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Para citar este livro: ALMEIDA FLHO, José Carlos Paes de Para aprender melhor uma nova língua.

Aspectos da aquisição
só para jovens aprendizes. Brasília/UnB: Mimeo (2020). Para circulação interna somente.

Para aprender melhor


uma nova língua
na escola
Aspectos da aquisição só para jovens aprendizes.

José Carlos Paes de Almeida Filho


Universidade de Brasília
2019

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Sumário

Apresentação: algumas palavras


1 O barato de aprender uma nova língua
2 Primeira vez
3 Domar e aproveitar boas emoções
4 Conhecer a própria herança
5 Atitudes que ajudam (ou perturbam)
6 Coisas lá de fora
7 Boas condições para se “apanhar” a língua
8 A parte que me cabe
9 Adquirir e aprender
10 O que sabemos sobre o bom aprendiz
11 Estratégias que impulsionam
12 Roteiros para conhecer-se melhor
Navegar, navegar

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Algumas palavras para começar

Para mim que compus este livro o ensino de línguas funcionou de algum modo
desde os 13 anos. As línguas que aprendi desde o sexto ano escolar me
acompanharam a vida inteira. Elas marcaram o rumo da minha vida. Para V.
haverá também de dar bons resultados se a sua atitude for decidida.

Colecione palavras. Faça umas tiras com palavras e outras com frases para
pregar na parede perto de onde estuda. Estar animado é muito bom.
Mantenha-se assim, positivo(a), determinado. Perceber resultados em nós e nos
colegas de turma sempre nos anima. Busque resultados desde o início e
mantenha a força de vontade. Mas lembre-se de que adquirir uma nova
língua não é uma corrida de 100 metros. É mais longa e ela exige esforço e
persistência. Os resultados compensam.

Todas as línguas valem ser aprendidas. Sua mãe queria que V. aprendesse
Francês como ela tentou um dia na juventude? Faça o gosto dela, se puder,
mas peça para aprender outra que V. mesmo queira. Aprender uma primeira
língua estrangeira ajuda a aprender as próximas. Entre no clima. Faça de
conta que já está entre o clube dos falantes desse idioma. Converse, responda,
treine, invente, mesmo que só mentalmente por um bom tempo. Não fique
com medo de errar e vá avançando, mesmo que nem tudo saia bem o tempo
todo e, principalmente, no começo.

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1. O barato de aprender outra língua

É mágico! Falar e escrever palavras que parecem código secreto às pessoas e


elas entenderem V. dá uma emoção única. Isso dura pra vida toda, enquanto
a língua estiver viva para ser vivida.

Não faz mal memorizar parte dos textos prontos ou, melhor ainda, os que V.
compõe para salvar na cabeça. Passada uma lição, revise-a, ponha coisas na
memória e se dê momentos de redizer e reescrever trechos maiores entre as
aulas. Mesmo que seja tudo mentalmente, isso vale muito! Se tiver alguém
para compartilhar, tanto melhor!

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Deixe a professora ou professor ouvir V. e ler o que tenha escrito para ver se
está indo na linha certa.

Ache coisas para ler que não estejam muito além da sua compreensão. Leia e
ouça a língua nos espaços entre as aulas para não perder o jeito. Mantenha a
boa pressão sem perder a graça.

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2 Primeira vez

Ouça bem o que diz a professora ou professor. Peça para ela escrever coisas e
falar bastante com a turma na língua que estão aprendendo. Veja se V pode
anotar cumprimentos, palavras de ânimo, pequenos comandos, alguma
instrução para fazer uma tarefa. Repasse mentalmente as palavras e frases.

Ficar um pouco ansioso faz bem. Muita ansiedade paralisa e faz V. perder
chances.

Quando as palavras entram numa ordem nas frases, elas às vezes mudam um
pouco de pronúncia. Tente deixar seu ouvido ouvir o que não lhe parece
muito usual por causa do Português. Devemos ficar flexíveis e tentar ir
chegando aonde queremos na nova língua.

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3 Domar emoções

Às vezes não controlamos tudo que aprendemos ao começar a comunicar-nos


na nova língua. Às vezes dizemos o que não queremos e isso até parece
engraçado. Ria de você mesmo, se puder. Não ria dos outros nunca. Se puder
rir com eles, tudo bem.

Dê confiança aos colegas. Apoie-os


sempre que puder. Fale com eles,
escreva a eles na nova língua. Vale
arriscar deixar uma msg na língua
no Instagram deles. V. vai sentir que,
às vezes, V. está em situações um
pouco diferentes da sua
convencional. Preste atenção no
como as pessoas usam a nova língua. Imite-as, se quiser. Vá em frente!

Com o aprender um outro idioma vem junto uma nova cultura de viver e
fazer coisas. Respeite sempre as diferenças. Lembre-se de que V. também vai
parecer um pouco estranho ao começar a navegar nessa nova língua. Não
faça brincadeiras humilhantes. Deixe-se surpreender por coisas diferentes e faça
o registro mental delas associando língua em uso e a cultura que a
acompanha. Valorize a nova língua e cultura para ter algo com que se
identificar.

Ansiedade, só a boa! Demasiado ansiedade paralisa a capacidade de adquirir


naturalmente a nova língua. Se estiver fazendo progresso, sinta-se bem e se
valorize.

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4 Conhecer os próprios poderes

Conheça seu potencial para adquirir novas línguas. Não somos todos iguais
para aprender coisas. Às vezes, temos receio de falar na frente dos outros. Às
vezes somos muito bons em aprender regras de memória. Às vezes somos
ótimos para conversar e tirar proveito das oportunidades de interação que
temos. Se V. tem pelo menos um pouco ânimo para interagir, aumente suas
chances buscando usar a nova língua. Fale consigo mesmo, mentalmente. Veja
videos da internet na língua que está buscando aprender e ouça-os mais de
uma vez para confirmar o que V parece já estar compreendendo. Faça
anotações! Busque oportunidades para usá-las com as pessoas que estiverem
no mesmo caminho de aprendizagem.

Não tente aprender tudo de uma vez. Focalize momentos, modos de dizer as
coisas na outra língua. Não brigue com a natureza da língua que pretende
assimilar. Navegue na direção do vento!

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5 Atitudes que ajudam ou dão treta

Abertura, flexibilidade, boa vontade, entusiasmo e determinação ajudam!

Derrota antecipada (não vou conseguir aprender línguas na escola), entregar-


se cegamente nas mãos da professora ou do professor para que ela ou ele o
faça aprender, são coisas que só limitam e derrotam.

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6 Coisas de fora da gente

A escola, os colegas, a professora, o material didático, o ensino, o ambiente da


sala são todos eles coisas de fora.

Uma boa escola de línguas custa caro e se V. tem a sorte de ter uma chance
sem precisar que seus pais paguem extra por isso, não a desperdice. A escola
não tem de falhar e nem V. no esforço por aprender essa língua. Aproveite
tudo o que os professores organizaram para V. e mostre que está valendo a
pena. Se não estiver resultando, diga à professora que não está conseguindo ter
o resultado que ela esperava.

Os professores melhoram quando os alunos respondem.

O material do livro didático pode ser só a base para outras aventuras. Expanda
sua realidade se puder!

O ensino sozinho não instala a língua na gente. Somos nós os que aprendemos
que podemos fazer a língua ser “tragada” para dentro para podermos depois
usá-la de verdade na vida real. Na escola queremos adquirir o básico.

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7 Boas condições para se “apanhar” a língua

Ter a língua na sala o tempo todo é a primeira das condições. Mas há outras:
Buscar interagir na língua, não deixar a vergonha estragar suas chances,
ensaiar o uso da língua de cada lição e integrar lições na cabeça, em voz alta
ou mentalmente, interessar-se por um assunto ou matéria escolar apresentados
na língua que está sendo aprendida, entre outros.

Ter um exame em que V. possa mostrar que já sabe se comunicar na nova


língua ajuda muito. Coloque-se nas situações temáticas que viveu e fale delas,
escreva sobre elas. Repasse tudo na cabeça ou com colegas. Escreva coisas que
são típicas da escrita, escreva algo depois de ler texto sobre tópico de interesse.
Reveja os pontos que a professora ou professor destacaram em classe. Tente
integrá-los a sua produção.

Procure ler um livro longo ou ouvir vídeo com maior duração que a sua
compreensão alcance, mesmo que no início pareça impossível. Persista.

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8 A parte que lhe cabe

Se V não se dispuser a interagir com os outros não vai conseguir adquirir a nova
língua desenvolvendo a capacidade de compreender e produzir (falar e
escrever).

O professor ou a professora não pode adquirir a competência de uso e de


comunicação por você!

Compreender é meio caminho. A outra parte é produzir V mesmo o que já


puder compreender.

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9 Adquirir e aprender

Adquirir é saber dizer a coisa certa na hora e situação certas. É deixar que uma
capacidade de uso da nova língua se instale em você.
Aprender é racionar, saber explicar e memorizar. Adquirir é ganhar fluência,
dizer e saber ouvir com compreensão.

Para adquirir, precisamos compreender sem compreender tudo. Pequenas


porções da língua ficam pra ser entendidas depois. Aquilo que não conseguimos
compreender nos faz querer mais, ouvir mais, interagir mais e escrever e ler
mais.

Se atentarmos para o modo de organização das partes da língua,


aprenderemos mais do que adquirimos.

Aprender pode ser o plano B se não estivermos alcançando aquisição. Se V. ou


sua professora gostam muito de aprender gramática, lembrem-se de
diversificar. Há um jeito de focalizar mais a ação e o valor do que se diz que
não depende tanto da gramática e faz adquirir mais depressa.

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10 O que já se sabe sobre o “bom aprendiz”

A pesquisadora norte-americana Joan Rubin pesquisou o que faziam para adquirir bem
uma nova língua os estudantes mais bem sucedidos. Sabe o quê? Eles, em geral,

1. tratam a tarefa com vontade e desenvolvem uma maneira própria de dar conta
dela (usando um jeito próprio e técnicas preferidas);

2. adotam os objetivos do curso como seus, acrescentam objetivos próprios e,


ativamente buscam alcançá-los, adaptando os conteúdos do curso a sua própria
vida;

3. são abertos, sociáveis, não tensos, toleram eventual desorientação cultural e/ou
linguística e frustrações no início do estudo quando pinta o medo de parecerem
bobos perante os colegas e professores;

4. desenvolvem um certo jeito de organizar o aprendizado das línguas e aceitam as


singularidades delas

5. são bons adivinhadores; juntam pistas, arriscam hipóteses sobre a língua que está
sendo aprendida e buscam usá-las em todas as oportunidades que surgem;

6. buscam acima de tudo o significado – no contexto, na situação, nas explicações, na


tentativa e erro ou na tradução;

7. aproveitam cada oportunidade de prática ou uso da língua-alvo na sala ou nas


suas extensões em outros lugares;

8. tentam usar a língua-alvo em situações comunicativas um pouco além do nível


corrente de compreensão;

9. possuem auto-crítica e sensibilidade no uso da língua-alvo, monitorando-se apenas


quando necessário, e

10. esforçam-se por pensar na outra língua buscando separar bem na cabeça os sistemas das
duas línguas.

E você, como faz? Pense nos modos para aprender mais e melhor.

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11 Estratégias que dão impulso

As atividades interativas são as mais fortes. Use-as mais e sempre que puder.

Para pronunciar melhor, repita palavras das frases ditas pela outra pessoa.
Especialmente use a música das frases para melhorar a pronúncia. Veja, por
exemplo, como se faz para fazer perguntas e confirmar algo.

Quando não souber como se diz exatamente algo, use as palavras que
você já sabe e que mais se aproximem do sentido original.

Aprenda pequenas expressões comunicativas do inglês como: that’s it, well, let
me see, ok, really? Let’s go! That’s nice. Let me see. Yes or no?

Aprenda a dizer que ainda não aprendeu o suficiente para dizer bem as coisas.
Sorry! Not yet! I will learn more! Just you wait!

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12 Roteiro para conhecer-se melhor

Como estou aprendendo? Os resultados já aparecem?


Consegui aprender a tratar dos tópicos numa sequência que dá a impressão de
progresso e fluência?
Minha pronúncia vai bem? O que dizem os outros sobre o meu desempenho? O
que revela a professora?

Já gravei minha própria voz para comparar minha pronúncia com a de colegas
que parecem bons? Sei fazer comparações justas e das quais tiro proveito?

Leio sozinho em voz alta e com pronúncia cada vez melhor nas gravações?

Pude tirar proveito deste livro só para adquiridores e aprendedores?

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Navegar, navegar

O princípio mais útil é navegar e navegar sempre na língua que V. vai


buscar trazer para perto de si. E depois para morar em você!

Navegar faz você ser mais competente, corrige excessos, abre o canal da
comunicação para mais movimento, deixa a língua circular em sua
mente, tocar seu corpo e o fazer melhor. Na cultura, na educação, na
prática de comunicar-se em situações que nos valorizam para um
trabalho, o que é que já posso fazer na nova língua além de saber operar
um conjunto de regrinhas e palavras? Pergunte-se o que falta para
melhorar ainda mais o seu modo de aprender a interagir nessa nova
língua. Veja até onde quer chegar como falante desse idioma. Fale com a
sua professora ou com seu professor sobre seus avanços e dúvidas. Assim,
com a ajuda deles que são profissionais, você terá uma meta viva como
guia no caminho à frente.
A viagem terá recompensas, confie!

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