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4. Bioenergética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.1 Metabolismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
5. Metabolismo de carboidratos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.1 Funções e fontes nutricionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.2 Classificação dos carboidratos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.2.1 C
lassificação dos carboidratos estabelecida pela quantidade de
carbonos na molécula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.2.2 Classificação dos carboidratos estabelecida por sua biodisponibilidade 37
5.2.3
C lassif icação dos car boidratos estabelecida pelo te mpo de
digestão e absorção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5.3 Regulação hormonal da glicose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5.4 Índice glicêmico e carga glicêmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
7. Lipídios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
7.1 Estrutura química . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
7.2 Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
7.3 Fontes alimentares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
7.3.1 Gorduras saturadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
7.3.2 Gorduras insaturadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.3.3 Ácidos graxos do tipo TRANS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.3.4 Colesterol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.3.5 Ácidos graxos essenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
INTRODUÇÃO À NUTRIGENÔMICA E À METABOLÔMICA
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Figura 1 – Interações entre o consumo alimentar e a modulação gênica, representados
pela nutrigenômica e nutrigenética.
A nutrigenômica é baseada em três frentes, formuladas para que se entenda como um nutracêutico
pode agir na alteração metabólica:
Alguns alimentos funcionais e seus efeitos na prevenção de doenças estão citados no quadro 1.
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Quadro 1 – Nutrientes e suas fontes alimentares, com potencial ação na prevenção de doenças crônicas.
Nutrientes Fontes Funções
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A expressão gênica pode ser alterada por nutrientes e compostos bioativos dos alimentos,
como as vitaminas A e D e os ácidos graxos. Alguns genes que potencialmente são alterados pela
ingestão de ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) estão listados no quadro 2. Compostos bioativos,
como resveratrol e genisteína podem alterar a sinalização celular indiretamente, por serem capazes
de gerar mudanças transcricionais. Já o ferro e o β-caroteno são capazes de gerar mudanças na
estabilidade do RNA mensageiro ou mesmo na tradução deste em proteínas, caracterizando ações
pós-transcricionais (FIALHO, MORENO e ONG, 2008).
Interação
Proteína Função Polimorfismos Alteração funcional
com alimento
Nota: os sinais (+++) referem-se ao maior grau de intensidade do evento; (--) referem-se ao grau
intermediário; (+) refere-se ao baixo grau de intensidade. Já o símbolo (↓) refere-se à redução.
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1.2 Nutrição personalizada
Futuramente, a avaliação nutricional e a prescrição dietética serão individualizadas de acordo
com o genoma e variações genéticas de cada um. Os dados genéticos fornecidos pela genotipagem
poderão ser utilizados para estabelecer uma dieta ideal, objetivando a diminuição do risco de
doenças. A nutrição personalizada, segundo Ordovas et al. (2018), pode ser baseada em:
Assim como em outros campos científicos ainda em seu desenvolvimento inicial, diversos
conceitos e descritores são usados na nutrição personalizada, às vezes, sem uma definição rigorosa.
Além do termo “nutrição personalizada”, muitos outros são usados, por exemplo, nutrição de precisão,
nutrição estratificada, nutrição personalizada e nutrição individualizada. Segundo Ordovas et al
(2018), os descritores podem ser agupados da seguinte forma:
• Nutrição estratificada (stratified nutrition) e nutrição adaptada (tailored nutrition) são semelhantes
(se não sinônimos). Essas abordagens tentam agrupar indivíduos com características
compartilhadas e fornecer intervenção/aconselhamento nutricional adequado a cada grupo.
• Nutrição personalizada (personalised nutrition) e nutrição individualmente adaptada (individually
tailored nutrition) significam conceitos semelhantes e dão um passo além ao tentar fornecer
intervenção/aconselhamento nutricional adequado a cada indivíduo.
• Nutrição de precisão (precision nutrition) é o mais ambicioso dos descritores. Sugere que é
possível ter uma compreensão quantitativa suficiente sobre as relações complexas entre um
indivíduo, seu consumo alimentar e seu fenótipo (incluindo a saúde) para oferecer intervenção/
aconselhamento nutricional, que é sabidamente benéfico individualmente. O grau de certeza
científica necessário para a nutrição de precisão é muito maior do que o exigido para as outras
abordagens.
• Expossoma (exposome) é a coleta de fatores ambientais, como estresse, atividade física e
dieta, aos quais um indivíduo está exposto e que podem afetar a saúde.
À medida que nos movemos de estratificado para personalizado, e para nutrição de precisão,
torna-se necessário considerar mais e mais dimensões, ou características, para alcançar o objetivo
desejado. Por exemplo, a estratificação pode ser realizada usando um ou alguns fatores, como idade,
sexo ou status de saúde. Em contraste, dada a complexidade das relações entre a dieta individual e o
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fenótipo, e a implantação de uma ampla gama de dimensões/características, talvez fosse necessário
incluir abordagens de big data (análise computacional de grande volume de dados), para alcançar
o objetivo da nutrição de precisão. Uma exceção a essa ampla generalização é o gerenciamento
de erros inatos do metabolismo, como a fenilcetonúria, caso em que a “nutrição de precisão” pode
ser obtida usando informações sobre uma única característica, isto é, genótipo.
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Figura 2 – Representação da estrutura química de um nucleotídeo.
NUCLEOTÍDEOS
Um nucleotídeo é constituído por uma base
contendo nitrogênio, um açúcar de cinco
carbonos e um ou mais grupos fosfato.
BASE
NH2
N
FOSFATO
O
N O
_
O P O CH2
_ O
O
H H
H H
Os nucleotídeos são as
subunidades dos OH OH
ácidos nucleicos. AÇÚCAR
Existem cinco tipos diferentes de nucleotídeos, mas apenas quatro compõem a cadeia de DNA.
São eles: citosina, guanina, adenina e timina. No RNA, a timina é substituída pela uracila. Eles diferem
entre si pela composição e forma de ligação das bases nitrogenadas, como demonstra a figura 3.
Base
Açucar
Base
P
Açucar
Figura 4 – Dupla fita de DNA, fita simples de RNA (que unem os nucleotídeos na mesma fita)
e ligações iônicas (entre as fitas).
Bases Bases
Nitrogenadas
Nitrogenadas `
S
`
S
CG
CG AT
AT
Citosina C C Citosina
NH2 NH2
H C C
C N H
C N
C C C C
H N O H O
N
H H
Guanina G Guanina
O O
C H C H
N N
C N C N
H H H H
C C H C C H
N N
N N N N
H H H H
C C
N N
C C N
H C
N
Esqueleto H C
N
C C de açúcar N
C
N
C
H
N N
e fostato H
H
Timina T U Uracila
O
O
C H
H3C H C H
C N C N
C C C C
H H
N O N O
H
H
DNA RNA
Ácido Desoxiribonucléico Ácido Ribonucléico
Fonte: <https://www.sobiologia.com.br/conteudos/figuras/quimica_vida/dna7.png>.
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As bases nitrogenadas se unem umas às outras por interações entre suas moléculas. Dessa
forma, cada base faz ligação com outra base específica, portanto, a ligação entre bases ocorre
sempre de forma fixa:
Adenina – Timina
Citosina – Guanina
Em alguns organismos complexos, como os seres humanos, a cadeia de DNA está condensada
nos cromossomos, dentro do núcleo celular. A espécie humana possui 23 pares de cromossomos,
sendo 23 cromossomos herdados da mãe e 23 cromossomos herdados do pai. A fita dupla de DNA
condensada nos cromossomos representa nosso código genético e possui todas as informações
necessárias sobre o funcionamento do organismo.
O DNA se comporta como um grande livro de receitas, pois possui em seu código genético a
sequência de aminoácidos necessária para a formação de todas as proteínas, peptídeos e compostos
proteicos do organismo. Cada “receita” contida no DNA é chamada de gene. Existem no DNA humano
cerca de trinta mil genes diferentes.
Toda vez que uma célula necessita de uma proteína, ela acessa o gene presente no DNA, no
núcleo celular, e produz um RNA mensageiro, ou seja, a cópia do gene desejado. Entretanto, para
acessar um gene, a célula precisa de uma “chave” especial de acesso, ou um fator de transcrição.
Fonte: ChrisChrisW/Istock
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Expressão gênica corresponde às etapas que resultam na síntese de uma proteína. Como listado
por Jacob et al. (2013), esse processo compreende as seguintes fases:
Fatores de transcrição são peptídeos ou proteínas que se ligam ao DNA de células eucarióticas
para permitir que haja uma ligação entre a enzima RNA polimerase e o DNA, permitindo, assim, a
transcrição e a futura tradução.
O DNA encontra-se enovelado em histonas, as quais são proteínas com carga positiva e por isso
são atraídas ao DNA, o qual possui carga negativa. Para que ocorra o início da transcrição, ocorre
um afrouxamento dessas ligações (histonas–DNA). Nas regiões promotoras, as quais antecedem
o local de início da transcrição, ocorre a ligação de fatores de transcrição às regiões-consenso,
seguida pela ligação da RNA polimerase II. As etapas envolvidas na transcrição são: reconhecimento,
iniciação, extensão e terminação. Esse processo ocorre pela leitura do DNA pela RNA polimerase e
consequente incorporação de nucleotídeos, formando o RNA mensageiro. Após a ligação da RNA
polimerase ao gene, as fitas duplas se separam e a enzima faz a transcrição do gene, copiando
a cadeia de nucleotídeos de forma inversa, obedecendo sempre às ligações base–base, como
mostrado na figura 6. Como a cadeia a ser sintetizada é de um RNA, este não contém timina na
sua composição e, sim, uracila, um nucleotídeo similar. Assim, a cadeia de RNA será formada de
forma inversa ao DNA e será adicionado uma uracila ao invés de uma timina.
Em seguida, este será processado através da retirada de sequências de nucleotídeos que não
codificam proteínas, os íntrons, mantendo apenas as sequências codificantes, os éxons. A retirada de
íntrons é conhecida como splicing. A reorganização de éxons pode resultar em proteínas diferentes.
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Figura 6 – Ação da RNA polimerase no DNA.
3’
5’
Pequena região
de hélice de DNA/RNA
Transcrito de RNA
recém-sintetizado Dupla-hélice de
DNA a jusante
3’
5’ 5’
Fita-molde
de DNA
Mg2+ no
sítio ativo Canal de entrada
do ribonucleosideo
RNA-polimerase trifosfato
A molécula de RNA mensageiro segue para fora do núcleo, em direção ao ribossomo localizado
no citoplasma. A figura 7 apresenta um resumo da transcrição e tradução gênica.
Transcrição Tradução
Proteína
DNA RNAm
Fonte: ttsz/Istock
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Cada códon liga-se ao anticódon específico de um RNA transportador (RNAt) e o aminoácido
que está ligado à extremidade CCA do RNAt se liga ao outro aminoácido do RNAt, ou seja, ocorre
uma ligação peptídica entre os dois aminoácidos dos RNAts na subunidade maior do ribossomo.
O ribossomo, ou RNAm se desloca (se o RNAm liga-se à subunidade menor de um ribossomo
“solto” no citoplasma, o ribossomo move-se, mas se o RNAm liga-se à subunidade menor de um
ribossomo que está na parede do retículo endoplasmático rugoso, o RNAm move-se), até onde o
primeiro códon é descoberto e o códon seguinte é coberto. Neste, ocorre o mesmo processo já
citado, e por aí vai, até o códon terminal (o último códon do RNAm). Formou-se, nesse processo,
uma cadeia de aminoácidos – a proteína. O processo acaba no códon terminal porque este não
tem um anticódon correspondente, cessando o processo de síntese proteica. Existem 64 códons
diferentes, se tomarmos todas as combinações de 3 nucleotídeos, utilizando-se 4 códons diferentes.
Portanto, cada aminoácido tem, pelo menos, dois códons diferentes equivalentes. A figura 8 ilustra
os aminoácidos e todos os códons equivalentes.
Segunda letra
do códon
U C A G
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Receptores nucleares são fatores de transcrição regulados por ligantes e alteram a expressão
gênica. Esses ligantes podem ser hormônios – hormônio tireoidiano, progesterona, estradiol,
testosterona, aldosterona e cortisol, e também as formas ativas das vitaminas A e D e dos lipídios
oriundos da dieta. Também existem os receptores nucleares conhecidos como órfãos, porque ainda
não possuem ligantes conhecidos.
Rev-erb-β Órfão
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Nome Abreviação Ligante
FXR-β Lanosterol
HNF4-γ Órfão
TR-4 Órfão
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Nome Abreviação Ligante
Aconteceu
Em entrevista para a revista CERES: Nutrição e Saúde a professora Flávia Fioruci Bezerra discorre
sobre as intereções entre gene e dieta e o cenário de pesquisas sobre o assunto. Para mais
detalhes, acesse: <http://departamentos.cardiol.br/sbc-da/2015/publicacoes/atheros32002/03-
Metabolismo%20dos%20quilm%C3%ADcrons.pdf>.
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2. BASES BIOLÓGICAS E METABÓLICAS DA NUTRIGENÔMICA
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Myoglobin.png>.
Alterações do DNA que geram mudança na sequência de aminoácidos de uma proteína são
chamadas mutações. De fato, todas as alterações do DNA são mutações, contudo, apenas aquelas
capazes de alterar a proteína e, dessa forma, serem mensuráveis, são as mutações consideradas
relevantes. Mutações silenciosas não alteram a proteína, por conseguinte, não acarretam mudanças.
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A variação genética ocorre quando as mutações causam algum efeito na proteína, entretanto, essa
alteração não é suficiente para gerar uma doença.
Dessa forma, um gene pode apresentar mais de uma sequência de nucleotídeos e essas variações
de um único gene são chamadas polimorfismo. Os polimorfismos explicam as variações fenotípicas
observadas entre indivíduos de uma mesma espécie, como é o caso dos seres humanos. Estes,
embora tenham cerca de 99,9% de semelhança genética, diferem entre si fisicamente. O polimorfismo
de nucleotídeo único (SNP, do inglês single nucleotide polymorphism), ou seja, a substituição de
apenas uma base, é o tipo de polimorfismo mais conhecido. O polimorfismo C677T ocorre pela
substituição de citosina por timina na posição 677 do gene MTHFR, o qual codifica a enzima
metileno tetrahidrofolato reductase, responsável por converter a homocisteína em metionina. Essa
substituição de bases no gene resulta na síntese de uma enzima com menor atividade, por isso,
indivíduos com esse SNP podem necessitar de maior ingestão de ácido fólico. Outro polimorfismo
conhecido é aquele presente no gene que codifica a apolipoproteína-A1 (APOA1), a proteína em maior
quantidade na HDL (lipoproteína de alta densidade). Esse polimorfismo tem potencial de modificar
os níveis séricos dessa lipoproteína, de acordo com a ingestão de ácidos graxos poli-insaturados
(DeBUSK et al., 2005; FIALHO, MORENO e ONG, 2008).
• Herança mendeliana;
• Herança mitocondrial;
• Herança epigenética.
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A herança mitocondrial corresponde ao DNA presente nas mitocôndrias, o qual é capaz de
codificar um pequeno número de proteínas. Em geral, a herança mitocondrial é transmitida da mãe
para seus descendentes.
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Nos últimos anos, surgiram diversos trabalhos mostrando uma correlação entre o consumo
alimentar e a quantidade de biomarcadores circulantes. Atualmente, já existem biomarcadores
putativos para uma variedade de alimentos, entre eles, carne vermelha, café, nozes, vinho, verduras,
legumes, frutas cítricas, chá e bebidas adoçadas com açúcar. Contudo, diversos biomarcadores
ainda precisam de estudos de validação.
1,00
0,90
Ingestão
Prolinabetaína (mmol/L)
0,80
0,70
alimentar 0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
Consumo de laranja (gramas)
Biomarcadores
Perfil metabólico
Padrões
dietéticos
Classificação dos padrões dietéticos
Curiosidades
O consórcio FoodBall atualmente realiza uma revisão completa desses biomarcadores putativos. Para
mais detalhes, acesse o portal do consórcio disponível em: <http://foodmetabolome.org/>
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Quadro 4 – Principais técnicas de biologia molecular usadas em nutrigenética e nutrigenômica.
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Técnica Objetivo Principais Procedimentos
Microarray
siRNA (RNA pequeno Avaliação
Estudo de da
perfis O RNA duplamicroarrays
Utilizam-se fita (dsRNA)
de interferência) de expressão
função dos genes (placas
é clivadodeporvidro/nylon).
um membro
gênica
por meiodedo
todos Inicialmente,
da família de éRNAses
feita a
os genes de
silenciamento extraçãoem
(DICER) do siRNA.
mRNA Os e, siRNA
determinado
gênico posteriormente,
são incorporados é em
realizada
um
genoma a RT-PCR, de
complexo obtendo,
silenciamento
como
produto final
induzido pelode RNA interesse,
(RISC). o
cDNA.
Os siRNAAs guiam
amostras o complexo
de cDNA
são coradas
RISC ao RNAm com específico
compostos
fluorescentes,
que apresenta geralmente
a sequência
as cianinas Cy3oeque
complementar, Cy5,resulta
sendo
na degradação
que umado amostra
RNAm-é
corada com Cy3 e a outra
alvo.
com Cy5. Esse cDNA corado
Northern blotting Avaliação da é então
Por desnaturado
eletroforese, o RNA por
expressão gênica aquecimento
extraído e hibridizado
é separado,
por meio da com
de o biochip,
acordo com ou seuseja,
quantificação ocorrerá aem
tamanho, hibridização
um gel de
Transcritômica entre o cDNA oriundo
relativa de RNAm poliacrilamida desnaturante.
das amostras e ooDNA
Posteriormente, RNA
dotransferido
é biochip, pelopara princípio
uma
da complementariedade
membrana, que é incubada
das bases
com sondas dedeDNA.
RNALogo
em seguida,
marcadas o biochip é
radioativamente,
colocado
que em um ascanner
apresentam
especial que
sequência realizará
complementar.
a leitura
Se da intensidade
as sequências forem
da fluorescência nos
complementares, a sonda
comprimentos
liga-se ao RNA de da onda
amostra,
referentesoaos
podendo RNAdos hibridizado
compostos
ser detectado fluorescentes
por exposição
utilizados:
de Cy3 emite cor
filmes fotográficos.
verde, enquanto Cy5, a cor
vermelha.
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Técnica Objetivo Principais Procedimentos
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Técnica Objetivo Principais Procedimentos
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Saiba mais
A nutrigenômica é um novo e importante campo de pesquisa que cada vez mais busca a nutrição
personalizada e a prevenção e manutenção da boa saúde do indivíduo, através de uma alimentação
saudável. Cabe ao nutricionista buscar as informações e conhecimentos necessários para incorporar
a nutrigenômica na prática clínica.
A seguir, estão listados alguns artigos que abordam a nutrigenômica e alimentos funcionais. Os
textos são indicados como leitura complementar a esse material:
A nutrigenômica deve integrar vários campos de estudo diferentes, a fim de formular recomendações
nutricionais sólidas e individualizadas. Os nutrientes podem interagir e modular os mecanismos
moleculares e, assim, afetar o estado de saúde ou doença. Está cada vez mais clara a importância
de avaliar os efeitos dos nutrientes de acordo com a informação genética (nutrigenética) e como os
nutrientes podem afetar a expressão gênica (nutrigenômica).
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4. BIOENERGÉTICA
A bioenergética estuda os processos químicos envolvidos com a formação e consumo de
energia pelas células, buscando entender como estes ocorrem e suas interações no metabolismo
celular.
4.1 Metabolismo
Metabolismo é o conjunto de reações químicas integradas, que ocorrem em um organismo. Ele
converte uma molécula em outra, específica, de acordo com suas necessidades. Essas reações
ocorrem para que o organismo possa obter ou armazenar energia. Via metabólica é uma série
consecutiva de reações, que possuem enzimas específicas. Nas vias metabólicas, um precursor
é convertido em produto final e, em cada reação, há a formação de um composto denominado
metabólito.
• Enzimas alostéricas;
• Hormônios;
• Regulação da síntese enzimática (aumento da expressão gênica).
O mapa metabólico indica o conjunto de todas as vias metabólicas relacionadas aos nutrientes
energéticos e outras substâncias que sofrem metabolização pelas células do organismo.
De acordo com a função da via metabólica, esta pode estar classificada em catabólica ou
anabólica, conceitos que estão relacionados ao gasto ou à formação de energia.
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Figura 11 – Transferência de energia no catabolismo e anabolismo.
ENERGIA ENERGIA
Reação Reação
energicamente Molécula carreadora ativada energicamente
favorável desfavorável
ENERGIA
Molécula de Molécula já
alimento oxidada disponível na célula
CATABOLISMO ANABOLISMO
O catabolismo tem como função degradar as moléculas energéticas para a formação de ATP. O
anabolismo sintetiza novas moléculas e, para isso necessita de consumo de ATP. O ATP (adenosina
trifosfato) é uma molécula que estoca energia “rápida”, facilmente liberada para as necessidades
celulares. Esta molécula é composta de uma adenosina (base nitrogenada) ligada a três grupos
fosfato. Quando a célula necessita de energia, um dos fosfatos é quebrado da molécula, liberando
a energia, antes contida, para a função celular. A estrutura do ATP está representada na figura 12.
Ligações fosfoanidrido
O- O- O- ADENINA
-
O P O P O P O CH2
O O O ATP
RIBOSE
H2O
O- O- O- ADENINA
+
H + -O P OH + -O P O P O CH2
O O O
ADP
Fosfato inorgänico (Pi) RIBOSE
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A reação de quebra do ATP está descrita abaixo e geralmente se dá pela ação das enzimas
ATPases, responsáveis pela quebra do grupo fosfato da molécula.
Existem outros nucleotídeos análogos ao ATP, ou seja, que possuem a mesma função, embora
sejam compostos de outras bases nitrogenadas:
As vias catabólicas são responsáveis pela degradação das moléculas energéticas (carboidratos,
proteínas e lipídios). Na degradação destas moléculas ocorre liberação de energia, utilizada para
ressintetizar o ATP. A ressíntese ocorre quando há a ligação de uma molécula de ADP (adenosina
difosfato) com um grupo fosfato.
Cada nutriente energético possui sua via metabólica específica de quebra inicial para liberação
de energia. Entretanto, a oxidação total desses nutrientes ocorre quando suas moléculas são
convertidas a CO2 e água, etapas dependentes de oxigênio. As reações de oxidação ocorrem na
mitocôndria e todos os metabólitos são oxidados na matriz, através do ciclo do ácido cítrico. A
grande parte da ressíntese do ATP e formação de água ocorrem por meio da cadeia respiratória.
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Figura 13 – Reações que compõem o ciclo de Krebs.
NAD+ NADH Coenzima A
O Visáo geral do ciclo do ácido cítrico
CH3 C HS-CoA
completo. Os dois carbonos da acetil- CoA
COO - que entram nessa volta do ciclo (marcados
Piruvato CO 2 Acetil - CoA (2C) em vermelho) são convertidos em CO2 nas
O
voltas seguintes do ciclo. Os dois carbonos
CH3 - C - S - CoA que são convertidos a CO2 neste ciclo
estão sombreados em azul.
HS-CoA
_
Ciclo seguinte COO H2O
C=O
_
COO-
CH2 CH2
NADH + H +
HO C COO-
_
COO ETAPA 1
NAD+ COO
_
Oxalacetato (4C) ETAPA 2
CH2
C=O COO- COO-
_ ETAPA 8 C H2 Citrato (6C) CH2 Isocitrato (6C)
COO _
COO ETAPA 2 HC COO-
H C OH Oxalacetato (4C)
HO CH
CH2 Malato (4C)
_ COO-
COO CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO
NAD+
H2O ETAPA 3
COO
_
NADH +H+
Fumarato (4C) α-cetoglutarato (5C)
ETAPA 7 COO
_ CH2
CO2
CH Succinil-CoA (4C) CH2
Succinato (4C) _ ETAPA 4
CH COO C=O
ETAPA 6 COO
_
H2O
COO
_
ETAPA 5 CH 2 COO-
CH2
CH2
CH2 NAD+
C=O
FADH2 COO
_
HS- CoA
FAD
GDP S- CoA NADH + H +
GTP
HS - CoA CO2
A mitocôndria é uma organela que possui duas membranas, a membrana externa e a membrana
interna. A membrana interna tem uma grande superfície e, desta forma, possui vários dobramentos
denominados cristas. Inserido à membrana interna, existem vários complexos proteicos responsáveis
pelo processo denominado cadeia respiratória. A figura 14 demonstra os 4 complexos de membranas
componentes da cadeia respiratória:
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Figura 14 – Representação dos complexos de membrana mitocondriais e cadeia respiratória.
H+ H+ H+
ESPAÇO Citocromo c
INTERMEMBRANA
Membrana Q
mitocondrial
interna
2e-
MATRIZ
H+ H+
H+ Ubiquinona H2O
NADH
NAD+ 2 H+ + 1/2 O2
O NADH entrega seus hidrogênios no complexo 1, que retira este elétron e o bombeia para o
espaço entre membranas. O elétron é transportado para o complexo 3 e posteriormente para o 4, em
que é repassado para o oxigênio na matriz mitocondrial. Os hidrogênios do espaço intermembranas
retornam à matriz pela ATP sintase, enzima responsável pela ressíntese de ATP. Quando os hidrogênios
passam pela ATP sintase, liberam energia necessária para a ressíntese do ATP.
5. METABOLISMO DE CARBOIDRATOS
Carboidratos são macronutrientes formados por carbono, hidrogênio e oxigênio na razão de 1:2:1
(ex.: a glicose é um tipo de carboidrato cuja fórmula molecular é C6H12O6). Esta composição química
confere a essas moléculas uma característica hidrofílica, ou seja, facilidade em se solubilizar em
água. Há na natureza diversas moléculas diferentes que compreendem o grupo dos carboidratos,
entretanto, nem todas estão associadas às principais funções nutricionais desse macronutriente,
como será discutido no próximo tópico.
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e cardíaca) e hemáceas. A ingestão diária de carboidratos para indivíduos saudáveis deve alcançar
45 a 65% do valor calórico total de uma dieta, como preconizado pelo Institute of Medicine – Food
and Nutrition Board (2002).
As principais fontes alimentares de carboidratos são os cereais, tais como trigo, arroz, aveia,
centeio; além de tubérculos, como batata, mandioca, mandioquinha, frutas, laticínios e mel.
Fonte: egal/Istock
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molécula formadora de outras moléculas e é encontrada nos laticínios e em alguns vegetais,
como feijão.
• Dissacarídeos: são carboidratos formados de dois monossacarídeos. Os mais encontrados
na alimentação são:
• Maltose: molécula formada por duas moléculas de glicose. A maltose geralmente é
formada a partir da hidrólise parcial do amido, mas também está presente em alguns
cereais, como o malte.
• Sacarose: molécula formada a partir da ligação entre glicose e frutose. A sacarose
é encontrada na cana de açúcar e, portanto, é a molécula componente do açúcar de
mesa refinado. A sacarose também é encontrada no mel e em algumas frutas.
• Lactose: dissacarídeo formado pela ligação da glicose e galactose. A lactose é o
açúcar encontrado no leite e derivados.
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e cereais. Há também vários outros polissacarídeos não digeríveis, presentes em vegetais,
como: celulose, hemicelulose, pectina, arabinoxilanas, β-glucanas, glucomananas, gomas e
mucilagens. O glicogênio é um polissacarídeo de origem animal responsável pelo estoque de
carboidratos no organismo. É encontrado no músculo esquelético e no fígado.
O O O O
Ligação glicosidica
α - 1,6
CH2OH CH2OH
6
CH2 CH2OH
O O O O
5
4 1
3 2
O O O O O
Ligação glicosidica
α - 1,4
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Ambos os polissacarídeos formam, juntos, a cadeia de amido, que pode ser composta por até
150.000 moléculas de glicose.
Os carboidratos presentes nos alimentos podem, ou não, ser biodisponíveis para o ser humano.
Em caso positivo, tratam-se de carboidratos que podem ser hidrolisados (quebrados) por enzimas
presentes no trato digestório, para serem absorvidos pelo intestino posteriormente. Já os carboidratos
não disponíveis não podem ser digeridos no trato digestório, consequentemente, não sofrem absorção
e metabolização. Estes seguem pelo trato digestório e podem sofrer fermentação por bactérias
presentes no intestino. Estas moléculas constituem o bolo fecal e são eliminadas pelas fezes.
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Apesar da não utilização destas moléculas como fonte de energia pelo organismo, os carboidratos
não biodisponíveis possuem papel crucial na promoção da saúde humana, e recebem o nome de fibras.
Estes carboidratos podem ser utilizados como substrato energético de bifidobactérias – bactérias
presentes no intestino que ajudam no fortalecimento do sistema imune, além de prevenirem o câncer
de cólon. Os tipos de fibras e as respectivas fontes alimentares estão apresentados no quadro 5.
Além disso, algumas fibras são responsáveis pela diminuição do colesterol sérico; controlam a
absorção de glicose no sangue e ajudam na inibição da quebra e absorção de gorduras. As fibras
aumentam o bolo fecal e as classificadas como solúveis retêm água, facilitando a evacuação.
Monossacarídeos e dissacarídeos possuem rápida digestão e absorção, por isso, são considerados
carboidratos simples. Os polissacarídeos podem apresentar tempo de digestão rápido ou prolongado,
dependendo das características do alimento. Cereais refinados, por exemplo, sofrem processo de
beneficiamento, em que a casca e a parte fibrosa são retiradas do grão integral que, por conta disso,
é facilmente mastigado e o amido, rapidamente hidrolisado pelas enzimas digestórias, apresentando
rápida absorção. Assim, alimentos ricos em amido que são ingeridos na forma de cereal refinado são
considerados carboidratos simples. Também entram nessa classificação tubérculos sem casca, ou com
pouca quantidade de fibras na sua composição (ex.: pão branco, macarrão, arroz, batata cozida sem casca).
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Grãos integrais possuem um tempo prolongado de digestão, pois, devido à presença de casca,
as enzimas digestórias possuem dificuldade em hidrolisar o amido. Dessa forma, os grãos integrais,
depois de mastigados e deglutidos, permanecem longo tempo no estômago em contato com o
ácido clorídrico, responsável pelo enfraquecimento das fibras, o que facilitará a digestão do amido
no intestino delgado. Estes polissacarídeos associados a fibras possuem longo tempo de digestão
e absorção, por isso, são denominados carboidratos complexos (ex.: arroz integral, batata doce,
alimentos confeccionados com trigo integral). O tempo exato de digestão e absorção de carboidratos
simples e complexos depende de vários fatores, entre eles, a presença de outros macronutrientes
na refeição, quantidade e tempo de jejum.
Entretanto, testes in vitro (reproduzidos de forma similar ao organismo humano) mostram que o
tempo necessário para a digestão e absorção completa de carboidratos simples é de aproximadamente
20 minutos, enquanto a digestão e absorção da mesma quantidade de carboidratos complexos
podem levar até 2 horas. Esses testes mostram que alimentos ricos em carboidratos simples liberam
a sua glicose no sangue rapidamente, elevando exponencialmente a concentração de insulina em
comparação a carboidratos complexos, que liberam a glicose de forma prolongada e em pequenas
quantidades, sem ocasionar o pico de insulina.
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Amido
A digestão do amido se inicia na boca, através da amilase salivar, presente na saliva. Esta enzima
é responsável pela quebra das ligações glicosídica α-1,4 da amilose. Devido ao tamanho da molécula
de amido e do tempo de permanência do alimento em contato com a amilase salivar na boca, esta
digestão é parcial, ou seja, apenas parte dessas ligações é quebrada. Os principais produtos da
digestão parcial do amido que alcançam o estômago são maltose, maltotriose e dextrina.
A maltose é um dissacarídeo composto de duas moléculas de glicose unidas por ligações α-1,4.
A maltotriose compreende um oligossacarídeo composto de três moléculas de glicose, das quais
duas se unem por ligação α-1,4 e a terceira, por ligação α-1,6. Há também a liberação de cadeias
menores de amilose e amilopectina.
Os produtos da digestão prévia do amido passam pelo estômago sem sofrer hidrólise, pois este
órgão não apresenta enzimas digestórias de carboidratos. Eles irão para o duodeno, a primeira
porção do intestino, onde sofrerão a ação hidrolítica da amilase pancreática, enzima componente do
suco pancreático que age no lúmen intestinal. A amilase pancreática realiza hidrólise das ligações
glicosídicas α-1,4, agindo portanto na cadeia de amilose. As moléculas de maltose e dextrina restantes
do processo de digestão da amilase pancreática serão hidrolisadas por enzimas presentes na borda
“em escova” das células intestinais (enterócitos). A maltase é a enzima responsável pela hidrólise
das moléculas de maltose, enquanto a glicoamilase é responsável pela hidrólise das moléculas
de dextrina. Como resultado final do processo de digestão do amido, encontram-se milhares de
moléculas de glicose, que serão prontamente absorvidas no duodeno.
Os dissacarídeos são moléculas mais simples de serem digeridas e sua quebra ocorre no intestino
delgado. Dessa forma, estas moléculas passam ilesas pela boca e estômago e apenas sofrerão
ação enzimática na borda em escova, através de enzimas localizadas na membrana externa dos
enterócitos, onde estão localizadas as microvilosidades. A sacarase é a enzima responsável pela
hidrólise da molécula de sacarose, liberando ao final deste processo uma molécula de glicose e
uma molécula de frutose. A lactase é a enzima responsável pela quebra da lactose, liberando uma
molécula de glicose e uma molécula de galactose. A maioria dos mamíferos diminui sua produção
de lactase após o desmame, produzindo quantidades insignificantes ou nulas desta enzima. O ser
humano é um dos poucos mamíferos que mantêm a produção dessa enzima ao longo da vida.
Entretanto, alguns indivíduos podem apresentar deficiência dela, ocasionando a incapacidade de
digestão da lactose. O dissacarídeo não digerido percorre todo o intestino e facilmente sofre a ação
de bactérias intestinais que levam à sua fermentação, aumentando a formação de gases, desconforto
e cólicas. Pode ocorrer também maior retenção hídrica ocasionada pela lactose, levando a quadros
de diarreia. Essa síndrome é chamada intolerância à lactose.
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Ao final do processo de digestão dos carboidratos, observa-se a seguinte proporção de
monossacarídeos absorvidos pelo intestino em relação ao total de carboidratos ingeridos:
• 90% glicose;
• 5% frutose;
• 5% lactose.
Essa porcentagem é baseada em uma dieta equilibrada, portanto, esses valores estimados
podem sofrer alteração de acordo com a composição da dieta.
A frutose é transportada do lúmen para o enterócito (absorção luminal) e deste para o sangue
(absorção sanguínea) por meio do carreador específico de frutose GLUT5. Apesar dele ser exclusivo
da frutose, a sua velocidade de transporte é lenta, de aproximadamente 30g por hora (a velocidade
de absorção da glicose e da galactose é de 60g/h). Portanto, a alta ingestão de frutose pode levar
ao comprometimento de sua absorção, desencadeando cólicas e desconfortos, ocasionados pela
fermentação da frutose não absorvida por bactérias intestinais.
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Quadro 7 – Resumo das propriedades dos facilitadores de transporte de glucose e dos co-transportadores
de Na+/glucose.
Facilitadores de transporte de glicose
Co-transportadores de Na+/Glucose
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O GLUT4, presente no músculo esquelético e no tecido adiposo, depende da sinalização da
insulina para transportar a glicose. Este carreador se encontra no citoplasma das células, envolvido
em vesículas (pequenas bolsas que embalam os carreadores). Quando a insulina se liga ao receptor
dela, localizado na membrana plasmática, ocorre uma cascata de sinalização intracelular, responsável
pela externalização do GLUT4 – este carreador, que estava no interior da célula, se desloca até a
membrana plasmática, à qual se funde através de suas vesículas, expondo seu sítio de ligação com
a glicose do lado externo da membrana celular, permitindo a ligação da molécula e seu posterior
transporte para o interior da célula. O músculo esquelético e o tecido adiposo, por dependerem da
insulina para a captação de glicose, são denominados tecidos insulinodependentes.
Figura 19 – Sinalização intracelular ativada pela insulina para translocação do GLUT4 e absorção de glicose.
1 Transportadores de
glicose “armazenados”
dentro das células em
vesículas membranosas
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• Síntese de LDL-colesterol pelo fígado;
• Síntese proteica;
• Captação de gordura pelo tecido adiposo;
• Síntese de ácidos graxos a partir de glicose;
• Estímulo da saciedade em nível hipotalâmico.
IG CG
Médio 56 a 69
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O consumo de alimentos ricos em carboidratos que são digeridos e absorvidos rapidamente
ocasiona um rápido aumento da concentração de glicose sanguínea; eles são considerados, portanto,
de alto índice glicêmico. Os alimentos que contêm carboidratos de digestão lenta, e, portanto, liberam
glicose gradualmente na corrente sanguínea, são os de baixo índice glicêmico. Os alimentos de
baixo índice glicêmico liberam a glicose de forma gradual, apresentam maior quantidade de fibras
e aumentam o tempo de saciedade, ajudando no combate à obesidade. Já o consumo de alimentos
com alto índice glicêmico são responsáveis pelo aumento repentino da glicemia, ocasionando um
pico de insulina na corrente sanguínea. O consumo excessivo desses alimentos pode, a longo prazo,
sobrecarregar o pâncreas causando pré-diabetes ou diabetes tipo 2. Os fatores que influenciam o
IG estão descritos no quadro 8.
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Quadro 8 – Fatores que influenciam o índice glicêmico (IG) dos alimentos.
Fatores Influência sobre o IG dos alimentos
Aumento no IG do alimento
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Apesar de o índice glicêmico ser amplamente utilizado para definir os alimentos da dieta, ele
possui algumas falhas, pois nem sempre o alimento classificado como de índice glicêmico alto
possui quantidades altas de glicose em sua porção. Para melhor ajudar a interpretar as informações
obtidas pelo índice glicêmico, surgiu uma outra forma de classificação, por carga glicêmica.
A carga glicêmica determina a quantidade e tipo de carboidratos dos alimentos com base no seu
índice glicêmico e no tamanho da porção. O índice glicêmico, como dito anteriormente, classifica
os alimentos que contêm carboidratos pela velocidade com que elevam o açúcar no sangue.
A utilidade da carga glicêmica é baseada na ideia de que alimentos com alto índice glicêmico,
consumidos em pequenas quantidades, podem ter o mesmo efeito sobre o açúcar no sangue que
o consumo de alimentos de baixo índice glicêmico, em grandes quantidades.
Uma vez que, provavelmente, o parâmetro mais importante seja o pico de glicose no sangue,
multiplicar a quantidade de carboidratos em uma porção de comida pelo seu índice glicêmico dá
uma ideia do efeito que o consumo desse alimento terá na taxa de açúcar no sangue.
Saiba mais
Para saber mais sobre o índice glicêmico dos alimentos, acesse o link:
<https://www.diabetes.org.br/publico/noticias-nutricao/99-conhecendo-os-nutrientes/indiceglicemico.php>.
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A glicose utilizada como fonte energética será inicialmente quebrada em uma via metabólica
denominada glicólise. A glicólise ocorre no citosol de todas as células e não necessita de oxigênio
para ocorrer, portanto, essa etapa é realizada tanto por células aeróbicas quanto anaeróbicas,
como a hemácia. A glicólise ocorre em dez etapas e o produto final é o piruvato. A cada molécula
de glicose, ou de outros monossacarídeos, formam-se de duas moléculas de piruvato. A galactose
e a frutose também seguem a via da glicólise nas células, fornecendo a mesma quantidade de
ATPs que a glicose.
Após a formação do piruvato, ele pode seguir por duas vias distintas: a primeira está relacionada
às células aeróbicas. Nestas, o piruvato entra na mitocôndria para oxidar-se completamente, até
formar CO2 e água. A segunda via ocorre nas células anaeróbicas, nas quais a molécula de piruvato
é convertida em ácido lático. O caminho percorrido pelo piruvato dependerá das condições de aporte
de oxigênio no interior da célula.
O piruvato que é deslocado para a mitocôndria sofre ação da enzima piruvato desidrogenase,
responsável pela sua conversão em acetil-CoA. Esta se ligará ao oxalacetato, formando o citrato
e dando início ao ciclo de Krebs (ou ciclo do citrato), responsável pela oxidação total da molécula.
Nesta etapa, a produção de ATP para cada molécula de glicose é de 38. Quando há a produção de
ácido lático após quebra da glicose, a produção total de ATPs é de 2.
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Figura 20 – Esquema da glicólise.
GLICÓLISE
Glicose
ATP Glicocinase
ADP
Glicose-6-P
Frutose-6-P
ATP Fosfofruto
ADP cinase-1
Frutose-1, 6-P
DHAP Gliceraldeido-3-P
NAD+
NADH
1,3-Bisfosfoglicerato
ADP
ATP
3-Fosfoglicerato
2-Fosfoglicerato
Fosfoenolpiruyato (PEP)
ADP
Piruvato cinase
ATP
Piruvato
Piruvato
NADH desidrogenase
Acetil CoA
NAD+
Ciclo de
Lactato
Krebs
ATP
Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Glicolise-gliconeogenese.png>.
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6.1 Glicogenólise e glicogênese
Glicogênese é o processo pelo qual há a formação de glicogênio hepático e muscular. Em ambos
os casos a insulina é o hormônio sinalizador da enzima glicogênio sintase, responsável por ligar
as moléculas de glicose a um primer (8 moléculas de glicose ligadas). A enzima liga as moléculas,
uma a uma, até a molécula de glicogênio atingir o seu limite máximo.
GLICOGÊNIO SINTASE
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A seguir estão descritas as reações de glicogenólise:
GLICOGÊNIO FOSFORILASE
FOSFOGLICOMUTASE
NO FÍGADO:
GLICOSE 6 FOSFATASE
7. LIPÍDIOS
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Figura 21 – Representação da estrutura de ácidos graxos.
ÁCIDOS GRAXOS
COMUNS
São ácidos carboxilicos com
caudas hidrocarbonadas longas
COOH COOH COOH
Existem centenas de tipos diferentes de ácidos graxos. Alguns possuem uma ou mais ligações duplas
CH2 CH2 CH2 na cadeia hidrocarbonada e são chamados de insaturados. Ácidos graxos sem ligação dupla são
CH2 CH2 CH2 chamados de saturados.
-O O -O O
CH2 CH2 CH2
C C
CH2 CH2 CH2
CH2 CH2 CH2
CH2 CH2 CH2
Esta ligação dupla é
CH2 CH2 CH2 rigida e cria uma
CH2 CH2 CH dobra na cadeia. O
Ácido resto da cadeia é
CH2 CH2 CH livre para girar ao Ácido
CH2 CH2 CH2 oleico redor das outras esteárico
ligações C - C
CH2 CH2 CH2
CH2 CH2 CH2
CH2 CH2 CH2
CH2 CH2 CH2
CH2 CH3 CH2
CH2 Ácido CH2
palmitico Modelo de Cadeia principal
CH3 (c16) CH 3 preenchimento espacial de carbono
Ácido Ácido INSATURADO SATURADO
esteárico (c18) oleico (c18)
TRIACILGLICERÓIS
Os ácidos graxos são armazenados como reserva de energia (gorduras e óleos)
através de uma ligação éster com o glicerol, formado, dessa forma,
triacilgliceróis, também conhecidos como triglicerídeos.
O
C
H 2C O H 2C OH
O
HC OH
C
HC O
O H 2C OH
Glicerol
C
H2C O
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Figura 23 – Representação da estrutura do grupo carboxila.
GRUPO CARBOXILA
Quando livre, o grupo carboxila de
um ácido graxo estará ionizado.
O
C
O-
Entretanto, geralmente ele está ligado a
outros grupos, formando ésteres
O
C
O C
ou amidas.
O
C
N
Colina
Cabeça
O
hidrofílica
O P O-
O
CH2 CH CH2
Caudas
hidrofóbicas de
ácidos graxos
Modelo de
preenchimento
espacial do fosfolipídio
fosfatidilcolina
Nos fosfolipídios, dois grupos _ OH do glicerol
estão ligados a ácidos graxos, enquanto um
Estrutura terceiro grupo _ OH está ligado a um ácido
geral de um fosfórico. o fosfato ainda está ligado a um de uma
fosfolipídio série de pequenos grupos polares, como a colina.
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7.2 Funções
Os lipídios possuem diversas funções no organismo. As triacilgliceróis possuem função energética
e podem ser utilizadas tanto para fornecer energia para as células, como para armazená-la. Os ácidos
graxos insaturados possuem funções sinalizadoras e desencadeiam diversas reações metabólicas
no organismo. O colesterol tem as seguintes funções:
Atualmente, as principais fontes alimentares de gordura são divididas em dois grupos: fontes
alimentares de gordura saturada (gordura de origem animal) e fontes alimentares de gordura
insaturada (óleos vegetais).
As principais fontes alimentares de gordura saturada são os alimentos de origem animal. Esses
alimentos também se destacam por serem fontes de colesterol na nossa alimentação. Há apenas
um alimento de origem vegetal rico em gorduras saturadas: o coco. Entre as gorduras saturadas
existentes destacam-se na nossa alimentação, como principal componente lipídico, o ácido palmítico
(16:0) e o ácido esteárico (18:0), presentes na carne de vitela, frango (principalmente na pele) e
porco, e no leite de vaca.
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7.3.2 Gorduras insaturadas
Os alimentos ricos em gordura do tipo insaturada são geralmente de origem vegetal, como soja,
azeitona e sementes em geral. Entretanto, podemos encontrar gordura insaturada, especialmente
os ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosa-hexaenoico (DHA), e os ácidos graxos poli-insaturados
do tipo ômega-3 (ω-3) em peixes provenientes de águas geladas e profundas, como o salmão e o
atum. As fontes alimentares de gordura insaturada podem, ainda, ser divididas em dois subgrupos:
alimentos fontes de ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados.
Os ácidos graxos TRANS são obtidos através do processo de hidrogenação dos ácidos graxos
poli-insaturados, para obtenção de margarinas, cremes vegetais e gordura vegetal hidrogenada.
Portanto, as principais fontes alimentares de gorduras do tipo TRANS são margarinas e alimentos
industrializados que levam, no seu preparo, gordura vegetal hidrogenada.
7.3.4 Colesterol
O colesterol está presente apenas nos alimentos de origem animal, como carnes, leite e ovos.
Porém, sua quantidade pode variar de acordo com cada alimento, região proveniente e forma de
criação desses animais.
Os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 não são sintetizados pelos seres humanos e outros
animais. Ainda que não possam ser sintetizados, são indispensáveis ao bom funcionamento do
organismo e considerados essenciais. Contudo, somos capazes de dessaturar (acrescentar ligações
entre os carbonos) e de elongar (acrescentar carbonos) a cadeia de carbonos dos ácidos graxos.
Dessa forma, podemos converter o ácido linoleico (18:2ω-6) em ácido araquidônico (20:4ω-6) e
ácido linolênico em EPA (20:5ω-3) e DHA (22:6ω-3). Os ácidos linoleico e linolênico estão presentes
em fontes vegetais, como oleaginosas, leguminosas, sementes (a linhaça, por exemplo, é rica em
ácido linolênico).
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O ácido araquidônico, um ω-6, e EPA e DHA (ω-3) são importantes precursores de eicosanoides
como prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos, os quais possuem funções pró-inflamatórias
(principalmente os derivados do ácido araquidônico) e anti-inflamatórias (aqueles derivados dos ω-3).
Como as enzimas responsáveis pela elongação e dessaturação participam tanto da via dos
ω-6 quanto da via dos ω-3, ocorre uma competição para esses processos. A razão de consumo
ω-6/ω-3 é importante por influenciar essa competição e estima-se que a razão ideal esteja entre
2:1 a 3:1 (proporcionalmente 2 a 3 ácidos graxos ω-6 para cada ω-3).
Figura 25 – Enzimas responsáveis pela elongação e dessaturação dos ácidos graxos ômega-6 e 3.
Ácidos graxos ω-6 Ácidos graxos ω-6
18:2 n-6 18:3 n-3
(ácido linoleico) (ácido α-linolenico)
Delta-6-dessaturase
18:3 n-6 18:4 n-3
(ácido γ-linoleico) (ácido estearidonico)
Elongase (ELOVL5)
Eicosanoides do 20:3 n-6 20:4 n-3
ácido araquidônico (ácido dihomo-γ-linoleico) (ácido eicosatetraenoico) Eicosanoides de EPA
Prostaglandinas da série 2 Prostaglandinas da série 3
Delta-5-dessaturase
Tromboxanos da série 2 Tromboxanos da série 3
20:4 n-6 20:5 n-3
Leucotrienos da série 4 5-series Leucotrienos da
(ácido araquidônico) (EPA)
Derivados do ácido série 5
hidroxieicosatetraenoico Elongase (ELOVL2) E-resolvinas
Lipoxinas 22:4 n-6 22:5 n-3
(ácido docosatetraenoico) (ácido docosapentaenoico)
Elongase (ELOVL2)
24:4 n-6 24:5 n-3
(ácido tetracosatetraenoico) (ácido tetracosapentaenoico)
Delta-6-dessaturase
24:5 n-6 24:6 n-3
(ácido tetracosapentaenoico) (ácido tetracosahexaenoico)
Docosanoides de DHA
β-oxidação D-resolvinas
22:5 n-6 22:6 n-3 D-protectinas
(ácido docosapentaenoico) (DHA) Maresinas
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graxos que possuem duas ou mais ligações duplas em sua cadeia carbônica são denominado
ácidos graxos poli-insaturados.
Os triacilgliceróis compostos por ácidos graxos saturados são sólidos em temperatura ambiente
e, portanto, denominados gorduras. Já os óleos são compostos, em sua maioria, por ácidos graxos
insaturados.
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Sabe-se que, de acordo com o tamanho do ácido graxo, seu metabolismo ocorre de forma
diferenciada. Um exemplo são os ácidos graxos de cadeia média, facilmente digeridos, absorvidos
e transportados pelo sangue, sem a necessidade de lipoproteínas.
9.1 Triacilglicerol
A digestão dos triacilgliceróis (TAGs) ocorre em diversos estágios do trato digestório, como
boca, estômago e intestino delgado, para que a absorção seja facilitada ao longo do intestino.
A digestão dos lipídios inicia-se na boca. A lipase lingual é secretada pelas glândulas de Ebner,
as glândulas serosas da língua. Apesar de liberada na cavidade oral, esta enzima se mistura ao bolo
alimentar na boca e atinge o estômago, onde exerce sua função, devido à queda de pH promovido
pela liberação do suco gástrico. No estômago, há também a liberação, pela mucosa gástrica, de
outra enzima responsável pela digestão de lipídios: a lipase gástrica. Ambas as lipases, lingual e
gástrica, promovem a digestão parcial dos lipídios ingeridos, hidrolisando ácidos graxos localizados
na posição SN-3 dos triacilgliceróis, liberando diacilglicerol e ácidos graxos livres. A quantidade
presente de cada uma dessas enzimas depende da espécie. Nos humanos, ambas são encontradas
em abundância em recém-nascidos e desempenham uma importante função na digestão do leite
materno, visto que a atividade do pâncreas nos primeiros meses de vida é baixa. Ao longo do tempo,
a quantidade produzida é diminuída, principalmente a lingual. Pessoas que possuem dieta rica em
gordura apresentam aumento da expressão gênica dessas enzimas, independentemente do tipo
de ácido graxo presente no alimento.
Alguns fatores podem interferir na atividade dessas enzimas. O pH ótimo de ambas é em torno
de 4,5 a 5,5, portanto, têm atividade alta no estômago. Os sais biliares, entretanto, não inibem sua
atividade com aumento de pH. Em casos que não há produção de lipase pancreática, as lipases pré-
duodenais continuam a agir no intestino, embora com atividade mais reduzida devido à mudança
de pH.
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Outro fator importante é o tamanho da gota lipídica que chega ao estômago. Uma quantidade de
lipídios inicial pequena facilita a digestão dos triacilgliceróis pela lipase gástrica, tanto no estômago
quanto no duodeno.
O estômago é responsável por cerca de 10 a 30% da digestão dos lipídios ingeridos. Esta pré-
digestão gástrica facilita a digestão dos lipídios no duodeno, aumenta a solubilidade dos triacilgliceróis
e facilita a ligação da colipase no duodeno, liberando mais ácidos graxos livres. Todos esses fatores
contribuem para a liberação do hormônio colecistocinina no intestino, desencadeada pela presença
de lipídios. Ele participa tanto no controle da digestão, quanto no controle da fome e saciedade.
A atividade dessas lipases difere de acordo com o tamanho da cadeia dos ácidos graxos. A
atividade lipolítica da lipase gástrica, em alguns mamíferos, sobre ácidos graxos de cadeia média,
é três vezes maior do que em ácidos graxos de cadeia longa. Independentemente do tipo de ácido
graxo e da quantidade de lipases pré-duodenais presentes, essa sem dúvida é uma etapa importante
para a digestão total de triacilgliceróis no intestino, além de influenciar diretamente seu tempo de
absorção.
Como mencionado, as lipases lingual e gástrica têm uma função de pré-digestão dos triacilgliceróis
no estômago e, em parte, no duodeno, com ação reduzida. Apesar desse importante papel, a maior
parte da digestão ocorre por enzimas presentes no suco pancreático, secretado no intestino delgado.
Os sais biliares são os “detergentes” do trato digestório, responsáveis pela emulsificação dos
lipídios. Quando os lipídios chegam ao duodeno, como uma grande “gota” de gordura hidrofóbica,
os sais biliares são lançados e quebram esta gota, formando pequenas micelas hidrossolúveis,
facilitando a ação das enzimas pancreáticas na digestão lipídica total.
Quando os lipídios alcançam o intestino delgado, ocorre a mais importante etapa da digestão,
que compreende cerca de 70% do processo. Nessa etapa, realizada no duodeno e jejuno, o processo
digestório é finalizado e os lipídios são finalmente absorvidos. A principal enzima atuante é a lipase
pancreática.
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A lipase pancreática é uma enzima que possui função e atuação semelhantes às das lipases
lingual e gástrica, pois hidrolisa os triacilgliceróis, liberando os ácidos graxos ligados ao glicerol na
posição SN-3. Entretanto, essa enzima possui uma especificidade maior, pois também consegue
hidrolisar o TAG, liberando o ácido graxo ligado na posição SN-1. O ácido graxo ligado ao glicerol
na posição SN-2 não é hidrolisado por nenhuma enzima digestiva, sendo absorvido na forma de
monoacilglicerol e de ácido graxo livre.
Após a emulsão dos lipídios via sais biliares, a lipase pancreática atua sobre os triacilgliceróis
das micelas, embora o faça com alguma dificuldade. Para auxiliá-la, surge uma proteína chamada
colipase.
A lipase pancreática possui pH ótimo (por volta de 8 a 9). O suco ecbólico liberado no duodeno
aumenta o pH do quimo recém-chegado do estômago, onde sofreu a ação do suco gástrico altamente
ácido; a neutralização é suficiente para ativar as enzimas pancreáticas, inclusive a lipase. Esta, após
se ligar à colipase, consegue alcançar os triacilgliceróis e promove a hidrólise dos ácidos graxos
presentes nas posições SN-1 e SN-3 do TAG.
9.2 Colesterol
A maioria do colesterol ingerido pela dieta apresenta-se na forma de colesterol livre; deste, apenas
10 a 15% é encontrado na forma de éster de colesterol – uma molécula de colesterol ligada a um
ácido graxo. Esses ésteres, que entram no intestino delgado, devem, primeiramente, ser hidrolisados
em colesterol livre e em ácidos graxos, para depois poderem ser absorvidos. A enzima envolvida no
processo de hidrólise do éster de colesterol no intestino delgado é a colesterol esterase pancreática.
A colesterol esterase pancreática pode ser chamada também de éster carboxílico ou éster de
esterol hidrolase; esta enzima possui diferentes especificidades, podendo hidrolisar triacilgliceróis,
ésteres de colesterol e fosfoglicerídeos. Entretanto, ela possui baixa especificidade contra glicerídeos.
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9.3 Fosfolipídios
A digestão dos fosfolipídios ocorre no intestino delgado, pois a lipase gástrica é incapaz de
digeri-los. Os fosfolipídios (predominantemente a fosfatidilcolina), juntamente com o colesterol e
os sais biliares, são encontrados em micelas, misturados na bile. Uma vez no lúmen intestinal, os
fosfolipídios tendem a se localizar no exterior das micelas, revestindo-as. A enzima que age sobre
a fosfatidilcolina é a fosfolipase A2 pancreática (PLA2), hidrolisando o ácido graxo localizado na
posição SN-2 do fosfolipídio, gerando como produto final ácido graxo e lisofosfatidilcolina (LPC).
Também pode ser encontrada no suco pancreático a enzima fosfolipase A1 (PLA1), a qual, supõe-se,
tem alguma atividade sobre os fosfolipídios, provavelmente devido à presença da lipase pancreática.
Após a digestão total dos lipídios no intestino delgado, eles serão absorvidos pelas células
intestinais, os enterócitos. A absorção dos lipídios ocorre principalmente no jejuno e, em menor
parte, no íleo. A forma como são absorvidos difere de acordo com sua estrutura, polaridade e
tamanho da cadeia carbônica.
As vitaminas lipossolúveis encontram-se no interior das micelas, após a emulsificação dos sais
biliares. Nas micelas, atravessam a camada estacionária de água e chegam às microvilosidades
intestinais, onde são absorvidas pela membrana do enterócito por difusão.
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9.5 Ácidos graxos de cadeia longa e colesterol
Após digestão completa no intestino, os ácidos graxos monoacilglicerol e colesterol estão prontos
para serem absorvidos. Entretanto, essa tarefa não é muito simples, visto que, para que ocorra sua
absorvência, eles necessitam atravessar duas barreiras importantes: a camada estacionária de
água e a mucosa da membrana celular lipídica, além de outros fatores que são determinantes no
processo de absorção dos lipídios.
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9.7 Mucosa intestinal
Figura 26 – Mucosa intestinal
O epitélio das células intestinais possui uma borda em escova de formato apical constituinte
de milhares de microvilosidades. Esse arranjo estrutural causa uma barreira aos lipídios digeridos,
assim como às drogas lipolíticas, visto que o espaço existente entre as microvilosidades é muito
pequeno e não é qualquer molécula que consegue alcançá-lo. Entretanto, partículas micelares e
submicelares conseguem penetrar o espaço entre as microvilosidades e, desta forma, facilitar a
absorção dos lipídios pela membrana celular delas.
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que ácidos graxos e monoacilgliceróis eram absorvidos
pelos enterócitos via difusão, de forma passiva e não dependente de temperatura. A proteína FABPi
(Fat Acid Binding Protein Intestinal) é o principal carreador responsável pela absorção de ácidos
graxos, entretanto, essa proteína também possui especificidade com colesterol na forma livre. Ela
é encontrada, majoritariamente, na região apical e lateral das vilosidades, bom como na crista.
A FABPi aparece como principal candidata a transportadora da maioria das moléculas lipídicas,
incluindo o colesterol.
Outras proteínas presentes na membrana em escova estão envolvidas na ligação com ácidos
graxos e transporte para dentro do enterócito, como a GP330 (também chamada megalina), CD36,
SR-BI e a caveolina. Os receptores scavengers do tipo BI (SR-BI) parecem estar envolvidos com
a regulação do colesterol no intestino delgado, porém, não são os únicos e fundamentais para a
absorção do colesterol. A caveolina foi primeiramente encontrada no cavéolo, uma espécie de vesícula
que brota da membrana celular não cortada, rica em glicolipídios, colesterol e proteínas. Ainda é
desconhecido o papel da caveolina na absorção intestinal de lipídios. As proteínas transportadoras de
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ácidos graxos tipo 1 e 4 (FATP1 e FATP4) fazem parte de uma grande família de transportadores dos
ácidos graxos presentes na membrana, participando, principalmente, da absorção de ácidos graxos
de cadeia longa para dentro do enterócito. Muitos estudos têm demonstrado que a absorção de
colesterol no intestino é controlada por uma proteína ligadora de ATP chamada ATP binding cassete-1
(ABC-1), que também é um transportador reverso de colesterol. O colesterol, em comparação ao
ácido graxo, possui absorção limitada. A porcentagem de colesterol absorvida é significativamente
menor em relação à consumida em refeições com alta ingestão deste lipídio. Além disso, a absorção
de colesterol também depende da quantidade de outras gorduras, consumidas concomitantemente.
Todo colesterol é necessariamente absorvido na forma livre. Para tal, a ação da colesterol
esterase é crucial. Esta molécula é incorporada nas micelas e, dessa forma, consegue atravessar
a camada estacionária de água e alcançar seus carreadores específicos na membrana celular.
Após a absorção luminal, os lipídios são reesterificados pelo enterócito e transferidos para uma
lipoproteína denominada quilomícron, responsável pelo transporte de gorduras. Os ácidos graxos
são novamente ligados ao monoacilglicerol, formando o TAG. Também ocorre a ligação de alguns
ácidos graxos aos monofosfolipídios, formando fosfolipídios; já o colesterol livre recebe uma nova
molécula de ácido graxo, formando o ácido graxo esterificado.
Saiba Mais
Em artigo para a revista Atheros, o pesquisador Dr. Raul Maranhão trata sobre a relação entre
o metabolismo dos quilomícrons e o desenvolvimento de doença arterial coronária. Veja artigo
na íntegra disponível em: <http://departamentos.cardiol.br/sbc-da/2015/publicacoes/atheros32002/03-
Metabolismo%20dos%20quilm%C3%ADcrons.pdf>
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10.1 Papel do fígado no metabolismo lipídico
O fígado possui importante função como gerenciador do metabolismo intermediário e fornecedor
de substratos energéticos para os tecidos periféricos. Este órgão tem papel importante no metabolismo
dos macronutrientes – carboidratos, proteínas e aminoácidos e lipídios. Entre suas diversas funções,
destaca-se a distribuição de intermediários do metabolismo para os tecidos periféricos. Em relação
ao metabolismo lipídico, o fígado é o responsável pela determinação das concentrações plasmáticas
de TAG, AGL, colesterol e lipoproteínas. O tráfego de lipídios é bidirecional, organizado sob uma
série de condições fisiológicas e tem seu balanço estabelecido pelas concentrações de lipídios que
são secretados pelo fígado, captados e recaptados por ele, ou liberados pelos tecidos periféricos.
O fígado é responsável pela compartimentalização dos lipídios, que seguem quatro vias diferentes:
eles podem ser estocados, oxidados para a produção de ATP, utilizados para a formação de corpos
cetônicos ou exportados para os tecidos periféricos, através da lipoproteína de muito baixa densidade
(VLDL). Os diferentes destinos são estabelecidos pelas condições hormonais e metabólicas do
indivíduo.
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Figura 27 – Fígado humano
Fonte: Dr_Microbe/Istock
O fígado é grande consumidor de ácidos graxos de cadeia longa (AGCL) para geração de energia
necessária ao seu funcionamento. A beta-oxidação mitocondrial é a mais importante rota para a
oxidação de AGCL e é a mais considerável partição relacionada ao metabolismo lipídico dentro do
fígado. O processo no qual os ácidos graxos de cadeia longa permeiam a membrana mitocondrial
depende de carnitina e de um complexo enzimático, denominado carnitina palmitoil transferase
(CPT). O complexo mitocondrial CPT (CPT I, II e CACT) é o mais bem entendido complexo enzimático
de membrana dessa organela celular. A capacidade da enzima CPT I em converter a acil-CoA em
acilcarnitina e em realizar a catálise inversa promovida pela enzima CPT II na matriz mitocondrial,
resulta na efetiva transferência da molécula de AGCL para dentro da matriz mitocondrial.
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O transporte de TAG e colesterol para os tecidos periféricos é realizado pelo fígado através das
lipoproteínas, estruturas esféricas compostas de apolipoproteínas, TAG, fosfolipídios e colesterol. O
fornecimento de TAG para os tecidos extra-hepáticos ocorre através da lipoproteína de muito baixa
densidade (VLDL), sendo o tecido adiposo e o músculo esquelético seus dois principais receptores.
Além da VLDL, o fígado é responsável pela síntese da lipoproteína de baixa densidade (LDL),
partícula rica em colesterol que representa uma fração remanescente de VLDL, e da lipoproteína
de alta densidade (HDL), cuja função é realizar o transporte reverso de colesterol, da periferia para
o fígado. Entre todas as lipoproteínas, a VLDL é a única totalmente sintetizada pelos hepatócitos.
A produção e secreção da VLDL podem ser reguladas através da dieta e por fatores endócrinos,
como a insulina, principal hormônio responsável pelo estímulo da produção da VLDL.
A VLDL liberada pelo fígado atinge a circulação sanguínea e é distribuída pelos tecidos de forma
equivalente à do quilomícron. Na presença de insulina circulante, a maior parte dos TAGs destas
lipoproteínas é captada por células do tecido adiposo (adipócitos) para estoque. Na presença de
glucagon circulante na corrente sanguínea, o TAG das lipoproteínas é captado, em grande parte,
pelo músculo esquelético, para utilização do ácido graxo como fonte energética.
Gorduras
Miócito ou adipócito
ingeridas
na dieta
Armazenamento
8 Os ácidos graxos
são oxidados
CO2 como
Vesícula
combustíveis ou
biliar
esterificados
ATP novamente para
Capilar armazenamento.
7 Os ácidos graxos
Intestino delgado entram nas células.
1 Os sais biliares Lipase lipoproteica
emulsificam as Mucosa
gorduras da dieta intestinal 6 A lipase lipoproteica,
no intestino delgado, ativada por apoC-II nos
formando micelas ApoC-II capilares, converte
mistas. triacilgliceróis em
ácidos graxos e glicerol.
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10.2 Lipólise
Os ácidos graxos provenientes do TAG presente nas lipoproteínas são captados pelos
adipócitos para estoque de reservas energéticas. Em situações em que há aumento da demanda
energética do organismo, os adipócitos liberam hormônios responsáveis pela quebra do TAG
das lipoproteínas e pela sua posterior liberação na corrente sanguínea. O processo no qual o
TAG dos adipócitos é hidrolisado e seus ácidos graxos são liberados na corrente sanguínea é
denominado lipólise.
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Figura 29 – Lipólise e transporte sanguíneo dos ácidos graxos.
Glucagon Adenilil-
1 -ciclase
Receptor
Gs
2
ATP cAMP
Transportador
de ácidos
graxos
5
4 PKA
CGI CGI
CGI 3
ATGL
P Lipase 10
P P sensível a
hormônio β oxidação,
6 P ciclo do ácido
Perilipina P
cítrico, cadeia
Triacilglicerol 7 P HSL
P 11
respiratória
Diacilglicerol ATP
HSL
Gotícula 9 CO2
de lipídeo Albumina
Monoacilglicerol Ácidos graxos sérica
8 Adipócito Miócito
MGL
Corrente sanguínea
Fonte: Nelson e Cox, 2014, p. 670.
Após a entrada do ácido graxo na mitocôndria, este sofre um processo de β-oxidação, ou seja, é
quebrado em moléculas de acetil-CoA. As etapas da β-oxidação estão descritas nas figuras a seguir.
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Figura 30 – Primeira etapa: desidrogenação
β α
(C16) R — CH2 — CH2 — CH2 — C — S-CoA
O
Palmitoil CoA (ácido palmítico ligado
à acetil CoA) C16 (16 carbonos)
FAD
Acil CoA
desidrogenase
R — CH2 — C ═ C — C — S-CoA
trans - ∆2 -
H O
Enoil CoA
R — CH2 — C ═ C — C — S-CoA
trans - ∆2 -
H O
Enoil CoA
Enoil CoA H2O
desidrogenação
OH
H O
A segunda reação corresponde a uma hidratação, na qual há adição de uma molécula de água
ao trans-Δ2-enoil-CoA.
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Figura 32 – Terceira etapa: desidrogenação.
OH
O L-β-hidroxiacil
H
CoA
NAD+
β-hidroxiacil CoA
desidrogenase
NADH + H+
O O
Fonte: Nelson, D. L. COX, 2014, p. 673.
A terceira reação é novamente uma desidrogenação, na qual o β-cetoacil CoA é formado pela
ação da enzima β-hidroxiacil CoA desidrogenase.
O O β-cetoacil CoA
Acil - CoA CoA-SH
acetiltransferase
(tiolase)
O O
Miristoil CoA (C14) Acetil CoA
Esta etapa ocorre para a formação do primeiro acetil-CoA da molécula de ácido graxo. Uma
molécula de ácido graxo com 16 carbonos é responsável pela formação de 8 moléculas de acetil-
CoA, portanto, as quatro etapas descritas acontecem sete vezes. O ácido graxo é quebrado de dois
em dois carbonos, até liberar oito moléculas de acetil-CoA.
Após a formação das moléculas de acetil-CoA, elas serão oxidadas no ciclo do ácido cítrico (ciclo
de Krebs) e, posteriormente, seus hidrogênios seguem para a cadeia respiratória, para a produção
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de água e ATP. Cada molécula de ácido graxo proveniente do tecido adiposo (ácido palmítico, 16
carbonos) é responsável pela formação de 129 ATPs, portanto, a gordura é a molécula mais energética
em relação ao carboidrato e à proteína.
10.4 Lipogênese
A lipogênese é a formação de ácidos graxos a partir de outros compostos energéticos, como
carboidratos e proteínas. Essa via é estimulada quando há excesso de acetil-CoA proveniente do
piruvato ou de aminoácidos cetogênicos na mitocôndria, seguidos de um excesso de ATP. O excesso
de ATP exerce estímulo inibitório sobre as enzimas do ciclo de Krebs e há um acúmulo de acetil-CoA
na mitocôndria. Este acetil-CoA se liga ao oxalacetato e forma o citrato, que é transportado para o
citosol. Nele, o citrato é dissociado novamente em acetil-CoA e em oxalacetato, e as moléculas de
acetil-CoA são condensadas uma à outra para formarem o ácido graxo. A síntese de ácidos graxos
ocorre da mesma forma que sua quebra, porém de inversamente, ou seja, moléculas de acetil-CoA
são adicionadas umas às outras através da etapa de condensação, que ocorre em quatro reações.
Ao final desta etapa, uma nova molécula de acetil-CoA sofre esse processo na cadeia pré-formada,
até formar um ácido graxo de 16 carbonos (ácido palmítico). Para a formação de uma molécula
de ácido palmítico, são necessárias 8 moléculas de acetil-CoA. Para entender melhor, o esquema
ilustrativo a seguir detalha um pouco mais da lipogênese.
Ocorrem excesso de ATP na célula e inibição da oxidação do acetil-CoA pelo ciclo de Krebs. O
acetil-CoA sai da mitocôndria na forma de citrato e, no citosol, dissocia-se novamente em acetil-CoA.
CO2
O O- CoA-SH +
TPP,
C NAD+ lipoato, NADH O S-CoA
FAD C
C O
Complexo da piruvato-desidrogenase
CH3 (E1 + E2 + E3) CH3
Piruvato Acetil-CoA
Fonte: Nelson, e Cox, 2014, p. 634.
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Figura 35 – Representação da conversão do acetil-CoA a malonil-CoA.
Cadeia lateral
H da Lys
N Braço da
O C S biotina H Proteína
N N carreadora
H C de biotina
O
HCO-3+ ATP
ADP + P1
O
O- C
S NH
O C
N Transcarboxilase
C NH
O Proteína
carreadora
de biotina
Biotina-carboxilase
O
Acetil-Coa CH3 C
S-CoA
O
HN C
N
C O
S
O O-
C
NH
Transcarboxilase
Proteína
carreadora
Biotina-carboxilase de biotina
O
HN
C
NH
S +
O C O O
NH C CH2 C
-O S-CoA
Malonil-CoA
Proteína
carreadora de
biotina
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Figura 36 – Primeira e segunda etapas: condensação e redução
O O
Grupo malonila C CH2 C S
-O
Grupo acetila CH3 C S
(primeiro grupo
acila) O O O
Ácido CH3 CH2
C C S
graxo-sintase β α
Condensação 1
CO2 HS
O O
CH3 C CH2 C S
β α NADPH + H+
HS Redução 2
NADP+
H O
CH3 C CH2 C S
1ª etapa: condensação OH
HS
2ª etapa: redução
Fonte: Nelson, D. L. COX, M. 2014, p. 835.
H O
H O
CH3 C C C S
CH3 C CH2 C S
H
OH HS
HS
Desidratação NADPH + H+
3
H2O Redução
NADP+
H O
O
CH3 C C C S
CH3 CH3 CH2 C S
H
HS Grupo acila saturado, HS
aumentado em dois
carbonos
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10.5 Síntese de corpos cetônicos
A síntese de corpos cetônicos ocorre em situações metabólicas nas quais o indivíduo encontra-
se em jejum prolongado ou em uma dieta cetogênica, ou seja, com ausência de carboidratos. Os
corpos cetônicos são compostos energéticos que podem ser utilizados pelas células nervosas
como fonte de energia na privação de carboidratos, visto que elas não têm a capacidade de oxidar
a gordura através da β-oxidação. O fígado é o responsável por este processo, oxidando o ácido
graxo em acetil-CoA e formando os corpos cetônicos a partir dele.
O estímulo da síntese de corpos cetônicos ocorre através do cortisol, responsável pela ativação
da via metabólica. Além disso, outro estímulo para a formação de corpos cetônicos é o acúmulo
de acetil-CoA na célula, pois, devido à deficiência de oxalacetato, ela não consegue ser oxidada no
ciclo de Krebs. O oxalacetato, na ausência de glicose, é desviado do ciclo de Krebs e utilizado pelo
fígado na formação de novas moléculas de glicose, em um processo denominado neoglicogênese.
A conversão do oxalacetato em glicose ocorre, em grande parte, fora da mitocôndria, a qual, por sua
vez, se torna deficiente em oxalacetato, inibindo a formação do citrato e o posterior funcionamento
do ciclo. As moléculas de acetil-CoA que se acumulam são ligadas e posteriormente hidrolisadas
em três compostos diferentes: acetaldeído, acetona e β-hidroxibutirato.
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Entretanto, sabe-se que há um componente genético associado à essa formação. As etapas de
formação do colesterol envolvem a conversão de acetil-CoA em ácido mevalônico e deste em
isopreno. O isopreno será convertido em esqualeno e este, em colesterol.
Gordura
Alimentos AGPI total EPA DHA
total
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10.7.1 Produção hepática de VLDL
Os efeitos do óleo de peixe parecem ser mediados pela ativação de muitos receptores nucleares
que interferem em nível molecular, por meio da transcrição gênica, nas células hepáticas (GILLIES et
al., 2012). Entre os receptores nucleares modulados por essa classe de ácidos graxos poli-insaturados
(AGPI), destacamos os ativados por proliferadores de peroxissomos (PPARs), os receptores X do
fígado (LXRs), o fator nuclear hepático 4 (HNF4) e a proteína ligadora do elemento regulador de
esterol (SREBP). Eles interferem na expressão de enzimas e de outras proteínas reguladoras do
processo de montagem e secreção da VLDL.
A maior enzima lipogênica do fígado é a sintetase de ácidos graxos (FAS). O promotor responsável
pela estimulação e pela expressão dela é o receptor SREBP, que, por sua vez, é regulado pelo LXR.
Os óleos de peixe são responsáveis em interferir na ligação do LXR com a região promotora do
DNA, diminuindo a disponibilidade do SREBP e, consequentemente, a transcrição da enzima FAS.
Os óleos de peixe aumentam o catabolismo de ácidos graxos pelo estímulo de enzimas hepáticas
que promovem a β-oxidação, como a acil-CoA oxidase (AOX) nos peroxissomos e a carnitina palmitoil
transferase (CPT) na mitocôndria. O aumento da expressão da AOX dá-se por meio do estímulo do
receptor nuclear PPAR-α, mas o aumento da expressão da CPT, não.
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10.7.4 Esterificação do triacilglicerol e do colesterol hepáticos
Os AGPI contidos nos óleos de peixe são substratos fracos na esterificação do TAG, ou seja,
normalmente, não são utilizados como estoque. Da mesma forma, são substratos fracos na
esterificação do colesterol. Assim, estes ácidos graxos são preferencialmente incorporados aos
fosfolipídios.
A ApoB é a principal proteína constituinte da montagem da VLDL, que ocorre em duas etapas.
Na primeira, uma pequena quantidade de TAG é associada à ApoB no retículo endoplasmático
rugoso do hepatócito, formando um precursor de VLDL pequeno e mais denso. Esse processo é
facilitado pela proteína de transporte microssomal de triacilglicerol (MTP). Durante a segunda etapa,
a molécula precursora junta-se ao droplet de TAG e forma uma grande molécula de VLDL madura.
Os óleos de peixe interferem na ligação da ApoB com o TAG na primeira etapa, promovendo sua
degradação no próprio retículo endoplasmático rugoso, em uma fase denominada proteólise pré-
secretória pós-retículo endoplasmático.
Apesar dos vários efeitos benéficos às doenças coronarianas relatados, não existem estudos que
comprovem a eficácia da ingestão de óleos de peixe na diminuição da maior lipoproteína aterogênica
da circulação: a LDL. Pelo contrário: alguns estudos sugerem que pode provocar um aumento dessa
lipoproteína na circulação. Esse aumento poderia ocorrer pela conversão da VLDL em LDL ou pela
supersecreção de ApoB da LDL. Alguns estudos em modelos animais mostram que os ω-3 podem
diminuir o número de receptores de LDL, porém esse efeito não foi comprovado em humanos.
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Quadro 10 – Fatores proteicos e não-proteicos produzidos e secretados pelo TAB.
Substância Efeitos biológicos
TGFβ Regula uma série de processos no TAB, entre eles, proliferação de pré-adipócitos
e diferenciação, desenvolvimento e apoptose de adipócitos.
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Substância Efeitos biológicos
Glicocorticóides* Gerado pela ação da 11-hidroxiesteroide desidrogenase tipo II, que transforma
cortisona em cortisol no TAB.
Apelina Ações biológicas ainda não muito claras, relacionadas ao controle dos estoques
energéticos corporais.
(*) Substâncias não protéicas; (#) proteínas sem ação hormonal.
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CONCLUSÃO
A nutrição personalizada com base nas diferenças genéticas individuais ainda não é totalmente
aplicada ao dia a dia dos pacientes/clientes. A nutrigenômica tem o potencial de contribuir para a
individualização da dieta na busca da prevenção de doenças e no auxílio a tratamentos. É importante
considerar que o estudo da nutrigenômica aborda os mecanismos pelos quais uma dieta balanceada
e rica em compostos bioativos é capaz de atuar na diminuição dos riscos de doenças crônicas,
clareando os achados epidemiológicos com o auxílio da biologia molecular. Assim, é importante que
os nutricionistas considerem tais aspectos – o conhecido e o que ainda precisa ser desvendado –
na prescrição dietética. O entendimento dos processos metabólicos é essencial para a aplicação de
conceitos da nutrigenômica, bem como para a incorporação de alimentos funcionais na prescrição
dietética.
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GLOSSÁRIO
Termociclador: são equipamentos usados em Biologia Molecular que permitem realizar os ciclos
de temperaturas necessários para uma reação em cadeia da polimerização ou amplificação de DNA,
entre outras. Um bloco de resistência elétrica distribui uma temperatura homogênea através de
uma placa durante tempos programáveis com faixas de temperatura de 0 °C a 99 °C. Inclui tampa
aquecida constantemente a 105 °C para evitar a condensação de água nas tampas dos tubos onde
ocorre a reação, e assim, evitar que os solutos se concentrem. Fonte: <https://www.novainstruments.
com.br/produtos_detalhes.aspx?ProdutoID=3968&CategoriaID=348>
Veia porta: A veia porta é um vaso sanguíneo que garante a circulação do sangue desoxigenado
dos órgãos digestivos e do baço para o fígado. É uma veia de grande calibre, vinda da fusão entre
a veia mesentérica superior e a veia esplênica. A veia porta se divide em duas partes distintas e
cada ramificação penetra de um lado e do outro do fígado. Fonte: <https://saude.ccm.net/faq/1902-
veia-porta-definicao>.
Yacon: A batata yacon é um tubérculo originário da Cordilheira dos Andes. É um alimento funcional
capaz de ajudar no controle da diabetes, na regulação intestinal e na redução do colesterol. Fonte:
<http://www.revistas.udesc.br/index.php/revistacsbea/article/download/8960/7275>.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
ALBERTS, B. et al. Biologia Molecular da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
AUGUSTIN, L. S. et al. Glycemic index in chronic disease: a review. The European Journal of
Clinical Nutrition, vol. 56, n. 11, 2002, p. 1049-71.
DE CASTRO, G. S.; CALDER, P. C. Non-alcoholic fatty liver disease and its treatment with
n-3 polyunsaturated fatty acids. Clinical Nutrition, vol. 37, n. 1, fev. 2018, p. 37-55.
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