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TERMO

O que você sabe sobre comorbidades? E, por exemplo, sobre propriocepção? Parece
coisa de outro mundo, não é mesmo? O transtorno do espectro do autismo é algo tão
amplo e complexo que, muitas vezes, você pode ficar perdido em meio a tantos
termos. Iremos explicar o autismo em 15 palavras que você, com frequência, vai ler ou
ouvir em textos, vídeos e consultas médicas.
Muitas pessoas já estão familiarizadas com o que vamos falar a seguir. Porém, para
muitos pais, mães, avós, tios, professores o autismo ainda é uma realidade nova. O
artigo a seguir é um guia essencial para você entender, de fato, o que são as principais
coisas que acontecem no autismo. É, principalmente, uma forma de você ter alguma
autonomia quando for buscar conhecimento de qualidade para lidar com alguém que
esteja no espectro.
1 – Ecolalia
Ecolalia significa a repetição de sons, palavras ou até frases inteiras. Quem tem ecolalia
como uma das comorbidades do autismo, nem sempre consegue expressar o que
sente ou precisa de uma forma eficiente. No entanto, esta pessoa tende a repetir o que
ouve. Por exemplo: se você fizer uma pergunta a um autista com ecolalia, é possível
que ele repita a pergunta em vez de respondê-la.
2 – ABA
ABA, ou método ABA, como também é chamado, é uma sigla para Applied Behavioral
Analysis. Em tradução livre, é a análise do comportamento aplicada. E é, sem dúvida,
um dos métodos de intervenção mais populares entre os autistas atualmente.
A proposta do método ABA é que terapeutas ensinem habilidades comunicativas,
sociais, acadêmicas e autocuidado. Assim, o método prevê a diminuição de
comportamentos prejudiciais ou aqueles que podem afetar o aprendizado.
3 – Meltdown/Shutdown
O meltdown é um termo em inglês que, na prática, é usado em referência aos colapsos
que podem acontecer com um autista. Por ter início, em geral, com episódios de raiva,
o meltdown é, muitas vezes, confundido com acessos de fúria. No entanto, o meltdown
é uma forma de reação do corpo em situações confusas ou que sejam estimulantes
demais. ²
O meltdown pode ser algo mais expansivo e visível. No entanto, a reação também pode
ser silenciosa, o que chamamos de Shutdown. A dica é prestar atenção se o autista
teve uma reação atípica de comportamento repentinamente. ²
4 – Stimming (comportamento repetitivo)
Uma das palavras mais comuns no autismo é o stimming, que nada mais é que o
comportamento repetitivo. Inclusive, muita gente que não tem tanta familiaridade com
o autismo tem o comportamento repetitivo como uma forma de definir o autismo.
Porém, é sempre bom lembrar que o autismo é uma soma de fatores e não apenas um
comportamento, ainda que ele seja algo mais visível. ³
Muitas pessoas autistas, por exemplo, apresentam comportamentos clássicos como
girar objetos, balançar o corpo, bater palmas ou enfileirar coisas. Geralmente, esses
comportamentos ajudam o autista a aliviar o estresse e a super estimulação. Ou seja, o
stimming não é algo necessariamente ruim ou prejudicial. Pode, inclusive, funcionar
em casos de meltdown.
5 – Programação visual
Programações visuais são ótimas para trabalhar comportamentos em autistas que
tenham alguma dificuldade de entender alguns conceitos. É uma forma prática de fazê-
los entender, por exemplo, tarefas diárias, emoções, entre outras coisas. A
programação visual também ajuda na transição de uma tarefa para outra, já que dá
indicações do que o autista pode esperar de uma situação que ainda não aconteceu.
Entre as palavras importantes no autismo que já listamos até aqui está o ABA, que é
muito apoiado em programações visuais.
6 – Síndrome de Savant
A síndrome de Savant aponta para aqueles autistas que têm muito conhecimento
numa área especializada – seja ela qual for. Não por acaso, autistas Sanvants são tidos
como gênios, porém, essa não é a interpretação mais adequada do que é a síndrome.
Claro que a inteligência chama atenção e a raridade do surgimento também, mas é um
equívoco condicionar a inteligência de um autista à síndrome.
7 – Habilidade de fragmentação
Uma pessoa com autismo tem boas chances de ter habilidades fragmentadas. Ou seja,
fazer uma ou mais coisas muito bem, enquanto outras habilidades aparentemente
simples podem ser muito mais difíceis.
8 – Transtorno de processamento sensorial
Outra das palavras mais comuns quando o assunto é autismo é “sensorial”, já que essa
é uma questão que pode tomar diferentes formas. Uma desordem de processamento
sensorial é uma condição neurológica em que os sinais sensoriais não trabalham do
jeito certo. Assim, quando há a desordem, o corpo reage de maneiras extremas a
certos estímulos. Por exemplo, se uma criança autista se sente muito irritada com a
textura de certo alimento ou de algum material.
Essa é uma desordem que pode causar muitos transtornos, já que frequentemente ela
interfere limitando hábitos importantes para uma vida saudável.
adolescente autista
Fonte: Pexels – Foto de Cottonbro
9 – Sistema vestibular
No corpo humano, o sistema vestibular é o que dá a orientação espacial e o equilíbrio.
Sendo assim, é por ele que coordenamos nossos movimentos. Muitos autistas têm
dificuldade de controlar movimentos. Um exemplo claro que, inclusive, já abordamos
aqui o blog é a questão do andar na ponta dos pés.
10 – Propriocepção
Na mesma linha do sistema vestibular, há, igualmente, a propriocepção, que é a
capacidade do corpo de sentir em que posição estamos em relação às outras coisas. A
propriocepção também mede a força necessária para criar esse movimento levando
em conta as coisas que estão próximas. É um sentido que faz a gente entender onde
estão as nossas partes do corpo, assim como braços, pernas, cabeças, entre outras.
Um exemplo de como usamos a propriocepção é quando precisamos bater palma ou
quando precisamos empurrar um objeto.
11 – Comorbidade
Várias das palavras importantes para o autismo que tratamos aqui são, na verdade,
comorbidades. Na prática, uma comorbidade é uma condição de saúde que coexiste
com outra. Ou seja, duas ou mais condições adversas no mesmo corpo.
Constantemente, o autismo é acompanhado de comorbidades como epilepsia, TOC
(transtorno obsessivo compulsivo), ecolalia, entre outras. Apesar disso, as
comorbidades são tratadas individualmente, e não de uma forma generalizada.
12 – Atenção conjunta
A atenção conjunta é uma habilidade sociocomunicativa que começa logo nos
primeiros meses de vida. É através dela que os bebês apontam e aprendem a
compartilhar as coisas, assim como seguir o olhar das pessoas. Por isso, a falta da
atenção conjunta ou mesmo falhas nesse processamento são as primeiras coisas que
os pais observam como sinal em que a criança não está cumprindo marcos do
desenvolvimento. Quando investigados cedo, esses sinais muitas vezes são levados em
conta no diagnóstico de autismo.
13 – Prosódia
A prosódia é o ritmo da linguagem falada, algo que pode ser desafiador para um
autista. A prosódia é a frequência, a altura, a ênfase e a entonação que usamos. Sem
ela, sem dúvida não seríamos capazes de colocar todas as nossas emoções e intenções
na comunicação oral.
Uma característica que, de fato, é marcante entre autistas é, justamente, o jeito
monótono da voz ou mesmo entonações “cantadas”. Para saber mais sobre questões
da fala de um autista, recomendamos o download gratuito do nosso e-book especial. 7
14 – Cognição
Uma das palavras mais citadas nos materiais sobre autismo é a “cognição”, pois é uma
das áreas em que os autistas mais sofrem déficits. E o motivo é claro: a cognição tem a
ver, desse modo, com aprendizado e produção de conhecimento. Porém, além do
intelecto, a cognição também atua nas capacidades emocionais, na memória, no
raciocínio e na percepção das coisas.
Por isso que muitos autistas fazem terapia cognitivo-comportamental. O intuito dela é
estimular o desempenho na escola, na universidade e na vida comum.
15 – Neurotípíco/neuroatípico
Neurotípico é um termo que a comunidade autista utiliza para falar de pessoas que
têm o desenvolvimento neurológico consistente com o que a maioria das pessoas
consideraria dentro dos padrões. Principalmente no que se refere aos comportamentos
sociais e ao desenvolvimento linguístico.
Assim sendo, o neuroatípico, ou apenas “atípico”, é uma pessoa que não atende aos
critérios de desenvolvimento neurológico. O termo “atípico” serve tanto para autistas
como para portadores de outras desordens.
Como se referir a uma pessoa com autismo?
Geralmente, os próprios autistas preferem o termo pessoa autista. Em outras palavras
é um termo mais ligado aos ideais da neurodiversidade, que é como a maioria dos
autistas ativistas se reconhecem e se percebem. Eles repudiam a visão do espectro
autista como uma doença a ser curada. As pessoas autistas se veem como um grupo
social de pessoas com cérebro neuro divergente.
Quais os símbolos corretos para representar a pessoa autista? Quais não utilizar?
Atualmente, pessoas autistas questionam alguns símbolos que se tornaram bastante
emblemáticos na comunidade do autismo. Como, por exemplo, o quebra-cabeças.
Afinal, ele passa a ideia de que autistas tem algo que falta, um mistério complexo,
difícil, enigmático demais.
Nos dias atuais, há uma preferência pelo símbolo do infinito em arco-íris. A explicação
é que ele representa a noção de espectro. Ou seja, o espectro não como divisão de
mais ou menos autista. Mas com todas as possibilidades de o autismo se manifestar
em todas as cores, que podem variar muito em cada característica de uma pessoa pra
outra.

LEGISLAÇÕES
LEIS E DIREITOS
Sancionada em 8 de janeiro de 2020, a Lei 13.977, conhecida como Lei Romeo Mion,
cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do
Espectro Autista (Ciptea). A legislação vem como uma resposta à impossibilidade de
identificar o autismo visualmente, o que com frequência gera obstáculos ao acesso a
atendimentos prioritários e a serviços aos quais os autistas têm direito, como
estacionar em uma vaga para pessoas com deficiência. O documento é emitido de
forma gratuita por órgãos estaduais e municipais. É importante ressaltar que as
pessoas com TEA têm os mesmos direitos garantidos a todos os cidadãos do país pela
Constituição Federal de 1988 e outras leis nacionais. Dessa forma, as crianças e
adolescentes autistas possuem todos os direitos previstos no Estatuto da Criança e
Adolescente (Lei 8.069/90), e os maiores de 60 anos estão protegidos pelo Estatuto do
Idoso (Lei 10.741/2003).
A Lei Berenice Piana (12.764/12) criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, que determina o direito dos autistas a um
diagnóstico precoce, tratamento, terapias e medicamento pelo Sistema Único de
Saúde; o acesso à educação e à proteção social; ao trabalho e a serviços que propiciem
a igualdade de oportunidades. Esta lei também estipula que a pessoa com transtorno
do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais.
Isto é importante porque permitiu abrigar as pessoas com TEA nas leis específicas de
pessoas com deficiência, como o Estatuto da Pessoa com Deficiência (13.146/15), bem
como nas normas internacionais assinadas pelo Brasil, como a Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (6.949/2000).
Sancionada em 8 de janeiro de 2020, a Lei 13.977, conhecida como Lei Romeo Mion,
cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea).
A legislação vem como uma resposta à impossibilidade de identificar o autismo
visualmente, o que com frequência gera obstáculos ao acesso a atendimentos
prioritários e a serviços aos quais os autistas têm direito, como estacionar em uma
vaga para pessoas com deficiência. O documento é emitido de forma gratuita por
órgãos estaduais e municipais.
Além destas políticas públicas mais abrangentes, vale destacar algumas legislações que
regulam questões mais específicas do cotidiano.
Lei 13.370/2016: Reduz a jornada de trabalho de servidores públicos com filhos
autistas. A autorização tira a necessidade de compensação ou redução de vencimentos
para os funcionários públicos federais que são pais de pessoas com TEA.
Lei 8.899/94: Garante a gratuidade no transporte interestadual à pessoa autista que
comprove renda de até dois salários mínimos. A solicitação é feita através do Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS).
Lei 8.742/93: A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que oferece o Benefício da
Prestação Continuada (BPC). Para ter direito a um salário mínimo por mês, o TEA deve
ser permanente e a renda mensal per capita da família deve ser inferior a ¼ (um
quarto) do salário mínimo. Para requerer o BPC, é necessário fazer a inscrição no
Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e o
agendamento da perícia no site do INSS.
Lei 7.611/2011: Dispõe sobre a educação especial e o atendimento educacional
especializado.
Lei 7.853/ 1989: Estipula o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração
social, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas,
disciplina a atuação do Ministério Público e define crimes.
Lei 10.098/2000: Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Lei 10.048/2000: Dá prioridade de atendimento às pessoas com deficiência e outros
casos.
Projeto estabelece direitos para autistas depois dos 18 anos de idade
Proposta também garante acesso de pessoas com esse transtorno aos serviços públicos
e privados
Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
Deputado Alexandre Frota: o autismo não se encerra aos 18 anos de idade
O Projeto de Lei 3717/20, do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), garante às pessoas
com Transtorno do Espectro Autista, mesmo que adquira a maioridade, todos os
direitos estabelecidos na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também
chamado de Estatuto da Pessoa com Deficiência.
A proposta garante ainda todos os direitos constitucionais normatizados por leis que
estendem o acesso do deficiente aos serviços públicos e privados.
“Como todos sabemos, o Transtorno do Espectro Autista não se encerra aos 18 anos de
idade, mas a maioria das leis de proteção aos autistas preveem cuidados apenas na
infância e na adolescência”, disse o deputado. O objetivo do projeto é eliminar o limite
de idade.
REFERÊNCIAS
https://www.camara.leg.br/noticias/721563-projeto-estabelece-direitos-para-autistas-
depois-dos-18-anos-de-idade/
https://omundoautista.uai.com.br/como-se-referir-a-uma-pessoa-autista/
https://www.autismoemdia.com.br/blog/autismo-em-palavras/
https://autismoerealidade.org.br/convivendo-com-o-tea/leis-e-direitos/

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