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8 ª Aula
ESTRESSE COMO
DOENÇA DO TRABALHO
E TRANSTORNOS DE
ADAPTAÇÃO
Finalmente!
Boa leitura!
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• conceituar estresse;
• descrever os sintomas;
• compreender a diferença entre Burnout e estresse.
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SEÇÕES DE ESTUDO
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(CID-10, p. 144-145). Eis aqui um dos elementos a serem considerados para definição do
nexo de causalidade entre o transtorno e o trabalho, ou seja, a presença de um evento estres-
sante ou experiência traumática, bem como uma mudança súbita e ameaçadora no trabalho
pode ser considerado um fator etiológico no desencadeamento dessa patologia e, portanto,
estar relacionada ao trabalho.
Segundo Hans Selye (apud LIMONGE FRANÇA; RODRIGUES, 1998, p. 29), o
estresse é o termo utilizado para denominar o “conjunto de reações que um organismo desen-
volve ao ser submetido a uma situação que exige esforço de adaptação”, mas não é sempre
negativo. Pelo contrário, há o estresse positivo (eustresse) que nos motiva a sobreviver, de-
senvolver habilidades, buscar alternativas, reagir e mudar. E há, também, o estresse que, em
excesso, pode ser desagradável, nocivo, ameaçador e que pode romper o equilíbrio biopsicos-
social, prejudicando a saúde do trabalhador (distresse) (JEX, 1999; LIMONGE FRANÇA,
RODRIGUES, 1998, p. 31; TAMAYO, 2000, p. 333; BENEVIDES-PEREIRA, 1999, p. 30).
Para Selye (1994), o estresse é o conjunto de reações fisiológicas e hormonais que se
produzem no organismo como resposta a uma agressão ou emergência, de forma a adaptar-se
às novas circunstâncias, podendo variar em três níveis, desde o estresse como mero alarme
para a luta ou fuga, passando para a resistência e, por fim, para a exaustão, ou seja, a patolo-
gia (BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p. 29).
A primeira fase acima referida é a reação de alarme; a segunda, a de resistência e a
terceira, a de exaustão. A reação de alarme é a preparação para luta ou fuga, na qual ocorreu
um aumento de frequência cardíaca e da pressão arterial. A atividade adrenal e as funções
cardiovascular e respiratória aumentam rapidamente. Ocorre nessa fase aumento da frequ-
ência cardíaca, da pressão arterial, da frequência respiratória, da concentração de glóbulos
vermelhos, da concentração de açúcar no sangue, redistribuição do sangue, dilatação dos brô-
nquios, da pupila e ansiedade (STRAUB, 2005; LIMONGE FRANÇA, RODRIGUES, 2007).
Na segunda fase, da resistência, ocorre caso o agente estressor mantenha sua ação, a
excitação fisiológica permanece alta, ocorrendo um decréscimo na capacidade do indivíduo
de enfrentar eventos e problemas cotidianos. As pessoas ficam irritadas, impacientes e cada
vez mais vulneráveis a problemas de saúde. Nessa fase, pode ocorrer ulcerações no aparelho
digestivo, irritabilidade, insônia, mudanças de humor, diminuição do desejo sexual e atrofia
de algumas estruturas relacionadas à produção de células do sangue (STRAUB, 2005; LI-
MONGE FRANÇA, RODRIGUES, 2007).
Por fim, na terceira fase, a de exaustão, pode ocorrer falha dos mecanismos de adap-
tação, esgotamento por sobrecarga fisiológica e morte do organismo. Maior suscetibilidade às
doenças, reações alérgicas, hipertensão, resfriados comuns e doenças mais sérias causas por
deficiências imunológicas (STRAUB, 2005; LIMONGE FRANÇA, RODRIGUES, 2007).
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Segundo Straub (2005), numerosos estudos reforçam a ideia básica de Hans Selye
de que o estresse prolongado causa problemas para o corpo. Podem surgir problemas físicos,
tais como: músculos tensos ou rígidos, dores de cabeça, erupções de pele, cansaço, vômitos,
fragilidade, hipertensão, perda ou ganho de peso, suores, problemas estomacais, náuseas e
reações alérgicas; problemas psicológicos, tais como: ansiedade, dificuldades de memória,
ressentimento, raiva, fadiga, incapacidade de relaxar, depressão, raiva ou pouca concentra-
ção; podem surgir, também, problemas comportamentais, tais como: inquietação, proble-
mas para dormir, mudanças em hábitos alimentares, choro, punhos cerrados, temperamento
agressivo, fuga de tarefas, consumo de substâncias entorpecentes ou fuga de relacionamentos
(STRAUB, 2005, p. 105).
Jex (2000, p. 105), complementa ainda que o estresse pode causar consequências
fisiológicas (risco aumentado de doenças cardiovasculares, insônia, sintomas psicossomáti-
cos), psicológicas (frustração, ansiedade, atitudes negativas em relação ao trabalho) e com-
portamentais (absenteísmo, comportamentos contraproducentes, uso de drogas e álcool), bem
como pode disparar uma série de reações ao sistema nervoso, endócrino, imunológico e sis-
tema límbico (LIMONGE FRANÇA; RODRIGUES,2005 p. 33).
É certo que essas condições não representam condições inevitáveis ao estresse e nem
a presença desses sintomas indica que o estresse seja a causa. Todavia, são elementos a serem
considerados na avaliação das condições de trabalho e no exame pericial para reconhecimen-
to da existência ou da inexistência do nexo de causalidade entre o estresse e o trabalho.
De acordo com Roberto Moraes Cruz (2008, p. 17), o termo estresse no trabalho se
refere ao produto de reações fisiológicas e psicológicas do indivíduo em situações de traba-
lho, vivenciadas pelo trabalhador como desagradável e ameaçadoras ao seu bem-estar, segu-
rança e estima. É uma manifestação da tensão nos ambientes organizacionais. Os estressores
do ambiente do trabalho (já referidos no tópico referente aos impactos da organização do
trabalho sobre a saúde do trabalhador), se persistentes, criam um campo favorável à elabo-
ração de doenças ocupacionais e processos de afastamento do trabalho (CRUZ, 2008, p. 18).
Assmar e Ferreira (2008), também se referem ao estresse laboral como um processo
e, também, como o conjunto de reações físicas e psíquicas provocadas pela vivência de con-
dições adversas no ambiente organizacional.
Para Magnólia Mendes (2008, p. 166), o estresse é um
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Segundo Straub (2005, p. 116-117), a palavra estresse pode ser entendida como
estímulo (por exemplo: sobrecarga de trabalho) ou como resposta a uma situação (diante da
sobrecarga o trabalhador fica estressado), ou seja, é definida como um processo pelo qual
alguém percebe e responde a eventos que são julgados como desafiadores ou ameaçadores.
Há, portanto, que se distinguir os estímulos estressantes do próprio estresse. Aqueles são
elementos que vêm interferir no equilíbrio homeostático do organismo. O estresse, por sua
vez, é a resposta a esse estímulo, isto é, necessidade de se aumentar o ajusta adaptativo para
retornar ao estado de equilíbrio.
a) físicos: ruído, frio ou calor intenso e/ou persistente, acidentes, fome, dor etc.;
b) cognitivos: iminência ou vivência de um assalto, discussão, seleção a um empre-
go etc.;
c) emocionais: perda, medo, ira ou acontecimentos em que o componente afetivo se
faça mais proeminente.
dequado para completar o trabalho, turnos longos de trabalho, poucos períodos de descanso e
trabalho pesado. No controle sobre o trabalho, destaca: ausência de autoridade para tomar de-
cisões sobre suas próprias tarefas. Os conflitos de papéis também são fatores estressores, ou
seja, obrigação de seguir ordens, obrigação de desempenhar ao mesmo tempo várias funções.
Ambiguidade de papéis é a ausência de uma descrição clara do trabalho a ser re-
alizado, falta de clareza sobre o alcance de suas responsabilidades e sobre os objetivos da
função. Apontaram ainda como fontes de estresse a falta de oportunidades de expor seus
problemas, falta de apoio dos colegas, superiores e subordinados, falta de tempo para dedi-
cação à família por causa do trabalho, falta de segurança no emprego, pouca estabilidade e
falta de oportunidades. Sobre as características da organização, indicaram como estressores
a não participação na tomada de decisões, regras e procedimentos muito formalizados, falta
de reconhecimento e valorização no emprego, ausência de recompensas, uso do poder para
satisfação de interesses pessoais, sabotagem dos colegas em benefício próprio (FERREIRA;
ASSMAR, 2008, p. 25; 34; 49).
Segundo Tamayo (2008, p. 367), numerosas pesquisas mostram que uma das fon-
tes mais frequente e poderosa de estresse ocupacional é a falta de autonomia do trabalhador
no exercício de suas funções. Também apontou esse mesmo autor que os valores organiza-
cionais influenciam no estresse dos trabalhadores. Organizações que adotam valores como
autonomia, preocupação com a coletividade e realização, tiveram trabalhadores com menor
nível de estresse. Pelo contrário, as organizações que enfatizam a conformidade como valor
possuem trabalhadores com maior nível de estresse.
Um exemplo de como a organização pode afetar a saúde do trabalhador, dentre ou-
tros, foi citado por Ferreira e Assmar (2008) ao indicaram o caso de Joaquim, que é um:
Este caso deixa claro que fatores da organização do trabalho influenciam à saúde
mental e física do trabalhador.
É verdade que, segundo Abrahão e Cruz (2008, p. 110), é raro encontrar uma relação
unívoca entre causas e efeitos e que o estresse também se refere à percepção que o indivíduo
tem de um estressor e, dependendo da resposta do indivíduo, um mesmo estímulo estressor
poderá ser visto como um distress (processo adaptativo inadequado) ou como um eustress
(indivíduo reage bem ao estímulo estressante) (LIMONGE FRANÇA; RODRIGUES, 2005,
p. 32). Nessa hipótese, o ambiente de trabalho e sua organização não teria nenhuma responsa-
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bilidade sobre a patologia daí surgida, pois o que vale é a interpretação que cada um tem dos
eventos da vida, ainda que estressantes. Entretanto, não é menos certo que alguns estímulos
estressantes, relacionados ao trabalho, são vistos como agressivos por um número elevado de
pessoas e a ciência tem reconhecido como causadores de desequilíbrios psicológicos, com-
portamentais e físicos.
É o caso do exemplo de Joaquim acima citado e, também, das organizações do tra-
balho em que ocorram, por exemplo, sobrecarga do trabalho, jornadas exaustivas, ameaças de
desemprego, enfim, circunstâncias relativas às condições de trabalho já referidas nos tópicos
precedentes. Ora, no exemplo citado de Joaquim e nos ambientes de trabalhos em que este-
jam presentes esses estímulos estressores, não se pode deixar de responsabilizar o ambiente
de trabalho e suas condições como responsáveis pelos transtornos daí decorrentes, pois, como
se viu acima, o evento estressante ou contínuo desprazer é fator causal primário e determi-
nante e o transtorno não teria ocorrido sem seu impacto.
Além disso, como se viu no tópico referente à proteção à saúde dos trabalhadores,
cabe ao empregador adaptar o trabalho às condições psicofísicas de seus trabalhadores e ado-
tar medidas individuais e coletivas de proteção à saúde e à segurança do trabalhador. Portan-
to, ainda que alguns trabalhadores submetidos às mesmas condições laborais não adoeçam,
nada impede que, por força legislativa, se reconheça como doença do trabalho aquelas doen-
ças mentais adquiridas pelos trabalhadores no ambiente laboral, pois o mesmo ocorre com as
doenças do sistema musculoesquelético. Nem todos trabalhadores submetidos a trabalho mo-
nótono, repetitivo, sem pausas para descanso, sem revezamento de funções, adquirem essas
doenças musculoesqueléticas, mas aqueles que sofrem desses transtornos têm reconhecida a
relação de causalidade e a responsabilidade civil do empregador pelos danos daí decorrentes,
se for o caso.
Em conclusão, portanto, se pode afirmar que uma vez presentes certas condições
(ou circunstâncias, como diz a CID-10 e Decreto n.º 3.048/99) especiais relativas ao traba-
lho, ou seja, se constatadas a presença dos fatores etiológicos relacionados ao estresse acima
relatados, essas condições ou esses fatores podem ser elementos etiológicos para o desenca-
deamento da depressão nos trabalhadores, com reconhecimento do nexo de causalidade entre
o trabalho e o transtorno mental, independentemente dessas condições não estarem expressa-
mente previstas nos Anexos ao Decreto n.º 3.048/90 e ainda que não estejam relacionadas às
substâncias físicas normalmente vinculadas a esse transtorno, pois, como já se disse mais de
uma vez, o Brasil adotou o sistema “misto”, de cláusulas abertas, que não impede a inclusão,
como doença do trabalho, de outras doenças não relacionadas no anexo I do referido decreto.
Isso porque a Lista B, do Anexo I, do Decreto n.º 3.048, de 6 de maio de 1999, no
Grupo V, da CID-10, relacionado aos transtornos mentais e do comportamento relacionados
com o trabalho, aponta como doença do trabalho as reações ao stress grave e transtornos de
adaptação (F43.-), apontando como agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocu-
pacional “outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com o trabalho: reações após
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acidente do trabalho grave ou catastrófico, ou após assalto no trabalho (Z56.6), bem como
circunstância relativa às condições de trabalho (Y96)”. O item da CID-10 Z56, por exemplo,
refere-se aos problemas relacionados a emprego e desemprego e o item Y96, da CID-10, diz
respeito às circunstâncias relativas às condições de trabalho.
Veja-se que a própria norma já aponta aspectos acima relacionados que são tidos
como agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional, razão pela qual, tam-
bém com base na norma regulamentar, se pode reconhecer a existência de nexo de causali-
dade entre esses fatores e o trabalho, pois nada mais são do que circunstâncias relativas às
condições de trabalho prejudiciais à saúde física e mental do trabalhador.
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Para a classificação Z56 (indicada como agente etiológico ou fator de risco de natu-
reza ocupacional para a síndrome de burnout), a CID-10 refere-se a problemas relacionados
com o emprego e com o desemprego, apontando como subitens os seguintes:
gem inglesa que se refere àquilo ou aquele, que se deixou de funcionar por absoluta falta de
energia e não tem mais condições de desempenho físico ou mental (BENEVIDES-PEREIRA,
2002, p. 21). Significa queimar-se ou destruir-se pelo fogo, pois pretende transmitir a ideia
de que as pessoas acometidas por esse transtorno podem sentir-se consumidas ou queimadas
pelo seu trabalho (TAMAYO, 2002, p. 76). Segundo Maslach (2005, p. 41), o burnout é
uma síndrome psicológica que envolve uma reação prolongada aos estressores interpessoais
crônicos e possuem três dimensões: exaustão avassaladora; sensação de ceticismo e desliga-
mento do trabalho; e sensação de ineficácia e falta de realização.
Os exemplos relacionados à síndrome de burnout sempre relacionam a fadiga ex-
trema, perda do idealismo e da paixão pelo próprio trabalho, estado de indiferença, cinismo,
desilusão, exaustão, humor depressivo, dureza e distanciamento, especialmente com pacien-
tes (TAMAYO, 2002, p. 77).
Segundo Ana Maria T. Benevides-Pereira (2002), a adoção desse vocábulo foi utili-
zada por Schaufeli Brandley, em 1969, ao propor nova estrutura organizacional a fim de con-
ter o fenômeno psicológico que acomete trabalhadores assistenciais, tendo se referido a staff
Burnout. Portanto, ao contrário do que sustentado por alguns doutrinadores, não foi Herbert
J. Freundenberger o primeiro a utilizar esse termo, porém, não se deixa de se creditar a este
a propagação e o interesse que se seguiu no meio científico a partir de seus escritos em 1970
(BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p. 21). Esse pesquisador observou que, após o primeiro ano
de serviço, o comportamento de um grupo de voluntários se caracterizava pela diminuição
gradual da energia e pela perda de motivação e do comprometimento, além de sintomas psí-
quicos e físicos: sensação de exaustão e fadiga, raiva, irritação, frustração, tremor, falta de ar,
dores de cabeça, distúrbios gastrointestinais, entre outros (BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p.
77).
Essa síndrome inicialmente foi atribuída aos profissionais de serviços humanos (en-
fermeiros, médicos, psiquiatras, assistentes sociais, advogados, psicólogos, professores, pro-
fissões religiosas), por isso, foi também chamado de Síndrome do Assistente Desassistido ou
Síndrome do Cuidador Desassistido (BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p. 33; MAGNÓLIA,
MENDES, CRUZ, 2004, p. 46; MASLACH, 2005, p. 42; SELIGMANN-SILVA, 2005, p.
1163). A maior parte dos estudos diz respeito a pessoas que, ao longo de anos de profissão,
persistiram em tentar a solução de problemas humanos (dor, sofrimento em geral, miséria,
injustiça), atuando com grande empenho, de forma geralmente intensiva e autoexigente, sa-
crificando a vida pessoal (SELIGMANN-SILVA, 2005, p. 1163).
A sintomatologia do burnout subdivide-se em: físicos, comportamentais, psíquicos e
defensivos. Os sintomas físicos são: fadiga constante e progressiva, distúrbios do sono, dores
musculares e osteomusculares, cefaleias, enxaquecas, perturbações gastrointestinais, imuno-
deficiência, transtornos cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório, disfunções sexu-
ais e alterações menstruais nas mulheres. Os sintomas psíquicos podem apresentar: falta de
atenção e concentração, alterações da memória, lentificação do pensamento, sentimento de
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esforços.
A ruptura na comunidade ocorre justamente quando os trabalhadores mais precisam,
pois somente são reconhecidos quando produzem. Ao contrário, quando adoecem são igno-
rados e não recebem apoio social. A percepção de que não há justiça e igualdade no local de
trabalho também é um fator de risco organizacional para o burnout. Sentimento de injustiça e
tratamento desigual podem gerar emoções intensas e ter uma grande importância psicológica
(MASLACH, 2005; ASSMAR, FERREIRA, p. 281).
Por fim, Maslach (2005), também aponta como fator de risco organizacional para o
burnout os conflitos de valor, que ocorrem quando as pessoas trabalham em uma situação na
qual há um conflito entre os valores pessoais e da organização. Por exemplo, pessoas cujos
valores pessoas dizem que é errado mentir podem se encontrar em um emprego onde mentir
torne-se necessário para o sucesso. Os conflitos psicológicos daí decorrentes, permitirão fa-
cilmente a instalação da síndrome de burnout (MASLACH, 2005, p. 50).
Para avaliação dos danos decorrentes da síndrome de burnout também se devem
considerar as consequências daí advindas, que podem ser prejuízos não só no trabalho, mas,
também, sociais e organizacionais. Podem ocorrer isolamentos e divórcio, pois nem sempre
a família suporta o incremento dos sintomas já descritos (BENEVIDES-PEREIRA, 2002,
p. 70-71). Além disso, os trabalhadores que sofrem de burnout foram avaliados por seus
cônjuges de forma mais negativa, sendo que eles próprios relataram que seu trabalho tinha
um impacto negativo sobre sua família e seu casamento fora avaliado de forma insatisfatória
(MASLACH, 2005, p. 45). Portanto, para avaliação das consequências da síndrome de bur-
nout sobre a saúde do trabalhador não se poderá considerar aspectos apenas físicos e mentais,
mas, também, sociais, pois tal patologia interfere na relação familiar.
Interessante registrar que ocorre uma unanimidade entre os pesquisadores ao assi-
nalarem a influência direta do mundo do trabalho como condição para determinação desta
síndrome. Ana Maria Benevides-Pereira, cita a seguinte afirmação de Malasch (2005, p. 33):
“Burnout é uma experiência individual específica do contexto do trabalho”. Christina Mas-
lach (2005, p. 47) também afirmou que a conclusão de vários estudos quanto aos fatores de
risco para a síndrome de burnout é a de que esse transtorno se deve, em grande parte, à natu-
reza do trabalho e não às características do funcionário individual.
Portanto, resta que uma vez constatada a síndrome do esgotamento profissional (Bur-
nout), esta estará configurada a existência de nexo de causalidade entre o trabalho e a psico-
patologia, ou seja, o burnout não é um problema do indivíduo, mas, sim, do lugar onde ele
trabalha (MAGNÓLIA; MENDES; CRUZ, 2004, p. 47 apud MASLACH; LEITER, 2005).
A diferença entre estresse e burnout tem sido objeto de controvérsias. Alguns – re-
ducionistas – sustentam que se trata do mesmo fenômeno, pois a exaustão emocional também
faz parte do estresse, que envolve desgaste, cansaço e falta de energia. Porém, os defensores
da diferenciação entre estresse e burnout sustentam que esta síndrome abrange componentes
de esgotamento (exaustão) e, também, aspectos atitudinais (despersonalização ou cinismo) e
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PSICOLOGIA APLICADA - Sandra Haerter Armoa
Sinto-me impotente ao lidar com os alunos, pois é algo semelhante a remar contra a
maré. Às vezes é possível observar algum esforço por parte de alguns, mas não há
retorno, pois as deficiências de aprendizagem e as barreiras são muito grandes. No
total de alunos, 50% são totalmente apáticos, os outros 50% até têm esforço, mas
não possuem base, não absorvem. Não vejo resultado em meu trabalho, sendo que os
alunos da noite conseguem ser ainda piores. Estou sendo muito sincera, não consigo
encontrar nenhum tipo de satisfação no magistério. Ao sair para o trabalho, consigo
perceber apenas o sentimento de obrigação, é como o gado que sai para pastar e de-
pois volta para casa.
RETOMANDO A AULA
Para Straub (2005, p. 133), são fatores estressantes relacionados com o trabalho, a
sobrecarga de trabalho, a sobrecarga de papéis, o esgotamento, a falta de controle sobre o
trabalho, ambiguidade de papéis (ocorre quando os trabalhadores não têm certeza sobre o
seu trabalho ou dos padrões utilizados para avaliar seu desempenho), turno de revezamento,
perda do emprego e assédio sexual.
A diferença entre estresse e burnout tem sido objeto de controvérsias. Alguns – re-
ducionistas – sustentam que se trata do mesmo fenômeno, pois a exaustão emocional também
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faz parte do estresse, que envolve desgaste, cansaço e falta de energia. Porém, os defensores
da diferenciação entre estresse e burnout sustentam que esta síndrome abrange componentes
de esgotamento (exaustão) e, também, aspectos atitudinais (despersonalização ou cinismo) e
de autoavaliação (baixa realização pessoal ou ineficácia) (TAMAYO, 2005, p. 98).
LEITURA
SITE
Site: https://traumaeestresse.wordpress.com/category/filme/.
ASSISTIR
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