como hormônios sexuais (puberdade, ciclo menstrual, inflamatórias e imunes, processos reativos,
gravidez e contraceptivos orais), hiperglicemia, neoplasias, doenças endócrinas, nutricionais e
leucemia, tabagismo e má nutrição ou a outros metabólicas, lesões traumáticas e pigmentação
fatores que aumentam o acúmulo de placa, como gengival.
a margem subgengival de restaurações com *Desordens genéticas ou de desenvolvimento:
sobrecontorno e hipossalivação. • Fibromatose gengival hereditária: é uma
doença rara, relacionada à mutação genética.
Clinicamente, é caracterizada por crescimento
gengival em variados graus. O crescimento
gengival ocorre mesmo com o ótimo controle
de placa. Por isso, o paciente é submetido de
forma recorrente para a remoção cirúrgica do
excesso gengival, visto que há recidiva.

Paciente de 14 anos com lesões de cárie ativas que permitem o


acúmulo de biofilme, favorecendo a gengivite.

Aumento gengival influenciado por drogas


*Pode estar associado a drogas antiepiléticas, como
fenitoína e valproato sódico, a bloqueadores dos
canais de cálcio, como nifedipina, verapamil,
diltiazem, amlodipina e felodipina, a
imunossupressores, como ciclosporina, e a
*Infecções específicas:
contraceptivos orais (em altas doses).
• Origem bacteriana: a detecção de
manifestações orais pode contribuir para o seu
diagnóstico da doença ainda desconhecida
pelo paciente. São elas: doenças periodontais
necrosantes (Treponema spp., Fusobacterium
spp., Prevotella intermedia e outros),
Gengivite induzida pelo biofilme e influenciada pelo uso de gonorreia (Neisseria gonorrhoeae), sífilis
antiepiléticos com aumento gengival generalizado e severo. (Treponema pallidum), tuberculose
*Classificação do aumento gengival influenciado por (Mycobacterium tuberculosis) e gengivite
drogas: estreptocócica (cepas de Streptococcus);
• Com relação à extensão: • Origem viral: coxsackie vírus (doença mão-
⇾ Localizado: 1 dente ou 1 grupo de pé-boca), herpes simplex ½ (primária ou
dentes; recorrente), varicela-zoster vírus, molluscum
⇾ Generalizado: vários dentes na boca. contagiosum vírus, human papiloma vírus
• Com relação à severidade: (papiloma de células escamosas, condiloma
⇾ Leve: atinge as papilas interdentais; acuminatum, verruga vulgaris e hiperplasia
⇾ Moderada: atinge as papilas epitelial focal);
interdentais e margem; • Origem fúngica: candidose e outras micoses
⇾ Severa: atinge as papilas interdentais, (histoplasmose, aspergilose).
margem gengival e gengiva inserida.

Periodontia Larissa Albuquerque


*Condições e lesões inflamatórias e imunes:
• Reações de hipersensibilidade: alergia por
contato, plasma cell gingivitis e eritema
multiforme;
• Doenças autoimune de pele e mucosas:
pênfigo vulgar, penfigoide, líquen plano e
lúpus eritematoso;
• Condições inflamatórias granulomatosas • Periodontite necrosante: é caracterizada
(granulomatose orofacial): doença de Crohn e clinicamente pela presença de necrose e
sarcoidose. úlcera da papila mais acentuada,
*Processos reativos: sangramento gengival, pseudomembrana,
• Epúlides: epúlide fibrosa, granuloma halitose e dor intensa. Pode ser acompanhada
fibroblástico calcificante, granuloma piogênico de febre, linfadenopatia e sialorreia. Ocorre
(epúlide vascular) e granuloma periférico de em pacientes que já têm periodontite, bolsas
células gigantes (ou central). periodontais e perda de inserção periodontal.
*Neoplasias: Causa a destruição óssea, perda de inserção
• Pré-malignas: leucoplasia e eritroplasia; e sequestro ósseo mais rapidamente, pois o
paciente já apresenta periodontite.
• Malignas: carcinoma de células escamosas,
leucemia e linfoma. • Estomatite necrosante: apresenta as
*Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas: mesmas características clínicas e extrabucais
que a gengivite e periodontite necrosante,
• Deficiências vitamínicas: deficiência de
porém a necrose tem intensidade suficiente
vitamina C (escorbuto) causa o sangramento
para fazer a exposição óssea ao longo da
gengival mesmo sem o acúmulo de biofilme.
mucosa alveolar, principalmente em pacientes
*Lesões traumáticas:
sistemicamente comprometidos.
• Injúrias físicas/mecânicas: queratose
friccional, úlceras gengivais induzidas por Periodontite
escovação e injúrias falsas (auto-induzidas);
• Injúrias químicas (tóxicas): adesivos, *É uma doença inflamatória, associada a
clorexidina, ácido acetilsalicílico, cocaína, microrganismos do biofilme dental e mediada pelo
peróxido de hidrogênio, detergentes dos hospedeiro e pelos mecanismos de defesa do sistema
dentifrícios e paraformaldeído ou hidróxido de imune, o que resulta em perda de inserção
cálcio; periodontal. Essa perda de inserção é devido à
reabsorção óssea e migração do epitélio juncional
• Injúrias térmicas: queimaduras da mucosa.
mais apical, formando as bolsas periodontais.
*Pigmentação gengival:
*Os sinais clínicos mais frequentes são a inflamação
• Pigmentação gengival ou melanoplasia: não é
gengival perceptível pela alteração na cor e na
uma doença, mas existem pacientes que se
textura, sangramento à sondagem, aumento na
queixam da pigmentação;
profundidade de sondagem e perda de inserção
• Melanose do fumante;
clínica, que é a distância da junção cemento-esmalte
• Pigmentação induzida por drogas, como até a margem gengival maior que 3mm.
antimalária e minociclina; *Ainda podem existir sinais variáveis, como a
• Tatuagem por amálgama. hiperplasia gengival, recessão gengival, lesão de
Periodontite furca, mobilidade dentária e migração patológica.
*A periodontite pode estar associada ou ser
Doenças periodontais necrosantes modificada por fatores sistêmicos, como diabetes e
infecção por HIV. Ainda pode ser associada ou
*Têm baixa prevalência na população. São as
modificada por fatores ambientais, como estresse e
condições de maior severidade relacionadas ao
tabagismo.
biofilme dental e levam à rápida destruição tecidual.
*Para ser diagnosticado com periodontite, o paciente
*Classificação:
precisa apresentar:
• Gengivite necrosante: é caracterizada
• Perda de inserção detectada em dois ou mais
clinicamente pela presença de necrose e
sítios interproximais não adjacentes.
úlcera da papila, sangramento gengival,
ou
pseudomembrana (indica necrose que expõe
o tecido conjuntivo, levando à dor), halitose e • Perda de inserção de 3mm ou mais na
dor. As características clínicas extrabucais vestibular ou lingual/palatina em pelo menos
são febre, linfoadenopatia e sialorreia dois dentes.
(hipersalivação).

Periodontia Larissa Albuquerque


*O paciente não é diagnosticado com periodontite se • A presença de nível de inserção na face distal
o nível de inserção observado for de origem não de um segundo molar associada à má posição
periodontal, como: ou à exodontia de um terceiro molar;
• Recessão gengival de origem traumática; • Uma lesão endodôntica associada ao
• Cárie dentária que se estende à área cervical periodonto marginal;
do dente; • Fratura radicular vertical.

Periodontia Larissa Albuquerque


Periodontite como manifestação de doenças impedindo a saída do fluido crevicular – ou medicação
sistêmicas – antibióticos sistêmicos e drogas como nifedipina).
Já o abscesso periodontal em paciente sem
*Há condições incomuns ou raras que podem causar
periodontite pode ocorrer por impactação, hábitos
destruição da inserção periodontal independente de
deletérios, fatores ortodônticos, aumento gengival ou
periodontite induzida por placa. O diagnóstico
alteração na superfície radicular, como alterações
costuma ser feito por biópsia e exame histopatológico.
anatômicas severas (dens in dente, odontodisplasia),
*Devido à natureza destrutiva das condições,
alterações anatômicas menores (lesão cervical,
frequentemente não há reparo após o tratamento e a
pérolas de esmalte), condições iatrogênicas
exodontia costuma ser parte do tratamento.
(perfurações), dano severo à raiz (fissura ou fratura)
*Pode ser causada por neoplasias, como carcinoma
ou reabsorção radicular externa.
de células escamosas, tumores odontogênicos,
outras neoplasias primárias dos tecidos periodontais
e neoplasias metastáticas secundárias dos tecidos
periodontais, ou por outras doenças, como
granulomatose com poliangite, histiocitose de células
de Langerhans, granuloma de células gigantes,
hiperparatireoidismo, esclerose sistêmica e doença
óssea vanishing.
*As lesões endo-periodontais são condições que
Outras condições que afetam o periodonto envolvem simultaneamente os tecidos pulpar e
periodontal e podem ocorrer nas formas agudas (com
Doenças ou condições sistêmicas que afetam
dor) e crônica (sem dor).
tecidos periodontais de suporte
*As características clínicas principais são bolsas
*Muitas desordens sistêmicas podem ter grande periodontais profundas próximas ou alcançando o
impacto na perda de tecido periodontal, como as ápice radicular e resposta negativa ou alterada aos
desordens genéticas, incluindo doenças associadas testes de vitalidade pulpar.
com desordens imunológicas, que afetam a mucosa *As características clínicas secundárias são
oral e o tecido gengival, que afetam o tecido reabsorção óssea na região de ápice ou furca, dor
conjuntivo e doenças endócrinas e metabólicas espontânea ou à palpação ou percussão, exsudato
(diabetes mellitus e hiperglicemia crônica e purulento, mobilidade dental e alterações na cor da
obesidade), as doenças de imunodeficiência gengiva e da coroa dental.
adquiridas, as doenças inflamatórias e outras *Lesão endo-periodontal é classificada em com dano
desordens sistêmicas, como estresse emocional e radicular, com fratura radicular, perfuração do canal
hipertensão. radicular ou da câmara pulpar ou reabsorção radicular
externa, ou em sem dano radicular, classificada em
Abscessos periodontais e lesões endodôntico- lesão endo-periodontal em pacientes com
periodontais periodontite e em pacientes sem periodontite,
*Os abscessos periodontais são um acúmulo de ambos podendo ser classificados nos graus:
pus localizado dentro das paredes gengivais da bolsa • Grau 1: bolsa periodontal estreita e profunda
periodontal, com o colapso periodontal ocorrendo em em uma superfície radicular;
um período de tempo e sintomatologia facilmente • Grau 2: bolsa periodontal larga e profunda em
detectável. São uma condição aguda, que surgem por uma superfície radicular;
uma diminuição da competência imune ou por algum • Grau 3: bolsa periodontal profunda em mais
fator local e que desaparecem mesmo sem de uma superfície radicular.
intervenção.
*As suas características clínicas principais são dor,
edema e exsudato purulento. As características
clínicas secundárias são bolsa periodontal profunda,
sangramento à sondagem, mobilidade dental e perda
óssea. As características clínicas extra-bucais são Forças oclusais traumáticas
edema facial, temperatura corporal elevada, mal estar
e linfadenopatia. *A força oclusal excessiva é a que excede a
*Classificação: o abscesso periodontal pode ocorrer capacidade de reparação do aparato de inserção
em pacientes com periodontite em exacerbação periodontal, resultando em trauma oclusal e/ou
aguda (periodontite não tratada, não responsiva à desgaste excessivo da estrutura dental.
terapia ou terapia periodontal de suporte) ou após o *O trauma oclusal é a injúria resultante das
tratamento (após a raspagem, cirurgia – devido a mudanças teciduais no aparato de inserção, incluindo
fragmentos de cálculo que permanecem na bolsa
Periodontia Larissa Albuquerque
ligamento periodontal, osso alveolar de suporte e
cemento, que é resultante das forças oclusais.
*O diagnóstico do trauma oclusal pode incluir a
mobilidade progressiva do dente, frêmito (movimento
do dente durante a oclusão), discrepâncias oclusais
ou desarmonias, facetas de desgaste, fratura
dentária, sensibilidade térmica, reabsorção radicular
e espessamento do espaço do ligamento periodontal
ao exame radiográfico.
*O trauma oclusal é primário quando há forças
excessivas no dente que possui o aparato de inserção
normal (sem perda de tecidos periodontais). Já o
secundário é quando o dentre não possui o aparato
de inserção normal (houve perda de tecidos
periodontais).
*A força oclusal excessiva não inicia as doenças
periodontais induzidas por placa ou a perda de
inserção periodontal. Não parece existir evidência
que prove que forças oclusais excessivas causem
abfração ou recessão gengival.
Fatores relacionados a dentes e a próteses
*Há diversos fatores relacionados a dentes naturais
que podem afetar o periodonto:
• Fenótipo gengival: pode ser plano e espesso
(tabua óssea mais espessa, garantindo maior
proteção para recessão gengival) ou fino e
festonado.
• Recessão gengival ou de tecidos moles,
ausência de gengiva (é importante para
reabilitação com próteses e implantes),
profundidade de vestíbulo diminuída, posição
aberrante do freio/muscular, excesso
gengival, cor anormal e condição da superfície
radicular exposta.
*Ainda há fatores relacionados a dentes que
modificam ou predispõem às doenças gengivais
induzidas por placa ou periodontite, como fatores
anatômicos dos dentes, fraturas radiculares,
reabsorção radicular cervical, proximidade radicular e
erupção passiva alterada.
*Também existem fatores locais relacionados a
próteses, como margem de restaurações dentro dos
teidos de inserção supracrestais, procedimentos
clínicos relacionados à produção de restaurações
indiretas e reações de hipersensibilidade ou
toxicidade aos materiais dentais.

Referência:
• Torquato L. C. et al. Resumo do novo
esquema de classificação para doenças e
condições periodontais e peri-implantes -
World Workshop 2017.
Periodontia Larissa Albuquerque
Exame clínico e plano de tratamento
Periodontia – UFPE

*O adequado reconhecimento das lesões *A história dental também deve ser analisada para
periodontais é feito pelo diagnóstico a partir do exame saber as condições e doenças prévias, tratamentos
clínico. Dessa forma, quanto mais detalhado e mais realizados e os resultados obtidos e história familiar.
informações forem colhidas, mais fácil será o Assim, é possível traçar o melhor plano de tratamento
reconhecimento das alterações periodontais e para o paciente.
determinação de um bom plano de tratamento.
2. Exame físico
Diagnóstico em periodontia
Exame extra-bucal
*É o reconhecimento de uma alteração da saúde do
*Busca por sinais que podem indicar alguma condição
periodonto, baseado em informações obtidas da
com influência no periodonto, como manchas na pele
história médica e dental, exames clínico e radiográfico
de diabéticos e sinais de síndromes que influenciem
do indivíduo e achados laboratoriais. Ele depende da
o periodonto.
anamnese, exame físico e, se necessário, exames
1. Exame da cabeça:
complementares, como exame radiográfico e
laboratoriais. • Avaliar simetria facial e se há alguma área de
inchaço presente.
1. Anamnese • Inspecionar a pele em relação à textura e
lesões.
*Consiste em uma entrevista com o paciente para
• Inspecionar se há evidência de inflamação na
coletar o maior número de informações sobre o
conjuntiva dos olhos ou outra lesão.
paciente que possam estar relacionados com a
doença, como dados pessoais, profissão e qual a • Avaliar se os movimentos dos olhos estão
queixa principal, ou seja, o motivo da consulta normais.
odontológica. • Inspecionar o nariz para assimetria e
*É comum pacientes com doença periodontais presença de secreção.
relatarem sangramento durante a escovação, • Avaliar a ATM, posicionando os dedos
migração dental e abertura de espaços entre os anterior ao tragus e pressionando levemente.
dentes, exposição radicular e inchaços associados a É pedido ao paciente para abrir e fechar a
abscessos. boca devagar e depois fazer o movimento de
*Após identificar a queixa e obter detalhes sobre, lateralidade.
como duração, se houve trauma ou outro fator que • Avaliar a glândula parótida, pressionando
deu início à característica ou sintoma, é coletada a levemente, posicione os dedos no ângulo da
história médica do paciente. Isso se az necessário, mandíbula, por cima das glândulas parótidas
pois existem doenças e condições médicas que estão e avalie se há alteração. Glândulas normais
relacionadas com maior risco ou progressão para geralmente não são palpáveis.
doença periodontal. Deve ser perguntado sobre: 2. Exame do pescoço:
• Presença de diabetes melitus: há maior • A palpação pode ser melhor executada com
prevalência em cerca de 3 vezes maior de o profissional posicionado atrás do paciente.
perda de inserção e perda óssea alveolar nos • Palpe o músculo esternocleidomastóide, as
diabéticos do que nos não-diabéticos, em estruturas centrais do pescoço e os
todas as idades. linfonodos cervicais.
• Hábito de fumar: fumantes têm de 2 a 7 • Os linfonodos aumentados podem ser
vezes mais chance de desenvolver doença resultado de um processo infeccioso ou
periodontal do que não fumantes. A relação inflamatório ou de uma neoplasia maligna
entre tabagismo e doença periodontal é dose primária ou metastática. As características
dependente: quanto mais cigarros fumados clínicas de linfonodos aumentados ajudam a
por dia, maior o risco de doença periodontal. diferenciar esses dois casos:
• Stress: eventos psicológicos e stress estão ⇾ Linfonodos aumentados por processo
associados à maior perda de inserção. inflamatório ou infeccioso geralmente
• Pacientes HIV+: o sistema imune são moles à palpação, movimentam-
comprometido está mais propenso à infecção se livremente e dolorosos.
e periodontite. ⇾ Linfonodos aumentados por
neoplasias primárias ou metastáticas

Larissa Albuquerque
geralmente são firmes à palpação, dedos. Mova a língua para o outro lado para
fixos a estruturas adjacentes inspecionar e palpar.
(principalmente mais tardiamente no • Examine o assoalho da boca pedindo ao
processo da doença) e geralmente paciente para elevar a língua, possibilitando a
não são dolorosos. visualização da região. Use um dedo para
palpar a região do assoalho anterior à língua.
Palpe contra os dedos da outra mão
posicionados extraoralmente na área
submandibular.
• Examine a área tonsilar e de orofaringe,
inspecione a área tonsilar, palato mole, úvula
e orofaringe. Pressione a língua para baixo e
instrua o paciente a dizer “ah”, pois causa a
retração das pregas do palatoglosso e
glossofaringe, facilitando a visualização da
área.
Exame periodontal
*Tem início pelo exame visual dos tecidos
periodontais em busca de alterações inflamatórias,
como mudança de cor (vermelhidão/eritema) e perda
do contorno normal (edema).
• Para palpar a região submandibular, instrua *Os principais instrumentos para o exame clínico são
o paciente a elevar a cabeça e palpe as sondas periodontais. O exame de sondagem
levemente e com cuidado a área periodontal tem como função auxiliar na detecção de
submandibular. biofilme dental (índice de placa), avaliar o estado
inflamatório do tecido gengival (índice gengival e
• Para palpar área submental, instrua o
sangramento à sondagem), diagnosticar a presença
paciente a morder os dentes e elevar a língua
de bolsa, diagnosticar a perda de inserção e avaliar a
até o palato, tensionando o músculo
presença de defeitos de bifurcação.
milohioide. A palpação dos tecidos moles da
região submental pode ser feita pressionando- 1. Índice de placa: presença de biofilme
os contra o músculo.
*Primeiramente, deve ser feita a avaliação do
Exame intra-bucal autocuidado do paciente no controle de placa. Para
isso, é utilizado o evidenciador de placa para
*Investiga se há alteração ou sinal que possa indicar
visualizar a sua presença de maneira clara e ainda
alguma condição que possa ter influência no
conseguir mostrar ao paciente os locais que a sua
periodonto, como presença de sinais orais de
higienização não está sendo eficaz.
doenças sistêmicas, problemas endodônticos,
*A avaliação do controle do biofilme também pode ser
oclusão traumatogênica e presença de cavidades,
feita deslizando a sonda pela superfície dos dentes e
restaurações defeituosas e raízes residuais.
verificando se o biofilme se aderiu ao instrumental.
• Os tecidos moles bucais apoiados em ossos,
*Cada uma das quatro faces dos dentes será
como gengiva inserida e palato duro, é feita
verificada e sempre que uma face apresentar biofilme,
pela palpação comprimindo esses tecidos
deve ser marcada na tabela no local correspondente,
contra o osso. Para tecidos não apoiados em
independentemente da quantidade de biofilme
ossos, a palpação é entre os dedos.
presente (avaliação dicotômica).
• Examine a mucosa labial e bucal
*Após isso, é feito o cálculo do índice de placa:
inspecionando as mucosas labial e bucal da
mandíbula e maxila palpando-as levemente
entre os dedos.
• Examine a gengiva e mucosa palatina *O valor aceitável de índice de placa é de 20% a, no
palpando o tecido ao comprimi-los contra o máximo, 30%. Acima disso, é considerada que a
osso abaixo. higiene bucal é inadequada.
• Examine a língua gentilmente segurando a *Após o cálculo de índice de placa, independente do
ponta com uma gaze e inspecionando a resultado, é feita a orientação de higiene bucal.
superfície dorsal e palpando com os dedos.
Morda a língua para um lado e inspecione a
borda lateral. Palpe a borda lateral entre os
Periodontia Larissa Albuquerque
Exame periodontal simplificado (PSR modificado) • Score 2: orientação de higiene bucal, remoção
dos fatores retentivos de biofilme, profilaxia e
*É um exame simplificado, pois é mais rápido de ser
aplicação tópica de flúor.
feito em comparação com o detalhado. Ele é realizado
• Se um sextante apresentar score igual ou
com a sonda OMS e feito por sextantes, registrando
maior que 3 ou um score com um *, é realizado
os códigos obtidos em cada região.
o exame detalhado no sextante.
*A sonda é inserida no sulco ou bolsa na região distal
• Se mais de um sextante apresentar score de
até a mesial da vestibular e em seguida na região
3 ou 4 ou apresentar dois ou mais scores com
palatina/lingual. A sondagem é feita em 6 pontos: o
*, é realizado o exame detalhado em toda a
sítio mésio-vestibular, centro-vestibular, disto-
boca.
vestibular, mésio-palatino, centro-palatina e disto-
palatino (ou lingual). • O score geral é o score mais grave encontrado
*Divisão dos sextantes: no paciente.
1. Dentes posteriores superior direito Exame periodontal detalhado
2. De canino a canino superior
3. Dentes posteriores superior esquerdo *É realizado com a sonda Carolina do Norte ou
4. Dentes posteriores inferior esquerdo Williams.
5. De canino a canino inferior
6. Dentes posteriores inferior direito
*Códigos:
• 0: Saúde periodontal. Durante a sondagem, a
faixa preta da sonda permanece totalmente
visível. Não há sangramento à sondagem,
nem fatores retentores de biofilme (cálculo,
aparelho ortodôntico, prótese, restauração em
excesso ou deficiente).
• 1: Há sangramento à sondagem, mas, durante
a sondagem, a faixa preta da sonda
permanece totalmente visível. Não há
1. Sangramento à sondagem
presença de cálculo ou de outros fatores
*Durante a inserção da sonda periodontal para
retentores de biofilme.
avaliação da profundidade de sondagem, é feita a
• 2: Presença de cálculo ou outros fatores
identificação de sangramento à sondagem. Essa
retentores de biofilme, com ou sem avaliação é feita em 6 sítios: disto-vestibular, centro-
sangramento à sondagem. Durante a vestibular, mésio-vestibular, disto-lingual, centro-
sondagem, a faixa preta da sonda permanece lingual e disto-lingual (ou palatino).
totalmente visível.
*Quando o valor é de até 20 a 30%, é considerado um
• 3: Presença de bolsa periodontal rasa. valor aceitável para saúde periodontal.
Durante a sondagem, a área preta da sonda
fica parcialmente coberta pela gengiva (entre
3,5 e 5,5mm).
• 4: Presença de bolsa periodontal profunda. *Quando ocorre sangramento repetido, indica maior
Durante a sondagem, a área preta da sonda risco de progressão da doença.
fica completamente coberta pela gengiva *Quando houver sangramento, deve ser anotado em
(acima de 5,5mm). caneta vermelha.
• *: Presença de lesão de furca, mobilidade,
2. Profundidade de sondagem
hipersensibilidade dentinária, violação do
*Nos casos de normalidade ou saúde, a profundidade
espaço biológico, recessão ou outros
é menor que 3mm, não há sangramento e recessão
problemas mucogengivais.
óssea (radiografia).
*Conduta:
*Nos casos de gengivite, a profundidade é menor que
• Deve ser considerado o score mais grave para 3mm, mas há sangramento à sondagem e não há
cada sextante. recessão óssea.
• Ao encontrar o score mais grave (4) no *Em casos de periodontite, a profundidade e nível de
sextante, não precisa realizar a sondagem nos inserção são maiores que 3mm em pelo menos 2
outros dentes do sextante e já pode passar sítios e ocorre sangramento à sondagem, sinais de
para o exame do próximo. inflamação e reabsorção óssea.
• Score 0 e 1: orientação de higiene bucal, *É importante ressaltar que a sondagem
profilaxia e aplicação tópica de flúor. isoladamente não define a presença de reabsorção
óssea, pois pode haver a formação de pseudobolsas.
Periodontia Larissa Albuquerque
3. Recessão gengival: distância da JCE à margem operatória. Geralmente, é solicitado hemograma
gengival completo, coagulograma e glicose em jejum.
*A medição é feita com a sonda Carolina do Norte ou
Williams para identificar a recessão sempre em 6 *Após isso, é possível realizar o diagnóstico e traçar
sítios do dente. um plano de tratamento.
4. Nível de inserção clínica (NIC) Plano de tratamento em periodontia
*Mede clinicamente a perda de inserção do elemento
dental. Isoladamente não é um parâmetro para definir *O tratamento periodontal tem como objetivo prevenir
o nível de doença do paciente. a progressão da doença periodontal por meio da
*A NIC é a distância da JCE até o fundo da bolsa eliminação da infecção, restabelecer a saúde
(profundidade de sondagem + recessão gengival). periodontal e prevenir a recorrência da doença
periodontal.
5. Classificação da mobilidade dental
*O tratamento visa obter a redução do nível de
*A perda de inserção pode causar a mobilidade do
sangramento para um índice inferior a 25%; reduzir o
dente, apesar de não ser a única causa possível para
número de bolsas periodontais com mais de 5mm,
isso, como forças oclusais excessivas.
pois nenhuma bolsa maior que 5mm deve estar
*O grau deve ser medido sempre com a ponta de
presente para considerar um indivíduo com saúde
instrumentais, como odontoscópio e pinça clínica, no
periodontal; a ausência de lesões de furca classe 3;
sentido vestíbulo-lingual ou palatino. Se houver
ausência de dor e satisfação do paciente (esclarecer
mobilidade, deve ser avaliado se há mobilidade
antes do tratamento as sequelas da periodontite,
vertical, exercendo pressão na superfície oclusal ou
como recessão gengival).
incisal.
*A mobilidade é classificada em graus:
• Grau 1: mobilidade menor ou igual a 1mm.
• Grau 2: mobilidade maior que 1 mm.
• Grau 3: mobilidade nos sentidos horizontal e
vertical.
6. Classificação das lesões de furca
*A sonda Nabers é inserida entre as raízes de dentes
multirradiculados, caso fique retida na região de
bifurcação, significa que já houve reabsorção óssea
entre as raízes (lesão de furca). A lesão de furca é
classificada de acordo com a gravidade:
• Grau 1: há reabsorção óssea interradicular
que não excede 3mm. *Etapas do plano de tratamento:
• Grau 2: há reabsorção óssea mais grave,
excedendo 3mm, sem reabsorção completa 1. Terapia inicial:
de um lado ao outro do dente. *Consiste em oferecer informações sobre a doença e
• Grau 3: há reabsorção óssea total na região sobre o autocontrole de placa, incluindo escovação e
mais próxima ao teto da furca. limpeza interdental, remoção do cálculo
supragengival e de outros fatores de retenção de
Exame Radiográfico placa, como coroas e restaurações mal-adaptadas,
cárie, exodontia, tratamento endodôntico, contato
*Se houver presença de bolsas periodontais e nível
prematura e aparelho ortodôntico inadequado.
de inserção clínica maior que 3mm, é necessário
complementar com exame radiográfico. O exame de 2. Terapia básica:
escolha é o periapical, complementados pelas *Consistia na raspagem radicular (remoção de placa
interproximais na região de molares. e cálculo da superfície radicular) e alisamento
*As radiografias periapicais fornecem informações radicular (técnica de instrumentação em que o
sobre a presença de perda de inserção, de lesões de cemento amolecido é removido e a superfície
furca e defeitos ósseos, de lesões endodônticas e de radicular fica lisa e dura). Atualmente, é seguida a
sinais de sobrecarga oclusal. técnica de debridamento, que consiste na remoção de
placa e/ou cálculo da superfície radicular sem
Exames laboratoriais remoção intencional de estrutura dental.
*Podem ser solicitados para auxiliar na identificação 3. Terapia cirúrgica:
de doenças sistêmicas e para avaliação pré- *São as técnicas de cirurgias conservadoras,
ressectivas e reconstrutivas.

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4. Terapia periodontal de suporte (TPS):
*O seu objetivo é manter a saúde periodontal obtida
pelo tratamento periodontal e também prevenir a
ocorrência da mesma. Sempre deve estar incluso no
plano de tratamento do paciente.
*É feita nas etapas de atualização das histórias
médica e odontológica, exames intra e extra-bucal
dos tecidos moles, exame dental, avaliação da
higiene oral do paciente, avaliação periodontal e
acesso do risco, remoção supra e subgengival da
placa bacteriana e do cálculo e retratamento da
doença, se necessário.
*Pacientes com gengivite e periodontite leve e
moderada normalmente têm apenas necessidade da
terapia não cirúrgica.
*Já os pacientes com periodontite mais avançada,
nos estágios 3 e 4, necessitam de uma terapia mais
complexa. É feita a terapia não cirúrgica e reavaliação
do paciente para decidir se é preciso realizar terapia
cirúrgica.

Referência:

• Tratado de periodontia clínica e implantologia


oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução
Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed. -
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

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Terapia periodontal não cirúrgica
Periodontia – UFPE

*Os objetivos da terapia periodontal, cirúrgica e não *A instrumentação visa a eliminação do biofilme e
cirúrgica, é a prevenção, eliminação ou controle da manchas e possui duas modalidades: a raspagem e
doença, a recuperação dos tecidos perdidos, a a profilaxia ou polimento.
manutenção dos resultados conseguidos. Raspagem
*A terapia não cirúrgica é a base do tratamento da *O seu objetivo primário é a remoção de biofilme
doença periodontal, podendo ser a única forma de mineralizado (cálculo), podendo ser supragengival
tratamento ativo. Além disso, pode ser considerada ou subgengival, este último juntamente com o
uma etapa pré-cirúrgica, pois deixa os tecidos mais alisamento radicular, devido aos danos gerados à
firmes, facilitando as incisões cirúrgicas e reduzindo superfície radicular, garantindo lisura ao final do
o sangramento. Muitas vezes a terapia não cirúrgica procedimento.
é um complemento da terapia cirúrgica e é *A raspagem sempre tem início com a raspagem
considerada essencial para manutenção dos supragengival, seguida de RACR (raspagem e
resultados obtidos no tratamento. alisamento corono-radicular) ou de RAR (raspagem
*A terapia não cirúrgica participa do plano de e alisamento radicular).
tratamento periodontal nas urgências e terapia *O objetivo secundário da raspagem é a eliminação
sistêmica, na terapia inicial e básica, na terapia de manchas, o que nem sempre é possível.
restauradora, nas novas orientações de higiene
Instrumental
bucal e na terapia de suporte.
Etiopatogenia da doença periodontal *O instrumental é dividido em instrumentos manuais
e automáticos, sônicos (até 6mil Hz) ou ultrassônicos
*O acúmulo de biofilme promove a secreção de (de 18 a 45 mil Hz).
fatores pelas bactérias na gengiva, provocando uma Instrumentos ultrassônicos
resposta imune, na forma da gengivite. Se o sistema *São indicados para remoção de cálculo
imune estiver regulado, a gengivite ficará em estado supragengival e subgengival em locais de difícil
de equilíbrio, porém se o sistema imune do indivíduo acesso.
estiver alterado (resposta deficiente ou excessiva), *O funcionamento é pela vibração da ponta que gera
pode levar à periodontite. Tanto o acumulo de ondas ultrassônicas que tem a capacidade de retirar
biofilme como a resposta imune são influenciados biofilme e bactérias por 3 mecanismos:
por fatores etiológicos secundários locais e gerais. • Vibração das ondas causa fratura do cálculo;
• Jato de água (refrigeração) para remoção de
Estratégias de terapia
bactérias;
*A terapia não cirúrgica utiliza-se das estratégias de • Cavitação: junção vibração com a água,
eliminação de fatores etiológicos primários e formando bolhas que explodem na superfície
secundários, modulação da resposta imune e o do biofilme, causando a morte das bactérias.
estímulo de reparo ou regressão da doença. *Os aparelhos podem ser divididos em piezoelétricos
(vibração pendular/linear) e magnetorrestritivos
Procedimentos (vibração elíptica).
*Os instrumentos utilizados são a instrumentação Instrumentação manual x ultrassom
não cirúrgica, a eliminação ou controle de fatores
secundários, o controle pessoal do biofilme, a *Apesar das diferenças de mecanismos de ação, a
utilização de antimicrobianos, a modulação da efetividade de ambos é similar, precisando avaliar as
resposta imune e outros procedimentos. vantagens e desvantagens de cada um para fazer a
escolha de qual utilizar.
Instrumentação periodontal
*O instrumento ultrassônico exige menos esforço do
*Foi percebida a importância da instrumentação operador e consegue remover o cálculo mais
periodontal quando houve maior conhecimento sobre rapidamente. Porém apresenta a desvantagem de
o biofilme, que está sobre a superfície dental e não poder causar sensibilidade após o tratamento e
dentro dos tecidos periodontais, impedindo a ação deixa a superfície radicular mais irregular (não é
das células imunes e antibióticos. Diante disso, a clinicamente significativo).
instrumentação periodontal foi a maneira encontrada
para atingir as bactérias do biofilme por meio da sua
desagregação.
Larissa Albuquerque
Profilaxia ou polimento *Independente do protocolo escolhido, o controle
pessoal da placa é essencial para o sucesso do
*É indicado para remoção de biofilme não tratamento.
mineralizado, manchas e evidenciador de placa.
*Na prática clínica, pode ser utilizado isoladamente Efeitos da instrumentação
quando o paciente não apresenta cálculo ou após a
*O efeito microbiológico quantitativo da
raspagem para reduzir a rugosidade causada pelo
instrumentação é a redução da quantidade de
procedimento.
bactérias e, consequentemente, o efeito qualitativo
*A profilaxia é realizada por meio do uso de
é o aumento da oxigenação, aumentando a
abrasivos, que podem ser pastas abrasivas ou jato
quantidade de bactérias aeróbias, que estão mais
de bicarbonato (acoplado aos aparelhos
ultrassônicos). relacionadas com o estado de saúde do que de
doença.
ATF (aplicação tópica de flúor) *Os efeitos teciduais nos tecidos moles é a
redução da inflamação, do sangramento e da
*Após a raspagem e profilaxia, ocorre o desgaste da
profundidade de sondagem. No tecido ósseo não
superfície dentária, criando o risco de ocorrer
há ganho e nos dentes há a redução de mobilidade.
sensibilidade pós-operatória. Por isso, é feita a
aplicação de flúor (sem intenção de prevenir cáries) Limitações da instrumentação
nos locais de raspagem/profilaxia.
*A eficácia da instrumentação diminui com o
Protocolo de instrumentação aumento da profundidade. Bolsas com mais de 5mm
apresentam dificuldade de remoção de cálculo e de
*Existem dois tipos de protocolos: o convencional e
biofilme
os de boca toda.
*Há a possibilidade de recolonização, principalmente
*O protocolo convencional é feito pela
se nem todo biofilme for retirado.
instrumentação de sextantes ou quadrantes a cada
*A raspagem não elimina bactérias dentro da
consulta, fazendo com que o tratamento dure várias
gengiva e, isoladamente, sem a colaboração do
semanas a depender da gravidade da doença. paciente, não garante sucesso.
*Os protocolos de boca toda são completados em
24h e podem ser preferidos em relação ao Eliminação dos fatores secundários
convencional, pois, como nele um sextante é
*Os fatores secundários não têm capacidade de
instrumentado por vez, há risco de recolonização
iniciar a doença, mas podem predispor o indivíduo a
das bactérias nos sítios que já passaram pela
sua manifestação.
raspagem pelos que não passaram. Além disso,
*Os fatores secundários são fatores de retenção do
como o protocolo de boca toda retira uma grande
biofilme, forças oclusais traumáticas (têm a
quantidade de bactérias que, consequentemente,
capacidade de aumentar a velocidade de progressão
entram na corrente sanguínea, também haveria o
de destruição periodontal) e fatores modificadores
estímulo da resposta imune.
gerais modificáveis (ex. glicemia de pacientes
*Os protocolos de boca toda são divididos em
original, modificado e debridamento ultrassônico. diabéticos, recomendar a parada do tabagismo). A
eliminação desses fatores pode ocorrer antes,
Protocolo original (DBT) durante ou após a instrumentação.
*Consiste na raspagem e alisamento corono- Modulação da resposta imune
radicular (RACR) em um período de 24h, dividida em
*A resposta imune é a principal responsável pela
2 sessões. Ainda é realizada irrigação subgengival
destruição tecidual na periodontite e a estratégia de
com gel de clorexidina 1% 3 vezes em 10 minutos e
modulação da resposta imune já é muito utilizada na
é repetido esse procedimento após 8 dias. Também
medicina, mas não visa substituir as terapias
é feita a escovação da língua com gel de clorexidina
tradicionais para as doenças periodontais e não
1% e prescrição de bochechos de clorexidina 0,2%
objetiva a supressão total da resposta imune.
durante 14 dias.
Doxiciclina em doses sub-antimicrobianas
Evidência científica
*O antibiótico (Periostat – não comercializado no
*Não há diferenças significativas de efetividade. Por
Brasil – ou hiclato de doxiciclina 20g) é aplicado em
isso, outros fatores devem ser considerados, como
dose que não promove ação bactericida ou
preferência do profissional ou do paciente, custo (os
bacteriostática, pois a dose mais baixa serve para
protocolos de boca toda tendem a ser mais caros),
inibir a ação de metaloproteinases (mediador
tempo e desconforto (os de boca toda estão mais
químico de ação importante na destruição dos
associados à desconforto pós operatório).

Periodontia Larissa Albuquerque


tecidos periodontais), limitando a inflamação e perda *Teriparatida: acredita-se que tem capacidade de
óssea, além de não induzir resistência. estimular o reparo ósseo.
*Apresenta eficácia na inserção clínica (NIC) e a sua *Comidas, plantas e sementes.
segurança é sugerida em revisão sistemática. *Vacinação, engenharia tecidual (com células tronco)
*É indicada para periodontite refratária moderada ou e terapia gênica.
severa, principalmente às que não responderam ao *Resolvinas: anti-inflamatórios naturais.
tratamento convencional.
*O seu uso tem certa limitação em relação à adesão
do paciente e à seu custo, já que o tratamento deve
ser feito diariamente por 9 meses.
AINES
*É um grupo composto por várias drogas que inibem
a produção de mediadores da inflamação e perda
óssea. Há evidência da sua eficácia em revisão
sistemática, mas, por terem efeitos potencialmente
sérios (cardiovasculares e no TGI), não são
amplamente utilizados.
Bisfosfonatos
*Drogas como pamidronato, aledronato e ácido
zoledrônico inibem o desenvolvimento/atividade
osteoclástica e reabsorção óssea. São utilizadas
para tratamento de osteoporose, doença de Paget e
tumores ósseos. Há evidência de melhora de
parâmetros periodontais em revisão sistemática,
mas tem seu uso limitado, pois está associada à
osteonecrose.
Lasers
*Os lasers de alta potência são utilizados para
remoção de cálculo e atuam pelo aquecimento e
ablação (fratura). O laser com mais eficácia para
tratamento periodontal é o Er:YAG (laser de érbio). A
sua eficácia é equivalente a métodos tradicionais e a
sua utilização é restrita (alto custo).
*O laser de baixa potência utilizado em periodontia é
o laser diodo, com efeito fotoquímico, agindo na
redução da carga microbiana, redução de dor e
inflamação, estimulação de reparo pós-cirúrgico e
redução da hipersensibilidade. Ainda não há
evidências científicas suficientes para confirmar a
sua eficácia.
Terapias em desenvolvimento
*Probióticos: adição de bactérias benéficas para
dificultar a colonização por bactérias periodonto-
patogênicas.
*Choque extracorpóreo: choques na mucosa jugal
poderiam estimular regeneração óssea.
*Campos elétricos: poderiam aumentar a eficácia
de antibióticos. Referência:
*Polimento com pó de glicina: poderia remover o
cálculo. • Tratado de periodontia clínica e implantologia
*Oxigênio hiperbárico: aumenta a concentração de oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução
oxigênio, reduzindo as bactérias periodonto- Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed.
patogênicas (anaeróbias gram -). - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
*Estatinas: podem estimular regeneração óssea.
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Terapia cirúrgica periodontal
Periodontia – UFPE

*A terapia cirúrgica periodontal é o conjunto de 3. Coagulograma (TC: 4-10 min; TS: 1-4
procedimentos executados com uma lâmina, bisturi min; TTPA: 24-40 seg; RNI: 1-2;
elétrico ou laser que resseca tecido ou envolve o plaquetas: 150-400/microl de sangue).
rebatimento de um retalho para alcançar os seus • Profilaxia antibiótica: é feita em pacientes com
objetivos terapêuticos. risco de endocardite bacteriana. 2g
amoxicilina de 30 minutos a 1 hora antes do
Objetivos clínicos específicos
procedimento cirúrgico.
*Eliminação da doença inflamatória pela retirada do • Prevenção de dor e edema.
biofilme dental e de fatores etiológicos secundários e • Controle de ansiedade: é feito pelo uso de
o estabelecimento de um ambiente local com benzodiazepínicos, preferencialmente o
anatomia compatível com a manutenção de saúde e midazolam.
estética periodontal. 2. Preparação do profissional.
3. Preparação do equipamento/instrumental.
Reavaliação após terapia não cirúrgica
4. Preparação do paciente: uso do campo estéril e
*Ocorre entre 4 e 8 semanas após a finalização da antissepsia extra (clorexidina 2%) e intraoral
terapia não cirúrgica e é reavaliado o aspecto de (clorexidina 0,12%).
normalidade da gengiva, se há sangramento e/ou 5. Anestesia local: as técnicas utilizadas em
supuração à sondagem, mensurar a profundidade de periodontia são a anestesia tópica, infiltrativa,
sondagem e se há mobilidade dentária e os índices bloqueio e papilar. O agente anestésico de
de placa. preferência é a lidocaína ou mepivacaína com
vasoconstrictor.
Indicações comuns de terapêutica cirúrgica 6. Incisões: podem ser classificadas de acordo com
*Áreas com contornos ósseos irregulares e defeitos a localização em intrassulcular, submarginal ou
infraósseos extensos e/ou profundos. paramarginal, interdental e relaxante ou de acordo
*Bolsas residuais profundas e/ou de difícil acesso em com a inclinação da lâmina em bisel interno (ponta
que a remoção completa do biofilme sem cirurgia não da lâmina voltada para a crista óssea) e bisel externo
seja possível. Esse é o caso das bolsas periodontais (ponta da lâmina voltada para a coroa).
com mais de 5mm.
*Correção ou prevenção de invasões do espaço
biológico.
*Áreas com lesão de furca grau II ou III.
*Áreas com crescimentos gengivais.
*Áreas com problemas mucogengivais.
Contraindicações gerais
*Paciente portador de doenças sistêmicas sérias não
controladas.
*Quando não for possível acompanhar o pós-
operatório do paciente. 7. Ressecção de tecido ou rebatimento de retalho:
*Quando o paciente é incapaz de manter um controle o retalho periodontal é o segmento de tecido gengival
de biofilme adequado. que é cirurgicamente separado dos tecidos de suporte
*Pacientes fumantes, pois têm maior probabilidade de coronalmente, mas que na região apical se mantém
responder de forma insatisfatória ao tratamento aderido através de um pedículo de tecido conjuntivo
periodontal. vascularizado. O retalho pode ser classificado de
Fases cirúrgicas acordo com o uso de incisão
relaxante (incisões verticais do tipo
1. Cuidados pré-operatórios: envelope ou incisões relaxantes)
• Conferência de assinatura do termo de ou com tecidos separados do osso,
consentimento. que pode ser do tipo
• Análise de exames pré-operatórios: mucoperiósteo/espessura total
1. Hemograma. (ocorre exposição do osso) ou
2. Glicemia em jejum (66-99 mg/dl). retalho dividido/espessura parcial.
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8. Debridamento de tecido fibroso e de *Aumento de coroa clínica para prevenir ou
granulação: é importante para readaptação do corrigir invasões do espaço biológico: o princípio
retalho e para controle do sangramento. É feito com básico para esse tipo de cirurgia é a presença de
os mesmos instrumentos para raspagem, mas em elemento estranho na área da estrutura dentária
dimensão maior. reservada para a união dento-gengival (invasão do
9. Hemostasia: é feita pela compressão com gaze e espaço biológico). A remoção óssea causada pela
anestésico local com vasoconstrictor. Ainda podem cirurgia deixa quantidade suficiente de estrutura
ser utilizadas substâncias adstringentes, como o dental exposta para o restabelecimento da união
hemostop, e outros. dento-gengival. A cirurgia é indicada quando há
10. RAR por visão direta. presença de cárie ou de restauração que invade o
11. Ressecção óssea ou colocação de material de espaço biológico, necessidade de aumento de
enxerto. retenção para coroas protéticas e correções
12. Readaptação do retalho: retalho estéticas.
deslocado apicalmente (RDA), retalho
Cirurgias reconstrutivas
deslocado coronalmente (RDC) ou
retalho deslocado lateralmente (RDL). *Preenchimento de defeitos com osso ou
13. Sutura: fixação dos retalhos. substitutos ósseos (origem autógena): os
14. Colocação do cimento cirúrgico: proteção da substitutos ósseos são utilizados isoladamente ou
ferida cirúrgica quando não se utiliza a sutura. Não é com RTG (regeneração tecidual guiada). O uso dos
tão utilizado, pois é um fator retentivo de biofilme. substitutos ósseos causa aumento dos níveis ósseos,
15. Cuidados pós-operatórios: de inserção e de redução de profundidade de
• Controle de dor e edema. sondagem superior ao RWM.
• Recomendações de dieta. *Técnica RTG (regeneração tecidual guiada):
• Higiene oral: escovação nas áreas não Utiliza membranas reabsorvíveis ou não
operadas e bochecho com clorexidina. reabsorvíveis (precisa de segunda cirurgia para
• Controle de sangramento: em caso de remoção da membrana). As células epiteliais tem
sangramento, fazer compressa com gaze. capacidade de proliferação maior do que as do tecido
• Atestados. conjuntivo, ocupando o espaço que seria do
16. Remoção do cimento e da sutura: é feito após ligamento periodontal. Dessa forma, a técnica RTG
uma semana. permite a proliferação do tecido conjuntivo sem haver
17. Reavaliação: após 7 e 30 dias da cirurgia. interferência das células epiteliais. É utilizada para
defeitos ósseos de 3 ou 2 paredes e em lesões de
Técnicas cirúrgicas furca grau II. O RTG é superior ao RWM em termos
Objetivos específicos da terapêutica cirúrgica: de ganho de inserção clínica (GIC), redução de
profundidade de sondagem e ganho de tecido ósseo
*Instrumentação radicular com visão direta. (previsível). Pode ser combinada com enxertos
*Redução ou eliminação de áreas retentoras de ósseos e fatores de crescimento.
biofilme. *Proteínas da matriz do esmalte (emdogain): tem a
*Viabilizar procedimentos restauradores. mesma indicação do RTG, porém estimula a
*Promover a regeneração de tecidos perdidos. cementogênese. É testado em diferentes tipos de
*Restabelecimento de arquitetura fisiológica e defeitos e é superior ao RWM e similar à RTG.
estética dos tecidos periodontais.
*Correção de outros problemas mucogengivais. Subtipo: cirurgia plástica periodontal
Cirurgias conservadoras *Aumento de gengiva inserida: é indicada em casos
de recessão gengival em progressão, colocação de
*Retalho de Widman modificado (RWM): realização
implantes, aparelhos ortodônticos e restaurações
de incisão submarginal complementada por incisão
subgengivais em áreas com menos de 1mm de
intrasulcular, faz-se o rebatimento do retalho,
gengiva inserida. Existe a técnica que é indicada
raspagem e sutura.
quando não há recessão gengival (enxerto gengival
Cirurgias ressectivas livre e retalho deslocado apicalmente) e quando há
recessão.
*Gengivectomia e gengivoplastia: são indicadas *Recobrimento de recessões: melhora a estética e
para eliminação de bolsas supraósseas a hipersensibilidade. Tem bom prognostico em
(gengivectomia), correção de crescimentos gengivais, recessões classe 1 e 2 de Miller. A técnica mais
aumento de coroa clínica por necessidades utilizada é o enxerto conjuntivo subepitelial (ECSE),
restauradoras ou estéticas e instrumentação radicular RDL, RDC, RTG.
por visão direta.

Periodontia Larissa Albuquerque


*Eliminação ou deslocamento de freios com
inserção anômala: contribuem para recessão
gengival, dificultam a higiene, fechamento de
diastemas e adaptação de próteses. É corrigido com
frenectomia ou frenotomia.
*Correção de sorriso gengival: o sorriso gengival
ocorre pela visibilidade excessiva de gengiva na
região estética. Pode ser causado por erupção
passiva retardada ou por problemas esqueléticos. O
procedimento depende se há excesso de gengiva e a
distância crista óssea-JCE.

Referência:

• Tratado de periodontia clínica e implantologia


oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução
Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed. -
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

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Lesões de furca e defeitos infraósseos
Periodontia – UFPE

Terminologia 8,6 a 28,6% dos molares apresentam projeções


*Complexo radicular: é a porção localizada cervicais de esmalte em direção da região de
apicalmente à junção cemento-esmalte e é dividida furca, afetando a remoção da placa, complicando a
em tronco radicular (região não dividida da raiz) e raspagem e alisamento radicular, servindo como
cones radiculares (região dividida da raiz). fator lecal para gengivite e periodontite. Por isso,
*Região de furca (região entre os cones radiculares): devem ser removidas. Também podem ser
é composta pelo fórnix (teto da furca) e pela entrada encontradas pérolas de esmalte, que devem ser
da furca. desgastadas.
*Cones radiculares: possuem grau de separação
(ângulo de separação entre os cones) e possuem Diagnóstico
divergência (distância entre duas raízes, que
aumenta em direção apical). *Classe I: ocorre a perda horizontal de até 3mm.
*Classe II: ocorre a perda horizontal excedendo 3mm,
mas não abrange a largura total.
*Classe III: ocorre a destruição horizontal de um lado
ao outro.
Sondagem

Anatomia dos molares superiores *Nos molares superiores, a entrada de furca mesial
está mais proxima da região palatina, então deve ser
*Os molares possuem ordem decrescente de sondada pelo lado palatino. A entrada da furca distal
tamanho, sendo o primeiro molar superior maior que pode ser sondada tanto pela vestibular quanto pela
o segundo, que por sua vez é maior que o terceiro palatina a depender da sua localização.
molar.
*Possuem três raízes, sendo a posição da
mesiovestibular vertical, a da distovestibular é
distalizada e a da palatina é palatinizada.
*A secção transversal das raízes
distovestibular e palatina tendem a ter
formato circular e a mesiovestibular
tende ao formato de ampulheta. (a) Entrada da furca vestibular e (b) entrada da furca
mesial de molar superior.
*A furca mesial deve ser sondada pelo
lado palatino do dente, a furca vestibular Radiografias
deve ser sondada pelo lado vestibular do dente e a
furca distal deve ser sondada pelo lado vestibular ou *Radiografias periapicais (avaliação do periápice) e
palatino. interproximais (vizualização dos defeitos ósseos
devido à incidência perpendicular dos raios x) sempre
Anatomia dos molares inferiores devem ser obtidas para confirmar os achados durante
*Assim como os superiores, seguem a ordem a sondagem em dentes com envolvimento de furca.
decrescente de tamanho, sendo o primeiro molar Diagnóstico diferencial
inferior mais que o segundo e o segundo maior que o
terceiro. *Uma lesão na área entre as raízes pode ocorrer por
*Possuem duas raízes, uma mesial em posição problemas no canal radicular ou por sobrecarga
vertical e uma distal, em possição distalizada. oclusal. Dessa forma, não se deve iniciar o tratamento
*A secção transversal distal possui do dente com envolvimento de furca até que seja
formato mais circular e a mesial realizado o diagnóstico diferencial.
tendo ao formato de ampulheta, *Patologia pulpar: é preciso realizar o teste de
com concavidade na superfície vitalidade pulpar, se for negativo, significa que há uma
distal. patologia pulpar. Diante disso, é preciso realizar
*A sondagem da furca vestibular é inicialmente sempre o tratamento endodôntico para
pelo lado vestibular do dente e a sondagem da furca em seguida poder fazer a terapia periodontal. Isso se
lingual, pelo lado lingual. faz necessário porque a patologia pulpar pode causar
a destruição do osso e com a sua resolução pode
Larissa Albuquerque
haver a cicatrização do defeito. Assim, deve-se Plastia de furca
observar se há cicatrização após dois meses.
*Tem como objetivo eliminar defeitos interradiculares
e é feito pela odontoplastia e/ou osteoplastia.
*Odontoplastia: consiste na remoção de tecido
dentário (“degrau”) na região de furca, devolvendo o
formato arredondado da área e facilitando a limpeza
pelo paciente.
*Odontoplastia + osteoplastia: a osteoplastia
(a) dente com rarefação óssea na região de furca. Teste de
vitalidade pulpar negativo. Foi realizado tratamento endodôntico corrige a anatomia óssea após a destruição do osso,
e houve cicatrização do defeito de furca (b). regularizando-o ao torná-lo mais uniforme para formar
*Trauma oclusal: forças oclusais podem causar uma superfície contínua.
mobilidade aumentada. Durante a sondagem não se
Tunelização
detecta o envolvimento de furca e na radiografia
observa-se defeito ósseo. Dessa forma, antes de *Pode ser indicada para defeitos de furca de classe II
tratar o possível defeito de furca, deve-se realizar o profundos e classe III em molares inferiores. Pode ser
ajuste oclusal, pois após semanas o dente tende a realizada em molares inferiores com tronco radicular
estabilizar e os defeitos desaparecem. curto, amplo ângulo de separação e grande
divergencia das raízes mesial e distal.
*Esse procedimento retira o tecido de granulação do
defeito, realiza a raspagem e alisamento da região,
amplia a area de furca pela remoção de parte do osso
interradicular. Isso permite a
passagem da escova interdental
em casos em que não é possível
Objetivos da terapia
fazer a regeneração, pois não há
*Eliminação da placa microbiana das superfícies paredes remanescentes.
expostas do complexo radicular.
Regeneração
*Estabelecimento de anatomia das superfícies
afetadas que facilite o auto controle de placa. *Pode ser indicada para classe II e promove o
fechamento do defeito de furca. A regeneração
Terapia da lesão de furca
consiste na aplicação de uma membrana que isole o
*Envolvimento de furca classe I: raspagem e osso do tecido mole, visto que o tempo de
alisamento radicular e plastia de furca. cicatrização da gengiva é de 1,5 a 2 vezes mais
*Envolvimento de flurca classe II: plastia de furca, rápido que o do osso. Dessa forma, a membrana
tunelização, hemissecção radicular, ressecção permite a cicatrização de cada tecido, sem a gengiva
radicular, extração dentária, regeneração tecidual invadir o local que seria cicatrizado pelo tecido ósseo.
guiada nos molares inferiores. *A regeneração é mais favorável para os casos de
*Envolvimento de furca classe III: tunelização, classe II em molares inferiores, molar que possua
hemissecção radicular, ressecção radicular e osso interproximal próximo à juncão cemento-esmalte
extração dentária. (defeito de buraco de fechadura).
*O preenchimento da região pode ser feito com o
Raspagem e alisamento radicular (RAR) Emdogain, formado por proteínas derivadas da matriz
*A RAR na área de entrada da furca classe I, em sua do esmalte e que estimula a regeneração da região,
maioria, resulta no fim da lesão inflamatória na com maior redução dos defeitos e redução da dor e
gengiva. A cicatrização promove o restabelecimento edema pós-operatório.
da anatomia gengival normal com adaptação dos
tecidos moles sobre os duras.

Periodontia Larissa Albuquerque


Hemissecção radicular
*É a separação do complexo radicular com ponta
diamantada, mantendo todas as raízes. Isso facilita a
higienização pelo paciente, favorecendo a
permanência do elemento dentário por mais tempo. É
um procedimento menos conservador, indicado para
molares com envolvimento de furca classe II e III.

Ressecção radicular
*É a separação do complexo radicular removendo um
ou mais raízes. É um procedimento menos
conservador, indicado para classe II e III.

Foi retirada a raiz mesial devido à destruição, mantendo-se a raiz


distal. Foi realizada a reanatomização do dente como um pré-
molar e feita uma prótese fixa definitiva para restabelecer a função
mastigatória. Para permitir a higienização, deve ser mantido as
ameias para passagem de escova interdental.

A hemissecção e ressecção radiculares são


indicadas apenas quando há comprimento do
tronco radicular suficiente para sua realização
(proporção raiz/coroa 1:1). Deve-se avaliar a
divergência dos cones radiculares (raízes pouco
divergentes são mais difíceis de separar), o
comprimento e a forma (cones curtos e pequenos
tendem a apresentar aumento na mobilidade e são
pilares ruins para restaurações protéticas), se há
fusão dos cones radiculares, se há suporte
remanescente ao redor da raiz, estabilidade dos
cones radiculares e se haverá acesso para
higienização.

Sucesso do tratamento
*O sucesso a longo prazo envolve o diagnóstico
completo, seleção de pacientes com boa higiene oral,
excelencia da terapia não cirúrgica e realização
Referência:
cuidadosa dos procedimentos cirúrgicos e
restauradores. • Tratado de periodontia clínica e implantologia
oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução
Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed. -
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

Periodontia Larissa Albuquerque


Urgências em Periodontia
Periodontia – UFPE

*As urgências em periodontia consistem nos • Lesões mucocutâneas: lesões associadas


processos agudos do periodonto, que são condições ao pênfigo e penfigoide, hiperplasia associada
clínicas que se estabelecem e progridem à leucemia.
rapidamente, envolvendo o periodontal e, as vezes, • Lesões gengivais traumáticas: trauma por
estruturas associadas, caracterizadas por dor, escovação excessiva, queimadura por
destruição tecidual e infecção. hipoclorito de sódio, queimadura por peróxido
*Os principais processos agudos do periodonto são de hidrogênio.
as doenças necrosantes, abscessos do periodonto, *Tratamento na fase aguda: na clínica, é feita a
gengivoestomatite herpética, lesões endo-pério e remoção de debris superficial com gaze embebida em
lesões por agentes físicos, químicos ou térmicos. peróxido de hidrogênio e, se o paciente suportar,
raspagem superficial. As recomendações para casa
Doenças periodontais necrosantes
são bochechos com clorexidina 0,12% a cada 12h por
*São doenças inflamatórias necrosantes, causadas 4 a 5 dias. Em casos de doença periodontal
por infecção endógena, em que alterações sistêmicas necrosante severa ou havendo debilitação sistêmica,
predispõem o tecido gengival à invasão de algumas recomenda-se metronidazol 400mg 3 vezes ao dia
bactérias da microbiota oral. por 4 a 5 dias. Em caso de dor, paracetamol 500 a
*Classificação: gengivite necrosante, periodontite 750mg de 4 em 4 horas.
necrosante e estomatite necrosante. *Tratamento da condição residual: ocorre após a
*Em países desenvolvidos, essas doenças têm resolução da fase aguda e segue o protocolo do plano
prevalência em redução e é mais comum entre os 15 de tratamento com a terapia inicial e depois terapia
e 30 anos. Em países em desenvolvimento, a maior básica.
prevalência é em crianças de até 10 anos.
Gengivite necrosante
*O fator primário da etiologia são as bactérias e
também os fatores predisponentes. *Sinais e sintomas sempre presentes: ulceras
*São causadas por bactérias anaeróbias gengivais crateriformes na gengiva marginal/
(espiroquetas e bacilos fusiformes) e isso é interdental e inversão papilar, vermelhidão,
evidenciado pelas bactérias sempre estarem sangramento fácil ao toque ou espontâneo, dor ou
presentes nos tecidos afetados, pelos altos níveis de grande desconforto.
anticorpos contra as bactérias e a rápida resolução da *Sinais e sintomas possivelmente presentes:
gengivite necrosante com metronidazol. grandes quantidades de biofilme, pseudomembrana,
*Os fatores predisponentes são o estresse, eritema linear, hálito fétido, linfadenopatia, febre,
tabagismo, deficiência nutricional, imunossupressão aumento de salivação e gosto metálico.
e outros fatores.
*O diagnóstico é feito pelos sinais e sintomas da Periodontite necrosante
doença juntamente com a história médica. *Doença periodontal necrosante em que a necrose se
*Diagnóstico diferencial: gengivoestomatite estende também ao periodonto de sustentação.
herpética, doenças infecciosas e condições *A sua progressão ocorre após episódios recorrentes
mucocutâneas e lesões gengivais traumáticas. de gengivite necrosante e gengivite necrosante com
• Gengivoestomatite herpética: vesículas sítio com periodontite.
puntiformes ou ulcerações, acúmulo de placa *Sinais e sintomas: todos da gengivite necrosante
e inflamação gengival, aumento de salivação, juntamente com perda, desnudação óssea e as vezes
febre e linfadenopatia. É diferenciada da sequestro e sintomatologia sistêmica mais frequente.
gengivite necrosante por ocorrer *É menos comum que a gengivite necrosante. É mais
principalmente em crianças, não havendo comum em indivíduos imunossuprimidos ou mal
predileção de sítio atingido na gengiva, com nutridos.
vesículas que se rompem formando ulceras OBS: o comprometimento severo das doenças
arredondadas e que não sangram facilmente, periodontais necrosantes pode ocorrer em pacientes
febre alta, dor na boca toda e tratamento de adultos, em caso de HIV+/AIDS com CD4<200 e
mais de 1 semana. carga viral detectável ou em caso de outra condição
• Doenças infecciosas: candidíase sistêmica severa, ou em crianças com desnutrição
pseudomembranosa. devera, condições de vida extremas e infecções virais
severas. Nesses casos, a condição clínica progride de
Larissa Albuquerque
gengivite necrosante, para periodontite necrosante, ou supuração à sondagem e dor irradiada moderada.
atingindo a estomatite necrosante. Também pode ocorrer dente “crescido” e sensível à
percussão, mobilidade dentária, febre e/ou
Abscessos do periodonto
linfoadenopatia e evidência radiográfica de perda
*É uma infecção purulenta circunscrita, no interior da óssea.
parede gengival do sulco (sem doença periodontal *O diagnóstico diferencial pode ser feito com cones
prévia), bolsa periodontal ou opérculo, que pode de guta percha para descobrir a origem do abscesso.
progredir para a destruição dos tecidos do periodonto *Tratamento da fase aguda: tem início com a
de sustentação. avaliação do prognóstico do dente, seguido pela
*O abscesso é formado devido a uma agressão aos drenagem e debridamento da bolsa. Pode ser
tecidos gengivais que atrai células inflamatórias para necessário realizar o ajuste oclusal e se tiver
o local. Os neutrófilos da primeira linha de defesa manifestações sistêmicas, fazer prescrição de
liberam enzimas que digerem células e outros amoxicilina 500mg de 8 em 8 horas por 4 a 5 dias. Em
componentes teciduais, formando pus. Ao mesmo casa, o paciente deve fazer bochecho com clorexidina
tempo que o pus é formado, o infiltrado encapsula a 0,12% por uma semana.
região afetada para tentar impedir a disseminação da *Tratamento da fase residual: segue o plano de
infecção. tratamento.
*São divididos em abscessos do periodonto gengival,
Abscesso pericoronário
periodontal e pericoronário.
*Têm prevalência de 5 a 15% nas urgências e são as *É um abscesso ou inflamação no capuz
2ª e 3ª urgências odontológicas mais prevalentes. pericoronário de um dente parcialmente erupcionado.
*Os sinais e sintomas locais são tumefação, dor
Abscesso gengival
intensa ao toque, exudato purulento ou sanguinolento
*A causa mais frequente é a impacção de corpos e o sítio mais frequente é o terceiro molar inferior.
estranhos no tecido gengival e a característica mais Também pode apresentar trismo, manifestações
marcante é a tumefação gengival. Pode ocorrer sistêmicas (febre, linfadenopatia e astenia) e tem
sangramento ou supuração à sondagem e não há grande potencial de disseminação.
perda de inserção. *O fator primário etiológico é o acúmulo de restos
*O tratamento consiste na remoção do corpo alimentares e de bactérias sob o opérculo (capuz
estranho do tecido, drenagem via sulco gengival de pericoronário). Os fatores secundários são a erupção
preferência, bochecho com soro aquecido 5 vezes dentária parcial, higiene oral deficiente, trauma por
nas primeiras 24h. Após as 24h, realizar o antagonistas e infecções respiratórias.
debridamento local e realizar bochecho com *Tratamento de fase aguda: é feita a drenagem por
clorexidina 0,12% por 1 semana devido a dificuldade irrigação e debridamento leve. Em seguida é feita a
de higienização após o tratamento. prescrição de AINEs para controle de dor. Em caso
de manifestação sistêmica, deve-se prescrever
Abscessos periodontais amoxicilina e metronidazol. Em caso de trismo,
*São causados pela invasão de bactérias ao tecido prescreve-se relaxante muscular. O paciente deve
gengival, impacção de corpos estranhos, forças fazer bochecho com clorexidina 0,12% por uma
oclusais excessivas, antibióticos de largo espectro semana.
sem o desbridamento mecânico, alterações *Tratamento da condição residual: é feita a
anatômicas ou patológicas da superfície radicular. avaliação da viabilidade de erupção e o tipo de tecido
*Em pacientes com periodontite pré-existente, o na distal (queratinizado ou não). Em seguida, é feita
abscesso pode ocorrer por exacerbação aguda a terapia não cirúrgica para diminuir a inflamação para
(quando a periodontite não foi tratada, não responsiva possibilitar a extração dentária ou remoção do capuz.
ao tratamento ou durante a terapia periodontal de
suporte) ou após o tratamento (após a raspagem,
cirurgia ou medicação com antimicrobianos
sistêmicos ou outras drogas, como a nifedipina).
*Em pacientes sem periodontite pré-existente, o
abscesso periodontal pode surgir por impacção (fio
dental, elástico ortodôntico, palito, lençol de borracha,
casca de pipoca), hábitos danosos (roer unha ou fio e
apertamento), fatores ortodônticos (forças
ortodônticas inadequadas ou mordida cruzada),
crescimento gengival.
*As manifestações clínicas são tumefação interdental,
profundidade de sondagem aumentada, sangramento
Periodontia Larissa Albuquerque
Atualidades em medicina periodontal
Periodontia – UFPE

*É uma subárea da periodontia que estuda como a Principais vias


periodontite se relaciona com outras doenças no
*As principais vias de disseminação das bactérias são
corpo e vice-versa, visto que já está estabelecida a
a hematogênica, linfática, orofaríngea e aspiração.
relação entre periodonto, boca e corpo.
*A periodontite é uma doença que leva à perda dos Periodontite e diabetes
tecidos de suporte do dente, provocando perdas
dentárias, que por sua vez comprometem o estado *A prevalência, incidência e progressão da
nutricional, a fala e autoestima do indivíduo, periodontite, bem como a taxa de perda dentária são
resultando na redução da qualidade de vida. Ela tem maiores em pacientes com diabetes e controle
prevalência de 50% e é a sexta doença mais glicêmico deficiente. Em crianças e adolescentes, a
prevalente no mundo, sendo 11% de formas graves. gengivite também tem sido reportada. Todas essas
*O conceito mais atual é que a periodontite é uma condições podem impactar na redução da qualidade
doença crônica, inflamatória e multifatorial associada de vida dos pacientes.
ao biofilme disbiótico, comprometendo a homeostase *“É recomendado fazer rastreamento para diabetes
e que progride para a perda de inserção periodontal e nos pacientes que apresentem comorbidades
perda óssea. A periodontite está baseada no tripé de relacionadas ao diabetes secundário, como
disbiose, inflamação crônica e disfunção imunológica, endocrinopatias e doenças pancreáticas, ou com
sendo a resposta do hospedeiro a perda do elemento condições frequentemente associadas ao diabetes
dentário, além de afetar outras doenças crônicas não mellitus, como infecção por HIV, doença periodontal
transmissíveis (DCNT: obesidade, depressão, e esteatose hepática.”
diabetes, doenças cardiovasculares, doenças *A infecção periodontal gram-negativa irá causar
inflamatórias intestinais). resistência aumentada à insulina e pior controle
*É importante ressaltar que cerca de 2/3 das mortes glicêmico do paciente com diabetes. O tratamento
por doenças crônicas não transmissíveis estão periodontal nesses casos diminui a inflamação e
relacionadas ao tabagismo, consumo abusivo de melhora a sensibilidade à insulina, melhorando o
álcool, alimentação inadequada e sedentarismo. controle glicêmico.
*O paciente com diabetes e periodontite
Ulceração epitelial diagnosticada precisa realizar o tratamento
periodontal e o paciente com diabetes e sem
*A partir do momento em que a gengivite, já com
periodontite diagnosticada precisa fazer cuidados
algumas alterações fisiológicas, evolui para a
preventivos e realizar o monitoramento regular pelo
periodontite, ocorre a formação de bolsas
periograma.
periodontais verdadeiras que apresentam
*Pacientes com diabetes e periodontite apresentam
sangramento espontâneo ou à sondagem. Isso
complicações do diabetes mais graves do que
significa que uma parede de revestimento interno da
aqueles com pouca ou nenhuma periodontite.
bolsa apresenta epitélio ulcerado, ou seja, perdeu sua
*Pacientes com suspeita de diabetes devem ter
continuidade, expondo o tecido conjuntivo, que é o
cuidados avançados limitados até obter o diagnóstico
responsável pelo sangramento. Dessa forma, o
e o bom controle glicêmico.
biofilme e as substâncias inflamatórias que são
produzidas e liberadas para o fluido crevicular Periodontite e desfecho adversos da gestação
gengival estão em contato com a ulceração epitelial.
Como o periodonto é extremamente vascularizado *Os principais desfechos adversos da gestação são o
pelo plexo dentogengival, está estabelecida a parto prematuro (nascimento antes da 27ª semana de
conexão com a circulação maior da face e do corpo. gestação) e o baixo peso ao nascer (menos de
Isso indica que as bactérias e produtos da inflamação 2500g).
poderão atingir qualquer parte do corpo em um *A periodontite sere como reservatório de bactérias
paciente com periodontite. anaeróbicas gram-negativas, lipopolissacarídeos e
*Em um paciente com periodontite moderada, com 28 citocinas, o que é considerada uma ameaça para a
dentes, 6mm de profundidade a sondagem e área unidade fetoplacentária.
lateral com raio de 5mm, a área de epitélio ulcerado *As principais citocinas que estão relacionadas ao
da bolsa periodontal é de 53cm2, equivalente à palma parto prematuro são IL-1A, IL-1B, IL-6, IL-8, TNF-A,
da mão de um adulto. PGE-2, que causam as contrações uterinas
(rupreme). Essas mesmas citocinas estão presentes
na periodontite, local e sistemicamente.
Larissa Albuquerque
*A principal citocina associada ao baixo peso ao
nascer é o TNF-A (fator de necrose tumoral), que
causa a caquexia, prevenindo a captura e utilização
dos lipídeos. Quando presente durante a gestação,
causa o baixo peso ao nascimento.
*Diante disso, o tratamento periodontal deve ser
recomendado antes da concepção, pois os estudos
clínicos com gestantes para tratamento periodontal
no segundo semestre não apresentaram resultados
positivos, podendo significar que este tratamento já
estaria ocorrendo tardiamente.
Periodontite e doenças cardiovasculares
*A plausabilidade biológica da relação entre
periodontite e doenças cardiovasculares é o conceito
de ativação endotelial, que consiste no estímulo
microbiano/inflamatório nas paredes do endotélio
vascular estimular a expressão de moléculas de
adesão ao endotélio. Isso permite que os monócitos
migrem para o subendotélio, tornando-se macrófagos
que fazem a captação de LDL oxidada,
transformando-se em células espumosas que
acumulam lipídeos e sofrem apoptose. Esse
mecanismo permite a formação da placa de ateroma
nas paredes dos vasos. Além disso, os patógenos
periodontais estimulam a proliferação das células do
músculo liso, reduzindo o lúmen do vaso.
*A incidência de doença aterosclerótica é maior em
indivíduos com periodontite.
*A terapia periodontal pode impactar eventos
cardiovasculares pela redução dos múltiplos fatores
de risco, redução de citocinas pró-inflamatória,
proteína C reativa e diferentes interleucinas, reduz a
dilatação fluxo mediada, reduz a pressão arterial,
reduz a espessura da carótida e o LDL. Com isso,
reduz os eventos cardiovasculares de forma indireta.
*Ainda não há estudos que comprovem que o
tratamento periodontal reduza o infarto do miocárdio,
porém ele reduz os fatores de risco para esse evento
agudo.
*A terapia periodontal não-cirúrgica em pacientes
com doenças cardiovasculares deve ser realizada em
sessões de 30 a 45 minutos, a fim de minimizar o risco
de inflamação sistêmica aguda.

Periodontia Larissa Albuquerque


Terapia Periodontal de Suporte
Periodontia – UFPE

*Consiste na última etapa do tratamento periodontal e sondagem com sangramento e evitar


consiste nos procedimentos realizados em intervalos raspagem vigorosa para preservar a estrutura
pré-determinados para auxiliar o paciente na dental;
manutenção da saúde periodontal. • Acesso ao risco: avaliação do risco para a
*O seu principal objetivo é manter a saúde periodontal doença a fim de determinar o intervalo entre
que foi obtida pelo tratamento periodontal e prevenir as consultas. Para isso, deve-se identificar os
a recorrência da doença. Estudos de longa duração sítios que podem ter mais chances de
constataram que a TPS é capaz de manter o nível de progressão da doença, os dentes que têm
inserção clínica estável, enquanto a sua ausência mais chance de serem perdidos e reconhecer
implica na reinfecção.
os indivíduos que têm maior chance de
*A terapia periodontal de suporte pode ocorrer com
recorrência da doença devido a sua
intervalos de 12 meses em indivíduos saudáveis que
tiveram formas leves ou moderadas de periodontite suscetibilidade. O acesso ao risco pode ser
para manter de forma eficiente as condições calculado no www.perio-tools.com/pra e no
periodontais. Já pacientes que foram portadores de www.perio-tools.com/spt, por meio da
periodontite moderada ou avançada devem participar porcentagem de sangramento à sondagem
de um programa de terapia periodontal de suporte a (BoP), bolsas residuais > 4mm, perda de
cada 2 a 4 meses como forma de manter os dentes dentes, perda de suporte periodontal em
ao longo da vida com a remoção mecânica do relação à idade, condições sistêmicas,
biofilme. genéticas e fatores ambientais (fumo). Dessa
*A terapia periodontal de suporte inclui: forma, é razoável iniciar a TPS com intervalos
• Atualização da história médica e entre 3 e 4 meses e então aumentar ou
odontológica: medicações que interferem diminuir os intervalos de acordo com o risco
com os tecidos gengivais, discrasias identificado, sem exceder 1 ano de intervalo.
sanguíneas, adoção de hábitos deletérios,
checagem da glicemia e identificação de
períodos de estresse (imunossupressão e
possibilidade de redução do controle do
biofilme);
• Exame clínico: exame físico extra e intra-
bucal, identificação de fatores que contribuem
para retenção do biofilme, exame periodontal
(índice de placa, sangramento gengival,
presença de bolsa de até 5mm desde que não
haja sangramento gengival, sítios com perda
de inserção, recessão gengival, lesões de
furca e mobilidade dental) e exame das
condições de implantes;
• Avaliação da higiene bucal: somente um
bom controle da placa associado às visitas
para TPS podem estabilizar com segurança a
perda de inserção. A TPS pode reduzir a
velocidade de perda de inserção causada pela
doença periodontal;
• Modificação do comportamento: orientação
de higiene bucal, aconselhamento sobre
fatores de risco, necessidade de adesão às
consultas de TPS;
• Remoção mecânico do biofilme e cálculo
supra e subgengival: reduz a perda de
elemento dental e a perda de inserção a curto
e longo prazo. É preciso ter cuidado com a
reinstrumentação, que só deve ocorrer em
sítios com 4mm ou mais de profundidade de
Larissa Albuquerque

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