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NEUROBIOLOGIA DA

TERAPIA DO ESQUEMA
E O PROCESSAMENTO
MENTAL INCONSCIENTE

Marco Callegaro
Inconsciente de Freud

No início do século XX, Freud construiu uma


teoria sobre o inconsciente. Seu mérito foi
essencialmente organizar e desenvolver as
ideias que estavam circulando na literatura
em um sistema unificado.
Inconsciente dinâmico

Freud é o pai do conceito de inconsciente


dinâmico: conjunto de hipóteses sobre a
atividade psíquica consciente e
inconsciente (metapsicanálise).
Rejeição da comunidade científica

Inconsciente dinâmico foi


considerado insuficiente
como teoria científica por
não ser testável.
O livro negro da
Psicanálise

O livro Negro da Psicanálise: viver e


pensar melhor sem Freud. Organização
de Catherine Meyer. (Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011)
Expressões usadas na literatura sobre
processos inconscientes

“Memória implícita” (neurociências).

“Módulos mentais” (psicologia evolucionista).

“Percepção subliminar” (psicologia social).

“Processos automáticos” (psicologia cognitiva).


Surge o Inconsciente Cognitivo

A expressão “inconsciente cognitivo” foi


cunhada pelo psicólogo John
Kihlstrom (1987) em um artigo
publicado na revista Science.
Inconsciente cognitivo

Os conteúdos conscientes provêm do processamento de


informações. Não estamos conscientes do processamento
em si, somente do resultado.
Processamento mental inconsciente

A maior parte do
processamento realizado
pelo cérebro é inconsciente.
Só temos acesso consciente
a um resumo editado destas
informações.
Metáfora da mente como um
ceberg
Livro The New
Unconscious

Hassin Uleman Bargh

Livro The New Unconscious


(Hassin, R. R.; Uleman, J. S. & Bargh, J. A. Oxford: Oxford
University Press, 2005)
Amplia o inconsciente cognitivo em uma conceituação
cientificamente testável, uma Framework para compreender o
processamento inconsciente
Prêmio Jabuti: Livro do ano (2012)
Cerimônia de entrega do prêmio Jabuti
Apresentação no VII Congresso Mundial de Terapia
Comportamental e Cognitiva (WCBTC 2013)
A capacidade de processamento da
consciência depende da tarefa
desempenhada:
Ler silenciosamente (45 bits/seg)

Ler em voz alta (30 bits/seg)

Multiplicar dois números (12 bits/seg)


Estudos realizados para avaliar a
capacidade de processamento
humano (Norretranders, 1998).

Nosso inconsciente processa ao


total 11 milhões de bits a cada
segundo.
Capacidade de processamento
consciente: 50 bits a cada segund

O processamento inconsciente é
cerca de 200.000 vezes maior do
que o consciente (Dijksterhuis,
Aarts & Smith, 2005).
Consciente =
1

Inconsciente
200.000 X
Sentimentos conscientes e processamento
inconsciente segundo Antônio Damasio
Evolução de sistemas de memória
inconsciente
Caso
HM
Em 1953, um operário de linha de montagem chamado Henry, na época com
27 anos, teve sua porção medial do lobo temporal retirada em ambos os lados
do cérebro.

Desde os seus 16 anos, não conseguia trabalhar nem viver normalmente:


crises epilépticas.

A cirurgia foi um sucesso, e agora Henry podia controlar a epilepsia


somente com uso de anticonvulsivos.
Caso H.M.

O hipocampo e as estruturas
adjacentes do lobo temporal
medial foram lesionados
bilateralmente (i. é., em ambos os
hemisférios do encéfalo), no
paciente H.M. (região indicada
pela área sombreada).
Brenda Milner

Brenda Milner, a psicóloga


canadense que estudou H.M. e
descobriu o papel do lobo
temporal media na memória
humana.
Memória inconsciente de H.M.

O paciente H.M. aprendeu com sucesso a traçar entre os dois contornos de uma estrela olhando para
sua mão pelo espelho. Ele mostrou um desempenho que melhorava dia a dia nessa tarefa envolvendo
habilidade motora, embora a cada dia ele não recordasse haver executado a tarefa anteriormente.
Memórias inconscientes

Envolvem um grande leque de diferentes capacidades de memória que


compartilham “a notável característica de serem normalmente inacessíveis à mente
consciente. A evocação destes tipos de memória é completamente inconsciente”.
(Squire & Kandel, 2003, p. 36)
Eric
Kandel
“No entanto, o que é fascinante em relação à memória não declarativa é
que ela apresenta semelhança apenas superficial com o inconsciente
freudiano. O conhecimento não-declarativo é inconsciente, mas não
está relacionado a conflitos ou a desejos sexuais.”
Eric
Kandel “Embora alguém desempenhe com sucesso as tarefas
codificadas em sua memória não-declarativa, esse inconsciente
nunca se torna consciente.”
Eric
Kandel “Em virtude da característica inconsciente dessas formas de
memória, elas determinam muito da experiência humana.”
Eric
“Aqui se originam as disposições, hábitos e preferências
Kandel inacessíveis à recordação consciente, mas que, apesar disso,
são formados por eventos passados, influenciam nosso
comportamento e vida mental e constituem uma parte
importante daquilo que somos.”
Diferentes formas de memória
nconsciente
Habilidades motoras – córtex motor e córtex motor suplementar, neoestriado.

Habilidades sensoriais – maquinaria perceptual do córtex.

Priming ou pré-ativação – maquinaria perceptual do córtex.

Habituação – depressão das conexões sinápticas.

Sensibilização – facilitação das conexões sinápticas.


Diferentes formas de memória
nconsciente
Condicionamento clássico ou pavloviano – cerebelo (respostas motoras).

Condicionamento instrumental ou operante – neoestriado, córtex sensorial e motor.

Aprendizado de hábitos – núcleo caudado.

Memória emocional – amígdala.


Estruturas envolvidas na memória de habilidades
motoras
Memórias inconscientes: sensibilização e
habituação
A habituação envolve aprender a identificar e gradualmente ignorar um
estímulo que se repete, considerando estímulos familiares sem importância.

A base neural da habituação é um enfraquecimento na efetividade das


conexões entre os neurônios que reagem aos estímulos repetitivos.
Memórias inconscientes: sensibilização e habituação
Memória inconsciente da habituação

A habituação pode ser utilizada para estudar a percepção em recém-nascidos. Quando um bebê vê pela primeira vez um quadrado azul
novo, sua atenção visual é capturada pelo estímulo, e seus batimentos cardíacos e respiração diminuem. À medida que a apresentação
do quadrado azul se repete, o bebê aprende a ignorar o estímulo familiar, e suas respostas sofrem uma habituação. No entanto, quando
um quadrado vermelho novo é mostrado ao bebê, o novo estímulo irá imediatamente recapturar sua atenção visual, e suas frequências
cardíaca e respiratória diminuirão novamente. Dessa forma, os cientistas determinaram que um bebê pode distinguir uma cor de outra.
Unconscious memory and exposure: OCD
Exposição
Memórias inconscientes:
priming
O fenômeno intitulado de priming, ou pré-ativação, envolve uma melhora na
capacidade do sujeito de identificar estímulos como palavras ou objetos
depois de uma experiência prévia com eles.

Sua função principal é melhorar a percepção de estímulos encontrados


recentemente, permitindo um reconhecimento mais rápido.
Amígdal
a

Amígdala: controla sistema


simpático e também aciona
reação hormonal de luta ou
fuga.
Amígdal
a
Exemplo de
percepção
construtiva
Exemplos de Falsas
Memórias
Jean Piaget: o grande psicólogo suíço lembrava vividamente de um incidente
de infância, até descobrir que a história foi inventada por uma babá para
enganar os seus pais.

Psicólogo cognitivo Bernard Rangé: metáfora do filme Dersu Uzala de Akira


Kurosawa.
Falsas memórias em crianças

Em testes experimentais, crianças


são questionadas sobre eventos que
podem ter ocorrido anteriormente.
Crianças são mais suscetíveis a
distorções e imprecisões da
memória, especialmente quando
submetidas a questões direcionadas
e sugestões falsas.
Mecanismos neurais da TC
Ambas as terapias produziram os
mesmos efeitos: causaram uma
diminuição da atividade do núcleo
caudado do hemisfério direito.

Baxter e colegas (1992). Caudate glucose metabolic rate changes with both
drug and behavior therapy for obsessive-compulsive disorder.
Psicoterapia e funcionamento neural

Ambos os tratamentos
reduziram a atividade
da amígdala.

Furmark e colegas, (2002). Common changes in cerebral blood flow in patients with social phobia
treated with citalopram or cognitive-behavioral therapy.
“Uma amígdala hipersensível está associada
com um padrão de vieses cognitivos negativos
e crenças disfuncionais. Uma combinação de
amígdala hiper-reativa e regiões pré-frontais
hipoativas estão associadas com avaliação
cognitiva negativa e ocorrência de depressão”
(Beck, 2008).
A amígdala de pacientes depressivos apresenta elevada atividade, ocasionando
vieses na avaliação e interpretação de estímulos emocionalmente carregados, e
até mesmo na expectativa de estímulos ameaçadores. (Siegle et al., 2007;
Johnstone et. al., 2007; Abler et. al., 2007)
O foco seletivo nos aspectos negativos da
experiência resulta nas distorções cognitivas
como personalização, supergeneralização e
exagero.

Formação de atitudes disfuncionais em


relação a visão do self (sou inaceitável,
inadequado).
Papel do processamento inconsciente

“Os esquemas cognitivos negativamente


enviesados funcionam como processadores de
informação automáticos. O processamento
enviesado é rápido, involuntário, e pleno em
recursos. A dominância deste sistema pode
causar os vieses negativos atencionais e
interpretativos”. (Beck, 2008)
Pensamento

Emoçã
o

Fisiologi Comportament
a o
EIXO HPA do STRESS:
Hipotálamo libera CRF – Pituitária (ou
Hipófise) libera ACTH – Adrenal libera
Adrenalina e Cortisol – atingem
receptores no cérebro e corpo.
Simpático Parassimpático

Ansiedade Relaxamento
Medo, ansiedade (TAG), Pânico, paranoia, fobia
simples e social, TOC e TEPT = acionamento
errôneo.
Controle

Ansiedade

Depressão
Papel do processamento consciente

“O papel do sistema de controle


cognitivo (consistindo de funções
executivas, solução de problemas e
reavaliação) é atenuado na depressão.
A operação deste sistema é deliberada,
reflexiva e necessita esforço (demanda
recursos), pode ser reativada em
terapia e ser utilizada para avaliar as
falhas na interpretação.”
Estudo dos neuropsicólogos Ochsher e
Bunge
Ressonância magnética funcional (fMRI).

Exibiam imagens chocantes:

1. Cirurgias.

2. Crianças com doenças fatais.

3. Cães bravos mostrando os dentes.


Estudo dos neuropsicólogos Ochsher e
Bunge

Um grupo apenas contemplava as imagens.

Outro usava técnica de reestruturação


cognitiva:

1. Ex.: “Imagine o que o bebê doente logo estará


curado”.

2. Ex.: “O cachorro está bem longe de você,


contido por uma cerca alta”.
Estudo dos neuropsicólogos Ochsher e Bunge:
resultados

Córtex pré-frontal revelou nítido aumento de atividade.

Amígdala e sistema límbico em geral mostraram


redução na atividade.

Participantes sentiram menos medo.

Atividade reduzida do sistema nervoso autônomo.


Pensamento automático

Crença intermediária

Crença central
Exemplo clínico: transferência

Nesse e Lloyd (1992):


Conjunto de expectativas sobre as
outras pessoas (ESQUEMAS)
originados das repetidas interações
com o mundo social inicial.
Exemplo clínico: transferência

Transferência é um processo inconsciente.

Se caracteriza pela generalização de


memórias implícitas da situação original
para uma situação atual.
Pacientes com Transtornos de Personalidade

Estes pacientes interagem com o


terapeuta da mesma forma desadaptativa
que utilizam ao interagir com as pessoas
de seu contexto interpessoal.
“Percebe o significado das ações de outras
pessoas a partir de expectativas generalizadas
de interações com os outros ou esquemas
interpessoais, os quais são baseados em
experiências passadas” (Jeremy Safran).
Pensamento

Emoção
Adrenaline X Oxytocin

Fight or flight X Calm and connection


Oxitocina e relação terapêutica
Jeffrey Young – Expansão da teoria inicial da TC
de curto prazo: Terapia do Esquema
Jeffrey Young – Expansão da teoria inicial da TC
de curto prazo: Terapia do Esquema

A terapia focada no esquema compartilha os elementos que caracterizam a terapia cognitiva:

Papel mais ativo para o terapeuta.

Uso de técnicas de mudança sistemáticas.

Ênfase nas tarefas de casa.

Relacionamento terapêutico colaborativo.

Uso de uma abordagem empírica.

Análise das evidências.


Ênfase da Terapia do Esquema
O modelo desenvolvido por Young enfatiza:

1. Confrontação.

2. Experiência afetiva.

3. Relacionamento terapêutico.

4. Discussão de experiências iniciais da vida.

A terapia focada em esquemas:

1. Mais longa do que a TC.

2. Mais tempo do que TC para identificar e superar a evitação cognitiva, afetiva e comportamental.
Cinco construtos da Terapia do Esquema

Jeffrey Young propõe cinco construtos teóricos para expandir o modelo cognitivo de Beck:

Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs).

Domínios dos esquemas.

Manutenção do esquema.

Evitação do esquema.

Compensação do esquema.
Os Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs)
ou esquemas primitivos

“Crenças e sentimentos incondicionais sobre si mesmo em relação ao ambiente”.

Representam o nível mais profundo da cognição.

“Operam de modo sutil, fora de nossa consciência”.

“Temas extremamente estáveis e duradouros que se desenvolvem cedo durante a


infância, são elaborados ao longo da vida e são disfuncionais em um grau
significativo”.
Os Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs)
ou esquemas primitivos

EIDs compõe núcleos profundos do self refletidos na autoimagem tácita, como


uma visão de si mesmo orgânica e inquestionável.

São rígidos e incondicionais. Exemplo: quando o paciente sente que não importa o
que possa fazer, não será amado, mas sim abandonado e traído. O sujeito percebe
o EID como uma verdade a priori, irrefutável e aceita como uma realidade
intrínseca, essencial.
A definição revisada e compreensiva do EID
Young e colaboradores (2003)

Um padrão amplo e pervasivo.

Composto de memórias, emoções, cognições e sensações corporais.

Envolvendo a si mesmo e a relação com os outros.

Desenvolvido durante a infância ou adolescência.

Elaborado através da trajetória de vida da pessoa.

Disfuncional em grau significante.


Outras características importantes dos EIDs

Caráter autoperpetuador.

Resistência à mudança.

Mesmo que o sujeito seja enormemente bem sucedido na vida, isto não
acarretaria alteração do esquema disfuncional.

Os EIDs são o núcleo da autoimagem, e vão realizar uma série de manobras


cognitivas, distorcendo o processamento para manter os esquemas.

São, na realidade, um sistema de expectativas rígidas sobre si mesmo e o mundo.


Disfuncionalidades produzidas pelos EIDs

Os Esquemas Iniciais Desadaptativos implicam em disfuncionalidade importante:

Geram transtornos mentais ou sofrimento psicológico subclínico.

São ativados por eventos significativos para a pessoa.

Exemplo: uma atribuição difícil para uma pessoa com esquema de fracasso pode
acionar pensamentos autoderrotistas com elevada carga emocional (“não vou
conseguir” ou “vou falhar e ser demitido”).
Papel da Genética na gênese dos EIDs

A Terapia do Esquema reconhece o papel das influências genéticas na gênese dos EIDs:

“Resultado do temperamento inato da criança interagindo com experiências


disfuncionais com pais, irmãos e amigos durante os primeiros anos de vida”.

Visão menos brusca e mais gradual do desenvolvimento.

Rejeita, em certa medida, a ideia de acontecimentos traumáticos isolados como


origem exclusiva dos esquemas.
EIDs são “provavelmente causados por padrões continuados de experiências
nocivas cotidianas com membros da família e outras crianças, que
cumulativamente reforçam o esquema”.

Noção de círculos viciosos desenvolvimentais Nature x Nurture.

Psicólogo do desenvolvimento Jeremy Kagan: Identificou traços temperamentais


presentes na infância notavelmente estáveis ao longo desenvolvimento.
Dimensões do temperamento emocional
Adaptado de Young, Klosko e Weishaar (2003, p. 12)

Largamente inatas.
Lábil Não-reativo
Resistentes à mudança.
Distímico Otimista

Ansioso Calmo

Obsessivo Distratibilidade

Passivo Agressivo

Irritável Contente

Tímido Sociável
Temperamento emocional

Temperamento emocional interage com eventos dolorosos vivenciados pelo sujeito na


formação dos EIDs.

Diferentes temperamentos expõem a criança seletivamente a diferentes circunstâncias


de vida.

Uma criança agressiva tem, devido ao seu temperamento, maior probabilidade de


despertar reações agressivas e espancamento de um pai violento do que outra,
passiva e tímida.

Dadas as mesmas condições ambientais, diferentes temperamentos desembocam em


diferentes suscetibilidades às circunstâncias.
Exemplo clínico
Exemplo: Dois garotos passam por rejeição materna.

Aquele com temperamento tímido torna-se acabrunhado e fechado, cada vez mais
dependente de sua mãe.

Já o outro, de temperamento mais sociável, se aventura mais e estabelece conexões


mais positivas, o que pode aumentar sua resiliência ao abuso e à negligência.

Um temperamento excepcionalmente favorável pode suplantar um meio prejudicial.

Um ambiente extremamente prejudicial pode superar um temperamento com


tendências favoráveis.
Cinco tarefas desenvolvimentais
Cinco tarefas desenvolvimentais primárias que a criança necessita realizar para
se desenvolver de forma sadia:

1. Conexão e aceitação.

2. Autonomia e desempenho.

3. Auto-orientação.

4. Limites realistas.

5. Autoexpressão, espontaneidade e prazer.

Em função de predisposições temperamentais e experiências parentais e sociais


inadequadas, a criança pode desenvolver EIDs em um ou mais domínios de
esquema.
Desenvolvimento de EIDs e domínios

Problemas no estabelecimento de conexão com as outras pessoas e de um


sentimento de aceitação por parte dos outros leva a desenvolver EIDs no domínio
Desconexão e Rejeição.

Dificuldades na aprendizagem de autocontrole e senso de limites podem induzir


EIDs no domínio Limites Prejudicados, e assim por diante.
Três respostas à ameaças

Todos os organismos apresentam basicamente três respostas quando percebem uma


ameaça: luta, fuga ou congelamento (freeze).

Ameaça é a frustração de uma necessidade emocional profunda no desenvolvimento


afetivo da criança (como ligação segura com os outros ou autonomia).

Criança responde com um estilo de enfrentamento (coping style) que em princípio é


adaptativo, mas torna-se disfuncional.

O que era adaptativo na infância é desadaptativo para o adulto, e o paciente fica


aprisionado na rigidez de seu estilo de enfrentamento.
Comportamento depende do estilo de
enfrentamento

Os estilos de enfrentamento desadaptativos servem como elementos importantes


da perpetuação dos mesmos.

É importante notar que os esquemas contêm “memórias, emoções, sensações


corporais e cognições”, mas não envolvem as respostas comportamentais.

O comportamento não é parte do esquema, é parte do estilo de enfrentamento.


Pensamento automático

Crença intermediária

Crença central

Esquemas Iniciais
Desadaptativos
Memória implícita

Para compreender o funcionamento da Terapia do Esquema, é fundamental


entender a memória implícita, também chamada de não-declarativa ou
inconsciente.

Substrato teórico fundamental para compreender cognições que não são


acessíveis à percepção consciente do paciente.
Diferença entre memória implícita e explícita

Memória explícita é aquela que se refere a uma lembrança consciente de algum


episódio prévio, onde o sujeito lembra deliberadamente de algum aspecto da
experiência quando questionado.

Em contraste, uma memória implícita é demonstrada por qualquer mudança no


pensamento ou ação que é atribuível a alguma experiência passada, mesmo sem
lembrança consciente do evento ocorrido.
Sistema consciente

De acordo com LeDoux, existem dois sistemas que operam em paralelo.

Estocam diferentes tipos de informação relevante para a experiência de


aprendizagem de medo.

Um dos sistemas é consciente, implicando em uma representação explícita ou


declarativa, e é mediado pelo hipocampo e áreas corticais relacionadas.
Sistema inconsciente

O outro é inconsciente, e se processa através da amígdala, gerando memórias


implícitas ou não-declarativas.

As memórias conscientes e inconscientes são recuperadas quando, mais tarde,


encontramos os estímulos relacionados a uma experiência traumática.
Recuperação de memórias inconscientes

A memória consciente desemboca em lembranças da situação que o sujeito tem


pleno acesso.

Recuperação das memórias inconscientes: expressão de mudanças corporais


que preparam o organismo para o perigo.
Sistema da amígdala x sistema do hipocampo

Existe uma memória emocional e uma memória cognitiva do mesmo evento


traumático.

As respostas emocionais podem ser disparadas sem a participação dos centros


superiores de processamento neural envolvidos no pensamento consciente e
avaliação racional.

O sistema da amígdala tem atributos diferentes do sistema do hipocampo e


córtices superiores
Sistema da amígdala x sistema do hipocampo

O acionamento de um esquema emocional é mediado pelo sistema da amígdala.

O pensamento racional e a reflexão consciente são produtos de um processamento


que envolve os córtices superiores e o sistema hipocampal.
Sistema da amígdala x sistema do hipocampo

Emoções são desencadeadas mais rapidamente e podem existir independentemente


das avaliações racionais e pensamentos conscientes característicos dos níveis de
processamento superior cortical.

As memórias emocionais de experiências traumáticas permanecem conosco para o


resto de nossas vidas, inscritas na amígdala.

Podem ser inibidas e controladas pelo córtex pré-frontal.


Exemplo clínico:

Se um sujeito encontra os estímulos remanescentes da situação de infância que


ocasionou o desenvolvimento do esquema, as emoções e sensações corporais
associadas com o evento são acionadas inconscientemente pelo sistema da
amígdala; ou, se o indivíduo está consciente deste processo, as emoções e as
reações corporais são ativadas mais rapidamente do que os pensamentos e
avaliações conscientes.
Via rápida
O grupo de LeDoux verificou que a informação viaja
rapidamente (doze milissegundos) por uma via direta desde
o tálamo até o núcleo basolateral da amígdala.
Livro clássico
Via lenta

Via mais longa do tálamo ao córtex, que pode fazer distinções mais
elaboradas, leva dezenove milissegundos (cerca de 65% a mais de duração).
Amígdala
Via rápida e lenta
Convivendo com os EIDs ao longo da vida

Esta ativação das emoções e reações corporais se processa automaticamente e


provavelmente permanecerá presente na vida do indivíduo, embora o grau de
ativação possa diminuir significativamente com o manejo do esquema.
Memórias conscientes

As memórias e cognições conscientes associadas com o trauma, em contraste,


são estocadas no sistema hipocampal e córtices superiores.
Três respostas à ameaças

Todos os organismos apresentam basicamente três respostas quando percebem uma


ameaça: luta, fuga ou congelamento (freeze).

Ameaça é a frustração de uma necessidade emocional profunda no desenvolvimento


afetivo da criança (como ligação segura com os outros ou autonomia).

Criança responde com um estilo de enfrentamento (coping style) que em princípio é


adaptativo, mas torna-se disfuncional.

O que era adaptativo na infância é desadaptativo para o adulto, e o paciente fica


aprisionado na rigidez de seu estilo de enfrentamento.
Três estilos de enfrentamento dos EIDs

As respostas comportamentais de luta, fuga ou congelamento correspondem aos


três estilos de enfrentamento dos EIDs:

1. Supercompensação – LUTA

2. Subordinação (“surrender”) – FUGA

3. Evitação do esquema – CONGELAMENTO

Os três estilos de enfrentamento geralmente operam inconscientemente, e em


cada situação, o paciente provavelmente utiliza um deles, mas pode exibir
diferentes estilos de enfrentamento em diferentes situações ou com diferentes
esquemas.
Diferenças entre o sistema do hipocampo e córtices
superiores e sistema da amígdala

Processamento Processamento
Sistema do Sistema da
consciente inconsciente
hipocampo/córtex amígdala
Consciente (memória explícita). Inconsciente (memória implícita).

Lento (via mais lenta tálamo-córtex). Rápido (via rápida tálamo-amígdala).

Flexibilidade de resposta mediada pela Automático (avaliação de perigo


reflexão e escolha consciente. aciona emoções e reações corporais).

Maior transitoriedade e facilidade de Permanente (memórias resistentes à


esquecimento com o tempo. extinção).

Representações mais detalhadas e Representações simples e cruas do


acuradas do mundo. mundo (não faz discriminações finas).

Mais recente na evolução. Antigo (conserva-se ao longo da


evolução).
Autoconhecimento dos EIDs

O terapeuta ajuda os pacientes a identificar seus esquemas e se tornar


consciente das memórias, emoções, sensações corporais, cognições e
estilos de enfrentamento associados com estes esquemas.
Reinventando sua vida

O autoconhecimento sobre os esquemas e estilos de


enfrentamento permite que o paciente exerça certo controle
sobre suas reações, aumentando seu poder de escolha e
deliberação consciente, exercitando seu livre arbítrio em
relação aos esquemas emocionais.
Terapia do Esquema e circuitos cerebrais
LeDoux teorizou que a psicoterapia é uma maneira de reconfigurar
os circuitos cerebrais que controlam a amígdala, em cujos circuitos
as memórias emocionais estão indelevelmente gravadas.
Controle consciente X inconsciente

O córtex pré-frontal pode controlar a amígdala e regular sua expressão.

A meta do tratamento é aumentar o controle consciente sobre os esquemas,


trabalhando para enfraquecer as memórias, sensações corporais, cognições e
comportamentos associados com os mesmos.
Reavaliando as situações

O treinamento com técnicas de Terapia do Esquema vai mudando o


circuito neural de processamento esquemático, permitindo que o
cérebro executivo do córtex pré-frontal reavalie as situações.
Automatizando os novos padrões de reações

No início da terapia, é necessário esforço e atenção consciente.


Com o treinamento cognitivo, os novos padrões de atribuição de
significado vão se tornando inconscientes.
Construindo um inconsciente saudável

A repetição do processamento nestas vias diferentes cria novos


hábitos mentais, onde automatismos mais funcionais substituem
os esquemas desadaptativos.

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