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Estruturas de Concreto Protendido

Aula 2 - Estados Limites de


Utilização e Últimos

Prof. Esp. Valdir R. Santos


FTC / Engenharia Civil

2013.1

NÍVEIS DE PROTENSÃO
Estão relacionados com os níveis de intensidade da força de
protensão, que por sua vez é função da proporção de armadura
ativa utilizada em relação à passiva.
Podem ser considerados os seguintes níveis de protensão:
Nível 1 : protensão parcial
Nível 2 : protensão limitada
Nível 3 : protensão completa

A escolha do nível de protensão a adotar em uma estrutura irá


depender:
das exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à
proteção das armaduras, em função das classes de agressividade
ambiental.
A NRB 6118:2003 estabelece que nos projetos das estruturas correntes, a
agressividade ambiental deve ser classificada de acordo com os critérios
apresentados na tabela 1:

1
Tabela 1 - Classes de agressividade ambiental
Classe de Agressividade Classificação geral do Risco de
agressividade tipo de ambiente para deterioração da
ambiental efeito de projeto estrutura
I Fraca Rural Insignificante
Submersa
II Moderada Urbana 1) , 2) Pequeno
III Forte Marinha 1) Grande
Industrial 1) , 2)

IV Muito forte Industrial 1) , 3) Elevado


Respingos de maré
1) Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda
(um nível acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros,
cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais
ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura.
2 ) Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda(um nível acima) em:
obras em regiões de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%,
partes da estrutura protegidas de chuva em ambiente predominantemente secos,
ou regiões onde chove raramente.
3) Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia,
branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes,
indústrias químicas.

Tabela 2 - Correspondência entre classe de agressividade e


qualidade do concreto
Concreto Tipo Classe de agressividade (tabela 1)
I II III IV
Relação CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45
água/aglomerant
e em massa CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45

Classe de CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40


concreto
CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40
(NBR 8953)
NOTAS:
CA Componentes e elementos estruturais de concreto armado
CP Componentes e elementos estruturais de concreto protendido

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Tabela 3 - Correspondência entre classe de agressividade
ambiental e cobrimento nominal para ∆c=10mm
∆c - Tolerância de execução para o cobrimento
Classe de agressividade ambiental (tabela 1)
3)
Tipo de estrutura Componente ou I II III IV
elemento Cobrimento nominal
mm
2)
Concreto armado Laje 20 25 35 45
Viga/Pilar 25 30 40 50
1)
Concreto protendido Todos 30 35 45 55
1)
Cobrimento nominal da armadura passiva que envolve a bainha ou os fios, cabos e cordoalhas,
sempre superior ao especificado para o elemento de concreto armado, devido aos riscos de
corrosão fragilizante sob tensão.
2)
Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com
revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento
tais como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos, e outros tantos, as
exigências desta tabela podem ser substituídas pelo item 7.4.7.5 respeitado um cobrimento nominal
≥ 15 mm.
3)
Nas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto,
condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente
agressivos a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45mm.

Tabela 4 – Exigências de durabilidade relacionadas à


fissuração e à proteção da armadura, em função das classes
de agressividade ambiental
Tipo de concreto Classe de agressividade Exigências relativas à Combinação de ações
estrutural ambiental (CAA) e tipo de fissuração em serviço a utilizar
proteção
Concreto simples CAA I a CAA IV Não há --
Concreto armado CAA I ELS-W wk ≤ 0,4 mm Combinação freqüente
CAA II a CAA IV ELS-W wk ≤ 0,3 mm Combinação freqüente
Concreto protendido Pré tração com CAA I
nível 1 ou ELS-W wk ≤ 0,2 mm Combinação freqüente
(protensão parcial) Pós tração com CAA I e II
Concreto protendido Pré tração com CAA II Verificar as duas condições abaixo
nível 2 ou ELS-F Combinação freqüente
(protensão limitada) Pós tração com CAA III e IV ELS-D* Combinação quase
permanente
Concreto protendido Verificar as duas condições abaixo
nível 3 Pré tração com CAA III e IV ELS-F Combinação rara
(protensão completa) ELS-D* Combinação freqüente
As definições de ELS-W, ELS-F e ELS-D encontram-se no item 3.2 .
Para as classes de agressividade ambiental CAA-III e IV exige-se que as cordoalhas não aderentes tenham
proteção especial na região de suas ancoragens.
* A critério do projetista, o ELS-D pode ser substituído pelo ELS-DP com ap = 25 mm (figura 1).

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NÍVEIS DE PROTENSÃO
Nível 3 – Protensão Completa
Nível 2 – Protensão Limitada
Nível 1 – Protensão Parcial

OBS: Pode-se notar o


ganho de capacidade
resistente à medida
que cresce o nível de
protensão empregado.

Evolução da flecha em vigas de concreto armado e protendidas

DEFINIÇÕES DE ESTADOS
LIMITES
• ESTADO LIMITE DE UMA ESTRUTURA: “Estados a partir
dos quais a estrutura apresenta desempenhos inadequados às
finalidades da construção.”
• ESTADO LIMITE ÚLTIMO (ELU): Estado limite relacionado ao
colapso, ou a qualquer outra forma de ruína estrutural, que determine a
paralisação no todo ou em parte, do uso da estrutura.
• ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO (OU DE
UTILIZAÇÃO)(ELS): Estados limites relacionados à durabilidade das
estruturas, aparência, conforto do usuário e boa utilização funcional da
mesma, seja em relação aos usuários, seja às máquinas e aos equipamentos
utilizados.

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ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO (ELS)
•ESTADO LIMITE DE FORMAÇÃO DE FISSURAS (ELS-F)
Estado em que se inicia a formação de fissuras. Admite-se que
este estado limite é atingido quando a tensão de tração máxima na seção
transversal for igual a fct,f .

A resistência à tração na flexão é dado por fct,f = 1,2 fctk,inf para peças
de seção T e, igual a fct,f = 1,5 fctk,inf para peças de seção retangular.

A resistência característica inferior do concreto à tração (fctk,inf) é


determinada por:

2
f = 0 ,21  f  3
ctk , inf  ck 

ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO (ELS)


•ESTADO LIMITE DE ABERTURA DAS FISSURAS (ELS-W)
Estado em que as fissuras se apresentam com aberturas
iguais aos máximos especificados na Tabela 4. A verificação da
segurança aos estados limites de abertura de fissuras deve ser
feita calculando-se as tensões nas barras da armadura de tração
no estádio II (concreto fissurado à tração e comportamento
elástico linear dos materiais).

5
ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO (ELS)
• ESTADO LIMITE DE DESCOMPRESSÃO (ELS-D)
Estado no qual em um ou mais pontos da seção transversal a
tensão normal é nula, não havendo tração no restante da seção.
Verificação usual no caso do concreto protendido.
• ESTADO LIMITE DE DESCOMPRESSÃO PARCIAL (ELS-DP)
Estado no qual garante-se a compressão na seção transversal, na
região onde existem armaduras ativas. Esta região deve se estender a
uma distância maior que ap da face mais próxima da cordoalha ou da
bainha de protensão.

Fig. 1

ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO (ELS)


• ESTADO LIMITE DE COMPRESSÃO EXCESSIVA (ELS-CE)
Estado em que as tensões de compressão atingem o
limite convencional estabelecido. Usual no caso do concreto
protendido na ocasião da aplicação da protensão.

DIAGRAMAS
CARGA
X
FLECHA
EM PEÇAS
FLETIDAS

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EVOLUÇÃO DAS TENSÕES EM PEÇA PROTENDIDA

Evolução da flecha e Estados Limites

Combinação das Ações


As combinações de ações apresentadas na tabela 4 são definidas na
seqüência:

•Combinações quase – permanentes


m n
Fd,uti = ∑ FGi,k + ∑ ψ 2 jFQj,k
i =1 j= 2

•Combinações freqüentes

m n
Fd,uti = ∑ FGi,k + ψ 1FQ1,k + ∑ ψ 2 jFQj,k
i =1 j= 2

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•Combinações raras
m n
Fd , uti = ∑ FGi , k + FQ 1 , k + ∑ ψ 1 jFQj , k
i=1 j= 2
Nas combinações apresentadas as parcelas componentes têm
as seguintes designações:
•FGi,k : valor característico das ações permanentes;

FQ1,k : valor característico da ação variável considerada como


ação principal para a combinação;

FQj,k : valor característico de cada uma das demais ações


variáveis;

ψ1 e ψ2 : fatores de redução para as ações variáveis, conforme


tabela apresentada a seguir.

Valores dos fatores de redução ψ1 e ψ2 para as ações variáveis


Ações ψ 1 ψ 2

Cargas Locais em que não há predominância de pesos


de equipamentos que permanecem fixos por 0,4 0,3
acidentais longos períodos de tempo, nem de elevadas
de edifícios concentrações de pessoas 1)

Locais em que há predominância de pesos de


equipamentos que permanecem fixos por longos 0,6 0,4
períodos de tempo, ou de elevada concentração
de pessoas 2)

Biblioteca, arquivos, oficinas e garagens 0,7 0,6

Vento Pressão dinâmica do vento nas estruturas em 0,3 0


geral

Temperatura Variações uniformes de temperatura em relação 0,5 0,3


à média anual local

Cargas Passarelas para pedestres 0,4 0,3


Pontes rodoviárias 0,5 0,3
móveis e Pontes ferroviárias não especializadas 0,7 0,5
seus efeitos Pontes ferroviárias especializadas 1,0 0,6
dinâmicos Vigas de rolamento de pontes rolantes 0,8 0,5

1) Edifícios residenciais.
2) Edifícios comerciais e de escritórios

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Análise dos 3 Níveis de Protensão

Evolução da flecha em vigas de concreto armado e protendidas

OBS: Os 3 níveis estão relacionados com os níveis de intensidade da força de


protensão, que por sua vez é função da proporção de armadura ativa utilizada em
relação à passiva. Eles estão associados a combinações de ações de utilização.

PROTENSÃO COMPLETA – NÍVEL 3


Existe Protensão Completa quando se verificam as duas condições:

a) Para as Combinações Freqüentes de Ações, previstas no projeto, é


respeitado o Estado Limite de Descompressão (ELS-D).

b) Para as Combinações Raras de Ações, quando previstas no projeto, é


respeitado o Estado Limite de Formação de Fissuras (ELS-F).

A verificação da segurança em relação aos estados limites de


descompressão e de formação de fissuras pode ser feita
calculando-se a máxima tensão de tração do concreto no
Estádio Ia (concreto não fissurado e comportamento elástico
linear dos materiais, com iguais módulos de elasticidade do
concreto à tração e à compressão), admitindo-se para a
resistência à tração na flexão os valores:

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fct,f = 1,2 fctk,inf para peças de seção T ou duplo T

fct,f = 1,5 fctk,inf para peças de seção retangular

Em relação às tensões de compressão existentes na seção


transversal, deve ser respeitado o Estado Limite de
Compressão Excessiva (ELS-CE), que é o estado em que
nas peças fletidas é atingido o limite convencional de
0,7fckj.

EXEMPLO: a) Combinação freqüente de Ações → ELS-D


,,
σ ,, ,, ,,
P
q = σ c ≥ − 0,7f ck
+ σ
g + ψ σ
∞ 1

,
, ,
σ
, + σ
g +
ψ
1
σ
q = σc ≤ 0
P

b) Combinação rara de ações→


→ ELS-F
,,
σ
,, ,,
P + σ + σ ,,
g q = σ ≥ − 0,7f
∞ c ck

, , , ,
σ σ + σ = σ ≤f
P

+
g q c ct,f

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PROTENSÃO LIMITADA – NÍVEL 2
Existe Protensão Limitada quando se verificam as duas condições:

a) Para as Combinações Quase - Permanentes de Ações, previstas no


projeto, é respeitado o Estado Limite de Descompressão (ELS-D).

b) Para as Combinações Freqüentes de Ações, previstas no projeto, é


respeitado o Estado Limite de Formação de Fissuras (ELS-F).

EXEMPLO: a) Combinação quase – permanente → ELS-D


,,
σ ,, ,, ,,
P
q = σc ≥ − 0,7fck
+ σ + ψ σ
∞ g 2

, , , ,
σ
P + σ + ψ σ = σ ≤ 0
∞ g 2 q c

b) Combinação freqüente → ELS-F


,, ,, ,, ,,
σ
P + σ + ψ σ = σ ≥ − 0 ,7 f

g 1 q c ck

, , , ,
σ σ + ψ σ = σ ≤f
P

+
g 1 q c ct, f

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PROTENSÃO PARCIAL – NÍVEL 1
Existe Protensão Parcial quando se verificam as duas condições:

a) Para as Combinações Quase - Permanentes de Ações, previstas


no projeto, é respeitado o Estado Limite de Descompressão (ELS-
D);

b) para as Combinações Freqüentes de Ações, previstas no


projeto, é respeitado o Estado Limite de Abertura de Fissuras
(ELS-W), com wk ≤ 0,2 mm.

Tipos de Protensão e Estados Limites a verificar

Estados Descompressão Formação de Abertura de


fissuras fissuras
limites de
utilização
- - -

Tipo de Combinações
de ações
Protensão
Quase- freqüente rara
permanente
Completa Descompressão Descompressão Formação de
fissuras
Limitada Descompressão Formação de
fissuras -
Parcial Descompressão Abertura de
fissuras -

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De acordo com a NBR 6118:2003 tem-se:
“17.3.3.2 Controle da fissuração através da
limitação da abertura estimada das fissuras
• O valor da abertura das fissuras pode sofrer a influência de
restrições às variações volumétricas da estrutura difíceis de
serem consideradas nessa avaliação de forma suficientemente
precisa. Além disso, essa abertura sofre também a influência das
condições de execução da estrutura.
• Para cada elemento ou grupo de elementos das armaduras
passiva e ativa aderente (excluindo-se os cabos protendidos que
estejam dentro de bainhas), que controlam a fissuração do
elemento estrutural, deve ser considerada uma área Acr do
concreto de envolvimento, constituída por um retângulo cujos
lados não distam mais de 7,5φφ do eixo da barra da armadura,
conforme detalhado na figura a seguir.

Concreto de envolvimento da armadura

OBS: É conveniente que toda a armadura de pele φi da viga, na sua zona


tracionada, limite a abertura de fissuras na região Acri correspondente, e
que seja mantido um espaçamento menor ou igual a 15φ φ.

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Como determinar o valor característico da abertura de
fissuras(wk)?
O valor característico da abertura de fissuras, wk, determinado para cada parte
da região de envolvimento, é a menor dentre os obtidos pelas expressões que
seguem :

φ σsi 3σsi φi σsi  4 


wk = i wk =  +45
12,5ηi Esi fctm 12,5ηi Esi  ρri 
onde:
σsi, φi, Esi, ρri são definidos para cada área de envolvimento em exame;
Acri é a área da região de envolvimento protegida pela barra φi ;
Esi é o módulo de elasticidade do aço da barra φi considerada;
φi é o diâmetro da barra que protege a região de envolvimento considerada;
ρri é a taxa de armadura passiva ou ativa aderente (que não esteja dentro de
bainha) em relação a área da região de envolvimento (Acri);
σsi é a tensão de tração no centro de gravidade da armadura considerada,
calculada no Estádio II.

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