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CRÍTICA
Um mestre entre os poetas líricos APOIADO POR
Odes
Os seus poemas são exemplo de uma perfeição formal exemplar, qualquer que
fosse o modelo métrico adoptado - e são inúmeros os metros que cultivou,
quase todos os que lhe disponibilizava a poesia lírica herdada dos velhos poetas
gregos; mas são, igualmente, exemplo de uma enorme criatividade, que aliava,
como poucos, engenho e arte, em raro fulgor poético. Temas, imagens, emoções,
ideias, sentimentos, olhares, percepções, tudo nele contribui para um edifício
lírico de incontestável beleza.
nos deixa sugestões múltiplas, por via de regra ambíguas, como convém à
poesia.É o poeta da moderação, cantor da aurea mediocritas ("áurea
mediania"), que erigiu como norma de conduta, e a essa moderação parece
APOIADO POR ter
subordinado a vida e a poesia; mas é, também, um poeta do amor, ou antes, de
amores, que muitos e variados eram, entre homens e mulheres, os objectos da
sua entrega, física, sem dúvida, mas raro apaixonada, no sentido em que o
irracional poucas vezes dele se apoderou: Lídia, Cloe, Neera, Pirra, Lide, Lice e
tantas, tantas outras, a par de Ligurino e Licisco, entre outros.
Talvez por tudo isso fosse, ao tempo de Augusto, fundador do Império romano e
da sua grandeza, uma espécie de consciência estética do regime, um quase
pontífice de uma corte de poetas, numa época que viu florescer os maiores da
Literatura Latina, como Virgílio, Propércio, Tibulo, Ovídio, Galo e vários outros
poetas de menor nome. Talvez por tudo isso, também, veio a tornar-se um dos
poetas de Roma de maior fortuna entre os vindouros e, portanto, um dos mais
imitados ao longo de toda a História da Literatura. Entre nós, adoptaram-no
como exemplo os melhores dos quinhentistas, como Camões, António Ferreira,
Diogo Bernardes, Pêro de Andrade Caminha e muitos dos que escreveram em
Latim, os nomes mais sonantes do Neoclassicismo e do Arcadismo (Correia
Garção, Filinto Elísio, a Marquesa de Alorna) e, já no século XX, para não
abusarmos da enumeração, o pessoano Ricardo Reis.
https://www.publico.pt/2009/02/06/culturaipsilon/noticia/um-mestre-entre-os-poetas-liricos-1654884 2/3
5/27/2017 Um mestre entre os poetas líricos - PÚBLICO
Deixou-nos uma "Arte poética" (título tardio, de autoria alheia, para a sua
"Epístola aos Pisões"), Sátiras, um livro de Epodos e quatro livros de Odes, além
do "Carmen Saeculare". São estes últimos (as "Odes" e o "Cântico Secular")
APOIADO POR que
nos trouxe, em boa hora, no ocaso de 2008, em tradução portuguesa, Pedro
Braga Falcão. É estranho que um poeta de tão larga influência e tamanha
virtuosidade, ciclicamente traduzido em tantas línguas, tivesse de esperar
tantos anos por uma nova tradução integral em língua portuguesa, depois da de
José Agostinho de Macedo, no começo do século XIX.
Pedro Braga Falcão, depois de uma breve introdução, onde sumariamente fala
do poeta e da natureza e importância da sua obra, seguida de um utilíssimo
"Roteiro para uma leitura temática das Odes" e de uma apresentação dos
"Metros das Odes", acessível, apenas, a conhecedores da prosódia latina, deixa-
nos uma tradução que assenta no esforço do respeito pelas formas horacianas. É
um esforço tão meritório quanto difícil, que reclama muito trabalho de lima e
não menos engenho, sabido como é que o trânsito da prosódia latina para a
linguagem portuguesa suscita desafios de desfecho nem sempre fácil.
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