Todas as civilizações conheceram alguma forma de poesia,
embora variem muito, de grupo para grupo, as modalidades de composições poéticas produzidas. Entre as velhas culturas mediterrâneas, de origem indo-eu ropeia, as mais antigas manifestações de poesia se associam in variavelmente à música: são cânticos, portanto, e pelo que de les sabemos, por meio do exame de formas arcaicas, podemos supor que tinham como base estrutural o verso, a unidade rít mica que corresponde à acomodação de uma frase a um es quema melódico, caracterizado por certo número de sílabas (ou conjuntos de sílabas) e pela colocação de sílabas de deter minadas categorias em posições mais ou menos fixas. Variaram, nas diversas civilizações, os tipos de versos conhe cidos. Enquanto na Grécia, por exemplo, havia grande quan tidade de espécies rítmicas, adequadas aos diferentes gêneros poéticos, na Itália central, ao que se sabe, a poesia só se valia de um único modelo de verso em seus primórdios: o chama do verso satúrnio. 4 | A LITERATURA LATINA
Pesado, longo e monótono, o verso satúrnio foi utilizado,
em Roma, nos mais antigos cânticos de que se tem notícia. Su põe-se que fosse constituído, originalmente, de 14 ou 13 síla bas, subdividindo-se em duas partes. Alternavam-se as sílabas breves, com a duração de um tempo, e as longas, com a dura ção de dois (não nos esqueçamos de que em latim, diferente mente do que ocorre hoje nas línguas românicas, as sílabas eram caracterizadas pela duração e pela altura, e não pela in tensidade). Podiam-se substituir algumas das breves por lon gas, e vice-versa, desde que estivessem em determinadas posi ções. Tal procedimento gerava muitas possibilidades de varia ção rítmica, sem que se modificasse, substancialmente, o ver so. Daí, talvez, a razão pela qual nem o romano nem os demais povos itálicos tivessem procurado outras soluções métricas. Com o verso satúrnio foram compostos todos os cânticos latinos produzidos na época primitiva. Embora tais cânticos não possam, a rigor, ser considerados como formas literárias pro priamente ditas - faltam-lhes para isso o status de obras escri tas e as características mínimas dos textos artísticos - , não deixam de ser embriões literários, anunciando, já, os futuros gêneros: o épico, o dramático, o lírico, o satírico e o didático. Esses gêneros, porém, como veremos adiante, só vão desa brochar e produzir frutos no momento em que o romano, já preparado para conhecer o requinte de uma literatura mais cul tivada, defrontar-se com a poesia que se produziu na Grécia. A partir daí, nasce a verdadeira literatura latina. Impor tam-se modelos que passam a ser imitados. Roma, que vinha impondo-se perante o mundo pelas armas e pela força, não poderia ficar aquém de outros povos em termos de produção artística e literária. Tenta-se, pois, atingir o nível dos modelos que vêm de fora, e, se possível, superá-los. A luta foi árdua A POESIA LATINA | 5
mas, em muitos casos, a literatura latina conseguiu ser criati
va e original. O estudo, gênero por gênero, dos principais au tores e das obras mais importantes que produziram, procura rá mostrar tal fato.