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Teoria do

Treinamento
Desportivo
1. Evolução do Treinamento
Desportivo no Brasil 4

2. Treinamento Desportivo 13
Conceitos 16
Objetivos 18
Como Funciona o Treinamento Desportivo 18
O Tripé do Treinamento Desportivo 18

3. Princípios do Treinamento Desportivo 21


O Princípio da Individualidade Biológica 22
O Princípio da Adaptação 23
O Princípio da Sobrecarga 26
O Princípio da Continuidade 27
O Princípio da Interdependência
Volume-Intensidade 28
O Princípio da Especificidade 28
O Princípio da Variabilidade 30
O Princípio da Saúde 31
A Inter-Relação dos Princípios 31

4. Referências Bibliográficas 34

02
03
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

1. Evolução do Treinamento Desportivo no Brasil

Fonte: Treinamento em Esportes1

A tualmente, muito se tem escri-


to, falado, pesquisado, experi-
mentado e discutido sobre o treina-
lhor maneira de aperfeiçoa-las e
mantê-las (COOPER, 1972).
Pode-se dizer que o treina-
mento desportivo. Portanto, ele se mento nasceu com o próprio espor-
constitui em um dos mais apaixo- te, na Antiga Grécia, quando as com-
nantes aspectos do esporte, pois tem petições desportivas já faziam parte
levado centenas de treinadores a do cotidiano daquele povo. Embora
dedicarem grande parte de sua vida realizado de uma forma totalmente
à procura de novos conhecimentos empírica, serviu como marco inicial
com vistas à obtenção dos mais altos para o atual estágio de desenvolvi-
rendimentos dentro das competi- mento em que se encontra no século
ções esportivas. atual (FERNANDES, 1981).
O homem tem se preocupado Os métodos de educação física
em conhecer tão profundamente surgiram da necessidade de melho-
quanto possível, a natureza de suas rar o rendimento físico do homem.
funções orgânicas, bem como a me- Paralelamente aos métodos, surgi-

1 Retirado em http://treinamentoemesportes.chakalat.net/

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

ram também os sistemas de treina-  O marathon-training de


mento físico que visavam, além do Lydiard na Nova Zelândia
condicionamento, a aquisição de (1949);
uma forma técnica especial para  O cerutty-training de Cerutty
na Austrália (1952).
cada modalidade desportiva (DIAS,
1978).
A principal característica desta
Almeida e Gomes (2000), re-
década é a criação do método treina-
latam que quando consultada a lite-
mento intervalado a partir dos co-
ratura específica, verifica-se que as
nhecimentos da fisiologia humana,
interferências abordando a evolução
constituindo-se no que seria mais
histórica do Treinamento Desporti-
tarde o marco da era científica do
vo, estão sempre relacionadas aos
treinamento desportivo.
jogos olímpicos. Tal relação se am-
Na década de 1960 surgiram o
para no fato de serem estes jogos,
cross-promenade, de Raoul Mollet
por excelência, a vitrine e onde o su-
(1963) e o método de Cooper, de
cesso ou fracassos, de cada método
Kenneth Cooper (1967).
ou filosofia de treinamento são ex-
Da década de 1970 até os dias
postos ao mundo, chegando o co-
de hoje, foram criadas outras formas
nhecimento público.
de treinamento, para atender a prá-
Da criação dos Jogos Olímpi-
tica mundial dos jogos coletivos, co-
cos até o início da Segunda Guerra
mo o futebol, voleibol, basquetebol,
Mundial, surgiram como métodos
e outros, nos quais os componentes
de treinamento:
técnicos e táticos são decisivos para
 O sistema finlandês de Lauri
a vitória.
Pihkala (1912);
Nos desportos coletivos e nas
 Os estudos de Krummel na
Alemanha (1920); lutas, onde o conhecimento dos pon-
 O Fartlek de Gosse Holmer na tos fortes e fracos do adversário é
Suécia (1930) e, fator decisivo para a preparação de
 O sistema de Valadalen de uma equipe, foram introduzidos
Gosta Olander, também na meios de vídeo e informática para
Suécia (1930-1935). levantar o maior número possível de
informações sobre o oponente e
Da Segunda Guerra Mundial
permitir ao treinador repetir, duran-
até a década de 1950, surgiram:
te os treinos, as situações de jogo
 O treinamento intervalado de que irá encontrar.
Gerschller e Reindell na Ale-
Diversos estudos foram rea-
manha;
lizados sobre a História e a evolução

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

do Treinamento Desportivo no dos desenvolvidos por Mollet e Co-


mundo, porém poucos comentam oper, na Europa e nos Estados Uni-
como o Brasil acompanhou esta evo- dos, influenciaram alguns brasilei-
lução. Um estudo nesse sentido foi ros, como General Jayr Jordão Ra-
realizado por Ana Miragaya e La- mos que lançou diversos polígrafos e
martine Da Costa em 2000. Esta panfletos sobre o assunto, Major
investigação concluiu que desde José Antônio Pires Gonçalves, com a
1909, já havia uma obra no tema de publicação em 1968 do livro “Con-
Treinamento Desportivo e que mais dição Física”. Ambos eram militares
cinco obras foram publicadas na dé- do Exército e instrutores da Escola
cada de 1930. de Educação Física do Exército (Es
No que se refere ao surgi- EFEx). O Comandante Lamartine
mento do Treinamento Desportivo Pereira da Costa, os professores Ma-
no Brasil, Capinussu (2001) relata noel José Gomes Tubino, no Rio de
que a primeira manifestação de Janeiro e Luiz Roberto Zuliani, em
Treinamento Desportivo no Brasil São Paulo e principalmente o Capi-
deve ser creditada ao Prof. Paulo tão Cláudio Coutinho, na EsEFEx,
Amaral, na preparação física da ferrenho discípulo do Dr. Cooper,
seleção brasileira de futebol campeã deram origem ao treinamento des-
do mundo de 1958. portivo em bases científicas no
Brasil.
Para Belém (2001), o Treina-
mento Desportivo surge no Brasil a
partir da segunda metade dos anos
cinquenta, com algumas publicações
sobre os novos métodos de treina-
mento que serviram de base para
Fonte: https://www.cbf.com.br/ preparação física de jovens espor-
tistas. Atletas das equipes de penta-
Embora de forma empírica, tlo moderno e pentatlo militar pas-
mais na base da ginástica muito in- saram a utilizar o Fartlek e o Interval
tensiva e da corrida a título de aque- Training.
cimento, já se poderia considerar Em 1964, a seleção brasileira
um início de Treinamento Des- de voleibol que disputou os jogos
portivo. olímpicos de Tóquio, teve a prepa-
Posteriormente, na segunda ração física a cargo de Paulo Ney,
metade da década de 1960, os estu- instrutor da EsEFEx que utilizou os

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

métodos do Power Training e o In- japonês Takashiro Saito, da equipe


terval Training com ótimo aprovei- de Matsusawa.
tamento. A influência de Saito fez-se
Tubino (2001) concorda com sentir a curto prazo, com a conquista
Capinussu e acrescenta que uma da hegemonia sul-americana atra-
outra grande influência para os au- vés de Manoel da Rocha Villar, Be-
tores brasileiros foram os estudos de nevenuto Nunes, Isaac Moraes, An-
Gerscheller e Reindell e que um dos tonio Ferreira dos Santos, João Há-
primeiros livros publicados no Bra- velange e outros. O impulso também
sil sobre o assunto foi “Os Cânones atingiu São Paulo, onde Carlos de
atuais do Treinamento Desportivo” Campos Sobrinho, técnico da equipe
por Jayr Jordão Ramos no início da de natação da Associação Atlética
década de 1960. São Paulo de 1930 a 1933, já con-
Da Costa (2002) afirma que na seguira performances razoáveis com
década de 1930, alguns Médicos já Forssell e Maria Lenk. Esta marcou
faziam pesquisas na área do Treina- o auge desta importante fase da evo-
mento Desportivo e cita seu livro lução de nosso desporto, obtendo
publicado em 1968: recorde sul-americano e mundial.
A admiração causada pelas Saito, nos dez meses que per-
performances dos nadadores japo- maneceu em nosso país, lançou, em
neses resultou, inclusive, na intro- condições permanentes, as bases
dução do treinamento sistematizado do treinamento sistematizado da
em nosso país. O então Primeiro-Te- Escola japonesa, tendo como veículo
nente Médico Heriberto Paiva, da os nadadores da marinha que fica-
Marinha de Guerra, que acompa- ram à sua disposição em tempo in-
nhava a delegação brasileira aos Jo- tegral. Assimilaram-se os benefícios
gos Olímpicos de Los Angeles (19 da massagem terapêutica, da ali-
32), observou que a inferioridade mentação planejada, da recuperação
dos nossos nadadores devia-se ao física, do controle médico e, sobre-
desconhecimento de um método de tudo, do trabalho metodizado. O
trabalho adequado. Regressando ao empenho do eminente técnico japo-
Brasil, incutiu nos dirigentes da ex- nês em transmitir conhecimentos
tinta “Liga de Sports da Marinha” a chegou a ponto de ser organizado
necessidade da adoção de novas téc- um livro, publicado em 1935, com o
nicas. Em 1934, depois de prolonga- título “Como Vencer na Natação”, no
dos entendimentos governamentais, qual se estudava o conjunto de fato-
chegava ao Rio de Janeiro o técnico

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

res considerados no treinamento, “A equipe convocada treinava


no Centro de Esportes da Mari-
que eram propriamente chamados
nha e o pentatlo militar, foi con-
pelo autor de Treinamento Con- siderado prioridade nas FFAA
trolado. em 1962. Então eu fiquei a dis-
posição do treinamento da
Segundo Da Costa estas pes- equipe. O Major Pires Gonçal-
quisas pararam por ocasião da Se- ves, se ligou mais na parte prá-
gunda Guerra Mundial e continua- tica, enquanto eu iniciei algu-
mas pesquisas, com recursos
ram sem serem realizadas na década disponibilizados pela Marinha.
de 1950, principalmente porque o A minha primeira pesquisa foi
Centro de Esportes da Marinha, verificar o efeito do calor nos
atletas da equipe. Para fazer os
órgão que apoiava as pesquisas, en- contrastes de temperatura, eu
trou em decadência. Estas pesquisas levava os atletas para realizar
foram pouco divulgadas e por isso o seus treinamentos nas painei-
ras, porque a diferença de tem-
Treinamento Desportivo ainda era peratura era de 2 a 3 graus. Os
posto em prática de maneira em- resultados dos atletas foram
pírica. muito bons e inicialmente atri-
buí à melhora a esta diferença
Um grande passo para o Trei- de temperatura, mas progres-
namento Desportivo no Brasil, ocor- sivamente fui verificando que
reu em 1960 com a realização do havia algo mais que aquilo e
comecei a buscar outras variá-
Campeonato Mundial de Pentatlo veis e até pólen foi recolhido
Militar no Rio de Janeiro. para teste e estas pesquisas são
Em 1962, as Forças Armadas de uma fase que se estende até
hoje”.
(FFAA) consideraram de prioridade
desportiva a modalidade de pentatlo Fruto destas pesquisas e com a
militar e nomeou para Técnicos da colaboração de alguns outros auto-
Equipe o Major Pires Gonçalves, do res que estavam trabalhando com o
Exército e o Capitão Lamartine Pe- Treinamento Desportivo, como o
reira da Costa, da Marinha. Esta co- prof. Maurício Rocha, o prof. La-
missão técnica permaneceu à frente martine publicou em 1968, o livro “A
da equipe de 1962 a 1967, conquis- Introdução à Moderna Ciência do
tando um campeonato mundial em Treinamento Desportivo”.
1965. Nesse período, o prof. Lamar-
Da Costa (2002, p. 34) relatou tine, após ter ficado muito influen-
que neste período iniciou a realizar ciado por estudos que realizou no
pesquisas sobre a influência das México, antes dos Jogos Olímpicos
condições ambientais no treinamen- de 1968, iniciou o desenvolvimento
to do pentatlo militar: do Altitude Training.

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Belém (2001) ainda relata que de Pentatlo Naval do Brasil ao vice


em 1968 foi promovido pelo MEC, campeonato Mundial em 1969, no
sob a coordenação do Prof. Lamarti- Rio de Janeiro. Publicou o livro “Me-
ne o curso “Introdução à Moderna todologia Científica do Treinamento
Ciência do Treinamento Desporti- Desportivo”, que foi adotado por
vo”, realizado no Clube Militar e várias Universidades durante mui-
abrangeu assuntos do treinamento tos anos e considerado um marco do
total. Somando-se a isto, todos li- Treinamento Desportivo no Brasil.
gados ao esporte naquele momento, Quanto ao período de maior
comentaram que naquele ano ocor- evolução do Treinamento Despor-
reu um Simpósio de Treinamento tivo no Brasil, Da Costa (2002) re-
Físico Militar (TFM) em Fontaine- lata que na década de 1960 ocorreu
bleau, França. As Forças Armadas a instalação e organização do Trei-
brasileiras enviaram para participar namento Desportivo no Brasil. Sua
do evento quatro militares, o Coro- grande disseminação nacional ocor-
nel Octavio Teixeira, o Capitão Cláu- reu na década de 1970, quando o
dio Pêssego de Moraes Coutinho, MEC incentivou a instalação do
ambos do Exército, o Capitão Te- Treinamento Desportivo como dis-
nente Manoel José Gomes Tubino, e ciplina nas Universidades, com a
o Capitão Neri do Nascimento, da criação de vários laboratórios e a
Marinha e Aeronáutica, respectiva- penetração internacional dos cursos
mente. Estes militares apresenta- realizados no Brasil.
ram um trabalho sobre a situação do Outro fato que causou a explo-
TFM no Brasil. Neste Simpósio o são do Treinamento Desportivo foi a
professor Kenneth H. Cooper, apre- realização de um curso sobre Medi-
sentou a importância dos exercícios cina Desportiva e Treinamento Físi-
aeróbios, o teste e as tabelas de pon- co Total em 1972, promovido pela
tos para avaliar a condição física Academia do Conselho Internacio-
individual, que mais tarde seria cha- nal de Esportes Militares em con-
mado de “teste de Cooper”. junto com a Comissão de Desportos
Estes militares, ao retornarem das Forças Armadas e Diretoria de
para o Brasil, difundiram o novo mé- Educação Física.
todo em suas respectivas Forças. O Tubino e Belém (2001) con-
Capitão Tubino, com os conheci- cordam com Da Costa e acrescentam
mentos adquiridos na EsEFEx, local que em termos curriculares a EsE
de sua graduação, e do Simpósio In- FEx foi a primeira instituição de en-
ternacional de TFM, levou a equipe sino, de Educação Física, no Brasil a

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

implantar a disciplina de Treina- modernos meios de comunicação.


mento Desportivo ministrada, ini- Foram criados centros de pesquisas
cialmente, por Coutinho em 1969. de capacitação física em instituições
Capinussu (2001) atribui esta evolu- ligadas a prática esportiva. Livros
ção ao prestígio que a Educação especializados são publicados com
Física teve à época, porque criou-se maior frequência e um grande nú-
em 1972 o Departamento de Educa- mero de Escolas de Educação Física
ção Física e Desportos no âmbito do foram inauguradas, acarretando
MEC (DED-MEC), ampliou-se a an- uma grande evolução nesta área do
tiga Divisão de Educação Física conhecimento.
(DEF) e posteriormente criou-se a Como prognóstico para o trei-
Secretaria de Educação Física (SEE namento desportivo, Capinussu e
DMEC). Tubino, afirmam que a tendência é
Da Costa, conclui que a EsE crescer ainda mais, acompanhando
FEx foi a base da evolução do Trei- o crescimento da área desportiva do
namento Desportivo e Coutinho foi país (mais escolas de educação físi-
seu eixo de propagação, por ter apli- ca, cursos de pós-graduação Latu
cado na Seleção Brasileira de futebol Sensu, maiores possibilidades de in-
de 1970 um treinamento científico. tercâmbios via Internet, eventos, re-
Capinussu, afirma que atualmente o vistas e congressos). A quantidade
Treinamento Desportivo está em de publicações sobre o assunto é
crescente evolução sem nada a dever crescente, as pesquisas já atingem
aos países do chamado “primeiro um bom nível e prognóstico alta-
mundo”, apesar, da deficiência de mente positivo, além do que a pre-
recursos materiais existentes na paração física de nossas equipes na-
maioria das instituições de ensino. cionais de desportos coletivos (fute-
Mas, a excelência de alguns cursos bol, vôlei e basquete) já é elogiada
de especialização, como o do convê- fora de nosso país.
nio UFRJ-CCFEx, servem para ate- Segundo Belém, as perspec-
nuar tal deficiência. Tubino acres- tivas são promissoras, consideran-
centa a esta afirmação que o Treina- do a realização de seminários e con-
mento Desportivo no Brasil está em gressos com a participação, cada vez
situação semelhante aos grandes maior, de pessoas interessadas no
centros, apenas perdendo em tec- treinamento físico. Outro fator im-
nologia. portante é o funcionamento dos cur-
Para Belém, as informações sos de mestrado e doutorado na área
chegam mais rápidas, através dos da Educação Física.

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Para Da Costa, o Treinamento digma deste século. Regerá todas as


Desportivo está num nível de desen- atividades desportivas, uma vez que
volvimento muito bom, porém o em países mais avançados o esporte
campo da Psicofisiologia ainda tem competição já foi incrementado des-
bastante espaço para se desenvolver. de algum tempo, através da mídia,
Essa breve retrospectiva nos marketing, patrocínio e outros as-
mostra que o Treinamento Despor- pectos, modernizando as antigas
tivo de hoje é uma ciência multidis- concepções então vigente.
ciplinar, formada e desenvolvida a
partir da aplicação de outros conhe-
cimentos já existentes em outras
áreas, como a fisiologia, biomecâni-
ca, psicologia, nutrição, medicina,
fisioterapia, pedagogia e, que recen-
temente, incorporou dois meios, que
têm contribuído muito para o aper-
feiçoamento desportivo: vídeo e a
informática.
Em decorrência desta multi-
disciplinaridade, os atletas e equipes
deixam de ser treinados por uma
pessoa, para serem assistidos por
uma comissão técnica, normalmen-
te composta pelo treinador/técnico,
preparador físico, fisioterapeuta,
médico, nutricionista, psicólogo e
outros.
Assim, evoluiu do treinamento
parcial para o treinamento total,
buscando apoiar-se nos resultados
das pesquisas de campo e laborato-
riais, para assegurar senão a vitória,
pelo menos melhores resultados em
relação as competições anteriores.
Corroborando com Tubino
(1992), provavelmente o esporte co-
mo negócio tornar-se-á o novo para-

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

2. Treinamento Desportivo

Fonte: Unisport Brasil2

O primeiro contato com a pa-


lavra treinamento soa familiar,
mas, na realidade, é um conceito
 Como corer durante dez minu-
tos pode melhorar a qualidade
de vida de uma pessoa?
absolutamente abstrato ou extrema-  Porque necessariamente pre-
cisa-se correr?
mente simplista.
 Qual é a diferença entre correr
Para os leigos em esporte,
e andar se a distância percor-
principalmente àqueles que passa- rida é a mesma?
ram um bom tempo de suas vidas  Porque em determinadas si-
como sedentários convictos, a pala- tuações é melhor correr se
vra treinamento não abre uma pers- quando andamos permanece-
pectiva sobre o que é, de fato, o con- ríamos mais tempo nos exerci-
dicionamento físico, e dúvidas sim- tando para a mesma distância
alcançada?
ples começam a aparecer. Quem já
 Como ou o quê levantar pesos
não teve curiosidade de saber a res- irá mudar nas minhas ativida-
posta de perguntas como: des diárias?

2 Retirado em https://blog.unisportbrasil.com.br/

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

 Qual deve ser o limite do exer- quantidade do esforço, além da ca-


cício para este ter efeitos be- pacidade física disponível, fará com
néficos? que o organismo se adapte, e como
 Começar a transpirar, come- resultado desta adaptação, realize o
çar a sentir-se o cansado, per-
desempenho desejado.
manecer sob esforço confortá-
vel ou chegar à exaustão com- A sobrecarga não deixa de ser
pleta? um método de treinamento, mas ela
sozinha não é um treinamento. O or-
Esses e muitos outros questio- ganismo não é cartesiano o suficien-
namentos sobre condicionamento te para suportar cargas programa-
físico, sobre que resultados buscar das de acordo com a volição do pra-
dentro do treinamento e os efeitos ticante. Diante disso, devemos estar
para a vida diária podem ser respon- atentos aos sinais e sintomas de que
didos pelo especialista na área. Pas- o estímulo físico está suficiente, in-
sar a ter uma vida saudável seria a suficiente ou exagerado. Vale lem-
resposta mais simples e generalista brar que o estímulo insuficiente não
para o assunto, mas o treinamento leva à carga ou volume de trabalho
vai realmente muito além, como ve- que se quer realizar, mas que o au-
remos ao longo do curso. mento indiscriminado deste estímu-
É muito importante diferen- lo leva a uma condição mais séria
ciar um esforço físico esporádico de que é a síndrome do Overtraining.
um treinamento para obter um me-
lhor condicionamento físico, princi-
palmente porque o primeiro predis-
põe o indivíduo a riscos importan-
tes, ao contrário do treinamento vi-
sando um melhor condicionamento
físico, que é capaz de modificar a Fonte:
qualidade e até mesmo a quantidade https://euusomedicamentomanipula
de vida. do.com.br/
Quem já praticou algum tipo
de esporte, tem uma ideia do que é Até o momento duas conside-
um treinamento, mas normalmente rações são muito importantes: pri-
esta ideia se limita ao conceito de meiro - é necessário um plano de
sobrecarga. O conceito de sobrecar- exercícios quando queremos realizar
ga nada mais é do que a suposição de uma atividade física, mesmo quando
que realizando uma determinada

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

esta é humilde no quesito resultados Como podemos ver, o treina-


desejados, e principalmente nela mento é em verdade muito mais
porque o exercício esporádico mal complexo do que podemos supor
orientado, mal direcionado e mal após um exame rápido. O treina-
acompanhado (quando há acompa- mento desportivo, que faz jus a
nhamento) tende a ser perigoso para expressão, é tão somente o resultado
a saúde. Segundo - também para os da análise cuidadosa de fatores ge-
atletas de alto rendimento, ou para néticos, disponibilidade de tempo,
aqueles que almejam ter performan- recursos nutricionais, horas de sono,
ce semelhantes aos atletas em des- séries de exercícios, condições de
taques na mídia, é muito importante treinamento, horário de treinamen-
programar um treinamento para se to, número de seções de treinamento
evitar os efeitos mais nefastos do ex- e resultados esperados.
cesso de treinamento: as lesões es- A análise dessas variáveis irá
portivas por desgaste (isso sem falar gerar uma planilha que contemple
no desempenho, porque este é o estes fatores, para que todos traba-
primeiro a ser afetado). lhem em sinergismo buscando o re-
Nesse contexto, podemos falar sultado esperado, ou o mais próximo
rapidamente da desejada supercom- possível deste. E quem poderia cui-
pensação, que é o aumento da capa- dar de todos estes aspectos para o
cidade de realizar um determinado esportista? O mais correto seria per-
trabalho, gerada pelo organismo guntar Quem? Em que momento? O
através de adaptações em resposta treinamento desportivo, desde o
ao stress físico que o corpo foi sub- momento de sua prescrição, deve ser
metido. Para permitir que essa su- acompanhado por uma equipe mul-
percompensação exista e se processe tiprofissional para que o melhor
sem interrupção, é necessário que atendimento seja oferecido. O come-
um profissional habilitado e capaci- ço deste “namoro” com o esporte
tado analise a rotina do aluno, dos deve se dar no consultório médico,
hábitos de vida diários à performan- onde este irá avaliar o estado geral
ce esportiva, para poder realizar um de saúde para orientar e minimizar
treinamento que contemple a tríade os riscos de lesões ou incidentes por
(estímulo, nutrição e descanso), a abuso do organismo. Se tudo estiver
aptidão natural do aluno e a dispo- bem, o próximo passo será procurar
nibilidade de tempo deste tentando o educador físico ou treinador pes-
alcançar desta maneira o resultado soal que faça uma planilha de treina-
esperado. mento de acordo com os dados ob-

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

tidos do consultório médico, as me- tância do exercício físico e incluí-lo


tas do novo aluno e a avaliação que em seu estilo de vida e o especialista
ele irá realizar das capacidades físi- em Treinamento Desportivo tem,
cas deste. No caso de alguma patolo- dentre suas metas, levar as pessoas
gia, por exemplo doenças muscula- sob sua responsabilidade a incorpo-
res, o caminho é o do fisioterapeuta, rarem a atividade física da forma
que irá realizar a melhor conduta de mais séria e consciente possível.
reabilitação para deixar o paciente o
mais próximo de iniciar o treina- Conceitos
mento em busca de sua meta dese-
jada. Por último, e tão importante Treinamento Desportivo é a
quanto os outros profissionais, a nu- forma fundamental de preparação,
tricionista irá prescrever uma dieta baseada em exercícios sistemáticos,
que permita com que o pró-atleta representando um processo organi-
melhore seu desempenho esportivo, zado pedagogicamente, com o obje-
alcance suas metas estéticas e tivo de direcionar a evolução do des-
aprenda a se alimentar para gozar de portista (MATVEIEV, 1983).
boa saúde (POWER; HOWLEY, Uma ação sistemática de trei-
2003; BOMPA, 1983; MUZY, 2010) namento implica na existência de
Vale lembrar, de antemão, que um plano em que se define igual-
uma atividade física regular é uma mente os objetivos parciais, os con-
parte muito importante em um pro- teúdos e os métodos de treinamento,
cesso de perda, ganho ou controle de cuja realização deve desenvolver
peso efetivo. Os exercícios também mediante controle dos mesmos
podem ajudar a prevenir diversas (Dicionário de Ciências do Esporte,
doenças e melhorar sua condição as- 1992).
lutar. Não importa que tipo de exer- Bompa (1983), define o Trei-
cício físico seja praticado, todos são namento como uma atividade des-
benéficos (MUZY, 2010). portiva sistemática de longa dura-
Pesquisas constantemente de- ção, graduada de forma progressiva
monstram que atividade física regu- a nível individual, cujo objetivo é
lar combinada com uma alimenta- preparar as funções humanas, psi-
ção equilibrada é a forma mais sau- cológicas e fisiológicas para poder
dável e a mais eficiente de viver me- superar as tarefas mais exigentes.
lhor. Não importa se a pessoa está Outros conceitos e definições
tentando perder, ganhar ou manter podem ser visualizados no quadro
seu peso, ela deve entender a impor- abaixo:

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Autores Conceitos e Definições

ANDRI VER, LECLERQ e CHIGNON (França) Treinamento é o conjunto de procedimentos tendentes


a conduzir um ser humano ao máximo de suas
possibilidades físicas.

BAYER (Alemanha) O Treinamento Desportivo é um meio encaminhado a


exercitar e coordenar as funções fisiológicas dos
diferentes grupos musculares do organismo.

CARLYLE (Austrália) O Treinamento deve ser tão científico e organizado


quanto se pode. Sobretudo, devemos ter uma ideia clara
do que se propõe, para pôr em prova o que se treina, e
quando queremos lograr a melhor performance.

FAUCONIER (Bélgica) O Treinamento é o conjunto de atividades às quais se


entrega um indivíduo a fim de desenvolver
progressivamente suas qualidades, tanto mentais como
físicas, aplicando-se particularmente aquelas que o
caracterizam.

GIRALDES (Argentina) Treinamento é o conjunto de atividades que tendem a


desenvolver as qualidades mentais e físicas com o
objetivo de alcançar o máximo de rendimento individual.

HEGEDUS (Uruguai) O Treinamento Desportivo constitui uma preparação


sistemática do organismo, respeitando processos de
adaptações psicobiológicas e que visam obter um alto
rendimento.

HOLLMAN (Alemanha) Treinamento é a soma de solicitações corporais


repetidas, executadas em espaços de tempo
determinados, destinadas a aumentar o rendimento, as
quais levam a modificações morfológicas e funcionais do
organismo.

MATVÉIEV (Rússia) Treinamento Desportivo, como fenômeno pedagógico, é


processo especializado da Educação Física orientada,
objetivando alcançar elevados resultados desportivos. A
preparação desportiva compreende o aproveitamento
de todo o conjunto de meios que asseguram a obtenção
e a elevação da predisposição para alcançar resultados
desportivos.

SAMULSKI (Alemanha) (1990) Sob o ponto de vista pedagógico-social, entende-se o


Treinamento Desportivo como meio de capacitação
individual e social do esportista, através da otimização
dos processos formativos-educacionais.

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Objetivos humano no contexto da competição


desportiva, baseado no método cien-
Quanto aos objetivos do Trei- tífico e do abandono sistemático do
namento Desportivo, temos: método empírico.
 Ganhar e aumentar o desen-
volvimento multilateral e Como Funciona o Treinamen-
físico; to Desportivo
 Assegurar e melhorar os de-
senvolvimentos físicos especí- Segundo D`Angelo (2009) o
ficos, determinados pelas ne-
treinamento desportivo apresenta-
cessidades de cada desporto
em particular; se como uma atividade física de lon-
 Realizar e aperfeiçoar as téc- ga duração, graduada de forma pro-
nicas do desporto escolhido; gressiva, individualizada, atuando
 Melhorar e aperfeiçoar as es- especificamente nas funções huma-
tratégias necessárias; nas, fisiológicas e psicológicas, com
 Cultivar as qualidades voli- objetivos de superar tarefas mais
tivas; exigentes que as habituais.
 Assegurar e procurar uma pre- O treinamento desportivo,
paração ótima para a equipe;
quando aplicado adequadamente,
 Fortalecer o estado de saúde
de cada atleta; provoca no organismo humano,
 Prevenir lesões; adaptações morfológicas e funcio-
 Incrementar o conhecimento nais, elevando assim o nível de for-
teórico do atleta. ma física do indivíduo. Para tanto,
alguns princípios devem ser segui-
A realidade nos demonstra
dos para que a aplicação desse trei-
que a cada dia é maior a complexida-
namento seja eficaz, os quais ve-
de que rodeia o treinamento moder-
remos adiante (BOMPA, 1983).
no. Isto nos obriga a afrontar o trei-
namento com maior rigorosidade e
O Tripé do Treinamento Des-
profundidade, dando um passo a
portivo
aplicação de uma metodologia cien-
tífica que substitua o trabalho empí-
Há um certo vício do corredor
rico do treinador.
quanto ao seu VO2 máximo. Parece
Sánches e Bañuelos (1993),
que sozinho ele determina a quali-
desde uma perspectiva científica,
dade da performance, mas na ver-
definem o treinamento como uma
dade ele faz parte de um tripé dentro
atividade de busca contínua dos li-
do seu treinamento: VO2 máximo,
mites físicos, que pode chegar ao ser

18
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

limiar anaeróbio e técnica dos mo- Técnica de movimentos: É nossa


vimentos. eficiência mecânica. Quando há
Eles são assim definidos: consciência ao executar corretamen-
VO2 máximo: É o volume máximo te os movimentos da corrida, a ener-
de oxigênio que o corpo consegue gia que seria gasta inutilmente é eco-
captar do ar e levar até os tecidos, nomizada.
através do sistema cardiovascular, e
usar na produção de energia. Ela é
medida em mililitros por quilogra-
ma (mml/kg), isto é, como o
oxigênio se distribui por cada quilo
do seu corpo.

Fonte: https://www.ativo.com/

Limiar anaeróbio: É o ponto em


que a produção de ácido lático passa
a ser maior do que a capacidade que
o corpo possui em removê-lo. É uma
intensidade em que geralmente
ocorre a fadiga muscular e o corpo
para. O ideal é manter um ritmo
constante e próximo a esse limiar.

Fonte: https://granwardl19.live/

19
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

3. Princípios do Treinamento Desportivo

Fonte: Educação Física3

P ara Tubino (1984) seriam cin-


co os princípios do Treinamen-
to Esportivo: O Princípio da Indi-
Estélio Dantas (1995), atuali-
zando o elenco dos cinco princípios
preconizados por Tubino, incluiu
vidualidade Biológica, O Princípio mais um: O Princípio da Especifici-
da Adaptação, O Princípio da Sobre- dade, que veremos após a aborda-
carga, O Princípio da Continuidade, gem dos cinco primeiros. Após estes
O Princípio da Interdependência seis primeiros princípios veremos
Volume- Intensidade. mais dois princípios levantados por
Segundo Tubino é importante Marcelo Gomes da Costa: O Prin-
enfatizar que os princípios se inter- cípio da Variabilidade e O Princípio
relacionam em todas as suas apli- da Saúde, totalizando oito princípios
cações.

3 Retirado em https://www.educacaofisica.com.br/

21
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Ao final trataremos da inter-Relação fatores como composição corporal,


entre os Princípios. biótipo, altura máxima esperada,
força máxima possível e percentual
O Princípio da Individua- de fibras musculares dos diferentes
lidade Biológica tipos, dentre outros.
O fenótipo é responsável pelo
De acordo com Tubino (1984, potencial ou pela evolução das capa-
p. 100), “chama-se individualidade cidades envolvidas no genótipo.
biológica o fenômeno que explica a Neste se inclui tanto o desenvolvi-
variabilidade entre elementos da mento da capacidade de adaptação
mesma espécie, o que faz que com ao esforço e das habilidades esporti-
que não existam pessoas iguais entre vas como também a extensão da ca-
si”. pacidade de aprendizagem do indi-
Cada ser humano possui uma víduo (BENDA; GRECO, 2001).
estrutura e formação física e psí- Segundo Dantas (1995, p. 39)
quica própria, neste sentido, o trei- o indivíduo deverá ser sempre consi-
namento individual tem melhores derado como a junção do genótipo e
resultados, pois obedeceria as carac- do fenótipo, dando origem ao soma-
terísticas e necessidades do indiví- tório das especificidades que o ca-
duo. Grupos homogêneos também racterizarão. Deve-se entender o ge-
facilitam o treinamento desportivo. nótipo como a carga genética trans-
Cabe ao treinador verificar as poten- mitida à pessoa e que determinará
cialidades, necessidades e fraquezas preponderantemente diversos fato-
de seu atleta para o treinamento ter res e, os potenciais são determina-
um real desenvolvimento. Há vários dos geneticamente, e que as capaci-
meios para isso, além da experiência dades ou habilidades expressas são
do treinador, que conta muito, os decorrentes do fenótipo. Para este
testes específicos são primordiais. autor, o campeão seria aquele que
Segundo Benda e Greco (20 nasceu com um “dom da natureza” e
01), uma das Capacidades do Rendi- que, aproveitando totalmente esse
mento Esportivo é a Capacidade dom, o desenvolve através de um
Biotipológica, que está dividida em perfeito treinamento (DANTAS,
Capacidade constitucional Fenótipo 1995, p. 40).
e Capacidade constitucional Genó- Nos Jogos Pan-americanos de
tipo: 2007, verificamos em entrevistas de
O genótipo é o responsável atletas brasileiros considerados fe-
pelo potencial do atleta. Isso inclui nômenos pela mídia, um discurso de

22
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

que os bons resultados obtidos não De acordo com Weineck (1991)


eram frutos somente de um dom, e a adaptação é a lei mais universal e
sim de muito esforço, trabalho, importante da vida. Adaptações
treinamento, incentivos financeiros biológicas apresentam-se como
e técnicos. mudanças funcionais e estruturais
Elevando a importância dos em quase todos os sistemas. Sobre
fatores ambientais, do fenótipo do adaptações biológicas no esporte,
atleta, consequentemente, elevamos entendem-se as alterações dos ór-
a importância do treinador, do pro- gãos e sistemas funcionais, que apa-
fissional de Educação Física e sua recem em decorrência das ativida-
intervenção para o sucesso do atleta, des psicofísicas e esportivas.
de um campeão. Na biologia, compreende-se
Não cabe aqui discutir fatos “adaptação” fundamentalmente co-
históricos ligados às tentativas de mo uma reorganização orgânica e
manipulações das características ge- funcional do organismo, frente a
néticas, do genótipo de atletas, atra- exigências internas e externas;
vés, principalmente, dos ideais da adaptação é a reflexão orgânica,
Eugenia no decorrer do século XX. adoção interna de exigências. Ela
Mas sempre irá caber em qualquer ocorre regularmente e está dirigida à
lugar o alerta em relação às tentati- melhor realização das sobrecargas
vas de manipulação e violação do que induz. Ela representa a condição
corpo, da integridade e dos direitos interna de uma capacidade melho-
de todo o homem. rada de funcionamento e é existente
em todos os níveis hierárquicos do
O Princípio da Adaptação corpo. Adaptação e capacidade de
adaptação pertencem à evolução e
Podemos dizer que a adapta- são uma característica importante
ção é um dos princípios da natureza. da vida. Adaptações são reversíveis e
Não fosse a capacidade de adapta- precisam constantemente ser reva-
ção, que se mostra de diferentes mo- lidadas (WEINECK, 1991, p. 22).
dos e intensidades, várias espécies Weineck (1991) diz ainda que,
de vida não teriam sobrevivido ou no esporte, devido aos múltiplos fa-
conseguido sobreviver por longos tores de influência, raramente o ge-
tempos e em diferentes ambientes. nótipo é completamente transfor-
O próprio homem conseguiu preva- mado em fenótipo, mesmo com o
lecer no planeta, como espécie, de- treinamento mais duro. Para este
vido à sua capacidade de adaptação. autor, fases de maior adaptabili-

23
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

dade, encontram-se em diferentes uma resposta, e, ainda, entendendo-


períodos para os fatores de desem- se por estímulos o calor, os exercí-
penho de coordenação e condicio- cios físicos, as emoções, as infecções,
nados, sendo designadas “fases sen- etc, conclui-se, com base num gran-
sitivas”. A zona limite destas fases de número de experiências e obser-
sensitivas, isto é, o período em que vações de diversos autores, que em
justamente ainda é possível uma relação ao organismo humano:
melhor expressão das característi-  Estímulos débeis => não acar-
cas, geralmente é chamada de “pe- retam consequências; Estímu-
ríodo crítico”. los médios => apenas excitam;
Capacidade de adaptação ou  Estímulos médios para fortes
=> provocam adaptações;
adaptabilidade é o nome que se dá à
 Estímulos muito fortes =>
diferente assimilação dos estímulos,
causam danos (TUBINO, 19
frente à mesma qualidade e quanti- 84, p. 101).
dade de exercícios ou carga de trei-
namento. Ela pode ser atribuída à Segundo Dantas, o conceito de
correlação organismo/ambiente, Homeostase, que é necessário para
sob o ponto de vista da predisposi- compreender este princípio, é: “Ho-
ção hereditária e sua expressão (g- meostase é o estado de equilíbrio
enética) ((WEINECK, 1991). instável mantido entre os sistemas
Para Tubino (1984), este prin- constitutivos do organismo vivo, e o
cípio do Treinamento Esportivo está existente entre este e o meio am-
intimamente ligado ao fenômeno do biente” (DANTAS, 1995, p. 40).
stress. As investigações sobre o Para este autor, a homeostase
stress tiveram início em 1920 com pode ser rompida por fatores inter-
Cânon e Hussay, tendo uma grande nos, geralmente oriundos do córtex
ênfase no período entre 1950 e 1970, cerebral, ou externos, como: calor,
onde praticamente surgiu uma lite- frio, situações inusitadas, provocan-
ratura científica básica sobre este fe- do emoções e, variação da pressão,
nômeno. Segundo Tubino (1984) esforço físico, traumatismo, etc.
definindo-se Homeostase, de acordo Dantas (1985) diz que, sempre que a
com CANNON, como o equilíbrio homeostase é perturbada, o orga-
estável do organismo humano em nismo dispara um mecanismo com-
relação ao meio ambiente, e asben- pensatório que procura restabelecer
do-se que esta estabilidade modifi- o equilíbrio, quer dizer, todo estímu-
ca-se por qualquer alteração am- lo provoca reação no organismo,
biental, isto é, para cada estímulo há acarretando uma resposta adequa-

24
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

da. Neste sentido, o organismo, bus- não se dissemine. É caracterizada


cando o equilíbrio constante, estaria pelo desconforto, e está dividida em
sempre em um estado constante de duas partes: choque e contrachoque,
equilibração. sendo o choque a resposta inicial do
Tubino (1984) pensa que, organismo a estímulos aos quais não
quando o organismo é estimulado, está adaptado, provocando a dimi-
imediatamente aparecem mecanis- nuição da pressão sanguínea, en-
mos de compensação para respon- quanto o contrachoque ocasiona
der a um aumento de necessidades uma inversão de situação, isto é,
fisiológicas. Assim, constata-se que ocorre um aumento da pressão
existe uma relação entre a adaptação sanguínea.
de estímulos de treinamento e o fe- A fase da resistência é a fase da
nômeno de stress, o que é explicado adaptação, à qual é obtida pelo de-
pelo princípio científico da adapta- senvolvimento adequado dos canais
ção. A definição dada ao stress por específicos de defesa, sendo esta eta-
Tubino é a seguinte: pa caracterizada pela dor e pela ação
Stress ou Síndrome de Adap- do organismo resistindo ao agente
tação Geral (SAG) é a reação do or- estressante inicial, sendo a fase que
ganismo aos estímulos que provo- realmente mais interessa ao treina-
cam adaptações ou danos ao mesmo, mento desportivo.
sendo que esses estímulos são deno- A fase da exaustão é aquela em
minados agentes estressores ou es- que as reações se disseminam, em
tressantes (TUBINO, 1984, p.102). consequência da saturação dos ca-
A síndrome de adaptação geral nais apropriados de defesa, apresen-
(SAG) é dividida em três fases, até tando como característica a presen-
que o agente estressante na sua ação ça do colapso, podendo chegar até a
atinja o limite da capacidade fisio- morte (TUBINO,1984).
lógica de compensação do orga- Tubino ainda menciona que
nismo: EÜLER observou 3 tipos de stress,
 1ª Fase: Reação de alarme; de acordo com a origem dos estímu-
 2ª Fase: Fase da resistência los estressantes, são eles: o stress
(adaptação); físico, o stress bioquímico e, o stress
 3ª Fase: Fase da exaustão. mental (1984, p.103).
Mas não só de modo pragmá-
Para Tubino (1984), na fase de
tico devemos enxergar o Princípio
reação de alarme, os mecanismos
da Adaptação. Acredita-se que em
auxiliares são mobilizados para
termos de treinamento, o critério
manter ávida, a fim de que a reação

25
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

adaptação pode ser estendido a vá- O aproveitamento do fenôme-


rios outros fatores além do treina- no da assimilação compensatória ou
mento fisiológico propriamente di- supercompensação, que permite a
to. Um bom exemplo são as capa- aplicação progressiva do princípio
cidades de adaptações emocionais, da sobrecarga, pode, ainda, ser se-
ambientais, entre outras, além da veramente comprometido por uma
comum capacidade do treinador ou incorreta disposição do tempo de
professor se adaptar, às vezes às pés- aplicação das cargas. O equilíbrio
simas condições de trabalho ou difi- entre carga aplicada e tempo de re-
culdades encontradas em condições cuperação é que garantirá a existên-
sociais desfavorecidas. O treinador cia da supercompensação de forma
ou professor deve ter em mente que permanente (DANTAS, 1995).
é preciso se adaptar à atitude de Segundo Tubino (1984), o mo-
adaptação, uma atitude consciente e mento exato em que se produz à
crítica, pois, com a velocidade da adaptação aos agentes estressantes
dinâmica das mudanças hodiernas e (estímulos), é, sem dúvida, um dos
a possível e quase certa aceleração pontos mais discutíveis do Treina-
que deve vir adiante em tempos fu- mento Esportivo. Existem pontos de
turos, a capacidade de adaptação se- vista que estabelecem a adaptação
rá cada vez mais necessária e re- durante intervalos intermediários
quisitada. dos treinos, enquanto que outras
pesquisas defendem a tese da
O Princípio da Sobrecarga adaptação após o último intervalo da
sessão de treino.
De acordo com Dantas (1995,
Segundo Hegedus (1969 apud
p. 43) imediatamente após a apli-
Tubino, 1984), os diferentes estímu-
cação de uma carga de trabalho, há
los produzem diversos desgastes,
uma recuperação do organismo, vi-
que são repostos após o término do
sando restabelecer a homeostase.
trabalho, e nisso podemos reconhe-
cer a primeira reação de adaptação,
pois o organismo é capaz de restituir
sozinho as energias perdidas pelos
diversos desgastes, e ainda prepa-
rar-se para uma carga de trabalho
mais forte, chamando-se este fenô-
meno de assimilação compensa-
tória. Assim, sabe-se que não só são
Fonte: Globo

26
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

reconduzidas as energias perdidas dos os outros Princípios do Treina-


como também são criadas maiores mento Esportivo, sempre respeitan-
reservas de energia de trabalho. A do as necessidades e anseios do atle-
primeira fase, isto é, a que recompõe ta e, principalmente, os limites éti-
as energias perdidas, chama-se pe- cos do treinamento.
ríodo de restauração, o qual permite
a chegada a um mesmo nível de O Princípio da Continuidade
energia anterior ao estímulo. A se-
gunda fase é chamada de período de Este princípio está intima-
restauração ampliada, após o qual o mente ligado ao princípio da adap-
organismo possuirá uma maior fon- tação, pois a continuidade ao longo
te de energia para novos estímulos. do tempo é primordial para o orga-
Tubino (1984) ressalta que os nismo, progressivamente, se adap-
estímulos mais fortes devem sempre tar.
ser aplicados por ocasião do final da Realmente, a condição atlética
assimilação compensatória, justa- só pode ser conseguida após alguns
mente na maior amplitude do perío- anos seguidos de treinamento e,
do de restauração ampliada para existe uma influência bastante signi-
que seja elevado o limite de adap- ficativa das preparações anteriores
tação do atleta. Este é o princípio da em qualquer esquema de treina-
sobrecarga, também chamado prin- mento em andamento. Para Tubino
cípio da progressão gradual, e será (1984), estas duas premissas ex-
sempre fundamental para qualquer plicam o chamado Princípio da
processo de evolução desportiva. Continuidade.
Tubino (1984) cita algumas “Pode-se acrescentar que este
indicações de aplicação do Princípio princípio compreenderá sempre, no
da Sobrecarga, referenciado nas va- treinamento em curso, uma sistema-
riáveis: Volume (Quantidade) e In- tização de trabalho que não permita
tensidade (Qualidade); em vários Ti- uma quebra de continuidade, isto é,
pos de Treinamento, como: Contí- que o mesmo apresente uma inter-
nuo, Intervalado, em Circuito, de venção compacta de todas as variá-
Musculação, de Flexibilidade e Agili- veis interatuantes. Em outras pala-
dade, e Técnico. vras, considerando um tempo
O que o professor ou o treina- maior, o princípio da continuidade é
dor deve ter é o bom senso ao definir aquela diretriz que não permite
a sobrecarga que vai trabalhar com o interrupções durante esse período”
seu aluno ou atleta, observando to- (TUBINO, 1984, p. 110).

27
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

A continuidade de treinamen- guindo uma orientação de interde-


to evita que o treinador subtraia eta- pendência entre si.
pas importantes na formação atléti- Na maioria das vezes, o au-
ca de um esportista. Em geral um mento dos estímulos de uma dessas
atleta que tem um alto desempenho, duas variáveis é acompanhado da
com certeza teve uma continuidade diminuição da abordagem em trei-
ao longo de sua preparação, treina- namento da outra.
mento e também do aprendizado do Nem sempre as variáveis vo-
esporte praticado. A continuidade é lume e intensidade estão claramente
importante inclusive no treinamen- explícitas ao treinador para que este
to amador e no lazer, e não somente possa definir um treinamento ou
no aspecto fisiológico, mas também, ação baseado na relação entre estas.
como por exemplo, no aspecto psi- Portanto, utilizando o bom senso, na
cológico e entre outros aspectos cu- dúvida nunca se deve arriscar ou co-
jos fatores podem interferir na prá- locar o atleta ou praticante em risco.
tica esportiva. Um bom treinador consegue enxer-
gar, com maior clareza, a relação de
O Princípio da Interdepen- interdependência entre volume e
dência Volume-Intensidade intensidade de um treinamento ou
ação de atividade.
Este princípio está intima-
mente ligado ao princípio da sobre- O Princípio da Especificidade
carga, pois o aumento das cargas de
trabalho é um dos fatores que me- De acordo com Dantas (1995),
lhora a performance. Este aumento a partir do conceito de treinamento
ocorrerá por conta do volume e total, quando todo o trabalho de pre-
devido à intensidade. paração passou a ser feito de forma
Para Tubino (1984), pode-se sistêmica, integrada e voltada para
afirmar que os êxitos de atletas de objetivos claramente enunciados, a
alto rendimento, independente da orientação do treinamento por meio
especialização esportiva, estão refe- de métodos de trabalho veio, Paula-
renciados a uma grande quantidade tinamente, perdendo a razão de ser.
(volume) e uma alta qualificação (in- Hoje em dia, nos grandes cen-
tensidade) no trabalho, sendo que, tros desportivos, esta forma de
estas duas variáveis (volume e inten- orientação do treinamento foi total-
sidade) deverão sempre estar ade- mente abandonada em proveito da
quadas às fases de treinamento, se- designação da forma de trabalho pe-

28
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

la qualidade física que se pretende O princípio da especificidade


atingir. Associando-se este conceito irá se refletir em duas amplas cate-
à preocupação em adequar o treina- gorias de fundamentos fisiológicos:
mento do segmento corporal ao do os aspectos metabólicos e os aspec-
sistema energético e ao gesto espor- tos neuromusculares.
tivo, utilizados na performance, ter- Para Dantas (1995, p. 50), “O
se-á o surgimento de um sexto prin- princípio da especificidade preconi-
cípio esportivo: o princípio da espe- za, [...] que se deve, além de treinar
cificidade, que vem se somar aos já o sistema energético e o cardiorres-
existentes. Podemos dizer que este piratório dentro dos parâmetros da
princípio sempre esteve intrínseco prova que se irá realizar, fazê-lo com
em todo o treinamento esportivo, o mesmo tipo de atividade de per-
desde o mais rústico nas práticas formance.
utilitárias, mas tê-lo como princípio Isto serve, cada vez mais, para
norteador e como um dos parâme- firmar na consciência do treinador
tros que devem ser levados em que o treino, principalmente na fase
consideração é essencial ao estudo e próxima à competição, deve ser es-
planejamento crítico e consciente tritamente específico, e que a reali-
nos treinamentos contemporâneos. zação de atividades diferentes das
“O princípio da especificidade executadas durante a performance
é aquele que impõe, como ponto es- com a finalidade de preparação físi-
sencial, que o treinamento deve ser ca, se justifica se for feita para evitar
montado sobre os requisitos especí- a inibição reativa (ou saturação de
ficos da performance desportiva, em aprendizagem).
termos de qualidade física intervê- De acordo com Dantas (1995),
niente, sistema energético prepon- o segundo componente dos aspectos
derante, segmento corporal e coor- neuromusculares é controlado,
denações psicomotoras utilizados” principalmente pelo sistema nervo-
(DANTAS, 1995, p. 50). so central ao nível de cérebro, bulbo
Segundo Dantas, ao se estudar e medula espinhal e pressupõe que
o princípio da especificidade, de todos os gestos esportivos, realiza-
imediato sobressai um fator deter- dos durante a performance, já este-
minante, que é o princípio da indi- jam perfeitamente “aprendidos” de
vidualidade biológica, estabelecen- forma a permitir que, durante a per-
do limites individuais a esta capa- formance, não se tenha que criar
cidade de transferência. coordenações neuromusculares no-

29
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

vas, mas tão somente “lembrar-se” modalidade esportiva, está atrelada


de um movimento já assimilado e à memória do gesto motor, de seu
executá-lo. treinamento, podemos dizer que o
A psicologia da aprendizagem Princípio da Especificidade está li-
ensina que o conhecimento ou movi- gado diretamente aos gestos especí-
mento, uma vez aprendido, fica ar- ficos de uma determinada modali-
mazenado no neocórtex sob forma dade e o treinamento utilizado para
de engrama, que consiste num de- o aprendizado e o desenvolvimento
terminado padrão de ligação entre destes respectivos gestos especí-
os neurônios. O engrama, que é ficos.
sempre utilizado, fica cada vez mais
“nítido” e “forte” ao passo que aque- O Princípio da Variabilidade
le que não é utilizado se enfraquece
e pode até se extinguir. Se um gesto Também denominado de Prin-
esportivo for repetido com constân- cípio da Generalidade, encontra-se
cia, seu engrama ficará tão forte a fundamentado na ideia do Treina-
ponto de permitir a execução do ges- mento Total, ou seja, no desenvol-
to de forma reflexa, através de uma vimento global, o mais completo
rápida comparação, pelo bulbo, en- possível, do indivíduo. Para isso de-
tre as reações neuromusculares e o ve-se utilizar das mais variadas for-
engrama. Este aspecto está ligado a mas de treinamento (GOMES da
mielinização das fibras nervosas e à COSTA, 1996).
velocidade de condução dos impul- “Quanto maior for a diversi-
sos, e à caracterização dos tipos de ficação desses estímulos – é obvio
movimentos. que estes devem estar em conformi-
Finalizando, Dantas (1995) dade com todos os conceitos de se-
nos diz que, o aprimoramento da há- gurança e eficiência que regem a
bilidade técnica e a execução de atividade – maiores serão as possi-
todos os movimentos possíveis du- bilidades de se atingir uma melhor
rante o treinamento, visando a aqui- performance” (GOMES DA COSTA,
sição e reforço dos engramas reque- 1996, p. 357).
ridos pelo esporte considerado, to- A atenção a este princípio di-
marão tanto mais tempo quanto minui a possibilidade do apareci-
mais complexo ele for em termos mento de fatores desestimulantes,
neuromotores. agindo de forma contrária, atuando
Então, se a especificidade do na motivação e o mais importante,
movimento, e consequentemente da na possibilidade de possibilitar o

30
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

surgimento de novas técnicas de norteadores. Em práticas de ativi-


treinamento, de estratégia, táticas, dades físicas hodiernas, verificamos
entre outras, inclusive de novos ges- não somente aquelas ligadas à aqui-
tos específicos, que sob um determi- sição e manutenção da saúde do pra-
nado ponto de visão, sob um treina- ticante, mas também aquelas de alta
mento não variável, não seria pos- performance, que podem trazer ma-
sível ser identificado ou ter apare- lefícios devido ao compromisso com
cido. Um dos alicerces deste princí- o alto rendimento e resultados, e
pio é a criatividade, tanto do atleta, ainda, as atividades que não têm
quanto do treinador. compromisso algum com o aspecto
saúde.
O Princípio da Saúde Atualmente, pessoas colocam
a vida em risco em esportes extre-
Segundo Gomes da Costa mamente radicais, quando tentam
(1996), esse princípio encontra-se ultrapassar os limites físicos. Por-
diretamente ligado ao próprio obje- tanto, cabe perguntar: os treina-
tivo maior de uma atividade física mentos destas atividades estariam
utilitária que vise à saúde do sob o Princípio da Saúde? De certo
indivíduo: modo, em relação ao preparo para a
“Assim, não só a Ginástica execução da atividade sim, pois, é
Localizada em si e suas atividades necessário um certo nível de condi-
complementares possuem grande cionamento e saúde para tais práti-
importância. Também os setores de cas, e também, pelo fato dos prati-
apoio da Academia, como o Depar- cantes estarem fazendo algo que
tamento Médico, a Avaliação Fun- gostam, que é importante para a
cional e o Departamento Nutricional vida delas e lhes dá prazer.
assumem relevante função no senti- A correlação entre este prin-
do de orientar todo o trabalho, vi- cípio e outras perspectivas do espor-
sando a aquisição e a manutenção te é um ponto interessante para am-
dessa Saúde” (GOMES DA COSTA, pliar os estudos.
1996, p. 358).
A citação acima nos leva a infe- A Inter-Relação dos Princípios
rir que este princípio está funda-
mentado na interdisciplinaridade. De acordo com Gomes da Cos-
No entanto, nem sempre o Princípio ta (1996), se faz lógico e transpa-
da Saúde tem sido o principal nor- rente que essas leis não existem ape-
teador, ou mesmo um dos princípios nas por existir. Cada princípio, con-

31
TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

siderado individualmente, possui único fator determinante para a ex-


seu valor e função próprios, entre- celência em treinamento. A excelên-
tanto, a integração entre esses prin- cia só será atingida se houver a inter-
cípios adquire inestimável impor- relação perfeita entre todos estes
tância. Aqui acontece aquela “histo- saberes e respectivas aplicações, e
rinha” de que o todo é sempre maior uma constante reformulação desta
do que a soma de suas partes. inter-relação, pois, este conceito de
Assim, cada Princípio assume reformulação está embutido nos
uma importância maior, um papel próprios princípios.
mais destacado quando associado Talvez com uma maior com-
aos outros princípios, segundo Go- preensão destes princípios, incluin-
mes da Costa (1996, p. 358), que do aspectos ainda pouco explorados,
ainda comenta: como o emocional, ambiental, so-
cial, cultural, entre outros, possam
“Apesar dessa importante cor- contribuir para um olhar plural,
relação, os Princípios da Adap-
além do pragmatismo de um pro-
tação, da Sobrecarga, da Conti-
nuidade e da Interdependência grama focado somente no aspecto
Volume-Intensidade é que vão fisiológico do treinamento. Observa-
não só dar corpo como orientar
toda a aplicação prática do trei-
mos que os professores ou treina-
namento, ou seja, são os ver- dores devem se apoiar no bom senso
dadeiros responsáveis pela “ar- para efetivar qualquer treinamento
rumação” de todo o processo de
treinamento, traduzida na for-
e ampliar a discussão sobre os con-
ma dos micro, meso e macro- ceitos e utilizações dos princípios
ciclos de trabalho.” que norteiam os treinamentos em
diferentes modalidades.
Esperamos ter deixado claro
que, somente com o conhecimento
de todos os princípios, será possível
realizar um treinamento ideal e efi-
caz. Provavelmente a excelência em
treinamento deve estar acompanha-
da do profundo saber de todos os
princípios aqui comentados, além de
mais outros tantos tópicos do trei-
namento esportivo. Mas o saber pro-
fundo destes princípios e dos mais
outros tantos conhecimentos não é o

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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

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