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Funções executivas no autismo – entenda

cada uma delas


O termo “função executiva” é utilizado para falar de todas as habilidades
que têm a ver com a cognição das pessoas. As funções executivas no
autismo, no entanto, são muito afetadas. Muitas pessoas que estão no
espectro têm algum comprometimento nessas funções, ou seja, alguns
déficits. ¹

Por conta desses déficits, os autistas, muitas vezes, não conseguem


executar coisas simples como tomar banho, limpar o quarto, entre outras
coisas. O que, para as pessoas neurotípicas, parece algo tão fácil, para os
autistas pode ser até mesmo impossível. Para alguns autistas, inclusive, os
déficits nas funções executivas chegam a ser mais evidentes do que os
problemas sociais. ¹

Entendendo as funções executivas no


autismo

Clinicamente falando, as funções executivas são todos os processos


cognitivos que nos ajudam a combinar nossos pensamentos com as
nossas ações. O que inclui: ¹

• Planejamento.
• Memória de trabalho.
• Atenção.
• Solução de problemas.
• Iniciação.
• Raciocínio.
• Flexibilidade cognitiva.
• Inibição.
• Monitoramento.
Na prática, a grande questão de ter dificuldades para executar essas tarefas
é que, sem dúvida, o dia a dia fica muito mais difícil. Muitas pessoas podem
acabar tomando o autista como desorganizado, desleixado, preguiçoso ou
até mesmo calcular o nível de inteligência com base nessas falhas de
processamento. E essas dificuldades serão, de fato, percebidas o tempo
todo. Tudo que fazemos na vida – trabalhar, se divertir, estudar, fazer os
cuidados pessoais etc. – depende das nossas funções executivas. ¹

É muito importante ter em mente que nem todos os autistas terão déficits
nas funções executivas. E mesmo aqueles que tiverem, não vão ter
questões com todos os problemas listados acima. ¹

Alguns podem, por exemplo, ser perfeitamente capazes de planejar. No


entanto, não conseguem dar a iniciação para seguir. Outros, porém,
conseguem rapidamente pensar e agir na solução de um problema sem, no
entanto, conseguirem verbalizar o que fizeram. ¹

A seguir, vamos explicar melhor cada uma das funções executivas.

Planejamento
A função de planejar é, sobretudo, a capacidade de pensar e escolher que
ações são úteis para atingir uma meta. O planejamento, então, é decidir
em que ordem as coisas acontecem e estabelecer um plano de ação.

Autistas podem, de fato, ter dificuldades para planejar e executar suas


rotinas e suas tarefas do início ao fim.

Memória de trabalho
Muitas pessoas dentro do transtorno do espectro do autismo carregam
questões com memórias. No entanto, estamos falando tanto de pontos
fracos e pontos fortes. Talvez você se depare com um autista que sabe, por
exemplo, o nome de todos os modelos de carros esportivos. No entanto,
esse mesmo autista talvez não consiga memorizar os dias da semana ou as
etapas de higiene durante depois do almoço.

A memória de trabalho é a capacidade de lembrar as memórias que são


de curto prazo, aquelas específicas para executar uma tarefa diária ou uma
função simples.

Atenção
A atenção tem tudo a ver com a memória de trabalho. E, assim como no
tópico anterior, falamos aqui de pontos fortes e fracos em relação à
atenção.

Alguns autistas podem demonstrar uma capacidade enorme de foco e


atenção. No entanto, pode ser desafiador pedir que o mesmo autista
coloque o seu foco em outras coisas – ainda que elas sejam importantes. A
grande questão é que se a pessoa não consegue se concentrar em outras
tarefas periféricas ao seu interesse, isso, de fato, pode afetar a capacidade
a memória de curto prazo.

Além disso, o foco pode, também, estar diretamente ligado com as


questões sensoriais. Imagine que, na sala de aula, o aluno autista em vez
de focar na professora de repente começa a focar nos sons de lápis batendo,
ou na forte luz que entra na janela. Por serem coisas que afetam seus
estímulos, também tomam conta da atenção.

Solução de problemas
Pessoas neurotípicas sabem, por exemplo, o que elas devem fazer se um
copo cai e quebra (varrer os pedaços e jogar no lixo). Esse é, de fato, um
exemplo de como funciona a nossa função de solucionar problemas. A
função de solução de problemas utiliza quase todas as outras funções
executivas, ou seja, raciocínio, atenção, planejamento, iniciação, memória de
trabalho e monitoramento.
Como dissemos, um autista não exatamente tem déficits em toda a lista.
Porém, basta uma dessas coisas não funcionar adequadamente para
quebrar a cadeia lógica que o cérebro usa para chegar à solução.

Iniciação
Iniciação é a capacidade de colocar as ideias em prática, iniciando o plano
ou a tarefa. Para muitos autistas, os déficits de iniciação fazem com que
eles não consigam, por exemplo, montar o tabuleiro de um jogo que eles
querem jogar. Ou, então, começar a fazer o dever de casa.

Nesses casos, os autistas precisam que outra pessoa comece no lugar


deles. Não é algo que afeta a vontade de fazer, apenas a capacidade de
simplesmente começar a fazer.

Raciocínio
O raciocínio – mental ou verbal – é quando o indivíduo analisa, compreende
e pensa de forma mais crítica os conceitos. Um bom raciocínio é, também,
uma boa retransmissão do raciocínio.

No entanto, a incapacidade de reprodução de conceitos, principalmente na


forma verbal, é uma das características mais presentes em autistas. Isso
afeta diretamente a construção de relações sociais e a interpretação dos
códigos de comportamento.

Flexibilidade cognitiva
A flexibilidade cognitiva é, em resumo, a capacidade de acompanhar as
mudanças, aquelas coisas que podem mudar todo o nosso planejamento.
Autistas, em boa parte dos casos, precisam de previsibilidade, de uma
vida com regras, com estruturas. E mudar pode ser extremamente
desafiador.
Diante das mudanças, alguns autistas podem resistir com seus
pensamentos rígidos, com suas opiniões e ideias inflexíveis. Dependendo
do grau de impacto da mudança, pode levar muito tempo para que o autista
consiga se adaptar.

Inibição
Outra função executiva igualmente importante é a inibição, ou seja, o
controle dos impulsos. A inibição ajuda qualquer pessoa a não se deixar
levar por qualquer ideia. Pois nem tudo que pensamos em fazer é algo que
realmente pode ser feito.

Os autistas costumam ter algumas formas bem peculiares de demonstrar


que a função da inibição está falhando. Por exemplo, as explosões
emocionais, a agitação das mãos e os comportamentos repetitivos
(também conhecido como ‘stim’ – embora algumas formas de ‘stim’ também
sejam maneiras de o autista acalmar os nervos).

Para quem cuida de um autista, é importante ter atenção às demonstrações


de que um comportamento inadequado pode surgir. Por exemplo, se a
criança resolver, do nada, que ela deve comer todos os pacotes de biscoito
que estão no armário.

Monitoramento
Por último, temos o monitoramento como uma das funções executivas no
autismo, um processo que é inconsciente que fica em ação quando estamos
fazendo aquelas tarefas normais. Em resumo, quando estamos no piloto
automático.

Por exemplo: se você está andando e conversando com alguém na rua, só


uma parte bem pequena do seu cérebro está pensando no andar. Isto
porque você já sabe como dar passo após passo. Então é nessas horas que
monitoramento trabalha mais, impedindo você de tropeçar ou esbarrar nos
postes e nas pessoas enquanto conversa.
Alguém que tenha problemas nas funções executivas pode ver o
monitoramento falhar de vez em quando. Pode ser bem difícil entrar no
piloto automático nas atividades básicas, principalmente em momentos
de cansaço ou se estiver sobrecarregado.

Como ajudar autistas com problemas nas


funções executivas

As funções executivas no autista – assim como em qualquer pessoa – são


desenvolvidas até os 20 anos. O que dá, assim, bastante tempo para
desenvolver ajustes nessas habilidades. A seguir, uma lista rápida para te
ajudar a auxiliar um autista nesses casos.
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• Utilize meios visuais para orientação de tarefas. Esta é, sem dúvida, uma
forma muito útil não apenas para as funções executivas. Mas todo o
aprendizado de um autista tem benefícios no uso de meios visuais.
• Em casa, tenha lugares fixos para destinar coisas e tarefas. Por exemplo, a
escova de dente deve ficar no mesmo lugar; o cesto de roupas sujas deve ser
sempre o mesmo.
• Reserve um bom tempo e tenha paciência quando for ensinar uma tarefa
nova.
• Evite intervir toda vez que a criança tiver dificuldade. Fazer as coisas no
lugar dela não ajuda a desenvolver as funções executivas.
• Ao orientar uma tarefa, divida em partes. Para a criança, pode ser muito mais
funcional entender etapa por etapa da atividade até que ela assimile o caminho
inteiro.
• Se possível, conte com a ajuda profissional de um terapeuta ocupacional.
A importância de estimular as funções
executivas no autismo

Estimular as funções executivas no autismo é muito importante para o


desenvolvimento deles. Com o tempo, o autista ganha independência e os
reflexos disso na autoestima são enormes. Além disso, fale sobre essas
dificuldades com toda a rede de adultos envolvidos, o que inclui
professores, cuidadores e familiares. O processo da aprendizagem
acontece o tempo todo, em todos os lugares. Portanto, se você é mãe ou pai
de um autista, não se deixe sobrecarregar. Como nós sempre defendemos
aqui no Autismo em Dia, a saúde física e mental dos pais também é
importante no desenvolvimento dos filhos.

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