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Do que é feito o ensino médio?

Há quem diga que esse período escolar é composto pelos namoros, os bailes, as festas e sem contar
toda aquela pressão escolar, mas não era assim em Konoha. O sexo e as drogas ilícitas eram
praticamente uma regra juntamente com as drogas lícitas para poder dormir, ou não dormir e
aquelas para podere se concentrar melhor.

Sem contar as fofocas que rolavam no Instagram, é claro.

Eu sempre achei tão cômico o quanto os adolescentes conseguiam ser estúpidos e ignorantes,
principalmente aqueles que nasceram em berço de ouro, aqueles que sempre tiveram tudo o que
queriam e quando queriam em mãos.

Geralmente estavam tão focados com as suas roupas de marcas, as curtidas nas fotos, os carros de
luxo e o famigerado "topo da pirâmide social", que acabavam sem ver absolutamente nada ao seu
redor. Eram tão preocupados em serem aceitos e se sentirem parte de algo, que nem sequer
conseguiam ver os fatos, mesmo que eles estivessem a um palmo na sua frente.

Se todos eles soubessem, achariam cômico como o topo da pirâmide é recheado de mentiras e
segredos, de como os piores pecados vem exatamente daqueles que nascem com mais dinheiro.

Mas as garotas ao meu redor tinham preocupações tão pequenas, como a dieta da moda, se a Kylie
Jenner realmente havia feito aquele preenchimento labial tão falado, se conseguiriam ter mais de
dez mil seguidores no Instagram ou como conseguir tirar A+ na prova de química sem ter que transar
com o professor. Os garotos, infelizmente, não eram muito diferentes disso. Eu duvidava que a
maioria sequer tivesse cérebro.

Não que eu estivesse reclamando, é claro. Essa situação toda, a futilidade e o ego das pessoas ao
meu redor era o que me deixava mais confiante.

As aparências eram as nossas melhores amigas para tudo o que nós fazíamos. Éramos perfeitos,
éramos exatamente aquilo que os outros esperavam o que fossemos, até porque, de uma forma ou
outra, não havia maneira de fugirmos do nosso destino, de escapar daquilo que havíamos sido
criados para ser.

Só que o peso de herdar sobrenomes tão imponentes era algo pesado demais para meros
adolescentes impulsivos. Havíamos sido ensinados desde cedo a nunca demonstrar fraqueza.

Quando se cresce em meio a pessoas que têm a mentira como algo tão natural quanto respirar, você
aprende fácil o que dizer, quando dizer e como você vai dizer. No entanto, as mentiras tem um peso
enorme, elas se acumulam até você ficar preso em meio a uma teia que você mesmo criou. E de
repente, você se vê refém dos seus próprios segredos.

Nenhum de nós se lembrava mais ao certo quando começamos com aquilo, quando que os vícios se
iniciaram, as mentiras e quando nós nos deixamos corromper. De repente, era tarde demais pra
parar.

E não era como se alguém ali quisesse parar. Porque, no final das contas, éramos apenas jovens e
estávamos apenas atrás de diversão.

O problema é que em meio a tanto dinheiro, ganância e segredos, algumas mentiras podem ser
fatais. De certa forma, também não havia outra forma de não acabarmos onde estávamos. Nunca
foi exatamente o que eu gostava de admitir, mas eu também sempre havia sido o mais orgulhoso.
No final das contas, eu havia sim escolhido essa vida, mas eu não havia escolhido que tudo fosse
acabar aqui. Quando eu comecei, eu não esperava que acabaria sentado aqui. Talvez eu devesse ter
imaginado, mas o ego subiu a minha cabeça de uma maneira tão rápida, talvez eu realmente tenha
sido fraco.

Nem mesmo alguém como eu estava imune aos defeitos humanos, afinal.

Mas agora, agora já era tarde demais e eu estou aqui, sentado em uma cadeira de madeira
completamente imunda. Estou sentado onde outros milhares de bandidos já se sentaram e foram
julgados, sentenciados e condenados, e aposto que outros foram até mesmo inocentados.

Os meus pulsos estão avermelhados, machucados e doloridos por causa das algemas.

Isso soa tão irônico.

Eu usei os melhores sabonetes, borrifei perfumes que custavam milhares de dólares na minha pele e
usei os melhores e mais caros relógios de luxo para agora estar sentado aqui, sentindo o aperto
doloroso das algemas nos meus pulsos.

Há tantas câmeras e todas elas estão querendo filmar o que vai acontecer em seguida. No entanto,
os jornalistas são poucos. Apenas os melhores e os mais prestigiados receberam a honra de
presenciar aquele julgamento.

Estão todos tão sedentos pelas notícias, pelas manchetes e pelo furo de reportagem, para poderem
assinar a capa de alguma matéria amanhã. Anseiam por uma vida para poderem destruir e estampar
nas páginas de fofoca, e tudo por dinheiro obviamente.

Depois vão para as suas casas, cuidam dos seus filhinhos irritantes e dormem com seus maridos ou
esposas, fingindo que tudo está bem e que a sua vida é perfeita. Como se fossem inocentes.

Como são todos tão nojentos e patéticos, tão fúteis.

Mesmo naquela posição, mesmo com as algemas ao redor dos meus pulsos e os guardas me
cercando por todos os lados, eu não só me sinto, mas como eu também sei que eu sou superior a
todos eles.

A juíza Hoshina fala em alto e bom tom para a multidão ao meu redor, recitando todas as leis que eu
infringi e o nome de cada artigo dos crimes os quais eu cometi. Sinto o meu estômago revirar e a
ânsia de vômito aparecer cada vez em que eu olho para o rosto dela.

O seu cabelo preto assumiu um tom de grisalho há muito tempo e está amarrado em um perfeito
coque, sem qualquer fio fora do lugar. Os seus olhos são de um azul tão escuro como o céu ao
anoitecer e mesmo ao longe, eu posso ver o prazer que ela sente ao recitar cada um dos artigos.
Quase sinto o mesmo prazer que ela sente ao me pôr atrás das grades, embora eu saiba que ela não
possa demonstrar devido a sua posição imparcial diante de um tribunal.

E no instante em que ela vira o seu rosto na minha direção, eu sei exatamente o que vai acontecer.

Eu sei exatamente quantos anos ela vai me dizer, eu já havia calculado todos eles, no meu pior e no
meu melhor comportamento; e o meu advogado também já havia me dito tudo aquilo mais de mil
vezes. Eu já sei exatamente o que ela vai fazer, quais serão os seus movimentos e falas. Sei o que ela
vai dizer sobre a minha sentença, sei sobre o regime no qual eu serei mantido e o local onde eu vou
ficar. Tudo é tão óbvio que chega quase a ser entediante para mim.
Mas então ela pára e se vira na minha direção, me olhando. Posso sentir novamente o prazer em seu
olhar. Sei exatamente o quanto ela deseja que eu morra em uma penitenciária qualquer.

Eu a vejo abrir a boca, mas nenhum som sai de dentro dela, pois sua cabeça explode em um tiro,.
Um tiro tão certeiro e preciso que eu sei que apenas uma pessoa seria boa o suficiente para acertar
aquele tiro mesmo naquela situação. E eu assisto o seu sangue escorrer pelo buraco assimétrico na
sua cabeça, sujando o chão de mármore do tribunal de Konoha.

Os gritos acabam vindo mais rápido do que eu espero, preenchendo o ambiente com o barulho.
Então eu sorrio, satisfeito assistindo o caos que se forma ao meu redor.

Os guardas encarregados logo começam a me cercar, mas isso apenas me diverte.

E então eu a vejo, em meio ao caos, com os seus olhos brilhantes e inconfundíveis, mas sei que pela
expressão fechada em seu rosto que ela está com raiva por eu ter sido tão estúpido e fraco.

No entanto, eu sabia também como ela estava adorando fazer aquilo. Eu a conhecia como ninguém.

E no final das contas, eu acabei sem saber da minha sentença. E talvez, eu nunca vá saber.

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