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Povo, Cultura e Religião (Unifatecie)
Povo, Cultura e Religião (Unifatecie)
e Religião
Professor Paulino Augusto Peres de Souza
Professora Nathalia Barbosa Limeira
Professor Marcos Roberto Mantovani
Diretor Geral
Gilmar de Oliveira
Diretor Administrativo
Eduardo Santini
UNIFATECIE Unidade 3
Web Designer Rua Pernambuco, 1.169,
Thiago Azenha Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
FICHA CATALOGRÁFICA
UNIFATECIE Unidade 4
FACULDADE DE TECNOLOGIA E
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. BR-376 , km 102,
Núcleo de Educação a Distância; Saída para Nova Londrina
DE SOUZA, Paulino Augusto Peres. Paranavaí-PR
LIMEIRA, Nathalia Barbosa. (44) 3045 9898
MANTOVANI, Marcos Roberto.
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
• Graduação em História pela Fafipa (Faculdade Estadual de Educação, Ciências e
Letras do Paraná) de Paranavaí.
• Pós-graduação em Didática e Tecnologia na Educação pela FATECIE (Faculdade
de Tecnologia e Ciência do Norte do Paraná).
• Mestrando em Ensino de História pela UNESPAR de Campo Mourão.
• Link do Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0165285728983866
O homus religiosus existe? A religião é o ópio do povo? Deus está morto? É possível
compreender as formas elementares da vida religiosa? Aqui tentaremos responder essas
perguntas.
Aproveitamos para reforçar o convite a você, para, junto conosco, percorrer esta
jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados
em nosso material.
Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional!
SUMÁRIO
UNIDADE I....................................................................................................... 7
Conceito de Religião
UNIDADE II.................................................................................................... 22
Conceitos Fundamentais do Fenômeno Religioso
UNIDADE III................................................................................................... 40
Manifestações Religiosas Históricas e Contemporâneas
UNIDADE IV................................................................................................... 59
Pluralismo, Tolerância e Diálogo Inter-Religioso
UNIDADE I
Conceito de Religião
Professor Paulino Augusto Peres de Souza
Professora Nathalia Barbosa Limeira
Professor Marcos Roberto Mantovani
Plano de Estudo:
● Religião: conceituação
● Mas o que é religião?
● Abertura do ser humano ao transcendente
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o amplo sentido de religião
● Discutir a religião como um fenômeno cultural
● Compreender a existência da diversidade religiosa
7
INTRODUÇÃO
Não é fácil separar o parentesco da vida política nem econômica dos povos
de pequena escala. Nas sociedades modernas torna-se bem mais fácil isolar
as atividades, mas mesmo assim, sabe-se que no casamento, por exemplo,
encontram-se aspectos jurídicos (contrato celebrado entre os cônjuges), as-
pectos religiosos (o matrimônio como casamento) e políticos, só para citar
três setores da cultura. Essa inter-relação é mais evidente ainda entre os
povos segmentares ou de pequena escala.
Significa entender que mesmo que o padrão religioso seja um fenômeno universal,
existe, sem sombra de dúvida, uma grande variante no padrão comportamental.
De acordo com Marconi e Presotto (2001, p. 162),
Assim como Mello (2008) havia apontado anteriormente, muito longe está de se
chegar a um consenso, no entanto, como vimos, vários enfoques acabam criando uma
variedade de tópicos que podem ser estudados, aprimorando e ampliando, assim, o enten-
dimento desse fenômeno.
Existem alguns teóricos que diferenciam a religião e a magia, já para outros os
comportamentos são mágicos religiosos, em outros termos: fundem magia e religião, como
apontam Beals e Hoijer (1969, p. 589), “a religião é uma crença em seres sobrenaturais,
cujas as ações relativas ao homem podem ser influenciadas a até dirigidas”.
Já Hoebel e Frost (1981), consideram a religião como a crença em seres sobrena-
turais e os consequentes modo e comportamento em virtude dessa crença.
Sendo assim, as crenças em poderes sobrenaturais ou misteriosos associam-se
à veneração e sentimentos de respeito que são expostos em atividades públicas, também
podendo ser reservados.
Chamamos a atenção para a consideração de Evans-Pritchard (1978, p. 153):
Sendo assim, notamos que a religião, de fato, é formada por um complexo sistema
de crenças e práticas, na qual todas as sociedades detêm a sua visão de universo.
O que é Religião? Religião é uma fé, uma devoção a tudo que é considerado sagra-
do. É um culto que aproxima o homem das entidades a quem são atribuídos poderes so-
brenaturais. É uma crença em que as pessoas buscam a satisfação nas práticas religiosas
ou na fé para superar o sofrimento e alcançar a felicidade. Religião é também um conjunto
de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas, baseadas em livros sagrados, que
unem seus seguidores numa mesma comunidade moral, chamada Igreja.
Todos os tipos de religião têm seus fundamentos. Algumas se baseiam em diversas
análises filosóficas, que explicam o que somos e porque viemos ao mundo. Outras se so-
bressaem pela fé e outras em extensos ensinamentos éticos. Religião, no sentido figurado,
significa qualquer atividade realizada com rígida frequência. Exemplo: ir para a academia
todos os dias, para ele é uma religião.
Cristianismo: vem da palavra Cristo, que significa Messias, pessoa esperada, o
redentor. É uma doutrina que acredita que Deus é o criador do universo e de toda a vida
do planeta. O Cristianismo é um desdobramento do Judaísmo. Todas as formas de cris-
tianismo obedecem às mesmas escrituras, veneram o Deus de Israel e consideram Jesus
como o Cristo, Filho de Deus e Salvador da humanidade. O cristianismo tem na Bíblia o
livro sagrado dos cristãos e na Igreja o local da pregação dos ensinamentos de Cristo, por
meio de seus Sacerdotes. As principais religiões ligadas ao Cristianismo são o Catolicismo,
a Ortodoxa e o Protestantismo.
Conforme visto, é possível dizer que a vida em grupo, por si só, não explica o
traço humano, mas sim o conceito de cultura, considerando, assim, os hábitos, sistemas de
aprendizagem, os materiais, entre outros elementos produzidos no contexto cultural.
Nesta unidade pudemos verificar quão difícil e amplo pode ser o significado de
religião. Sobre um prisma antropológico para as relações humanas e, dentre elas a religião,
é poder aprofundar nessas relações como elas se dão nas suas diferenças culturais, histó-
ricas, econômicas, políticas e psicológicas.
Nesse sentido, é necessário um esvaziamento dos valores pré-concebidos pelo
pesquisador ou estudioso das religiões. Esses valores construídos na sua própria formação
cultural e do saber antropológico, antes de ser um conjunto de conceitos que fundamenta
a intervenção do pesquisador, deve ser entendido como um exercício de buscar uma com-
preensão do novo. Verificamos a religião dentro de um aspecto universal da cultura humana,
ele está associado a outro fenômeno muito próximo que é a magia. Basicamente, todas as
populações mundiais demonstram ter um conjunto de crenças e poderes sobrenaturais de
alguma espécie.
Para compreendermos esse processo, é necessário que compreendamos a con-
dição humana na natureza, sua forma de ver e de agir, primeiramente como parte dela (a
natureza) e, posteriormente, de sua ação sobre ela (cultura).
Verificamos que a “transcendência da cultura” ocorre a partir do momento em que
o ser humano tem a possibilidade ou a capacidade de participar de realidades que irão
extrapolar o mundo concreto, tendo acesso a um universo do simbólico, caracterizado pelo
inexprimível.
Compreendemos que quando o homem funda a cultura ele tem por finalidade o do-
mínio da natureza que o rodeia. Faz isso para superar os limites que o atingia. É justamente
quando a cultura transcende, que abre espaço para o pensamento religioso. Este, por sua
vez traz, embutido em si a necessidade humana da superação da sua finitude, ou seja, do
seu relacionamento com a morte.
Esse processo interpretativo tem por origem a imaginação, ação que dá condições
capazes de transformar a realidade física e (re)significá-la, um sentido mais vivencial.
Sendo assim, notamos que a religião, de fato, é formada por um complexo sistema
de crenças e práticas, em que todas as sociedades detêm a sua visão de universo.
Os povos islâmicos espalhados pelo mundo são confundidos com os árabes, mas árabe
é uma etnia, um povo que surgiu na península arábica, já o islamismo é uma religião,
que surgiu no meio do povo árabe, no século VII d.C. Portanto, é possível ser islâmico
sem, necessariamente, ser árabe.
Fonte: os autores.
REFLITA
“Sempre que a moralidade se baseia na teologia, sempre que o correto se torna de-
pendente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser
justificadas e estabelecidas”
(Ludwig Feuerbach).
LIVRO 1
Título: Introdução ao Estudo Comparado das Religiões
Autor: Aldo Natale Terrin
Editora: Paulinas
Sinopse: Faltava, na bibliografia brasileira, um livro de introdução
amplo, objetivo e sério sobre a diversidade religiosa que hoje se
observa no mundo globalizado, encarando não apenas os fatos
religiosos em si, por meio da história e na pluralidade de suas
expressões culturais, mas procurando analisar a significação que
possa ter cada uma das manifestações religiosas do passado e
do presente, numa perspectiva humanista e cristã é o que nos
proporciona essa introdução ao estudo comparado das religiões.
LIVRO 2
Título: O que é religião? A visão das ciências sociais
Autor: Donizete Rodrigues
Editora: Santuário
Sinopse: O livro foi articulado de forma a ser uma espécie de
manual sobre os principais conceitos de religião oferecidos pelas
ciências humanas e sociais. A obra traz, de forma objetiva, as
respostas para a pergunta: o que é religião? Alia a simplicidade à
erudição, citando obras de pensadores clássicos e contemporâ-
neos que, de forma notável, vão esclarecendo o texto, tornando-o
didático, de fácil e prazerosa leitura.
LIVRO 3
Título: Religiosidade no Brasil
Autor: João Baptista Borges Pereira
Editora: Edusp
Sinopse: Os artigos que compõem este livro versam sobre a diver-
sidade religiosa brasileira, que expressa a realidade sociocultural
brasileira. Os ensaios foram publicados na Revista USP, integran-
do o dossiê Religiosidade no Brasil, que se esgotou rapidamente,
número temático que reuniu estudiosos de várias partes do país.
Esta coletânea reproduz integralmente o dossiê da Revista, acres-
cida de artigos que não constaram na edição original por vários
motivos, como os textos de Augustin Vernet, Suzana Ramos Cou-
tinho Bornholdt e de João Baptista Borges Pereira. O organizador
do livro aponta que esse painel inclui desde religiões étnicas até as
autoproclamadas religiões universais, passando pelas rotuladas
religiões etnicizadas, características de um país de imigração.
FILME/VÍDEO
Título: Lutero: gênio, rebelde, liberador
Ano: 2003
Sinopse: Após quase ser atingido por um raio, Martim Lutero (Jo-
seph Fiennes) acredita ter recebido um chamado. Ele se junta ao
monastério, mas logo fica atormentado com as práticas adotadas
pela Igreja Católica na época. Após pregar em uma igreja suas
95 teses, Lutero passa a ser perseguido. Pressionado para que
se redima publicamente, Lutero se recusa a negar suas teses e
desafia a Igreja Católica a provar que elas estejam erradas e con-
tradigam o que prega a Bíblia. Excomungado, Lutero foge e inicia
sua batalha para mostrar que seus ideais estão corretos e que eles
permitem o acesso de todas as pessoas a Deus.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=PlP-Xt4LLNg
FILME 2
Título: O Nome da Rosa
Ano: 1986
Sinopse: Em 1327, William de Baskerville (Sean Connery), um
monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um novi-
ço, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de
Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a
Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada
por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. William de
Baskerville começa a investigar o caso, que se mostra bastante
intrincado, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do
Demônio. William de Baskerville não partilha dessa opinião, mas
antes que ele conclua as investigações, Bernardo Gui (F. Murray
Abraham), o Grão-Inquisidor, chega no local e está pronto para
torturar qualquer suspeito de heresia que tenha cometido assas-
sinatos em nome do Diabo. Como não gosta de Baskerville, ele é
inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são diabolicamente
influenciados. Ests batalha, junto com uma guerra ideológica entre
franciscanos e dominicanos, é travada enquanto o motivo dos
assassinatos é lentamente solucionado.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=uqL7gn13JoQ
FILME 4
Título: Homens e Deuses
Ano: 2010
Sinopse: Se você busca um filme sobre a religião muçulmana,
essa é uma boa pedida. O filme Homens e Deuses conta a história
de um grupo de monges trapistas que vivem entre a população
muçulmana na Argélia. Eles passam por uma guerra civil e pre-
cisam decidir entre permanecer com a comunidade ou fugir dos
terroristas.
WEB
Link: https://www.youtube.com/user/canalcaiofabio/videos
Canal do Youtube: Caio Fábio
Apresentação: se você está atrás de um canal que trata a religião de forma crítica,
esse canal é de Caio Fábio, destaque na religiosidade brasileira desde a década de 1980.
Durante essas décadas vem gerando surpresa por suas opiniões que, muitas vezes, diver-
gem dos líderes religiosos tradicionais.
Plano de Estudo:
● Elementos constitutivos do fenômeno
● Teorias da religião
Objetivos da Aprendizagem:
● Conhecer os principais fundamentos do fenômeno religioso
● Compreender como é a dinâmica das estruturas religiosas
● Discutir as correntes teóricas da religião
22
INTRODUÇÃO
O que constitui a religião? Para uns a religião é fé, outros afirmam ser algo que o
religa ao divino, há aqueles estudiosos que dizem ser totem e tabu. Diante tantas formas
de pensar a religião não sabemos se podemos ser considerados um homus religiosus, mas
sabemos que somos construídos pela religiosidade
Responder o que é religião é um tanto quanto complexo pela abrangência do tema.
No entanto, nesta unidade, nossa meta é trazer para você como é constituída uma religião,
suas normas, seus cultos, objetos e locais sagrados. Também que são os responsáveis
pelos cultos religiosos e a função da religião. Em seguida discutiremos um tema fundamen-
tal para compreender a religiosidade. As teorias da religião vão nos fornecer dados para
compreendermos de maneira psicológica e sociológica o fenômeno em si.
De acordo com Mair (1972), os seres espirituais são considerados bons (anjos),
maus (demônios), neutros (duendes). Residem nos mais diferentes lugares: céu, inferno,
montanhas, florestas etc.
No caso das forças ou poderes sobrenaturais, de maneira geral, não pessoal, estão
no universo, sendo invisíveis e independentes de seres sobrenaturais determinados. Já a
questão das almas dos mortos ou espectros, são
Liberadas do corpo após a morte, interessam-se pelos vivos e continuam
sendo membros da sociedade. Podem ser benéficas ou maléficas e possuí-
rem muitas funções e característica dos espíritos, mas diferem deles quanto
à origem e afinidade com os seres vivos e, assemelham- se a estes nos
sentimentos, emoções, apetites e comportamentos (MARCONI; PRESOTTO,
2001, p. 164).
Se nos atentarmos, muitas das ações praticadas e a forma como ocorrem se apro-
ximam da maneira como os seres vivos efetuam em seu dia a dia, nos parecendo uma
repetição em outro plano.
Tais imagens ou mesmo os objetos dos rituais podem ser compreendidos como
morada temporária das entidades sobrenaturais, logo, recebem o tratamento cerimonial
específico.
Verificamos também nos cultos diferentes forma de rituais, estes são atos religiosos
e podemos defini-los como o canto, a dança, a reza, a oferenda de coisas, sacrifícios.
Esses atos podem aparecer em três formas principais: oração, oferenda e manifestações:
A. Oração ou prece – invocação oral dirigida a seres sobrenaturais, feita pe-
los adeptos do culto, guiada ou não pelos oficiantes. Pode ser de louvação,
petição, súplica, agradecimento ou propiciatória (para apaziguar a ira dos
deuses). É uma técnica básica de relacionamento com o sobrenatural: ati-
tude de subordinação. Realiza-se em determinado momento, sendo acom-
panhada de prostrações, posturas específicas (ajoelhada, sentado, de pé,
curvado), de movimentos (danças, palmas, sapateados) e de música. Pode
ser simples ou elaborada, curta ou longa, casual ou formalizada, específica
ou geral. As canções podem substituir as orações faladas.
Frisamos que nem todas as vezes a comunidade geral pode participar dos cultos,
nesses momentos somente os oficiantes é que participam, em outros é aberto a todos os
membros. Outros elementos podem ser sujeitos a regras específicas, ligados a idade ou ao
sexo. Como no caso de mulheres ou crianças não poderem participar ou mesmo estar no
local do culto. Essas regras variam e se fundamentam dentro de cada dogma em específico.
Pode ter a ver com proibições justificadas, mas também pode ter ligação com o tipo de rito.
Os ritos são cerimônias com determinadas funções e podem ser propiciatórios, de
passagem ou transição e de iniciação.
Os ritos propiciatórios estão ligados à súplica e à benevolência dos seres espiri-
tuais. De acordo com Mair (1972), realiza-se uma cerimônia no sentido de levar as forças
sobrenaturais a atender às necessidades de dada população.
Por esse rito podemos citar como exemplo o sucesso na colheita, abastecimento
de alimentos em geral, questões ligadas à saúde e sobrevivência, a chuva em períodos de
estiagem, início de atividades coletivas, como a pesca etc.
Um outro rito muito importante e que tem grande impacto na vida dos crentes é o
de passagem ou transição. Segundo Geertz (1989), se trata de um complexo de rituais e
é realizado por ocasião da passagem dos indivíduos de um estado social para outro. Tra-
duzindo, quando ocorre uma importante mudança no status social. Relacionamos quatro
tipos, expostos no quadro a seguir:
Um outro rito também, não menos importante, é o de iniciação, nesse tipo de ceri-
mônia vários são os motivos, desde a passagem de idade para a vida adulta, quando são
promovidas festividades que podem durar dias ou semanas, incluindo atividades variadas,
comidas etc. Nele o homenageado deve mostrar destreza, maturidade, capacidade etc.
Existem, ainda, outros motivos, como mudança de status dentro do grupo.
Um tema que devemos citar aqui dentro dos ritos é sobre os métodos utilizados no
culto, dentre eles podemos citar o Ordálio e a adivinhação.
Ordálio é um método ritual que comprova um testemunho. Segundo Mair (1972, p.
198), o mestre religioso recorre a poderes sobrenaturais a fim de saber se uma acusação
é verdadeira ou falsa:
Para obter uma resposta ele submete o litigante a testes físicos (veneno,
fogo), muitas vezes perigosos, que podem ferir ou matar o trapaceiro. Se ele
sair ileso, está comprovada sua inocência. O teste, às vezes, é administrado
em um animal, em vez de em um ser humano.
B. Reis adivinhos – pessoas que não só realizam cultos, mas também são objetos
de culto, por serem considerados semideuses. Sua vida, alimentação, sono e outras
atividades pessoais são reguladas por diferentes rituais, sendo que, muitas vezes,
nem a morte pode ser natural.
C. Chefes ou ministros religiosos – indivíduos com qualificações para lidar com o sobre-
natural, recebendo bom preparo sobre rituais e crenças, mas que não são sacerdotes.
Precisam ter aptidão e habilidades especiais e isolar-se, durante certo tempo, das ati-
vidades de produção alimentícia.
D. Especialistas – são os peritos em algumas atividades (caça, pesca, horticultura, agri-
cultura, construções de canoas, habitações, guerra etc.) e responsáveis pelos rituais
necessários ao bom empreendimento delas.
E. Oráculos – são pessoas capacitadas para obter o conhecimento de agentes sobre-
naturais. Frequentemente são associados a determinado culto, mas são consultados
inclusive por indivíduos de outros cultos.
Nossa intenção neste tópico não é a de discutir todas as teorias apresentadas até
os dias atuais sobre o fenômeno religioso. No entanto apresentaremos um breve esboço
do que consideramos mais substancial. Trataremos de duas linhas teóricas, a psicológica
e a sociológica. As teorias psicológicas, segundo Mello (2008), de alguma forma procuram
explicar o fenômeno religioso a partir dos sentimentos. Em geral, tem um caráter mais
intelectualista e sofrem a influência da psicologia associacionista, como na maneira como
explicita Evans-Pritchard (1978).
Para Mello (2008, p. 395) “Figuram na relação apresentada das teorias psicológicas
apresentadas por Evans-Pritchard, entre outras as seguintes: a escola do mito natural de
tradição alemã, a crença em fantasma de Spencer, o animismo de Marret e a contribuição
de Lowie”. Desta maneira, para quem pretende se aprofundar nessa corrente teórica, os
autores citados, são hoje o que temos de mais importante na compreensão do fenômeno
religioso na atualidade.
Preparamos um quadro em que estão reunidas as essências das teorias de cada
autor:
Com base no Quadro 3, pontuamos que as teorias de Tylor e Spencer são se-
melhantes, pois admitem que o homem primitivo é racional, mesmo que seu estágio de
Logo, por essa teoria, o estado animístico existiu em um momento ou estado an-
terior, mesmo antes de as pessoas interpretarem que ali existia um poder oculto. Por sua
vez, a percepção desse magnetismo é que levou ao sentimento de sagrado, delegado às
pessoas ou às coisas.
SAIBA MAIS
“Deus nos deu asas, mas as religiões inventaram gaiolas” (Ruben Alves).
(Papa Francisco).
LIVRO
Título: Dossel Sagrado: Elementos para uma teoria sociológica da
religião
Autor: Peter L. Berger
Editora: Paulus
Sinopse: Este livro traz uma análise que mostra como esclarecer
a frequente relação irônica entre religião e sociedade. É uma im-
portante contribuição à sociologia da religião.
LIVRO 2
Título: Religião e Repressão
Autor: Rubem Alves
Editora: Edições Loyola
Sinopse: A maravilha do “sentimento religioso” – a possibilidade
de admirar-se genuinamente diante do mistério da vida – só é
possível ser alcançada quando são deixadas para trás as grades
opressoras dos discursos dogmáticos das religiões. É especifi-
camente sobre essas prisões ideológicas que trata esta obra de
Rubem Alves.
FILME/VÍDEO
Título: Dois papas
Ano: 2019
Sinopse: Buenos Aires, 2012. O cardeal argentino Jorge Bergoglio
(Jonathan Pryce) está decidido a pedir sua aposentadoria, devido
a divergências sobre a forma como o papa Bento XVI (Anthony
Hopkins) tem conduzido a Igreja. Com a passagem já comprada
para Roma, ele é surpreendido com o convite do próprio papa para
visitá-lo. Ao chegar, eles iniciam uma longa conversa, debatendo
não só os rumos do catolicismo, mas também afeições e peculiari-
dades da personalidade de cada um.
Plano de Estudo:
● Manifestações religiosas históricas
● As religiões Orientais e Ocidentais
● Novas religiões sobre uma nova perspectiva
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender as divisões das religiões historicamente importantes e abrangentes.
● Discutir as tendências atuais sobre os novos movimentos religiosos.
40
INTRODUÇÃO
Como exemplo podemos citar o Catolicismo, uma religião universal, que surgiu dos
protestos contra o culto religioso romano, tendo por seu mártir Jesus, que, na verdade era
Judeu, mas que funda o início de uma nova religião da qual se congregam elementos do
judaísmo e do nacionalismo romano.
Há várias formas de religião e são muitos os modos que vários estudiosos utilizam
para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que aparecem com maior
ou menor destaque em praticamente todas as divisões. A primeira dessas características
é cronológica, pois as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos, nos
sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade. Outro modo é classificá-las de acordo
com sua solidez de princípios e sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões
com e sem Livros Sagrados.
PANTEÍSTAS MONOTEÍSTAS
POLITEÍSTAS ATEÍSTAS
Fonte: XR (s.d.).
Fonte: XR (s.d.).
Fonte: XR (s.d.).
Quadro 4 - Símbolos
Fonte: XR (s.d.).
Quadro 5 - Rituais
Embora ainda comuns nos templos, são também frequentes fora des-
tes. Desenvolvem-se técnicas de concentração, meditação e purificação
ATEÍSMO: mais específicas, baseadas, antes de tudo, no controle dos impulsos e
emoções.
Fonte: XR (s.d.).
Quadro 6 - Exemplos
Fonte: XR (s.d.).
OCIDENTAL ORIENTAL
Fica claro que estão ocorrendo mudanças profundas e inevitáveis, e que, portanto,
mesmo que a religião ainda seja um fenômeno muito presente, ela também passa por um
processo de mudanças, inclusive estruturais. Percebe-se que, atualmente, a luta não é
somente pelo processo de descristianização, mas também contra uma série de diferentes
tendências religiosas, algumas muito em voga, como o esoterismo. “Tornou-se comum falar
de uma ‘nova espiritualidade’. Por exemplo, na Dinamarca há mais líderes em tempo integral
dentro de vários movimentos religiosos novos do que padres na Igreja cristã dinamarquesa”
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005, p. 272).
A nova espiritualidade engloba tendências e reestabelece uma nova roupagem,
muitas vezes a antigas religiões, como novas companhias missionárias do hinduísmo e
do budismo. A cada dia verificamos novas seitas cristãs e também seitas que não são
cristãs, mas que adotam, para si, um conjunto de conceitos de várias religiões, inclusive
de religiões de muita tradição, como o próprio judaísmo. Em outros casos ainda um novo
modelo de esoterismo muito parecido com antigas religiões que misturam rituais de magia,
mas ao mesmo tempo conceitos de ciência moderna.
Porém é mister que não nos apeguemos às denominações, mas sim no cerne
central de novas tendências religiosas, as tendências esotéricas e os movimentos alterna-
tivos. De acordo com Gaarder, Hellern e Notaker (2005), parte do contexto histórico desses
novos movimentos foi a revolução da juventude da década de 1960, quando foram lançadas
bases para novos grupos religiosos, também um renovado interesse pelo esoterismo e os
movimentos hoje conhecidos por alternativos. Vejamos no Quadro 8 alguns elementos que
aparecem nos novos movimentos religiosos:
Normalmente foram fundados por alguém com forte personalidade, que teve uma re-
velação da divindade e se sente chamado a liderar a Igreja. Pode ser uma “figura mes-
siânica” a quem as pessoas recorrem em épocas de crise espiritual, cultural ou políti-
ca. Também podem ser como em vários elementos inspirados no hinduísmo, um guru
(mestre religioso) que exige a completa obediência e devoção aos seus discípulos. O
guru não é necessariamente divino, mas representa o divino.
Os novos movimentos religiosos afirmam que são universais e aplicáveis a todos, e
veem em si como a “religião das religiões”. Costumam afirmar que é na verdade a
síntese de todas as grandes religiões do mundo – e transformaram Moisés, Jesus,
Maomé, Krishna e Buda em seus precursores. Com frequência, a ideia é de que as
velhas religiões já esgotaram seus papéis, pois cada uma em si só, contém somente
uma fração da verdade.
Dá-se realce à experiência interior, considerada mais importante que o dogma ou as
formalidades externas. Usualmente há nesses movimentos um elemento de revolta
contra o status quo religioso ou contra a liderança religiosa. Eles desafiam as normas
correntes e as práticas religiosas estabelecidas, e em casos extremos chegam até a
infringir a lei. A experiência interior, segundo eles, propicia uma libertação total, que
promove a tranquilidade, a harmonia e a felicidade.
O indivíduo pode encontrar a si mesmo. É justamente isso que a moderna sociedade
precisa; é a solução para todos os problemas internos e externos. Alguns grupos res-
saltam que não se trata de religião, mas de uma forma de conhecimento e compreen-
são total e repentina. É uma questão de alcançar a experiência interior correta.
Os membros do movimento costumam manifestar um fervor na fé e um zelo religioso
tais que são levados a devotar todas as suas energias à seita ou movimento. O indiví-
duo pode deixar sua casa – para viver em uma pequena comuna – assumir um novo
nome ou abandonar seu emprego, seus estudos etc.
Fonte: Gaarder, Hellern e Notaker (2005, p. 275).
Como vimos no quadro, as novas religiões mantêm, de certa forma, uma seme-
lhança com as grandes e tradicionais religiões mundiais, expondo seus conceitos, cultos e
organização.
Ainda é importante compreender que as religiões podem experimentar trocas e a
essas trocas chamamos sincretismo. Historicamente é conhecido o surgimento de novas
religiões no decorrer dos tempos, se levarmos em conta que as grandes religiões mundiais
sofreram mudanças profundas, divisões, tendo como resultado, em muitas delas, o sur-
gimento de novas religiões totalmente distintas de sua raiz de origem. Em outros casos,
Note que se lembrarmos das discussões da Unidade II, veremos uma condição
em que a teoria psicológica e sociológica se coadunam para poder explicar o processo de
crença e de fé, como ocorre nesse indivíduo. Logo, uma teoria central seria emergencial
para a compreensão desses novos grupos religiosos.
Outra expressão religiosa se expressa em tendências esotéricas. Se formos buscar
na raiz da palavra e o que ela engloba, perceberemos que esoterismo é tão abrangente
quanto o termo religião. Nela concentra-se astrologia, espiritismo, ufologia, parapsicologia,
variadas formas de magia, clarividência, teosofia e antroposofia.
Outra categoria trata-se dos movimentos alternativos. Muito profuso desde meados
dos anos 60 do século passado, muitos movimentos podem ser considerados neste rol, e
ele surge como uma reação às igrejas estabelecidas, à ciência oficial e ao status quo. O
ponto de vista que pregam muitas vezes é deveras impactante e apresentamos no Quadro
10 algumas das características mais evidentes:
Dá-se ênfase a valores espirituais mais profundos, muitos inspirados pela filosofia orien-
tal. Mais e mais pessoas estão se voltando para o carma e a reencarnação, ou para a
interação entre o yin e yang, de maneira totalmente independente. Da mesma forma, o
interesse pela meditação e pela ioga cresceu bastante nas últimas décadas – mais ou
menos isolado de seu contexto religioso. Os astrólogos creem que estamos rumando
para uma “nova era” (a Era de Aquário), a qual se caracterizará por uma orientação
muito mais espiritual. Tais ideias, originalmente enraizadas num contexto religioso, per-
mitem-nos falar de uma nova “espiritualidade universal”.
Além dos citados, muitas outras tentativas são observadas para se encontrar novas
alternativas ou novos canais para o pensamento da saúde e da medicina. De acordo com o
que é observado na mídia atual, a medicina tradicional ou acadêmica pode ser substituída
pela homeopatia ou ainda a naturopatia. Como exemplos concretos verificamos o grande
grau de procura e de interesse pela acupuntura, análise da aura, curas espirituais, entre
outros.
Também muito comum dentro dos movimentos alternativos é o interesse pela pa-
rapsicologia, área que se dedica ao estudo dos fenômenos extrassensoriais, dentre elas a
telepatia. De acordo com Gaarder, Hellern e Notaker (2005), em várias regiões do mundo
a parapsicologia é hoje uma disciplina científica séria, mas também é ponto pacífico para
muita fraude.
Outros movimentos alternativos buscam no holismo (do grego Holos, “total”, “intei-
ro”), se crê que essa será uma nova visão científica, em que o todo afeta as partes.
Cada órgão dentro do indivíduo é parte de um sistema ecológico, e nosso planeta
tem uma relação orgânica com o resto do universo (GAARDER; HELLERN; NOTAKER,
2005). Frisamos que essa também não é uma tendência totalmente nova, pois já existia de
certa maneira na Antiguidade.
O que fica claro em todos esses modelos apresentados é que os movimentos alter-
nativos têm foco central baseado na mudança, na forma de pensar. Principalmente buscam
uma nova forma ou um novo estilo de vida, compreendendo que os modelos de vida na
atualidade estão errados e em desacordo com o que deveria ser.
Aprender sobre religião nos desmascara os preconceitos religiosos. Muitos líderes re-
ligiosos no Brasil, por exemplo, criticam as religiões de matriz africana, acusando-as
de serem demoníacas. Esses mesmos líderes parecem não atribuir o mesmo caráter
demonificado ao personagem Thor dos filmes da Marvel. Ora, tanto os orixás da um-
banda e candomblé quanto Thor, que foi inspirado na mitologia nórdica, são e/ou foram
expressões religiosas. Entretanto, Thor, um personagem europeu, nórdico e loiro, não
sofre um processo de demonização sofrido pelos orixás negros da umbanda. Aqueles
que demonizam Ogum e Iemanjá desprezam o fato que essas divindades exigiam de
seus seguidores sacrifícios animais, enquanto Thor exigia sacrifícios humanos.
Fonte: os autores.
REFLITA
(Friedrich Schleiermacher).
Nessa unidade foi possível verificar que as ciências da religião tentam dividir as
religiões em três categorias e, de certa forma, coincidem com três tipos distintos de socie-
dade, as religiões primais, religiões nacionais e religiões mundiais. A primais são aquelas
que os estudiosos costumam chamar de religiões primitivas.
Em seguida estudamos as religiões nacionais, das quais encontramos uma grande
quantidade de religiões, inclusive já extintas em alguns casos, que historicamente fizeram
ou fazem parte do contexto social e cultural dessas nações.
Por fim, as religiões mundiais, que pretendem ter uma validade global, ou seja, uma
validade para todas as pessoas. Podem ser chamadas também de religiões universais.
Notamos também no decorrer da unidade que a modernidade tem favorecido novos
comportamentos e efeitos diversos sobre as pessoas. Alguns ainda mantêm sua crença
religiosa, no entanto é possível observar uma linha divisória entre a religião e a ciência.
Assim, percebemos uma nova tendência para os fenômenos religiosos, dos quais dividimos
em três categorias: o sincretismo, o esoterismo e movimentos alternativos.
Compreendemos que parte do contexto histórico desses novos movimentos foi a
revolução da juventude da década de 1960, quando foram lançadas bases para novos
grupos religiosos, também um renovado interesse pelo esoterismo e os movimentos hoje
conhecidos por alternativos.
Essas abordagens nos abrem espaço para, na próxima unidade, debatermos sobre
o pluralismo religioso. Vamos aos estudos então.
LIVRO
Título: O futuro da religião na sociedade Global
Autor: Alberto Silva Moreira, Irene Dias de Oliveira (Orgs.)
Editora: Paulus.
Sinopse: O tema gerador deste livro é a necessidade de um olhar
multicultural para o futuro que a sociedade global reserva à religião.
O debate sobre o presente e as tendências que se prospectam
para o fenômeno religioso, no acelerado processo de globalização
em que vivemos, envolve pesquisadores do mundo inteiro que,
desde as especificidades de cada ciência e de cada país ou região,
procuram compreender um fenômeno de alcance global.
LIVRO 2
Título: Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente
Autor: Edward W. Said
Editora: Cia das Letras
Sinopse: Neste livro, de 1978, um clássico dos estudos culturais,
Edward W. Said mostra que o “Oriente” não é um nome geográfico
entre outros, mas uma invenção cultural e política do “Ocidente”
que reúne as várias civilizações a leste da Europa sob o mesmo
signo do exotismo e da inferioridade.
FILME/VÍDEO
Título: A Cruzada
Ano: 2005
Sinopse: Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que
guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita
de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é também um
conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica sua vida a manter
a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar também à essa
meta, mas após a morte de Godfrey ele herda terras e um título
de nobreza em Jerusalém. Determinado a manter seu juramento,
Balian decide permanecer no local e servir a um rei amaldiçoado
como cavaleiro. Paralelamente ele se apaixona pela princesa Si-
bylla (Eva Green), a irmã do rei.
Plano de Estudo:
● A pluralidade no contexto religioso
● O diálogo inter-religioso
● Tolerância e Ética
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o processo do pluralismo religioso
● Discutir a tolerância e o diálogo inter-religioso
59
INTRODUÇÃO
Desde o iluminismo, vemos uma sociedade que busca pela liberdade de expressão,
por um estado laico e que foge cada vez mais aos dogmas religiosos. Por outro lado, essa
mesma sociedade não abandona a espiritualidade, pelo contrário, com o pluralismo vieram
novas ideias e novos ideais, dentre eles a derrubada do monopólio religioso em prol de
novas tendências religiosas.
Nesta unidade iremos discutir esse tema e também sobre os desafios do diálogo
inter-religioso, a posição dos direitos humanos frente às perspectivas das grandes religiões
e também sobre a tolerância religiosa, na busca de uma ética universal nesse sentido.
Uma vez que a razão se coloca em evidência, vai aos poucos substituindo o pensa-
mento mítico. Da mesma maneira, o clero vai, aos poucos, recuar com o que considerava
até então como heresia. Assim, no processo de avanço da modernidade, a pluralidade
segue o caminho oposto da doutrina, ou seja, passa a agregar e englobar vários conceitos,
sejam eles científicos ou não.
No decorrer da modernidade, verificamos a expansão do pluralismo religioso, uma
vez que o estado está sendo secularizado e se tornando laico. Por assim dizer, se o estado
é laico, também é possível a abertura para novas posturas, inclusive religiosas, ou seja,
uma sociedade sem restrições, aberta para suas escolhas. Em outras palavras, um estado
laico visa, em última instância, um órgão governamental democrático e livre, derrubando,
inclusive, o monopólio religioso. Todo esse processo leva indelevelmente a um novo para-
digma social que tem por objetivo a pluralidade religiosa e a liberdade do indivíduo.
Gaarder, Hellern e Notaker (2005, p. 283) afirmam que:
o Brasil vive no momento um apogeu de liberdade religiosa, ou seja, as re-
ligiões nunca foram tão livres como agora.” [...] tal liberdade conduz o pro-
cesso de pluralização religiosa a ser independente de qualquer monopólio
religioso. No cenário de uma sociedade plural, os indivíduos são livres para
manifestar suas crenças sem precisar esconder sua identidade religiosa.
Uma sociedade que está apta ao pluralismo deve se mostrar pronta a dar suporte
a novos caminhos, proporcionando ambientes preparados para a tolerância e que haja um
ambiente de respeito recíproco. Conforme afirma Pontifício (apud TEIXEIRA, 2012): “O
verdadeiro diálogo inter-religioso acontece quando se respeita em profundidade o ‘enigma’
da pluralidade religiosa em sua diferença irredutível e irrevogável”.
Na verdade, mitos são os desafios da pluralidade religiosa, manter, nesse sentido,
o diálogo inter-religioso pode levar a algumas deliberações que se concentram em fatores
importantes para um movimento ecumênico, solidificando, assim, ações e o compromisso
da igreja com a justiça social e como meio de tentar resgatar a ética no meio social, bus-
cando, inclusive, a superação da violência. Importante frisar também que nesse processo
do diálogo inter-religioso, como as religiões são muito heterogêneas, a participação da
maioria, seja originalmente ou representada por associações, devem discutir ações no qual
não podem faltar os fundamentos de liberdade, e respeito em uma sociedade laica.
Esse contexto, a respeito de uma sociedade laica, traz à tona a discussão sobre os
direitos humanos fundamentais.
Onde reside o fundamento dos direitos humanos fundamentais? Em outras pala-
vras: qual a base que sustenta a existência e indispensabilidade desses direitos? Existe um
A tolerância, portanto, não limita o direito de fazer a pregação dos conceitos que
cada um acredita, no entanto que ela não infrinja os limites de respeito pelas outras formas
religião, o que fere a liberdade de escolha de cada um, e também da coexistência pacífica.
Os registros históricos têm uma longa lista de muitos exemplos de fanatismo e
intolerância, basta nos lembrarmos de casos bem recentes, como o antissemitismo nazista
ou mesmo do Estado islâmico, que jorram notícias todos os dias na mídia.
Portanto, não há distinção entre ética e religião, se, dentro do conceito do sagrado,
o homem é uma criação divina, significa dizer que o homem é responsável perante Deus
por todos os seus atos, sejam eles políticos, morais, sociais ou rituais.
De acordo com Geertz (1989), nas sociedades em que coexistem várias religiões
e vários pontos de vista, consideram vincular a ética exclusivamente à religião. Ou seja,
fora isso, a própria sociedade deve ter sua linha de conduta ética bem clara, sendo que
algumas precisam ser reforçadas juridicamente. No entanto a religião tem o poder de tornar
mais brando o comportamento do ser humano, uma vez que serve também como forma de
controle social em várias sociedades e em geral das pessoas que são engajadas dentro de
suas seitas.
Podemos citar como pioneira a sociedade Romana, que, de forma sistemática,
criou um arcabouço legal que pudesse ser usado por todos os povos, independente de qual
religião fosse o cidadão.
Gaarder, Hellern e Notaker (2005, p. 35) nos explicam que:
O direito romano se tornou a base para todos os sistemas legais subsequen-
tes nos Estados seculares modernos [...] Hoje muitos países aceitam a Decla-
ração dos Direitos Humanos, proclamada pelas Nações Unidas, como uma
afirmação ética comum, seja qual for a religião ou perspectiva geral do país.
SAIBA MAIS
Fonte: os autores.
REFLITA
“Religião significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no qual ele acre-
dita ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções especiais
(confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética)”
(C. P. Tiele).
Chegamos ao fim desta unidade e foi possível compreender que o pluralismo re-
ligioso é um fenômeno que surgiu na modernidade, responsável pela desestruturação de
algumas bases religiosas, até então historicamente fechadas, que abriram precedentes
para as transformações não somente religiosas, mas também em um contexto social. Por-
tanto o pluralismo religioso, historicamente, desbanca o monopólio e valoriza a pluralidade,
seja ela religiosa, científica ou filosófica. O fato é que esse fenômeno mudou a forma das
pessoas conhecerem o mundo em que viviam, tendo a liberdade de escolha como princípio
básico.
Verificamos que a pluralidade e a modernidade abrem espaço ao novo e nos convi-
da a um desafio cada vez maior, mediante toda a dinâmica social que se percebe por meio
das revoluções tecnológicas e a maneira de viver das pessoas.
Essas mudanças, por fim, deixam claro que é preciso rever nossos conceitos, a
nossa cosmovisão religiosa e, assim, fazer uma nova releitura do mundo, sem, contudo,
perder as referências da nossa identidade. O que o(a) espera, portanto, é uma complexida-
de da qual não temos como fugir.
LIVRO
Título: Pluralismo Religioso Contemporâneo
Autor: Roberlei Panasiewicz
Editora: Paulus
Sinopse: À luz da reflexão teológica de Claude Geffré, o autor in-
vestiga a identidade cristã e particularmente a católica, em diálogo
com as tradições religiosas.
LIVRO 2
Título: As formas elementares da vida religiosa
Autor: Émile Durkheim
Editora: Paulus
Sinopse: O presente texto compõe-se de três livros: questões pre-
liminares: definição do fenômeno religioso e da religião elementar
o totemismo como religião elementar as crenças elementares: as
crenças propriamente totêmicas a origem das crenças totêmicas
a noção de alma a noção de espíritos e de deuses as principais
atitudes rituais: o culto negativo e suas funções o culto positivo os
ritos piaculares e a ambiguidade da noção de sagrado.
FILME/VÍDEO
Título: A paixão de Cristo
Ano: 2004
Sinopse: As últimas 12 horas da vida de Jesus de Nazaré (James
Caviezel). No meio da noite, Jesus é traído por Judas (Luca Lionello)
e é preso por soldados no Monte das Oliveiras, sob o comando de
religiosos hebreus, que eram liderados por Caifás (Matti Sbragia).
Após ser severamente espancado pelos seus captores, Jesus é
entregue para o governador romano na Judeia, Poncio Pilatos
(Hristo Shopov), pois só ele poderia ordenar a pena de morte para
Jesus. Pilatos não entende o que aquele homem pode ter feito de
tão horrível para pedirem a pena máxima e eram os hebreus que
pediam isto. Pilatos tenta passar a decisão para Herodes (Luca de
Domenicis), governador da Galileia, pois Jesus era de lá. Herodes
também não encontra nada que incrimine Jesus e o assunto volta
para Pilatos, que vai perdendo o controle da situação enquanto
boa parte da população pede que Jesus seja crucificado. Tentando
acalmar o povo e a província, que detesta, Pilatos vai cedendo sob
os olhares incriminadores de Claudia (Claudia Gerini), sua mulher,
que considera Jesus um santo.
COMPARATO, F. K. Ética: Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2006.
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75
CONCLUSÃO GERAL
76