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MORAL E DOGMA

1
ALBERT PIKE

MORAL E DOGMA
DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO

TRADUÇÃO

CELES JANUARIO GARCIA JUNIOR


GLAUCO BONFIM RODRIGUES
_____________________________________________________________________________
Copyright@2010 dos autores

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Pike, Albert, 1809-1891.


Moral e dogma do rito escocês antigo e aceito /
Albert Pike ; tradução Celes Januário Garcia Junior,
Glauco Bonfim Rodrigues. -- Birigui, SP : Editora
Yod, 2011.

Título original: Morals and dogma of the ancient


and accepted scottish rite of freemasonry.
ISBN 978-85-63947-03-1 1.

Maçonaria 2. Maçonaria - História


3. Maçonaria - Rituais 4. Maçons I. Título.

11-04444 ... CDD-366.1

EDITORA YOD
Corpo Editorial: Celes J. Garcia Junior
Glauco B. Rodrigues

contato@editorayod.com.br
www.editorayod.com.br

3
SUMÁRIO

Biografia .....................................................................................XI
Prefácio do Autor. .................................................................... XIII
Capítulo IV – Mestre Secreto. ..................................................... 16
Capítulo V – Mestre Perfeito....................................................... 26
Capítulo VI – Secretário Íntimo .................................................. 33
Capitulo VII – Preboste E Juíz. ................................................... 42
Capítulo VIII – Intendente Dos Edifícios ................................... 55
Capítulo IX – Eleito Dos Nove .................................................... 71
Capítulo X – Eleito Dos Quinze .................................................. 84
Capítulo XI – Sublime Eleito Dos Doze ..................................... 103
Capítulo XII – Grão-Mestre Arquiteto ...................................... 119
Capítulo XIII – Real Arco De Salomão .................................... 137
Capítulo XIV – Grande Eleito, Perfeito Sublime Maçom........... 154

IX
X
BIOGRAFIA

Albert Pike, nascido em 29 de


Dezembro de 1809, era o mais velho dos
seis filhos de Benjamin e Sarah Andrews
Pike. Pike foi educado em um lar cristão
e frequentava uma igreja Episcopal. Pike
passou no exame vestibular em Harvard
quando tinha 15 anos de idade, mas não
pôde prosseguir, porque não possuía
fundos suficientes. Após viajar para o
oeste, até Santa Fé, Pike situou-se no
Arkansas, onde trabalhou como editor de
um jornal antes de ser admitido no
tribunal. No Arkansas, conheceu Mary
Ann Hamilton, e casou-se com ela em 18
de Novembro de 1834. Dessa união nasceram 11 filhos. Ele possuía 41
anos quando solicitou sua admissão na Western Star Lodge No. 2 (Loja
da Estrela do Oriente) em Little Rock, Arkansas, em 1850. Membro
ativo na Grand Lodge of Arkansas, Pike assumiu os 10 Graus do Rito de
York entre 1850 e 1853. Recebeu os 29 graus do Rito Escocês em março
de 1853, de Albert Gallatin Mackey, em Charleston, S.C. O Rito Escocês
foi introduzido nos Estados Unidos em 1783. Charleston foi o local do
primeiro Supremo Conselho, que regeu o Rito Escocês nos Estados
Unidos até o Supremo Conselho do Norte ser estabelecido na cidade de
Nova Iorque em 1813.

A fronteira entre as Jurisdições do Norte e do Sul, ainda hoje


reconhecida, foi firmemente estabelecida em 1828. Mackey convidou
Pike a participar da Suprema Corte da Jurisdição do Sul em 1858, em
Charleston, e nos anos seguintes, se tornou o Grande Comandante da
Suprema Corte. Pike manteve suas funções até sua morte, apoiando-se
em várias ocupações, tais como editor do Memphis Daily Appeal, de
fevereiro de 1867 a setembro de 1868, e sua prática advocatícia. Mais
tarde, abriu um escritório de advocacia em Washington, DC, e defendeu

XI
uma série de processos perante o Supremo Tribunal dos Estados
Unidos. Pike empobreceu por conta da Guerra Civil, permanecendo
assim por grande parte da vida, frequentemente contraindo empréstimos
para despesas básicas do Supremo Conselho, antes do conselho votar a
seu favor , em 1879, uma anuidade de $1,200 por ano para o resto de
sua vida. Albert Pike faleceu em 2 de abril de 1892, em Washington, DC.

Percebendo que uma revisão do ritual era necessária para que o


Rito Escocês da Maçonaria viesse a sobreviver, Mackey encorajou Pike a
rever o ritual, para assim produzir um ritual padrão, para o uso de todos
os estados da Jurisdição do Sul. A revisão teve início em 1855 e após
algumas alterações, o Supremo Conselho aprovou a revisão de Pike, em
1861. Mudanças menos significativas foram feitas em dois graus em
1873, após corporações do Rito de York no Missouri contraporem
objeções de que os graus 29º e 30º revelavam os segredos do Rito de
York.

Pike é mais conhecido pela sua grande obra, Morals and Dogma of
the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, publicado em 1871.
Morals and Dogma não deve ser confundido com a revisão de Pike, do
ritual do Rito Escocês. Estas são obras separadas. Walter Lee Brown
escreveu que Pike “destinou-o [Morals and Dogma] a ser um suplemento
para aquele grande ‘sistema interligado de instruções morais, religiosas e
filosóficas’ desenvolvido em sua revisão do ritual Escocês.”

Morals and Dogma era tradicionalmente dado ao candidato após a


sua recepção do 14º grau do Rito Escocês. Esta prática foi interrompida
em 1974. Morals and Dogma não é mais dado a candidatos desde 1974. A
Bridge to Light (Uma Ponte para a Luz), de Rex. R. Hutchens, é concedido
aos candidatos hoje. Hutchens lamenta que Morals and Dogma seja lido
por tão poucos Maçons. A Bridge to Light foi escrito para ser “uma ponte
entre as cerimônias dos graus e suas leituras de Morals and Dogma”.

XII
PREFÁCIO DO AUTOR.

A obra seguinte foi preparada com a autorização do Supremo


Conselho do Trigésimo Terceiro Grau, para a Jurisdição Sul dos Estados
Unidos, pelo Grande Comandante e agora é publicada por sua direção.
Contém os Ensinamentos do Rito Escocês Antigo e Aceito daquela
Jurisdição, e é especialmente destinado para leitura e estudo pelos Irmãos
daquela Obediência, em conexão com os Rituais dos Graus. Espera-se e
expecta-se que cada um se apresente com uma cópia, e se torne
familiarizado com ela; por este propósito, como o custo da obra consiste
inteiramente em sua impressão e encadernação, ela será fornecida a um
preço moderado e considerável.

Será proporcionada aos Irmãos do Rito Escocês nos Estados


Unidos e no Canadá, a oportunidade de comprá-la, mas não será
proibida a outros Maçons; porém não serão solicitados que comprem.

Ao preparar esta obra, o Grande Comendador foi quase Autor e


Compilador, igualmente; uma vez que extraiu uma metade inteira de seu
conteúdo das obras dos melhores escritores e dos pensadores mais
filosóficos ou eloquentes. Talvez tivesse sido melhor e mais aceitável se
tivesse extraído mais e escrito menos. Ainda, talvez metade dele seja de si
próprio; e, ao incorporar aqui os pensamentos e palavras de outros,
modificou e adicionou continuamente à linguagem, muitas vezes
interligando, nas mesmas sentenças, suas próprias palavras às deles. Não se
destinando ao mundo em geral, ele sentiu a liberdade de elaborar, a
partir de todas as fontes acessíveis, um Compêndio de Moral e Dogma
do Rito, para re-moldar sentenças, alterar e acrescentar palavras e frases,
combiná-las com suas próprias e usá-las como se fossem suas próprias,
para serem tratadas ao seu prazer, e assim, úteis para formar o conjunto
mais valioso para os propósitos tencionados. Reclama para si, portanto,
pouco do mérito da autoria, e não se preocupou em distinguir o que é
seu próprio do que tomou de outras fontes, desejando, inteiramente, que
cada porção do livro, por sua vez, seja vista como tendo sido tomada
emprestada de algum escritor mais antigo e melhor.

XIII
Os ensinamentos destas Leituras não são sacramentais, na
medida em vão além do reino da Moralidade, para aqueles domínios do
Pensamento e da Verdade. O Rito Escocês Antigo e Aceito usa a palavra
“Dogma” em seu sentido verdadeiro, de doutrina ou ensinamento; não
é dogmático no sentido odioso do termo. Todos estão completamente
livres para rejeitar e discordar de qualquer coisa aqui que possa lhe
parecer falsa ou insalubre. Apenas é requerido que se pese o que é
ensinado e que se dê uma audiência justa e um juízo despreconceituoso.
Obviamente, as antigas especulações teosóficas e filosóficas não são
incorporadas como parte das doutrinas do Rito; mas porque é de
interesse e proveito saber o que o Intelecto Antigo pensava sobre estes
assuntos, e porque nada prova tão conclusivamente a diferença radical
entre a nossa natureza humana e a animal, quanto a capacidade da mente
humana de entreter tais especulações sobre si mesmo e a Divindade.
Mas, quanto a essas mesmas opiniões, podemos dizer, nas palavras do
douto canonista Ludovico Gómez: “Opiniones secundum varietatem
temporum senescant et intermoriantur, aliaeque diversae vel
prioribus contrariae reniscantur et deinde pubescant.”

XIV
Os títulos dos Graus mostrados aqui mudaram em algumas
instâncias. Os títulos corretos são os seguintes:

1º Aprendiz
2º Companheiro
3º Mestre
4º Mestre Secreto
5º Mestre Perfeito
6º Secretário Íntimo
7º Preboste e Juiz
8º Intendente dos Edifícios
9º Eleito dos Nove
10º Eleito dos Quinze
11º Eleito dos Doze
12º Mestre Arquiteto
13º Real Arco de Salomão
14º Eleito Perfeito
15º Cavaleiro do Oriente
16º Príncipe de Jerusalém
17º Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
18º Cavaleiro Rosa-Cruz
19º Pontífice
20º Mestre da Loja Simbólica
21º Noaquita ou Cavaleiro Prussiano
22º Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano
23º Chefe do Tabernáculo
24º Príncipe do Tabernáculo
25º Cavaleiro da Serpente de Bronze
26º Príncipe de Misericórdia
27º Cavaleiro Comandante do Templo
28º Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
29º Cavaleiro Escocês de Santo André
30º Cavaleiro Kadosh
31º Inspetor Inquisidor
32º Mestre do Real Segredo

XV
CAPÍTULO IV: MESTRE SECRETO

CAPÍTULO IV.

MESTRE SECRETO

A MAÇONARIA é uma sucessão de alegorias, os meros


veículos das grandes lições de moral e filosofia. Você
apreciará de maneira mais completa seu espírito, seu objetivo e seus
propósitos à medida que avançar aos diferentes Graus, os quais, você
perceberá, constituem um grande, completo e harmonioso sistema.

Se você ficou desapontado nos três primeiros Graus,


conforme você os recebeu, e se lhe pareceu que o desempenho não
atingiu o prometido, que as lições de moralidade não são novas, a
instrução científica é apenas rudimentar e os símbolos são explanados

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MORAL E DOGMA

imperfeitamente, lembre-se de que as cerimônias e lições desses


Graus foram, por muito tempo, acomodando-se cada vez mais,
através de reduções e mergulhos no lugar-comum, para a memória e
capacidade frequentemente limitadas do Mestre e Instrutor, e para o
intelecto e necessidades do Pupilo e Iniciado; lembre-se de que elas
vieram até nós a partir de uma época onde símbolos eram usados não
para revelar, mas para ocultar; quando o aprendizado mais comum
era restrito a alguns escolhidos, e os princípios mais simples de
moralidade pareciam verdades recém-descobertas; e de que esses
Graus antigos e simples permanecem como as colunas quebradas de
um templo Druídico sem teto, em sua grandeza rude e mutilada; em
muitas partes, também, corrompidos pelo tempo, e desfigurados
por adições modernas e interpretações absurdas. Eles são apenas a
entrada para o grande Templo Maçônico, as colunas triplas do
pórtico.
Você deu o primeiro passo sobre seu limiar, o primeiro passo
em direção ao santuário interior e coração do templo. Você está no
caminho que leva à encosta da montanha da Verdade; e depende de
seu sigilo, obediência, e fidelidade, se você irá avançar ou
permanecer estacionário.

Não imagine que você se tornará de fato um Maçom por


aprender o que é comumente chamado de “obra”, ou mesmo por se
tornar familiarizado com nossas tradições. A Maçonaria possui uma
história, uma literatura, uma filosofia. Suas alegorias e tradições lhe
ensinarão muito; mas muito deve ser procurado em outro lugar. As
correntes de aprendizado que agora fluem cheias e amplas devem ser
seguidas até suas nascentes, nas fontes que brotam do passado
remoto, e lá você encontrará a origem e o significado da Maçonaria.

Algumas lições rudimentares de arquitetura, algumas


máximas de moralidade admitidas universalmente e algumas
tradições desimportantes, cujos significados reais são desconhecidos
ou mal- interpretados, deixarão de satisfazer o investigador sincero
em busca da verdade Maçônica. Que aquele que se contenta com isso
não busque escalar mais alto. Quem deseja entender as proporções
harmoniosas e belas da Francomaçonaria precisa ler, estudar, refletir,
digerir, e discriminar. O verdadeiro Maçom é um perseguidor ardente

17
CAPÍTULO IV: MESTRE SECRETO

em busca do conhecimento; e sabe que ambos os livros e símbolos


antigos da Maçonaria são navios que nos aportam abarrotados de
riquezas intelectuais do Passado; e que o despacho dessas frotas
mercantes intelectuais é tamanho que lança luzes sobre a história da
Maçonaria, e prova sua reivindicação de ser reconhecida como
benfeitora da humanidade, nascida no mesmo berço da raça.

O Conhecimento é o mais genuíno e real dos tesouros


humanos; portanto é Luz, enquanto a Ignorância é Treva. Ele é o
desenvolvimento da alma humana, e sua aquisição é o crescimento
dessa alma, que ao nascimento do homem nada sabe, e então, de certa
forma, pode-se dizer que não é nada. Ela é a semente, que tem em si
o poder para crescer, para adquirir, e pela aquisição ser desenvolvida,
assim como a semente se desenvolve em ramo, planta e árvore. “Não
precisamos fazer uma pausa no argumento comum de que pelo
conhecimento o homem excele ao homem, e que nisto excele aos
animais; que pelo conhecimento o homem ascende aos céus e seus
impulsos, onde em corpo não poderia chegar, e assim por diante.
Vamos, sim, respeitar a dignidade e excelência do conhecimento e
aprendizado nos quais reside aquilo que a natureza do homem mais
aspira, que é imortalidade ou continuidade. Pois para isso tende a
procriação, e o aumento de Casas e Famílias; para isso as
construções, fundações e monumentos; para isso tendem o desejo de
memória, fama, e celebração, e de fato, a força de todos os outros
sentimentos humanos.” Que nossas influências sobrevivam a nós, e
sejam forças vivas quando estivermos em nossos túmulos; e não
meramente que nossos nomes sejam lembrados; mas sim que nossas
obras sejam lidas, nossos atos comentados, nossos nomes recolhidos
e mencionados quando estivermos mortos, como evidências de que
essas influências vivem e governam, inclinam e controlam uma
porção da humanidade e do mundo, – esta é a aspiração da alma
humana. “Vemos, então, até que ponto os monumentos de
genialidade e aprendizado são mais duráveis que os monumentos de
poder ou os feitos por mãos. Pois os versos de Homero não
perduraram por vinte e cinco centenas de anos ou mais, sem a perda
de uma sílaba ou letra, e durante esse tempo infinitos palácios,
templos, castelos, cidades decaíram ou foram demolidos? Não é
possível que haja retratos ou estátuas verdadeiras de Ciro,

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MORAL E DOGMA

Alexandre, César, não, nem de Reis ou grandes personagens de


muitos anos depois; pois os originais não podem sobreviver, e as
cópias não podem senão perder a vida e a verdade. Mas as imagens
dos homens de genialidade e conhecimento permanecem em livros,
isentas dos prejuízos do tempo, e capazes de uma renovação
perpétua. Nem podem ser chamadas adequadamente de imagens,
porque continuam a gerar, e lançar suas sementes nas mentes dos
outros, provocando e causando um sem-número de ações e opiniões
em épocas posteriores; de modo que, se a invenção do navio foi
considerada tão nobre, e este carrega riquezas e mercadorias de
lugar em lugar, e consocia as mais remotas regiões na participação
de seus frutos, quanto mais as letras devem ser engrandecidas, pois
que, como os navios, atravessam os vastos mares do tempo, e fazem
uma época tão longínqua participar da sabedoria, iluminação, e
invenções de outra.”

Aprender, atingir o conhecimento, ser sábio, é uma


necessidade para toda alma verdadeiramente nobre; ensinar,
comunicar esse conhecimento, compartilhar essa sabedoria com os
outros, e não aprisionar grosseiramente esse tesouro público,
colocando sentinelas à porta para rechaçar os necessitados, é ao
mesmo tempo um impulso de uma criatura nobre e o trabalho mais
valioso do ser humano.

“Houve uma pequena cidade,” diz o Pregador, o filho de


Davi, “em que havia poucos homens, e veio contra ela um grande rei,
e a cercou e levantou contra ela grandes baluartes. E encontrou-se
nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria, e
ninguém se lembrava daquele pobre homem. Então disse eu: Melhor
é a sabedoria do que a força, ainda que a sabedoria do pobre foi
desprezada, e as suas palavras não foram ouvidas.” Se houver a
oportunidade de você, meu irmão, prestar um bom serviço à
humanidade, e ser recompensado com indiferença e esquecimento
somente, ainda assim não fique desencorajado, mas lembre-se do
mais sábio conselho do Rei. “Pela manhã semeia a tua semente, e à
tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se
esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas.” Semeie você a
semente, seja quem for que a colha. Saiba que você pode ser

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CAPÍTULO IV: MESTRE SECRETO

capacitado para fazer o bem; e o faça tão somente porque isto é certo,
encontrando no ato em si um grande prêmio e recompensa.

Alcançar a verdade, e servir nossos companheiros, nossa


pátria, e a humanidade – este é o destino mais nobre do homem.
Doravante e por toda sua vida este deve ser seu objetivo. Se deseja
ascender a esse destino, avance! Se possui outros e menos nobres
objetivos, e se contenta com um voo baixo, pare aqui! Deixe outros
escalarem as alturas, e a Maçonaria completar sua missão.

Se for avançar, cinja seus lombos para a luta! Pois o caminho


é longo e cansativo. O Prazer, todo sorridente, irá lhe acenar, por um
lado, e a Indolência o convidará a descansar entre as flores, pelo
outro. Prepare-se, através do sigilo, da obediência, e da fidelidade
para resistir às seduções de ambos!

O Sigilo é indispensável em um Maçom, não importando o


Grau. É a primeira e quase a única lição ensinada ao Aprendiz
Iniciado. As obrigações que cada um de nós assumiu para com todo
Maçom existente exigem de nós a execução dos deveres mais sérios
e onerosos para com aqueles pessoalmente desconhecidos para nós
até procurarem nossa ajuda – deveres que precisam ser cumpridos,
mesmo em risco de morte, ou nossos juramentos solenes seriam
quebrados e violados e seríamos estigmatizados como falsos Maçons
e homens infiéis, nos ensinam quão profunda loucura seria trair
nossos segredos para aqueles que, não vinculados a nós por nenhum
laço de obrigação comum, poderiam, ao obtê-los, persuadir-nos em
sua extrema necessidade, quando a urgência da ocasião não nos der
tempo para refletir, e o mandato peremptório de nossa obrigação nos
compelir a prestar um dever de irmão para um baixo impostor.

Os segredos de nosso irmão, quando comunicados a nós,


devem ser sagrados, sendo tais como a lei de nossa pátria nos autoriza
manter. Não somos obrigados a manter nenhum outro, quando a lei a
que fomos chamados a obedecer é de fato uma lei, tendo sido
emanada da única fonte do poder, o Povo. Aos editos que emanam da
mera vontade arbitrária de um poder despótico, contrários à lei de
Deus ou à Grande Lei da Natureza, destrutivos aos inerentes direitos

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MORAL E DOGMA

humanos, violadores do direito de livre-pensamento, livre-expressão,


livre-consciência, é válido que nos rebelemos e aspiremos ab-rogá-
los.

Obediência à Lei não significa submissão à tirania; nem que,


por um sacrifício perdulário de todo o sentimento nobre, devamos
oferecer ao despotismo a honra da bajulação. Conforme cada nova
vítima cai, poderíamos erguer nossa voz na mais alta lisonja.
Poderíamos cair perante pés orgulhosos, poderíamos suplicar, como
bênção, a honra de beijar a mão ensanguentada que se levantou contra
os indefesos. Poderíamos fazer mais: poderíamos trazer o altar e um
sacrifício, e implorar que “Deus” não ascenda tão logo para o Céu.
Tudo isso podemos fazer, pois nisto temos a triste lembrança do que
seres com formas e almas humanas já fizeram. Mas isso é tudo o que
podemos fazer. Podemos constranger nossas línguas a serem falsas e
nossos traços a se curvarem ao semblante de uma adoração
apaixonada que desejamos expressar, nossos joelhos a caírem
prostrados; mas não podemos constranger o nosso coração. Nele a
virtude ainda tem uma voz que não foi afogada por hinos nem
aclamações; nele os crimes que glorificamos como virtudes ainda são
crimes, e nele aquele que transformamos em Deus é o mais
desprezível dos homens; e se, de fato, não sentimos isso, talvez
sejamos nós mesmos mais desprezíveis ainda.

Mas esta lei que é a justa expressão da vontade e julgamento


do povo é o decreto de todos e de cada indivíduo. Consistente com a
lei de Deus e com a grande lei da natureza, consistente com o
direito puro e abstrato, tanto temperado pela necessidade e pelo
interesse geral, como distinto do interesse privado de indivíduos, é
uma lei obrigatória a todos, porque é a obra de todos, a vontade de
todos, o julgamento solene de todos, para o qual não há apelação.

Neste Grau, meu irmão, você está para aprender


especialmente o dever da obediência a essa lei. Há uma única lei
verdadeira e original, obediente à razão e à natureza, difundida a
todos, invariável, eterna, que convida ao cumprimento do dever e à
abstinência da injustiça, e chama com sua voz irresistível, a qual é
sentida em toda a sua autoridade onde quer que seja ouvida. Esta lei

21
CAPÍTULO IV: MESTRE SECRETO

não pode ser ab-rogada ou diminuída, ou suas sanções afetadas, como


qualquer lei humana. Um senado inteiro, um povo inteiro não pode
discordar dessa obrigação primordial. Não precisa de um comendador
para torná-la distintamente inteligível, e nem é uma coisa em Roma e
outra em Atenas; uma coisa hoje e outra nas eras seguintes; mas em
todo o tempo e em todas as nações, é, foi, e será única e interminável;
– única como Deus, seu grande Autor e Promulgador, que é o Comum
Soberano de toda a humanidade, sendo Ele mesmo Um. Nenhum
homem pode desobedecê-la sem voar, por assim dizer, de seu próprio
peito e repudiar sua natureza; e este mesmo ato infligirá sobre si a
mais severa das retaliações, mesmo pensando haver escapado do que
é visto como punição.

É nosso dever obedecer às leis de nosso país, e cuidar que


preconceito ou paixão, fantasia ou afeto, erro e ilusão, não sejam
confundidos com consciência. Nada é mais usual do que fingir
consciência em todas as ações humanas que são públicas e não podem
ser ocultadas. O desobediente se recusa a submeter-se às leis, e
também estas em muitos casos fingem consciência; e assim a
desobediência e a rebelião se transformam em consciência, na qual
não há nem conhecimento nem revelação, nem verdade, nem
caridade, nem razão, nem religião. A Consciência está vinculada às
leis. A consciência direita e certa é a razão correta reduzida à prática,
conduzindo as ações morais, enquanto a consciência perversa está
assentada na fantasia ou nos sentimentos – um amontoado de
princípios irregulares e defeitos irregulares – que é o mesmo na
consciência o que a deformidade é no corpo, ou a rabugice nos afetos.
Não é suficiente que a consciência seja educada pela natureza; mas
deve ser educada por Deus, conduzida pela razão, tornada operativa
pelo discurso, auxiliada pela escolha, instruída por leis e princípios
sóbrios; e então ela é justa, e pode ser certa. Todas as medidas gerais
de justiça são as leis de Deus, e, por conseguinte, constituem as regras
gerais de governo para a consciência; mas a necessidade também tem
grande voz na organização dos assuntos humanos, e na disposição das
relações humanas, e disposição das leis humanas; e estas medidas
gerais, como um grande rio em pequenos riachos, são deduzidas em
poucos regatos e particularidades, pelas leis e costumes, pelas
sentenças e acordos dos homens, e pelo despotismo absoluto da

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MORAL E DOGMA

necessidade, que não permitirão a justiça e equidade perfeitas e


abstratas serem a regra única de governo civil em um mundo
imperfeito; posto que a lei necessita ser o maior dos bens da maior
das multidões.

Quando fizerdes um voto a Deus, não adiai em pagá-lo.


Melhor seria que não fizésseis votos do que fazê-los e não pagar. Não
sejais imprudentes com vossa boca, nem deixais vosso coração ser
apressado para articular qualquer coisa perante Deus: porque Deus
está nos Céus, e vós sobre a terra; portanto, deixai vossas palavras
serem poucas. Pese bem o que você promete; mas uma vez que a
promessa e o compromisso são feitos, lembre-se que aquele que é
falso à sua obrigação será falso à sua família, aos seus amigos, ao seu
país, e ao seu Deus.

Fides servanda est: “A fé empenhada deve sempre ser


mantida”, era uma máxima e um axioma até entre os pagãos. O
virtuoso Romano dizia que não se deve deixar o que parece ser
conveniente ser baixo, e se for baixo, tampouco deixe parecer
conveniente. O que é que esta assim chamada conveniência pode
trazer de tão valioso quanto o que ela retira, se lhe priva da reputação
de homem bom e lhe rouba de sua própria integridade e honra? Em
todas as épocas, aquele que viola sua palavra empenhada é
considerado indizivelmente vil. A palavra de um Maçom, como a
palavra de um cavaleiro nos tempos da cavalaria, uma vez dada, deve
ser sagrada; e o julgamento de seus irmãos, sobre aquele que viola
sua promessa, deve ser severo como os julgamentos dos Censores
Romanos contra quem violava seu juramento. A boa-fé é
reverenciada entre Maçons como o era entre os Romanos, que
situaram sua estátua no capitólio, próxima à de Jupiter Optimus
Maximus; e nós, assim como eles, sustentamos que a calamidade deve
ser sempre escolhida ao invés da baixeza; e com os cavaleiros de
outrora, que se deve sempre morrer a ser desonrado.

Seja fiel, portanto, às promessas que faz, às garantias que dá,


e aos votos que assume, uma vez que quebrar este ou aquele é
aviltante e desonroso.

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CAPÍTULO IV: MESTRE SECRETO

Seja fiel à sua família, e execute todos os deveres de um bom


pai, um bom filho, um bom marido, e um bom irmão.

Seja fiel aos seus amigos; pois a verdadeira amizade é de uma


natureza própria não apenas para sobreviver por entre todas as
vicissitudes da vida, mas para continuar por uma duração sem fim;
não somente para resistir ao choque ou conflito de opiniões, e ao
rugido de uma revolução que abala o mundo, mas para restar quando
os céus não mais existirem, e brotar fresca e doce das ruínas do
universo.

Seja fiel ao seu país, e prefira sua dignidade e honra a qualquer


grau de popularidade e honra para si mesmo; consultando seu
interesse, em lugar de seu próprio e em vez da satisfação e
gratificação das pessoas, que estão frequentemente em desacordo
com seu bem-estar.

Seja fiel à Maçonaria, o que é ser fiel aos melhores interesses


da humanidade. Labore, através de preceito e exemplo, para elevar o
estandarte do caráter Maçônico, para alargar sua esfera de influência,
para popularizar seus ensinamentos, e fazer todos os homens
conhecerem-na por Grande Apóstola de Paz, Harmonia, e Boa-
Vontade na terra entre os homens; da Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.

A Maçonaria é útil a todos os homens: aos doutos, porque os


oferece a oportunidade de exercitar seus talentos sobre assuntos
eminentemente dignos de sua atenção; aos iletrados, porque os
oferece importante instrução; aos jovens, porque os presenteia com
preceitos salutares e bons exemplos, e os acostuma a refletir sobre o
adequado modo de viver; ao homem do mundo, a quem fornece nobre
e útil recreação; ao viajante, a quem possibilita encontrar amigos e
irmãos em países onde, de outra forma, se sentiria isolado e solitário;
ao homem digno em desgraça, a quem presta assistência; ao aflito, a
quem distribui consolação; ao homem caridoso, a quem possibilita
fazer mais o bem, através da união àqueles que são caridosos como
ele; e a todos os que possuem almas capazes de apreciar sua
importância, e de gozar dos encantos de uma amizade fundada sobre

24
MORAL E DOGMA

os mesmos princípios da religião, moralidade e filantropia.

Um Francomaçom, portanto, deve ser um homem de honra e


de consciência, preferindo seu dever a qualquer coisa ao redor, até à
própria vida; independente em suas opiniões, e de boa moral;
submisso às leis, devotado à humanidade, ao seu país, à sua família;
benévolo e indulgente com seus irmãos, amigo de todos os homens
virtuosos, e pronto para ajudar seus companheiros por todos os meios
em seu poder.

Assim você será fiel a si mesmo, aos seus companheiros, e a


Deus, e assim você fará honras ao nome e graduação de MESTRE
SECRETO; a qual, assim como outras honrarias Maçônicas, degrada
se não for merecida.

25
CAPÍTULO V: MESTRE PERFEITO

CAPÍTULO V.

MESTRE PERFEITO

Mestre Khūrūm era um homem industrioso e honesto.


O Executava diligentemente o que era contratado para
fazer, e o fazia bem e dedicadamente. Não recebia nenhum salário
que não lhe era devido. Indústria e honestidade são as virtudes
peculiarmente inculcadas neste Grau. São virtudes comuns e caseiras;
mas que não estão abaixo de nossa atenção. Assim como as abelhas
não amam ou respeitam os zangões, a Maçonaria nem ama nem
respeita os preguiçosos e os que vivem por sua própria esperteza; e
muito menos aqueles ácaros parasíticos que vivem em si mesmos.
Pois os que são indolentes são passíveis de se tornar dissipados e
viciados; e a honestidade perfeita, que deveria ser a qualificação
comum de todos, é mais rara do que diamantes. Fazer de forma séria
e estável, e fiel e honestamente o que temos de fazer – talvez isto
exija, quando visto de todos os pontos de vista, apenas um pouco de
inclusão do corpo inteiro da lei moral; e mesmo nas aplicações mais
comuns e caseiras, estas virtudes pertencem ao caráter de um Mestre
Perfeito.

26
MORAL E DOGMA

A ociosidade é o enterro de um homem vivo. Pois uma pessoa


ociosa é tão inútil para quaisquer propósitos de Deus e do homem que
é como um morto, indiferente às mudanças e necessidades do mundo;
e ele somente vive para gastar seu tempo e comer os frutos da terra.
Como um verme ou um lobo, quando sua hora chega, ele morre e
perece, e nesse meio-tempo é um nada. Não lavra nem carrega fardos:
tudo o que executa é sem proveito ou maligno.
É vasta a obra que o homem pode fazer se nunca for ocioso: é
gigantesco o caminho que o homem pode seguir na virtude, se nunca
sair de seu trajeto por um hábito vicioso ou um grande crime: e aquele
que perpetuamente lê bons livros, se suas ações forem responsáveis,
terá um imenso estoque de conhecimento.

Santo Ambrósio, e a partir de seu exemplo, Santo Agostinho


dividiam cada dia nestas tertias de atividade: gastavam oito horas nas
necessidades da natureza e recreação: oito horas na caridade,
prestando assistência aos outros, despachando seus negócios,
reconciliando suas inimizades, reprovando seus vícios, corrigindo
seus erros, instruindo sua ignorância, e conduzindo os assuntos de
suas dioceses; e as outras oito horas gastavam em estudo e oração.

Pensamos, na idade dos vinte, que a vida é demasiado longa


para o que temos a aprender e fazer; e que existe uma distância
fabulosa entre nossa idade e a de nosso avô. Mas, na idade dos
sessenta – se bastante sortudos para atingi-la, ou bastante infelizes,
dependendo do caso, e na medida em que investimos proveitosamente
ou desperdiçamos nosso tempo – paramos e olhamos para trás, ao
longo do caminho que percorremos, fazemos cálculos e nos
esforçamos para balancear nossa conta entre tempo e oportunidade, e
percebemos que vivemos uma vida muitíssimo curta e lançamos fora
uma porção gigante de nosso tempo. Então, em nossa mente,
deduzimos da soma total dos nossos anos, as horas que
necessariamente passamos dormindo; as horas de trabalho de cada
dia, durante as quais a superfície do lago preguiçoso da mente não era
movimentada ou agitada por nem um único pensamento; os dias que
nos livramos alegremente de alcançar algum objetivo real ou
imaginário que repousava ao longe, e entre nós e ele ficavam de
maneira provocante os dias intervenientes; as horas mais que

27
CAPÍTULO V: MESTRE PERFEITO

desperdiçadas em tolices e dissipação, ou esbanjadas em estudos


imprestáveis e improfícuos; e admitimos com suspiro que poderíamos
ter feito e aprendido, na metade da contagem dos anos bem gastos,
muito mais do que o que fizemos em todos os nossos quarenta anos
de idade adulta.

Aprender e fazer! – é este o trabalho da alma aqui em baixo.


A alma cresce tão verdadeiramente quanto um carvalho. Assim como
as árvores retiram o carbono do ar, do orvalho, da chuva, da luz, e o
alimento que a terra fornece às suas raízes, e por sua química
misteriosa os transmuta em seiva e fibra, em madeira e folha, em flor
e fruto, em cor e perfume, a alma também embebe-se de
conhecimento e transforma por uma alquimia divina o que aprende
em sua própria substância, e cresce de dentro para fora com poder
e força inerentes, iguais àqueles que se encontram ocultos no grão
de trigo.

A alma possui seus sentidos, tal como o corpo, que podem ser
cultivados, ampliados, refinados, conforme ela própria cresce em
estatura e proporção; aquele que não consegue apreciar uma fina
pintura ou estátua, um nobre poema, uma doce harmonia, um
pensamento heroico, ou uma ação interessada, ou para quem a
sabedoria da filosofia é apenas tontice e balbucio, as verdades mais
nobres são de importância menor do que os preços das ações ou do
algodão, e a elevação moral menor do que a baixeza no ofício,
meramente vive no nível do lugar- comum, e se orgulha
adequadamente dessa inferioridade dos sentidos da alma, que é a
inferioridade e o desenvolvimento imperfeito da própria alma.

Dormir pouco, e estudar muito; dizer pouco, e ouvir e pensar


muito; aprender o que podemos ser capazes de fazer, e então fazer,
fervorosa e vigorosamente, tudo o que pode ser exigido de nós pelo
dever e pelo bem de nossos companheiros, nosso país, e da
humanidade, – são estes os deveres de todo Maçom que deseja imitar
o Mestre Khūrūm.

O dever de um Maçom como um homem honesto é simples e


fácil. Requer de nós honestidade nos contratos, sinceridade ao

28
MORAL E DOGMA

afirmar, simplicidade ao negociar, e fidelidade ao desempenhar. Não


minta de maneira nenhuma, nem numa coisa pequena nem numa
grande, nem na substância nem na circunstância, nem na palavra nem
no ato: isto é, não alegue o que é falso; não encubra o que é
verdadeiro; e deixe a medida de sua afirmação ou negação ser o
entendimento de seu contratante; pois aquele que engana o comprador
ou o vendedor por falar o que é verdadeiro, mas num sentido não
entendido ou intencionado pelo outro, é um mentiroso e um ladrão.
Um Mestre Perfeito precisa evitar aquilo que ludibria, e igualmente
aquilo que é falso.

Deixe seus preços serem concordantes com a medida de bem


e mal estabelecida na fama e contagem comum dos homens mais
sábios e mais misericordiosos hábeis nessa manufatura ou
comodidade; e com o ganho, que, sem escândalo, é permitido às
pessoas em todas as mesmas circunstâncias.

No relacionamento com os outros, não faça tudo o que você


pode legalmente fazer; mas mantenha algo em seu poder; e, por existir
uma margem de ganho na compra e venda, não tome até o último
centavo permitido, ou o que acha ser; pois apesar de ser legítimo,
mesmo assim não é seguro; e aquele que ganha tudo o que pode
ganhar legalmente esse ano, possivelmente será tentado a ganhar algo
ilegalmente no ano que vem.

Que nenhum homem, por sua pobreza, se torne mais opressor


e cruel em sua barganha; mas tranquilamente, modestamente,
diligentemente e pacientemente, encaminhe seu patrimônio a Deus, e
siga seu interesse, mas deixe o sucesso para Ele.

Não retenha o pagamento do assalariado; pois cada grau de


sua detenção além do tempo é injustiça e falta de caridade, e isso rala
a face dele até que saiam lágrimas e sangue; mas pague-o exatamente
conforme o contratado, ou de acordo com suas necessidades.

Mantenha religiosamente todas as promessas e pactos, mesmo


que feitos para a sua desvantagem, ainda que depois você perceba que
poderia ter feito melhor; e não deixe nenhum de seus atos precedentes

29
CAPÍTULO V: MESTRE PERFEITO

ser alterado por um acidente futuro. Não deixe nada fazer você
quebrar sua promessa, a menos que ela seja ilegal ou impossível; isto
é, tanto fora de sua natureza como de seu poder civil, você estando
sob o poder de outro; ou que isso seja intoleravelmente inconveniente
a você, e de nenhuma vantagem para outro; ou que você o tenha
expressado ou presumido razoavelmente.

Que nenhum homem obtenha salários ou taxas por um


trabalho que não consegue fazer, ou que, provavelmente, não possa
ser responsabilizado; ou que execute, em algum sentido,
lucrativamente, com facilidades ou com vantagens. Que nenhum
homem aproprie-se para seu uso próprio do que Deus, por uma
misericórdia especial, ou a República, tornaram comum a todos; pois
isso é contra a Justiça e a Caridade.

É contra a lei da equidade, da justiça e da caridade que alguém


seja o pior para nós, para nosso ato direto e para nossa intenção. Não
fazemos então aos outros aquilo que não faríamos a nós mesmos; pois
enriquecemos sobre as ruínas de sua fortuna.

Não é honesto receber algo de outro sem retornar por isso um


equivalente. O jogador que ganha o dinheiro de outro é desonesto.
Não deve haver tais coisas como apostas e jogos de azar entre
Maçons: pois um homem honesto não desejará por nada o que
pertence a outro. O comerciante que vende um artigo inferior por um
preço alto, o especulador que faz as agonias e carências de outros
encherem seu erário não são nem justos nem honestos, mas baixos,
ignóbeis, e ineptos para a imortalidade.

Deve ser o desejo sincero de cada Mestre Perfeito viver, tratar


e agir de forma que, quando vier a morrer, possa ser capaz de dizer, e
sua consciência de julgar, que nenhum homem na terra é mais pobre
porque ele é mais rico; que aquilo que possui, ganhou honestamente,
e nenhum homem pode chegar diante de Deus e reclamar que, pelas
regras de equidade administradas em seu grande tribunal supremo,
esta casa na qual morremos, esta terra que legamos a nossos
herdeiros, este dinheiro que enriquece aqueles que sobrevivem para
tolerar nosso nome, são dele e não nossos, e que nesse fórum somos

30
MORAL E DOGMA

apenas seus depositários. Pois é mais do que certo que Deus é justo,
e forçaria severamente tal confiança; e para todos a quem
despojamos, para todos a quem defraudamos, para todos de quem
tomamos ou conquistamos qualquer coisa sem uma consideração
justa e algo equivalente, Ele decretaria uma compensação adequada e
completa.

Tem cuidado, então, para que não recebas salários, aqui ou


alhures, que não te são devidos! Pois se tu o fizeste, danificaste a
alguém, por tomares aquilo que no supremo tribunal de Deus a ele
pertence; e se o que assim tomaste é riqueza, ou status, ou influência,
ou reputação ou afeição, tu seguramente serás ordenado a prestar
completa satisfação.

31
CAPÍTULO VI: SECRETÁRIO ÍNTIMO

32
MORAL E DOGMA

CAPÍTULO VI.

SECRETÁRIO ÍNTIMO

[Secretário Confidencial.]

V ocê é especialmente ensinado neste Grau a ser zeloso e


fiel; ser desinteressado e benevolente; e atuar como
pacificador, em casos de dissensões, disputas, e querelas entre os
irmãos.

O Dever é o magnetismo moral que controla e guia o curso do


verdadeiro Maçom sobre os mares tumultuosos da vida. Não importa
se as estrelas da honra, reputação e recompensa brilham ou não, na
luz do dia ou na escuridão da noite de angústia e adversidade, na
calmaria ou tempestade, esse ímã infalível ainda lhe mostra o
verdadeiro curso para pilotar, e indica com certeza onde se encontra
o porto que não chegará a causar naufrágio e desonra. Ele segue sua

33
CAPÍTULO VI: SECRETÁRIO ÍNTIMO

ordem silenciosa, assim como o marinheiro, quando a terra por muitos


dias não está à vista, e o oceano sem rota ou limite se espalha ao seu
redor, segue o comando da agulha, nunca duvidando se esta aponta
realmente para o norte. Cumprir este dever, quer seja seu desempenho
recompensado ou não, é sua única preocupação. E não importa que,
embora possa não haver testemunhas de seu desempenho, aquilo que
faça venha a ser eternamente desconhecido para toda humanidade.

Uma pequena consideração nos ensinará que a Fama possui


outros limites além de montanhas e oceanos; e que aquele que
coloca felicidade na repetição frequente de seu nome, poderá gastar
sua vida em propagá-lo, sem qualquer perigo de chorar por mundos
novos, nem necessidade de cruzar o mar Atlântico.

Portanto, se aquele que imagina que o mundo deve ser


preenchido com suas ações e elogios subtrair do número de seus
encomiastas todos os situados abaixo do voo da fama, e todo aquele
que não ouve, no vale da vida, nenhuma voz senão a da necessidade;
todos os que se imaginam importantes demais para respeitá-lo, e
consideram a menção do nome dele uma usurpação de seu tempo;
todos os que são demasiado ou muito pouco satisfeitos consigo
mesmos para ocupar-se com algo externo; todos os que são atraídos
pelo prazer, ou acorrentados pela dor a ideias invariadas; todos os
que, por buscas diferentes, estão retidos de se preocupar com seu
triunfo; e todos os que dormem na negligência universal; ele
encontrará seu renome contraído por fronteiras mais próximas do que
as rochas do Cáucaso; e perceberá que nenhum homem pode ser
venerável ou formidável, senão para uma pequena parte de suas
criaturas-amigas. E então, para que não enlanguesçamos em nossos
esforços rumo à excelência, é necessário que, tal como Africano
aconselhou seus descendentes, levantemos nossos olhos para altas
perspectivas, e contemplemos nosso futuro e estado eterno, sem abrir
mão de nossos corações aos elogios das multidões, ou fixarmos
nossas esperanças em tais prêmios que o poder humano pode
outorgar.

Não nascemos somente para nós; nossa pátria toma sua parte,
e nossos amigos suas partes de nós. Assim como tudo o que a terra

34
MORAL E DOGMA

produz é criado para o uso das pessoas, logo, as pessoas são criadas
para o bem das pessoas, para que possam mutuamente fazer o bem
umas às outras. Disto deveríamos retirar a natureza para a nossa guia,
e lançar em hasta pública os cargos de utilidade geral, através de uma
reciprocidade de deveres; às vezes recebendo, às vezes dando, e às
vezes ainda cimentando a sociedade humana pelas artes, pela
indústria, e pelos nossos recursos.

Suporta que outros sejam elogiados em tua presença, e


recepciona suas virtudes e glórias com deleite; mas de nenhum modo
os menosprezes, nem diminuas o relato, ou faças alguma objeção; e
não penses que o avanço do teu irmão é a diminuição do teu valor.
Não censures nenhuma fraqueza de alguém para embaraçá-lo, nem as
relates para desvalorizá-lo, nem te deleites em relembrá-las para
diminuí-lo, ou para te pores acima dele; nem jamais te enalteças ou
desprestigies a qualquer homem, a menos que algum fim
suficientemente digno consagre isto.

Lembre-se de que nós usualmente depreciamos outros por


razões chãs e ocorrências pequenas; e se um homem é altamente
comendado, o achamos suficientemente diminuído se pudermos
apenas cobrar de sua conta um único pecado de estupidez ou
inferioridade. Devemos ser ou mais severos conosco, ou menos com
os outros, e considerar que, seja o que for de bom que alguém possa
pensar ou dizer de nós, poderíamos lhe contar nossas muitas ações
desprezíveis, estúpidas e, talvez, perversas, e qualquer uma das quais,
feitas por outrem, seriam o bastante para, conosco, destruirmos sua
reputação.

Se julgamos as pessoas sábias e sagazes, justas e apreciativas,


quando nos elogiam e fazem de nós ídolos, não os chamemos de
iletrados e ignorantes, e de juízes enfermos e estúpidos, quando o
nosso vizinho é glorificado pela fama pública e ruídos populares.

Cada homem tem pecados bastantes em sua própria vida,


problemas suficientes em sua própria mente, mal bastante em seu
próprio destino, e, no desempenho de seus ofícios, falhas mais do que
suficientes para entreter seu próprio inquérito; de modo que essa

35
CAPÍTULO VI: SECRETÁRIO ÍNTIMO

curiosidade com relação aos assuntos dos outros não pode existir sem
inveja e uma mente doentia. O homem generoso será solícito e
inquisitivo na beleza e ordem de uma família bem governada, e
segundo as virtudes de uma excelente pessoa; mas qualquer coisa à
qual os homens põem travas e barras, que causa rubor ao vir à luz, ou
que é vergonhosa em espécie e privada em natureza, tal coisa não será
seu cuidado ou negócio.

Será objeção suficiente para excluir qualquer homem da


sociedade dos Maçons, se ele não for desinteressado e generoso, tanto
em seus atos, quanto em suas opiniões de homem, e nas construções
de suas condutas. O que é egoísta e sedento de fama, censurador e não
generoso, não permanecerá por muito tempo dentro dos limites
estritos da honestidade e da verdade, e em pouco tempo cometerá
injustiça. Aquele que ama muito a si mesmo necessariamente amará
menos aos outros; e o que habitualmente dá julgamentos ásperos não
demorará muito para dar julgamentos injustos.

O homem generoso não é preocupado em retornar nada além


do que recebe; mas prefere que os balanços nos livros de benefícios
estejam ao seu favor. Aquele que recebeu paga integralmente por
todos os benefícios e favores que lhes foram conferidos, é como um
perdulário que consumiu todo o seu patrimônio, e se lamenta sobre
um tesouro vazio. Quem recompensa meus favores com ingratidão
aumenta, ao invés de diminuir, a minha riqueza; e quem não
consegue retribuir um favor é igualmente pobre, quer seja sua
incompetência decorrente da pobreza de espírito, sordidez de alma,
ou de indigência pecuniária.

Se o rico é aquele que possui grandes somas investidas, e a


concentração de sua fortuna consiste em obrigações que vinculam
outros homens a pagar-lhe dinheiro, é ainda mais rico aquele a quem
muitos devem grandes reembolsos de bondades e favores. Além de
uma moderada soma a cada ano, o homem rico meramente investe
seus meios: e o que ele nunca usa é ainda como favores não
retornados e bondades não reciprocadas, uma porção verdadeira e real
de sua fortuna.

36
MORAL E DOGMA

Generosidade e espírito liberal fazem as pessoas serem


humanas e geniais, de coração aberto, francas e sinceras, ardentes por
fazer o bem, sociáveis e contentes, e bem-querentes da humanidade.
Elas protegem os fracos contra os fortes, e os indefesos contra a
rapacidade e a trapaça. Socorrem e confortam os pobres e são os
guardiões, abaixo de Deus, de seus protegidos inocentes e
desajudados. Elas valorizam amigos mais do que riquezas ou fama, e
a gratidão mais do que dinheiro ou poder. São nobres pela patente de
Deus, e seus brasões e aquartelamentos serão encontrados no grande
livro de heráldica dos Céus. Homem algum pode ser mais Maçom do
que ser cavalheiro, a menos que seja generoso, liberal, e
desinteressado. Sermos liberais, mas somente com o que é nosso;
sermos generosos, mas somente quando primeiro fomos justos;
darmos, quando dar nos despriva de uma luxúria ou um conforto, isto
é Maçonaria de fato.

Aquele que é mundano, cobiçoso, ou sensual precisa mudar


antes de poder ser um bom Maçom. Se formos governados pela
inclinação e não pelo dever; se formos cruéis, severos, censuradores,
ou injuriosos, nas relações ou no intercurso da vida; se formos pais
infiéis ou filhos descompromissados; se formos mestres rudes ou
servos infiéis; se formos amigos traidores, ou maus vizinhos, ou
competidores amargos, ou políticos corruptos e inescrupulosos, ou
tratantes nos negócios, estaremos vagando a uma enorme distância
da verdadeira luz Maçônica.

Maçons devem ser gentis e afetuosos uns com os outros.


Frequentando os mesmos templos, ajoelhando-se aos mesmos altares,
devem sentir esse respeito e essa bondade uns pelos outros, os quais
sua comum relação e comum aproximação para um só Deus devem
inspirar. É preciso que haja bem mais do espírito da antiga
camaradagem entre nós; mais ternura para com as faltas do outro,
mais perdão, mais solicitude pelo aprimoramento e boa sorte do
outro; um pouco de sentimento fraternal, para que não haja a
vergonha de se usar a palavra “irmão”.

Nada que interfira nesta bondade e afeição deve ser permitido:


nem o espírito dos negócios, absorvente, ávido, extrapolante, não

37
CAPÍTULO VI: SECRETÁRIO ÍNTIMO

generoso e difícil em seus relacionamentos, afiado e amargo em suas


competições, baixo e sórdido em seus propósitos; nem o da ambição,
egoísta, mercenário, inquieto, burlão, vivendo somente das opiniões
dos outros, invejoso da boa sorte dos outros, miseravelmente vão em
seu próprio sucesso, injusto, inescrupuloso e difamador.
Quem me faz um favor, me vincula a lhe prestar uma
retribuição em agradecimento. A obrigação não se dá por contrato,
nem pela própria intenção expressa; mas pela natureza da coisa; é um
dever que brota dentro do espírito da pessoa obrigada, para quem é
mais natural amar a seu amigo e fazer bem por bem, do que devolver
mal por mal; porque um homem pode perdoar uma injúria, mas nunca
esquecerá um bom retorno. Aquele que recusa fazer o bem àqueles a
quem é vinculado a amar, ou amar o que lhe fez algum bem, é
antinatural e monstruoso em suas afeições, e pensa que todo o mundo
nasceu para servi-lo; com uma voracidade pior que a do mar, que,
embora este receba todos os rios para si, ainda assim fornece as
nuvens e as fontes com a retribuição de tudo o que necessitam. Nosso
dever para com os nossos benfeitores é estimar e amar suas pessoas,
prestar-lhes retornos proporcionais dos serviços, deveres, ou
proveitos, conforme podemos, ou o quanto necessitem, ou à medida
que a oportunidade se apresentar; e de acordo com a grandeza de suas
bondades.

O homem generoso não pode senão lamentar ao ver


dissensões e disputas entre seus irmãos. Somente o baixo e
mesquinho deleita-se na discórdia. Trabalhar para fazer os homens
pensarem o pior uns dos outros é a ocupação mais pobre da
humanidade, como o fazem a imprensa e, muito comumente, o
púlpito, trocando de lugares com o palanque e a tribuna. O dever do
Maçom é envidar esforços para fazer o homem pensar o melhor de
seu próximo; aquietar, ao invés de agravar as dificuldades; reunir
todos aqueles que estão separados ou afastados; proteger amigos de
se tornarem inimigos, e persuadir inimigos a se tornarem amigos. Para
fazer isto, precisa controlar suas próprias paixões, não ser precipitado
ou apressado, nem rápido para se ofender, nem fácil de ser irritado.

Pois a raiva é uma inimiga declarada do conselho. É uma


tempestade direcionada, na qual nenhum homem consegue ser ouvido

38
MORAL E DOGMA

ao falar ou chamar de fora; pois se você aconselha gentilmente, é


negligenciado; se você a encoraja e é veemente, provoca-a ainda
mais. Ela não é viril nem ingênua. Faz um casamento ser uma
angústia necessária e inevitável; amizades, sociedades e
familiaridades serem intoleráveis. Multiplica os males do alcoolismo,
faz as leviandades do vinho incorrerem em loucura. Faz uma piada
inocente ser o início de tragédias. Torna a amizade em ódio; faz o
homem perder-se a si mesmo, sua razão e seu argumento nas
discussões. Transforma o desejo pelo conhecimento numa comichão
por discussões inúteis. Adiciona insolência ao poder. Torna a justiça
em crueldade, e o juízo em opressão. Altera a disciplina para tédio e
ódio à instituição liberal. E faz um homem próspero ser invejado, e
um desafortunado não encontrar piedade.

Veja, portanto, que primeiro controlando seu próprio


temperamento, e governando suas próprias paixões, você preparar-se-
á para manter a paz e harmonia entre as outras pessoas, especialmente
os irmãos. Acima de tudo se lembre de que a Maçonaria é o reinado
da paz, e que “entre Maçons não deve haver dissensão, mas apenas
a nobre emulação, que pode melhor trabalhar e melhor concordar.”
Em todo lugar onde há contenda e ódio entre os irmãos, não há
Maçonaria; pois Maçonaria é Paz, Amor Fraternal, e Concórdia.

A Maçonaria é a grande Sociedade de Paz do mundo. Em todo


lugar em que existe, ela luta para prevenir dificuldades e disputas
internacionais; e unir Repúblicas, Reinos e Impérios, em um grande
grupo de paz e amizade. Isto não seria tão frequentemente um
esforço em vão, se os Maçons conhecessem seu poder e
valorizassem seus juramentos.

Quem pode calcular os horrores e desgraças acumulados em


uma única guerra? A Maçonaria não é ofuscada com toda a sua pompa
e circunstância, todo o seu brilho e glória. A guerra chega com suas
mãos sangrentas nos nossos mesmos domicílios. Retira de dez mil
lares os que ali viveram em paz e conforto, mantidos pelos laços
tenros de família e parentesco. Os arrasta para morrer sem cuidados,
de febre ou exposição, em climas infecciosos; ou para serem
despedaçados, rasgados, e esmagados na luta feroz; para caírem sobre

39
CAPÍTULO VI: SECRETÁRIO ÍNTIMO

o campo ensanguentado, e não se erguerem mais, ou serem


carregados, em terrível agonia, para hospitais fétidos e horrendos. Os
gemidos do campo de batalha são ecoados em suspiros de luto de
milhares de famílias desoladas. Há um esqueleto em cada casa, uma
cadeira vaga em cada mesa. Retornando, os soldados trazem aflição
pior ao seu lar, pelas infecções que contraíram dos vícios de
acampamentos. O país é desmoralizado. A mente nacional é posta
abaixo, do intercâmbio de bons serviços com outros povos para a ira
e vingança, orgulho imoral, e hábito de medir força bruta contra força
bruta, em batalha. Tesouros são gastos, que seriam suficientes para se
construir dezenas de milhares de igrejas, hospitais e universidades, ou
instalar e interligar um continente inteiro com trilhos de ferro. Se esse
tesouro fosse afundado no mar, já seria calamidade bastante; mas é
colocado em uso pior; pois é despendido no corte de veias e artérias
de vidas humanas, até a terra ser inundada com um mar de sangue.

Tais são as lições deste Grau. Você jurou torná-las a regra, a


lei, e a guia para sua vida e conduta. Se o fez, será designado, porque
merecedor, a avançar na Maçonaria. Se não o fez, você já foi longe
demais.

40
MORAL E DOGMA

41
CAPÍTULO VII: PREBOSTE E JUIZ

CAPITULO VII.

PREBOSTE E JUIZ.

A lição que este Grau inculca é JUSTIÇA, na decisão e


no julgamento, e em nosso intercurso e trato com outras
pessoas. Num país onde o julgamento pelo júri é conhecido, todo
homem inteligente é passível de ser convocado para agir como um
juiz, quer seja somente de fato, quer de fato e de direito juntos; e para
assumir as pesadas responsabilidades que pertencem a esse caráter.

Aqueles que são investidos com o poder de julgamento devem


julgar as causas de todas as pessoas vertical e imparcialmente, sem
qualquer consideração pessoal à força dos poderosos, ao suborno dos
ricos, ou às necessidades dos pobres. Essa é a regra cardeal, que
ninguém contestará; embora muitos deixam de observá-la. Mas eles
devem fazer mais. Devem despir-se de preconceitos e pressuposições.
Devem ouvir pacientemente, lembrar-se precisamente e pesar
cuidadosamente os fatos e argumentos oferecidos diante de si. Não
devem pular apressadamente a conclusões, nem formular opiniões

42
MORAL E DOGMA

antes de terem ouvido a todos. Não devem presumir crimes ou


fraudes. Não devem ser regidos por um orgulho de opinião obstinado,
nem ser muito fáceis e complacentes aos pontos de vista e argumentos
de outros. Ao deduzir os motivos do ato provado, não devem atribuir
ao ato nem os melhores nem os piores motivos, mas aqueles que
pensariam ser justos e equitativos para o mundo atribuir-lhe se eles
próprios o tivessem cometido; nem devem se esforçar para fazer
pequenas circunstâncias, que não pesam separadamente, pesarem
muito em conjunto, para provar sua própria argúcia e sagacidade.
Estas também são regras sólidas para todo jurado observar.

Na nossa relação com os outros, há dois tipos de injustiça: a


primeira, daqueles que oferecem uma lesão; a segunda, de quem tem
em seu poder prevenir uma lesão àqueles a quem é oferecida e, no
entanto, não o fazem. Logo, a injustiça ativa pode ser feita de duas
formas – pela força e pela fraude, – da qual a força é como o leão, e
a fraude como a raposa, – ambas absolutamente repugnantes ao dever
social, mas a fraude é a mais detestável.

Todo mal feito por um homem a outro, se afetar sua pessoa,


seus bens, sua felicidade, ou sua reputação, é uma ofensa contra a lei
da justiça. O campo deste Grau, portanto, é amplo e vasto; e a
Maçonaria busca o modo mais impressivo de reforçar a lei da justiça,
e os meios mais eficazes de prevenir o erro e a injustiça.

Para esta finalidade ela ensina esta grande e momentosa


verdade: que o mal e a injustiça, uma vez feitos, não podem ser
desfeitos; mas são eternos em suas consequências; uma vez
cometidos, são contados ao Passado irrevogável; que o mal feito
contém sua própria penalidade retributiva, de forma tão segura e
natural como a bolota contém o carvalho. Suas consequências são sua
punição; não necessita nenhuma outra, e não pode haver outra mais
pesada; elas estão envolvidas em sua comissão, e dela não podem ser
separadas. Um mal feito a alguém é uma injúria cometida contra a
própria Natureza, uma ofensa contra nossas próprias almas, uma
desfiguração da imagem da Beleza e do Bem. A punição não é a
execução de uma sentença, mas a ocorrência de um efeito. É ordenada
para seguir a culpa, não pelo decreto de Deus enquanto juiz, mas pela

43
CAPÍTULO VII: PREBOSTE E JUIZ

lei promulgada por Ele como o Criador e Legislador do Universo.


Isso não é uma anexação arbitrária e artificial, mas uma consequência
ordinária e lógica; e, portanto, precisa nascer do causador do mal, e
através dele poder fluir para os outros. É a decisão da justiça infinita
de Deus, na forma de lei.

Não pode haver interferência, remitência, ou proteção aos


efeitos naturais de nossos atos ilícitos. Deus não se interpõe entre a
causa e sua consequência; e, nesse sentido, não pode haver perdão
dos pecados. O ato que degradou nossa alma pode nos arrepender,
pode ser transformado; mas a injúria está feita. A degradação pode
ser redimida por esforços posteriores, a mancha obliterada por lutas
mais amargas e sofrimentos mais severos; mas os esforços e a
resistência que poderiam ter elevado a alma para as alturas mais
elevadas são agora esgotados em recuperar meramente o que foi
perdido. Sempre existirá uma grande diferença entre quem cessa de
praticar o mal, e quem sempre praticou o bem.

Certamente será muito mais observador e escrupuloso sobre


sua conduta, e muito mais cuidadoso em suas ações, quem acredita
que essas ações inevitavelmente produzirão suas consequências
naturais, isentas de uma intervenção posterior, do que quem crê que
a penitência e o perdão irão, a qualquer tempo, desvincular a cadeia
de sequências. Praticaremos com certeza menos mal e injustiça, se a
convicção de que tudo o que é feito é feito de modo irrevogável for
fixada e incrustada em nossas almas, de que até mesmo a onipotência
de Deus não pode descometer uma ação, não pode tornar desfeito
aquilo que já foi feito; de que cada ato produzirá fruto designado, de
acordo com regras eternas, – permanecerá para sempre
indelevelmente gravado nas tábuas da Natureza Universal

Se prejudicar outro alguém, você pode afligir-se, arrepender-


se, e decidir resolutamente contra qualquer fraqueza semelhante no
futuro. Você pode, até onde é possível, fazer a reparação. Isso é bom.
A parte prejudicada pode perdoar-lhe, de acordo com o significado
da linguagem humana; mas a ação foi feita; e todos os poderes da
Natureza, fossem eles conspirar ao seu favor, não poderiam tornar
isso desfeito; as consequências para o corpo, as consequências para a

44
MORAL E DOGMA

alma, embora ninguém possa percebê-las, estão aí, escritas nos anais
do Passado, e devem reverberar ao longo de todo o tempo.

O arrependimento por um mal praticado produz, como


qualquer outro ato, seu fruto próprio, o fruto da purificação do
coração e o do conserto do Futuro, mas não o da extinção do Passado.
A comissão do mal é um ato irrevogável; mas não incapacita a alma
de agir certo no futuro. Suas consequências não podem ser
expungidas; mas seu curso não precisa ser prosseguido. Ofensa e mal
perpetrados, embora indeléveis, não exigem desespero, porém
esforços mais enérgicos do que antes. O arrependimento é ainda tão
válido como nunca; mas é valido para assegurar o Futuro, não para
obliterar o Passado.

Mesmo as pulsações do ar, uma vez posto em movimento pela


voz humana, não cessam de existir com os sons que as despertaram.
Sua força rapidamente atenuada logo se torna inaudível para ouvidos
humanos. Mas as ondas de ar assim surgidas perambulam pela
superfície da terra e do oceano, e em menos de vinte horas, cada
átomo da atmosfera recolhe o movimento alterado, por causa dessa
porção infinitesimal do movimento primitivo que foi conduzido até
ele através de canais incontáveis, que continuará a influenciar seu
trajeto por toda a sua existência futura. O ar á uma vasta biblioteca,
em cujas páginas está escrito para sempre tudo o que o homem já
disse ou mesmo sussurrou. Lá, em seus caracteres mutáveis, porém
inerrantes, misturados com os mais precoces, bem como os mais
tardios sinais da mortalidade, estão registrados para sempre, votos
não redimidos, promessas não completadas; perpetuando, nos
movimentos de cada partícula, todos em uníssono, o testemunho da
vontade variável do homem. Deus lê esse livro, embora não o
possamos.

Logo, a terra, o ar e o oceano são as testemunhas eternas dos


atos que praticamos. Nenhum movimento impresso por causas
naturais ou por agência humana é jamais obliterado. O rastro de cada
navio que, em algum tempo, perturbou a superfície do oceano
permanece para sempre registrado nos movimentos futuros de todas
as partículas sucessoras que possam ocupar seu lugar. Cada criminoso

45
CAPÍTULO VII: PREBOSTE E JUIZ

está, pelas leis do Todo- Poderoso, acorrentado irrevogavelmente ao


testemunho de seu crime; pois cada átomo de sua estrutura mortal,
através de quaisquer alterações em que suas partículas possam migrar,
ainda reterá, aderindo-se a ele através de cada combinação, algum
movimento derivado do exato esforço muscular pelo qual o próprio
crime foi perpetrado.

O que seria se nossas faculdades fossem tão aumentadas numa


vida futura que nos permitissem perceber e traçar as consequências
indeléveis de nossas palavras fúteis e atos maus, e gerar nosso
remorso e pesar tão eternos quanto essas próprias consequências?
Não se pode conceber punição mais medonha para uma inteligência
superior do que ver ainda em ação, com a consciência de que
continuará em ação para sempre, a causa de um mal posto em
movimento por ela épocas antes.

A Maçonaria, por seus ensinamentos, envida esforços para


refrear as pessoas da comissão da injustiça e de atos de ofensa e
escândalo. Embora não se esforça para usurpar o lugar da religião,
ainda assim seus códigos de moral procedem de outros princípios que
a lei municipal; e ela condena e pune ofensas que essa lei não pune
nem a opinião pública condena. Na lei Maçônica, trapacear e levar
vantagem no comércio, no foro, na política, não é considerado menos
venal do que roubar; nem deliberar a mentira menor do que o perjúrio;
nem a calúnia menor do que a usurpação; nem a sedução menor do
que o homicídio.

Ela condena especialmente aqueles males em que o autor


induz outros a partilhar. Ele pode se arrepender; ele pode, após lutas
agonizantes, recuperar a senda da virtude; seu espírito pode
reconquistar sua pureza através de muita angústia, após muitas
contendas; mas a criatura mais fraca a quem desviou do caminho, a
quem tornou partícipe em sua culpa, mas a quem não pode tornar
partícipe em seu arrependimento e correção, cujo curso para baixo
(do qual o primeiro passo ele ensinou) ele não pode deter, porém é
compelido a testemunhar, – que perdão de pecados pode ajudá-lo aí?
Aí está sua punição perpétua e inevitável, que nenhum
arrependimento pode aliviar, e misericórdia alguma pode remitir.

46
MORAL E DOGMA

Sejamos justos, também, no julgamento dos motivos das


outras pessoas. Sabemos bem pouco dos verdadeiros méritos ou
deméritos de qualquer criatura. Raramente podemos dizer com
certeza que este homem é mais culpado do que aquele, ou ainda que
este homem é muito bom ou muito mau. Com frequência os homens
mais humildes deixam atrás de si excelentes reputações. Dificilmente
existe algum de nós que não esteve, em algum tempo da vida, por um
triz de cometer um crime. Cada um de nós pode olhar para trás, e
observar, estremecendo, a vez quando nossos passos estiveram sobre
os precipícios escorregadios que se projetam sobre o abismo da culpa;
e quando, se a tentação fosse um pouco mais urgente, ou um pouco
menos contínua, se a penúria nos tivesse pressionado um pouco mais
forte, ou um pouco mais de vinho perturbasse nosso intelecto,
destronasse nosso juízo e excitasse nossas paixões, nossos pés teriam
escorregado, e teríamos caído, para nunca mais levantar.

Podemos ser capazes de dizer – “Este homem mentiu, furtou,


falsificou, apropriou-se indevidamente de quantias a ele depositadas;
e aquele passou pela vida com as mãos limpas.” Mas não podemos
dizer que o primeiro não lutou durante muito tempo, embora mal
sucedidamente, contra tentações sob as quais o segundo teria
sucumbido sem esforço. Podemos falar daquele que tem as mãos mais
puras perante o homem; mas não do que possui a alma mais pura
perante Deus. Somos capazes de dizer, este homem cometeu
adultério, e aquele sempre foi casto; mas não podemos dizer que a
inocência de um não foi devida à frieza de seu coração, à ausência de
um motivo, à presença de um medo, ao grau mínimo de tentação; nem
que a queda do outro não foi precedida pela mais veemente luta
interna, causada pelo furor mais sobrepujante, e expiada pelo
arrependimento mais consagrado. Generosidade, e também
mesquinhez, podem ser meros produtos do temperamento nativo; e
aos olhos do Céu, uma longa vida de beneficência pode ter custado
menos esforço para uma pessoa, e pode indicar menos virtude e
menos sacrifício de interesses, do que alguns raros atos ocultos de
bondade arrancados pelo dever, saídos da natureza relutante e sem
compaixão de outra. Pode haver mais mérito real, mais esforço
autossacrificante, mais dos elementos mais nobres da grandeza moral
em uma vida de falha, pecado e vergonha do que em uma carreira,

47
CAPÍTULO VII: PREBOSTE E JUIZ

aos nossos olhos, de integridade inoxidável.

Quando condenamos ou temos piedade do caído, como


sabermos se, tentados como ele, nós não cairíamos da mesma forma,
mais rápido, e talvez com menor resistência? Como podemos saber o
que faríamos se estivéssemos sem emprego, a escassez batendo,
abatidos, com nossas lareiras sem fogo e nossos filhos implorando
por pão? Não caímos porque não somos suficientemente tentados!
O que caiu pode possuir um coração tão honesto quanto o nosso.
Como fazer para saber se nossa filha, irmã, esposa, poderiam resistir
ao abandono, à desolação, à agonia, à tentação, que sacrificaram a
virtude de suas pobres abandonadas irmãs de vergonha? Talvez elas
também não caíram porque não foram dolorosamente tentadas!
Sabiamente somos direcionados a orar para que não sejamos expostos
à tentação.

A justiça humana será sempre incerta. Quantos homicídios


judiciais não foram cometidos através da ignorância dos fenômenos
da insanidade! Quantas pessoas não se enforcaram por assassinar os
que não eram mais assassinos para o coração do que para o júri que
os julgou e o juiz que os sentenciou! Pode-se muito bem duvidar se a
administração das leis humanas, em cada país, não é só uma massa
gigantesca de injustiça e erro. Deus não vê o que o homem enxerga;
e o criminoso mais abandonado, negro como ele era antes do mundo,
pode ainda ter continuado a manter um pouco de luz queimando
num canto de sua alma, a qual seria há muito tempo apagada nas
almas dos que caminham orgulhosamente na luz solar da fama
imaculada, se fossem provados e tentados como o pobre proscrito.

Não conhecemos nem mesmo a vida exterior das pessoas. Não


somos competentes para nos pronunciar nem mesmo sobre seus
feitos. Não sabemos a metade dos atos de maldade ou virtude até
mesmo de nossos companheiros mais imediatos. Não podemos dizer,
com certeza, até de nosso amigo mais próximo, que ele não cometeu
um pecado particular, ou quebrou um mandamento particular. Que
cada homem se questione em seu coração! Quantos de muitos dos
nossos melhores ou piores atos e qualidades são nossos mais íntimos
sócios absolutamente inconscientes! Quantas virtudes não possuímos

48
MORAL E DOGMA

pelas quais o mundo não nos dá crédito; ou vícios pelo que nos
condenam, dos quais não somos escravos! É apenas uma pequena
porção de nossas ações e pensamentos maus que sempre vem à luz; e
de nossa bondade redentora, a porção maior é conhecida somente por
Deus. Ninguém necessita cobiçar o ofício de juiz; pois em assumi-lo
se assume a responsabilidade mais grave e mais opressiva. Ainda
assim você o tem assumido; todos nós o assumimos; pois o homem
está sempre pronto para julgar, e sempre pronto para condenar seu
próximo, enquanto na mesma situação de caso ele absolve a si
mesmo. Veja, portanto, se você exerce seu ofício cautelosa e
caridosamente, a fim de que, ao passar o julgamento sobre o
criminoso, você não cometa um erro maior do que aquele pelo qual
você o condenou, e as consequências disto serem eternas.

Portanto, seremos justos em julgar outras pessoas apenas


quando formos caridosos; e devemos assumir a prerrogativa de julgar
os outros apenas quando o dever nos compele; uma vez que estamos
assim quase certos de errar, e as consequências do erro são muito
sérias.

As faltas, crimes e estupidezes de outras pessoas não são


desimportantes para nós; mas formam uma parte de nossa disciplina
moral. Guerra e derramamento de sangue ao longe, e fraudes que não
afetam nosso interesse pecuniário ainda assim tocam em nossos
interesses, e preocupam nosso bem-estar moral. Eles têm muito a
fazer com todos os corações ponderados. A visão pública pode
observar de forma indiferente a vítima miserável do vício, e este
destroço estilhaçado de homem pode mover a multidão para o riso ou
escárnio. Mas para o Maçom, é a forma da sagrada humanidade
que está diante dele; é um errante ser humano amigo; uma alma
desolada, abandonada, renegada; e seus pensamentos, envolvendo o
pobre coitado, serão bem mais profundos que aqueles de indiferença,
ridículo, ou desprezo. Todas as ofensas humanas, o sistema inteiro de
desonestidade, evasão, embaimento, indulgência proibida, e ambição
intrigante, no qual as pessoas lutam umas com as outras, será
observado por um Maçom ponderado não meramente como o cenário
de labutas e contendas medíocres, mas como o dos conflitos solenes
de mentes imortais, para fins vastos e momentosos como seu próprio

49
CAPÍTULO VII: PREBOSTE E JUIZ

ser. É uma contenda triste e indigna, e pode tão bem ser vista com
indignação; mas essa indignação precisa derreter em misericórdia.
Pois as apostas nas quais estes jogadores arriscam não são aquelas
que eles imaginam, não aquelas que têm em vista. Por exemplo, tal
homem aposta num emprego insignificante, e ganha; mas a
verdadeira aposta que ganha é o sicofantismo, a falta de caridade, a
blasfêmia e o engano.

Pessoas boas são muito orgulhosas de sua bondade. São


respeitáveis; a desonra não chega nem perto deles; seu semblante
possui importância e influência; suas túnicas são imaculadas; o hálito
venenoso da calúnia jamais soprou sobre seus nomes justos. Quão
fácil é para elas olhar com desdém para o pobre ofensor degradado;
passar ao seu lado com um passo altivo; recolher as dobras de seus
vestidos em volta de si, para que não possam ser manchadas com seu
toque! Ainda assim o Grande Mestre da Virtude não fez dessa forma;
mas desceu ao relacionamento familiar com publicanos e pecadores,
com a mulher Samaritana, com os proscritos e os Párias do mundo
Hebreu.

Muitos homens se acham melhores, na proporção de quanto


podem detectar pecados em outros! Quando verificam o catálogo das
infelizes derrelições de temperamento ou conduta de seu próximo,
muitas vezes, em meio a tanta preocupação aparente, sentem uma
exultação secreta que destrói todas as suas próprias pretensões à
sabedoria e moderação, e até mesmo à virtude. Muitos ainda sentem
prazer real nos pecados de outros; e esta é a situação de cada um cujos
pensamentos são frequentemente empregados em comparações
agradáveis de suas próprias virtudes com as faltas de seu próximo.

O poder da gentileza é muito pouco visto no mundo; as


influências subjugantes da piedade, a força do amor, o controle da
brandura sobre a paixão, a majestade comandante desse caráter
perfeito que mistura graves desprazeres com pesar e piedade para
com o ofensor. É assim que um Maçom deve tratar seus irmãos que
se perdem. Não com amargor; nem, todavia, com facilidade
bonachona, nem com indiferença mundana, nem com a frieza
filosófica, nem com a lassidão de consciência, que considera tudo

50
MORAL E DOGMA

satisfatório, que passa abaixo do selo da opinião pública; mas com


caridade, com bondade amorosa apiedadora.

O coração humano não se curvará de bom grado para o que é


enfermo e errado na natureza humana. Se ele se rende a nós, se
renderá para o que é divino em nós. A perversidade do meu próximo
não pode se submeter à minha perversidade; nem sua sensualidade,
por exemplo, à minha raiva contra seus vícios. Minhas faltas não são
os instrumentos que devem prender suas faltas. E, portanto,
reformadores impacientes, pregadores denunciantes, reprovadores
ligeiros, pais raivosos e parentes irritáveis geralmente fracassam, nos
seus vários departamentos, em recuperar o errante.

Uma ofensa moral é doença, dor, perda, desonra, na parte


imortal do homem. É culpa, e miséria acrescentada à culpa. É a
própria calamidade; e traz para si, em adição, a calamidade da
desaprovação de Deus, a repulsa de todos os homens virtuosos, e a
repulsa da própria alma. Lide dedicadamente, mas paciente e
delicadamente com este mal! Ele não é matéria para pequenas
provocações, nem para contenda pessoal, nem para irritação egoísta.

Fale de modo agradável com seu irmão errante! Deus se apieda


dele: Cristo morreu por ele: a Providência espera por ele: a
misericórdia do Céu anela por ele; e os espíritos do Céu estão prontos
para recebê-lo de volta com alegria. Que sua voz esteja em uníssono
com todos esses poderes que Deus está usando para recuperá-lo!

Se alguém lhe defrauda, e exulta nisto, é o mais a se ter piedade


dos seres humanos. Ele fez a si mesmo uma injúria muito mais
profunda que a feita a você. É ele, e não você, a quem Deus vê com
misturados desprazer e compaixão; e Seu julgamento será a sua lei.
Dentre todas as bendições do Monte Santo não há nem uma para este
homem; mas para o misericordioso, os pacificadores e os perseguidos
elas são derramadas livremente.

Somos todos pessoas de paixões, propensões, e exposições


semelhantes. Há elementos em todos nós, os quais poderiam ter
sido pervertidos, através de sucessivos processos de deterioração

51
CAPÍTULO VII: PREBOSTE E JUIZ

moral, para o pior dos crimes. O desgraçado a quem a execração da


turbamulta aglomerante persegue até o cadafalso, não é pior do que o
que qualquer um dessa multidão poderia se tornar sob circunstâncias
similares. Ele é para ser de fato condenado, mas também
profundamente para se ter piedade.

Ser vingativo até mesmo para com os piores crimes não


transforma o fraco e pecador. Devemos muito à boa Providência de
Deus, que decreta para nós um lote mais favorável para a virtude.
Todos nós a temos dentro de nós, a qual poderia ter sido empurrada
para o mesmo excesso: Talvez teríamos caído como ele o fez, mas
com menor tentação. Talvez temos praticado atos, que, na proporção
de tentação ou provocação, foram menos escusáveis do que seu
grande crime. Piedade silenciosa e sofrimento pela vitima devem se
misturar com nossa detestação à culpa. Mesmo o pirata que assassina
a sangue-frio em alto- mar, é um homem tal como eu ou você
poderíamos ter sido. Orfandade na infância, ou pais dissolutos, baixos
e abandonados; uma juventude sem amigos; más companhias;
ignorância e falta de cultivo moral; as tentações do prazer pecaminoso
ou da pobreza opressiva; familiaridade com o vício; uma reputação
escarnecida e murcha; afeições ressequidas e esmagadas; destinos
desesperados; estes são passos que poderiam ter levado qualquer um
entre nós ao desenrolar em alto-mar da bandeira sangrenta do
desacato universal; a travar guerra com nossa espécie; a viver a vida
e morrer a morte do corsário temerário e sem remorsos.

Muitos relacionamentos comoventes da humanidade


imploram conosco para se ter piedade dele. Sua cabeça uma vez
descansou sobre um colo de mãe. Ele já foi uma vez o objeto de um
amor de irmã e de ternura doméstica. Talvez sua mão, desde então
muitas vezes vermelha de sangue, uma vez já apertou outra pequenina
mão amada no altar. Apiede-se dele, então; de suas esperanças
murchas e de seu coração esmagado! É adequado que fracas e errantes
criaturas como nós ajam assim; devem sentir o crime, mas senti-lo
como fracas, tentadas, e resgatadas criaturas o fariam. Pode ser que
quando Deus pesar os crimes das pessoas, Ele tome em consideração
as tentações e as circunstâncias adversas que as levaram a eles, e as
oportunidades de cultura moral do ofensor; e pode ser que nossas

52
MORAL E DOGMA

próprias ofensas sejam mais pesadas do que pensamos, e as do


assassino mais leves do que conforme o julgamento do homem. Em
todas as considerações, portanto, que o Maçom nunca se esqueça da
injunção solene, necessária de ser observada em quase todos os
momentos de uma vida ocupada: “NÃO JULGUEIS, PARA QUE
NÃO SEJAIS JULGADOS: POIS COM A MEDIDA COM QUE
TIVERDES MEDIDO VOS HÃO DE MEDIR A VÓS”. Tal é a
lição ensinada ao Preboste e Juiz.

53
CAPÍTULO VIII: INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS

54
MORAL E DOGMA

CAPÍTULO VIII.

INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS.

N ESTE Grau lhe tem sido ensinada a lição importante, de


que não são designados a avançar no Rito Escocês
Antigo e Aceito aqueles que não se fazem familiares por estudo e
aplicação ao ensinamento e jurisprudência Maçônicos. Os Graus
deste Rito não são para os que estão contentes com a mera obra e
cerimônias, e não procuram explorar as minas de sabedoria que
repousam enterradas debaixo da superfície. Você continua a avançar
em direção à Luz, na direção da estrela, flamejante na distância, que
é um emblema da Verdade Divina, dada por Deus aos primeiros
homens, e preservada nas tradições e ensinamentos da Maçonaria em
meio a todas as vicissitudes das eras. O quão longe você irá avançar
depende unicamente de você mesmo. Aqui, como em qualquer lugar
do mundo, a Escuridão luta contra a Luz, e nuvens e sombras se
interpõem entre você e a Verdade.

Quando você estiver imbuído com a moralidade da

55
CAPÍTULO VIII: INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS

Maçonaria, com a qual você já está, e por algum tempo estará


exclusivamente tomado, – quando você tiver aprendido a praticar
todas as virtudes que ela inculca; quando estas se tornarem tão
familiares a você quanto seus Ídolos Domésticos; então você estará
preparado para receber dela sua sublime instrução filosófica, e escalar
as alturas em cujo ápice a Luz e a Verdade estão entronadas. Passo a
passo as pessoas precisam avançar em direção à Perfeição; e cada
Grau Maçônico se destina a ser um daqueles passos. Cada um é o
desenvolvimento de um dever particular; e no presente você está
sendo educado à caridade e benevolência; para ser aos seus irmãos
um exemplo de virtude; corrigir suas próprias faltas; e se empenhar
em corrigir as deles.

Aqui, como em todos os Graus, você se deparará com os


emblemas e os nomes da Divindade, o verdadeiro conhecimento de
cujo caráter e atributos sempre foram o principal objeto da Maçonaria
a ser perpetuado. Apreciar Sua infinita grandeza e bondade, contar
implicitamente com Sua Providência, reverenciá-Lo e venerá-Lo
como Supremo Arquiteto, Criador, e Legislador do universo, é o
primeiro dos deveres Maçônicos.

A Bateria deste Grau, e os cinco circuitos que você percorreu


ao redor da Loja, aludem aos cinco pontos de camaradagem, e
intencionam ser lembrados vividamente em sua mente. Ir ao resgate
de um irmão, ou a seu socorro, mesmo descalçado e sobre chão
pedregoso; lembrar-se dele em suas súplicas a Deus; abrochá-lo em
seu coração, e protegê-lo contra o discurso perverso e malicioso;
mantê-lo em pé quando prestes a tropeçar e cair; e dar-lhe conselho
prudente, honesto, e amigável, são deveres claramente escritos sobre
as páginas do grande Código de Direito de Deus, e primeiros entre as
ordenanças da Maçonaria.

O primeiro signo deste Grau é expressivo da modéstia e


humildade com as quais inquirimos sobre a natureza e atributos da
Divindade; o segundo, do profundo temor e reverência com os quais
contemplamos Suas glórias; e o terceiro, do sofrimento com o qual
refletimos sobre nossa insuficiente observância de nossos deveres, e
nossa imperfeita obediência a Seus estatutos.

56
MORAL E DOGMA

A propriedade distintiva do homem é a busca e o seguimento


da verdade. Portanto, quando relaxados de nossos cuidados e
preocupações necessários, desejamos então ver, ouvir e aprender um
pouco; e estimamos o conhecimento de coisas, tanto obscuras quanto
maravilhosas, ser o meio indispensável de se viver alegremente.
Verdade, Simplicidade e Candura são muito mais agradáveis à
natureza da humanidade. Tudo o que é virtuoso consiste tanto em
Sagacidade, e na percepção da Verdade; quanto na preservação da
Sociedade Humana, oferecendo ao homem seu dever, e observando a
fé dos contratos; ou na grandeza e firmeza de uma mente elevada e
insubjugável; ou na ordem e regularidade observantes em todas as
nossas palavras e em todas as nossas ações; nas quais consistem a
Moderação e a Temperança. A Maçonaria preservou religiosamente
em todos os tempos esta fé iluminada da qual flui a sublime Devoção,
o sentimento de Fraternidade frutífero de boas obras, o espírito de
indulgência e paz, de esperanças doces e consolações eficazes; e
inflexibilidade na realização dos deveres mais dolorosos e árduos. Ela
sempre propagou isto com ardor e perseverança; e por isso trabalha
nos dias atuais mais zelosamente do que nunca. Dificilmente um
discurso Maçônico é pronunciado que não trate de demonstrar a
necessidade e as vantagens desta fé, e especialmente de lembrar os
dois princípios constitutivos da religião, que formam toda a religião,
– amor a Deus, e amor ao próximo. Os Maçons carregam estes
princípios no seio de suas famílias e da sociedade. Enquanto os
Sectários de tempos antigos enfraqueceram o espírito religioso, a
Maçonaria, formando um grande Povo sobre todo o globo e
marchando sob o grande estandarte da Caridade e Benevolência,
preserva este sentimento, o fortalece, e o estende em sua pureza e
simplicidade, como sempre existiu nas profundidades do coração
humano, como existiu até sob o domínio das mais antigas formas de
adoração, onde superstições brutas e rebaixantes proibiam seu
reconhecimento.

Uma Loja Maçônica deve ser semelhante a uma colméia de


abelhas, na qual todos os membros trabalham juntos, com ardor, para
o bem comum. A Maçonaria não foi feita para almas frias e mentes
estreitas, que não compreendem sua missão elevada e sublime
apostolado. Aqui se aplica o anátema contra as almas mornas.
Confortar infortúnios para popularizar conhecimento, ensinar tudo o

57
CAPÍTULO VIII: INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS

que for verdadeiro e puro na religião e na filosofia, acostumar os


homens a respeitar a ordem e as propriedades da vida, apontar o
caminho para a genuína alegria e preparar para tal período afortunado,
em que todas as facções da Família Humana, unidas pelos laços da
Tolerância e Fraternidade, formarão uma única família, – estes são
trabalhos que podem muito bem excitar zelo e até entusiasmo.

Não ampliaremos ou elaboraremos agora tais ideias. Somente


lhas pronunciaremos resumidamente, como dicas, sobre as quais você
pode, em seu tempo livre, refletir. Doravante, se você continuar a
avançar, elas serão desdobradas, explanadas e desenvolvidas. A
Maçonaria não pronuncia preceitos impraticáveis e extravagantes,
certamente, porque assim serão negligenciados. Ela não pede a seus
iniciados nada que não lhes seja possível, e até fácil de executar. Seus
ensinamentos são eminentemente práticos; e seus estatutos podem ser
obedecidos por todo homem justo, correto e honesto, não importa
qual seja sua fé ou credo. Seu objetivo é alcançar a maior das boas
práticas, sem procurar fazer os homens perfeitos. Ela não se intromete
nos domínios da religião, nem questiona os mistérios da regeneração.
Ensina aquelas verdades que foram escritas pelo dedo de Deus sobre
o coração do homem, aqueles pontos de vista de dever que foram
trazidos à tona pelas meditações dos estudiosos, confirmados pela
aliança do bom e do sábio, e carimbados como legítimos pela resposta
que encontraram em toda mente incorrupta. Não dogmatiza, ou
imagina em vão uma certeza dogmática a ser alcançada.

A Maçonaria não se ocupa em menosprezar este mundo, com


sua beleza esplêndida, seus interesses eletrizantes, suas obras
gloriosas e suas afeições nobres e sacras; nem nos exorta a desapegar
nossos corações desta vida terrena, como vazia, fugaz, sem valor, e
fixá-los nos Céus, como a única esfera merecedora do amor dos
amorosos ou da meditação do sábio. Ela ensina que o homem possui
altos deveres para executar, e um alto destino a cumprir, nesta terra;
que este mundo não é meramente o portal para outro; e que esta vida,
embora não seja a única, é a integral e particular com a qual nós
estamos aqui destinados a nos preocupar; que o Presente é nosso
cenário de ação e o Futuro é para nossa especulação e confiança; que
o homem foi enviado à terra para nela viver, desfrutá-la, estudá-la,
amá-la, embelezá-la e fazer dela o melhor. É sua pátria, sobre a qual

58
MORAL E DOGMA

deve dispensar suas afeições e seus esforços. É aqui que suas


influências se operam. É sua casa, e não uma tenda; seu lar, e não
meramente uma escola. Ele não foi enviado a este mundo para ser
depois constantemente desejoso, sonhando com, e se preparando para
outro mundo; mas para fazer seu dever e consumar seu destino nesta
terra; fazer tudo o que se encontra em seu poder para aperfeiçoá-la,
torná-la um cenário de felicidade elevada para si mesmo, para aqueles
ao seu redor, e para os que virão após ele. Sua vida aqui é parte de
sua imortalidade; e este mundo, também, está entre os astros.

E assim, nos ensina a Maçonaria, o homem melhor se


preparará para o Futuro ao qual espera. O Invisível não pode ocupar
o lugar mais alto em nossas afeições do que o Visível e o Familiar.
A lei de nossa existência é o Amor à Vida, e aos seus interesses e
adornos; amor ao mundo no qual nossa porção é lançada, com atenção
para os interesses e afeições da terra. Não um amor baixo e sensual;
não amor à riqueza, à fama, à facilidade, ao poder, ao esplendor. Não
baixo materialismo; mas amor à Terra como o jardim no qual o
Criador dispensou tamanhos milagres de beleza; como habitação da
humanidade, a arena de seus conflitos, o cenário de seu progresso
ilimitável, a residência do sábio, do bom, do ativo, do amoroso e do
querido; o lugar da oportunidade de desenvolvimento, por intermédio
do pecado, sofrimento e aflição, das paixões mais nobres, das virtudes
mais sublimes e afinidades mais ternas.

Tomam dores verdadeiramente inúteis os que envidam


esforços para persuadir as pessoas de que elas são inteiramente
obrigadas a desprezar este mundo, e tudo o que nele existe, mesmo
enquanto elas mesmas vivem aqui. Deus não tomou tais dores na
formação, enquadramento, mobiliamento e decoração do mundo,
para que os que foram criados por Ele para nele viver o desprezassem.
Seria suficiente que não o amassem tão imoderadamente. É
imprestável a tentativa de extinguir todas aquelas afeições e paixões
que são e sempre serão inseparáveis da natureza humana. Enquanto o
mundo durar e a honra, a virtude e a aplicação tiverem nele reputação,
haverá ambição, emulação e apetite nos homens melhores e mais
completos sobre ele; e se não houvesse, mais barbaridade, vício e
maldade do que já padecem cobriria cada nação do mundo.

59
CAPÍTULO VIII: INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS

Somente os que sentem um interesse e afeição por este mundo


trabalharão resolutamente para seu melhoramento. Os que
subestimam esta abundância, naturalmente se tornam rabugentos e
descontentes, e perdem seu interesse no bem-estar de seus
companheiros. Servi-los tão- somente é nosso dever como Maçons,
precisamos sentir que o objetivo vale este esforço; e sermos contentes
com nosso mundo, no qual Deus nos colocou, até que Ele permita que
nos transfiramos para um melhor. Ele está aqui conosco e não
considera este um mundo sem valor.

E algo sério difamar e desmentir um mundo inteiro; falar dele


como a morada de uma raça pobre, mourejante, subalterna, ignorante
e desprezível. Você não desacreditaria assim sua família, seu círculo
de amigos, sua comunidade, sua cidade e seu país? O mundo não é
um pobre coitado e um inútil; nem é uma falta de sorte, mas
algo para sermos a ele agradecidos por sermos homens. Se a vida
é inútil, assim também é a imortalidade.

Dentro da própria sociedade, deste mecanismo vivo de


relações humanas que se espraia sobre o mundo, existe uma essência
muito fina que a move verdadeiramente, como um poder qualquer,
pesado ou expansivo, move a soante indústria ou o carro-voador. O
homem- máquina se apressa indo e vindo sobre a terra, alonga suas
mãos por todos os lados, para labutar, para permutar, para um sem-
número de trabalhos e empreendimentos; e quase sempre o motivo
que o move é algo que assegure confortos, afeições, e esperanças de
existência social. É verdade que o mecanismo muitas vezes trabalha
com dificuldade, se arrasta pesadamente, range e grita com dura
colisão. É verdade que a essência do fino motivo, mesclando-se com
ingredientes mais baixos e grosseiros, frequentemente entope,
obstrui, abala, e desarranja a ação livre e nobre da vida social. Mas
não é nem grato nem sábio quem olha cinicamente sobre tudo isto, e
perde o fino senso de bem social em suas perversões. O Eu poder ser
um amigo, eu poder ter um amigo, ainda que apenas um no mundo;
este fato, esta maravilhosa boa sorte poderíamos usar contra todos os
sofrimentos de nossa natureza social. O existir tal lugar na terra como
um lar, este refúgio e santuário de alegria murada e protegida,
poderíamos usar contra todas as desolações circundantes da vida. O
alguém poder ser um homem verdadeiro, social, poder expressar seus

60
MORAL E DOGMA

verdadeiros pensamentos, dentre as disputas de controvérsias e o


combate de opiniões; este fato de dentro, pesa mais do que todos os
fatos de fora.

No aspecto e ação visíveis da sociedade, frequentemente


repulsivos e chatos, estamos aptos a perder a devida consciência de
suas bênçãos invisíveis. Como na Natureza, não é o grosseiro e
palpável, nem o solo e as chuvas, tampouco ainda os campos e as
flores tão belos quanto o espírito invisível de sabedoria e beleza que
a impregnam; assim na sociedade, é o invisível e, portanto, o não
observado, o que é mais bonito.

O que anima o braço do trabalho? Se o homem se imaginasse


sozinho, arremessaria fora a pá e o machado, e correria para o deserto;
ou perambularia pelo mundo como em um descampado, e faria deste
mundo um deserto. É seu lar, que ele não vê, talvez apenas uma ou
duas vezes ao dia, o vínculo invisível do mundo. É a boa-fé, forte e
nobre que as pessoas têm umas nas outras que concede o caráter mais
alto aos negócios, à permuta, e ao comércio. A fraude acontece na
corrida dos negócios; mas ela é exceção. A honestidade é a regra; e
todas as fraudes do mundo não podem romper o grande laço da
confiança humana. Se pudessem, o comércio recolheria suas velas em
cada mar, e todas as cidades do mundo desmoronariam em ruínas.
Você acredita no caráter desnudo de uma pessoa do outro lado do
mundo, a quem você nunca viu, a quem você nunca verá, por um
vínculo a outras milhares. A característica mais notável do estado
político não são os governos, nem instituições, nem leis, nem
decretos, nem o poder judicial, nem a polícia: mas a vontade universal
das pessoas de serem governadas pelo bem-estar público. Tire este
refreamento, e nenhum governo na terra se sustentaria por uma hora.

Dos vários ensinamentos da Maçonaria, um dos mais valiosos


é que não devemos depreciar esta vida. Ela não acredita que quando
refletimos sobre o destino que aguarda o homem na terra, devamos
borrifar seu berço com nossas lágrimas; mas, assim como os Hebreus,
ela saúda o nascimento de uma criança com alegria, e acredita que
seu nascimento deva ser uma festa.

Ela não tem simpatia para com os que professam ter provado

61
CAPÍTULO VIII: INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS

esta vida e tê-la achado de pouco valor; os que deliberadamente têm


maquiado em suas mentes que ela é muito mais miserável do que
feliz; porque seus empregos são entediantes, seus planos
frequentemente frustrados, suas amizades rompidas, ou seus amigos
mortos, seus prazeres cansados, suas honras desbotadas, e seus
caminhos batidos, rotineiros e maçantes.

A Maçonaria não considera um sinal de grande piedade para


com Deus depreciar, se não desprezar, o estado que Ele nos tem
ordenado. Ela não levanta absurdamente os créditos de outro mundo,
e não em comparação meramente, mas em competição, com os
créditos deste. Ela olha para os dois como partes de um sistema.
Acredita que uma pessoa pode ser a melhor deste mundo e a melhor
do outro ao mesmo tempo. Não ensina seus iniciados a pensar melhor
de outras obras e dispensações de Deus, através do pensar torpemente
destas. Ela não olha a vida como um grande tempo perdido; nem vê
suas atividades como ninharias indignas de seres imortais; nem diz
aos seus seguidores para cruzar os braços, como se em desdém ao
seu estado e espécie; mas olha com sobriedade e animadamente para
o mundo, como um teatro de atuação digna, de utilidade elevada e de
divertimento racional e inocente.

Ela acredita que, com todos os males, a vida é uma benção.


Negar é destruir todas as bases da religião, natural e revelada. A
fundação mesma de toda a religião está posta sobre a firme crença de
que Deus é bom; e se essa vida for um mal e uma maldição, tal crença
não pode ser recepcionada racionalmente. Mirar nossa sátira para a
humanidade e existência humana, como medíocre e desprezível; olhar
para este mundo como a habitação de uma raça miserável, que serve
apenas para gozação e escárnio; considerar esta terra como uma
masmorra ou uma prisão, que não tem nenhuma benção a oferecer
senão a fuga dela, é extinguir a luz primordial da fé, da esperança e
da felicidade, destruir as bases da religião, e da edificação da Verdade
na bondade de Deus. Se assim for efetivamente, então não importa o
que é verdadeiro ou não verdadeiro; a especulação e a fé são vãs; e
tudo o que pertence a mais alta existência humana está enterrado nas
ruínas da misantropia, da melancolia e do desespero.

Nosso amor à vida; a tenacidade com a qual, na angústia e no

62
MORAL E DOGMA

sofrimento, nos agarramos à ela; nosso apego ao nosso lar, ao local


que nos deu nascimento, a qualquer lugar, embora rude, desagradável,
ou estéril, no qual a história de nossos anos foi escrita, todos mostram
o quão preciosos são os laços de parentesco e sociedade. A miséria
causa maior impressão sobre nós do que a alegria; porque a primeira
não é habitual em nossas mentes. É um estranho, um convidado
incomum, e somos mais conscientes de sua presença. A alegria vive
conosco, e a esquecemos. Ela não nos instiga, nem perturba a ordem
e o curso de nossos pensamentos. Uma grande agonia é uma “época”
em nossa vida. Lembramo-nos de nossas aflições como o fazemos
com a tempestade e o terremoto, porque estão fora do curso natural
das coisas. São como eventos desastrosos, registrados porque são
extraordinários; e com períodos inteiros despercebidos de
prosperidade entre eles. Marcamos e sinalizamos os tempos de
calamidade; mas muitos dias felizes e períodos de divertimento não
notados passam, que não são gravados nem no livro da memória, nem
nos anais escassos de nossa ação de graças. Somos pouco dispostos e
menos ainda aptos para convocar das lembranças turvas de nosso
passado os momentos de paz, de sensações confortáveis, de
pensamentos brilhantes, de devaneios tranquilos, de multidões de
sentimentos afáveis por sobre onde a vida fluía, tendo-nos
quase inconscientemente sobre seu seio, porque nos sustentasse
calma e gentilmente.

A vida não é apenas boa; mas foi gloriosa na experiência de


milhões. A glória de todas as virtudes humanas a veste. Os
esplendores de devoção, beneficência e heroísmo estão sobre ela; a
coroa de milhares de mártires está sobre sua fronte. A claridade da
alma brilha através desta vida visível e, por vezes, escurecida; através
de todos os seus cuidados e trabalhos em derredor. A vida mais
humilde pode sentir sua conexão com sua Infinita Fonte. Há algo
poderoso no frágil homem interior; algo de imortalidade em sua
existência momentânea e transitória. A mente vai longe, por todos os
lados, na infinidade. Seus pensamentos lampejam afora, longes no
ilimitável, no imensurável, no infinito; longes no grande, escuro e
abundante futuro; e se transformam em poderes e influências em
outras épocas. Conhecer seu Autor maravilhoso, trazer para baixo a
sabedoria das Estrelas Eternas, alçarmos nossa homenagem, gratidão
e amor, ao Regedor de todos os mundos, sermos imortais em nossas

63
CAPÍTULO VIII: INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS

influências projetadas ao longe, no Futuro que se aproxima


lentamente, faz a vida mais valiosa e mais gloriosa.

A vida é uma maravilhosa criação de Deus. É luz, brotada das


trevas vazias; poder, despertado da inércia e impotência; existência
criada do nada; e o contraste pode muito bem excitar admiração e
deleite. Ela é um regato do infinito, transbordando bondade; e desde
o momento que borbota à luz, até quando se mistura com o oceano de
Eternidade, esta Bondade preocupa-se e cuida dela. É uma dádiva
grande e gloriosa. Há felicidade em suas expressões infantis; alegria
no passo flutuante de sua juventude; profunda satisfação em sua forte
maturidade; e paz em sua calma velhice. Existe o bem para o bom,
virtude para o fiel e vitória para o valoroso. Existe, mesmo nesta
humilde vida, uma infinidade para aqueles cujos desejos são
ilimitáveis. Há bênçãos em seu nascimento, há esperança em sua
morte; e eternidade em seu prospecto. Assim a terra, que prende
muitos em correntes, é para o Maçom ambos os lugares de início e
marco da imortalidade. Ela enterra muitos no entulho de cuidados
embotados e vaidades fatigantes; mas para o Maçom ela é o monte
sublime de meditação, onde Céu, Infinidade e Eternidade estão
estendidos diante dele e ao seu redor. Para o nobre de espírito, o puro,
e o virtuoso, esta vida é o início do Céu, e uma parte da imortalidade.

Deus apontou um único remédio para todos os males do mundo;


e este é um espírito contente. Podemos estar reconciliados com a
pobreza e a baixa fortuna, se tolerarmos que o contentamento e a
equanimidade façam as proporções. Nenhum homem é pobre se não
se julga assim; mas se, em plena fortuna, deseja impacientemente
mais, proclama suas necessidades e seu estado mendicante. A virtude
do contentamento era a soma de toda a filosofia moral antiga, e é a de
uso mais universal em todo o curso de nossas vidas, e o único
instrumento para aliviar as cargas do mundo e das inimizades das
tristes possibilidades. É a grande racionalidade de observância à
Divina Providência, que governa todo o mundo, e tem assim nos
ordenado para a administração de Sua grande família. É adequado que
Deus dispense Seus dons como Lhe apraz; e se cá murmuramos,
podemos, na próxima melancolia, nos incomodarmos que Ele não nos
tenha feito para sermos anjos ou estrelas.

64
MORAL E DOGMA

Nós mesmos fazemos nossa boa ou má sorte; quando Deus


desencadeia um Tirano sobre nós, ou uma doença, ou escárnio, ou
uma fortuna diminuída, se temos medo de morrer, ou não sabemos
como ser pacientes, ou somos orgulhosos, ou cobiçosos, então a
calamidade se assenta pesadamente sobre nós. Mas se sabemos como
gerenciar um princípio nobre, e não tememos a morte tanto quanto
uma ação desonesta, e achamos que a impaciência é um mal pior do
que a febre, que o orgulho é a maior das desgraças, bem como a maior
das tolices, e a pobreza é de longe preferível aos tormentos da
avareza, podemos ainda ostentar uma mente regular, e um sorriso, aos
reveses da sorte e à má- natureza do Destino.

Se perdeste tua terra, não percas também tua constância; e se


deves morrer mais cedo que outros, ou do que tu esperavas, ainda não
morras impacientemente. Pois nenhuma sorte é maligna para o que é
contente, e para uma pessoa nada é miserável a menos que seja
irracional. Nenhuma pessoa pode tornar outra pessoa seu escravo, a
menos que a outra primeiramente escravizou a si mesma a viver e
morrer ao prazer ou dor, à esperança ou medo; comande estas
paixões, e você será mais livre do que os Reis Partos.

Quando um inimigo nos acusa, olhemos para ele como a um


relator imparcial de nossas faltas; pois ele nos dirá maior verdade do
que diria nosso amigo mais apreciador, e podemos perdoar sua raiva,
enquanto possamos fazer uso da planeza de sua declamação. O boi,
quando está cansado, pisa o chão mais verdadeiramente; e se não
houver mais nada em abuso, senão o que nos faz caminhar
cautelosamente, e pisar com a certeza do medo de nossos inimigos,
isto será melhor do que sermos bajulados no orgulho e na desatenção.

Se abandonares tua atividade em público, toma refúgio em um


retiro honesto, sendo indiferente a teus ganhos algures, ou à tua
segurança em casa. Quando o vento norte sopra com dureza, e chove
tristemente, não nos sentamos a eles e choramos; mas nos
defendemos contra eles com uma roupa quente, ou um bom fogo e
uma cobertura seca. Assim, quando a tempestade de um triste
acidente se abater sobre nossos espíritos, podemos transformá-la em
algo bom, se resolvermos assim fazer; e com equanimidade e
paciência podermos nos abrigar de sua saraivada inclemente e

65
CAPÍTULO VIII: INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS

impiedosa. Se isto desenvolver nossa paciência, e nos dar a chance de


uma resistência heroica, nos fará bons o bastante para nos
recompensar suficientemente por todas as aflições temporais; pois
assim uma pessoa sábia anula suas estrelas; e tem uma enorme
influência sobre seu próprio contentamento, maior do que todas as
constelações e planetas do firmamento.

Não compares tua condição com os poucos acima de ti, mas


para assegurar teu contentamento, olha para os milhares com quem
não trocarias, por qualquer interesse, tua fortuna e condição. Um
soldado não deve pensar que não é próspero, se não é tão bem-
sucedido quanto Alexandre e Napoleão; nem pessoa alguma
considerar-se desafortunada porque não tem a riqueza de Rothschild;
mas, sim, que o primeiro se regozije porque não é diminuído como os
grandes generais que caíram com seus cavalos perante Napoleão, e o
último porque não é o mendigo que, com a cabeça descoberta ao
vento desolador do inverno, estende o seu chapéu esfarrapado para
caridade. Pode haver muitos que sejam mais ricos e mais afortunados;
mas vários milhares são muito mais miseráveis, comparados a ti.

Após os piores assaltos da Fortuna, aí, restará algo para nós, –


um semblante jovial, um espírito animado e uma consciência boa, a
Providência de Deus, nossas esperanças dos Céus, nossa caridade
para aqueles que nos injuriaram; talvez uma esposa amorosa, muitos
amigos para lamentar, e alguns para aliviar-nos; luz e ar, e todas as
belezas da Natureza; poderemos ler, discursar e meditar; e tendo
ainda estas bênçãos, estaremos bastante apaixonados pelo sofrimento
e pela irritação para perdê-los, e preferiremos nos sentar em nosso
pequeno punhado de espinhos.

Desfrute as bênçãos deste dia, se Deus as enviar, e tolere seus


males calma e pacientemente; pois este dia é apenas nosso: estamos
mortos para o ontem, e não somos ainda nascidos para o amanhã.
Quando nossas sortes forem violentamente alteradas, nossos espíritos
serão imutáveis, se sempre permanecerem nos subúrbios e na
expectativa de aflições e reveses. As bênçãos de imunidade,
salvaguarda, liberdade e integridade merecem a ação de graças de
toda uma vida. Estamos isentos de milhares de calamidades, cada uma
das quais, se recaíssem sobre nós, nós tornaria insensíveis de nosso

66
MORAL E DOGMA

sofrimento presente, e contentes por recebê-lo ao invés de outra


aflição maior.

Meça seus desejos através de sua fortuna e condição, e não sua


fortuna através de seus desejos: seja governado por suas
necessidades, não por sua fantasia; pela natureza, não por maus
costumes e princípios ambiciosos. Ser pobre não é nenhum mal, mas
o é ser vicioso e impaciente. Será que o animal que possui duas ou
três montanhas para pastar é melhor do que a abelha que se alimenta
de orvalho ou maná, e vive por sobre o que desce todas as manhãs
dos armazéns do Céu: as nuvens e a Providência?

Existem certas instâncias da fortuna e de uma condição justa


que não podem se manter com certas outras; mas se você deseja estas,
tem que perder aquelas, e a menos que esteja contente com uma delas,
perderá o conforto de ambas. Se você cobiça aprendizado, deve ter
tempo livre e uma vida de retiro; se honrarias de Estado e distinções
políticas, deve estar sempre em público, obter experiência, fazer
negócios com todas as pessoas, manter todas as companhias, e não ter
absolutamente nenhum descanso. Se você vai ser rico, deve ser frugal;
se vai ser popular, deve ser generoso; se um filósofo, deve desprezar
riquezas. Se você quiser ser famoso como Epaminondas, aceite sua
pobreza, pois ela acrescentou brilho à sua pessoa, e inveja à sua sorte,
e sua virtude sem ela não poderia ter sido tão excelente. Se você
quiser ter a reputação de um mártir, você necessita aceitar suas
perseguições; se a de um benfeitor do mundo, a injustiça do mundo;
se verdadeiramente grande, você deve esperar ver a multidão preferir
pessoas inferiores, a você próprio.

Deus estima como uma de Suas glórias que ele traga o bem de
dentro do mal; e portanto, isto fora senão o motivo para que
confiemos n’Ele para governar Seu próprio mundo conforme Lhe
aprazer; e que esperemos pacientemente até que venha a mudança, ou
que a razão seja descoberta.

O contentamento de um Maçom não deve ser de forma alguma


um mero egoísmo contente, como o daquele que, confortável, é
indiferente ao desconforto dos outros. Sempre haverá neste mundo
ofensas para perdoar, sofrimentos para se aliviar, aflição pedindo

67
CAPÍTULO VIII: INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS

simpatia, necessidades e inópias para se socorrer, e ocasião ampla


para o exercício de caridade e beneficência ativas. E o que se assenta
indiferente em meio a tudo isso, talvez desfrutando tanto mais seus
próprios confortos e luxúrias, por contrastá-los com a destituição
faminta e esfarrapada e a miséria tiritante de seus companheiros, não
é contente, mas egoísta e sem coração.

É a mais triste de todas as visões desta terra, a de uma pessoa


preguiçosa e luxuriosa, ou rude e miserável, a quem a escassez apela
em vão, e o sofrimento chora em um idioma desconhecido. A pessoa
cuja raiva precipitada o apressa à violência e ao crime não é nem
parcialmente digno de viver. É o mordomo infiel, que usurpa o que
Deus lhe tem depositado para o empobrecido e sofrente dentre seus
irmãos. O verdadeiro Maçom deve ser direito e ter o direito de se
contentar consigo mesmo; e apenas pode ser assim quando não vive
unicamente para si, mas para outros além disso, que necessitam sua
assistência e clamam por sua simpatia.

“A Caridade é um grande canal,” bem foi dito, ”através do


qual Deus passa toda a Sua misericórdia sobre a humanidade. Pois
recebemos absolvição de nossos pecados na proporção de nosso
perdão ao nosso irmão. Esta é a regra de nossas esperanças e a
medida de nosso desejo neste mundo; e no dia da morte e juízo, a
grande sentença sobre a humanidade será conduzida de acordo com
nossas esmolas, que são a outra parte da caridade. Deus em si é
amor; e cada grau de caridade que habita em nós é uma participação
da natureza Divina.”

A Maçonaria reduz estes princípios à prática. Espera que você


seja doravante guiado e governado por eles. Ela os inculca
especialmente àquele que emprega o trabalho de outros, proibindo-o
de demiti-los, uma vez que carecer um emprego é morrer de fome; e
de contratar para o trabalho homens e mulheres a um preço tão baixo
que por esforço em excesso eles precisem vender seu sangue e vida,
ao mesmo tempo em que o trabalho de suas mãos.

Estes Graus também se destinam a ensinar mais do que moral.


Os símbolos e cerimônias da Maçonaria têm mais de um significado.
Eles mais precisamente ocultam do que revelam a Verdade. Eles

68
MORAL E DOGMA

apenas a indicam, pelo menos; e seus variados significados devem ser


descobertos por reflexão e estudo. A Verdade não é representada
somente pela Luz, mas assim como o raio de luz é separável em raios
de cores diferentes, a verdade é separável em tipos. Ensinar todas as
verdades é a província da Maçonaria; – não somente verdade moral,
mas política e filosófica, e até religiosa, no que concerne aos grandes
e essenciais princípios de cada uma. A Esfinge era um símbolo. Para
quem ela revelou seu significado mais profundo? Quem conhece o
significado simbólico das pirâmides?

Você aprenderá doravante quem são os inimigos principais da


liberdade humana, simbolizados pelos assassinos do Mestre Khūrūm;
e em seu destino você verá prenunciado o que esperamos
fervorosamente que futuramente acometerá os inimigos da
humanidade, contra quem a Maçonaria lutou por tanto tempo.

69
CAPÍTULO IX: ELEITO DOS NOVE

70
MORAL E DOGMA

CAPÍTULO IX.

ELEITO DOS NOVE

O RIGINALMENTE criado para recompensar fidelidade,


obediência e devoção, este Grau foi consagrado à
bravura, devotamento e patriotismo; e sua obrigação lhe tem feito
saber os deveres que você assumiu. Eles estão resumidos num simples
mandato, “Proteja o oprimido contra o opressor; e devote-se aos
interesses e honra de seu País.”

A Maçonaria não é “especulativa,” nem teórica, mas


experimental; não é sentimental, mas prática. Requer autorrenúncia e
autocontrole. Ela exibe uma face austera para os vícios das pessoas,
e interfere em muitas de nossas buscas e nossos prazeres fantasiosos.
Penetra além da região do vago sentimento; além das regiões onde
moralizadores e filósofos têm tecido suas delicadas teorias e
elaborado suas belas máximas, até às extremas profundezas do
coração, repreendendo nossa pequenez e mediocridade, denunciando
nossos preconceitos e paixões e guerreando contra os exércitos de

71
CAPÍTULO IX: ELEITO DOS NOVE

nossos vícios.

Ela guerreia contra as paixões que brotam do seio de um


mundo de sentimentos delicados, um mundo de dizeres admiráveis e
práticas tolas, de boas máximas e maus feitos; cujas paixões mais
escuras não são apenas refreadas por costume e cerimônia, mas
ocultas até de si mesmo por um véu de belos sentimentos. Este terrível
solecismo existiu por todas as eras. O sentimentalismo Católico
Romano tem frequentemente acobertado a infidelidade e o vício; a
retidão Protestante frequentemente louva a espiritualidade e a fé, e
negligencia a verdade, candura e generosidade domésticas; e o
refinamento Racionalista ultraliberal às vezes flutua aos céus em seus
sonhos, e chafurda na lama da terra em seus feitos.

Pode haver um mundo de sentimento Maçônico; e ainda assim


um mundo de pouca ou nenhuma Maçonaria. Em muitas mentes há
um sentimento vago e genérico de caridade, generosidade e
desinteresse Maçônicos, mas nenhuma prática, virtude ativa, nem
bondade habitual, autossacrifício ou liberalidade. A Maçonaria os
diverte como as frias, porém brilhantes, luzes que fluorecem e
redemoinham sobre os céus Nórdicos. Existem brilhos ocasionais de
sentimento generoso e humano, esplendores transitórios, lampejos
momentâneos de pensamentos justos e nobres, e coriscos transientes
que iluminam o Céu de suas imaginações; mas não existe nenhum
calor vital no coração; e este permanece tão frio e estéril quanto as
regiões Árticas e Antárticas. Eles não fazem coisa alguma; não
conquistam nenhuma vitória sobre si mesmos; não fazem nenhum
progresso; estão ainda no canto Nordeste da Loja, como quando
primeiro estavam como Aprendizes; e eles não cultivam a Maçonaria
com um cultivo determinado, resoluto e regular, como o cultivo de
seu patrimônio, profissão ou conhecimento. Suas Maçonarias se
arriscam num sentimento genérico e ineficiente, melancolicamente
estéril de resultados; em palavras, fórmulas e delicadas profissões.

Muitas pessoas têm sentimentos, mas não princípios. Os


primeiros são sensações temporárias, os últimos impressões
controladoras e permanentes de bondade e virtude. Os primeiros são
gerais e involuntários, e não se elevam ao caráter de virtude. Todos

72
MORAL E DOGMA

os sentem. Eles se agitam espontaneamente em todo coração. Os


últimos são regras de ação, controlam e dão forma à nossa conduta; e
é nestes que a Maçonaria insiste.

Aprovamos o certo; mas perseguimos o errado. É a velha


história da deficiência humana. Ninguém elogia ou coopera com a
injustiça, fraude, opressão, cobiça, vingança, inveja ou difamação; e
ainda assim quantos são os que condenam estas coisas e são eles
mesmos culpados delas. Para aquele cuja indignação é atiçada ao
boato de grave injustiça, cruel opressão, vil calúnia ou miséria
infligida por indulgência desenfreada; cuja raiva flameja em favor
das vítimas injuriadas e arruinadas do erro; não é algo raro ser, em
alguma relação, injusto, opressivo, invejoso, autoindulgente ou um
falador descuidado dos outros. Quão espantosamente indignado é o
homem miserável com a avareza ou falta de espírito público de
outros!

Um grande Pregador bem disse, “Portanto, és inescusável


quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a
ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o
mesmo.” É espantoso ver quantas pessoas podem falar de virtude e
honra, cujas vidas negam a ambas. É curioso ver com que facilidade
maravilhosa muitos homens perversos citam a Escritura. Parece
confortar suas más consciências usar boas palavras; e fazer glosas a
maus feitos com textos santos, corrompidos a seu propósito. Muitas
vezes, quanto mais um homem fala sobre Caridade e Tolerância,
menos ele tem alguma das duas; quanto mais fala sobre Virtude,
menor estoque dela possui. A boca fala da abundância do coração;
mas muitas vezes é exatamente o inverso do que o homem pratica. E
o vicioso e sensual com frequência expressam, e de certo modo
sentem, um forte desgosto pelo vício e pela sensualidade. A hipocrisia
não é tão comum quanto se imagina.

Aqui, na Loja, a virtude e o vício são matérias de reflexão e


sentimento apenas. Existe pouca oportunidade aqui para a prática de
ambos; e os Maçons aqui se rendem à argumentação, com facilidade
e prontidão; porque nada é para ser seguido. É fácil, e seguro, aqui,
sentir sobre estas matérias. Mas amanhã, quando respirarem a

73
CAPÍTULO IX: ELEITO DOS NOVE

atmosfera dos ganhos e competições mundanos, e as paixões forem


novamente agitadas às oportunidades de prazer ilícito, todas as suas
finas emoções sobre a virtude, todas as suas generosas aversões ao
egoísmo e sensualidade se dissolverão como uma nuvem matinal.

Por ora, suas emoções e sentimentos são sinceros e reais. As


pessoas podem realmente ser, de certa maneira, interessadas na
Maçonaria, enquanto fatalmente deficientes de virtude. Não é sempre
hipocrisia. Pessoas rezam o mais calorosa e sinceramente, e mesmo
assim são constantemente culpados de atos tão baixos e maus, tão
desumanos e injustos, que os crimes que apinham os sumários de
nossos tribunais dificilmente são piores.

Um homem pode ser um tipo bom de pessoa no geral, e ainda


um homem muito ruim no particular: bom na Loja e mau no mundo;
bom em público, e mau em sua família; bom em casa, e mau numa
jornada ou numa cidade estranha. Muitos homens desejam
ardentemente ser bons Maçons. Assim dizem, e são sinceros. Mas se
você exige que resistam a certa paixão, sacrifiquem certa indulgência,
controlem seu apetite em um banquete particular ou guardem seu
temperamento numa discussão, você achará que não desejam ser bons
Maçons, nesse caso particular; ou, que desejando, não são capazes
de resistir aos seus piores impulsos.

Os deveres da vida são maiores do que a vida. A lei impôs a


cada cidadão que ele prefira o serviço urgente de seu país antes da
segurança de sua vida. Se um homem é ordenado, diz um grande
escritor, para trazer canhões ou munição para socorrer alguma das
aldeias do Rei que estão aflitas, então não pode, por qualquer perigo
de tempestade, justificar o arremesso deles do navio para o mar; pois
aí se sustenta o que foi dito pelo Romano, quando a mesma
obrigatoriedade do clima foi alegada para retê-lo de embarcar:
“Necesse est ut eam, non ut vivam:” é necessário que eu vá: não é
necessário que eu viva.

Quão ingratamente se esquiva quem morre e não faz nada para


refletir uma glória ao Céu! Que árvore estéril é aquele que morre e
não espalha, nem deixa, nem carrega a terra com nem uma semente,

74
MORAL E DOGMA

nem uma boa obra para gerar outra após si! Ninguém pode deixar
algo igual; mas ainda assim todos podem deixar algo, correspondente
às suas proporções e seus gêneros. Esses são grãos de trigo mortos e
secos, para fora dos quais nenhum broto nascerá. Mal encontra o
caminho do Céu quem deseja para lá ir sozinho.

A dedicação jamais é inteiramente infrutífera. Se não traz


alegria com o lucro rentável, ainda assim banirá os prejuízos de suas
portas ocupadas. Há uma espécie de anjo bom servindo à Diligência
que sempre carrega folhas de louro em sua mão para coroá-la. Como
foi indigno o homem do mundo que nunca fez algo, só viveu e
morreu! Devemos considerar como uma dádiva dos Céus
favorecedores termos a liberdade de fazer qualquer coisa; e termos
mentes nos inclinando às vezes para usar bem essa liberdade é um
grande prêmio da Divindade.

Maçonaria é ação, e não inércia. Ela exige que seus Iniciados


TRABALHEM, ativa e seriamente, para o benefício de seus irmãos,
seu país, e da humanidade. É a padroeira dos oprimidos, como é a
confortadora e consoladora dos miseráveis e desafortunados. Parece-
lhe uma honra mais valiosa ser o instrumento de avanço e reforma, do
que gozar de tudo o que status, cargos, e títulos eminentes podem
outorgar. Ela é a advogada das pessoas comuns nas coisas que
concernem aos melhores interesses da humanidade. Odeia o poder
insolente e a usurpação impudica. Tem piedade dos pobres, dos
sofridos, dos desconsolados; envida esforços para elevar e aprimorar
os ignorantes, os submersos e degradados.

Sua fidelidade à sua missão será precisamente evidenciada


pela extensão dos esforços que ela emprega, e os meios que ela
estabelece como base, para aprimorar o povo para uma grande e
melhor condição; cujo mais principal, dentro do que alcança, é ajudar
na educação dos filhos dos pobres. Um povo inteligente, informado
de seus direitos, logo virá a conhecer seu poder, e não pode ser
oprimido por muito tempo; mas se não houver uma populaça sólida
e virtuosa, os ornamentos elaborados no topo da pirâmide da
sociedade serão uma compensação desgraçada para a falta de solidez
na base. Nunca é seguro para uma nação repousar no colo da

75
CAPÍTULO IX: ELEITO DOS NOVE

ignorância: e se alguma vez houve um tempo em que a tranquilidade


pública era assegurada pela ausência de conhecimento, este período é
passado. A estupidez inconsiderada não consegue dormir sem ser
aterrorizada por fantasmas e abalada por terrores. O aprimoramento
da massa do povo é a grande segurança para a liberdade popular; em
cuja negligência do qual, a polidez, o refinamento e o conhecimento
acumulado nas ordens superiores e classes mais ricas um dia
perecerão como palha seca no fogo ardente da fúria popular.

A missão da Maçonaria não é se engajar em tramas e


conspirações contra o governo civil. Ela não é a propagandista
fanática de algum credo ou teoria; nem se proclama inimiga dos reis.
É a apóstola da liberdade, igualdade e fraternidade; porém, não é mais
sumo-sacerdotisa do republicanismo do que da monarquia
constitucional. Não contrai alianças embaraçosas com quaisquer
seitas de teóricos, idealistas ou filósofos. Não conhece como seus
Iniciados aqueles que assaltam a ordem civil e toda a autoridade legal,
ao mesmo tempo em que propõem desprover os moribundos das
consolações da religião. Ela se assenta à parte de todas as seitas e
credos, em sua própria dignidade simples e calma, a mesma sob todos
os governos. É ainda o que estava no berço da raça humana, quando
nenhum pé humano havia pisado o solo da Assíria e do Egito, e
nenhuma colônia havia cruzado as montanhas do Himalaia, para o Sul
da Índia, Média, ou Etrúria.

Ela não dá rosto à anarquia e licenciosidade; e nenhuma ilusão


de glória ou emulação extravagante dos antigos a inflama com uma
sede inatural pelo ideal e pela liberdade Utópica. Ensina que na
retidão de vida e sobriedade de hábitos é que está a única garantia
segura de continuação da liberdade política; e ela é, principalmente,
o soldado da santidade das leis e dos direitos da consciência.

Ela reconhece como verdade que a necessidade, bem como o


direito abstrato e a justiça ideal, precisam ter sua parte na elaboração
das leis, na administração dos assuntos, e na regulação das relações
em sociedade. Ela enxerga, de fato, que a necessidade governa em
todos os assuntos do homem. Sabe que é a lei da necessidade um
homem ou qualquer quantidade ou raça de homens, sempre que forem

76
MORAL E DOGMA

tão imbecis de intelecto, tão degradados, tão incapazes de


autocontrole, tão inferiores na escala da humanidade, serem também
inaptos para neles ser depositadas as prerrogativas mais elevadas da
cidadania; pois a paz e segurança da comunidade e do país exigem
que permaneçam sob o controle daqueles de maior intelecto e
sabedoria superior. Ela confia e acredita que Deus irá, em seu tempo
oportuno, concluir seus grandes e sábios propósitos; e está disposta a
esperar, sempre que não enxerga seu próprio caminho claro para
algum certo bem.

Ela espera e anela pelo dia em que todas as raças de pessoas,


mesmo as mais inferiores, serão elevadas e se tornarão aptas para a
liberdade política; quando, como todos os outros males que afligem a
terra, o pauperismo, a servidão ou dependência abjeta cessarão e
desaparecerão. Mas ela não prega revolução aos que são apreciadores
de reis, nem rebeliões que podem acabar apenas em desastre e derrota,
ou na substituição de um tirano por outro, ou de uma multidão de
déspotas por outra.

Sempre que um povo é apto para ser livre e se autogovernar,


e generosamente aspirar ser desta forma, para aí vão todas as suas
simpatias. Ela detesta o tirano, o opressor sem lei, o usurpador militar,
o que abusa de um poder legal. Ela franze o cenho à crueldade, e ao
desrespeito arbitrário dos direitos da humanidade. Abomina o
empregador egoísta, e exerce sua influência para aliviar as cargas que
a carência e a dependência impõem sobre o trabalhador, e incentivar
essa humanidade e bondade que o homem deve até mesmo ao
irmão mais pobre e desafortunado.

Jamais pode ser empregada, em qualquer país sob o Céu, para


ensinar tolerância à crueldade, para enfraquecer o ódio moral à culpa,
ou depravar e brutalizar a mente humana. O medo de punição jamais
tornará um Maçom um cúmplice em corromper desta forma seus
compatriotas, um educador da depravação e do barbarismo. Se
algures, como tem acontecido até hoje, um tirano mandar um satirista
deste tirano ser condenado e punido como libelista, num tribunal de
justiça, um Maçom, se for uma jurado em tal caso, apesar da visão do
cadafalso escorrendo o sangue de inocentes, e de ouvir à distância o

77
CAPÍTULO IX: ELEITO DOS NOVE

clangor das baionetas pretendendo intimidar o tribunal, resgataria o


intrépido satirista das garras do tirano, e mandaria seus oficiais para
fora da corte com derrota e desgraça.

Mesmo se toda a lei e liberdade fossem pisoteadas pelos pés


de demagogos Jacobinos ou banditti militares, e os grandes crimes
fossem perpetrados com uma alta mão contra todos os que fossem
merecidamente os objetos de veneração pública; se o povo, abolindo
a lei, rugisse como o mar em volta dos tribunais de justiça, e
reclamasse o sangue daqueles que, durante o impulso temporário de
insanidade e delírio embriagado, se arriscaram a se tornar odiosos
para ele, através de palavras verdadeiras corajosamente pronunciadas
ou atos impopulares bravamente praticados, o jurado Maçônico,
igualmente sem temor pelo tirano único ou de várias cabeças,
consideraria somente os ditames do dever e permaneceria com uma
firmeza nobre entre os tigres humanos e suas presas cobiçadas.

O Maçom preferiria bem mais passar sua vida oculto nos


recessos da mais profunda obscuridade, alimentando sua mente até
mesmo com visões e imaginações de bons feitos e ações nobres, a ser
colocado sobre o trono mais esplêndido do universo, supliciado com
a negação da prática de tudo o que pode tornar qualquer outra
situação mais grandiosa do que a maior maldição. E se ele foi capaz
de dar o passo mais ínfimo para quaisquer desígnios grandiosos e
louváveis; se ele teve qualquer parte, em qualquer medida, em dar
sossego à propriedade privada e consciência privada, tornando mais
leve o jugo da pobreza e dependência, ou liberando da opressão as
pessoas merecedoras; se ele ajudou seus compatriotas na asseguração
da melhor das posses, a paz; se participou na reconciliação mútua
das diferentes seções de seu próprio país, e do povo com o governo
de sua própria criação; e no ensino do cidadão em procurar sua
proteção nas leis de seu país e seu conforto na boa vontade de seus
compatriotas; se ele assim tomou sua parte na melhor linha da melhor
das ações, pode muito bem fechar este livro, mesmo que talvez
quisesse ler mais uma ou duas páginas. Isso é o bastante para a sua
medida. Ele não viveu em vão.

A Maçonaria ensina que todo o poder é delegado para o bem,

78
MORAL E DOGMA

e não para a injúria do Povo; e que, quando é pervertido do propósito


original, o pacto é quebrado e o direito deve ser retomado; que a
resistência ao poder usurpado não é meramente um dever a que o
homem põe-se em dívida consigo e com seu próximo, mas um dever
em que debita-se para com Deus, na asserção e manutenção do status
que Ele o concedeu na criação. Este princípio nem a rudeza da
ignorância pode sufocar, nem a enervação do refinamento extinguir.
Ele torna aviltante a um homem sofrer quando deve agir; e, tendendo
a preservar-lhe as destinações da Providência, rejeita com desprezo
as assunções arrogantes de Tiranos e vinga a qualidade independente
da raça da qual somos parte.

O Maçom sábio e bem informado não falhará em ser o devoto


da Liberdade e Justiça. Ele estará pronto para se esforçar em sua
defesa, onde quer que existam. Não pode ser matéria de indiferença
para ele quando sua própria liberdade e a de outras pessoas, com cujos
méritos e capacidades ele está familiarizado, são envolvidas no
evento da luta a ser feita; mas sua conexão será com a causa, como a
causa do homem; e não meramente com o país. Onde quer que exista
um povo que entende o valor da justiça política, está preparado para
afirmá-la, este é seu país; em todo o lugar em ele mais possa
contribuir para a difusão destes princípios e para a verdadeira
felicidade da humanidade, este é seu país. Não deseja para qualquer
pátria qualquer outro benefício que não seja a justiça.

O verdadeiro Maçom identifica a honra de seu país com a sua


própria. Nada mais conduz à beleza e glória de uma pátria do que a
preservação contra todos os inimigos de sua liberdade religiosa e
civil. O mundo jamais deixará, de bom grado, morrer os nomes
daqueles patriotas que em suas diferentes épocas receberam e seus
próprios peitos os golpes mirados por inimigos insolentes no seio de
seu país. Mas também contribui – e não em pequena medida – para a
beleza e glória de um país que ali a justiça seja sempre administrada
igualmente por todos, e nem negada, vendida, nem atrasada para
qualquer um; que o interesse do pobre seja observado, e ninguém
morra de fome ou seja um sem-teto, ou clame em vão por trabalho;
que a criança e a mulher frágil não sejam escravizados, ou mesmo o
aprendiz ou escravo sejam poupados de comida, ou sobrecarregados,

79
CAPÍTULO IX: ELEITO DOS NOVE

ou flagelados impiedosamente; e que as grandes leis da misericórdia,


humanidade e compaixão de Deus sejam reforçadas em todos os
lugares, não só pelos estatutos, mas também pelo poder da opinião
pública. E aquele que trabalha, frequentemente contra a acusação e o
opróbrio, e mais frequentemente contra a indiferença e a apatia, para
causar essa condição afortunada de coisas, quando o grande código
da lei divina for obedecido com pontualidade e em todo o lugar, não
é menos patriota do que quem expõe seu peito ao aço hostil nas
fileiras da soldadesca de sua pátria.

Pois a fortitude não é apenas vista resplandecente no campo


de batalha e em meio ao confronto de armas, mas revela sua energia
sob cada dificuldade e contra cada atacante. Quem guerreia contra a
crueldade, opressão e abusos muito antigos, luta pela honra de sua
pátria, que estas coisas maculam; e sua honra é tão importante quanto
sua existência. Com frequência, deveras, a guerra contra esses abusos
que desgraçam a pátria de alguém é absolutamente tão perigosa e
mais desencorajadora do que aquela contra seus inimigos no campo
de batalha; e merece igual, se não maior recompensa.

Pois aqueles Gregos e Romanos que são os objetos de nossa


admiração dificilmente empregavam outra virtude na extirpação de
tiranos, do que a do amor à liberdade, que os tornava prontos em
empunhar a espada, e dava-lhes força para usá-la. Eles cumpriam a
responsabilidade com facilidade, em meio aos gritos gerais de louvor
e alegria; não se engajavam na tentativa de um empreendimento de
questões perigosas e duvidosas tanto ou quanto como numa
competição das mais gloriosas na qual a virtude poderia ser
assinalada; a qual infalivelmente levou à presente recompensa; e que
enlaçou suas frontes com guirlandas de louros, e consignou suas
memórias à fama imortal.

Mas aquele que ataca abusos muito antigos, vistos talvez com
uma reverência supersticiosa, e ao redor dos quais velhas leis se
mantêm como bastiões e baluartes para defendê-los; quem
denuncia atos de crueldade e ultraje na humanidade que torna todo
perpetrador destes seu inimigo pessoal, e que talvez o façam ser
observado com suspeita pelo povo entre o qual vive, como o atacante

80
MORAL E DOGMA

de uma ordem estabelecida de coisas das quais ele ataca só os abusos,


e de leis das quais ele ataca só as violações, – dificilmente pode pedir
recompensa presente, nem pedir que suas frontes sejam coroadas com
louros em vida. E se, contendendo contra a ordem negra de opiniões,
superstições, opróbrios e medos por muito tempo recebidos, os quais
a maioria das pessoas teme mais do que a um exército terrível com
bandeiras, o Maçom a sujeita, e emerge da contenda vitorioso; ou, se
não conquista, mas é espremido e varrido pela corrente poderosa de
preconceito, paixão e interesse; em qualquer um dos casos, a
exaltação de espírito que demonstra merece para ele mais do que uma
mediocridade de fama.

Já viveu por muito tempo aquele que sobreviveu à ruína de


sua pátria; e aquele que desfruta a vida após tal evento não merece de
forma nenhuma ter nascido. Tampouco merece viver quem olha com
contentamento para os abusos que desgraçam, as crueldades que
desonram, e os cenários de miséria, destituição e brutalização que
desfiguram seu país; ou para a mesquinhez sórdida e as vinganças
ignóbeis que fazem dele uma “pérola” e um escárnio entre todas as
nações generosas; e que não se esforça para remediar ou prevenir
qualquer um deles.

Não é frequente um pais estar em guerra; nem pode ser


permitido a todos o privilégio de oferecer seu coração às balas do
inimigo. Mas a estes trabalhos patrióticos de paz, na prevenção, no
remédio, e na reformação dos males, opressão, ofensas, crueldades e
ultrajes, todo Maçom pode se unir; e todos podem efetuar algo, e
partilhar da honra e glória do resultado.

Pois os nomes cardeais na história da mente humana são


escassos e fáceis de ser contados; mas milhares e dezenas de milhares
gastam seus dias nas preparações que apressam a mudança
predestinada, na reunião e acúmulo dos materiais que incendeiam e
geram luz e calor, quando o fogo do céu descer sobre eles. Inúmeros
são os vivandeiros e pioneiros, os engenheiros e artesãos que atendem
a marcha do intelecto. Muitos se movem avante em destacamentos, e
nivelam o caminho sobre o qual a carruagem tem de passar, e
derrubam os obstáculos que impediriam seu progresso; e estes

81
CAPÍTULO IX: ELEITO DOS NOVE

também têm sua recompensa. Se trabalham diligente e


dedicadamente em seu chamado, não apenas aproveitarão a calma e
contentamento que a diligência, na tarefa mais humilde, jamais falha
em conquistar; não apenas o suor de suas testas será doce e o adoçante
do resto que se segue; mas, quando a vitória for finalmente alcançada,
eles receberão uma parte na glória; assim como o soldado mais raso
que lutou em Maratona ou na Montanha dos Reis[1] se tornou um
partícipe na glória daqueles dias salvadores; e dentro de seu próprio
círculo familiar, a aprovação do qual se aproxima o mais próximo de
uma consciência aprovativa, foi olhado como o representante de
todos os seus irmãos- herois; e poderia contar tais histórias que
produziram a lágrima cintilante sobre a bochecha de sua esposa, e
iluminar os olhos de seu garoto com um raro entusiasmo. Ou, se
tombou na luta, e seu lugar junto à fogueira e à mesa de casa ficou
deste então vago, este lugar foi sagrado; e ele era com frequência ali
mencionado nas longas noites de inverno; e sua família era
considerada afortunada na vizinhança, porque possuiu em si um
heroi, que tombou na defesa de sua pátria.
Lembre-se de que o comprimento da vida não é medido por
suas horas e dias, mas por aquilo que fizemos nestes por nossa pátria
e espécie. Uma vida inútil é curta, se durar um século; mas a de
Alexandre foi tão longa quanto a vida do carvalho, embora tenha
morrido aos trinta e cinco anos. Podemos fazer muito em poucos anos,
e podemos não fazer nada numa vida inteira. Se apenas comemos,
bebemos e dormimos, e deixamos tudo passar ao nosso redor como
bem quiser; ou se vivemos apenas para amontoar riqueza ou ganhar
cargos, ou vestir títulos, poderíamos muito bem não ter de forma
alguma nascido; nem termos qualquer direito de esperar imortalidade.

Não se esqueça, portanto, para o que você se devotou neste


Grau: defender a fraqueza contra a força, os que não possuem amigos
contra os grandes, os oprimidos contra os opressores! Seja sempre
vigilante e alerta para os interesses e a honra de sua pátria! E que o
Grande Arquiteto do Universo possa lhe dar essa força e sabedoria
que o capacitará bem e fielmente para cumprir estes altos deveres!

82
MORAL E DOGMA

83
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

CAPÍTULO X.

ILUSTRE ELEITO DOS QUINZE

[Eleito dos Quinze.]

E STE Grau é devotado àqueles mesmos objetivos do


Eleito dos Nove; e também à causa da Tolerância e
Liberdade contra o Fanatismo e a Perseguição, políticos e religiosos;
e à da Educação, Instrução e Esclarecimento contra o Erro,
Barbarismo e Ignorância. A estes objetivos você dedicou irrevogável
e eternamente sua mão, seu coração e seu intelecto; e sempre que um
Capítulo deste Grau lhe for aberto, você será mais solenemente
relembrado de seus votos tomados aqui no altar.

Tolerância, acreditando que cada outra pessoa possui o


mesmo direito à sua opinião e fé que temos às nossas; e liberalidade,
acreditando que nenhum ser humano pode dizer com certeza, no

84
MORAL E DOGMA

embate e conflito de fés e credos hostis, o que é verdade, ou que ele


seguramente esteja na sua posse, deste modo cada um sentirá que é
perfeitamente possível que outra pessoa igualmente honesta e sincera
consigo mesma, ainda que sustentando uma opinião contrária, possa
estar ela mesma na posse da verdade, e que seja o que for que alguém
acredite firme e conscienciosamente, é verdade, para ele – estas são
inimigas mortais do fanatismo que persegue o propósito da opinião,
e inicia cruzadas contra seja o que considere, em sua santidade
imaginária, contrário à lei de Deus ou à veracidade do dogma. E a
educação, instrução e esclarecimento são os meios mais exatos pelos
quais o fanatismo e a intolerância podem passar por impotentes.

Nenhum Maçom verdadeiro escarnece, em convicção honesta


e zelo ardente, da causa do que alguém acredita ser verdade e justiça.
Mas nega absolutamente o direito de alguém assumir a prerrogativa
da Divindade, e condenar a fé e as opiniões de outrem como
merecedoras de punição porque heréticas. Tampouco aprova o curso
daqueles que põem em perigo a paz e tranquilidade de grandes
nações, e os melhores interesses de sua própria raça pela entrega a
uma filantropia quimérica e visionária – uma luxúria que consiste
principalmente em puxar seus mantos em volta de si para evitar o
contato com seus companheiros, e proclamarem-se a si mesmos mais
santos do que eles.

Pois ele sabe que tais estupidezes são frequentemente mais


calamitosas do que a ambição de reis; e que a intolerância e a inveja
cega foram maldições infinitamente maiores para a humanidade do
que a ignorância e o erro. Qualquer erro é melhor do que a
perseguição! Qualquer opinião é melhor do que o esmagador de
polegares, a tortura e a fogueira! E ele sabe também quão
inacreditavelmente absurdo é, para uma criatura a quem ela mesma e
tudo a sua volta são mistérios, torturar e assassinar outras, porque
estas não podem pensar como ela no que diz respeito ao mais
profundo dos mistérios, e entender o que está totalmente fora da
compreensão tanto do perseguidor quanto do perseguido.

A Maçonaria não é uma religião. Aquele que faz dela uma


crença religiosa falsifica-a e a desnaturaliza. O Brâmane, o Judeu, o

85
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

Maometano, o Católico, o Protestante, cada um que professa sua


religião peculiar, sancionada pelas leis, pelo tempo e pelo clima, deve
conservá- la, e não pode possuir duas religiões; pois as leis sociais e
sacras adaptadas aos usos, maneiras e preconceitos de países
particulares, são a obra dos homens.

Mas a Maçonaria ensina, e preservou em sua pureza, os


princípios cardeais da antiga fé primitiva, que dão suporte e são a
fundação de todas as religiões. Todas que sempre existiram tiveram
uma base de verdade; e todas sobrepuseram erros a esta verdade. As
verdades primitivas ensinadas pelo Redentor logo foram
corrompidas, misturadas e adulteradas com ficções, se comparadas a
quando ensinadas aos primeiros de nossa raça. A Maçonaria é a
moralidade universal que é adequada aos habitantes de todo clima, ao
homem de todo credo. Ela não ensina quaisquer doutrinas, exceto
aquelas verdades que tendem diretamente para o bem-estar do
homem; e aqueles que tentaram direcioná-la na direção de inútil
vingança, fins políticos, e Jesuitismo, meramente a desviaram para
propósitos estranhos ao seu espírito puro e natureza real.

A humanidade está se livrando dos sacrifícios e das mitologias


da infância do mundo. Todavia, é fácil para a indolência humana
demorar- se perto destes apoios, e se recusar a caminhar adiante.
Assim o Nômade não-aventuroso, nas terras selvagens da Tartária,
mantém suas ovelhas no mesmo círculo cerceado onde primeiro
aprenderam a pastar, enquanto o homem progressivo perambula
sempre avante, “para frescos campos e novas pastagens.”

Este último é o verdadeiro Maçom; e quem, com poder de


empresa, executa os trabalhos da vida é o melhor e, de fato, o único
bom Maçom; o reto mecânico, mercador, ou fazendeiro, o homem
com o poder do pensamento, da justiça, ou do amor, aquele cuja vida
inteira é um grande ato de desempenho do dever Maçônico. A
utilização natural da força física de um homem forte ou da sabedoria
de um sábio é executar a obra de um homem forte ou de um sábio. A
obra natural da Maçonaria é uma vida prática; a utilização de todas as
faculdades em suas esferas próprias, e para suas funções naturais.
Amor à Verdade, justiça, e generosidade, como atributos de Deus,

86
MORAL E DOGMA

precisam aparecer em uma vida marcada por estas qualidades; esta é


a única ordenança efetiva da Maçonaria. A profissão das convicções
de alguém, que adere à Ordem, assume as obrigações, assiste às
cerimônias, possuem o mesmo valor na ciência como na Maçonaria;
a forma natural da Maçonaria é a bondade, a moralidade, o viver uma
vida verdadeira, justa, amorosa, fiel a si mesma, a partir do motivo de
ser um homem bom. Isto é obediência leal à lei de Deus.
O bom Maçom faz a boa coisa que sucede em seu caminho, e
por causa disto ela sucede em seu caminho; a partir do amor ao dever,
e não meramente porque uma lei, decretada por homens ou Deus,
comanda sua vontade para fazê-lo. Ele é verdadeiro à sua mente, sua
consciência, coração e alma, e sente pouca tentação de fazer aos
outros o que não gostaria de receber deles. Ele negará a si mesmo pelo
bem de seu irmão próximo. Seu desejo se atrai para linha do seu
dever, estando ambos em conjunção. Não faz o pobre ou o oprimido
erguer os olhos para ele em vão. Você pode encontrar tais homens em
todas as seitas Cristãs, Protestantes e Católicas, em todos os grandes
partidos religiosos do mundo civilizado, entre Budistas,
Maometanos e Judeus. São pais bondosos, cidadãos generosos,
impecáveis em seus negócios, belos em suas vidas diárias. Você
enxerga sua Maçonaria em suas obras e em suas ações. Ela aparece
em todas as formas de suas atividades, individuais, domésticas,
sociais, eclesiásticas ou políticas. A verdadeira Maçonaria interior
deve ser moralidade exterior. Deve se tornar uma moralidade
eminente, que é filantropia. O verdadeiro Maçom não ama apenas sua
família e seu país, mas toda a humanidade; não somente o bem, mas
também o mal, entre seus irmãos. Possui mais bondade do que podem
reter os canais de sua vida cotidiana. Ela corre sobre os bancos de
terra, para regar e nutrir milhares de plantas sedentas. Não contente
com o dever que reside junto ao seu caminho, ele sai para procurá-lo;
não apenas desejoso, ele tem uma notável ânsia de fazer o bem, de
espalhar sua verdade, sua justiça, sua generosidade, sua Maçonaria
sobre todo o mundo. Sua vida cotidiana é uma profissão de sua
Maçonaria, publicada na perpétua boa-vontade para com as pessoas.
Ele não consegue ser um perseguidor.

Não menos naturalmente o castor constrói ou o mimini canta


sua própria melodia selvagem e emocionante, do que o verdadeiro

87
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

Maçom vive em sua bela vida exterior. Então, a corrente, a partir da


fonte perene, se expande adiante, para despertar o prado com um novo
acesso de verde, e a perfeita beleza irromper em florescência. Assim
a Maçonaria executa a obra que foi criada para fazer. O Maçom não
suspira, chora, ou faz careta. Ele vive disposto. Se sua vida é, como é
a de todos, marcada com erros e com pecados, ele lavra o terreno
estéril com seu remorso, semeia-o com novas sementes, e o velho
deserto floresce como uma rosa. Não se limita a definir formas de
pensamento, de ação ou de sentimento. Ele aceita o que sua mente vê
como verdadeiro, o que sua consciência decide que é correto, o que
seu coração considera generoso e nobre; e coloca longe de si tudo o
mais. Apesar dos antigos e honoráveis da Terra fazê-lo curvar-se para
eles, seus joelhos teimosos se prostram somente ao mando de sua
alma varonil. Sua Maçonaria é sua liberdade perante Deus, não seu
cativeiro perante homens. Sua mente age conforme a lei universal do
intelecto, sua consciência de acordo com a universal lei moral, seus
sentimentos e sua alma conforme a lei universal de cada um deles, e
por isso ele é forte com a força de Deus, em seu meio quádruplo de
comunicação com Ele.

As velhas teologias, as filosofias de religião de tempos


antigos, não nos satisfazem agora. Os deveres da vida existem para
ser cumpridos; existimos para cumpri-los, conscientemente
obedientes à lei de Deus, não ateisticamente, amando somente nosso
próprio ganho. Existem pecados do comércio a serem corrigidos. Por
toda a parte moralidade e filantropia são necessárias. Existem erros
para com eles ser criado um caminho, e seus lugares supridos com
novas verdades, radiantes com as glórias do Céu. Existem grandes
injustiças e males, na Igreja e no Estado, na vida doméstica, social e
pública, a ser endireitados e expurgados. A Maçonaria não pode em
nossa época abandonar o largo caminho da vida. Ela deve caminhar
na rua aberta, aparecer na praça lotada, e ensinar as pessoas por seus
feitos, sua vida, mais eloquente do que quaisquer lábios.

Este Grau é dedicado principalmente à TOLERÂNCIA; e ele


inculca da maneira mais forte esta ideia capital da Antiga Arte, que a
crença em um único Verdadeiro Deus e uma vida moral e virtuosa
constituem os únicos requisitos religiosos necessários para habilitar

88
MORAL E DOGMA

um homem a ser Maçom.

A Maçonaria possui em todo o tempo a mais vívida lembrança


dos tormentos terríveis e artificiosos que eram usados para sufocar as
novas formas de religião ou extinguir as antigas. Ela vê com a visão
da memória a exterminação cruel pelas tropas selvagens de Moisés e
Josué, de todas as pessoas, de todas as idades e sexos, porque seu
infortúnio era o de não conhecer o Deus dos hebreus, ou de adorá-Lo
sob a denominação errada. Ela vê o esmagador de polegares e as
toturas, o chicote, as forcas e a fogueira, as vítimas de Diocleciano e
do Duque de Alba, os miseráveis Covenanters, os Não-Conformistas,
Servet queimado e o inofensivo Quaker enforcado. Ela vê Cranmer
erguer seu braço, já não mais errante, na chama, até sua mão
desaparecer no calor intenso. Vê as perseguições de Pedro e Paulo, o
martírio de Estevão, os processos de Inácio, Policarpo, Justino e
Irineu; e, então, por sua vez, os sofrimentos dos pobres coitados
Pagãos sob os Imperadores Cristãos, a partir dos Papistas na Irlanda
e sob Elizabete e o enfunado Henrique VII. A Virgem Romana nua
perante os leões famintos; a jovem Margaret Graham amarrada numa
estaca ao nível da baixa maré e lá deixada para se afogar, cantando
hinos a Deus até as águas selvagens ultrapassarem sua cabeça; e todos
os que, em todas as eras, sofreram por fome e nudez, perigo e prisão,
pela tortura, pela fogueira e pela espada, – ela os vê a todos, e
estremece diante do longo rol de atrocidades humanas. E vê também
a opressão ainda praticada em nome da religião – pessoas
arremessadas em uma prisão Cristã, na Itália Cristã, por ler a Bíblia
Cristã; em quase todos os Estados Cristãos, leis proibindo a liberdade
de expressão sobre assuntos relacionados à Cristandade; e a forca
alcançando seu braço sobre o púlpito.

As fogueiras de Moloque na Síria, as mutilações cruéis em


nome de Astarote, Cibele, Jeová; as barbaridades dos Torturadores
de Pagãos imperiais; os tormentos ainda mais brutais que os Cristãos
Romano- Góticos na Itália e Espanha amontoaram sobre seus irmãos;
as crueldades diabólicas das quais Suíça, França, os Paises-Baixos,
Inglaterra, Escócia, Irlanda, America foram testemunhas não são tão
poderosas para admoestar o homem sobre os males inenarráveis que
sucedem a partir de enganos e erros em matéria de religião,

89
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

especialmente por investir o Deus do Amor com as paixões cruéis e


vindicativas de uma humanidade errante, e fazer o sangue possuir um
aroma doce em suas narinas e gemidos de agonia serem deliciosos
aos seus ouvidos.

O homem nunca teve o direito de usurpar a prerrogativa ainda


não exercida de Deus, de condenar e punir outros por sua crença.
Nascidos em uma terra Protestante, seremos daquela fé. Se os nossos
olhos foram abertos para a luz sob as sombras de São Pedro, em
Roma, seremos Católicos devotos; nascidos num bairro Judeu em
Alepo, desprezaremos Cristo como um impostor; em Constantinopla,
gritaremos “Allah il Allah, Deus é grande e Maomé é seu profeta!”.
Nascimento, local e educação nos dão nossa fé. Poucos acreditam em
alguma religião porque examinaram as evidências de sua
autenticidade e fizeram um julgamento formal, sob a pesagem do
testemunho. Nenhuma pessoa em dez mil sabe alguma coisa sobre as
provas de sua fé. Acreditamos no que nos foi ensinado; e os mais
fanáticos são os que menos sabem das evidências nas quais seu credo
é baseado. Fatos e testemunhos não são, exceto em casos muito raros,
o fundamento da fé. É uma lei imperativa da Economia de Deus,
insubmissa e inflexível como Ele, que o homem aceite sem questionar
a crença daqueles dentre os quais nasceu e se criou; a fé, assim feita
parte de sua natureza, resiste a todas as evidências em contrário; e ele
desacreditará até das evidências de seus próprios sentidos, ao invés
de abrir mão da crença religiosa que cresceu nele, carne da sua carne
e osso do seu osso.

O que é verdade para mim não é verdade para outro. Os


mesmos argumentos e evidências que convencem uma mente não
causam nenhuma impressão em outra. Esta diferença existe nas
pessoas em seu nascimento. Ninguém tem, positivamente, o direito
de asseverar que ele está certo, onde outros, igualmente inteligentes e
bem-informados, afirmam diretamente a opinião oposta. Cada um
pensa ser impossível ao outro ser sincero, e cada um, tal e qual, está
igualmente errado. “O que é verdade?” é uma questão profunda, a
mais sugestiva jamais feita ao homem. Muitas crenças dos tempos
passados e presentes parecem incompreensíveis. Elas nos
surpreendem com um novo olhar sobre a alma humana, esta coisa

90
MORAL E DOGMA

misteriosa, e mais misteriosa conforme mais notamos suas obras.


Aqui está um homem superior a mim em intelecto e aprendizagem;
todavia acredita sinceramente no que me parece muito absurdo para
merecer confutação; não posso conceber, e sinceramente nem
acreditar que ele seja tanto mentalmente são quanto honesto. E ainda
assim ele é ambos. Sua razão é tão perfeita quanto a minha, e ele é
tão honesto quanto eu.

As fantasias de um lunático são realidades, para ele. Nossos


sonhos são realidades enquanto subsistem, e, no Passado, são tão
irreais quanto o que fizemos em nossas horas despertas. Homem
nenhum pode dizer que tem uma posse tão segura da verdade como a
de bens móveis. Quando pessoas sustentam opiniões diametralmente
opostas umas às outras, e cada qual é honesta, quem decidirá qual
possui a Verdade; e de que modo qualquer uma delas pode dizer com
certeza que ela está certa? Não sabemos o que é a verdade. Nós
mesmos acreditarmos e nos sentirmos absolutamente seguros de que
nossa própria crença é verdadeira não é, na realidade, nem é a mínima
prova do fato, que jamais parece tão certo e incapaz de duvidar.
Nenhum homem é responsável pela certeza de sua fé; mas apenas pela
sinceridade da mesma.

Portanto, homem nenhum tem ou já teve o direito de perseguir


outro por sua crença; pois não pode haver dois direitos antagônicos;
se alguém pode perseguir outrem, porque se sente satisfeito com a
crença de que o outro está errado, este tem, pela mesma razão,
igualmente o mesmo direito de persegui-lo.

A verdade chega até nós tingida e colorida com nossos pré-


julgamentos e nossos preconceitos, que são tão velhos quanto nós
mesmos e fortes como uma força divina. Ela vem até nós como
chega a imagem de uma vara de pesca através da água, curvada e
distorcida. Um argumento mergulha e convence a mente de uma
pessoa, enquanto na mente de outra repercute como uma bola de
marfim solta sobre o mármore. Não é mérito nenhum para um homem
ter uma fé particular, excelente, sólida ou filosófica como possa ser,
quando ele está embebido com o leite de sua mãe. Não é mais mérito
do que seus pré-julgamentos ou suas paixões.

91
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

O Muçulmano sincero tem tanto direito de nos perseguir


quanto nós de persegui-lo; e, por conseguinte, a Maçonaria
sabiamente não requer mais do que uma crença em Uma Divindade
Grande e Todo- Poderosa, o Pai e Preservador do Universo. Por isto
ela ensina seus devotos que a tolerância é um dos deveres principais
de todo o bom Maçom, parte componente da caridade, sem a qual
somos todos meras imagens ocas de Maçons verdadeiros, meros
metais que soam e sinos que tinem.

Nenhum mal afligiu tanto o mundo quanto a intolerância às


opiniões religiosas. Os seres humanos que essa assassinou de diversas
formas, se fossem trazidos à vida juntos e de uma vez, formariam uma
nação de pessoas; se deixados viver e multiplicar-se, teriam dobrado
a população da parte civilizada do mundo; entre esta parte civilizada,
principalmente, em que as guerras religiosas são travadas. O tesouro
e o trabalho humano assim perdido teriam feito da terra um jardim,
no qual, a não ser por paixões corruptas, o homem já poderia ser tão
feliz quanto no Éden.

Nenhum homem que verdadeiramente obedece à lei Maçônica


meramente tolera aqueles cujas opiniões religiosas são opostas as
dele. Toda opinião de uma pessoa é sua mesma propriedade
particular, e os direitos de todos de manter cada uma delas é
perfeitamente igual. Simplesmente tolerarmos, sermos pacientes
com uma opinião oposta é assumir que ela seja herética; é afirmar o
direito de perseguir, se pudéssemos; e reclamar nossa tolerância para
com ela como um mérito. O credo de um Maçom vai mais longe do
que isso. Ninguém, ele acredita, tem qualquer direito, de forma
alguma, de intervir na crença religiosa de outrem. Acredita que cada
homem seja absolutamente soberano no que se refere à sua crença
religiosa, e que esta crença seja um assunto absolutamente estranho
para todos que não recepcionam a mesma crença; e que, se houvesse
qualquer direito de perseguição, tal e qual, isto seria em todos os
casos um direito mútuo; porque um partido tem tanto direito quanto
outro de se colocar como juiz de seu próprio caso; e Deus é realmente
o único magistrado que pode decidir legalmente entre eles. Para este
grande Juiz a Maçonaria remete a questão; e abrindo amplamente seus

92
MORAL E DOGMA

portais, ela convida para lá entrar, e viver em paz e harmonia, o


Protestante, o Católico, o Judeu, o Muçulmano; cada homem que
levar uma vida verdadeiramente moral e virtuosa, que amar seus
irmãos, ajudar os doentes e angustiados e acreditar no ÚNICO,
Onipotente, Onisciente, Onipresente DEUS, Arquiteto, Criador e
Preservador de todas as coisas, por cuja lei universal de Harmonia
tudo gira sobre este universo, o grande, vasto, infinito círculo de
Morte e Vida sucessivas: – para cujo INEFÁVEL NOME todos os
maçons devem prestar homenagem! Pois suas milhares de bênçãos
derramadas sobre nós fazem-nos sentir a mais sincera gratidão, hoje,
amanhã e eternamente!

Podemos assim ser tolerantes com o credo de cada um; pois


em cada fé existem preceitos morais excelentes. Bem longe, no sul da
Ásia, Zoroastro ensinou esta doutrina: “Ao começar uma jornada, o
Fiel deve voltar seus pensamentos para Ormuzd, e confessá-lo, na
pureza de seu coração, ser Deus do Mundo; deverá amá-lo, prestar-
lhe homenagem, e servi-lo. Deve ser sincero e caridoso, desprezar os
prazeres do corpo, e evitar o orgulho e a altivez, e o vício em todas
as suas formas, e especialmente a falsidade, um dos pecados mais
baixos dos quais o homem pode ser culpado. Deve esquecer as
injúrias e não vingar a si mesmo. Deve honrar a memória de seus
pais e parentes. À noite, antes de retirar-se para dormir, deve
examinar rigorosamente sua consciência, e arrepender-se das faltas
que a fraqueza ou a má-sorte o fizeram cometer.” Ele era obrigado a
orar por força para perseverar no Bem, e obter perdão por seus erros.
Era seu dever confessar suas faltas para um Mago, ou para um
ordinário renomado por suas virtudes, ou para o Sol. Jejum e
autoflagelação eram proibidos; e, pelo contrário, era seu dever nutrir
adequadamente o corpo e manter seu vigor, para que sua alma possa
ser forte para resistir ao Gênio da Escuridão; para que ele possa ler
mais cuidadosamente a Palavra Divina, e ter mais coragem para
executar feitos nobres.

E no norte da Europa os Druidas ensinaram devoção aos


amigos, indulgência para erros recíprocos, amor pelos elogios
merecidos, prudência, humanidade, hospitalidade, respeito pela
velhice, indiferença ao futuro, temperança, desprezo pela morte, e

93
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

uma consideração cavalheiresca para com as mulheres. Ouça estas


máximas do Havamal, ou Livro Sublime de Odin:

“Se possuis um amigo, visita-o com frequência; a grama


crescerá no caminho, e logo as árvores o cobrirão, se tu
constantemente não caminhares por ele. É um amigo fiel quem, tendo
dois pães, dá um para seu amigo. Nunca sejas o primeiro a romper
com teu amigo; a tristeza espreme o coração daquele que não tem,
senão a si mesmo, com quem se aconselhar. Não existe homem
virtuoso que não tenha algum vício, nem homem mau que não tenha
alguma virtude. Feliz é aquele que obtém o louvor e a boa-vontade
dos homens; pois tudo que depende da vontade de outro é arriscado
e incerto. Riquezas esvoaçam num piscar de olhos; elas são o mais
inconstante dos amigos; manadas e rebanhos perecem, pais morrem,
amigos não são imortais, tu mesmo morres; conheço apenas uma
coisa que não morre, o juízo que é deixado sobre o morto. Sê humano
para com aqueles a quem encontraste na estrada. Se o visitante que
convidaste para a tua casa está com frio, dá a ele fogo; o homem que
percorreu as montanhas necessita de alimento e roupas secas. Não
zombes dos idosos; pois palavras cheias de sentido frequentemente
vêm das rugas da idade. Sê moderadamente sábio, e não demasiado
esperto. Que ninguém procure conhecer seu destino, se pode dormir
tranquilamente. Não existe enfermidade mais cruel do que sermos
descontentes com nossa porção. O glutão come sua própria morte; e
o homem sábio ri da cobiça do tolo. Nada é mais prejudicial para o
jovem do que beber excessivamente; quanto mais alguém bebe, mais
perde a razão; o pássaro do esquecimento canta diante daqueles que
se intoxicam, e passa o tempo com suas almas. O homem desprovido
de senso acredita que viverá para sempre se evitar guerras; mas, se
as lanças o pouparem, a idade não lhe dará clemência. Melhor é
viver bem do que viver muito. Quando um homem acende um fogo em
sua casa, a morte chega antes que ele vá embora.”

E assim disse os livros indianos: “Honra teu pai e tua mãe.


Nunca esqueças os benefícios recebidos. Aprende enquanto és jovem.
Sê submisso às leis de teu país. Busca a companhia de homens
virtuosos. Não fales de Deus senão com respeito. Vive em bom
entendimento com teus concidadãos. Permaneça em teu lugar

94
MORAL E DOGMA

próprio. Não fales mal de ninguém. Não zombes das enfermidades


corporais de ninguém. Não persigas duramente um inimigo
conquistado. Esforça-te para adquirir uma boa reputação.
Aconselha-te com homens sábios. Quanto mais alguém aprende, mais
adquire a faculdade de aprender. O conhecimento é a riqueza mais
permanente. Bem como ser tolo ou ignorante. O uso verdadeiro do
conhecimento é distinguir o bem do mal. Não sejas objeto de
vergonha a teus pais. O que alguém aprende na juventude perdura
como a gravura sobre uma rocha. Sábio é aquele que conhece a si
mesmo. Deixa teus livros serem teus melhores amigos. Quando
alcançares uma centena de anos, cessa de aprender. A sabedoria é
plantada solidamente, ainda sobre o movente oceano. Não enganes
ninguém, nem mesmo teu inimigo. A sabedoria é um tesouro que em
todo o lugar comanda seu valor. Fala suavemente, mesmo aos
pobres. É mais doce perdoar do que tomar vingança. Jogos e
querelas levam à miséria. Não há mérito verdadeiro sem a prática da
virtude. Honrar nossa mãe é a homenagem mais apropriada que
podemos prestar à Divindade. Não existe sono tranquilo sem uma
consciência limpa. Mal compreende seu interesse quem quebra a sua
palavra.”

Há vinte e quatro séculos atrás, esta era a Ética chinesa:

“O Filósofo (Confúcio) disse, ‘SAN! Minha doutrina é


simples, e fácil de ser compreendida’. THSENG-TSEU replicou,
‘isto é certo.’ O Filósofo tendo partido, os discípulos perguntaram o
que seu mestre queria dizer. THSENG-TSEU respondeu, ‘A
doutrina de nosso Mestre consiste somente em ser sincero de
coração, e amar nosso próximo como amamos a nós mesmos.”

Cerca de um século mais tarde, a lei hebraica disse, “Se algum


homem odeia seu próximo... deve então fazê-lo para si, como pensou
fazer com seu irmão... Melhor é um vizinho que está próximo, do que
um irmão de longe... Deves amar teu próximo como a ti mesmo.”

No mesmo quinto século antes de Cristo, SÓCRATES, o


grego, disse, “Deves amar teu próximo como a ti mesmo.”

Três gerações antes, ZOROASTRO havia dito aos persas:

95
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

“Oferece tuas gratas orações ao Senhor, o mais justo e puro Ormuzd,


o supremo e adorável Deus, que assim declarou seu Profeta
Zerdusht: ‘Crê que não é digno fazer aos outros o que não desejarias
para ti mesmo; faz aquilo para as pessoas, que, quando feito a ti
mesmo, não te seja desagradável.’”

A mesma doutrina foi há muito ensinada nas escolas da


Babilônia, Alexandria e Jerusalém. Um Pagão declarou ao Fariseu
HILEL que estaria pronto para abraçar a religião judaica, se pudesse
dar a conhecer a ele, em poucas palavras, um sumário da inteira lei de
Moisés. “O que não gostas que façam a ti”, disse Hilel, “não o faças
ao teu próximo. Nisto está toda a lei: o resto não é nada mais senão
o comentário sobre isso.”

“Nada é mais natural,” disse CONFÚCIO, “nada é mais


simples do que os princípios de moralidade que eu me esforço,
através de máximas salutares, para inculcar em vós... É humanidade;
quer dizer, esta caridade universal entre todos de nossa espécie, sem
distinção. É sinceridade; isto é, esta retidão de espírito e de coração,
que faz alguém buscar a verdade em tudo, e desejá-la, sem enganar
a si mesmo ou aos outros. É, finalmente, honestidade e boa-fé; o que
quer dizer, esta franqueza, esta abertura de coração, temperada pela
autoconfiança, que exclui todos os fingimentos e todos os disfarces,
tanto no discurso quanto na ação.”

Difundir uma informação útil, promover o refinamento


intelectual, precursor indubitável do aperfeiçoamento moral, apressar
a vinda do grande dia, quando a aurora do conhecimento geral
rechaçar os preguiçosos, que prolongam as brumas da ignorância e do
erro, até à base da grande pirâmide social, é realmente uma grande
convocação, a qual os talentos mais esplêndidos e as virtudes
consumadas podem levar avante, ansiosos por assumir uma parte.
Devem ir adiante das fileiras Maçônicas aqueles cuja genialidade, e
não a ancestralidade, os enobrece, para abrir para todas as demais o
templo da ciência, e através de seu próprio exemplo tornar os homens
mais humildes êmulos por escalar passos já não mais inacessíveis, e
adentrar os descerrados portões ardentes do sol.

96
MORAL E DOGMA

O mais alto cultivo intelectual é perfeitamente compatível


com os cuidados e labores diários dos homens trabalhadores. Um
gosto apurado pelas verdades mais sublimes pertence igualmente a
todas as classes da humanidade. E, como a filosofia era ensinada nos
bosques sagrados de Atenas, e sob o Pórtico, nos velhos Templos do
Egito e da Índia, assim em nossas Lojas o Conhecimento deve ser
dispensado, as Ciências ensinadas, e os Ensinamentos tornam-se
como as lições de Sócrates e Platão, de Agassiz e Cousin.

O verdadeiro conhecimento nunca permitiu qualquer


turbulência ou incredulidade; mas seu progresso é o precursor da
liberalidade e da tolerância esclarecida. Qualquer um que receia estes
pode muito bem estremecer; pois pode assegurar-se de que o seu dia
virá lentamente, e eles colocarão em vôo rápido os maus espíritos da
tirania e da perseguição, que assombraram a longa noite, já diminuída
no céu. E é esperado que este tempo chegue em breve, quando, assim
como as pessoas já não tolerarão que sejam levadas de olhos
vendados à ignorância, não mais cederão ao princípio odioso de julgar
e tratar seus companheiros conforme a coincidência acidental e
involuntária de suas opiniões, mas de acordo com o mérito intrínseco
de suas ações.

Em todas as vezes que tratamos com inteiro respeito aqueles


que diferem conscienciosamente de nós mesmos, o único efeito
prático dessa diferença será o de iluminar a ignorância de um lado ou
de outro de onde ela brote, em instruí-los, se for deles; instruir-nos,
se for nossa própria; a fim de que a única espécie de unanimidade
desejável entre seres racionais seja produzida, – o acordo procedente
da plena convicção após a mais livre discussão.

O Eleito dos Quinze deve, portanto, assumir a liderança de


seus concidadãos, não em frívolas diversões, nem em buscas
degradantes pelo vulgar ambicioso; mas na tarefa de verdadeiramente
iluminar a massa de seus compatriotas, e de deixar seu próprio nome
rodeado não por um esplendor bárbaro, ou preso por futilidades
lisonjeiras, mas ilustrado pelas honrarias dignas de nossa natureza
racional; emparceirado com a difusão do conhecimento, e
pronunciado com gratidão por alguns, no mínimo, a quem sua sábia

97
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

beneficência resgatou da ignorância e do vício.

Dissemos para ele, nas palavras do grande Romano: “Os


homens, em nenhum aspecto se aproximam tanto da Divindade, como
quando conferem benefícios às pessoas. Servir e fazer o bem o quanto
possível, não existe nada maior em vossa fortuna do que disto ser
capaz, e nada mais fino em vossa natureza do que ser desejoso por
isto fazer.” Este é o verdadeiro alvo para a mira de todo homem e
Maçom que aprecia o gozo da pura felicidade, ou estabelece o valor
correto sobre uma alta e imaculada reputação. E se fosse permitido
aos benfeitores da humanidade, enquanto descansam de seus nobres
labores, desfrutar daqui para frente, como recompensa apropriada de
suas virtudes, do privilégio de olhar para baixo, para as bênçãos com
as quais seus esforços e caridades, e talvez suas labutas e sofrimentos,
vestiram o cenário de sua antiga existência, não serão, num estado de
pureza e sabedoria exaltadas, os fundadores de dinastias poderosas,
os conquistadores de novos impérios, os Césares, Alexandres e
Tamerlães; nem os meros Reis e Conselheiros, Presidentes e
Senadores, que viveram principalmente para seus partidos, e para seu
país apenas incidentalmente, muitas vezes sacrificando o bem de seus
companheiros pelo seu próprio engrandecimento ou o de sua facção;
– não serão eles os que ficarão satisfeitos, pela contemplação dos
monumentos de sua fama ingloriosa; mas aqueles que desfrutarão
deste prazer e marcharão neste triunfo são os que podem traçar os
efeitos remotos de sua benevolência iluminada, na melhoria da
condição de sua espécie, e exultar na reflexão de que a mudança que
eles finalmente inspecionam, talvez depois de muitos anos, com olhos
que a idade e a tristeza não podem mais turvar, – o Conhecimento
tornando-se Poder, – a Virtude participando do Império, – a
Superstição destronada e a Tirania exilada, é, mesmo que apenas em
pequeno e ligeiríssimo grau – mas ainda assim em algum grau – o
fruto, precioso, embora caro, ainda muito duradouro, mesmo que
retribuído tardiamente, de sua própria abnegação e esforço
extenuante, de seu próprio tostão de caridade e auxílio sabiamente
concedidos para a educação, e das dificuldades e perigos que
encontraram aqui embaixo.

A Maçonaria não requer de seus Iniciados e devotos nada que

98
MORAL E DOGMA

seja impraticável. Ela não exige que eles se comprometam em escalar


aqueles sublimes e eminentes picos de uma teórica e imaginária
virtude não- prática, altos, gélidos e remotos como as neves eternas
que cobrem os ombros do Chimborazo e, no mínimo, tão inacessíveis
quanto estes. Ela pede somente o que seja fácil de ser feito. Não
sobrecarrega a força de ninguém e não pede a ninguém que vá além
de seus meios e capacidades. Não espera de alguém cuja atividade ou
profissão lhe rendem pouco mais do que exigem suas necessidades
pessoais e familiares, e cujo tempo é ocupado necessariamente por
suas vocações diárias, que abandone ou negligencie o negócio pelo
qual ele e sua família sobrevivem, e dedique os seus meios, bem como
a si próprio, para a difusão do conhecimento entre os homens. Ela não
espera que ele publique livros às pessoas, ou dê palestras, para a ruína
de seus assuntos particulares, nem que funde academias e colégios,
construa bibliotecas e confira estátuas a si mesmo. Mas ela espera e
requer que cada um de nós faça algo dentro e de acordo com nossos
meios; e não existe Maçom que não possa fazer alguma coisa, ainda
que não sozinho, mas por combinação e associação.

Se uma Loja não pode ajudar fundando uma escola ou uma


academia ela ainda pode fazer algo. Pode, pelo menos, educar um
garoto ou garota, filho de algum irmão pobre ou falecido. E nunca
devemos esquecer de que nas crianças mais pobres e desconsideradas,
que parecem abandonadas à ignorância e ao vício, podem repousar as
virtudes de um Sócrates, o intelecto de um Bacon ou de um Bossuet,
a genialidade de um Shakespeare, a capacidade de beneficiar a
humanidade de um Washington; e que, ao resgatá-las da mira da lama
na qual está enterrada, e dar a ela meios de educação e
desenvolvimento, a Loja que o faz pode ser o meio direto e imediato
de conferir ao mundo uma benção tão grandiosa como a dada por John
Faust, o garoto de Mentz; pode perpetuar as liberdades de um país e
mudar os destinos de nações, e escrever um novo capítulo na história
do mundo.

Pois nunca sabemos a importância do ato que cometemos. A


filha do Faraó pouco meditou no que estava fazendo para a raça
humana, e nas vastas e inimagináveis consequências que dependiam
de seu ato caridoso, quando retirou o filho pequeno de uma mulher

99
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

Hebréia do meio dos juncos que cresciam ao longo das margens do


Nilo, e determinou educá-lo como se fosse o seu próprio.

Quantas vezes um ato de caridade, custando pouco ao seu


autor, deu ao mundo um pintor grandioso, um músico grandioso, um
inventor grandioso! Quantas vezes um ato tal desenvolveu o menino
em farrapos no benfeitor de sua raça! As circunstâncias fizeram os
destinos dos grandes conquistadores do mundo depender e girar em
torno do que é pequeno e aparentemente sem importância. Não há lei
que limite os retornos que serão colhidos de uma única boa ação. O
filho da viúva pode não somente ser aceitável para Deus, como pode
produzir resultados tão grandes quanto a oferenda do homem rico. O
garoto mais pobre, auxiliado pela benevolência, pode vir a liderar
exércitos, controlar senados, decidir sobre guerra e paz, ditar para
gabinetes; e seus pensamentos magníficos e palavras nobres podem
ser a lei, muitos anos depois, para milhões de homens ainda nem
nascidos. Mas a oportunidade de efetuar um grande bem muitas vezes
não ocorre a qualquer um. Encontrar-se ocioso e inerte, e esperar que
um acidente lhe sobrevenha, pelo qual suas influências vivam para
sempre, a qualquer um é pior do que a estupidez. Pode-se esperar que
isso aconteça, somente em consequência de um, de muitos ou de
todos de uma longa série de atos. Pode-se esperar beneficiar o mundo
somente como os homens alcançam outros resultados; pela
continuidade, pela perseverança, pelo hábito estável e uniforme de
trabalhar para a iluminação do mundo, na medida de seus meios e
capacidade.

Pois, em todas as instâncias, é pelo trabalho firme, por dar


bastante aplicação para o nosso labor e ter tempo suficiente para a sua
execução, pela compenetração regular e ocupação de assiduidades
constantes, e não por qualquer processo de truques, que asseguramos
a força e a fibra da real excelência. Foi assim que Demóstenes,
proposição após proposição, e sentença após sentença, elaborou ao
máximo suas orações imortais. Foi assim que Newton, pelas etapas
de uma geometria ascendente, desbravou seu caminho para o
mecanismo dos Céus, e Le Verrier acrescentou um planeta ao nosso
Sistema Solar.

100
MORAL E DOGMA

A opinião mais errada é a de que aqueles que legaram os


monumentos de intelecto mais estupendos não eram exercitados de
maneira diferente do resto das espécies, mas somente foram
diferentemente dotados; que eles sobressaíram-se apenas por seu
talento, e quase nunca por sua indústria; pois é, na verdade, para com
a aplicação mais árdua daquelas faculdades rotineiras, que são
difundidas entre todos, que eles estão endividados pelas glórias que
hoje cercam sua lembrança e seu nome.

Não devemos imaginar que é vulgarização do gênio ele ser


iluminado por qualquer outro meio que não seja por uma inspiração
direta do Céu; nem ignorar a firmeza de propósito, a devoção a um
único, porém grande, objetivo, a inesgotabilidade do trabalho que é
dado, não em espasmos convulsivos e preternaturais, mas de pouco
em pouco, na medida em que a força da mente pode suportar; o
acúmulo de muitos esforços pequenos sobre parte de energias
maravilhosas, ao invés de alguns movimentos grandes e gigantescos,
porém irregulares; somente através destes são publicados os grandes
resultados que escrevem seus registros duradouros sobre a face da
terra e na história das nações e dos homens.

Não devemos negligenciar esses elementos, aos quais o gênio


deve as melhores e mais orgulhosas de suas realizações; tampouco
imaginar que qualidades tão geralmente possuídas como a da
paciência, a de tomar as dores de outros, e a da indústria resoluta, não
têm parte na defesa de uma distinção tão ilustre como a do benfeitor
de sua raça.

Não devemos nos esquecer que grandes resultados são mais


comumente produzidos por um agregado de muitas contribuições e
esforços; assim como são as partículas invisíveis de vapor, separadas
e distintas umas das outras, que, subindo dos oceanos e de suas baías
e golfos, de lagos e rios, pântanos amplos e planícies alagadas,
flutuam como nuvens, destilam orvalhos sobre a terra, caem em
aguaceiros, chuva, e nevam sobre as planícies largas e as montanhas
rudes, e criam as grandes correntes navegáveis que são as artérias ao
longo das quais flui o sangue de um país.

101
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

E assim a Maçonaria pode fazer muito, se cada Maçom se


contentar em fazer a sua parte, e se seus esforços unidos forem
direcionados por sábios conselhos para um propósito comum. “Está
para Deus e para a Onipotência fazer coisas poderosas num átimo;
mas crescer à grandeza por graus foi o curso que Ele deixou ao
homem.”

Se a Maçonaria for fiel à sua missão, e os Maçons às suas


promessas e obrigações – se, reentrando vigorosamente em suas
carreiras de beneficência, ela e eles perseguirem-nas seriamente e sem
vacilação, lembrando-se de que nossas contribuições para a causa da
caridade e educação, portanto, merecem crédito maior quando custa-
nos algo para fazê-las: a restrição de um conforto ou o abandono de
um luxo – se prestarmos ajuda aos que foram outrora os grandes
esquemas da Maçonaria para o aprimoramento humano, não irregular
e espasmodicamente, mas regular e incessantemente, tal como os
vapores sobem e as fontes jorram, como o sol nasce e as estrelas
surgem no céu, então podemos estar seguros de que grandes
resultados serão alcançados e uma grande obra feita. E então será
visto com mais certeza que a Maçonaria não é estéril ou impotente,
nem degenerada, nem inclinada para uma decadência fatal.

102
MORAL E DOGMA

CAPÍTULO XI.

SUBLIME ELEITO DOS DOZE;


OU PRÍNCIPE AMETH.

[Eleito dos Doze.]

O S deveres de um Príncipe Ameth são, ser cuidadoso,


verdadeiro, confiável e sincero; proteger o povo contra
imposições ilegais e extorsões; lutar pelos seus direitos políticos, e
enxergar, tanto quanto pode ou é capaz, daqueles que suportam os
fardos, quem colhe os benefícios do Governo.

Você tem de ser verdadeiro a todos os homens.

Você tem de ser franco e sincero em todas as

coisas.

103
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

Você tem de ser cuidadoso em fazer tudo o que é seu dever


fazer.

E ninguém se arrependerá do que tiver confiado à sua


resolução, sua profissão, ou sua palavra.

A grande característica distintiva de um Maçom é a afinidade


com sua espécie. Ele reconhece na raça humana uma grande família,
todos conectados a ele por aquelas ligações invisíveis e essa poderosa
rede de circunstância, forjada e tecida por Deus.

Sentindo essa afinidade, é seu primeiro dever Maçônico servir


seus companheiros. Em sua primeira entrada na Ordem, ele deixa de
ser isolado, e se torna um de uma grande fraternidade, assumindo
novos deveres para com todo o Maçom vivente, assim como todos os
Maçons ao mesmo tempo assumem para com ele.

Não são esses deveres, de sua parte, restritos aos Maçons


somente. Ele assume vários com respeito à sua pátria, e especialmente
para com as grandes massas sofredora do povo comum; pois eles
também são seus irmãos, e Deus ouve, inarticulados como são, os
gemidos de sua miséria. Por todos os meios adequados, de persuasão
e influência, e de outra forma, se a ocasião e emergência exigirem,
ele é obrigado a defendê-los contra a opressão e as extorsões tirânicas
e ilegais.

Ele trabalha igualmente para defender e aperfeiçoar as


pessoas. Não as lisonjeia para desviá-las, nem as adula para governá-
las, nem oculta suas opiniões para mimá-las, nem diz que nunca
podem errar, e que sua voz é a voz de Deus. Ele sabe que a segurança
de todo governo livre, e sua continuidade e perpetuidade dependem
da força e inteligência das pessoas comuns; e que, a menos que sua
liberdade seja de tal espécie que armas não possam adquirir nem tirar;
a menos que seja fruto da coragem viril, da justiça, temperança,
virtude generosa – a menos que, sendo tal, tenha criado raízes
profundas nas mentes e corações das pessoas em geral, estas não
seriam por tanto tempo carecedoras daqueles que lhes arrebatam pela
traição aquilo que conquistaram pelas armas ou instituições.

104
MORAL E DOGMA

Ele sabe que se, após terem sido libertas das labutas da guerra,
as pessoas negligenciarem a arte da paz; se sua paz e liberdade forem
um estado de luta; se a guerra for sua única virtude e o ápice de seu
enaltecimento, logo julgarão a paz o mais adverso de seus interesses.
Será apenas mais uma guerra angustiante, e o que elas imaginam ser
liberdade será a pior das escravidões. Pois, a menos que limpem do
horizonte da mente aquelas névoas de erros e paixões que sobem da
ignorância e do vício, por meio do conhecimento e moralidade, não
superficiais e loquazes, mas genuínos, puros, sinceros, elas sempre
terão quem dobrará seus pescoços à canga, como se fossem bestas;
quem, não obstante todos os seus triunfos, as colocarão no mais alto
leilão, como se fossem meros espólios produzidos na guerra; e
encontrará uma fonte exuberante de riqueza e poder na ignorância,
preconceito e paixões do povo.

Os povos que não submetem a propensão da riqueza à


avareza, ambição e sensualidade, expelem o luxo de si e de suas
famílias, mantém o pauperismo baixo, difundem o conhecimento
entre os pobres, trabalham para elevar os ignóbeis da lama do vício e
baixa indulgência, e guardam o industrioso de morrer de fome à vista
de festas luxuosas, perceberão que encontraram, nessa avareza,
ambição, sensualidade, egoísmo e luxo de uma classe, e essa
degradação, miséria, embriaguez, ignorância e brutalidade outra,
mais déspotas teimosos e intratáveis em seu lar do que jamais
encontraram nos campos de batalha; e até mesmo suas próprias
entranhas estarão continuamente cheias com a prole intolerável dos
tiranos.

Estes são seus primeiros inimigos a ser subjugados; isso


constitui a campanha da Paz; estes são triunfos difíceis, de fato,
porém sem derramamento de sangue; e muito mais honráveis do que
os troféus comprados apenas por massacre e rapina; e se não forem
vitoriosos neste serviço, será em vão terem sido vitoriosos sobre o
inimigo despótico nos campos de batalha.

Pois se qualquer povo pensar que é mais grandioso; mais


benéfico, ou uma política mais sábia, inventar meios sutis por
carimbos e impostos, no sentido de aumentar as receitas e drenar o

105
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

sangue de um povo empobrecido; multiplicar sua força naval e


militar; rivalizar em estratagemas com os embaixadores dos estados
estrangeiros; conspirar o engolfamento de territórios estrangeiros;
fazer alianças e tratados astutos; dominar estados arruinados e
províncias ignóbeis pelo medo e força; do que administrar uma justiça
impoluta ao povo, aliviar sua situação e aumentar o patrimônio das
massas trabalhadoras, reparar os ofendidos, socorrer os aflitos,
conciliar os descontentes e restaurar rapidamente a cada um o que é
seu; então este povo está envolto numa nuvem de erro, e perceberá
tarde demais, quando a ilusão destes benefícios poderosos tiver
desaparecido, que negligenciando isso que considerou inferior,
apenas precipitou sua própria ruína e desespero.

Infelizmente, cada geração apresenta seu problema


específico, mais difícil e muitas vezes impossível de resolver; e o que
nossa época oferece, e força a consideração de todas as pessoas
pensantes, é isto: – como, num país rico e populoso, abençoado com
instituições livres e um governo constitucional, as grandes massas das
classes de trabalho manual devem ser capacitadas para ter trabalho
fixo com salários justos, devem ser guardadas da fome, e seus filhos
do vicio e deboche, e supridas com esse grau de conhecimento, que
não de simples leitura e escrita, que as prepararão de modo
inteligente para executar os deveres e exercitar os privilégios de
homens livres; e ainda estarem incumbidas com o perigoso direito de
sufrágio?

Pois embora não saibamos por que Deus, sendo infinitamente


misericordioso, bem como sábio, tenha ordenado isto, parece
inquestionavelmente sua lei, que mesmos nos países civilizados e
Cristãos, a grande massa da população seja afortunada, no momento
em que, durante toda a sua vida, desde a infância até a velhice, na
saúde e na doença, possuem bastante do alimento mais comum e
grosseiro para guardar-se e a seus filhos da mordida contínua da fome
– bastante da vestimenta mais comum e grosseira para proteger-se e
a seus pequeninos da exposição indecente e do frio horrível; no
momento em que possuem sobre suas cabeças o abrigo mais rude.

E Ele parece haver promulgado esta lei – a qual nenhuma

106
MORAL E DOGMA

comunidade humana ainda não encontrou meios para revogar – que,


quando um país se torna populoso, o capital se concentrará nas mãos
de um número limitado de pessoas, e o trabalho fica cada vez mais à
sua mercê, até que o mero trabalho manual, o do tecelão, do
metalúrgico e de outros artesãos, eventualmente deixe de valer mais
de do que a subsistência, e muitas vezes, nas grandes cidades e vastas
extensões do país, nem isso, e eles seguem ou rastejam quase em
farrapos, mendigando, e morrendo de fome por falta de trabalho.

Enquanto todo boi e cavalo podem achar trabalho, e são


merecedores de alimento, nem sempre é assim com o homem. Estar
empregado, ter a oportunidade de trabalhar em algo com salários
justos, se torna o grande objetivo atraente da vida de um homem. O
capitalista pode viver sem empregar o trabalhador, e demiti-lo sempre
que o trabalho deixa de ser lucrativo. No momento em que o clima é
mais severo, as provisões mais caras, e os aluguéis altíssimos, ele o
desliga para morrer de fome, se o diarista fica doente, seus salários
param. Quando velho, não tem permissão para se aposentar. Seus
filhos não podem ser enviados para a escola; pois antes que seus ossos
estejam fortificados eles precisam começar a trabalhar para não
morrer de fome. O homem, forte e saudável, trabalha por um xelim
ou dois ao dia, e a mulher tremendo sobre sua pequena panela de
carvões, quando o termômetro cai muito abaixo de zero, após suas
crianças terem se queixado para ir dormir, costura através luz turva
de sua solitária vela, por uma ninharia limitada, vendendo a sua vida
àquele que negociou apenas o trabalho de sua agulha.

Pais e mães matam seus filhos para ter as taxas do enterro,


para que, com o preço da vida de um filho, possam manter em vida
os que sobreviveram. Garotinhas com pés descalços varrem as ruas,
enquanto o vento do inverno as incomoda, e imploram de forma
lastimosa pelos centavos daqueles que usam quentes casacos.
Crianças crescem em esquálida miséria e brutal ignorância; a escassez
compele virgens e esposas a se prostituir; mulheres morrem de fome
e congeladas, e inclinam-se contra os muros dos asilos, como um
feixe de trapos imundos, durante toda a noite, e noite após noite,
quando a chuva fria cai, e há riscos de não haver quartos ali dentro
para elas; centenas de famílias são apinhadas num único edifício,

107
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

repleto de horrores e abundante de ar impuro e pestilência; onde


homens, mulheres e crianças aconchegam-se juntas na sua imundície;
todas as idades e todas as cores indiscriminadamente dormindo
juntas; enquanto que, num grande e livre Estado Republicano, no
pleno vigor de sua juventude e força, uma pessoa a cada dezessete é
um pobre recebendo caridade.

Como lidar com este mal aparentemente inevitável e essa


doença mortal é, de longe, o mais importante de todos os problemas
sociais. O que tem de ser feito com o pauperismo e o excesso de oferta
de trabalho? Como a vida de qualquer país perdurará, quando a
brutalidade e o semibarbarismo bêbado votam, retêm os cargos em
sua dádiva e controlam um governo através de representantes
adequados de si mesmos? Como, se não é a sabedoria e a autoridade,
mas a turbulência e o baixo vício que exaltam os canalhas do senado
fedendo com os odores e a poluição do inferno, o ringue, o bordel, e
a bolsa de valores, onde o jogo é legalizado e a desonestidade é
louvável?

A Maçonaria fará tudo em seu poder, através de empenho


direto e cooperação, para aprimorar e informar, bem como proteger o
povo; para melhorar sua condição física, aliviar suas misérias, suprir
suas faltas, e servir às suas necessidades. Que cada Maçom nesta boa
obra faça tudo que possa estar em seu poder.

Pois é verdadeiro hoje, com sempre foi e sempre será, que ser
livre é a mesma coisa que ser piedoso, ser sábio, ser temperado e
justo, ser frugal e abstinente, e ser magnânimo e valente; e ser o
oposto de todas estas coisas é ser um escravo. E usualmente ocorre,
pela indicação, e, por assim dizer, justiça retributiva da Divindade,
que as pessoas que não conseguem governarem-se e moderar suas
paixões, mas se curvam sob a escravidão de suas lascívias e vícios,
são entregues ao manejo daqueles a quem abominam, e feitas para se
submeter a uma servidão involuntária.

E também está sancionado pelos ditames da justiça e pela


constituição da Natureza, que aquele que, a partir da imbecilidade ou
desarranjo de seu intelecto, é incapaz de governar-se, deva, como um

108
MORAL E DOGMA

menor, ser comprometido ao governo de outro.

Acima de todas as coisas, nunca esqueçamos que a espécie


humana constitui uma grande irmandade; todos nascem para
encontrar sofrimento e angústia, e então vinculados a simpatizar uns
com os outros.

Pois torre alguma de Orgulho foi ainda suficientemente alta


para alçar seu possuidor para cima das provações, medos e
fragilidades da humanidade. Nenhuma mão humana jamais construiu
uma muralha, nem nunca irá, que mantivesse de fora a aflição, a dor
e a enfermidade. Doença e angústia, agonia e morte, são dispensações
que nivelam tudo. Não conhecem nada, nem alto nem baixo. As
principais carências da vida, as grandes e sérias necessidades da alma
humana, não isentam ninguém. Elas tornam todos pobres, todos
fracos. Põem súplicas nos lábios de todo ser humano, tão
verdadeiramente como nos do mendigo mais pobre.

Mas o princípio da miséria não é um mau princípio. Nós


erramos, e as consequências nos ensinam a sabedoria. Todos os
elementos, todas as leis das coisas ao nosso redor servem a este fim;
e através das estradas de erros e enganos dolorosos, é o desígnio da
Providência guiar-nos para a verdade e felicidade. Se o erro apenas
nos ensinasse a errar; se os enganos nos confirmassem na
imprudência; se as misérias causadas pela indulgência viciada
tivessem uma tendência natural para nos tornar escravos mais abjetos
do vício, então o sofrimento seria inteiramente mau. Mas, ao
contrário, tudo tende e é planejado para produzir correção e
aprimoramento. O sofrimento é a disciplina da virtude; daquilo que é
infinitamente melhor do que a felicidade, e ainda engloba em si toda
a felicidade essencial. Ele a nutre, fortalece, e aperfeiçoa. A virtude é
o prêmio da corrida severamente competida e da batalha duramente
travada; e vale todos os cansaços e feridas do conflito. O homem deve
avançar com um coração forte e valente para a batalha com a
calamidade. Deve amestrá-la, e não deixá-la se tornar sua mestra. Não
deve abandonar o posto da provação e do perigo; mas permanecer
firmemente em sue lote, até a grande palavra da Providência convidá-
lo a voar, ou convidá-lo a afundar. Com resolução e coragem o

109
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

Maçom deve fazer a obra que é indicada para ele executar, olhando
através da sombra escura da calamidade humana, para o fim que se
ergue alto e brilhante diante dele. A porção de sofrimento é grande e
sublime. Ninguém sofre para sempre, nem por nada, nem sem
propósito. É a ordenança da sabedoria de Deus, e de Seu Amor
Infinito, procurar para nós glória e felicidade infinitas.

A virtude é a liberdade mais verdadeira; nem é livre quem se


dobra às paixões; nem quem, em cativeiro, serve a um mestre nobre.
Os exemplos são as melhores e mais duráveis lições; e a virtude é o
melhor exemplo. Aquele que praticou bons feitos e estabelece bons
antecedentes, com sinceridade, é feliz. O tempo não sobreviverá ao
seu valor. Ele verdadeiramente vive após a morte, cujos feitos bons
são seus pilares de lembrança; e os dias adicionam alguns grãos à sua
pilha de glória. Boas obras são sementes, que após a semeadura
devolver-nos-ão uma colheita permanente; e a memória das ações
nobres é mais duradoura do que monumentos de mármore.

A vida é uma escola. O mundo nem é uma prisão nem uma


penitenciária; nem um palácio de facilidades, nem um anfiteatro para
jogos e espetáculos; mas um lugar de instrução e disciplina. A vida é
dada para o treinamento moral e espiritual; e o curso inteiro da grande
escola da vida é uma educação para a virtude, felicidade e existência
futura. Os períodos da Vida são seus períodos letivos; todas as
condições humanas, suas classes; todos os empreendimentos
humanos, suas lições. As famílias são os primeiros departamentos
desta educação moral; os vários círculos da sociedade, seus estágios
avançados; Reinos e Repúblicas, suas universidades.

Riquezas e Pobrezas, Alegrias e Tristezas, Casamentos e


Funerais, os laços da vida atados ou quebrados, adequados e
afortunados, ou desconfortáveis e dolorosos, são todos lições. Os
eventos não são arremessados juntos de maneira cega e descuidada.
A Providência não escola um homem, e reprova outro a partir das
provas de fogo de suas lições. Não tem os ricos como favoritos nem
pobres como vítimas. Um evento acontece a todos. Um fim e um
desígnio motiva e interessa todos os homens.

110
MORAL E DOGMA

O homem próspero foi à escola. Talvez tivesse pensado que


era uma grande coisa, e ele um grande personagem; mas foi
meramente um pupilo. Pensou, talvez, que fosse um Mestre, e não
tinha nada a fazer a não ser dirigir e mandar; mas sempre houve um
Mestre acima dele, o Mestre da Vida. Ele não olha para nosso
esplêndido patrimônio, e nossas muitas pretensões, nem para as
ajudas e aplicações de nosso aprendizado; mas para nosso
aprendizado em si. Ele coloca o pobre e o rico na mesma turma; não
conhece diferença entre eles a não ser seu progresso.

Se a partir da prosperidade aprendemos moderação,


temperança, candura, modéstia, gratidão a Deus, e generosidade ao
homem, então somos designados a ser honrados e recompensados. Se
aprendemos egoísmo, autoindulgência, transgressão, e vício, a
esquecer e sobreolhar nosso irmão menos afortunado, e zombar da
providência de Deus, então somos indignos e desonrosos, embora
tivéssemos sido nutridos na fartura, ou ter nossos graus a partir da
linhagem de cem ascendentes nobres; assim verdadeiramente, na
visão da Divindade e de todas as pessoas bem-pensantes, como se
repousássemos, vítimas de miséria e doença, perto da sebe, no
hospital, ou sobre o monturo. A equidade humana mais ordinária não
olha para a escola, mas para o estudante; e a equidade do Céu não
olhará abaixo dessa marca.

O homem pobre também está na escola. Que cuide para que


aprenda, ao invés de reclamar. Que sustente sua integridade, sua
candura e sua bondade de coração. Que se acautele da inveja, e da
servidão, e mantenha seu autorrespeito. O trabalho do corpo não é
nada. Que ele tome cuidado com o trabalho penoso e degradação da
mente. Enquanto melhora sua condição, se puder, que seja mais
ansioso para melhorar sua alma. Que seja disposto, enquanto pobre,
e mesmo que sempre pobre, a aprender as grandes lições da pobreza,
fortitude, animação, contentamento, e confiança implícita na
Providência de Deus. Com estes, e a paciência, calma, autocontrole,
desinteresse, e bondade afeiçoada, a residência humilde pode ser
santificada, e tornada mais estimada e nobre do que o palácio mais
sublime. Que ele, acima de todas as coisas, veja que não perde sua
independência. Que não se lance, como uma criatura mais pobre do

111
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

que o pobre, um mendigo indolente, indefeso, desprezado, sobre a


bondade de outros. Todo homem deve escolher ter Deus por seu
Mestre, ao invés do homem; e não fugir desta escola, nem por
desonestidade nem por pedir esmolas, para que não caia nesse estado,
pior que a desgraça, onde não consegue ter nenhum respeito por si
mesmo.

Os laços da Sociedade nos ensinam a amar aos outros. É uma


sociedade miserável a na qual se tenta suprir a ausência de bondade
afeiçoada por decoro meticuloso, urbanidade graciosa, e
insinceridade polida; onde ambição, ciúme e desconfiança governam
no lugar de simplicidade, confiança e bondade.

Veja, também, que o estado social nos ensina a modéstia e


gentileza; e partir da negligência, da atenção indignamente outorgada
aos outros, da injustiça, e do fracasso do mundo nos apreciar, nós
aprendemos a quietude, para sermos superiores à opinião da
sociedade, não cínicos e amargos, mas gentis, cândidos e afeiçoados,
inclusive.

A Morte é a grande Professora, austera, fria, inexorável,


irresistível; a quem a força do mundo não pode parar ou impedir. A
respiração, que partindo dos lábios do Rei ou do mendigo, mal agita
o ar abafado, não pode ser comprada ou trazida de volta, nem por um
instante, com a riqueza de Impérios. Que lição é esta, que nos ensina
nossa fragilidade e fraqueza, e um Poder Infinito além de nós! É uma
lição medonha que nunca se torna familiar. Ela caminha pela terra
num temível mistério, e coloca suas mãos sobre todos. É uma lição
universal, que é lida em toda a parte e por todas as pessoas. Sua
mensagem vem todos os anos e todos os dias. Os anos passados estão
cheios com suas tristes e solenes lembranças; e o dedo da morte corre
sua caligrafia nos muros de cada habitação humana.

Ela nos ensina o Dever; para fazer bem a nossa parte;


consumar a obra atribuída a nós. Quando alguém está morrendo, e
depois de morto, há apenas uma questão: Ele viveu bem? Não há mal
na morte a não ser o que a vida cria.

112
MORAL E DOGMA

Há duras lições na escola da Providência de Deus; e ainda


assim a escola da vida está cuidadosamente ajustada, em todos os
seus arranjos e tarefas, aos poderes e paixões do homem. Não há
extravagância em seus ensinamentos; nem alguma coisa é feita por
razão de efeito presente. O curso inteiro da vida humana é um conflito
com dificuldades; e um progresso no aprimoramento, se conduzido
corretamente. Nunca é tarde demais para o homem aprender. Não
somente parte, mas o todo da vida é uma escola. Nunca chega um
tempo, mesmo em meio às decadências da idade, em que se está apto
para deixar de lado a ânsia de aquisição, ou a alegria do esforço. O
homem caminha, durante todo o curso da vida, em paciência e
conflito, e às vezes em trevas; pois, da paciência vem a perfeição; do
conflito, o triunfo é a questão; da nuvem de trevas tem de brilhar o
relâmpago que abrirá o caminho da eternidade.

Que o Maçom seja dedicado na escola da vida, e a todas as


suas lições! Que não deixe de aprender, nem de preocupar se aprende
ou não. Que os anos não passem sobre ele, testemunhas apenas de sua
preguiça e indiferença; ou vejam nele o zelo de adquirir tudo, menos
virtude. Nem que trabalhe apenas para si mesmo; nem se esqueça de
que o homem mais humilde que existe é seu irmão, nem tenha
reclamação sobre suas simpatias e bons cargos; e que abaixo das
vestes ásperas que o trabalho desgasta possam bater corações tão
nobres quanto os que pulsam sob as estrelas dos príncipes.

Deus, que conta por almas, não


posições, Ama e tem pena de vós
e de mim;
Pois para Ele todas as vãs distinções
São como seixos no mar sem fim.

Tampouco os outros deveres inculcados neste Grau sejam de


menor importância. A verdade, o Maçom descobre cedo, é um
atributo Divino e a fundação de toda a virtude; e a franqueza,
confiabilidade, sinceridade, retidão, comportamento leal, são apenas
modos diferentes nos quais a Verdade se desenvolve. Os mortos, os
ausentes, os inocentes, e os que confiam nele, a nenhum o Maçom
enganará de bom grado. Deve a todos estes uma justiça mais nobre,
nisto estão são os julgamentos mais certos da Equidade humana.

113
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

Somente o mais abandonado dos homens, disse Cícero, enganaria a


quem teria permanecido incólume se não tivesse confiado. Todos os
feitos nobres que batem suas marchas através de épocas seguintes
procederam de homens de verdade e genuína coragem. O homem
sempre verdadeiro é tanto virtuoso quanto sábio; e assim possui os
maiores guardas de segurança: pois a lei não tem poder para atacar o
virtuoso; nem pode a fortuna subverter o sábio.

Sendo a moralidade e a virtude as bases da Maçonaria, é por


estudar uma e praticar a outra que a conduta de um Maçom se torna
irrepreensível. Sendo o bem da Humanidade o seu objetivo principal,
o desinteresse é uma das primeiras virtudes que ela requer de seus
membros; pois essa é a fonte da justiça e beneficência.

Ter piedade das desgraças dos outros; ser humilde, mas sem
mesquinhez; ser orgulhoso, mas sem arrogância; abjurar qualquer
sentimento de ódio e vingança; mostrar-se magnânimo e liberal, sem
ostentação e sem profusão; ser o inimigo do vício; prestar
homenagem à sabedoria e à virtude; respeitar a inocência; ser
constante e paciente na adversidade, e modesto na prosperidade;
evitar toda irregularidade que manche a alma e destempere o corpo –
é seguindo estes preceitos que um Maçom se tornará um bom cidadão,
um marido fiel, um pai terno, um filho obediente, e um verdadeiro
irmão; honrará a amizade, e cumprirá com ardor os deveres que a
virtude e as relações sociais impõem sobre ele.

É porque a Maçonaria impõe estes deveres que é própria e


significantemente chamada obra; e quem imagina que se torna
Maçom por meramente receber os dois ou três primeiros Graus, e que
pode, tendo vagarosamente subido essa pequena elevação, a partir daí
vestir merecidamente as honras da Maçonaria sem trabalho ou
esforço, ou autonegação, ou sacrifício, e que não há nada para ser
feito na Maçonaria, está estranhamente enganado.

É verdade que nada resta para ser feito na Maçonaria?

Um irmão já não procede por lei contra outro Irmão de sua


Loja, no que diz respeito a assuntos que poderiam ser facilmente

114
MORAL E DOGMA

resolvidos no círculo familiar Maçônico?

Foi o duelo, essa herança detestável do barbarismo,


interditado entre os Irmãos por nossas leis fundamentais, e
denunciado pelo código municipal, e ainda desaparecido do solo que
habitamos? Os Maçons de classe alta privam-se religiosamente dele;
ou, curvando-se a uma opinião pública corrupta, não se submetem ao
seu arbitramento, a despeito do escândalo que ela ocasiona à Ordem,
e em violação da fraca restrição de seu juramento?

Os Maçons não mais formam opiniões descaridosas de seus


Irmãos, dão-lhes julgamentos severos, e julgam-se por uma regra e a
seus Irmãos por outra?

Possui a Maçonaria algum sistema de caridade bem regulado?


Fez o que deveria ter feito pela causa da educação? Onde estão suas
escolas, suas academias, seus colégios, seus hospitais e enfermarias?

As controvérsias políticas são agora conduzidas sem violência


e amargor?
Os Maçons abstêm-se de difamar e denunciar seus Irmãos que
diferem deles em opiniões políticas ou religiosas?

Quais grandes problemas sociais ou projetos úteis cativam


nossa atenção em nossas comunicações? Onde em nossas Lojas são
habitualmente comunicadas lições para a real instrução de nossos
Irmãos? Acaso não passam nossas sessões de discussão sobre
assuntos menores de negócios, estabelecimento dos pontos da ordem
e questões de mera administração, e admissão e progresso dos
Candidatos, a quem, após sua admissão, não nos importamos em
instruir?

Em qual Loja nossas cerimônias são explicadas e elucidadas;


corrompidas como foram pelo tempo, até que suas características
dificilmente pudessem ser distinguidas; e onde são ensinadas aquelas
grandes verdades primitivas da revelação, que a Maçonaria tem
preservado para o mundo?

115
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

Temos dignidades elevadas e títulos soantes. Seus


possuidores qualificam-se para esclarecer o mundo a respeito das
metas e objetivos da Maçonaria? Descendentes daqueles Iniciados
que governaram impérios, suas influências entram na vida prática e
operam eficientemente em favor da liberdade constitucional e bem
regulada?

Seus debatem não devem ser senão conversações amigáveis.


Vocês precisam de concórdia, união e paz. Por que motivo, então,
vocês retêm entre seus homens aqueles que instigam rivalidades e
ciúmes; por que permitem grandes e violentas controvérsias e
pretensões ambiciosas? Como fazem suas próprias palavras e
atos concordarem? Se suas Maçonarias são nulidades, como
podem exercitar qualquer influência sobre outros?

Continuamente vocês se enaltecem mutuamente, e


pronunciam elogios elaborados e bem forjados. Por toda a parte
afirmam que são o que devem ser, e em lugar nenhum observam como
são. É verdade que todas as nossas ações são muitos atos de
homenagem à virtude? Explorem os recessos de seus corações;
examinemo-nos com um olho imparcial, e produzamos a resposta
para nossos questionamentos! Podemos usar para nós mesmos o
testemunho consolador de que sempre executamos nossos deveres
rigidamente; e que executamos ainda metade deles?

Vamos acabar com este odioso autoelogio! Sejamos homens,


se não podemos ser sábios! As leis da Maçonaria, excelentes acima
de todas, não podem alterar totalmente as naturezas dos homens. Elas
os esclarecem, apontam o caminho verdadeiro; mas só podem levá-
los até ele pela repressão do fogo de suas paixões e subjugação de
seus egoísmos. Ai, se estes conquistarem, e a Maçonaria for
esquecida!

Após nos elogiarmos mutuamente por toda a vida, sempre


existem Irmãos excelentes, que, sobre nossos caixões, derramam
elogios ilimitados. Cada um de nós que morre, todavia inútil a sua
vida, tem sido um modelo de todas as virtudes, um verdadeiro filho
da luz celestial. No Egito, entre nossos velhos Mestres, onde a

116
MORAL E DOGMA

Maçonaria era mais cultivada do que a vaidade, ninguém poderia


obter admissão ao asilo sagrado da tumba até que tenha passado sob
o julgamento mais solene. Um grave tribunal se assentava em
julgamento de todos, mesmo dos reis. Eles diziam ao morto. “Sejas
quem for, dá conta de tuas ações a teu país! O que tiveste feito com
teu tempo e vida? A lei interroga-te, teu país ouve- te, a Verdade se
assenta em julgamento de ti!” Os príncipes vinham ali para serem
julgados, escoltados apenas por suas virtudes e seus vícios. Um
acusador público recontava a história da vida do homem morto, e
atirava a labareda da tocha da verdade sobre todas as suas ações. Se
fosse adjudicado que ele havia levado uma vida má, sua memória era
condenada na presença da nação, e era negado a seu corpo as honras
da sepultura. Que lição a velha Maçonaria ensinava aos filhos do
povo!

É verdade que a Maçonaria é estéril; que a acácia, murcha,


não oferece sombra; e que a Maçonaria não marcha mais na guarda
pioneira da Verdade? Não. A liberdade já é universal? A ignorância e
o vício desapareceram da terra? Já não existem inimigos entre os
homens? Cupidez e falsidade não mais existem? A tolerância e a
harmonia prevalecem entre as seitas políticas ou religiosas? Ainda
existem obras para a Maçonaria realizar, maiores do que os doze
trabalhos de Hércules; avançar sempre resoluta e estavelmente;
esclarecer as mentes do povo, reconstruir a sociedade, reformar as leis
e aprimorar a moral pública. Uma eternidade à sua frente tão infinita
quanto a detrás. E a maçonaria não pode deixar de trabalhar na causa
do progresso social sem deixar de ser verdadeira consigo mesma, sem
deixar de ser Maçonaria.

117
CAPÍTULO XI: SUBLIME ELEITO DOS DOZE

118
MORAL E DOGMA

CAPÍTULO XII.

GRÃO-MESTRE ARQUITETO

[Mestre Arquiteto]

OS grandes deveres que são inculcados pelas lições ensinadas


pelos instrumentos de trabalho de um Grão-Mestre Arquiteto,
exigindo muito de nós, e tendo por garantida a capacidade de executá-
las completa e fielmente, trazem- nos ao mesmo tempo a reflexão
sobre a dignidade da natureza humana, e sobre os vastos poderes e
capacidades da alma humana; e para este tema chamamos sua atenção
neste Grau. Comecemos a subir da terra para as Estrelas.
Cada vez mais a alma humana luta em direção à luz, em
direção a Deus, e ao Infinito. Assim especialmente em suas aflições.
As palavras vão senão por um caminho pequeno nas profundidades
da tristeza. Os pensamentos que lá se retorcem em silêncio, que vão

119
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

para a quietude da Infinidade e da Eternidade, não possuem


emblemas. Pensamentos bastantes chegam lá, tais como nenhuma
língua jamais proferiu. Eles não desejam tanto a simpatia humana,
quanto desejam uma ajuda maior. Há uma solidão na tristeza
profunda que somente a Divindade pode aliviar. Sozinha, a mente
combate os grandes problemas da calamidade, procura a solução a
partir da Infinita Providência do Céu, e assim é levada diretamente
para Deus.

Existem muitas coisas em nós das quais não somos claramente


conscientes: Despertar essa consciência adormecida para a vida, e
assim conduzir a alma até a Luz, é um ofício de todo grande ministério
para a natureza humana, se o seu veículo for a caneta, o lápis, ou a
língua. Somos inconscientes da intensidade e do espanto da vida
dentro de nós. Saúde e doença, alegria e tristeza, sucesso e
desapontamento, vida e morte, amor e perda, são palavras familiares
em nossos lábios; e não sabemos a que profundidades apontam dentro
de nós.

Parecemos nunca saber o que significa ou vale qualquer coisa


até a perdermos. Vários órgãos, nervos e fibras em nossa estrutura
corporal executam sua função silenciosa por anos, e somos
completamente inconscientes de seu valor. Não descobrimos o seu
valor até que estejam feridos, e então percebemos o quanto eram
essenciais para a nossa felicidade e conforto. Nós nunca sabemos a
significância completa das palavras, “propriedade”,
“tranquilidade”, “saúde;” a riqueza de significado nos epítetos
afeiçoados, “pais”, “filhos”, “bem-amado” e “amigo”, até a coisa
ou pessoa ser tirada de nós; até vir, no lugar do ser brilhante e visível,
a sombra terrível e desolada, onde nada é: para onde esticamos nossas
mãos em vão, e apertamos nossos olhos sobre um lúgubre e negro
vazio. Ainda, nesse vazio, não perdemos o objeto que amamos. Ele
apenas torna-se mais real para nós. Nossas bênçãos não apenas
brilham mais quando partem, mas fixam-se em uma realidade
duradoura; e o amor e a amizade recebem sua marca eterna sob a fria
impressão da morte.

Uma consciência turva do mistério e esplendor infinitos

120
MORAL E DOGMA

repousa abaixo de todos os lugares-comuns da vida. Existem espantos


e majestades à nossa volta, em todas as nossas pequenas
mundanidades. O camponês rude dos Apeninos, dormindo ao pé de
um pilar de uma majestosa igreja Romana, parece nada ver ou ouvir,
mas apenas sonhar com o rebanho que ele alimenta ou com a terra
que ele cultiva nas montanhas. Porém as sinfonias dos corais descem
suavemente sobre seus ouvidos, e as abóbadas douradas são vistas de
modo turvo através de suas pálpebras semidormentes.

Assim, a alma, todavia rendida às ocupações da vida diária,


não pode perder totalmente o senso de onde está, e do que está acima
e ao seu redor. O cenário dos seus compromissos reais pode ser
pequeno; o caminho de seus passos, batido e familiar; os objetos que
manipula, facilmente abarcados, e muito desgastados com as
utilizações diárias. Talvez seja assim e entre tais coisas que todos
nós vivamos. Logo, vivemos nossa pequena vida; mas o Céu está
acima de nós, e por todos os lados, e perto de nós; e a Eternidade está
antes e depois de nós; e sóis e estrelas são testemunhas e observadores
silenciosos sobre nós. Estamos envoltos pelo Infinito. Poderes
Infinitos e espaços Infinitos se encontram em tudo à nossa volta. O
terrífico arco do Mistério se dilata sobre nós e nenhuma voz jamais o
perfurou. A Eternidade está entronizada por entre a miríade de alturas
estreladas do Céu; e nenhuma expressão ou palavra jamais veio
daqueles espaços longínquos e mudos. Acima, está essa terrível
majestade; à nossa volta, por todos os lugares, ela expande-se até o
infinito; e abaixo está essa pequena luta da vida, esse pobre conflito
do dia, esse ocupado formigueiro do Tempo.

Mas deste formigueiro não é somente a conversa das ruas, os


sons das músicas e das festas, a agitação e o pisar da multidão, o berro
de alegria e o grito de agonia que sobem para o Infinito silencioso que
tudo envolve; mas também, em meio aos tumultos e ruídos da vida
visível, do seio íntimo do homem visível, para lá sobe um chamado
implorante, um brado suplicante, um pedido pela revelação,
inexprimido e inexprimível, lamentoso e de uma agonia quase sem
palavras, rogando ao terrível arco do mistério que se quebre, e às
estrelas que giram acima das preocupações mortais que falem; à
majestade entronada daquelas alturas terríveis que encontre uma voz;

121
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

aos céus misteriosos e reservados que se acheguem para perto; e a


todos, que nos contem o que apenas eles sabem; que nos deem uma
informação sobre os amados e perdidos; que nos façam saber o que
somos e para onde estamos indo.

O homem está envolvido por um domo de maravilhas


incompreensíveis. Nele e sobre ele é isso que deve preencher sua vida
com majestade e sacralidade. Algo de sublimidade e santidade brilhou
assim do céu no coração de cada um que vive. Não existe nenhum ser
tão vil e abandonado que não tenha alguns traços de sacralidade sobre
si; ou algo, talvez, tão discordante com sua reputação geral, que tenha
escondido de todos ao seu redor; algum santuário em sua alma, que
ninguém possa entrar; alguma clausura sagrada, onde a memória de
uma criança é ou a imagem de um parente venerado, ou a lembrança
de um amor puro, ou o eco de alguma palavra de bondade uma vez
lhe dita; um eco que nunca desaparecerá.

A vida não é uma existência negativa, superficial ou mundana.


Nossos passos são cada vez mais assombrados com pensamentos
muito além de seu próprio alcance, que alguns consideram como
reminiscências de um estado preexistente. Assim é com todos nós, na
trilha batida e desgastada desta peregrinação terrena. Há algo mais
aqui, do que o mundo em que vivemos. Isso não é tudo da vida para
viver. Uma presença invisível e infinita está aqui; um sentimento de
algo maior do que o que possuímos; uma procura, através de todos os
resíduos de vácuo da vida, por um bem além dela; um clamor do
coração pela interpretação; uma memória, dos mortos, tocando
continuamente um fio vibratório neste grande tecido de mistério.

Todos nós não só temos insinuações melhores, como somos


capazes de coisas melhores do que sabemos. A pressão de uma grande
emergência desenvolveria em nós poderes além da inclinação
mundana de nossos espíritos; e o Céu assim lida conosco, de vez em
quando, como que invocando essas melhores coisas. Mal existe, com
dificuldade, uma “família” num mundo tão egoísta, mas, se alguém
dela fosse condenado a morrer – um, para ser escolhido pelos outros,
– seria absolutamente impossível aos seus membros, pais e filhos,
escolher essa vítima; porém cada um diria, “Eu morrerei; mas não

122
MORAL E DOGMA

posso escolher.” E quantos, se esta horrenda extremidade


sobreviesse, não dariam um ou outro passo adiante, liberto das malhas
vis do egoísmo ordinário, e diria, como o pai e filho Romano, “Deixai
cair o golpe sobre mim!” Existem coisas maiores e melhores em
todos nós, do que o mundo leva em conta, ou do que nós tomamos
nota; se pudéssemos descobri-las. E isto é uma parte de nossa cultura
Maçônica, descobrir essas características de potência e sublime
devoção, reviver essas impressões desbotadas de generosidade e
autossacrifício, heranças quase dissipadas do amor e da bondade de
Deus às nossas almas; e induzir-nos a rendermo-nos a sua guia e
controle.

Sobre todas as condições dos homens oprime uma única lei


imparcial. Para todas as situações, para todas as fortunas, altas ou
baixas, a mente dá seu caráter. Elas não são, com efeito, o que são em
si mesmas, mas o que são para o sentimento de seus possuidores. O
Rei pode ser pobre, degradado, miserável; escravo da ambição, do
medo, da voluptuosidade, e de toda paixão baixa. O Camponês pode
ser o Monarca verdadeiro, o mestre moral de seu destino, um ser livre
e eminente, maior que um Príncipe em felicidade, maior que um Rei
em honra.

O homem não é uma bolha sobre o mar de suas fortunas,


desamparado e irresponsável sobre a maré dos acontecimentos.
Dentre as mesmas circunstâncias, pessoas diferentes trazem
resultados totalmente diferentes. A mesma dificuldade, sofrimento,
pobreza ou infortúnio que derruba um homem, edifica outro e o faz
mais forte. Isso é o verdadeiro atributo e glória de um homem, que
ele possa curvar as circunstâncias de sua condição aos propósitos
intelectuais e morais de sua natureza, e é principalmente o poder e
domínio de sua vontade que o distingue do bruto.

A faculdade da vontade moral, desenvolvida na criança, é um


elemento novo de sua natureza. É um poder novo trazido à cena, um
poder dominante, delegado do Céu. Jamais um ser humano foi
afundado para tão baixo que não teve, pela graça de Deus, o poder de
se erguer. Porque Deus ordena que ele se levante, é certamente ele
poderá se levantar. Todo homem tem o poder, e deve usá-lo, de fazer

123
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

de todas as situações, provações e tentações, instrumentos para


promover sua virtude e felicidade; e está tão longe de ser a criatura
das circunstâncias que ele as cria e controla, fazendo-as ser tudo o
que são, de bom ou de ruim, para ele como um ser moral.

A vida é o que fazemos dela, e o mundo o que fazemos dele.


Os olhos do homem animado e os do melancólico estão fixos sobre a
mesma criação; mas muito diferentes são os aspectos que esta possui
para eles. Para um, tudo é beleza e satisfação; as ondas do oceano
rolam na luz, e as montanhas estão cobertas com o dia. A vida brilha,
para ele, jubilosa, sobre cada flor e cada árvore que tremula na brisa.
Há mais para ele, em todo o lugar, do que os olhos enxergam; a
presença de uma alegria profunda nas colinas e vales, e na água
límpida, dançante. O outro encara o mesmo cenário com preguiça e
luto, e todas as coisas vestem um aspecto vago, maçante e doentio. O
murmúrio dos riachos é discórdia para ele, o grande rugido do mar
tem uma ênfase colérica e ameaçadora, a música solene dos pinheiros
canta o réquiem de sua felicidade defunta; a luz alegre cintila de modo
gritante em seus olhos e o ofende. A grande locomotiva das estações
passa diante dele como uma procissão fúnebre; e ele suspira, e afasta-
se impacientemente. O olho cria aquilo para o qual olha; o ouvido cria
suas próprias melodias e discórdias; o mundo de fora reflete o mundo
de dentro.

Que o Maçom nunca se esqueça que a vida e o mundo são o


que fazemos deles através de nosso caráter social; de nossa
adaptação, oufalta de adaptação às condições sociais,
relacionamentos e perseguições do mundo. Para o egoísta, o frio, e o
insensível, para o soberbo e presunçoso, para o arrogante, que exige
mais do que está propenso a receber, para o ciumento, sempre com
medo de não receber o suficiente, para aqueles que são
irracionalmente sensíveis acerca das opiniões boas ou ruins de outros,
para todos os violadores das leis sociais, os rudes, os violentos, os
desonestos e os sensuais, – para todos esses, a condição social, por
sua própria natureza, apresentará aborrecimentos, desapontamentos,
e dores apropriados aos seus diversos caracteres. Os sentimentos
benevolentes não giram em torno do egoísmo; o frio de coração deve
esperar encontrar frieza; o arrogante, arrogância; o passional, fúria; e

124
MORAL E DOGMA

o violento, rudeza. Aqueles que se esquecem dos direitos de outros,


não devem se surpreender se os seus próprios forem esquecidos; e o
que se inclina para os abraços mais baixos dos sentidos não deve
maravilhar-se, se outros não se preocuparem em achar sua honra
prostrada, e erguerem-se para a lembrança e respeito do mundo.

Ao gentil, muitos serão gentis; ao bondoso, muitos serão


bondosos. Uma pessoa boa perceberá que existe bondade no mundo;
uma pessoa honesta descobrirá que há honestidade no mundo; e um
homem de princípios encontrará princípios e integridade na mente de
outros.

Não existem bênçãos que a mente não possa converter no mais


amargo dos males; nem provações que não possam se transformar nas
bênçãos mais nobres e divinas. Não existem tentações a partir das
quais a virtude agredida não possa ganhar força, ao invés de tombar
perante elas, subjugada e vencida. É verdade que as tentações
possuem grande poder, e a virtude muitas vezes cai; mas a força
dessas tentações não reside nestas mesmas, porém, na debilidade de
nossa própria virtude, e fraqueza de nossos próprios corações.
Confiamos muito na força de nossos baluartes e bastiões, e
permitimos ao inimigo fazer suas abordagens, com trincheiras e
paralelos, durante seu lazer. A oferta de um ganho desonesto e um
prazer culpado torna o homem honesto mais honesto, e o homem puro
mais puro. Elevam sua virtude à altura da indignação altaneira. A
ocasião justa, a oportunidade segura, a possibilidade tentadora se
transformará na derrota e na desgraça do sedutor. O homem honesto
e correto não espera até que a tentação tenha se aproximado e
montado suas baterias sobre o último paralelo.

Mas para o impuro, o desonesto, o hipócrita, o corrupto e o


sensual, sucedem ocasiões a cada dia, em cada cena, e através de cada
avenida do pensamento e da imaginação. Ele está preparado para
capitular antes que a primeira aproximação comece; e envia a
bandeira branca quando o avanço do inimigo chega à vista de suas
muralhas. Ele cria ocasiões; ou, se as oportunidades não ocorrem,
pensamentos maus chegam, ele escancara abertamente os portões de
seu coração e saúda esses maus visitantes, e os entretêm com uma

125
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

hospitalidade pródiga.

Os negócios do mundo absorvem, corrompem e degradam


uma mente, enquanto em outra alimentam e nutrem a mais nobre
independência, integridade e generosidade. O prazer é um veneno
para alguns e um refrigério saudável para outros. Para um, o mundo
é uma grande harmonia, como um nobre toque de música com
infinitas variações; para outro, é uma imensa fábrica, o clangor e o
tinido de cujo maquinário agride seus ouvidos e irrita-o até a loucura.
A vida é substancialmente a mesma coisa para todos que partilham de
sua porção. No entanto, alguns ascendem para a virtude e glória;
enquanto outros, submetidos à mesma disciplina e desfrutando dos
mesmos privilégios, mergulham para a vergonha e perdição.
O esforço aprofundado, fiel e honesto, para aprimorar-se é
sempre bem sucedido, e é a mais alta felicidade. Suspirar
sentimentalmente sobre o infortúnio humano é apropriado somente
para a infância da mente; a miséria da mente é principalmente sua
própria falha; apontada, sob a bondosa Providência de Deus, como
punidora e corretora de suas falhas. No final das contas, a mente será
feliz apenas na proporção de sua fidelidade e sabedoria. Quando é
miserável, plantou espinhos em seu próprio caminho; ela os agarra, e
grita em alta reclamação; e esta queixa não é senão a mais sonora
confissão de que os espinhos que ali cresceram ela os plantou.

Um certo tipo e grau de espiritualidade entra na parte mais


larga até da vida mais ordinária. Você não consegue exercer qualquer
negócio, sem alguma fé no homem. Você não pode até mesmo cavar
na terra, sem uma dependência do resultado invisível. Você não
consegue pensar, raciocinar ou mesmo andar, sem confiar nos
princípios íntimos, espirituais de sua natureza. Todas as afeições e
laços, esperanças e interesses da vida centralizam-se no espiritual; e
você sabe que se esse laço central for quebrado, o mundo se
precipitaria para o caos.

Creia que existe um Deus; que Ele é nosso pai; que Ele possui
um interesse paterno em nosso bem-estar e aprimoramento; que Ele
nos deu poderes, por meio dos quais podemos escapar do pecado e da
ruína; que Ele nos destinou a uma vida futura de progresso infinito

126
MORAL E DOGMA

rumo à perfeição e ao conhecimento de d’Ele próprio; – creia nisto,


como todo Maçom deve acreditar, e você poderá viver calmamente,
resistir pacientemente, trabalhar resolutamente, negar a si mesmo
alegremente, esperar firmemente, e ser conquistador na grande luta
da vida. Jogue fora qualquer destes princípios, e o que nos resta?
Dizer que não há Deus; ou nenhum caminho aberto para a esperança,
reforma ou triunfo, nenhum céu para vir, nenhum descanso para o
exausto, nenhum lar no seio de Deus para a alma aflita e
desconsolada; ou que Deus é apenas um feio e cego Acaso que
esfaqueia no escuro; ou alguma coisa que não é, quando tenta ser
definida, coisa nenhuma, sem emoção, sem paixão, a Suprema
Apatia para a qual todas as coisas, boas ou más, são igualmente
indiferentes; ou um Deus ciumento que visita vingativamente os
pecados dos pais nos filhos, e enquanto os pais comem uvas verdes,
Ele embota os dentes dos filhos; uma suprema Vontade arbitrária, que
fez o certo para ser virtuoso, e o errado para mentir e roubar, porque
ELA se comprouve de fazer assim, e não de outro modo, retendo o
poder de reverter a lei; ou uma Divindade instável, vacilante,
inconstante, ou Hebréia ou Puritana, cruel, sanguinária e selvagem; e
não somos senão o esporte do acaso e as vítimas do desespero;
andarilhos miseráveis sobre a face de uma terra desolada,
abandonada, maldita e odiada; cercados pela escuridão, brigando com
obstáculos, labutando por resultados estéreis e propósitos vazios,
distraídos com dúvidas, e enganados por falsos brilhos de luz;
andarilhos sem caminho, sem prospecto, sem lar; marinheiros
condenados e desolados num mar negro e tempestuoso, sem bússola
ou curso, para quem as estrelas não aparecem; arremessados sem
leme contra ondas encapeladas, furiosas, sem nenhum refúgio
distante e abençoado, cujas estrelas-guias nos convidam para seu
repouso bem- vindo.

A fé religiosa assim ensinada pela Maçonaria é


indispensável para a realização dos grandes objetivos da vida; e
precisa então ser concebida para ser uma parte dela. Fomos feitos para
essa fé; e ela deve ser algo para crermos em qualquer lugar. Não
podemos crescer de maneira saudável, nem viver alegremente, sem
ela. Ela é, portanto, verdadeira. Se pudéssemos extirpar de qualquer
alma os princípios ensinados pela Maçonaria, a fé em Deus, na

127
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

imortalidade, na virtude, na retidão essencial, essa alma afundaria em


pecado, miséria, trevas e ruína. Se pudéssemos arrancar todo o
sentido dessas verdades, o homem desceria imediatamente à
qualidade de animal.

Homem nenhum pode sofrer e ser paciente, pode lutar e


conquistar, pode melhorar e ser feliz – a não ser como os porcos o são
– sem a consciência, sem a esperança, sem a confiança em um Deus
justo, sábio e beneficente. Devemos, necessariamente, abraçar as
grandes verdades ensinadas pela Maçonaria, e viver por elas, viver
com muita alegria. “Ponho minha confiança em Deus”, é o protesto
da Maçonaria contra a crença em um Deus cruel, colérico e vingativo,
que é temido e não reverenciado por Suas criaturas.

A Sociedade, em suas relações grandiosas, é tanto a criação do


Céu quanto o sistema do Universo. Se este vínculo de gravitação que
mantém todos os mundos e sistemas juntos fosse repentinamente
cortado, o universo voaria no caos selvagem e ilimitável. Se fôssemos
desunir todos os laços morais que mantém a sociedade unida; se
pudéssemos arrancar dela cada convicção de Verdade e Integridade,
de uma autoridade acima dela, e uma consciência dentro dela, esta
precipitaria imediatamente para a desordem, para uma anarquia
assustadora, e para a ruína. Por isso, a religião que ensinamos é
realmente como um princípio das coisas, e tão certa e verdadeira
como a gravidade.

Fé nos princípios morais, na virtude e em Deus é tão


necessária para a orientação de um homem, quanto o instinto o é para
a orientação de um animal. E então esta fé, como princípio da
natureza do homem, tem uma missão tão verdadeiramente autêntica
na Providência de Deus quanto o princípio do instinto. Os prazeres da
alma, também, precisam depender de certos princípios. Eles devem
reconhecer a alma, suas propriedades e responsabilidades, a
consciência e o sentido de uma autoridade acima de nós; estes são os
princípios da fé. Ninguém pode sofrer e ser paciente, pode lutar e
conquistar, pode melhorar e ser feliz sem consciência, sem esperança,
sem confiança em um Deus justo, sábio e beneficente. Devemos,
necessariamente, abraçar as grandes verdades ensinadas pela

128
MORAL E DOGMA

Maçonaria, viver por elas e viver alegremente. Tudo no universo tem


leis e princípios fixos e certos para sua ação; a estrela em sua órbita,
o animal em sua atividade, o homem físico em suas funções. E este,
do mesmo modo, tem leis e princípios fixos e certos como um ser
espiritual. Para a alma racional existe ampla provisão. Do alto
pinheiro, sacudido na tenebrosa tempestade, o grito do jovem corvo é
ouvido; e seria mais estranho se não houvesse resposta para o grito e
o chamado da alma torturada pela pobreza, dor e agonia. A rejeição
total de toda a crença moral e religiosa atingiria um princípio da
natureza humana tão essencial para ela quanto a gravidade para as
estrelas, o instinto para a vida animal, e a circulação do sangue para
o corpo humano.

Deus ordenou que a vida seja um estado social. Somos


membros de uma comunidade civil. A vida desta comunidade
depende de sua condição moral. Espírito público, inteligência,
sinceridade, temperança, bondade, pureza doméstica a farão uma
comunidade feliz e lhe darão prosperidade e continuidade. Orgulho
espalhado, desonestidade, intemperança, libertinagem, corrupção e
crime a farão miserável, e provocarão sua dissolução e rápida ruína.
Um povo inteiro vive uma única vida; possui um único e forte coração
em seu peito; é uma única e grande pulsação que nele palpita. Um
único fluxo de vida ali corre, com dez mil ramificações e canais
interligados, através de todos os lares do amor humano. Um único
som como de muitas águas, um jubileu extasiante ou um suspiro
lúgubre, sobem das habitações congregadas de uma nação inteira.

O Público não é uma vaga abstração; nem o que é feito contra


este Público, contra o interesse, a lei, ou virtude públicos deve ser
apenas ligeiramente impresso na consciência. Ele é uma vasta
expansão da vida individual; um oceano de lágrimas, uma atmosfera
de suspiros, ou um grande conjunto de gozo e satisfação. Ele sofre
com o sofrimento de milhões; regozija-se com a alegria de milhões.
Que crime enorme comete – homem público ou privado, agente ou
empreiteiro, legislador ou magistrado, secretário ou presidente, –
aquele que golpeia, com indignidade e erro, o seio do Bem-Estar
Público, encoraja a venalidade, a corrupção e a venda vergonhosa do
privilégio eletivo, ou do ofício; semeia a dissensão, e enfraquece os

129
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

laços de amizade que atam uma Nação!

Que interesse inigualável repousa na virtude de cada um a


quem amamos! Em sua virtude, em lugar nenhum senão em sua
virtude, está armazenado um tesouro incomparável. Que cuidado
temos por um irmão ou amigo, se comparado com o que temos por
sua honra, sua fidelidade, sua reputação, sua bondade? Quão
venerável é a retidão de um pai ou de uma mãe! Quão venerável sua
reputação! Praga nenhuma que possa cair sobre um filho é como a
desonra de um pai. Gentio ou Cristão, cada um, pai ou mãe, faria com
que seu filho fosse bem; e derramaria sobre ele toda a plenitude de
seu amor parental, no único desejo de que ele possa ir bem; que possa
ser digno de seus cuidados, e de suas dores livremente concedidas;
que ele possa andar no caminho da honra e da felicidade. Neste
caminho ele não poderá dar um único passo sem a virtude. Do mesmo
modo é a vida, em suas relações. Mil laços abraçam-na, como os
nervos finos de uma delicada organização; como as cordas de um
instrumento capaz de melodias doces, mas facilmente quebrado ou
colocado fora de sintonia, pela rudeza, raiva e indulgência egoísta.

Se a vida pudesse, por qualquer processo, ser feita insensível


à dor e ao prazer; se o coração humano fosse duro como adamante,
então a avareza, a ambição e a sensualidade poderiam canalizar nela
seus caminhos, e fazer dela seu caminho batido; e ninguém protestaria
ou ficaria assombrado. Se nós pudéssemos ser pacientes sob a carga
de uma mera vida mundana; se pudéssemos suportar este fardo como
os animais o suportam; então, como os animais, poderíamos curvar
todos os nossos pensamentos para a terra; e nenhum chamado dos
grandes Céus acima de nós assustar-nos-ia em nossa caminhada
penosa e nosso curso terreno.

Mas não somos brutos insensíveis, que conseguem recusar o


chamado da razão e da consciência. A alma é capaz de remorso.
Quando as grandes dispensações da vida nos comprimem nós
choramos, padecemos e sofremos. E o sofrimento e a agonia desejam
outros companheiros do que o mundanismo e a irreligião. Não somos
dispostos a tolerar estes encargos do coração – o medo, a ansiedade,
o desapontamento e a preocupação – sem algum objetivo ou utilidade.

130
MORAL E DOGMA

Não somos dispostos a sofrer, ficar doentes e aflitos, ter nossos dias
e meses de conforto e alegria perdidos, obscurecidos com calamidade
e pesar, sem vantagem ou compensação; vender por migalhas os
tesouros mais preciosos, os grandes sofrimentos do coração; vender o
sangue vital da compleição enfraquecida e bochecha pálida, nossas
lágrimas de amargura e gemidos de angústia, por nada. A natureza
humana, frágil, sentimental, sensível e sofrente, não pode tolerar
padecer por nada.

Em todo o lugar, a vida humana é uma grande e solene


dispensação. O homem, sofrendo, desfrutando, amando, esperando e
temendo, acorrentado à terra e ainda explorando os recessos distantes
do universo, possui o poder de comunicar-se com Deus e Seus
anjos. As cortinas do Tempo estão puxadas ao redor desta grande
ação da existência; mas existem aberturas através delas que nos dão
vislumbres da eternidade. Deus olha para baixo, por sobre este
cenário da provação humana. Os sábios e os bons em todas as épocas
interpuseram-se entre eles, com seus ensinamentos e seus sangues.
Tudo que existe à nossa volta, cada movimento na natureza, cada
conselho da Providência, cada interposição de Deus, centraliza-se
sobre um único ponto – a fidelidade do homem. E mesmo que os
fantasmas dos falecidos e relembrados viessem à meia-noite através
das portas trancadas de nossas residências, e os mortos amortalhados
deslizassem por entre os corredores de nossas igrejas e sentassem em
nossos Templos Maçônicos, seus ensinamentos não seriam mais
eloquentes e impressionantes do que as realidades medonhas da vida;
do que aquelas memórias dos anos desperdiçados, aqueles fantasmas
das oportunidades perdidas, que, apontando para nossa consciência e
para a eternidade, gritam continuamente em nossos ouvidos,
“Trabalhai enquanto é dia, porque vem a noite da morte, quando
ninguém pode trabalhar!"

Não existem sinais de luto público para a calamidade da alma.


Os homens choram quando o corpo morre; e quando é levado para
seu último descanso eles o seguem com uma procissão triste e
fúnebre. Mas para a alma agonizante não há lamentação pública; para
a alma perdida não há exéquias.

131
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

E ainda assim a mente e a alma humana possuem um valor que


nada mais possui. Merecem um cuidado que nada mais merece; e para
o indivíduo sozinho, solitário, elas possuirão um interesse que nada
mais possui. Os tesouros guardados do coração, as minas insondáveis
que estão para ser lavradas na alma, os reinados amplos e ilimitáveis
do Pensamento, o galeão carregado das esperanças e dos melhores
sentimentos do homem, são mais brilhantes do que o ouro e mais
preciosos do que um tesouro.

E mesmo assim a mente é na realidade pouco conhecida, ou


considerada. Ela é tudo o que o homem permanentemente é, seu ser
interior, sua energia divina, seu pensamento imortal, sua capacidade
ilimitada, sua aspiração infinita; e apesar disso, poucos a avaliam pelo
que ela vale. Poucos veem uma mente-irmã nos outros, através dos
trapos que a pobreza os vestiu, debaixo das cargas esmagadoras da
vida, em meio às rentes pressões dos problemas mundanos,
necessidades e mágoas. Neste humilde borrão, poucos a reconhecem
ou a aclamam, nem sentem que a nobreza da terra e a glória inicial do
Céu nela estão.

Os homens não sentem o valor de suas próprias almas. São


orgulhosos de seus poderes mentais; mas o valor intrínseco, interior,
infinito de suas próprias mentes eles não percebem. O homem pobre,
admitido a um palácio, sente-se, sublime e imortal como é, como uma
mera coisa ordinária em meio aos esplendores que o cercam. Ele
observa a carruagem da riqueza rolar ao seu lado, e esquece a
dignidade intrínseca e eterna de sua própria mente numa pobre e
degradante inveja, e sente-se como uma criatura humilde, porque
outros estão acima dele, não em mente, mas em medida. Homens
respeitam-se mais conforme são mais ricos, superiores em classe ou
profissão, eminentes na opinião do mundo, aptos para comandar mais
votos, mais favoritos do povo ou do Poder.

A diferença entre os homens não está tanto em sua natureza e


poder intrínseco, quanto na faculdade da comunicação. Alguns têm a
capacidade de pronunciar e expressar em palavras seus pensamentos.
Todos os homens, mais ou menos, sentem esses pensamentos. A
glória do gênio e o êxtase da virtude, quando revelados corretamente,

132
MORAL E DOGMA

são difundidos e compartilhados entre inumeráveis mentes. Quando a


eloquência e a poesia falam; quando aquelas artes gloriosas – a
estatuária, a pintura e a música – tomam formas audíveis ou visíveis;
quando o patriotismo, a caridade e a virtude falam com uma potência
eletrizante, os corações de milhares incandescem com uma alegria e
um êxtase gêmeos. Se não fosse assim, não haveria eloquência; pois
a eloquência é isto para o que os outros corações respondem; é a
faculdade e o poder de fazer outros corações responderem. Ninguém
é tão baixo ou degradado que não é algumas vezes tocado com a
beleza da bondade. Nenhum coração é feito de materiais tão comuns,
ou mesmo vis, que não responde algumas vezes, através de cada
acorde, ao chamado da honra, do patriotismo, da generosidade e
virtude. O pobre Escravo Africano morrerá pelo senhor ou senhora,
ou em defesa de seus filhos, a quem ama. A mulher pobre, perdida,
desprezada, abandonada e sem pátria cuidará, sem expectativa de
recompensa, daqueles que morrem em seus braços de uma peste
horrível e contagiante – absolutos estranhos para ela. O batedor de
carteiras escalará muralhas em chamas para resgatar o garoto ou a
mulher, desconhecidos para ele, das labaredas vorazes.

Mui gloriosa é esta capacidade! Um poder de se comunicar


com Deus e seus Anjos; um reflexo da Luz Incriada; um espelho que
pode coletar e concentrar em si todos os esplendores morais do
Universo. É somente a alma que dá algum valor para as coisas deste
mundo; e é apenas pela ascensão da alma, para sua justa elevação
acima de todas as outras coisas, que podemos olhar diretamente para
os propósitos desta terra. Nenhum cetro, nem trono, nem estrutura de
épocas, nem um amplo império pode se comparar com as maravilhas
e grandezas de um único pensamento. Só ele, de todas as coisas que
foram criadas, compreende o Feitor de tudo. Ele somente é a chave
que abre todos os tesouros do Universo; o poder que reina sobre
Espaço, Tempo e Eternidade. Ele, abaixo de Deus, é o Soberano
Despenseiro para o homem, de todas as bênçãos e glórias que
repousam dentro do compasso da posse, ou do alcance da
possibilidade. Virtude, Céu e Imortalidade não existem, nem jamais
vão existir para nós exceto como existem e existirão na percepção,
no sentimento e no pensamento de uma mente gloriosa.

133
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

Meu Irmão, na esperança de você ter escutado e entendido a


Instrução e Leitura deste Grau, e de você sentir a dignidade de sua
própria natureza e as vastas capacidades de sua própria alma, para o
bem ou para o mal, Eu procedo brevemente a lhe comunicar a
instrução restante deste Grau.

A palavra Hebraica, no velho caractere Hebraico ou


Samaritano, suspensa no Oriente, sobre as cinco colunas, é ADONAÏ,
um dos nomes de Deus, usualmente traduzido para Senhor; e que os
Hebreus, na leitura, sempre substituem ao Verdadeiro Nome, que lhes
é inefável.

As cinco colunas, nas cinco diferentes ordens de arquitetura,


são emblemáticas para nós das cinco divisões principais do Rito
Escocês Antigo e Aceito:
1. A Toscana, dos três Graus azuis, ou a Maçonaria primitiva.

2. A Dórica, dos Graus inefáveis, do quarto ao décimo


quarto, inclusive.

3. A Jônica, do décimo quinto e décimo sexto, ou Graus do


segundo templo.

4. A Coríntia, do décimo sétimo e décimo oitavo Graus, ou


aqueles da nova lei.

5. A Compósita, dos Graus filosóficos e cavalheirescos


misturados, do décimo nono ao trigésimo segundo,
inclusive.

A Estrela do Norte, sempre fixa e imutável para nós,


representa o ponto no centro do círculo, ou a Divindade no centro do
Universo. É o símbolo especial do dever e da fé. Significados místicos
estão ligados a ela, e aos sete que continuamente rodam em torno dela,
os quais você aprenderá a seguir, se lhe for permitido avançar, quando
estiver familiarizado com as doutrinas filosóficas dos Hebreus.

A Estrela da Manhã, subindo do Oriente, Júpiter, chamado

134
MORAL E DOGMA

pelos Hebreus de Tsadōk ou Tzedek, Justo, é para nós um emblema


da aurora de perfeição e luz Maçônica sempre se aproximando.

As três grandes luzes da Loja são para nós símbolos do Poder,


Sabedoria e Beneficência da Divindade. Eles também são símbolos
dos três primeiros Sefirotes, ou Emanações da Divindade, conforme
à Cabala, Kether, a onipotente vontade divina; Chokhmah, o divino
poder intelectual para gerar o pensamento; e Binah, a divina
capacidade intelectual para produzi-lo – os dois últimos, usualmente
traduzidos por Sabedoria e Entendimento, sendo o ativo e o passivo,
o positivo e o negativo, que ainda não nos esforçaremos para lhe
explicar. Eles são as colunas Jachin e Boaz, que sustentam a entrada
para o Templo Maçônico.

Em outro aspecto deste Grau, o Chefe dos Arquitetos [ ʩʰʡʡ


‫ ם ר‬, Rab Banaim, ] simboliza o chefe executivo constitucional e o
chefe de um governo livre; e o Grau nos ensina que nenhum governo
livre pode resistir, quando o povo deixa de eleger como seus
magistrados os melhores e mais sábios de seus estadistas; quando,
pondo estes de lado, permitem que facções e interesses sórdidos
selecionem para eles os menores, os baixos, os ignóbeis e os obscuros,
e que em tais mãos confiem os destinos do país. Existe, afinal de
contas, um “direito divino” para governar; e está revestido nos mais
capazes, sábios, excelentes de cada nação. “Meu é o conselho e a
verdadeira sabedoria; eu sou o entendimento; minha é a fortaleza.
Por mim reinam os reis e os príncipes decretam justiça. Por mim
governam príncipes e nobres; sim, todos os juízes da terra.”
Por agora, meu Irmão, que isto baste. Seja bem-vindo entre
nós, para este retiro pacífico de virtude, para a participação em nossos
privilégios, para compartilhar de nossas alegrias e nossos
sofrimentos.

135
CAPÍTULO XII: GRÃO-MESTRE ARQUITETO

136
MORAL E DOGMA

CAPÍTULO XIII.

REAL ARCO DE SALOMÃO

S e lenda e história deste Grau são historicamente


verdadeiras, ou se são apenas uma alegoria, contendo
em si uma verdade mais profunda e um significado mais aprofundado,
não debateremos agora. Certo é que a palavra que os Hebreus não são
permitidos hoje pronunciar era de uso comum por Abraão, Ló, Isaque,
Jacó, Labão, Rebeca, e até entre tribos estranhas aos Hebreus, antes
do tempo de Moisés; e que ela reaparece uma centena de vezes nas
efusões líricas de Davi e de outros poetas Hebraicos.

Sabemos que por muitos séculos os Hebreus foram proibidos


de pronunciar o Nome Sagrado; que sempre que ele ocorre, desde há
muito leem a palavra Adonaï em seu lugar; e que debaixo dele,
quando os pontos massoréticos vieram a ser usados, os quais
representam as vogais, colocavam os que pertenciam a essa palavra.
A posse da verdadeira comunicação era avaliada como conferindo
poderes extraordinários e sobrenaturais sobre quem a tinha; e a

137
CAPÍTULO XIII: REAL ARCO DE SALOMÃO

Palavra em si, usada sobre a pessoa, era vista como um amuleto, uma
proteção contra perigos pessoais, doenças e maus espíritos. Sabemos
que tudo isto era uma vã superstição, natural para um povo rude,
desaparecendo necessariamente à medida que o intelecto do homem
se tornava esclarecido; e totalmente indigna de um Maçom.

É notável que esta noção da santidade do Nome Divino ou


Palavra Criativa era comum para todas as nações antigas. A
Palavra Sagrada HOM era suposta pelos antigos Persas (que estavam
entre os primeiros imigrantes do norte da Índia) ser prenhe de um
poder misterioso; e eles ensinavam que por sua expressão o mundo
foi criado. Na Índia era proibido pronunciar a palavra AUM ou OM,
o Nome Sagrado da Única Divindade, manifestada como Brahma,
Vishnu, e Shiva.

Estas noções supersticiosas com relação à eficácia da Palavra,


e a proibição contra a sua pronúncia, não poderiam, sendo erros, ter
formado parte da pura religião primitiva, ou da doutrina esotérica
ensinada por Moisés, e o conhecimento pleno do que era confiado aos
Iniciados; a menos que o todo não fosse senão uma invenção ingênua
para o encobrimento de algum outro Nome ou verdade, a
interpretação e significado do qual sendo dado a conhecer apenas aos
poucos escolhidos. Se é assim, as noções comuns com respeito à
Palavra cresceram nas mentes do povo, tal como outros erros e
fábulas entre as nações antigas, como resultado das verdades,
símbolos e alegorias originais mal-entendidos. Então sempre ocorreu
que as alegorias, pretendidas como veículos da verdade, para ser
entendidas pelos sábios, geraram ou transformaram-se em erros, por
serem aceitas literalmente.

É verdade que, antes que os pontos massoréticos fossem


inventados (o que foi antes do início da era Cristã), a pronúncia de
uma palavra no idioma Hebraico não poderia ser conhecida a partir
dos caracteres nos quais foi escrita. Foi, portanto, possível que a do
nome da Divindade tenha sido proibida e perdida. Certo é que sua
pronúncia verdadeira não é a representada pela palavra Jeová; e,
portanto, que este não é o nome verdadeiro da Divindade, nem é a
Palavra Inefável.

138
MORAL E DOGMA

Os símbolos e alegorias antigos sempre tiveram mais do que


uma interpretação. Sempre possuíram um duplo significado, e às
vezes mais do que dois, um servido como o envelope do outro. Deste
modo, a pronúncia da palavra era um símbolo; e essa pronúncia e a
própria palavra foram perdidas quando o conhecimento da natureza e
dos atributos verdadeiros de Deus desapareceu das mentes do povo
Judeu. Esta é uma interpretação – verdadeira, porém não a interna e
mais profunda.

As pessoas figurativamente diziam perder o nome de Deus


quando perdiam esse conhecimento, adoravam as divindades
gentílicas, queimavam a elas incenso nos lugares altos, e passavam
seus filhos através do fogo de Moloque.

Assim, as tentativas dos antigos Israelitas e dos Iniciados de


averiguar o Verdadeiro Nome da Divindade, e sua pronúncia e a perda
da Palavra Verdadeira, são uma alegoria, na qual está representada a
ignorância geral da natureza e dos atributos verdadeiros de Deus, a
inclinação do povo de Judá e Israel em adorar outras divindades, e as
noções inferiores, errôneas, e desonrosas do Grande Arquiteto do
Universo que todos partilhavam, exceto algumas pessoas favorecidas;
pois até Salomão construiu altares e sacrificou à Astarote, a deusa dos
Sidônios, e Moloque, o deus Amonita, e construiu outeiros para
Camos, a divindade Moabita, e Malek, o deus de Ben-Amon. A
natureza verdadeira de Deus era desconhecida para eles, assim como
Seu nome; e adoraram os bezerros de Jeroboão, como fizeram no
deserto com o feito para eles por Aarão.

A grande massa dos Hebreus não acreditou na existência de


um único Deus até um período tardio em sua história. Suas ideias
primordiais e populares da Divindade foram singularmente inferiores
e indignas. Mesmo enquanto Moisés estava recebendo a lei sobre o
Monte Sinai, eles forçaram Aarão a fazer-lhes uma imagem do deus
Egípcio Apis, e caíram e o adoraram. Estavam sempre prontos a
retornar para o culto aos deuses de Misraim; e logo após a morte de
Josué se tornaram adoradores devotos dos falsos deuses de todas as
nações circunvizinhas. “Levastes,” disse-lhes Amós, o profeta,
falando dos quarenta anos peregrinando no deserto, sob Moisés, “o

139
CAPÍTULO XIII: REAL ARCO DE SALOMÃO

tabernáculo de vosso Moloque, e o altar das vossas imagens, a estrela


de vosso deus, que fizestes para vós mesmos.”

Entre eles, como entre outras nações, as concepções de Deus


formadas pelos indivíduos variavam de acordo com suas capacidades
intelectuais e espirituais; pobres e imperfeitas, investindo Deus com
os atributos mais comuns e grosseiros de humanidade, entre os
ignorantes e grosseiros; puras e sublimes entre os virtuosos e
ricamente dotados. Estas concepções gradualmente aprimoravam-se
e tornavam-se purificadas e enobrecidas, conforme a nação avançava
em civilização – sendo mais inferiores nos livros históricos,
emendadas nas escritas proféticas, e alcançando sua maior elevação
entre os poetas.

Entre todas as nações antigas havia uma fé e uma ideia de


Divindade para os esclarecidos, inteligentes e educados, e outra para
as pessoas comuns. A esta regra os Hebreus não eram exceção. Jeová,
para a massa do povo, era como os deuses das nações ao seu redor,
exceto que ele era o Deus peculiar, primeiro da família de Abraão, da
de Isaque e da de Jacó, e posteriormente o Deus Nacional; e,
conforme acreditavam, mais poderoso do que os outros deuses da
mesma natureza adorados por seus vizinhos – “Quem dentre os
Baalim é como a ti, ó, Jeová?” – expressava seu credo inteiro.

A Divindade dos primeiros Hebreus falava a Adão e Eva no


jardim dos prazeres, assim como andava nele na viração do dia;
conversou com Caim; sentou-se e comeu com Abraão em sua tenda;
este patriarca exigiu-lhe um sinal simbólico, antes que acreditasse em
sua promessa positiva; permitiu a Abraão expostular, e induzir-lhe a
mudar sua primeira determinação a respeito de Sodoma; brigou com
Jacó; mostrou a Moisés sua pessoa, todavia não sua face; ditou as
minuciosíssimas regras de vigilância e as dimensões do tabernáculo e
sua mobília, aos Israelitas; insistia e se deliciava em sacrifícios e
oferendas queimadas; era raivoso, ciumento e vingativo, bem como
vacilante e irresoluto; deixou Moisés pensá-lo fora de sua resolução
fixa expressamente para destruir seu povo; comandou a prática dos
atos mais chocantes e horrendos de crueldade e barbaridade.
Endureceu o coração do Faraó; se arrependeu do mal que disse que

140
MORAL E DOGMA

faria ao povo de Nínive; e não o fez, para desgosto e raiva de Jonas.


Tais eram as noções populares da Divindade; e tanto os
sacerdotes não possuíam outra melhor, ou tinham pouca preocupação
em corrigir estas noções; como o intelecto popular não era
suficientemente ampliado para capacitá-los a recepcionar quaisquer
concepções maiores do Todo- Poderoso.

Mas tais não eram as ideias dos poucos intelectuais e


esclarecidos entre os Hebreus. É certo que eles possuíam um
conhecimento da natureza e dos atributos verdadeiros de Deus; assim
como a mesma classe de homens o fez entre outras nações –
Zoroastro, Manu, Confúcio, Sócrates, e Platão. Mas suas doutrinas
sobre estes objetos foram esotéricas; eles não a comunicavam ao povo
de forma geral, mas apenas a poucos favorecidos; e como
comunicadas no Egito e Índia, na Pérsia e Fenícia, na Grécia e
Samotrácia, nos maiores mistérios, aos Iniciados.

A comunicação deste conhecimento e de outros segredos,


alguns dos quais talvez estejam perdidos, constituiu, sob outros
nomes, o que chamamos hoje de Maçonaria, ou Maçonaria-Livre,
ou Francomaçonaria. Este conhecimento era, num sentido, a
Palavra Perdida, que era dada a saber aos Grandes Eleitos, Perfeitos
e Sublimes Maçons. Seria tolice alegar que as formas da Maçonaria
foram idênticas naquelas épocas ao que são hoje. O presente nome da
Ordem, seus títulos e os nomes dos Graus atualmente em uso não
eram então conhecidos.

Mesmo a Maçonaria Azul não pode traçar no passado sua


história autêntica, com seus presentes Graus, para além do ano 1700,
se muito. Mas, por qualquer nome que tenha sido conhecida neste ou
em outro país, a Maçonaria existiu como existe hoje, a mesma no
espírito e no coração, não apenas quando Salomão construiu o templo,
mas séculos antes – antes mesmo das primeiras colônias imigrarem
para o Sul da Índia, Pérsia e Egito, desde o berço da raça humana.

O Supremo, Autoexistente, Eterno, Todo-Sábio, Todo-


Poderoso, Infinitamente Bom, Piedoso, Beneficente e Misericordioso
Criador e Preservador do Universo foi o mesmo – por qualquer nome

141
CAPÍTULO XIII: REAL ARCO DE SALOMÃO

que tenha sido chamado – às pessoas intelectuais e esclarecidas de


todas as nações. O nome não era nada, se não um símbolo ou
hieróglifo representativo de sua natureza e atributos. O nome AL
representava sua distância acima dos homens, sua inacessibilidade;
BAL ou BALA, sua força; ALOHIM, suas várias potências; IHUH,
existência e a geração das coisas. Nenhum de seus nomes, entre os
Orientais, foram os símbolos de um amor e uma ternura divinamente
infinitos, e da misericórdia que tudo abraça. Como MOLOQUE ou
MALEK era apenas um monarca onipotente, uma tremenda e
irresponsável Vontade; como ADONAÏ, apenas um SENHOR e
Mestre arbitrário; como AL Shadaï, potente e um DESTRUIDOR.

Comunicar ideias verdadeiras e corretas com respeito à


Divindade era o objetivo principal dos mistérios. Neles, Khūrūm, o
Rei, e Khūrūm, o Mestre, obtiveram seu conhecimento sobre ela e
seus atributos; e neles esse conhecimento foi ensinado a Moisés e
Pitágoras.

Por conseguinte, nada o proíbe de levar em conta a lenda


inteira deste Grau, como a lenda do Mestre, uma alegoria,
representando a perpetuação do conhecimento do Verdadeiro Deus
nos santuários de iniciação. Pelas abóbadas subterrâneos você pode
entender os lugares de iniciação, que nas cerimônias antigas estavam
geralmente abaixo do solo. O Templo de Salomão apresentava uma
imagem simbólica do Universo; e se assemelhou, em seus arranjos e
mobília, a todos os templos das nações antigas que praticavam os
mistérios. O sistema dos números era intimamente conectado com
suas religiões e culto, e tem chegado até nós na Maçonaria; embora o
significado esotérico com que os números usados por nós estão férteis
seja desconhecido para a vasta maioria daqueles que os usam. Os
números que eram especialmente empregados possuíam uma
referência à Divindade, representavam seus atributos, ou figuravam
no esquadrinhamento do mundo, no tempo e espaço, e formavam
mais ou menos as bases desse esquadrinhamento. Estes eram
universalmente vistos como sagrados, sendo a expressão da ordem e
da inteligência, as expressões da Própria Divindade.

O Santo dos Santos do Templo formava um cubo; no qual,

142
MORAL E DOGMA

desenhadas sobre uma superfície plana, havia 4+3+2=9 linhas


visíveis, e três lados ou faces. Ele correspondia ao número quatro,
pelo qual os antigos demonstravam a Natureza, sendo o número de
substâncias das formas corpóreas, e dos elementos, dos pontos
cardeais e estações, e das cores secundárias. O número três por toda
a parte representou o Ser Supremo. Portanto, o nome da Divindade
gravado sobre o prato triangular, e esse submerso no cubo ágata,
ensinou o Maçom antigo e nos ensina, que o conhecimento verdadeiro
de Deus, de Sua Natureza e Seus Atributos, está escrito por Ele sobre
as folhas do grande Livro da Natureza Universal, e ali pode ser lido
por todos os que são favorecidos com a quantia necessária de intelecto
e inteligência. Este conhecimento, assim escrito ali, e do qual a
Maçonaria tem sido por todas as épocas a intérprete, é a Palavra do
Mestre Maçom.

Dentro do Templo, todos os arranjos estavam mística e


simbolicamente conectados com o mesmo sistema. A abóbada ou
teto, estrelados como o firmamento, era sustentado por doze colunas,
representando os doze meses do ano. A orla que corria ao redor das
colunas representava o zodíaco, e cada um dos doze signos era
apropriado para cada coluna. A serpente de bronze era sustentada por
doze bois, três olhando para cada ponto cardeal do compasso.

E assim, em nossos dias, cada Loja Maçônica representa o


Universo. Cada uma se estende, como nos contam, do sol nascente ao
poente, do Sul ao Norte, da superfície da Terra aos Céus, e da mesma
ao centro do globo. Nela estão representados o sol, a lua, e os astros;
três grandes tochas no Leste, Oeste e Sul, formando um triângulo,
fornecendo luz; e igualmente o Delta ou Triângulo suspenso no Leste,
e contendo o Inefável Nome, indica, pela igualdade matemática dos
ângulos e lados, as proporções belas e harmoniosas que governam no
agregado e nos detalhes do Universo; enquanto aqueles lados e
ângulos representam, por seu número três, a Trindade de Poder,
Sabedoria e Harmonia, que presidiu na construção desta obra
maravilhosa. Estas três grandes luzes também representam o grande
mistério dos três princípios, da criação, da dissolução ou destruição,
e da reprodução ou regeneração, consagrados por todos os credos em
suas numerosas Trindades.

143
CAPÍTULO XIII: REAL ARCO DE SALOMÃO

O pedestal luminoso, iluminado pela chama perpétua em seu


interior, é um símbolo dessa luz da Razão, dada por Deus ao homem,
pela qual ele é capaz de ler no Livro da Natureza o registro do
pensamento, a revelação dos atributos da Divindade.

Os três Mestres, Adoniram, Joabert e Stolkin, são modelos do


Verdadeiro Maçom, aquele que procura o conhecimento a partir de
motivos puros, e que pode ser melhor capacitado para servir e
beneficiar seus companheiros; enquanto os Mestres descontentes e
presunçosos que foram enterrados nas ruínas dos arcos representam
aqueles que se esforçaram para adquiri-lo por propósitos profanos,
ganhar poder sobre seus companheiros, gratificar seu orgulho, sua
vaidade ou sua ambição.

O Leão que guardava a Arca e segurava em sua boca a chave


de como abri-la, representava figurativamente Salomão, o Leão da
Tribo de Judá, quem preservou e comunicou a chave para o
conhecimento verdadeiro de Deus, de Suas leis, e dos mistérios
profundos do Universo físico e moral.

ENOQUE [ ‫ן‬ʰ‫ח‬ʪ Khanōc], dizem-nos, andou com Deus por


trezentos anos, após alcançar a idade de sessenta e cinco – “andou
com Deus; e não se viu mais; porquanto Deus para si o tomou.” Seu
nome significava em Hebraico, INICIADO ou INICIADOR. A
lenda das colunas, de granito e latão ou bronze, erigida por ele, é
provavelmente simbólica. A de bronze, que sobreviveu ao dilúvio,
é suposta como simbolizando os mistérios, dos quais a Maçonaria é
a legítima sucessora – desde os tempos primordiais, a curadora e
depositária das grandes verdades filosóficas e religiosas,
desconhecidas para o mundo em geral, e passadas de geração em
geração por uma corrente inquebrável de tradição, incorporadas em
símbolos, emblemas e alegorias.

A lenda deste Grau é interpretada, parcialmente, dessa forma.


É de pouca importância se é de algum modo histórica. Pois seu valor
consiste nas lições que ela inculca, e nos deveres que prescreve para
aqueles que a recebem. As parábolas e alegorias das Escrituras não
são menos valiosas do que a história. Não, elas são bem mais, porque

144
MORAL E DOGMA

história antiga é pouco instrutiva, e verdades são ocultas e


simbolizadas na lenda e no mito.

Existem significados mais profundos escondidos nos símbolos


deste Grau, conectados com o sistema filosófico dos Cabalistas
Hebraicos, os quais você aprenderá de agora em diante, se for assim
afortunado para avançar. Eles são desvelados nos Graus mais altos. O
leão [ ‫ האר‬ʩ‫ אר‬,ʩ , Arai, Araiah, que também significa o altar] ainda
segura em sua boca a chave a chave do enigma da esfinge.

Mas há uma aplicação deste Grau que você é agora designado


a conhecer; e o qual, recordando que o Khūrūm, o Mestre, é o símbolo
da liberdade humana, você provavelmente descobriria por si mesmo.

Não é o bastante para um povo ganhar sua liberdade. É


preciso assegurá-la. É preciso não confiá-la à guarda, ou sustentá-la
ao prazer de qualquer pessoa. A pedra angular do Real Arco do grande
Templo da Liberdade é uma lei fundamental, carta magna, ou
constituição; a expressão dos hábitos fixos do pensamento das
pessoas incorporada num instrumento escrito, ou como resultado dos
lentos acréscimos e da consolidação de séculos; a mesma na guerra
como na paz; que não pode ser apressadamente alterada, nem ser
violada com impunidade, mas ser sagrada, como a Arca da Aliança
de Deus, a qual ninguém poderia tocar e viver.

Uma constituição permanente, enraizada nos sentimentos,


expressando a vontade de julgamento e construída sobre os instintos
e hábitos assentados do pensamento do povo; com um judiciário
independente, uma legislatura eletiva de dois ramos, um executivo
responsável perante o povo e o direito de julgamento por júri
garantirão as liberdades de um povo, se este for virtuoso e temperado,
sem luxos, e sem a lascívia de conquista e dominação e as tolices de
teorias visionárias de perfeição impossível.

A Maçonaria ensina seus Iniciados que as buscas e ocupações


desta vida, sua atividade, cuidado, e ingenuidade, os
desenvolvimentos predestinados da natureza dada a nós por Deus,
tendem a promover Seu grande desígnio de fazer o mundo; e não

145
CAPÍTULO XIII: REAL ARCO DE SALOMÃO

estão em guerra com o grande propósito da vida. Ensina que tudo é


belo em seu tempo, em seu lugar, em sua nomeada função; que tudo
o que o homem se põe a executar, se correta e dedicadamente feito,
naturalmente ajuda a concluir sua salvação; que se obedecer aos
princípios genuínos deste chamado, será um homem bom: e que é
apenas por negligência e não cumprimento da tarefa estabelecida a
ele pelos Céus, por vagabundagem na dissipação ociosa, ou pela
violação do espírito beneficente e sublime destes princípios que ele
se torna um homem mau. A ação nomeada da vida é o grande
treinamento da Providência; e se o homem se rende a ele, não
precisará de igrejas nem de ordenanças, exceto para a expressão de
sua admiração e gratidão religiosas.

Pois há uma religião do trabalho. E não é totalmente trabalho


pesado, mero estiramento dos membros e esforço dos tendões às
atividades. Ela possui um significado e um intento. Um coração vivo
verte sangue para o braço trabalhador; e sentimentos cálidos inspiram
e se misturam com o trabalho do homem. São sentimentos do lar. O
trabalho labuta no campo, ou ocupa-se de sua tarefa nas cidades, ou
urge as quilhas do comércio sobre amplos oceanos; mas o lar é seu
centro; e para lá ele sempre vai com seus ganhos, com os meios de
sustento e conforto de outros; ofertas sagradas ao pensamento de cada
homem verdadeiro, tal como um sacrifício num santuário dourado.
Muitas faltas ocorrem em meio às labutas da vida; muitas palavras
ásperas e apressadas são proferidas; mas os trabalhos prosseguem,
fatigantes, duros e irritantes como frequentemente são. Pois nesse lar
está a idade ou a doença, ou a infância indefesa, ou a meninice gentil,
ou a mulher frágil, que não passarão necessidade. Se o homem não
tivesse outros que não impulsos egoístas, o cenário do trabalho que
contemplamos ao nosso redor não existiria.

O advogado que apresenta seu caso de modo justo e honesto,


com um verdadeiro sentimento de autorrespeito, honra, e consciência,
para ajudar o tribunal em direção à conclusão correta, com a
convicção de que a justiça de Deus reina ali, está atuando num papel
religioso, levando nesse dia uma vida religiosa; ou, de outra forma,
direito e justiça não seriam parte da religião. Se, durante todo esse
dia, ele uma vez apelou, em forma ou em termos, para sua

146
MORAL E DOGMA

consciência, ou não; se ele uma vez falou de religião e de Deus, ou


não; se houve um propósito íntimo, o desejo e intento consciente, de
que a justiça triunfasse, ele viveu neste dia uma vida religiosa e
excelente, e fez a contribuição mais essencial para essa religião da
vida e da sociedade, para a causa da equidade entre pessoa e pessoa e
da verdade e ação justa no mundo.

Livros, para serem de tendência religiosa no sentido


Maçônico, não precisam ser livros de sermões, de exercícios piedosos
ou de orações. Tudo o que inculca sentimentos puros, nobres e
patrióticos, ou toca o coração com a beleza da virtude, e a excelência
de uma vida correta, concorda com a religião da Maçonaria e é o
Evangelho da literatura e da arte. Este Evangelho é pregado a partir
de muitos livros e pinturas, de muitos poemas e ficções, revistas e
jornais; e é um erro doloroso e uma estreiteza miserável não
reconhecer estas agências disseminadas da providência do Céu; não
enxergar e recepcionar bem estes coadjutores de muitas mãos, para a
grande e boa causa. Os oráculos de Deus não falam somente dos
púlpitos.

Há também uma religião da sociedade. Nos negócios, há


muito mais do que venda, troca, preço, pagamento; pois há a sagrada
fé no homem. Quando repousamos uma confiança perfeita na
integridade de outro; quando sentimos que ele não se desviará do
curso certo, franco, direito, consciencioso, por alguma tentação; sua
integridade e consciência são a imagem de Deus para nós; e quando
acreditamos nela, isto é um ato grande e generoso, como quando
acreditamos na retidão da Divindade.

Em gaias assembleias para o divertimento, os bons


sentimentos da vida jorram e se misturam. Se estes não o fizessem,
esses lugares de reunião seriam tão sombrios e repulsivos como as
cavernas e tocas de ladrões e bandidos. Quando amigos se encontram,
suas mãos são calorosamente apertadas, os olhos se incendeiam e o
semblante é coberto de satisfação, existe uma religião entre seus
corações; e cada um ama e adora o Verdadeiro e o Bom que está no
outro. Não é política, ou interesse próprio, ou egoísmo que espalha tal
encanto ao redor desse encontro, mas a auréola de uma bela e

147
CAPÍTULO XIII: REAL ARCO DE SALOMÃO

brilhante afeição. O mesmo esplendor do apreço amigável, e respeito


afeiçoado, resplandece como o céu macio e abrangente, sobre todo o
mundo; sobre todos os lugares onde as pessoas se encontram, e andam
ou trabalham juntas; não somente sobre pérgulas de amantes e altares
de casamentos, nem apenas sobre lares de pureza e ternura; mas sobre
todos os campos cultivados, oficinas ocupadas, rodovias empoeiradas
e ruas pavimentadas. Não há pedra sobre as calçadas que não tenha
sido o altar de tais ofertas de bondade mútua; nem pilar de madeira
ou trilho de ferro contra os quais corações batendo com afeição não
se inclinaram. Quantos tantos outros elementos existem na corrente
da vida fluindo através destes canais, que são, seguramente, aqui e
em qualquer lugar; honestas, sinceras, desinteressadas e
inexpressíveis afeições.

Toda Loja Maçônica é um templo de religião; e seus


ensinamentos são instrução em religião. Pois aqui são inculcados
desinteresse, afeição, tolerância, devotamento, patriotismo, verdade,
uma simpatia generosa com os que sofrem e se enlutam, piedade para
com o caído, misericórdia ao errante, alívio para aqueles em carência,
Fé, Esperança, e Caridade. Aqui nos encontramos como irmãos, para
aprendermos a conhecer e amar uns aos outros. Aqui nos
cumprimentamos uns aos outros alegremente, somos lenientes às
faltas dos outros, atenciosos aos sentimentos uns dos outros, prontos
para aliviar as carências uns dos outros. Esta é a verdadeira religião
revelada aos antigos patriarcas; que a Maçonaria tem ensinado por
muitos séculos, e que continuará a ensinar enquanto o tempo durar.
Se paixões indignas, ou egoístas, amargas, ou sentimentos vingativos,
desprezo, antipatia, ódio, entram aqui, são intrusos, estranhos,
visitantes desconvidados, e não são bem vindos.

Certamente existem muitos males e paixões, muito ódio,


desdém e falta de gentileza em todos os lugares no mundo. Não
podemos recusar enxergar o mal que está na vida. Mas nem tudo é
mal. Ainda podemos enxergar Deus no mundo. Existe o bem em meio
ao mal. A mão da misericórdia leva riqueza aos casebres da pobreza
e aflição. Verdade e simplicidade vivem dentre muitas artimanhas e
sofismas. Há corações bons debaixo de mantos alegres, e sob trajes
esfarrapados também.

148
MORAL E DOGMA

O amor aperta a mão do amor, em meio às invejas e distrações


da competição exibicionista; fidelidade, piedade e simpatia mantêm a
longa ronda noturna ao lado da cama do vizinho em sofrimento, em
meio à pobreza envolvente e esquálida miséria. Homens
devotados vão de cidade em cidade para cuidar daqueles castigados
pela terrível pestilência que renova, em intervalos, o seu avanço
misterioso. Mulheres bem-nascidas e criadas dedicadamente
cuidavam dos soldados feridos em hospitais, antes de se tornar
moderno agir assim; e até mesmo pobres mulheres perdidas, a quem
somente Deus ama e tem piedade, supervisionam os golpeados pela
praga com um heroísmo paciente e generoso. A Maçonaria e suas
Ordens aliadas ensinam as pessoas a amar-se mutuamente, alimentar
o faminto, vestir o desnudo, confortar o doente, e sepultar os mortos
sem amigos. Por toda a parte Deus encontra e abençoa o ofício
bondoso, o pensamento piedoso, e o coração amoroso.

Há um elemento de bem em todas as buscas lícitas dos


homens, e um espírito divino soprando em todas as suas afeições
legítimas. O solo no qual pisam é solo sagrado. Há uma religião da
vida correspondendo, embora com muitas tonalidades quebradas, à
religião da natureza. Há beleza e glória na Humanidade, no homem,
correspondendo, embora com a mistura de muitas sombras, à
amabilidade das paisagens macias e colinas elegantes, e à fantástica
glória dos céus estrelados.

As pessoas podem ser virtuosas, autoaprimoradoras e


religiosas em seus empregos. Precisamente por isso, os empregos
foram feitos. Todas as suas relações sociais, amizade, amor, os laços
de família, foram feitos para serem santos. Estes podem ser religiosos,
mas não por uma espécie de protesto e resistência contra suas
vocações distintas; mas pela conformidade com o seu verdadeiro
espírito. Essas vocações não excluem a religião; mas demandam-na,
para a sua própria perfeição. Pode haver trabalhadores religiosos,
quer no campo, quer nas fábricas; médicos, advogados, escultores,
poetas, pintores e músicos religiosos. Pode haver religiões e todos os
trabalhos e em todos os divertimentos da vida. Suas vidas podem ser
uma religião; a larga terra seu altar; seu incenso, o exato sopro da
vida; suas fogueiras sempre acesas pela claridade do Céu.

149
CAPÍTULO XIII: REAL ARCO DE SALOMÃO

Ligado à nossa pobre e frágil vida, é o poderoso pensamento


que rejeita a dimensão estreita de toda a existência visível. A alma
sempre alcança o exterior, e pede liberdade. Ela olha para além da
janela estreita e gradeada dos sentidos, para a criação ampla e
incomensurável; ela sabe que ao seu redor, e além de si, repousam
espalhadas as estradas infinitas e intermináveis. Tudo dentro e fora de
nós precisa agitar nossas mentes para a admiração e espanto. Somos
um mistério envolvido com mistérios. A conexão da mente com a
matéria é um mistério; a maravilhosa comunicação telegráfica entre
o cérebro e cada parte do corpo, o poder e ação da vontade. Cada
passo rotineiro é mais do que uma história numa terra de
encantamento. O poder do movimento é um poder misterioso como o
poder do pensamento. A memória, e sonhos que são ecos indistintos
de memórias mortas são igualmente inexplicáveis. A harmonia
universal brota da complicação infinita. O momentum[2] de cada passo
que damos em nossa residência contribui em parte para a ordem do
Universo. Estamos conectados por laços de pensamento, e mesmo de
matéria e suas forças, com todo o Universo ilimitável e todas as
gerações passadas e porvindouras dos homens.

O objeto mais humilde debaixo de nossos olhos desafia tanto


o nosso escrutínio tal como a economia da estrela mais distante. Cada
folha e cada lâmina de grama contêm em si segredos que nenhuma
penetração humana jamais compreenderá. Homem algum pode dizer
qual é seu princípio de vida. Homem algum pode saber o que seu
poder de secreção é. Ambos são mistérios inescrutáveis. Onde quer
que coloquemos nossa mão, a meteremos no peito trancado do
mistério. Aonde pisarmos, pisaremos sobre maravilhas. As areias do
mar, os torrões do campo, os seixos erodidos das colinas, as massas
brutas de rochas, traçadas repetidamente, em todas as direções, com
uma caligrafia mais velha, significante e sublime do todas as ruínas
antigas, e todas as cidades derribadas e enterradas que as gerações
passadas ergueram sobre a terra; pois é a caligrafia do Todo-
Poderoso.

O grande negócio de um Maçom com a vida é ler o livro de


seu ensinamento; encontrar essa vida não é a execução de trabalhos

150
MORAL E DOGMA

penosos, mas a audição de oráculos. A velha mitologia é apenas uma


folha neste livro; pois ela povoou o mundo com naturezas espirituais;
e a ciência, multifoliada, ainda estende diante de nós a mesma história
de espanto.

Sejamos felizes daqui para frente, da mesma forma como


somos puros e sinceros, e não mais, simplesmente felizes como nosso
caráter nos prepara para ser, e não mais. Nossa moral, tal como nosso
caráter mental, não é formada num momento; ela é o hábito de nossas
mentes; o resultado de muitos pensamentos, sentimentos e esforços,
unidos por vários laços fortes e naturais. A grande lei de Retribuição
é: que toda a experiência vindoura seja afetada por cada sentimento
presente; todo momento futuro do ser precisa corresponder a cada
momento presente; um momento, sacrificado ao vício, ou perdido
para aprimoramento, está para sempre sacrificado e perdido; um
atraso de hora para entrar na estrada correta é colocarmo-nos ainda
mais atrás na busca interminável da felicidade; e cada pecado, mesmo
das melhores pessoas, deve ser desta forma responsabilizado, se não
conforme a medida completa de sua má deserção, ainda assim
conforme uma regra de retidão e imparcialidade inflexíveis.

A lei de retribuição pressiona a cada homem, pense este nela


ou não. Ela o persegue através de todos os cursos da vida, com um
passo que nunca vacila nem se cansa, e com olhos que nunca
adormecem. Se assim não fosse, o governo de Deus não seria
imparcial; não haveria discriminação; nem domínio moral; nem luz
projetada sobre os mistérios da Providência.

Tudo quanto o homem semeia, isto, e nada mais, colherá.


Aquilo que estamos fazendo, bom ou mal, sério ou alegre, aquilo que
fazemos hoje e o que faremos amanhã; cada pensamento, cada
sentimento, cada ação, cada evento; cada hora passageira, cada
momento de respiração; todos estão contribuindo para formar o
caráter, de acordo com o qual temos seremos julgados. Cada partícula
de influência que vai para a forma que agrega, – nosso caráter, – será,
nesse escrutínio futuro, joeirada para fora da massa; e, de partícula
em partícula, com as épocas talvez intervindo, cai uma contribuição
distinta à soma de nossas alegrias ou tristezas. Assim, cada palavra

151
CAPÍTULO XIII: REAL ARCO DE SALOMÃO

ociosa e hora ociosa darão respostas no julgamento.


Tomemos cuidado, portanto, com o que semeamos. Uma
tentação vem sobre nós; a oportunidade de ganho injusto, ou de
indulgência desconsagrada, seja na esfera dos negócios ou do prazer,
seja na da sociedade ou da solidão. Capitulamos; e plantamos uma
semente de amargura e sofrimento. Amanhã isto ameaça ser
descoberto. Agitados e alarmados, cobrimos o pecado, e o enterramos
fundo na falsidade e hipocrisia. No peito onde ele repousa oculto, no
solo fértil de vícios da mesma família, esse pecado não morre, mas
tem sucesso e cresce; e outros, e mais outros, germes do mal se
reúnem ao redor da raiz amaldiçoada; até que, desta única semente
de corrupção, se esparrama na alma tudo o que é horrível na mentira,
safadeza ou vício habitual.

Asquerosamente, com frequência, damos cada passo para


baixo; mas um poder assustador nos impele para cima; e o inferno de
dívida, doença, ignomínia, ou remorso mesmo na terra ajunta suas
sombras ao redor de nossos passos; e estas são apenas o início das
aflições. O mau feito pode ser cometido num único momento; mas a
consciência nunca morre, a memória nunca dorme; a culpa jamais
pode se tornar inocência; e o remorso jamais pode sussurrar paz.

Cuidado, tu que és tentado para o mal! Cuidado com o que


delimitas para o futuro! Cuidado com o que confinas nos arquivos da
eternidade! Não ofendas a teu próximo! para que o pensamento de
quem injuriaste, e que sofre por teu ato, não seja para ti uma dor
lancinante, que anos não despojarão sua amargura! Não arrombes a
casa da inocência, para esvaziá-la de seu tesouro; para que não ocorra
que, quando muitos anos tiverem passado sobre ti, o lamento de sua
agonia não tenha desaparecido de teu ouvido! Não construas o trono
desolado da ambição em teu coração; nem te sejas ocupado com
artifícios, embaimentos, e esquemas egoístas; para que a desolação e
o isolamento não estejam em teu caminho, e este se estique até a longa
futuridade! Não vivas uma vida inútil, ímpia, ou injuriosa! pois
atados a esta vida estão o princípio imutável de uma retribuição sem
fim, e os elementos da criação de Deus, que jamais gastarão suas
forças, continuarão sempre a se desdobrar com as eras da eternidade!
Não te enganes! Deus formou tua natureza, para assim responder ao

152
MORAL E DOGMA

futuro! Sua lei jamais pode ser ab- rogada, tampouco Sua justiça
iludida; e por todo o sempre será verdadeiro que, “Tudo o que o
homem semear, isto também ceifará”.

153
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

CAPÍTULO XIV.

GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME


MAÇOM

[Eleito Perfeito]

Está para cada Maçom em particular descobrir o segredo da


Maçonaria, pela reflexão sobre seus símbolos e uma sábia consideração
e análise do que é dito e executado na obra. A Maçonaria não inculca suas
verdades. Ela as declara, uma vez e brevemente; ou as aponta, talvez, no
escuro; ou interpõe uma nuvem entre elas e os olhos que elas ofuscariam.
“Buscai, e vós encontrareis”, conhecimento e a verdade.

O objetivo prático da Maçonaria é o melhoramento físico, moral e


intelectual e aprimoramento espiritual dos indivíduos e da sociedade.
Nenhum deles pode ser realizado, exceto pela disseminação da verdade. É

154
MORAL E DOGMA

à falsidade em doutrinas e à falácia em princípios, que estão relacionados


a maioria das misérias dos homens e os infortúnios das nações. A opinião
pública raramente é correta sobre qualquer ponto; mas existem e sempre
existirão verdades importantes a serem substituídas nessa opinião, no
lugar de muitos erros e preconceitos absurdos e injuriosos. Há poucas
verdades que a opinião pública, em algum tempo, não odiou e perseguiu
como heresias; e poucos erros que, em alguma época, não pareceram para
ela verdades radiantes da presença imediata de Deus. Existem
enfermidades morais também no homem e na sociedade, e o tratamento
das quais requer não apenas atrevimento, mas também, e mais, prudência
e discrição; uma vez que são mais o fruto de doutrinas falsas e perniciosas,
morais, políticas e religiosas, do que de inclinações viciosas.

Muito do segredo Maçônico manifesta-se por si só, sem nenhum


discurso o revelando, para aquele que, mesmo parcialmente, compreende
todos os Graus na proporção em que os recebe; e particularmente àqueles
que avançam para os Graus mais altos do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Este Rito levanta uma extremidade do véu, mesmo no Grau de Aprendiz;
pois lá declara que a Maçonaria é um culto.

A Maçonaria trabalha para aprimorar a ordem social pelo


esclarecimento das mentes das pessoas, aquecendo seus corações com o
amor ao bem, inspirando-as com o grande princípio de fraternidade
humana, e requerendo de seus discípulos que sua linguagem e suas ações
se conformem a estes princípios, que esclareçam-se mutuamente,
controlem suas paixões, abominem o vício e apiedem-se do homem
vicioso como a alguém afligido por uma enfermidade deplorável.

Esta é a religião universal, eterna e imutável, tal como Deus a


plantou no coração da humanidade universal. Nunca, nenhum credo não
construído sobre esta fundação foi longevo. Ela é a base, e eles são a
superestrutura. “A religião pura e imaculada perante Deus e o Pai é esta,
visitar os órfãos e viúvas em suas aflições e manter-se impoluto do
mundo.” “Não é este o jejum que eu escolhi? Soltar as bandas da
perversidade, desfazer as pesadas cargas, e deixar os oprimidos seguirem
livres, e quebrarem todo jugo?” Os ministros desta religião são todos
Maçons que a compreendem e são devotados a ela; seus sacrifícios a Deus
são boas obras, os sacrifícios das paixões baixas e desordenadas, a

155
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

oferenda do interesse próprio sobre o altar da humanidade, e esforços


perpétuos de conquistar para todos a perfeição moral de que o homem é
capaz.

Fazer da honra e do dever as torres de alerta estáveis que guiarão


seus barcos-vidas por sobre os mares tempestuosos do tempo; fazer o que
é correto fazer, não porque isto lhe garanta sucesso, ou traga consigo uma
recompensa, ou ganhe o aplauso dos homens, ou seja “a melhor política”,
mais prudente ou mais oportuna; mas porque é correto e, portanto, deve
ser feito; guerrear incessantemente contra o erro, a intolerância, a
ignorância e o vício, e ainda apiedar-se daqueles que erram, ser
tolerante mesmo à intolerância, educar o ignorante e trabalhar para
recuperar o viciado são alguns dos deveres de um Maçom.

Um bom Maçom é alguém que consegue olhar para a morte e ver


sua face com o mesmo semblante com que ouve sua história; que consegue
resistir todos os labores de sua vida com sua alma suportando seu corpo,
que pode igualmente desprezar riquezas quando ele as odeia e quando não
as odeia; isto é, não mais triste se elas estão no erário de seu próximo, nem
mais exaltado se brilham ao redor de suas próprias paredes; alguém que
não é comovido com a boa fortuna vindo a si, nem indo de si; que pode
olha para as terras de outra pessoa com equanimidade e prazer, como se
fossem suas próprias; e ainda olhar para as suas próprias, e também usá-
las, como se fossem de outra pessoa; que nem gasta seus bens pródiga e
estupidamente, nem ainda assim os guarda de forma avarenta, como um
pão-duro; que não estima benefícios por peso e número, mas pela intenção
e circunstâncias de quem os conferiu; que nunca acha sua caridade
dispendiosa, se uma pessoa digna é o recebedor; que não faz nada por
razão da opinião, mas tudo pela consciência, sendo tanto cuidadoso de
seus pensamentos quanto de sua atitude nos comércios e teatros, e em
tamanho temor de si mesmo quanto de uma assembleia inteira; que é
abundante e divertido para seus amigos, e caridoso e apto para perdoar
seus inimigos; que ama sua pátria, considera sua honra e obedece suas leis,
deseja e se esforça para nada mais além do que poder fazer seu dever e
honrar a Deus. E um Maçom assim pode avaliar sua vida como a vida de
um homem, e computar seus meses não pelo trajeto do sol, mas pelo
círculo do zodíaco de suas virtudes.

156
MORAL E DOGMA

O mundo inteiro é apenas uma república, da qual cada nação é uma


família e cada indivíduo um filho. A Maçonaria, não derrogando de
alguma forma os diferentes deveres que a diversidade de estados requer,
tende a criar um novo povo, que, composto de pessoas de muitas nações e
línguas, será unido pelos laços de ciência, moralidade e virtude.

Essencialmente filantrópica, filosófica e progressiva, ela tem por


base de seu dogma uma crença firme na existência de Deus, de sua
providência e da imortalidade da alma; pois seu objetivo, a disseminação
da verdade moral, política, filosófica e religiosa, e a prática de todas as
virtudes. Em todas as épocas, seu dispositivo foi “Liberdade, Igualdade e
Fraternidade”, com governo constitucional, lei, ordem, disciplina e
subordinação para legitimar a autoridade – governo e não anarquia. Mas
ela não é nem um partido político, nem uma seita religiosa. Ela abraça
todos os partidos e todas as seitas, para formar dentre todos eles uma vasta
associação fraternal. Ela reconhece a dignidade da natureza humana, e o
direito do homem a tal liberdade para a qual é compatível; não conhece
nada que coloca um homem abaixo de outro, exceto a ignorância, o
rebaixamento e o crime, e sabe a necessidade de subordinação à vontade
legal e à autoridade.

É filantrópica; pois reconhece a grande verdade de que todas as


pessoas são da mesma origem, têm interesses comuns e devem cooperar
juntas para o mesmo fim.

Portanto, ensina seus membros a amar uns aos outros, a dar a cada
outro assistência mútua e apoio em todas as circunstâncias da vida, a
compartilhar reciprocamente dores e sofrimentos, bem como suas alegrias
e prazeres; a guardar as reputações, respeitar as opiniões e serem
perfeitamente tolerantes aos erros uns dos outros, em matéria de crenças e
fé.

É filosófica, porque ensina as grandes Verdades concernentes à


natureza e existência de uma Divindade Suprema, e à existência e
imortalidade da alma. Ela revive a Academia de Platão e os ensinamentos
sábios de Sócrates. Reitera as máximas de Pitágoras, Confúcio e
Zoroastro, e reforça reverentemente as lições sublimes Do que morreu
sobre a Cruz.

157
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

Os antigos pensavam que a humanidade universal agia sob a


influência de dois Princípios opostos, o Bem e o Mal: dos quais o Bem
encorajava os homens em direção à Verdade, Independência e Devoção; e
o Mal em direção à Falsidade, Servilismo e Egoísmo. A Maçonaria
representa o Princípio Bom e guerreia constantemente contra o maligno.
É o Hércules, o Osíris, o Mitra e o Ormuzd em rixa eterna e mortal contra
os demônios da ignorância, brutalidade, baixeza, falsidade, servilismo de
alma, intolerância, superstição, tirania, mediocridade, da insolência da
riqueza, e da inveja cega.

Quando o despotismo e a superstição, poderes gêmeos do mal e da


escuridão, reinavam em todos os lugares e pareciam invencíveis e
imortais, ela inventou, para evitar perseguição, os mistérios, isto é, a
alegoria, o símbolo e o emblema, e transmitiu suas doutrinas pelo modo
secreto de iniciação. Hoje, retendo seus símbolos antigos e, em parte, suas
antigas cerimônias, ela exibe sua bandeira em cada país civilizado, na qual
estão escritos, em letras de luz viva, seus grandes princípios; e sorri para
os fracos esforços de reis e papas de esmagá-la até o fim pela excomunhão
e interdição.

As visões do homem com respeito a Deus conterão apenas tanta


verdade positiva conforme o arquivo da mente humana é capaz de receber;
se esta verdade for alcançada pelo exercício da razão, ou comunicada por
revelação. Isto precisa ser, necessariamente, tanto limitado quanto
amalgamado, para trazê-la para dentro da competência da finita
inteligência humana. Sendo finita, não podemos formar nenhuma ideia
correta ou adequada do Infinito; sendo material, não podemos formar
nenhuma concepção clara do Espiritual. Cremos e sabemos da infinidade
do Espaço e Tempo, e da espiritualidade da Alma; mas a ideia desta
infinidade e espiritualidade ilude-nos. Mesmo a Onipotência não pode
infundir concepções infinitas em mentes finitas; nem Deus pode, sem
primeiro alterar inteiramente as condições de nosso ser, transbordar um
conhecimento pleno e completo de Sua própria natureza e atributos na
capacidade estreita de uma alma humana. A inteligência humana não pode
captá-lo, nem a linguagem humana expressá-lo. O visível é,
necessariamente, a medida do invisível.

A consciência de um indivíduo revela somente a si mesma. Seu

158
MORAL E DOGMA

conhecimento não pode ultrapassar os limites de seu próprio ser. Suas


concepções de outras coisas e outros seres são apenas suas concepções.
Não são aquelas coisas e seres em si mesmos. O princípio vivo de um
Universo vivo precisa ser INFINITO; enquanto todas as nossas ideias e
concepções são finitas, e aplicáveis apenas para seres finitos.

A Divindade é assim, não um objeto de conhecimento, mas de fé;


não para ser abordada pelo entendimento, mas pelo senso moral; não para
ser concebida, mas para ser sentida. Todas as tentativas de abraçar o
Infinito na concepção do Finito são, e precisam ser somente acomodações
para a fragilidade do homem. Amortalhada, a partir da compreensão
humana, em uma obscuridade diante da qual uma imaginação castigada
acua intimidada e o Pensamento recua em consciente fraqueza, a Natureza
Divina é um tema sobre o qual o homem tem pouco direito de dogmatizar.
Aqui o Intelecto filosófico se torna mais dolorosamente ciente de sua
insuficiência. E ainda é aqui que o homem mais dogmatiza, classifica e
descreve os atributos de Deus, redige seu mapa da natureza de Deus e seu
inventário de qualidades, sentimentos, impulsos e paixões de Deus; e
então, enforca e queima seu irmão, que, tão dogmaticamente quanto ele,
redige um mapa e inventário diferente. O entendimento comum não tem
humildade. Seu Deus é uma Divindade encarnada. A imperfeição impõe
suas próprias limitações sobre o Ilimitável, e veste o Espírito Inconcebível
do Universo em formas que chegam ao alcance dos sentidos e do intelecto
e são derivadas desta natureza infinita e imperfeita, que não é senão
criação de Deus.

Embora não igualmente, todos nós estamos errados. Os dogmas


queridos de cada um de nós não são, como carinhosamente supomos, a
verdade pura de Deus; mas simplesmente nossa própria forma especial de
erro, nossos palpites à verdade, raios de luz refratados e fragmentários que
caíram sobre nossas mentes. Nossos curtos sistemas têm seu dia, e deixam
de existir; são apenas luzes quebradas de Deus; e Ele é maior do que eles.
A verdade perfeita não é atingível em qualquer lugar. Nós intitulamos este
Grau o da Perfeição; e ainda o que ele ensina é imperfeito e defectivo.
Ainda não devemos relaxar na perseguição da verdade, nem aquiescer
contentes ao erro. É nosso dever sempre avançar na busca; pois embora a
verdade absoluta seja inatingível, mesmo assim a quantia de erro em
nossas vistas é capaz de diminuição progressiva e perpétua; e assim a

159
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

Maçonaria é uma luta contínua em direção à luz.

Nem todos os erros são igualmente inócuos. O que é mais


insultante é recepcionar concepções indignas da natureza e dos atributos
de Deus; e isto é o que a Maçonaria simboliza pela ignorância da Palavra
Verdadeira. A palavra verdadeira de um Maçom não é a verdade inteira,
perfeita e absoluta a respeito de Deus; mas a maior e mais nobre concepção
d’Ele que nossas mentes são capazes de formar; e esta palavra é Inefável
porque um homem não pode comunicar para outro sua própria concepção
da Divindade; uma vez que cada concepção humana de Deus precisa ser
proporcionada para seu cultivo mental, poderes intelectuais e excelência
moral. Deus é, como o Homem o concebe, a imagem refletida do próprio
homem.

Pois cada concepção humana de Deus deve variar com seu cultivo
mental e poderes mentais. Se alguém se contenta com qualquer imagem
menor do que seu intelecto é capaz de captar, então se contenta com o
aquilo que é tanto falso para ele como falso de fato. Se menor do que ele
pode alcançar, ele precisa necessitar sentir isso para ser falso. E se nós, do
décimo nono século depois de Cristo, adotarmos as concepções do décimo
nono século anterior a Cristo; se nossas concepções são aquelas dos
Israelitas ignorantes, intolerantes e vindicativos; então pensamos o pior de
Deus e temos uma visão inferior de Sua natureza, medíocre e mais limitada
do que as faculdades que Ele concedeu são capazes de captar. A visão
mais elevada que podemos formar é a mais próxima da verdade. Se
aquiescermos com alguma outra inferior, aquiesceremos com uma
inverdade. Sentimos que é uma afronta e uma indignidade a Ele concebê-
Lo como cruel, míope, caprichoso e injusto; como um Ser ciumento,
colérico, vingativo.

Quando examinarmos nossas concepções de Seu caráter, se


pudermos conceber um caráter mais sublime, nobre, elevado, mais
beneficente, glorioso e magnífico, então este será a verdadeira concepção
da Divindade; pois nada pode ser imaginado mais excelente do que Ele.

A religião, para obter aceitação e influência em uma grande massa


da humanidade, deve necessitar ser amalgamada com tal quantia de erros,
assim como estabelecer-se bem abaixo do padrão atingível pelas maiores

160
MORAL E DOGMA

capacidades humanas. A religião tão pura quanto a razão humana mais


sublime e cultivada poderia discernir não seria compreendida, ou não seria
efetiva sobre a porção menos educada da humanidade. O que é Verdade
para o filósofo não seria Verdade, nem teria o efeito de Verdade, para o
camponês. A religião de muitos precisa necessariamente ser mais incorreta
do que a de poucos refinados e reflexivos, não tanto na sua essência quanto
nas suas formas, não tanto na ideia espiritual que reside latente em seu
seio, quanto nos símbolos e dogmas nos quais essa ideia é incorporada. A
religião mais veraz não seria, em muitos pontos, compreendida pelo
ignorante, tampouco consoladora para ele, e nem sua guia e suporte. As
doutrinas da Bíblia muitas vezes não são vestidas na linguagem da estrita
verdade, mas na que era mais adequada para conduzir um povo rude e
ignorante às práticas essenciais da doutrina. Uma fé perfeitamente pura,
livre de todas as mesclas estranhas, um sistema de teísmo nobre e
moralidade sublime, encontraria muito pouca preparação na mente e
coração comuns, para admitir recepção de imediato pelas massas da
humanidade; e a Verdade não poderia nos ter alcançado se não tomasse
emprestadas as asas do Erro.

O Maçom vê Deus como um Governador Moral, bem como um


Criador Original; como um Deus ao alcance da mão, e não meramente um
algo longínquo na distância do espaço infinito, e na longitude da
Eternidade Passada ou Futura. Ele O concebe como adotando um interesse
vigilante e dirigente pelos assuntos do mundo, e influenciando os corações
e ações dos homens.

Para ele, Deus é a grande Fonte da Vida e Matéria do Mundo; e o


homem, com sua maravilhosa estrutura corporal e mental, como Sua obra
direta. Ele crê que Deus fez os homens com capacidades intelectuais
diferentes; e capacitou alguns, por um poder intelectual superior, para
enxergar e ocasionar verdades que estão ocultas da massa das pessoas. Ele
crê que quando é de Sua vontade que a humanidade dê um grande passo
adiante, ou alcance alguma descoberta fértil, Ele chama à existência algum
intelecto com mais poder e magnitude que o ordinário, para dar à luz novas
ideias e concepções maiores das Verdades vitais à Humanidade.

Confiamos que Deus assim ordenou as matérias neste Universo


belo e harmonioso, porém, misteriosamente governado, e que uma grande

161
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

mente após outra se elevará, de tempo em tempo, tal como são necessárias,
para revelar às pessoas as verdades procuradas e a quantia de verdade que
pode nascer. Ele então dispõe que a natureza e o curso dos eventos enviem
pessoas, favorecidas com essa organização mental e moral mais elevada,
ao mundo, nas quais as grandes verdades e cintilações sublimes de luz
espiritual aparecerão espontânea e inevitavelmente. Estas falam ao homem
pela inspiração.

Não importa o que Hiram realmente foi, ele é o modelo, talvez um


modelo imaginário, para nós, da humanidade em sua fase mais alta; um
exemplar do que o homem pode e deve se tornar, no curso das eras, em
seu progresso rumo à realização de seu destino; um indivíduo dotado com
um intelecto glorioso, uma alma nobre, uma organização refinada e um ser
moral perfeitamente equilibrado; um depósito do que a humanidade pode
ser, e do que acreditamos que ela será futuramente no bom tempo de Deus;
a possibilidade da raça tornada real.

O Maçom acredita que Deus organizou este mundo glorioso, mas


complicado, com um propósito e sobre um plano. Crê que todo homem
enviado a esta terra, e especialmente todo homem de capacidade superior,
tem um dever para cumprir, uma missão para completar, um batismo para
com ele ser batizado; que todo homem grande e bom possui uma porção
da verdade de Deus, que ele deve proclamar ao mundo, e precisa produzir
fruto em seu próprio seio. Num sentido verdadeiro e simples, ele acredita
ser inspirado de tudo o que é puro, sábio e intelectual, e que é desta forma
para instruir, adiantar e elevar a humanidade. Que este tipo de inspiração,
assim como a onipresença de Deus, não é limitada aos poucos escritores
reivindicados por Judeus, Cristãos ou Muçulmanos, mas é extensiva à
raça. Ela é a consequência do uso dedicado de nossas faculdades. Cada
pessoa é seu sujeito, Deus é sua fonte, e a Verdade seu único exame. Ela
difere em graus, assim como os dons intelectuais, a riqueza moral da alma
e o grau de cultivo desses dons e faculdades também diferem. Não é
limitada a nenhuma seita, época ou nação. Ela é tão ampla quanto o mundo
e tão comum quanto Deus. Não foi dada a poucos homens, na infância da
humanidade, para monopolizarem a inspiração e barrar Deus para fora da
alma. Não somos nascidos na senilidade e decadência do mundo. As
estrelas são belíssimas como em sua juventude; os Céus mais antigos estão
frescos e fortes. Deus ainda está em todos os lugares na natureza. Onde

162
MORAL E DOGMA

houver um coração que bate com amor, onde quer que a Fé e a Razão
proferir seus oráculos, ali estará Deus, como antigamente, nos corações de
visionários e profetas. Nenhum solo ou terra é tão santo quanto o coração
do homem bom; nada é tão pleno de Deus. Esta inspiração não é dada ao
instruído somente, nem apenas para o grande e sábio, mas para cada filho
fiel de Deus. Certo como o olho aberto bebe a luz, assim o puro de coração
vê a Deus; e aquele que vive em verdade sente Deus como uma presença
dentro da alma. A consciência é a verdadeira voz da Divindade.

A Maçonaria, ao redor de cujos altares o Cristão, o Hebreu, o


Muçulmano, o Brâmane, os seguidores de Confúcio e Zoroastro podem
reunir-se como irmãos e unir-se em oração para o único Deus que está
acima de todos os Baalim, necessita deixar a cada um de seus Iniciados
olhar para a fundação de sua fé e ter esperança nas escrituras escritas de
sua própria religião. Pois ela mesma encontra essas verdades bastante
definidas, as quais estão escritas pelo dedo de Deus no coração do homem
e nas páginas do livro da natureza. Visões da religião e do dever, lavradas
pelas meditações dos estudiosos, confirmadas pela fidelidade do bom e
sábio, impressas como libras esterlinas pela responsabilidade que elas
encontram em cada mente incorrupta, recomendam-se a si mesmas para
Maçons de todos os credos e podem muito bem ser aceitas por todos.

O Maçom não finge certeza dogmática, nem imagina em vão que


tal certeza seja atingível. Considera que, se não houvesse nenhuma
revelação escrita, ele poderia seguramente descansar as esperanças que o
animam, e os princípios que o guiam, nas deduções da razão e convicções
do instinto e da consciência. Ele pode encontrar uma fundação segura para
sua crença religiosa nestas deduções do intelecto e convicções do coração.
Pois a razão prova-lhe a existência e os atributos de Deus; e aqueles
instintos espirituais que ele sente são a voz de Deus em sua alma, infundem
em sua mente um senso de sua relação com Deus, uma convicção da
beneficência de seu Criador e Preservador, e uma esperança de existência
futura; e igualmente sua razão e consciência apontam sem errar para a
virtude como o bem maior, e o propósito e alvo destinado à vida do
homem.

Ele estuda as maravilhas dos Céus, a estrutura e as revoluções da


Terra, as belezas e adaptações misteriosas da existência animal, a

163
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

constituição moral e material da criatura humana, formada tão terrível e


maravilhosamente; e está satisfeito porque Deus É; e porque um Ser Sábio
e Bom é o autor dos céus estrelados acima de si e do mundo moral dentro
de si; e sua mente encontra uma fundação adequada para as suas
esperanças, seu culto, seus princípios de ação, no Universo longimétrico,
no firmamento glorioso, na alma profunda, completa, irrompendo com
pensamentos inexprimíveis.

Essas são verdades que toda mente reflexiva receberá, sem


hesitação, para não ser sobrepujada, e ser capaz de aprimoramento; e apta,
se obedecer, para tornar a terra efetivamente um Paraíso, e o homem
apenas um pouco abaixo dos anjos. A inutilidade de observâncias
cerimoniais e necessidade de virtude ativa; a aplicação da pureza de
coração, enquanto seguridade para a pureza de vida, e do governo dos
pensamentos, enquanto originadores e precursores da ação; a filantropia
universal, exigindo-nos amar todas as pessoas e fazer aos outros apenas
tal e qual pensamos ser correto, justo e generoso para que façam a nós; o
perdão das ofensas; a necessidade de autossacrifício no cumprimento do
dever; a humildade; a sinceridade genuína, o ser aquilo que parecemos
ser; todos esses preceitos sublimes não necessitam milagre nenhum, voz
nenhuma vinda das nuvens, para serem recomendados à nossa fidelidade,
ou assegurar-nos de suas origens divinas. Eles ordenam obediência pela
virtude de sua beleza e retidão inerentes; foram, são e serão a lei em toda
época e toda pátria do mundo. Deus os revelou para o homem no início.

Para o Maçom, Deus é nosso Pai no Céu, de Quem ser filhos


especiais é a recompensa suficiente dos pacificadores, de Quem ver a face
é a maior esperança do puro de coração; Quem está sempre perto para
fortificar Seus verdadeiros adoradores; para Quem nosso amor mais
intenso é devido, nossa mais humilde e paciente submissão; Cuja adoração
mais aceitável é um coração puro e misericordioso e uma vida beneficente;
em Cuja constante presença nós vivemos e agimos, para Cuja disposição
misericordiosa estamos resignados por essa morte que, esperamos e
cremos, é apenas a entrada para uma vida melhor; e Cujos decretos sábios
proíbem um homem encolar sua alma em um elísio de meros preguiçosos
contentes.

Quanto aos nossos sentimentos para com Ele e nossa conduta para

164
MORAL E DOGMA

com o homem, a Maçonaria ensina pouca coisa acerca da qual os homens


possam diferir, e pouca da qual possam dissentir. Ele é nosso Pai, e somos
todos irmãos. Isso tanto encontra-se aberto ao mais ignorante e ocupado,
quanto, de forma geral, àqueles que possuem mais lazer e são mais
instruídos. Isso não necessita de nenhum Sacerdote para ser ensinado, e
nenhuma autoridade para endossá-lo; e se cada pessoa fizesse apenas o
que é consistente com isso, ela exilaria a barbaridade, crueldade,
intolerância, descaridade, perfídia, traição, vingança, egoísmo, e todos os
vícios afins e más paixões, para além dos confins do mundo.

O verdadeiro Maçom, sinceramente confiando que o Deus


Supremo criou e governa este mundo, acredita também que Ele governa
através de leis, as quais, embora sábias, justas e beneficentes, são ainda
estáveis, inabaláveis e inexoráveis. Ele crê que suas agonias e sofrimentos
são ordenados para sua correção, seu fortalecimento, sua elaboração e
desenvolvimento; porque eles são os resultados necessários da operação
das leis, o melhor que poderia ser inventado para a felicidade e purificação
das espécies, e para dar ocasião e oportunidade para a prática de todas as
virtudes, desde a mais rude e comum até a mais nobre e sublime; ou talvez
nem mesmo isso, mas a melhor coisa apta para concluir os desígnios
vastos, temíveis, gloriosos e eternos do Grande Espírito do Universo. Ele
acredita que as operações ordenadas da natureza que lhe trouxeram
miséria, têm mostrado, a partir da mesma tranquilidade inabalável de sua
carreira, bênçãos e alegrias sobre muitos outros caminhos; e que a rígida
carruagem do Tempo, que o esmagou e aleijou em seu trajeto designado e
está empurrando adiante o cumprimento daqueles propósitos serenos e
poderosos, contribuiu para o que, mesmo como vítima, é uma honra e
recompensa. Ele assume este ponto de vista do Tempo, da Natureza e de
Deus, e ainda assim suporta sua porção sem murmúrio ou desconfiança;
porque é a porção de um sistema, o melhor possível, pois é ordenado por
Deus. Ele não acredita que Deus perde-o de vista enquanto supervisiona a
marcha das grandes harmonias do Universo; nem crê que não foi previsto,
quando o universo foi criado, suas leis promulgadas e a longa sucessão de
suas operações pré-ordenada, que, na grande marcha desses eventos, ele
sofreria dor e submeter-se-ia à calamidade. Ele acredita que seu bem
individual entrou na consideração de Deus, bem como os grandes
resultados cardeais para os quais o curso de todas as coisas está tendendo.

165
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

Assim acreditando, ele atingiu uma superioridade em virtude da


mais alta, em meio à excelência passiva, que a humanidade pode alcançar.
Ele encontra sua recompensa e seu apoio na reflexão de que ele é um
cooperador abnegado e não-relutante para com o Criador do Universo; e
na consciência nobre de ser digno e capaz de tão sublime concepção,
embora tão triste destino. Ele está, então, verdadeiramente designado a ser
chamado de Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom. É contente em
tombar no início batalha, se seu corpo puder formar um degrau para as
conquistas futuras da humanidade.

Não pode ser que Deus, Quem estamos certos de que é


perfeitamente bom, possa nos escolher para sofrer dor, a menos que, ou
devemos receber disto um antídoto para o que é mau em nós mesmos, ou
esta dor é uma parte necessária no esquema do Universo, que como um
todo é bom. Em qualquer um dos casos, o Maçom a recebe com submissão.
Ele não sofreria a menos que assim fosse ordenado. Seja qual for o seu
credo, se ele acredita que Deus é, e que Ele cuida de Suas criaturas, não
pode duvidar disso; nem que isso não tivesse sido ordenado, a menos que
fosse melhor para si, ou para algumas outras pessoas, ou algumas
coisas. Reclamar e lamentar é murmurar contra a vontade de Deus, e é
pior do que a descrença.

O Maçom cuja mente é arremessada num molde mais nobre que o


dos ignorantes e irreflexivos, e permeada com uma vida mais divina –
aquele que ama a verdade mais do que o descanso, e a paz do Céu ao invés
da paz do Éden, – para quem um ser mais elevado acarreta cuidados mais
severos, – aquele que sabe que o homem não vive somente por prazer ou
satisfação, mas pela presença do poder de Deus, – deve lançar para trás de
si a esperança de qualquer outro repouso ou tranquilidade além da que é a
última recompensa das longas agonias do pensamento; ele deve abandonar
todas as perspectivas de algum Céu, salvo a da qual o problema é a avenida
e o portal; ele deve cingir seus lombos e preparar sua lâmpada, pois uma
obra precisa ser feita, e não deve ser negligentemente feita. Se ele não
gosta de viver nos alojamentos mobiliados da tradição, deve construir sua
própria casa, seu próprio sistema de fé e pensamento, para si mesmo.

A esperança de sucesso deve ser nosso poder estimulante e


sustentante, não a esperança de recompensa. Nosso objetivo deve ser

166
MORAL E DOGMA

nosso pensamento inspirador, não nós mesmos. Egoísmo é um pecado,


quando temporário e por esse tempo. Prolongado à eternidade, ele não se
torna prudência celestial. Devemos trabalhar e morrer, não pelo Céu ou
pela Glória, mas pelo Dever.

Nos casos mais frequentes, onde temos de ajuntar nossos esforços


aos de milhares outros, contribuir para o transporte de uma grande causa,
simplesmente lavrar a terra ou semear a semente para uma colheita muito
distante ou preparar o caminho para o advento futuro de uma grande
alteração; o montante que cada um contribui para a obtenção do sucesso
final, a parcela do preço que a justiça atribui a cada um como sua produção
específica, jamais podem ser determinados com exatidão. Talvez só alguns
dos que já trabalharam, na paciência do sigilo e do silêncio, para produzir
alguma mudança política ou social, de que estavam convencidos que
acabaria por se revelar de grande serviço à humanidade, viveram para ver
a mudança efetuada ou o bem antecipado fluir dela. Menos ainda foram
capazes de pronunciar que peso apreciável seus esforços separados
contribuíram para a realização da mudança desejada. Muitos duvidarão
que esses empenhos verdadeiramente possuem qualquer influência; e,
desencorajados, cessarão todo o esforço ativo.

Para não ser assim desencorajado, o Maçom deve trabalhar para


elevar e purificar seus motivos, bem como cultivar diligentemente a
convicção, com certeza verdadeira, de que neste mundo não existe algo
como esforço desperdiçado; de que em todo trabalho existe lucro; que todo
o empenho sincero numa causa justa e altruísta é necessariamente seguido
de um sucesso apropriado e proporcional, apesar de toda a aparência do
contrário; de que nenhum pão lançado sobre as águas pode ser totalmente
perdido; que nenhuma semente plantada no solo pode deixar de despertar
no devido tempo e medida; e que, no entanto, podemos ser capazes de
duvidar, em momentos de desânimo, não apenas que nossa causa não
triunfará, mas que, caso aconteça, não tivemos contribuído para o seu
triunfo – existe Um, Aquele que não apenas enxerga cada empenho que
fizemos, mas Quem determina o grau exato em que cada soldado auxiliou
para da grande vitória sobre o mal social. Nenhuma boa obra é feita
totalmente em vão.

O Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom não merecerá de

167
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

modo algum este título se não possui essa força, essa vontade, essa energia
autossustentável; essa Fé, que não alimenta nenhuma esperança terrena,
nem jamais pensa em vitória, mas, contente em sua própria consumação,
combate porque deve combater, luta jubilante, e ainda jubilante tomba.

Os Estábulos Augianos do Mundo, as miséria e impurezas


acumuladas de séculos, requerem que um rio poderoso os limpe
perfeitamente; cada gota que contribuímos ajuda a inchar esse rio e
aumentar sua força, em um grau apreciável por Deus, embora não pelo
homem; e aquele cujo zelo é profundo e ardente não será demasiado
ansioso para que suas gotas individuais sejam perceptíveis em meio à
massa poderosa de águas purificantes e fertilizantes; muito menos que, por
uma questão de distinção, elas devam fluir numa singularidade ineficaz.

O Maçom verdadeiro não cuidará que seu nome esteja escrito no


tostão que ele lança no tesouro de Deus. É suficiente para ele saber que,
se trabalhou com pureza de propósito em qualquer boa causa, deve ter
contribuído para seu sucesso; que o grau em que contribuiu é uma
questão de interesse infinitamente pequeno; e ainda mais, que a
consciência de assim haver contribuído, não obstante obscura e
despercebida, é sua recompensa suficiente, mesmo que seja sua única. Que
cada Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom ame esta fé. É um dever.
É a luz brilhante e imperecível que brilha dentro e através do pedestal
simbólico de alabastro, sobre o qual repousa o cubo perfeito de ágata,
símbolo do dever, inscrito com o nome divino de Deus. Aquele que semeia
e colhe industriosamente é um bom trabalhador, e digno de seu salário.
Mas o que semeia o que deverá ser colhido por outros, por aqueles que
não conhecem e não atentam para o semeador, é um trabalhador de uma
ordem mais nobre, e digno de uma recompensa mais excelente.

O Maçom não exorta aos outros uma subestimação ascética desta


vida, como porção de existência insignificante e indigna; pois isso
demanda sentimentos antinaturais e que, portanto, se atingidos, serão
mórbidos, e se meramente professos, insinceros; e nos ensina a olhar além,
para uma vida futura como a compensação dos males sociais, ao invés
desta vida como a sua cura; e assim não gera prejuízo à causa da virtude e
à do progresso social. A vida é real, é séria e cheia de deveres para serem
cumpridos. Ela é o início de nossa imortalidade. Somente aqueles que

168
MORAL E DOGMA

sentem um interesse e afeição profundos por este mundo trabalharão


resolutamente por sua melhoria; aqueles cujas afeições são transferidas
para os Céus facilmente aquiescem às misérias da terra, julgando-as sem
esperança, adequadas e ordenadas; e consolam-se com a ideia da reparação
que um dia serão deles. É uma triste verdade que aqueles mais
decididamente dados à contemplação espiritual, e a fazer da religião uma
regra em seus corações, são muitas vezes os mais apáticos, em relação
todo o aprimoramento dos sistemas deste mundo, e em muitos casos,
conservadores virtuais do mal e hostis às reformas política e social como
desviantes das energias humanas da eternidade.

O Maçom não guerreia com seus próprios instintos, não macera o


corpo em fraqueza e desordem e não deprecia o que enxerga ser belo, sabe
ser maravilhoso e sente ser indescritivelmente querido e fascinante. Não
põe de lado a natureza que Deus lhe deu, para lutar por uma que Ele não
o concedeu. Sabe que o homem é enviado ao mundo, um ser compósito,
não espiritual, formado de corpo e mente, com o corpo tendo sua parte
completa, justa e distribuída, como é adequado e necessário em um mundo
material. Sua vida é guiada por um reconhecimento pleno deste fato. Não
o nega com palavras em negrito, mas o admite nas fraquezas e
fracassos inevitáveis. Acredita que sua espiritualidade virá no próximo
estágio de seu ser, quando vestir o corpo espiritual; que o corpo atual será
deixado na morte; e que, até então, Deus quis que ele fosse comandado e
controlado, mas não negligenciado, desprezado ou ignorado pela alma,
sob pena de pesadas consequências.

Ainda o Maçom não é indiferente nem para o destino da alma, após


sua vida presente, nem para seu ser continuado e eterno, e o caráter dos
cenários nos quais este ser plenamente desenvolver-se-á. Estes são para
ele tópicos do mais profundo interesse e da contemplação mais nobilitante
e refinadora. Ocupam muito de seu lazer; e como ele se torna familiar com
os sofrimentos e calamidades desta vida, como suas esperanças são
desapontadas e suas visões de felicidade aqui desaparecem; quando a vida
o tem enfadado em sua corrida das horas; quando ela é molestada e
desgastada pelo trabalho, e a carga de seus anos pesa sobre ele, a balança
da atração gradualmente inclina-se em favor de outra vida; e ele se apega
a suas nobres especulações com uma tenacidade de interesse que não
carece nenhuma injunção e não ouvirá nenhuma proibição. São o

169
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

privilégio consolador dos aspirantes, dos maltrapilhos, dos cansados e dos


enlutados.

Para ele a contemplação do Futuro faz penetrar luz sobre o


Presente, e desenvolve as porções mais elevadas de sua natureza. Ele se
esforça, com razão, para ajustar as respectivas pretensões da terra e do Céu
para seu tempo e pensamento, de modo a dar as devidas proporções das
mesmas no desempenho dos deveres e na celebração dos interesses deste
mundo, e preparação para um melhor; no cultivo e purificação de seu
próprio caráter e no serviço público de seus demais colegas.

O Maçom não dogmatiza, mas, entretendo e proferindo suas


próprias convicções, deixa cada um livre para fazer o mesmo; e apenas
espera que venha o tempo, mesmo após o lapso de épocas, em que todas
as pessoas formarão uma grande família de irmãos, e uma lei somente, a
lei do amor, governará todo o Universo de Deus.

Creia conforme puder, meu irmão; se o Universo, para você, não é


sem um Deus, e se o homem não é como o animal que perece, mas possui
uma alma imortal, nós o saudamos entre nós, para vestir, como vestimos,
com humildade e cientes de nossos deméritos e lacunas, o título de Grande
Eleito, Perfeito e Sublime Maçom.

Não foi sem significado secreto que doze era o número dos
Apóstolos de Cristo, e setenta e dois o de seus Discípulos: que João
endereçou suas repreensões e ameaças às Sete igrejas, o número dos
Arcanjos e dos Planetas. Na Babilônia estava os Sete Estágios de
Borsippa, uma pirâmide de Sete andares, e em Ecbátana Sete cercados
concêntricos, cada um de uma cor diferente. Tebas também tinha Sete
portões, e o mesmo número é repetido várias vezes na conta do dilúvio.
Os Sefirotes, ou Emanações, dez em número, três em uma classe e sete na
outra, repetem os números místicos de Pitágoras. Sete Amchaspands[3]ou
espíritos planetários eram invocados com Ormuzd: Sete Rishis inferiores
do Industão foram salvos com o chefe de suas famílias em uma arca: e
Sete personagens antigos somente retornaram com o homem justo
Britânico, Hu[4], do vale das águas mortíferas. Haviam Sete Helíades, cujo
pai Hélios, ou o Sol, uma vez cruzou o mar em uma taça dourada; Sete
Titãs, filhos do Titã mais velho, Cronos ou Saturno; Sete Coribantes; e

170
MORAL E DOGMA

Sete Cabiros, filhos de Zedek; Sete espíritos Celestiais primevos dos


Japoneses, e Sete Karfesters[5] que escaparam do dilúvio e começaram a
ser os pais de uma nova raça, no topo do Monte Albordi. Sete Ciclopes,
também, construíram as muralhas de Tiro.

Celso, citado por Orígenes, nos conta que os Persas representavam


por símbolos o movimento duplicado dos astros, fixos e planetários, e a
passagem da Alma através de suas sucessivas esferas. Eles erigiam em
suas cavernas sagradas, nas quais os rituais místicos das iniciações
Mitríacas eram praticados, o que denomina como uma alta escada, sobre
os Sete degraus da qual estavam Sete portões ou portais, conforme o
número dos Sete principais corpos celestes. Através destes os aspirantes
passavam, até alcançarem o ápice do conjunto; e esta passagem era tida
como uma transmigração através das esferas.

Jacó viu em seu sonho uma escada estabelecida ou posta sobre a


terra, seu topo alcançava o Céu, e os Malaki Alohim[6] subindo e descendo
por ela, e acima dela estava IHVH, declarando-Se Ihvh-Alhi Abhraham[7].
A palavra traduzida como escada, é ʮ‫ל‬ʱ Salam, de ‫ל‬ʱ‫ ל‬, Salal, erguido,
elevado, empinado, exaltado, empilhado em um montão, Aggeravit. ‫ללח‬ʱ
Salalah, significa uma pilha, muralha, ou outra acumulação de terra ou
pedra, feita artificialmente; e ‫ל‬ʱ‫ ע‬, Salaa ou Salo, é uma rocha, ou
penhasco, ou rochedo, e é o nome da cidade de Petra. Não há palavra no
Hebraico antigo para designar uma pirâmide.

A montanha simbólica Meru era subida por Sete passos ou


estágios; e todas as pirâmides, mamoas[8] e montículos levantados em
países planos foram imitações desta montanha fabulosa e mística, para fins
de adoração. Estes foram os “Lugares Altos” tantas vezes mencionados
nos livros Hebraicos, nos quais os idólatras sacrificavam a deuses
estranhos.

As pirâmides eram algumas vezes quadradas, e outras vezes


redondas. A sagrada torre Babilônica [ ʣ‫ לםג‬, Magdol], dedicada ao
grande Pai Bel, era uma colina artificial de formato piramidal, e Sete
estágios, construídos de tijolos, cada estágio de uma cor diferente,
representavam as Sete esferas planetárias pela cor apropriada de cada
planeta. Dizia-se que a própria Meru seria uma montanha única

171
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

terminando em três picos, e assim um símbolo da Trimúrti. O grande


Pagode de Thanjavur tinha seis andares, encimados por um templo como
o sétimo, e sobre este três pináculos ou torres. Um pagode antigo em
Deogur[9] era encimado por uma torre, sustentando o ovo místico e um
tridente. Heródoto conta-nos que o Templo de Bel na Babilônia era uma
torre composta de Sete torres, descansando sobre uma oitava que servia
como base, e sucessivamente diminuindo de tamanho de baixo para cima;
e Estrabão nos diz que era uma pirâmide.

Faber[10] acha que a escada Mitríaca era realmente uma pirâmide


com Sete estágios, provido cada um com uma porta ou abertura estreita,
através de cada uma das quais o aspirante passava, para alcançar o cume,
e então descer através de portas similares no lado oposto da pirâmide;
sendo assim representadas a ascensão e descida da Alma.

Cada caverna Mitríaca e toda a maioria dos templos antigos foram


planejados para simbolizar o Universo, que em si mesmo era
habitualmente denominado Templo e habitação da Divindade. Todo
templo era um mundo em miniatura; e, logo, o mundo todo era um grande
templo. Os templos mais antigos eram destelhados; e, portanto, os Persas,
Celtas e Citas reprovavam edifícios artificiais cobertos. Cícero diz que
Xerxes queimou os templos Gregos, sobre o fundamento expresso de que
todo o mundo era o Templo Magnífico e Habitação da Suprema
Divindade. Platão pronunciou ser o mundo o verdadeiro Templo da
Divindade; e Heráclito declarou que o Universo, variegado com animais,
plantas e estrelas, era o único Templo genuíno da Divindade.

É manifesto o quanto o Templo de Salomão era completamente


simbólico, não apenas a partir da reprodução contínua dos números
sagrados nele e de símbolos astrológicos nas descrições históricas sobre
ele; mas também, e ainda mais, a partir dos detalhes do edifício imaginário
reconstruído, visto por Ezequiel em sua visão. O Apocalipse completa a
demonstração e mostra os significados cabalísticos do todo. As Symbola
Architectonica são encontradas nos edifícios mais antigos; e essas figuras
e instrumentos matemáticos, adotados pelos Templários e idênticos
àqueles nos selos e abraxas gnósticos, conectam seu dogma com a filosofia
Oriental Caldeia, Siríaca e Egípcia. As doutrinas secretas Pitagóricas dos
números foram preservadas pelos monges do Tibete, pelos Hierofantes do

172
MORAL E DOGMA

Egito e de Elêusis, em Jerusalém e nos Capítulos circulares dos Druidas;


e são especialmente consagradas no livro misterioso do Apocalipse de São
João.

Todos os templos eram cercados por pilares, relembrando o


número das constelações, os signos do zodíaco ou os ciclos dos planetas;
e cada um era um microcosmo ou símbolo do Universo, tendo por teto ou
telhado a abóbada estrelada do Céu.

Todos os templos eram originalmente abertos em cima, tendo por


telhado o céu. Doze pilares descreviam o cinturão do zodíaco. Não importa
o número dos pilares, eram místicos em todos os lugares. Em Abury, o
templo Druídico reproduzia todos os ciclos por suas colunas. Ao redor dos
templos de Chehel Minar[11] na Pérsia, de Baalbek, e de Tukhti
Schlomoh[12] na Tartária, na fronteira com a China, erguiam-se quarenta
pilares. De cada lado do templo em Paestum havia quatorze, relembrando
o ciclo Egípcio dos lados claro e escuro da lua, como descrito por Plutarco;
o conjunto de trinta e oito que os circundavam recordavam os dois ciclos
meteóricos tantas vezes encontrados nos templos Druídicos.

O teatro construído por Escauro, na Grécia, era rodeado por 360


colunas; o Templo de Meca e o de Iona na Escócia, por 360 pedras.

173
CAPÍTULO XIV: GRANDE ELEITO, PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

batalha decisiva da Guerra Revolucionária Americana, em 1780.


[1]
Em mecânica clássica, produto da massa inercial de um corpo por sua velocidade;
quantidade de movimento.
[2]
De “Amesha Spenta” (Imortal Sagrado), um termo de origem avestana.
[3]
Personagem de The Canterbury Tales (Os Contos da Cantuária).
[4]
A raça dos sete sobreviventes do dilúvio descrito no Zend-Avesta, que, assim como
Noé e sua família, repovoaram a terra após sua inundação.
[5]
“ Mensageiros de Deus”, em uma tradução paupérrima.
[6]
“ Jeová, o Deus de Abraão.”
[7]
Montículos de pedra levantados sobre dólmens.
[8]
Como era conhecida a antiga fortaleza hoje chamada Daulatabad, na cidade de
Aurangabad, Índia.
[9]
George Stanley Faber, teólogo anglicano do séc. XIX.
[10]
“Quarenta Colunas”. Persépolis, antiga capital do Império Persa.
[11] Hoje “Takht-e Sulaiman” (Trono de Salomão), um sítio arqueológico no Irã.

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MORAL E DOGMA

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