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Curso de Graduação a Distância

Fenômeno
Religioso e
História das
Religiões
(2 créditos – 40 horas)

Autor:
Ana Luisa Alves Cordeiro
Márcio Bogaz Trevizan

Universidade Católica Dom Bosco Virtual


www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335

289- 07029
Missão Salesiana de Mato Grosso
Universidade Católica Dom Bosco
Instituição Salesiana de Educação Superior

Chanceler: Pe. Ricardo Carlos


Reitor: Pe. José Marinoni
Pró-Reitora de Graduação e Extensão: Profa. Rúbia Renata Marques
Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori
Coordenadora Pedagógica: Profa. Blanca Martín Salvago

Direitos desta edição reservados à Editora UCDB


Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335
www.virtual.ucdb.br
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Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário
Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302
CEP 79117-900 Campo Grande – MS

CORDEIRO, Ana Luisa Alves; TREVIZAN, Márcio Bogaz.

Fenômeno Religioso e História das Religiões / Ana Luisa


Alves Cordeiro; Márcio Bogaz Trevizan. 2. ed. rev. e atual.
Campo Grande: UCDB, 2022. 64 p.

Palavras-chave: 1. Teologia 2. História das Religiões 3.


Filosofia

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APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO

Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe
multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que
norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do
seu curso.

Elementos que integram o material


Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para
a avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina.
Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a
realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem ul-
trapassar o prazo máximo indicado pelo professor.
Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do pro-
fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo.
Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você
possa aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para
facilitar seu acesso aos materiais.
Atividades Virtuais: atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo.
As datas de envio encontram-se no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Como tirar o máximo de proveito


Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros
conteúdos e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de:
· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramentas
de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA;
· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas
audiovisuais, videoaulas, fórum de discussão, fórum permanente de cada unidade, etc.;
· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto
a calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros;
· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas
necessidades como estudante, organize o seu tempo;
· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza-
gem, contando com a ajuda e colaboração de todos.

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Objetivo Geral
Apresentar ao educando os aspectos gerais do fenômeno religioso, bem como
abordar algumas das grandes tradições religiosas que incidem diretamente no modo de
pensar contemporâneo.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO - SUMÁRIO

UNIDADE 1 – RELIGIÃO E FENÔMENO RELIGIOSO ............................................ 10


1.1 Conceitos Gerais sobre Religião .............................................................................. 10
1.2 O Fenômeno Religioso e seus elementos ................................................................. 12
1.3 Tipos e Formas de Religiões ................................................................................... 17
1.4 Breve Panorama Religioso Brasileiro ....................................................................... 19

UNIDADE 2 – AS PRINCIPAIS RELIGIÕES ORIUNDAS DA ÍNDIA ....................... 25


2.1 Hinduísmo ............................................................................................................ 25
2.2 Budismo ............................................................................................................... 31

UNIDADE 3 – O JUDAÍSMO E O ISLAMISMO ....................................................... 37


3.1 O Judaísmo .......................................................................................................... 37
3.2 O Islamismo ......................................................................................................... 43

UNIDADE 4 – O CRISTIANISMO E SUAS RAMIFICAÇÕES ................................... 48


4.1 Surgimento do Cristianismo ................................................................................... 48
4.2 Quem foi Jesus de Nazaré? .................................................................................... 49
4.3 Profissão de Fé ..................................................................................................... 50
4.4 As ramificações do Cristianismo .............................................................................. 52

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 58
EXERCÍCIOS E ATIVIDADES ............................................................................... 60

Avaliação

A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar, isto é, a finalidade da


avaliação é propiciar oportunidades de ação-reflexão que façam com que você possa
aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc.

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A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no final de
cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do aluno ao longo
de cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das atividades. Todo o processo
será avaliado, pois a aprendizagem é processual.
Para que se possa atingir o objetivo da avaliação formativa, é necessário que as
atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo ao que se pede e tentando sempre
exemplificar e argumentar, procurando relacionar a teoria estudada com a prática.
As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de
cada disciplina.

Critérios para composição da Média Semestral:

Para compor a Média Semestral da disciplina, leva-se em conta o desempenho


atingido na avaliação formativa e na avaliação somativa, isto é, as notas alcançadas nas
diferentes atividades virtuais e na(s) prova(s), da seguinte forma: Somatória das notas
recebidas nas atividades virtuais, somada à nota da prova, dividido por 2. Caso a disciplina
possua mais de uma prova, será considerada a média entre as provas.
Média Semestral: Somatória (Atividades Virtuais) + Média (Provas) / 2
Assim, se um aluno tirar 7 nas atividades e 5 na prova: MS = 7 + 5 / 2 = 6
Antes do lançamento desta nota final, será divulgada a média de cada aluno, dando
a oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a 7,0
possam fazer a Recuperação das Atividades Virtuais.
Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda
poderá fazer o Exame Final. A média entre a nota do Exame Final e a Média Semestral
deverá ser igual ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina.
Assim, se um aluno tirar 6 na Média Semestral e tiver 5 no Exame Final: MF = 6 + 5
/ 2 = 5,5 (Aprovado).

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FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES

O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu
cronograma e tenha um controle de suas atividades:

AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO **

Atividade 1.1
Ferramenta: Tarefa

Atividade 2.1
Ferramenta: Tarefa

Atividade 3.1
Ferramenta: Tarefa

Atividade 4.1
Ferramenta: Tarefa
* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade (consulte o
calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem).
** Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade.

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BOAS VINDAS

Olá, bem-vindo/a à Disciplina de História das Religiões e Fenômeno Religioso.


Esperamos que este material possa ajudá-lo a conhecer algumas das principais religiões e a
compreender que cada religião traz consigo aspectos importantes para se compreender o
modo de pensar e os costumes de um povo.
Desejamos a todos/as um bom estudo!

Fonte: https://abre.ai/etb6

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Pré-teste

A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos


prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta
disciplina. Não fique preocupado com a nota, pois não será pontuado.

1. Por ‘religião’ pode-se compreender:


a) Conjunto de práticas estritamente monoteístas.
b) Conjunto de crenças, leis e ritos.
c) Conjunto de atividades realizadas somente dentro da Igreja.
d) Conjunto de ações centradas apenas no indivíduo.

2. A crença do pós-morte comum no Hinduísmo e no Budismo é:


a) A ressurreição.
b) O nada absoluto.
c) A reencarnação.
d) Algo desconhecido.

3. Quantos livros compõem a Bíblia Hebraica:


a) 23
b) 22
c) 24
d) 27
e) 26

Submeta o pré-teste por meio da ferramenta Questionário.

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INTRODUÇÃO

Na presente disciplina apresentaremos um panorama geral da História das Religiões


e Fenômeno Religioso. Na Unidade 1, abordaremos os conceitos gerais e algumas reflexões
sobre a religião, o fenômeno religioso e seus elementos. Abordaremos também, de forma
breve, o panorama religioso brasileiro. Na unidade 2, estudaremos as origens e algumas
doutrinas de duas das principais religiões oriundas da Índia, o Hinduísmo e o Budismo. Na
Unidade 3, discorreremos sobre o Judaísmo e o Islamismo, apontando brevemente alguns
elementos que dão consistência a estas religiões milenares. Na Unidade 4, enfocaremos
alguns elementos que contribuíram para a formação das diversas tradições cristãs.

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UNIDADE 1

RELIGIÃO E FENÔMENO RELIGIOSO


OBJETIVO DA UNIDADE: Apresentar os conceitos gerais e reflexões sobre religião,
fenômeno religioso e seus elementos, bem como um breve panorama religioso brasileiro.

1.1 Conceitos Gerais sobre Religião

A utopia está lá no horizonte.


Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
(Fernando Birri citado por Eduardo Galeano)

Ao iniciar a reflexão sobre História das


Religiões e Fenômeno Religioso, nada melhor que
refletir sobre a eterna busca, a eterna procura, de
Deus, do Sagrado, do Transcendente, do Mistério,
presente no ser humano. Uma busca de sentido e
significado para a vida e as coisas, inerente ao ser
humano, que por mais que se tente alcançar é
Mistério que o ultrapassa.

Fonte: https://abre.ai/es94

No entanto, essa busca é plural e diversa. E


Fundamentalismo – é uma
quem está na academia não deve mais ficar no resposta violenta ao processo de
senso comum de que “religião e futebol não se secularização. É um movimento
carregado de sentido que visa
discutem”, conforme ditado popular brasileiro. Pelo manter a unidade doutrinária e a
identidade religiosa. Não permite
contrário, o diálogo e o respeito às diferenças são interpretação dos textos sagrados,
importantes para construção de uma cultura de paz, leis ou dogmas, sendo que os
mesmos devem ser seguidos à risca.
num mundo com tantas posturas Os fundamentalistas não se
consideram fundamentalistas.
fundamentalistas, violências em nome da religião
e negativização do/a outro/a.

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Uma analogia interessante para pensar sobre a diversidade religiosa é o exemplo
que Marcus Bach (2002, p. 15-18) traz em seu livro “As Grandes Religiões do Mundo”. Ao
destacar a religião como eterna busca, ele usa a metáfora da montanha. O Sagrado seria
como uma montanha e os seres humanos os alpinistas espirituais, que coletivamente se
unem na escalada da mesma, sendo que os caminhos de escalada, as paisagens e os guias
são diversos. Por isso, “a religião significa diferentes coisas para diferentes pessoas” e é “a
eterna busca, manifestada sob diversas formas”.
Etimologicamente a palavra ‘religião’ vem do latim, mas não há um consenso quanto
ao seu significado. Para Cícero, no século I a.C., vem do latim re-leger (re-ler); para
Lactâncio, no século III e IV d.C, do latim re-ligare (re-ligar); e para Agostinho, no século IV
d.C., do latim re-eligiere (re-eleger). Em sentido objetivo, religião é o “conjunto de crenças,
leis e ritos” e em sentido subjetivo é o reconhecimento do ser humano de sua “dependência
de um Ser Supremo pessoal, pela aceitação de várias leis e ritos atinentes a este Ser”
(WILGES, 1989, p. 10-11).
Peter Berger (1985), destaca em seus estudos
a função social da religião. Para ele a religião é Ethos – conteúdo da experiência
religiosa. Conjunto de valores, visão
estruturada e estruturante das relações sociais, de mundo que faz com que a pessoa
contém e é contida do ethos. Uma de suas funções faça o que ela faz.

sociais é ser fornecedora de sentido, de coesão e


nomia social (ordem significativa). A sociedade seria produto do ser humano e o ser
humano produto dessa sociedade, uma relação dinâmica que originaria o que se denomina
cultura. Assim, a religião enquanto parte da cultura, também seria produto do ser humano,
sempre em processo de elaboração e transformação, contribuindo na manutenção do
mundo e na legitimação que ordena a sociedade. A religião tem uma tendência socializadora
e pode tanto conduzir à alienação, quanto à desalienação.
Isso quer dizer que a religião tem sido sim uma forma de construir um mundo
melhor, mas que muitas vezes é usada para legitimar desigualdades (social, econômica,
política, gênero, geração, étnico-raciais, etc.). Neste sentido, Pierre Bourdieu (1998),
ressalta aspectos importantes da religião enquanto um sistema simbólico estruturado e
legitimador da ordem social, que cumpre funções sociais, que legitima quando confere às
coisas uma aura sagrada e induz simbolicamente as aspirações, justificando uma posição
social determinada. Em uma sociedade dividida em classes, por exemplo, a religião, suas
representações e suas práticas podem servir para perpetuar uma determinada ordem social,
por isso se diz que ela muitas vezes legitima a dominação e impõe aos/às dominados/as o
reconhecimento desta dominação. A subversão simbólica da ordem simbólica pode afetar a
ordem política das coisas e contribuir com a transformação deste ordenamento.
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Para além desse aspecto legitimador que a religião pode conferir socialmente, que
deve ser constantemente
problematizado, é preciso destacá-la
também como uma dimensão que faz
com que o ser humano caminhe, dê
sentido à vida e às coisas. A religião
como libertadora, transformadora e
saudável, uma força motivadora para a
luta contra as desigualdades e
enfrentamento das dificuldades.
Fonte: https://abre.ai/etaj

Por isso, o estudo de História das Religiões e Fenômeno Religioso exige uma postura
de diálogo e respeito às diferenças. E diante de aspectos difíceis de compreender na própria
religião e na do/a outro/a, principalmente quando ferem os direitos humanos, o caminho é
colocar como critério a vida, em todas as suas dimensões.
A religião compreende, portanto, um conjunto de crenças, mitos, ritos e símbolos,
com teologia, doutrina e burocracia específicas. É experiência do Sagrado. E o fenômeno
religioso, se refere assim a tudo aquilo que se manifesta no âmbito da experiência religiosa
e é expressão carregada de significado.

Sugestão para seu aprofundamento:

Assista ao Documentário EU MAIOR, identificando a experiência religiosa nos


depoimentos. Depois poste no espaço interativo suas impressões sobre o documentário.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=V0gquwUQ-b0>. Acesso em: 11
maio 2022.

1.2 O Fenômeno Religioso e seus elementos

Pode-se definir o fenômeno religioso como tudo aquilo que se manifesta porque
existe, tudo aquilo no âmbito da experiência religiosa que é carregado de sentido e de
significado. Os elementos que o compõe são:

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a) Sagrado

O Sagrado é o significado por excelência, aquilo que está saturado de significado. A


relação Sagrado e ser humano acontece por meio da experiência religiosa, da crença, que
se expressa nos mitos, ritos e símbolos.
Rudolf Otto (1985) ressalta que “a religião não se esgota em enunciados racionais”.
Mesmo as religiões mais racionais que pensam a divindade por meio de noções racionais
não conseguem esgotar a essência da divindade. “O sagrado é antes de mais nada,
interpretação e avaliação do que existe no domínio exclusivamente religioso”, e o numinoso
é o elemento vivo em todas religiões, a parte mais íntima sem a qual a religião perderia as
suas características.
O autor destaca que este elemento se manifesta no sentimento de ser criatura,
objeto do numinoso. Por exemplo, no texto sagrado judaico-cristão, Abraão afirma:
“Certamente sou ousado em falar a meu Senhor,
eu que sou pó e cinzas” (Gênesis 18,27). O
sentimento de ser criatura é antes de tudo um
elemento subjetivo, sombra de outro sentimento,
o medo. É o mysterium tremendum, o mistério
que faz tremer. O tremor diante do sagrado, do
numen, pode ser sintetizado na inacessibilidade
absoluta, que é acompanhada do elemento do
poder, da força e da preponderância absoluta, o
majestas. O mesmo mistério que faz tremer,
fascina e cativa. É o mistério fascinante. Horror e
esplendor, dimensões de um mesmo objeto.
Para descrever a categoria do mysterium só é
possível por meio da analogia, através de um
termo que não pertença a esfera religiosa, mas a
estética, ao sentimento do “sublime”.
Fonte: https://abre.ai/etan

Isso quer dizer que o ser humano só consegue falar do Sagrado por meio de
analogias, utilizando aquilo que conhece em seu cotidiano. Por exemplo, quando se diz que
Deus é Pai e Mãe, se usa duas figuras importantes na vida de qualquer ser humano, que
simbolizam a experiência profunda de amor, ternura e cuidado, para falar do Sagrado, e
todos/as compreendem de alguma forma, sentem algo quando a analogia é utilizada.

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Mircea Eliade (1992) aponta que a primeira definição de sagrado é que ele se opõe
ao profano. E que é por meio da hierofania, da manifestação do sagrado, o ser humano
conhece o sagrado. Por isso existem espaços significativamente sagrados como os templos
religiosos e outros não.
Quase sempre há uma história hierofânica que justifica um espaço físico sagrado. No
México, por exemplo, existe o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, da Religião
Católica Apostólica Romana. Conta-se que Nossa
Senhora apareceu ao índio cristão Juan Diego, em
Tepeyac, em 1531, e lhe pediu que construísse um
templo em sua honra1. O santuário de Guadalupe é hoje
um dos mais visitados na América Latina.
Jerusalém é outro exemplo, pois lá atualmente
estão no mesmo espaço sagrado três grandes religiões, o
Judaísmo (Muro das Lamentações que circundava o
Segundo Templo), o Cristianismo (Igreja do Santo
Sepulcro) e o Islamismo (Mesquita de al-Aqsa), e cada
espaço sagrado, cada qual de sua religião, possui a sua
hierofania própria.
Fonte: https://abre.ai/etaq
Assim, para Eliade (1992), a revelação de um espaço sagrado permite que haja um
“ponto fixo”, que oriente na homogeneidade caótica, o viver real. Diferente da experiência
profana, que mantém a homogeneidade e relativiza o espaço. Significa que “todo espaço
sagrado implica uma hierofania, uma irrupção do sagrado que tem como resultado destacar
um território do meio cósmico que o envolve e torná-lo qualitativamente diferente”. O
Templo seria uma reprodução terrestre de um
Arquétipo – refere-se a um
modelo transcendente, a cópia de um arquétipo modelo, paradigma.
celeste, que ressantifica o Mundo na sua totalidade.

b) Mitos
A palavra ‘mito’ vem do grego mythos e é uma narrativa de uma experiência
fundante, daquilo que realmente conta, que é fundamental para o ser humano se perceber
como ser humano, por isso é verdadeira. Porém, é uma história criada, uma forma de
contar a realidade. Na contramão de uma concepção que trata os mitos como uma ilusão ou

1
Confira a história na íntegra. Disponível em: <https://www.rs21.com.br/noticias/o-encontro-da-
virgem-maria-com-um-indio/ >. Acesso em: 11 maio. 2022.
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ficção, Mircea Eliade (1972) aponta alguns horizontes da significação dos mitos, importante
em qualquer reflexão sobre o tema.
Mircea Eliade (1972) destaca que o mito é uma realidade cultural complexa, com
interpretações múltiplas e complementares, não podendo ser enclausurado em uma única
interpretação. O mito é a narrativa de uma ‘criação’, do modo como algo foi produzido e
começou a ser, fazendo com que o ser humano seja o que é hoje, “um ser mortal, sexuado,
organizado em sociedade, obrigado a trabalhar para viver, e trabalhando de acordo com
determinadas regras”. As personagens do mito são entes sobrenaturais.
Para Mircea Eliade (1972) não só a memória dos mitos é importante, mas a
reatualização destes que se dá por meio do poder dos ritos. “Ao rememorar os mitos e
reatualizá-los, ele [o ser humano] é capaz de repetir o que os Deuses, os Heróis ou
Ancestrais fizeram ab origine”. A reatualização do mito permite a saída de um tempo
cronológico profano e a entrada em um tempo significativamente diferente, ‘sagrado’.

c) Símbolos

A palavra ‘símbolo’ vem do grego sym-ballo


e significa reunir. Os símbolos estão presentes em O contrário de sym-ballo é dia-
bollos, que significa espalhar, dividir.
diversas áreas, visam dar significado à vida e às
coisas. Por isso, para Berger (1985), “a religião é a
ousada tentativa de conceber o universo inteiro como humanamente significativo”.
As construções simbólicas são o material primordial dos mitos e dos ritos, que em
seu conjunto constituem o que chamamos de religião. Assim, o símbolo é

[...] qualquer coisa que toma o lugar de outra coisa ou ainda qualquer coisa
que substitui e evoca uma outra coisa [...] o símbolo implica três
elementos: 1.º um significante, que é o objeto que toma o lugar de
outro, quer dizer, o próprio símbolo, no sentido concreto da palavra; 2.º um
significado, a coisa que o significante substitui; 3.º a significação, que é
a relação entre o significante e o significado, relação que deve ser
apreendida e interpretada pelo menos pela pessoa ou pessoas a quem se
dirige o símbolo (ROCHER, 1971, p. 156-157). [grifo próprio]

São funções essenciais do símbolo a comunicação (transmissão de mensagens) e a


participação (evocar sentimento de pertença coletiva, modos de pertença e organização).
Os símbolos influenciam a vida social, tornam visíveis e tangíveis realidades abstratas,
mentais ou morais, da sociedade, ligando as pessoas e os valores entre si, bem como,

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recriando a participação e a identificação das pessoas e grupos às coletividades que
pertencem (ROCHER, 1971).
Exemplificando, temos símbolos
nacionais como a Bandeira do Brasil, o Hino
Nacional, o Brasão da República, etc., que
evocam sentimentos de pertença à nação
brasileira, de patriotismo. Já na religião, pode-se
citar a cruz, um símbolo para o Cristianismo, a
estrela de Davi para o Judaísmo, a roda
dharmica para o Budismo, a lua crescente com
uma estrela para o Islamismo, enfim, cada
religião com seus diversos símbolos para evocar
o Sagrado.
Fonte: https://abre.ai/etas

d) Ritos

Etimologicamente, a palavra ‘rito’ vem do latim ritus, designando as cerimônias


ligadas às crenças relativas ao sobrenatural, bem como aos simples hábitos sociais, aos
usos e aos costumes. Remete a uma ação social, individual ou coletiva, com regras e
padrões estabelecidos, mas com margem para o improviso (CAZENEUVE, s/d).
Os ritos compõem a experiência religiosa, revivem e reatualizam os mitos, e se
constituem de inúmeros símbolos. No catolicismo, por exemplo, tem-se o batizado, a missa,
etc. e no judaísmo, o bar mitzvah, o shabat, etc.
Conforme Claude Rivière (1996), o rito é uma forma pela qual o social garante e
enuncia sua permanência, visto que a ordem social se mantém não só pela coerção e pela
legitimação das forças, mas pela imagem que projeta de si mesma. Assim, além do rito
sagrado, o rito profano é o que influi diretamente nas relações sociais.
O rito pode cair num formalismo, ser usado para legitimar o poder ou uma ideologia,
inserindo o indivíduo na coletividade. Ele inspira segurança e liberta das tensões. A
ritualidade profana concentra a atenção de quem a vive, encanta a vida cotidiana, dá
sentido às coisas e aos acontecimentos e, por fim, implica numa profunda adesão ética. “O
rito tem um poder de estruturação dos comportamentos, representações e atitudes. Quem
vier a controlar o rito, controlará o que o rito controla” (RIVIÈRE, 1996).
Um exemplo de rito profano seriam os ritos de passagem na academia. Para obter
uma titulação acadêmica (graduação, especialização, mestrado e/ou doutorado), o/a

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estudante passa por uma banca que o/a avalia, numa etapa que funciona como um rito de
passagem, sem o qual, devidamente aprovado/a, não se obtém o grau, a titulação.

Dica de aprofundamento:

Leia a notícia publicada pelo IBGE (Censo 2010), que traz resultados do último
Censo Demográfico do IBGE 2010 sobre a diversidade de grupos religiosos no Brasil.
Disponível em: <https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-
censo.html?busca=1&id=3&idnoticia=2170&t=censo-2010-numero-catolicos-cai-
aumenta-evangelicos-espiritas-sem-religiao&view=noticia >. Acesso em: 11 abr. 2022.

1.3 Tipos e Formas de Religiões

A organização religiosa nasce a partir de uma experiência religiosa específica de


determinados/as fundadores/as e de seus/suas discípulos/as. Dessa experiência fundante
desemboca a associação religiosa que futuramente dará origem a organização religiosa, que
é mais institucionalizada e permanente (O’DEA, 1969).
A institucionalização acontece a partir de três aspectos: no nível intelectual (mito),
no nível do culto e no nível da organização. O desenvolvimento das teologias racionais faz
parte da passagem do mythos para o logos,
Logos – termo de origem grega,
constituem as mudanças internas da organização que significa palavra falada ou
religiosa, na qual o segmento clerical se diferencia escrita (o Verbo). Com os filósofos
passou a significar Razão.
aos poucos dos/as seguidores/as. Assim, a
rotinização e a institucionalização são parte do processo de aparecimento da organização
religiosa (O’DEA, 1969).
Wach (1990) afirma que a religião pode enfrentar protestos que acontecem “em
todos os três campos de expressão religiosa – na teologia, no culto e na organização”, que
podem conduzir a cisões ou serem acatados pela organização, bem como serem isolados,
uma crítica individual e levar ao desvio na prática do restante da comunidade ou serem
coletivos.
O sucesso do protesto, para Wach (1990), depende do carisma de quem lidera e da
competência do/a líder em empreender uma organização dentro ou fora da organização
maior. Uma das consequências são grupos que se formam dentro da própria organização
eclesiástica como, por exemplo, a vida monástica. No entanto, além dessas consequências
pode haver a separação e o surgimento de grupos independentes, que seriam novas igrejas
ou seitas. A seita é um movimento social espontâneo que se separa do grupo, passa por um

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período de isolamento e de integração no qual uma forma de vida comunitária tende a se
desenvolver, bem como pode com o tempo ser absorvida pelo grupo maior.
As formas religiosas mais abrangentes são o teísmo e o deísmo. O teísmo se refere à
crença numa divindade ou deuses/as, podendo ser dividido em monoteísmo (uma só
divindade), politeísmo (vários deuses/as) ou henoteísmo (veneração de uma divindade
suprema, porém sem negar a existência de outras). O oposto do teísmo é o ateísmo (Deus
não existe). O deísmo é mais uma posição filosófica e se refere à aceitação de uma
divindade que não intervém na criação e não possui revelação sobrenatural.
Outras formas religiosas são o panteísmo, no qual Deus, o universo e a natureza são
idênticos; o animismo, uma crença, uma mentalidade, que enxerga por detrás dos objetos
uma vida que pode entrar em relação com o ser humano; o magismo, que é uma crença em
um poder oculto que certas pessoas podem se apropriar e produzir; o manismo, que é o
culto às almas de defuntos; e o totemismo, que acredita num parentesco entre o clã e uma
espécie de animal ou vegetal, o qual daria o nome ao totem do clã (WILGES, 1989).
As ciências da religião dividem as religiões em três categorias: religiões primais
(‘primitivas’, povos tribais, com a crença em deuses/as, culto aos antepassados e realização
de ritos de passagem); religiões nacionais (religiões históricas como a germânica, grega,
egípcia e assírio-babilônica, politeístas,
com sacerdócio permanente, mitologia
definida, culto sacrificial e que não são
mais praticadas, porém podemos
encontrar seus vestígios em outras
religiões), e as religiões mundiais/
universais (monoteístas, que
enfatizam a relação do indivíduo com
Deus e sua salvação) (WILGES, 1989).
Fonte: https://abre.ai/etav
Assim, temos religiões oriundas da Índia, como o Hinduísmo e o Budismo; do
Extremo Oriente, como o Confucionismo, o Taoísmo e o Xintoísmo; do Oriente Médio, como
o Judaísmo, Islamismo e Cristianismo; e Africanas. No Brasil, as religiões de matriz africana
mais populares são o Candomblé e a Umbanda. Além do Espiritismo e uma série de novos
movimentos religiosos (Esotérica, Astrologia, Ufologia e Movimentos Alternativos), sem
esquecer as expressões religiosas indígenas.

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Sugestão para seu aprofundamento:

Leia a Cartilha Diversidade Religiosa e Direitos Humanos


(2004), da Secretaria de Direitos Humanos. Depois poste no espaço interativo
suas observações. Disponível em:
<http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/cartilha/cartilha_diver
sidade.pdf>. Acesso em: 11 maio 2022.

1.4 Breve Panorama Religioso Brasileiro

Uma breve reflexão sobre o panorama religioso brasileiro precisa levar em conta o
processo de secularização que tem influenciado a experiência religiosa.
Por secularização entende-se, a partir de Peter Berger (1985, p. 119), “o processo
pelo qual setores da sociedade e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e
símbolos religiosos”. Esse processo se caracteriza por: pessoas vivendo suas vidas sem
recorrer mais as interpretações religiosas; legitimações religiosas perdendo sua
plausibilidade; fim dos monopólios religiosos; crise de credibilidade na religião; crise de
significado; desenvolvimento do fenômeno chamado “pluralismo”; competição entre os
diferentes grupos religiosos e sociais; religiões que não podem mais contar com a
submissão de suas populações, pois ela agora é voluntária; tradição religiosa sendo
colocada no mercado; conteúdos religiosos sujeitos à “moda”; progressiva burocratização
das instituições religiosas; ênfase na família, na vizinhança e nas “necessidades”
psicológicas do indivíduo; crise da teologia; e crise da Igreja. Existe o que Berger chama de
“desencantamento do mundo”.
É interessante perceber que esse processo de secularização impulsionou a
pluralidade de religiões. Zygmunt Bauman (1998) destaca que com o espírito pós-moderno,
as tentativas exaustivas e os esforços frenéticos em busca de “definir a religião”, sofrem
uma pausa, porém, continuam inabaláveis. No espírito pós-moderno dá-se conta de que a
experiência vai além dos muros das definições nas quais tentamos enclausurá-la, retê-la ou
até mesmo somente captá-la.
O nascimento da identidade, do indivíduo, da liberdade de escolha diante de infinitas
possibilidades, trouxe um complexo de incertezas e a busca pelo aconselhamento, no qual
não se procura tanto a religião, mas especialistas na identidade. Este é o mundo pós-
moderno, de indivíduos em busca de algo que lhes dê sentido em suas escolhas.
Essa realidade plural, de busca por sentido à vida, se intensifica na atualidade. A
existência de inúmeras possibilidades, de inúmeros caminhos, permite ao ser humano, ora
19
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estar aqui, ora estar ali, ou frequentar vários lugares sem que isso seja um problema,
vivenciando uma experiência religiosa plural, que atenda às suas necessidades.
Porém, sempre há o perigo do fundamentalismo, como já foi destacado. Numa
sociedade moderna que relegou o indivíduo a um estado de anomia, os movimentos
religiosos fundamentalistas são uma
resposta à procura de sentido, de
significado para vida, um porto seguro,
uma caixa de respostas prontas e
acabadas que concede ao indivíduo a
sensação de segurança e de estar
fazendo o certo. O fundamentalismo é a
afirmação da identidade religiosa. É a
sobrevivência da religião na modernidade.
No fundo, o que está em questão é a
intenção de reislamizar, recristianizar e
rejudaizar a modernidade, e não o inverso
(KEPEL, 1995).
Fonte: https://abre.ai/etaC
O momento seria o de implosão do conceito de religião, que inclui o movimento da
Nova Era, mas não se reduz somente a ele. Nessa nova realidade as instituições
fragilizaram-se, os limites entre magia e religião dissolveram-se e diversas formas religiosas,
ou fontes de transcendência surgiram capazes de dar sentido à vida e à sociedade. A nova
realidade mostra que há uma

[...] autonomia religiosa dos atores em busca de desinstitucionalização da


religião, circulando entre os grupos e construindo, por conta própria, sua
religiosidade, numa espécie de bricolagem (arranjo pessoal do religioso ou
espiritualmente errante, religiosidade difusa, modelo holístico individual,
coexistência de paradigmas). Busca-se cura, autoaperfeiçoamento e
autorrealização (SIQUEIRA, 2003, p. 45).

O Brasil é um país diversificado culturalmente e por isso um contexto privilegiado


para o diálogo e respeito às diferenças. Encontramos no Brasil uma infinidade de
organizações religiosas, católicas, protestantes, pentecostais e neopentecostais, espíritas2 e
afro-brasileiras. Também, em menor número, expressões religiosas como o Judaísmo, o

2
Estimou-se em 2012, 13 milhões de adeptos/as do espiritismo no mundo. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/as-8-maiores-religioes-do-mundo/>. Acesso em: 23 fev.
2022.
20
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Islamismo, Hare Krishna, Xintoísmo. Sem esquecer as inúmeras expressões religiosas
indígenas, esotéricas, etc.

a) Religiões Afro-brasileiras

As religiões afro-brasileiras são chamadas assim por se originarem com os escravos


trazidos da África para o Brasil. Até meados do século XX funcionavam como preservação da
memória da população negra formada por antigos/as escravos/as e seus/suas
descendentes. O Movimento Negro as reconhece como religiões negras, que hoje tem
adeptos/as brancos/as, descendentes de japoneses, coreanos, etc. Elas formaram-se em
diversas partes do Brasil e em
diferentes épocas, por isso
diferem também nas formas
rituais, nome e versões
mitológicas: Candomblé (Bahia),
Xangô (Pernambuco e Alagoas),
Tambor de Mina (Maranhão e
Pará), Batuque (Rio Grande do
Sul) e Umbanda (Rio de Janeiro)
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER,
2000).
Fonte: https://abre.ai/etaJ
As religiões afro-brasileiras são uma parte importante da cultura brasileira, da
resistência do povo negro, da preservação de uma memória e afirmação de uma identidade.
Em 2003, por meio da Lei 10.639, ficou estabelecido que a rede de ensino, tanto pública
como particular, deve incluir em seu currículo a História e Cultura Afro-brasileira. Esse é um
passo importante para desconstruir todo um processo de negativização e demonização que
instituições tradicionais construíram sobre a cultura e as religiões afro-brasileiras.

Dica de aprofundamento

Leia a Lei 10.639/2003 que torna obrigatório o ensino sobre História e


Cultura Afro-Brasileira, na rede de ensino, pública e privada. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 19 maio
2022.

21
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b) Novos Movimentos Religiosos (NMR)

Os ‘novos movimentos religiosos’ são uma terminologia utilizada para falar sobre
diferentes grupos religiosos, que são independentes uns dos outros, fragmentados muitas
vezes e se caracterizam pela crítica às instituições tradicionais. Em algumas vertentes, a
religião pode de ser vista como um item de consumo. Trazem traços de retorno ao passado,
de sincretismo e/ou de fundamentalismo.
O pentecostalismo surgiu nos Estados Unidos, com as Igrejas Batistas, Metodistas e
outras. Baseia-se na doutrina cristã do batismo do espírito santo, à modelo do que ocorreu
em Jerusalém, no dia de Pentecostes, quando o espírito santo desceu sobre os apóstolos e
eles falaram em línguas. São chamados de pentecostais, pois suas práticas são carregadas
de emoção, de reavivamento espiritual, na qual ocorreria a comunicação com o espírito
santo, levando ao êxtase espiritual, fazendo o/a crente falar em línguas estranhas (WILGES,
1989).
A doutrina pentecostal enfatiza a separação do mundo, a proibição dos prazeres
comuns. As mulheres não devem usar roupas curtas e os cabelos devem ser longos.
Todos/as pagam 10% do que ganham para manter a igreja. As orientações são de não
beber, fumar, pular carnaval, jogar futebol, dançar, cantar músicas mundanas, ir ao cinema,
nem ter rádio ou televisão (WILGES, 1989).
Todos/as os/as pentecostais devem se entregar a três experiências: arrependimento
da vida de pecado, conversão seguida de batismo das águas, e santificação no batismo pelo
espírito santo. Possuem os sacramentos do batismo e partilha do pão, e seguem preceitos
cristãos: Escrituras, Trindade, salvação pela graça, ressurreição e vida eterna para os/as
justos/as. Aqui a religião oferece uma função terapêutica, toda cura é dom de Deus
(WILGES, 1989).
As primeiras igrejas pentecostais chegaram ao Brasil, no início do século XX. Em
1910, no Paraná e São Paulo, surgiu a primeira igreja pentecostal brasileira, a Congregação
Cristã do Brasil. Em 1911, dois missionários suecos fundaram a Assembleia de Deus, em
Belém do Pará. As duas denominações se difundiram por todo o país, constituindo hoje as
duas maiores frentes do pentecostalismo no Brasil (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Na segunda metade do século XX, os/as evangélicos/as pentecostais cresceram e se
diversificaram, correspondendo na década de 1990 a 10% da população de adultos/as no
Brasil, sendo que os/as protestantes históricos correspondiam a 3%. Pode-se diferenciar
dois formatos do movimento pentecostal no país: os pentecostais “clássicos” e os
“neopentecostais” (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
As maiores igrejas pentecostais no Brasil são:
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* Congregação Cristã do Brasil (desde 1910 no Brasil);
* Assembleia de Deus (desde 1911 no Brasil);
* Igreja do Evangelho Quadrangular (desde 1953 no Brasil);
* Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo (fundada em 1955);
* Deus é Amor (fundada no Brasil em 1962), e
* Casa da Bênção (fundada no Brasil em 1964) (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000, p. 288).

A religiosidade neopentecostal se propõe um meio eficiente e prático de religião,


exigindo pouco em relação a ética e doutrina. Ela conserva do pentecostalismo clássico o
estilo de culto, carregado emocionalmente, direcionado ao êxtase, destacando o dom de
línguas, o exorcismo e o milagre, procurando sempre resultados concretos e imediatos
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
As igrejas neopentecostais mais representativas e criadas no Brasil são:
* Igreja de Nova Vida (fundada em 1960);
* Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (fundada em 1976);
* Igreja Universal do Reino de Deus (fundada em 1977);
* Igreja Internacional da Graça de Deus (fundada em 1980), e
* Renascer em Cristo (fundada em 1986) (GAARDER; HELLERN; NOTAKER,
2000, p. 289).

Atualmente podemos encontrar movimentos com tendências neopentecostais dentro


das instituições tradicionais. Um exemplo é a Renovação Carismática Católica, movimento
dentro da Igreja Católica Apostólica Romana.
O neopentecostalismo enfatiza, ainda, a doutrina da prosperidade, o poder da fé
como meio para obter uma vida feliz, com saúde, sucesso e prosperidade material. O
contrário disso é sinal de maldição, de falta de fé. Por isso, o/a fiel está em constante
batalha espiritual entre o bem e o mal.
O grande desafio, diante de uma realidade mundial e brasileira tão plural e diversa
religiosamente, continua sendo o respeito à diferença, combatendo qualquer tipo de
intolerância religiosa, em qualquer espaço social (família, escola, trabalho, igreja, etc.),
inclusive uma intolerância religiosa que potencializa outras intolerâncias e discriminações
(gênero, raça, classe, geração, etc.). É preciso restaurar o diálogo e o respeito mútuo,
resguardar o direito e a liberdade que todo/a cidadão/ã tem.

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Dicas de aprofundamento

Assista ao Documentário “Intolerância Religiosa – Ameaça à Paz”.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AabbtL3Wl00>. Acesso em: 19 maio
2022.
Leia o texto “Intolerância religiosa é crime de ódio e fere a dignidade”.
Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/496197>. Acesso em: 19
maio 2022.

Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 1 e


a Atividade 1.1.

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UNIDADE 2

AS PRINCIPAIS RELIGIÕES ORIUNDAS DA


ÍNDIA
OBJETIVO DA UNIDADE: Apresentar informações sobre as origens, rituais e doutrinas
de duas das principais religiões oriundas da Índia, o Hinduísmo e o Budismo.

2.1 Hinduísmo

O Hinduísmo é uma religião que não possui fundador, nem credo fixo e nem
organização de espécie alguma, caracteriza-se pela diversidade. A palavra hinduísta significa
“indiano/a” (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000). Esse termo não é
aceito pelos hindus, pois foi o Ocidente
que convencionou chamar assim. Em
2012, estimou-se que o Hinduísmo possui
cerca de 900 milhões de adeptos/as.3

Fonte: https://abre.ai/etaM

Culturalmente, a História da Índia pode ser dividida nos seguintes períodos:

Védico: que vai de 2000 a 800 a.C., caracterizado pela influência dos
escritos védicos.
Upanishádico: que vai de 800 a.C. a 400 a.C., caracterizado pela
especulação dos sábios, da qual surgem os conceitos de advaita (não-
dualidade), do karman, do samsâra etc.
Clássico: que vai de 400 a.C. a 500 d.C., caracterizado pelo florescimento
das letras e das artes, bem como pelo culto crescente dos grandes deuses
populares: Vasudeva, Shiva, Vishnu.
Medieval: que vai de 500 d.C. a 1800 d.C., caracterizado pelas escolas
filosóficas e seitas religiosas.
Moderno: desde 1800 d.C., caracterizado pela crescente influência das
ideologias do ocidente. O hinduísmo toma então as seguintes atitudes:
ortodoxo, aceitando os Vedas,
popular, aceitando o Mahabharata, o Ramayana, os Puranas (PIAZZA,
2005, p. 236).

3
Fonte: <http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/as-8-maiores-religioes-do-mundo/>. Acesso em:
21 abr. 2022.
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Por ser uma religião nacional, só pode ser hindu quem nasce hindu. O Hinduísmo
existe na Índia e onde há hindus (Indonésia, Paquistão, Ceilão, Birmânia, Malásia, África do
Sul, etc.). Benares é a principal cidade do Hinduísmo e
O termo ‘ablução’ vem do latim
o rio Ganges o principal rio sagrado, onde são ablutio e significa "lavagem".
realizadas abluções (WILGES, 1989).

2.1.1 Origem do Hinduísmo

O Hinduísmo originou-se entre os anos 1500 a.C e 200 a.C., época em que os povos
arianos (“nobres”) subjulgaram o vale do Indo. As crenças desses povos tinham ligação com
outras religiões indo-europeias (grega, germânica e romana). Os hinos védicos (da palavra
Veda, que significa “conhecimento”) eram recitados por sacerdotes nos sacrifícios aos
deuses. A época do período védico tardio, de 1000 a.C. até 500 a.C., foi significativa para o
desenvolvimento religioso da Índia. Os Upanishads são os textos hinduístas mais lidos e
foram escritos sob a forma de conversa entre o mestre e o discípulo, introduzindo a noção
de Brahman. “Todos os seres vivos nascem do Brahman, vivem no Brahman e ao morrer
retornam ao Brahman” (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).

2.1.2 Alguns Rituais Sagrados

O Hinduísmo moderno abarca uma diversidade de ideias e formas de culto. Porém,


os hinduístas têm em comum: as castas, as vacas e o carma.
O sistema de castas consiste na distinção e estratificação da sociedade em
classes. Na Índia essas classes4 sociais se dividem em quatro: sacerdotes (brâmanes);
guerreiros; agricultores, comerciantes e artesãos; e servos. Porém, com o desenvolvimento
da sociedade indiana, as pessoas foram sendo divididas em novas castas, sendo que no
início do século XX havia cerca de 3 mil castas (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
O termo ‘castas’, na Índia, se associa a profissões especiais. Cada casta possui suas
regras e costumes, cuja base religiosa está associada à noção de pureza e impureza. Ser
expulso da casta é o pior castigo que pode existir. O nível mais baixo na estrutura de castas
é o dos/as “intocáveis” ou “sem casta”, chamados também de “párias”. Os/as criminosos/as,
lixeiros/as ou os/as que trabalham curtindo o couro de animais, são exemplos de
“intocáveis”. Apesar de a Constituição indiana de 1947 estabelecer medidas contra a
discriminação por casta, as antigas divisões sociais e religiosas permanecem influenciando a
cultura indiana (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).

4
A palavra empregada é varna, que significa “cor”.
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Atualmente, pertencer a casta dos/as “intocáveis” não significa necessariamente ser
pobre ou miserável como por muito tempo foi. Sobre as castas, conta-se que:

Brahma criou primeiro o homem, depois a mulher. Desde o início houve


diferentes castas. Da cabeça de Manu (homem) vieram as pessoas
melhores, os sacerdotes (Brahmanes). Das mãos vieram os reis e os
guerreiros. Das coxas, os artesãos (negociantes e agricultores) e dos pés
veio o resto do povo (súditos), que pertence à classe mais baixa e, abaixo
de qualquer casta, estão os párias (escravos). Estas são as quatro
principais castas da Índia. Quanto mais alta a classe tanto mais privilégios.
Não se pode passar de uma casta para outra. Um homem de casta mais
elevada não come e nem bebe na companhia de um de casta mais baixa.
Não entra no mesmo templo. As crianças não podem brincar juntas
(WILGES, 1989, p. 22).

Na Índia, a vaca é um animal sagrado e é adorada em algumas festas religiosas.


Essa adoração possivelmente remonta um antigo culto de fertilidade. Nos Vedas há hinos à
vaca, como mantenedora da vida, e por ser um símbolo da vida é proibido matá-la.
Cultualmente, a vaca é mais “pura” que o brâmane. Uma pessoa que toca uma vaca está
ritualmente limpa. Tudo que deriva da vaca é utilizado em cerimônias de purificação (leite,
manteiga, excrementos, urina, etc.). Os/as hinduístas têm ainda outros animais sagrados,
como o macaco, o crocodilo e a cobra. Por
isso, são vegetarianos, pois não gostam de
tirar a vida de animais, o que ajudou a
propagar um ideal de não-violência, que ficou
bastante difundido no Ocidente com a luta de
Ghandi pela independência da Índia, contra o
colonialismo britânico (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000).
Fonte: http://migre.me/iTHcC
A vaca é sagrada por também simbolizar a deusa do amor Lakhismi e a
maternidade. Ela representa o último estágio da alma no mundo antes de atingir a
divindade, e acredita-se que quem comer a carne de vaca ficará tantos anos no inferno
quanto forem os pelos da vaca (WILGES, 1989).
Em relação ao carma e reencarnação, na filosofia dos Upanishads o ser humano
tem uma alma imortal, que após a morte renasce numa nova criatura vivente, podendo ser
em uma outra casta ou animal. O ciclo da vida é ordenado pelo movimento do karma
(palavra sânscrita - significa “ato”), que se refere a pensamentos, palavras, sentimentos e
ações. Acredita-se que todas as ações têm consequências e que essas consequências
podem aparecer depois da morte. O carma é como uma lei natural, lei de causa e efeito, e a
responsabilidade pela vida do/a hinduísta, no agora e na sua próxima encarnação, é sempre
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dele/a mesmo/a. Ele/a tem o livre-arbítrio para melhorar seu carma e isso explicaria as
diferenças sociais, como por exemplo, a do sistema de castas (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000).
No Hinduísmo, o conceito de divindade é o Brahman (substância/ essência),
presente em todas as coisas (pedra, vaca, etc.). Este conceito panteísta no hinduísmo
denota que a divindade é uma energia. Porém, o conceito politeísta também se encontra
presente, na forma de inúmeros deuses e deusas, sendo que as aldeias têm sua divindade
local.
A adoração divina se concentra em duas divindades, de raízes védicas: Vishnu e
Shiva. Vishnu é representado como um belo jovem, como senhor onipresente, um pastor de
ovelhas vivendo aventuras eróticas com as pastoras, o que é interpretado como o amor de
Deus pelo ser humano. Sua maior importância está nas suas revelações ou “avatares”,
como Rama e Krishna. Já Shiva é a divindade da meditação e dos iogues, retratada como
um asceta, uma divindade do desvario e do êxtase, criador e destruidor, que traz a doença
e a morte, mas que também cura. No ambiente acadêmico é comum ver Vishnu
(sustentador) e Shiva (destruidor) formando uma trindade com Brahma (criador), o que tem
pouca relevância na devoção popular (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Na religião indiana, as deusas também têm uma importância, tanto que a “Mãe
Índia” (Bhárata Mata) foi escolhida como divindade nacional do moderno Estado da Índia,
cujo templo em sua dedicação encontra-se na cidade de Varanasi. Nas aldeias são
veneradas divindades menores, muitas de origem humana, ou seja, heróis de guerra, ou
esposas que se ofereceram para morrer queimadas na pira funerária do marido. Venerando
esses espíritos como divindades, acredita-se controlar e neutralizar o mal (GAARDER;
HELLERN; NOTAKER, 2000).
Outra expressão de devoção é o culto no lar, que varia de casa para casa. Os/as
hinduístas têm em casa uma sala ou canto que dedicam a uma ou mais divindades, onde
colocam estampas e esculturas destas, tendo à frente um pequeno altar para a família
celebrar o serviço divino. O culto pode ocorrer diversas vezes ao dia ou uma vez por
semana, quase sempre na sexta-feira, compreendendo o sacrifício, a oração, a recitação de
textos sagrados e a meditação. O primeiro passo é um banho purificador, passa-se ao
sacrifício (arroz, frutas ou flores), depois as pessoas se inclinam até o chão, com as mãos
unidas, diante das imagens. Repete-se o nome da divindade e recitam-se textos sagrados,
podendo haver ainda orações espontâneas e pessoais. Os frutos oferecidos são comidos
pela família ou ofertados às visitas (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
O/a hinduísta não é obrigado a ir ao templo. Porém, existe um templo em cada
aldeia, com muitos serviços populares. A rotina do templo começa com música para
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despertar as divindades, depois as imagens divinas são lavadas. No decorrer do dia as
divindades são alimentadas várias vezes e quem chega ao templo reza à sua divindade,
oferece sacrifício de flores ou outros presentes, ou escuta a interpretação das escrituras
dada pelo sacerdote (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Existem outros ritos como a celebração do matrimônio, na qual,

[...] A data é marcada segundo observações astrológicas. Mensageiros


conduzem o noivo à casa de sua futura esposa. O pai a confia a ele, depois
que ele a ungiu e lhe entregou um vestido novo e um espelho. Oblação de
sementes torradas, ligação das vestes e das mãos, e marcha dos sete
passos são os últimos ritos na casa da noiva. Conduzida então para sua
nova casa, ela leva o fogo doméstico, senta-se em uma pele de boi
vermelho e divide com o esposo as comidas da oferenda. O matrimônio é
consumado depois de três dias de castidade. Na manhã seguinte, um rito
de “impregnação” abençoa a suposta concepção; três meses mais tarde,
segue-se o sacramento de “engendramento”, destinado a obter uma
criança do sexo masculino (SAMUEL, 1997, p. 98).

Além de todas essas cerimônias que envolvem o rito do matrimônio, a cultura hindu
ainda tem ritos que envolvem o nascimento, a entrada da criança aos oito ou dez anos na
comunidade bramânica, os funerais, entre outros.

2.1.3 Principais Doutrinas


No Hinduísmo, os livros sagrados mais conhecidos são: Os Vedas, os Brahmanas e
os Upanichades. O escrito religioso hindu mais influente é Bhagavadgita (Canto Sublime)
(WILGES, 1989). São textos que foram escritos na língua antiga dos/as hindus, o sâncristo.
No período védico, a doutrina do carma e da reencarnação, era vista como algo
positivo, sendo que por meio dos sacrifícios e das boas ações se podia garantir a existência
em várias vidas. No entanto, mais tarde o Hinduísmo considerou isso como algo negativo,
um ciclo vicioso a ser quebrado (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Não há uma doutrina clara sobre salvação, de como o ser humano pode se livrar do
interminável ciclo de reencarnações. Existem muitos movimentos dentro do Hinduísmo com
opiniões diferentes sobre isso. No Hinduísmo moderno é possível visualizar três caminhos:
do sacrifício, do conhecimento e da devoção. A via do sacrifício consiste em tentar obter
felicidade terrena, saúde, riqueza e copiosa descendência, com objetivo de se libertar do
ciclo vicioso de transmigração do espírito. A via da compreensão e conhecimento consiste
em compreender a natureza da existência, pois só quando o ser humano adquire o reto
conhecimento ele pode ser redimido do inevitável ciclo de transmigração (samsara). O
conhecimento que salva é o de que a alma humana (atmã) e o mundo espiritual (Brahman)
são uma coisa só. A libertação do ser humano está ligada à compreensão dessa unidade. A

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via da devoção é o caminho cuja expressão clássica é o Bhagavad Gita, que é um livro
sagrado importante na Índia moderna. Todas as três vias de salvação têm base na doutrina
do carma. O caminho da devoção expressa que independente de sexo ou casta, todas as
pessoas podem conseguir a graça se se devotarem a divindade, sendo que é a misericórdia
divina que salva a pessoa do ciclo e não seus esforços. O importante é não fazer as coisas
com intuito de ganhar algo em troca (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Outra doutrina é darma, uma lei ou ética comum, que não consiste na igualdade
entre as pessoas, mas na responsabilidade com a própria família, casta e comunidade. O
Bhagavad Gita reforça o valor das três vias de salvação e que cada pessoa deve cumprir
seus deveres para com a família e a comunidade. A vida é assim dividida em quatro
estágios, sobretudo, relevante aos brâmanes do sexo masculino. O primeiro estágio
corresponde ao oitavo ano de vida do menino brâmane, ele passa por um rito de passagem,
no qual recebe o “fio sagrado”, simbolizando que nasceu pela segunda vez e que agora é
um discípulo, entregue ao mestre (guru), para estudar os textos sagrados. O segundo
estágio é quando o jovem completa seu tempo como discípulo e se torna pai de família.
Casa-se, tem filhos, cumpre suas responsabilidades com a casta, realiza os sacrifícios, e
goza dos prazeres da vida. A fase dura até os/as netos/as crescerem. No terceiro estágio, o
homem sozinho ou junto com a esposa se
retira(m) para outro local, para entrar num
estágio contemplativo de vida, quase
sempre um monastério ou um centro
religioso (ashram). E, por fim, no quarto
estágio se tornam santos/as andarilhos/as,
sem moradia fixa, sobrevivendo de
esmolas, em busca do autoconhecimento
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Fonte: https://abre.ai/etaP
No que se refere às mulheres, apesar do Livro dos Vedas afirmar que homem e
mulher são iguais “como duas rodas de carroça”, a prática tem sido diferente. São quase
sempre entendidas como “propriedade” do marido. Mulheres solteiras ou casadas, sem
filhos passam por dificuldades. Porém, a Índia foi um dos primeiros países a ter como
primeiro-ministro uma mulher (Indira Ghandi).
Muitas mulheres usufruem de influência pública, trabalham fora de casa, além de
que o culto a numerosas deusas contribui para elevar a consciência das mulheres
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).

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Dica de aprofundamento

Assista ao vídeo “Hinduísmo-introdução”. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=2zVm9OwScBQ>. Acesso em: 19 maio 2022.

2.2 Budismo

O Budismo (do sânscrito Buddha Dharma) tem como fundador Sidarta Gautama,
conhecido como Buda (560-480 a.C.), que não deixou nenhum escrito. A palavra ‘Buda’ vem
do sânscrito e significa “o iluminado”. O Budismo caracteriza-se como uma religião, pois
possui tudo que uma religião tem: mosteiros, ritos, religiosos/as que se dedicam aos ritos,
etc.
Em 2012, estimou-se que existem aproximadamente 376 milhões de adeptos/as do
Budismo no mundo.5 O país com maior número de budistas é a Tailândia, que possui 18 mil
mosteiros e 240 mil monges e monjas.

2.2.1 Origem do Budismo

Sidarta Gautama foi filho de um rajá e viveu no Nordeste da Índia. Sobre sua vida
existem inúmeras histórias, mais ou menos lendárias, porém que destacam em comum que
Sidarta cresceu em meio ao luxo e fortuna, que seu pai ouviu a profecia de que seu filho se
tornaria um governante poderoso ou seguiria um caminho oposto, abandonando o mundo
por completo, o que aconteceria se fosse permitido que ele testemunhasse o sofrimento do
mundo. O rajá procurou proteger o filho do mundo, mantendo-o entre as muralhas do
palácio e cercando-o de delícias e diversões. Sidarta se casou jovem, com sua prima, e tinha
um harém de lindas dançarinas (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000). Conta uma das
lendas que Sidarta foi gerado no ventre de sua mãe na forma de um pequeno elefante, que
é símbolo da encarnação de Buda.
Contrariando as ordens de seu pai, quando tinha 29 anos, Sidarta saiu do palácio e
viu, pela primeira vez, um velho, um homem doente e um cadáver em decomposição.
Depois viu um asceta com uma expressão radiante de alegria, o que lhe fez constatar que a
vida de riqueza e prazer é vazia e sem sentido. Indagou então: “haverá alguma coisa que
transcenda a velhice, a doença e a morte?”. Tomou-se de compaixão pela humanidade e

5
Fonte: <http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/as-8-maiores-religioes-do-mundo/>. Acesso em:
21 abr. 2022.
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sentiu-se chamado a livrá-la do sofrimento, voltando ao palácio e renunciando para isso sua
vida de príncipe. Sem despedidas, deixou a esposa e o filho, e seguiu para uma vida de
andarilho (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Após deixar a vida de príncipe, conta a lenda
que Sidarta passou a fazer exercícios ascéticos,
comendo cada vez menos, até que conseguiu
sobreviver com apenas um grão de arroz por dia.
Seu objetivo era dominar o sofrimento por meio do
ascetismo e da ioga, mas isso não aconteceu. Foi
então que adotou o “caminho do meio”, buscando a
salvação pela meditação. Aos 35 anos, depois de
seis anos de vida ascética, atingiu a iluminação
(bodhi), no momento em que meditava sob uma
figueira à margem do rio Ganges. Sidarta
transformou-se num Buda (“iluminado”),
percebendo que todo sofrimento do mundo é
causado pelo desejo e que somente a supressão do
mesmo faz com que o ser humano escape de outras
encarnações (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Fonte: https://abre.ai/etaR

Por sete dias e sete noites, Buda ficou embaixo da figueira, compreendendo que a
realidade não é transitória, mas absoluta acima do tempo e espaço, o que o Budismo chama
de nirvana. Ao dominar o desejo de viver, que o prendia à existência, Buda parou de
produzir o carma e de estar sujeito à lei do renascimento. Alcançou a salvação para si
mesmo, abrindo o caminho para abandonar o mundo e entrar no nirvana final. Porém, o
deus Brahma pediu que ele difundisse seus ensinamentos. Buda sentiu compaixão pelos
seres humanos e decidiu “abrir o portão da eternidade” para quem quisesse ouvi-lo, se
tornando assim um guia para a humanidade (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Buda seguiu para a cidade de Benares, centro religioso da época, e fez seu famoso
sermão, o qual contém seus principais ensinamentos. Vários monges mendigos seguiam
Buda, e por mais de quarenta anos ele e seus discípulos/as andaram pelo nordeste da
Índia. Os/as seguidores/as de Buda se dividiam em dois grupos: os/as leigos/as e os
monges e as monjas. Aos 80 anos, Buda adoeceu e se despediu de seus/as discípulos/as,
dizendo-lhes: “Talvez alguns de vós estejam pensando: ‘As palavras do mestre pertencem
ao passado, não temos mais mestre’. Mas não é assim que deveis ver as coisas. O darma

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(instrução) que vos dei deve ser o vosso mestre depois que eu partir” (GAARDER;
HELLERN; NOTAKER, 2000).

2.2.2 Alguns Rituais Sagrados

Com relação ao matrimônio, no Budismo, o casamento não é sagrado, mas um


simples acordo entre as partes, devendo o homem respeitar a mulher, e a mulher cumprir
com os afazeres domésticos. Considera-se menos vantajoso nascer como mulher do que
como homem (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Buda criou a ordem monástica, formada por monges e monjas que deixaram tudo
para trás, seguindo uma conduta mais estrita que a dos/as leigos/as, vivendo de esmolas.
Para um/a leigo/a, dar esmola a um monge ou monja é uma honra. Os mosteiros ficam
próximos às cidades, em determinados dias os/as leigos/as são instruídos/as sobre os
ensinamentos de Buda. Pessoas comuns podem realizar retiros nos mosteiros, meditar e
receber instruções. Em países de devoção budista, como Birmânia e Tailândia, é comum os
meninos passarem um tempo no mosteiro aprendendo budismo (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000).
Na antiguidade, o culto budista era feito com a veneração de relíquias de Buda ou de
outras pessoas santas. As relíquias eram guardadas em pequenos montes de terra (stupas),
que se transformaram com o tempo nas construções em forma de sino ou domo, que
atualmente são chamadas de ‘pagodes’. A partir do século I a.C. passou-se a produzir
imagens e estátuas de Buda, presentes tanto nos templos como nos lares, diante das quais
o/a budista faz sua confissão, “As Três Joias”: Procuro refúgio no Buda; Procuro refúgio nos
ensinamentos; Procuro refúgio na comunidade monástica (GAARDER; HELLERN; NOTAKER,
2000).
Diante das imagens de Buda, os/as budistas colocam incensos, flores e oferendas. A
maior festa religiosa é a que comemora o aniversário de Buda, em abril ou maio, na lua
cheia. Acredita-se que esse também foi o dia da iluminação dele, da entrada no nirvana. E
apesar de Buda não negar a existência dos deuses, pois um deus mesmo o exortou a levar
a mensagem para a humanidade, ele acreditava que a existência dos deuses também é
transitória, e que os mesmos estão atrelados aos renascimentos (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000). “Na arte primitiva, ele não é representado em figura humana, mas
lembrado por símbolos: a árvore da iluminação e da sabedoria e a roda da lei, sinal de
majestade e do encadeamento sem fim das causas e dos efeitos” (SAMUEL, 1997, p. 114).

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2.2.3 Principais Doutrinas

O Budismo se desenvolveu dentro do Hinduísmo como um caminho individual para


salvação, de modo que ambas as religiões têm conceitos comuns: as doutrinas do
renascimento, do carma e da salvação. Para Buda o ser humano é subjugado pelos
renascimentos, sendo que os pensamentos, as palavras e os atos são o que produzem a
dinâmica do ciclo nascimento-morte-renascimento. Por isso, o ser humano colhe aquilo que
plantou, de modo que a lei do carma é vista tanto no Hinduísmo como no Budismo de
forma negativa. A salvação seria a possibilidade de libertação do círculo vicioso de
renascimentos, que separam o ser humano do nirvana. O Budismo tem por objetivo
encontrar a “passagem” por onde atravessar para a outra margem (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000). Entretanto, apesar de compartilhar com o Hinduísmo da ideia do carma, o
Budismo nega a ideia da divisão da sociedade em castas sociais.
Inicialmente, a doutrina budista foi difundida de forma oral, depois por textos, como
os sutras (fios condutores), nos quais Buda fala em primeira pessoa e que são atribuídos a
Ananda, seu discípulo preferido. Alguns autores atribuem ao discípulo Shâriputra a
elaboração da Doutrina da Sabedoria (praj-nã), que expõe de maneira mais sistematizada o
ensinamento de Buda. Apenas no século I a.C. surge na língua pali (falada por Buda) o
texto Tripitaka (três cestos), tido como
primeiro cânon da doutrina budista. Possui
três coleções de livros: Vinaya (regras
monásticas), Sutra (expõe doutrina atribuída
a Buda e a seus discípulos/as), Abhidharma
(dharma explanado). No século II d.C. os
monges do norte da Índia elaboram texto
expondo a doutrina em sânscrito, originando
o cânon sânscrito, que abrange extensa
literatura budista (PIAZZA, 2005).
Fonte: https://abre.ai/etaV
O Budismo rompe com a doutrina hinduísta que acredita que o ser humano tem uma
alma individual eterna (atmã) que sobrevive de uma existência para outra, sendo essa alma
considerada idêntica, de forma total ou parcial, ao espírito universal (Brahman). Para o
Budismo, a alma é fugaz como tudo no mundo, e pensar numa alma individual eterna é
provocar o desejo, e o desejo é a fonte do carma. A vida humana seria uma série
ininterrupta de processos mentais e físicos que modificam o ser humano a cada instante,
sendo que tudo é passageiro (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).

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Em Benares, Buda realiza um sermão apresentando as quatro nobres verdades sobre
o sofrimento: 1. Tudo no mundo é sofrimento; 2. O sofrimento é causado pelo desejo do
ser humano; 3. O sofrimento pode ser levado ao fim quando o desejo acaba, assim pode-se
entrar no nirvana; 4. O ser humano pode se libertar do sofrimento (e do renascimento)
seguindo o caminho das oito vias (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000). O desejo, a
vontade de viver, de existir e de se perpetuar, o medo de perder o que se é, é a causa do
sofrimento (SAMUEL, 1997).
Buda orienta que o ser humano precisa evitar todos os extremos da vida. O caminho
para acabar com o sofrimento é o “caminho do meio”, representado pelas oito vias: 1.
Perfeita compreensão (compreender as verdades sobre o sofrimento e o ensinamento de
que o ser humano não tem alma); 2. Perfeita aspiração (lutar contra o desejo, o ódio e a
luxúria, olhando para Buda como ideal); 3. Perfeita fala (evitar mentiras, intrigas e
conversas vazias, falar de forma verdadeira, amigável e carinhosa, e silenciar quando
preciso); 4. Perfeita conduta (seguir os cinco mandamentos – não matar nenhum ser
vivo, não roubar, não ser sexualmente promíscuo, não mentir e não tomar estimulantes); 5.
Perfeito meio de subsistência (escolher um trabalho que não contrarie nenhum dos
cinco mandamentos); 6. Perfeito esforço (não deixar que pensamentos ou estados de
espírito destrutivos aconteçam, e se acontecer eliminá-los antes que tenham efeitos
concretos); 7. Perfeita atenção (a autocontemplação como meio de controle do corpo e
da mente); 8. Perfeita contemplação (caminho para alcançar a compreensão das “quatro
nobres verdades” e atingir o nirvana) (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
A palavra nirvana significa “apagar” e se refere à extinção do desejo, cujo
combustível é a luxúria, o ódio e a ilusão. O nirvana é visto como algo fora do sofrimento e
descrito em termos negativos, pois não se pode compará-lo a nada da vida cotidiana, sendo
apenas possível dizer o que o nirvana não é. Apenas boas obras não bastam para atingir o
nirvana, é preciso a iluminação. Boas obras levam a bons renascimentos.
Segundo o Budismo, Buda nasceu 547 vezes antes de alcançar o nirvana. O
nirvana consistiria no esgotamento do carma e no rompimento da lei do renascimento,
estágio que pode ser vivenciado aqui e agora. O nirvana final, atingido quando a pessoa
morre, é irreversível, chamado de parinirvana (extinção última e absoluta) (GAARDER;
HELLERN; NOTAKER, 2000).

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Por volta de 380 a.C., devido a divergências entre os/as discípulos/as de Buda, foi
realizado um concílio, que terminou com a divisão entre um grupo mais conservador e outro
mais liberal. Pode-se distinguir duas tendências
principais: Theravada (“a escola dos antigos”),
predominante no Sul da Ásia (Birmânia, Tailândia, Sri
Lanka, Laos e Camboja), que enfatiza a salvação
individual através da meditação e que prega que na
prática somente os monges e as monjas podem atingir
o nirvana; e MahayanaI (“o grande veículo”),
predominante no Norte da Ásia (China, Japão,
Mongólia, Tibet, Coréia e Vietnã), enfatiza a ideia que
uma pessoa pode ser salva de seu carma pelos méritos
alheios, de que é possível conduzir todas as pessoas à
redenção (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Fonte: https://abre.ai/etbh
No Tibet o Budismo se misturou com ideias totêmicas e animistas, dando origem ao
Lamaísmo, no qual Buda é visto como encarnado no chefe Dalai-Lama. No Japão o Budismo
virou Zen-Budismo (WILGES, 1989).
Em relação a realidade das mulheres no Budismo, é interessante destacar que
conforme Buda, “uma monja, ainda que tenha cem anos, deve reverenciar um monge,
levantar-se à sua chegada, saudá-lo com as mãos juntas e honrá-lo, ainda que tenha sido
recebido na ordem nesse mesmo dia” (SAMUEL, 1997, p. 121).

Dica de aprofundamento:

Assista ao Documentário “O Buda - A História de Sidarta”. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=qlY-436lQGo >. Acesso em: 11 mai. 2022.

Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 2 e a


Atividade 2.1.

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UNIDADE 3

O JUDAÍSMO E O ISLAMISMO

OBJETIVO DA UNIDADE: apresentar aos acadêmicos o Judaísmo e o Islamismo,


abordando brevemente alguns elementos que dão consistência a estas religiões
milenares, ambas de origem abraâmicas, isto é, com fundamento em Abraão.

3.1 O Judaísmo

O surgimento do Judaísmo remonta a Abraão e Moisés. Abraão teria vivido


possivelmente por volta do ano 2000 a. C, na Mesopotâmia e migrou para a terra de Canaã,
situada no Mediterrâneo oriental. Moisés, por sua vez, teria vivido por volta de 1140, a. C,
e foi considerado pelos israelitas, como sendo “o primeiro e o maior de todos os profetas”
(COWLING, 1996, p. 282). Contudo, apesar de ambos os personagens serem fundamentais
na religião judaica, podemos afirmar que o surgimento do
judaísmo se deu com “Abraão, que reconheceu Deus
como o Criador do Universo” (HARLEY, 1996, p. 272) e
confiando no Altíssimo “migrou da Ur dos Caldeus para
Canaã” (HARLEY, 1996, p. 272). Segundo o que relata o
livro do Gênesis, Abraão era um homem de profunda fé, e
por ser o primeiro que confiou nas palavras do Deus
verdadeiro, foi considerado o pai do judaísmo.
Fonte: https://abre.ai/etbA
O centro da fé judia, está no monoteísmo, isto é, na crença de que existe um único
Deus, e sendo assim consequentemente rejeita
todas as teorias que insistem em reforçar e O politeísmo é a crença em vários deuses
e o triteísmo é a crença em três deuses
apresentar concepções contrárias a esta, tais distintos.
como o politeísmo e o triteísmo.
A referida religião não possui um credo
Shema Israel: “Ouve, Israel! O Senhor
formal, isto é, doutrinas meticulosamente nosso Deus é o único Senhor. Amarás o
Senhor teu Deus com todo o teu coração,
sistematizadas; porém ela pode ser sintetizada
com toda a tua alma e com todas as tuas
no Shema Israel, que proclama a unicidade forças. E trarás gravadas no teu coração
todas estas palavras que hoje te ordeno”
de Deus e exige a lealdade dos israelitas ao (Dt. 6, 4-6).
Deus verdadeiro. O líder espiritual da
comunidade é o Rabino; sua função é dirigir, pregar educar, aconselhar, etc.

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3.1.2 Os Livros Sagrados

A Bíblia Hebraica é formada por 24 livros, e O número 24 “é um múltiplo de 12, o


é denominada de TANACH, que é um acrônimo, número das Tribos de Israel” (BLECH,
1999, p. 92). Dado que 24 é a soma
uma sigla, formada a partir das palavras Torah, de 12+12, o referido número significa
que “através dos seus livros, os filhos
Neviím e Chetuvím, que se referem as categorias de Israel tornam-se duas vezes o que
nas quais as escrituras são divididas. A primeira são!” (BLECH, 1999, p. 92).

categoria é formada pelos Cinco Livros de Moisés, isto é a Torah; a segunda é composta
pelo Neviím (livros dos profetas) e a terceira pelos Chetuvím (Escritos).
Esta organização foi consolidada a partir de uma decisão “tomada pelas lideranças
rabínicas e eruditas que se reuniram em um sínodo (assembleia) na cidade de Iavne,
aproximadamente no ano 100 E.C” (BLECH, 1999, p. 90). Este modo de organizar a Bíblia
permanece até os dias de hoje e é aceito de forma inquestionável, pois os rabinos que
tomaram tal decisão eram considerados
homens dotados de grande experiência e
respeito. De acordo com o pensamento
judaico, os livros revelados são apenas 24
porque logo após a destruição do segundo
Templo de Jerusalém, “o espírito da profecia
não estava mais garantido pela humanidade”
(BLECH, 1999, p. 90).
Fonte: https://abre.ai/etbF
3.1.2.1 Divisão dos livros Bíblicos

a) A Torah: é composta por cinco livros também chamados de Chumásh e é


considerada como a “comunicação direta entre Deus e o homem” (BLENC, 1999, p.
91). Segundo Wilkinson (2011) “a Torá contém 613 instruções, regulando desde
comida e roupa até rituais e festas” (WILKINSON, 2011, p. 67). Para a tradição
judaica, a Torah foi escrita por um único autor, aproximadamente no século 13 a. C
e é composta pelos seguintes livros: Bereshít, Shemót, Vayikrá, Bamidbar e Devarim.
Os referidos nomes, em hebraico, possuem significados, e se referem a palavra mais
importante que se encontra no primeiro versículo de cada livro. No quadro abaixo,
apresentamos os nomes em hebraico, o seu significado e o assunto que aborda cada
livro.

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Hebraico Versículo da
Tradução Aspectos de Fé
transliterado Torah

Gênesis: relata parte da Criação e do


“No princípio criou
1.Bereshít No princípio da história do mundo, passando
Deus o céu e a
(Gênesis) princípio... pelos patriarcas do povo judeu e pelo
terra”.
começo da história do povo de Israel.

“E estes são os
nomes dos filhos
de Israel que
2.Shemót Êxodo: trata principalmente da saída dos
Nomes... vieram ao Egito
(Êxodo) Judeus do Egito, onde foram escravos.
com Jacob; cada
um com a sua
família veio”.

Levítico: fornece instruções detalhadas


“E chamou a
3.Vaicrá E dos serviços e dos sacrifícios que eram
Moisés e falou-lhe
(Levítico) chamou... realizados pelos levitas, designados para
o Eterno...”
servir o Templo.

“E falou o Eterno a
Moisés no deserto
de Sinai, na tenda
Números: mostra o censo dos judeus no
da reunião, no
4.Bamidbár No deserto e acompanha os acontecimentos
primeiro dia do
(Números) Deserto... que precederam a chegada à Terra
segundo mês, no
Prometida.
segundo ano da
sua saída da terra
do Egito...”
Deuteronômio: consiste em um último e
“Estas são as longo discurso de Moisés ao seu povo, sua
palavras que falou despedida, recapitulando o que ocorrera
5. Devarim
Palavras Moisés a todo aos judeus até então, bem como
(Deuteronômio)
Israe, de além do recordando a aliança feita entre eles e
Jordão.” Deus, que garantiu sua sobrevivência
enquanto povo.
Fonte: BLENC, 1999, p. 75-76

b) Neviím e Chetuvím

O Neviím é composto por oito (08) livros que segundo a tradição judaica, contêm
“comunicações de Deus escritas nas palavras dos próprios autores” (BLENC, 1999, p. 91).
Quanto aos Chetuvím, estes são num total de onze (11) livros que são considerados como
uma “comunicação menos intensa, [entre Deus e o homem] conhecida como presença

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divina” (BLENC, 1999, p. 91). No quadro abaixo, apresentamos os livros que compõem o
Neviím e o Chetuvím.

Neviím Chetuvím

1. Josué 1. Salmos

2. Juízes 2. Provérbios

3. Samuel 1 e 2 3. Jó

4. Reis 1 e 2 4. Cântico dos Cânticos

5. Isaías 5. Rute

6. Jeremias 6. Lamentações

7. Ezequiel 7. Eclesiastes (Cohelet)

8. O Livro dos Doze: Oséias, Joel, Amós, 8. Ester


Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc,
Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

9. Daniel

10. Esdras e Neemias


(considerados como um único
livro).

11. Crônicas 1 e 2.

Além dos livros sagrados que compõem a Torah, o Neviím e o Chetuvím, os judeus
também possuem outros livros que ajudam no conhecimento da Lei, estes são a Mishnah e
o Talmud.

3.1.2.2 Mishnah e o Talmud

A Mishnah é a interpretação da Torah e é composta por comentários, interpretações,


isto é, “as principais opiniões dos escribas e rabinos em assuntos de Lei, obtidas através de
quatro séculos de interpretação da Torah” (HALEY, 1996, p. 290). É caracterizada por
ensinamentos provenientes, de uma das escolas dos fariseus, a Hillel e é composta por
setenta e três tratados, que abordam as Leis sobre “agricultura; festividades estatutárias, o
lugar das mulheres, propriedades e assuntos legais, o templo e o seu equipamento, e a
impureza” (HALEY, 1996, p. 290).

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Quanto ao Talmud, este é composto pelo Mishnah e pela Guemara. Segundo Haley
(1996), “a Gemara é uma combinação de discussões sobre o Mishnah, que se verificam nos
cinco ou seis séculos seguintes a sua publicação” (HARLEY, 1996, p. 290).

3.1.2.3 O local de Culto

Quanto ao local no qual os judeus se reúnem para a oração, este é chamado de


Sinagoga, vocábulo que significa, etimologicamente, reunião, e designa o local para a prece
litúrgica comum. Contudo, esta não é utilizada somente para reuniões litúrgicas, mas
também para formações, tais como o estudo do hebraico e da Torah.
A origem da Sinagoga é incerta, contudo, segundo Harley (1996, p. 273), esta pode
ser datada dos “tempos em que os judeus estavam exilados na Babilônia, depois da queda
de Jerusalém em 586 a. C”. Após a volta do exílio, eles instalaram estas casas de oração e
de ensino, para estudarem a Torah. Harley (1996) aponta que a sinagoga é o ponto de
encontro da comunidade judaica, e a sua liturgia é a expressão ritual da fidelidade do povo
judeu ao Deus impronunciável. Quando falamos que o nome de Deus é impronunciável,
queremos dizer que o nome do Altíssimo não pode ser pronunciado, é uma proibição fazê-
lo.

Sinagoga de Florença
Fonte: sinagoga-de-florenca-fachada-768x583.jpg (768×583) (guiaflorenca.net)

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3.1.2.4 As festas Judaicas

As festas judaicas foram


Calendário lunar-solar: “Quando se completa o
estabelecidas a partir de um ciclo de 19 1\2 dias do ‘aniversário’ da lua nova,
inicia-se um novo mês, celebrado como Rosh
calendário específico do povo judeu, Chódesh (‘cabeça do mês’). O ano lunar é mais curto
do que o ano solar, pois tem 354 dias em vez de 365.
que nas palavras do Rabino Blech
Mas assim, as festividades que têm lugar na
(1999), é um “calendário lunar- primavera correriam o risco de cair nos meses frios
de inverno. O judaísmo segue um calendário lunar-
solar” (BLECH, 1999, p. 145), solar. A lua determina os meses, mas a defasagem de
11 dias entre os dois ciclos é compensada pela adição
composto por 12 ou 13 meses.
de um ‘mês extra’ por sete vezes a cada ciclo de 19
anos [...]. Isso faz com que a discrepância entre os
Tal calendário tem como calendários lunar e solar seja reduzida ao mínimo”
(BLECH, 1999, p. 145).
ponto de partida a criação da espécie
humana, apreciado como “o momento mais importante” no qual “Deus criou Adão, o
primeiro homem, a ‘sua imagem’. Deste modo, o tempo é sagrado tanto para os judeus
como para toda humanidade” (BLECH, 1999, p. 143). Dado que o ponto de partida é a
criação do homem, a contagem do calendário se dá a partir do sexto dia e não a partir do
primeiro, e entendem que “os ‘dias’ bíblicos anteriores à criação do ser humano não eram
os dias que conhecemos; eram períodos diferentes de tempo, estágios no processo de
desenvolvimento do mundo” (BLECH, 1999, p. 143).
É a partir deste calendário lunar-solar, que são estabelecidas as festas religiosas
judaicas, nas quais se comemoram os principais eventos que recordam a história do povo
de Israel, a saber: 1) Rohs Hashanah (Ano Novo Judaico): Lembra a criação divina e
celebra a renovação da Aliança de Deus com Israel; 2) Yom Kippur (O dia da Expiação):
Dia de jejuar e pedir perdão a Deus de seus pecados; 3) Sukkot (A Festa dos
Tabernáculos): Comemora a viagem do Egito à Terra Prometida, quando os Judeus tiveram
que morar em tendas no deserto; 4) Simchat Torah (A Alegria da Lei): Inicia-se um novo
ciclo da leitura da Torah. Comemora-se o dom da Lei. Neste dia lê-se a última parte do livro
do Deuteronômio e inicia-se novamente a leitura da Torah, com os primeiros; 5) Hanukkak
(O Festival das Luzes): Celebra a “vitória de Judas Macabeu sobre os sírios e a
reconsagração do Templo de Jerusalém, no ano de 164 a. C” (HARLEY, 1996, p. 275); 6)
Purim (Sortes): É o Festival que recorda a história da Rainha Ester. “Recorda as sortes
lançadas por Hamã para escolher o dia em que iria destruir todos os judeus do Império
Persa. O Livro de Ester é lido na sinagoga...” (HARLEY, 1996, p. 275); 7) Pesach (Páscoa
Judaica): Lembra a libertação dos Judeus da opressão do Faraó; 8) Shavuot (Pentecostes):
“Comemora a entrega da Torah a Moisés, por Deus, no Monte Sinai” (HARLEY, 1996, p.

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277); 9) No Tishah B’av (Um dia de Pranto): Recorda a destruição do Templo de
Jerusalém pelos Romanos no ano 70 d. C.
Além da observação das festas, os judeus realizam a Prece privada durante três
vezes ao dia, e guardam o sábado, como o dia de descanso.

Dica de aprofundamento:

Assista ao Documentário sobre a origem do Judaísmo. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=LXY3dkszjNY>. Acesso em: 19 maio 2022.

3.2 O Islamismo

O vocábulo Islã provém do árabe Islām, que


significa "submissão (a Deus)". É uma religião
monoteísta que crê “em um só Deus, eterno, criador,
todo-poderoso, que vê e sabe tudo, infinitamente
bom e misericordioso, duro para quem se opõe a ele,
que perdoa a quem lhe pede, mas castiga
severamente os ímpios” (JOEMIER, 1992, p. 68).

Fonte: https://abre.ai/etbR

“Louvado seja Deus, Senhor dos mundos!


O compassivo, o Misericordioso! Rei do dia do julgamento!
Só a ti adoramos e a ti chamamos por ajuda.
Guia-nos no caminho correto, o caminho daqueles para quem fostes benevolente...
Com aqueles com quem não estás irado e que não se perdem”
(CORÃO, sura 1).

3.2.1 Surgimento do Islã

O islã surgiu na Arábia, na cidade de Meca, por volta do ano 610 d.C. e nasceu da
junção de elementos da religião pagã árabe, com aspectos da fé judaica e cristã. De acordo
com WATT (1996), “a religião dominante na Arábia era uma forma da velha religião
semítica, com santuários para vários deuses e deusas em muitos locais” (WATT, 1996, p.
311). Neste contexto pagão, havia a crença em um deus supremo, denominado de Alá, ao
qual tinha submetido a si os demais deuses. Para Watt (1996), “o Islã começou não entre

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os nômades, mas sim entre os habitantes das cidades ocupadas em vastas atividades
comerciais” (WATT, 1996, p. 311).

3.2.2 Fundação e expansão do Islã

O fundador do Islã foi Maomé, que nasceu no ano de 570 d. C; era comerciante e
também adepto da religiosidade local. Porém, em meados de 610, d. C. passou a acreditar
que estava recebendo revelações de Deus, e que deveria transmiti-las aos seus
conterrâneos. Suas inspirações começaram provavelmente
em 610 d.C, quando ao subir no Monte de Hira para os seus
exercícios meditativos, sentiu a presença do anjo Gabriel que
o obrigou a anunciar as palavras de Deus. Segundo Gaarder
(1989) “Maomé foi particularmente influenciado pelo
monoteísmo e pela noção de fim de mundo acompanhado do
juízo final" (GAARDER, 1989, p. 129), noções provavelmente
tomadas do judaísmo e do cristianismo.
Fonte: http://migre.me/i4Mkc

As mensagens que Maomé disse ter recebido


A tradição islâmica relata que o
do Anjo, foram posteriormente compiladas e deram “Corão foi originariamente escrito
em folhas de palmeiras, em
origem ao livro sagrado do Islã, denominado de omoplatas de camelos e em Pedras”.
Após a morte de Maomé em 632, o
Alcorão. Dado que Maomé não era alfabetizado,
califa, Abu Bakr, mandou reunir e
segundo a tradição islâmica, o mesmo foi ditado ordenar os escritos. Contudo a
versão atual do texto foi organizada
pelo profeta ao seu sobrinho Ali e a Zeid. por ordem do Califa Otman, que
mandou destruir as demais versões
Em virtude da novidade da fé trazida por
existentes do corão (WILSON, 1996,
Maomé, e da sua personalidade persuasiva, p. 319).

rapidamente ele conseguiu agregar ao seu redor


Medina era um oásis fértil, mas os
seguidores, que passaram a professar a nova habitantes estavam divididos em
dois grupos hostis. Na sua maior
religião. Sendo assim, no ano de 622 d. C. Maomé e
parte, aceitaram Maomé como
um grupo de setenta seguidores e suas famílias profeta e concordaram em que eles
e os migrantes vindos de Meca
deixaram a cidade de Meca e peregrinaram para a deveriam formar uma única
comunidade ou federação. Talvez
cidade de Medina. Esse deslocamento se deu em
estivessem mais do que prontos
virtude das perseguições que os seguidores de para aceitar Maomé, porque tinham
ouvido dos clãs judaicos locais que
Maomé sofreram na cidade de Meca. Tal se aguardava a chegada de um
peregrinação tornou-se conhecida com o nome de messias. Além disso, estavam
esperançosos de que Maomé os
Hégira, e marcou o início da era islâmica. ajudasse a superar as divisões
(WATT, 1996, p. 312).

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Rapidamente a influência de Maomé cresceu em Medina e após um período de dois
anos ela já tinha consolidado a sua influência na localidade, a ponto de expulsar aqueles
que zombavam dos seus ensinamentos, como foi o caso de dois clãs judeus. Por volta de
630, d. C. Maomé tinha consolidado o seu domínio na região e deflagrou a ocupação da
cidade de Meca. Segundo Watt (1996), durante a ocupação, Maomé “tratou seus inimigos
com generosidade e convenceu a maioria deles a ser mulçumanos. Muitas outras tribos de
toda a Arábia também se incorporaram à sua federação, tornando-se mulçumanos” (WATT,
1996, p. 312). Antes da sua morte, que se deu em 632, Maomé deixou uma religião
organizada; um Estado consolidado em forma de
No contexto do surgimento da nova
federação de tribos e clãs, que se tornava mais forte religião, personagens bíblicos tais
como Moisés e Jesus, passaram a
à medida que crescia.
ser considerados profetas que
falaram em nome de Deus, porém
3.2.3 Divisões no islã: Sunitas e Xiitas não revelaram a vontade completa
de Deus. Sendo assim, a revelação
Após a morte do profeta Maomé em 623 d. divina na sua plenitude se deu com
o Profeta Maomé, sendo Alá o único
C, o islã sofreu divisões teológicas, que conduziram Deus verdadeiro.
a divisões políticas em seu seio e prejudicaram a
unidade da religião nascente. O conflito surgiu porque o Profeta não deixou prescrito como
deveria ser a organização do Islã após sua morte. Sendo assim, surgiram dois grupos que
tinham ideias divergentes sobre a condução da religião. De um lado estavam os Xiitas (Shiat
Ali, isto é, o partido de Ali), que eram um grupo minoritário e postulavam que a linhagem
profética fosse continuada pela família de Maomé e apontavam como sucessor do Profeta, o
seu genro, Ali ibn Abi Talib, casado com Fátima, a filha de Maomé. De outro estavam os
Sunitas (vocábulo oriundo do termo Ahl al Sunna), que defendiam que qualquer pessoa
poderia suceder ao Profeta, desde que este fosse aceito pela comunidade.
Na disputa, venceram os sunitas que elegeram Abu Bakr, um antigo amigo do
Profeta, que passou a utilizar o título de Khalifa, palavra que combina a ideia de sucessor e
representante do Profeta. Naturalmente os xiitas protestaram, pois argumentavam que o
sucessor legítimo era Ali ibn Abi Talib. Antes de morrer, no ano de 634, Abu Bakr apontou
como seu sucessor Umar ibn Al-Khatab, que durante o seu governo expandiu o islã por
grande parte do mundo antigo.

3.2.4 Os cinco Pilares da religião Islâmica

A Religião estruturada por Maomé e seus seguidores tem como centro cinco
obrigações que se consolidaram nos pilares que sustentam o islamismo.

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O primeiro pilar é a profissão de fé, o credo, que
afirma: “não há outro Deus senão Alá e Maomé é seu
profeta”; o segundo é a oração, proferida cinco vezes ao
dia; o terceiro é a caridade, que se centra em uma taxa
derivada das riquezas adquiridas; o quarto é a
peregrinação a Meca, que deve ser realizada pelo
mulçumano adulto, pelo menos uma vez durante a vida; e
por fim o jejum, realizado no mês do Ramadan, que
consiste na abstenção de alguns elementos que causam
Profeta Maomé
prazer. Fonte: http://migre.me/iTohB

3.2.5 Festividades Islâmicas


Dado que é um calendário lunar, os meses
islâmicos não estão ligados às estações do
As festividades islâmicas são baseadas ano, fato que leva as festividades
mulçumanas a não terem épocas fixas,
no Calendário Lunar, introduzido pela primeira podendo estas cair no verão ou no inverno.
vez no ano 638 d.C pelo [...] segundo califa,
'Umar ibn al-Khattab (592-644 d.C)” (MUHANNA, 2014). Tal decisão foi tomada visando
organizar em um único calendário, os vários sistemas de datas utilizados na época. Para
início do calendário islâmico, foi tomado como data significativa a Hijra ou Hégira, isto é, o
dia em que Maomé migrou de Meca para Medina, sendo esta data convencionada como
sendo o dia 1º do primeiro mês do ano islâmico.
A partir de então foram sendo definidas as festas religiosas importantes da vida dos
fiéis. Tais festividades estão ligadas a acontecimentos da vida do Profeta Maomé e
principalmente relacionadas aos cinco pilares da Fé islâmica. Seguindo as orientações de
Kerr (1996, p. 324), apontamos, abaixo, as principais festas islâmicas e seus significados.

Festividades Significado

Dia 1º do mês de MuHarram, celebra-se o dia da Hégira (Ano


Ano Novo, dia da Hégira Novo Islâmico). Nesta data celebra-se a partida de Maomé de
Meca para Medina, no ano 622 d. C.

Celebra-se o dia em que Maomé nasceu. Nesta ocasião pode


O Nascimento do Profeta
haver procissões e as casas são enfeitadas.

Comemora a viagem noturna do Profeta Maomé, de Meca a


Ascensão do Profeta
Jerusalém e depois sua ascensão ao céu.

Ramadã Durante todo o mês de Ramadan, os maometanos se abstêm

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de comida e bebida durante o dia.

A noite do Poder Festividade que comemora a Revelação do Corão a Maomé.

Festa que marca o fim do Ramadã. Nesta ocasião são dadas


Fim do Ramadã
ofertas às crianças e aos pobres.

Mês da Peregrinação Acontece a grande peregrinação (Hajj) à cidade de Meca.

Os peregrinos mulçumanos vão ao monte Arafat e são


O Dia de Arafá
estimulados a jejuar.

Festa do sacrifício que dura quatro dias e coincide com o fim


A Festividade do
da Peregrinação à Meca. Neste dia são realizados sacrifícios de
Sacrifício
animais e a carne doada aos mais pobres.

Dicas de aprofundamento

Assista ao Documentário “Islã: O Império da Fé”. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=uAohnpLGPU4>. Acesso em: 11 maio 2022.

Veja a lista das Mesquitas mais antigas. Disponível em:


<https://stringfixer.com/pt/List_of_the_oldest_mosques>. Acesso em: 11 mai. 2022.

Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 3.1.

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UNIDADE 4

O CRISTIANISMO E SUAS RAMIFICAÇÕES


OBJETIVO DA UNIDADE: apresentar aos acadêmicos alguns elementos que
contribuíram para a formação das diversas tradições cristãs.

4.1 Surgimento do Cristianismo

O Cristianismo surgiu no seio do Judaísmo e foi dentro dele que se estabilizou.


Inicialmente nasceu como um movimento (BARROS, 1996, p. 73), uma seita, que aos
poucos foi ganhando notoriedade e se transformou em uma religião independente.
Os primeiros a aderirem à religião cristã
foram os próprios judeus. Assim o fizeram, pois
acreditavam que Jesus era o Messias que o povo
judeu espera há muitos anos. Porém, ao aderirem
à fé em Jesus, estes judeus não pensavam em
romper com o judaísmo oficial da época. Eles
queriam acreditar em Jesus e continuar sendo
judeus; “queriam continuar indo ao templo, como
Pedro e João iam diariamente” (BARROS, 1995,
p.73). Eles “frequentavam a sinagoga e eram
discípulos de Jesus” (BARROS, 1995, p.73) e
acreditavam que [...] com a ressurreição de Jesus
começaram os últimos tempos (o dia do Senhor)
(BARROS, 1995, p. 73).
Fonte: https://abre.ai/etb3
Porém, o conflito foi inevitável! Grande
Messias significa em sentido literal,
parte dos judeus não aceitava Jesus como o ‘ungido’, fazendo memória a forma com
que os reis em Israel eram sagrados.
Messias de Israel e isso levou a uma cisão Em grego compreende-se, a palavra
dentro do judaísmo oficial. De um lado ficaram Messias como Christos, ou seja, aquele
que viria como prometido. Essa
aqueles que acreditavam em Jesus e foram terminologia segundo os evangelhos,
possivelmente não foi atribuída a Jesus
denominados de cristãos. De outro, os judeus,
por si mesmo, mas provavelmente por
que continuaram a professar a mesma fé de seus discípulos que reconheceram nele
as características messiânicas.
sempre e continuaram a esperar a vinda do
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Messias. Para solucionar tal conflito, as autoridades judias da época expulsaram do
judaísmo oficial aqueles judeus que acreditavam em Jesus. Sendo assim, a partir da
expulsão dos cristãos, do seio do judaísmo, estes foram obrigados a refletirem e a
pensarem o cristianismo como algo à parte, independente.

4.2 Quem foi Jesus de Nazaré?

De acordo com Gaarder (2001), Jesus nasceu antes da morte do Rei Herodes,
provavelmente por volta do ano 749 da era romana. Era um Judeu, “e na época de sua
juventude o reino judaico estava sobre o controle direto de um oficial do Império romano”.
De acordo com Gaarder (2001), ao se tornar adulto, “Jesus se tornou um profeta itinerante,
baseando suas ideias nas escrituras judaicas”, porém sua perspectiva ensejava uma nova
doutrina, que ia além das escrituras judias.
Como consequência da sua atividade profética, Crucificação ou crucifixão foi um
método de execução cruel utilizado
Jesus foi perseguido e condenado a morte no ano 29 na Antiguidade e comum tanto
em Roma quanto em Cartago.
ou 30. Seu sentenciador foi o alto funcionário romano,
Abolido no século IV,
chamado Pôncio Pilatos, que o mandou executar por Constantino, consistia em
torturar o condenado e obrigá-lo a
mediante a pena de crucificação (GAARDE, 2001, p. levar até o local do suplício a barra
horizontal da cruz, onde já se
154). A acusação que pesou sobre Jesus, foi a de que
encontrava a parte vertical cravada
ele se considerava Deus. Entretanto, Gaarde (2001) no chão. De braços abertos, o
condenado era pregado na madeira
aponta que o fato preponderante que levou Pilatos a pelos pulsos e pelos pés e morria,
sentenciar Jesus foi de ordem política, isto é, Jesus depois de horas de exaustão, [o
condenado morria] por asfixia e
comprometeu a estabilidade da dominação Romana parada cardíaca (a cabeça pendida
sobre o peito dificultava sobremodo
em Israel. Por quê? a respiração) (ENCICLOPÉDIA
Porque a pregação de Jesus atraia muita gente BARSA, 1994, p. 111).

e os Romanos temiam que Ele incitasse a multidão a revoltar-se contra a dominação


romana. Se Jesus fizesse isso, evidentemente provocaria um enfraquecimento do poder
romano em Israel. Por isso, para evitar problemas políticos e sociais, as autoridades
romanas agiram rápido e incitados por alguns líderes judeus, decidiram eliminar Jesus!

Para os Romanos, Jesus era uma ameaça política; para os Judeus, era
um herege que se dizia igual a Deus, e para os seus seguidores, Jesus era o
Filho de Deus que se fez Homem, para salvar os homens.

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4.3 Profissão de Fé

Após a difusão da fé em Jesus, a expulsão dos cristãos do judaísmo Oficial e a


criação de diversas comunidades, surgiu a necessidade de se formular um Credo que
especificasse de forma clara a fé dos cristãos. Tais providências foram necessárias para não
deixar com que a Fé em Jesus se confundisse com as diversas religiões pagãs que existiam
na época e para precaver possíveis cisões nas comunidades locais (GAARDER, 2001, p.
164).
A definição dos princípios fundamentais da Fé em Jesus tornou-se de suma
importância, também para consolidar as comunidades nascentes e para evitar a difusão de
heresias, isto é, de doutrinas que transmitiam ideias errôneas sobre a pessoa do Messias.
Foi nesse cenário que surgiram os primeiros dogmas do cristianismo, definidos nos
Concílios de Nicéia (325), Éfeso (431), Calcedônia
Os Concílios eram grandes
(451), Constantinopla III (681) e que refutaram reuniões organizadas pela Igreja ou
pelo Imperador, que tinha por
diversas heresias. Na Tabela abaixo, apresentamos
objetivo sanar problemas de ordem
os conteúdos doutrinários que definiu cada Concílio e doutrinária e política.

a heresia que cada um refutou.

Fonte: http://migre.me/iYE6Q

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CONCÍLIOS QUE DEFINIRAM A FÉ EM JESUS CRISTO
Concílios Heresias
Concílio de Nicéia: No ano de 325, sob o Heresia Ariana: Os arianos surgiram no
pontificado de Silvestre I, o imperador século IV com Ário, que ensinava que o Filho
Constantino convocou o Concílio de Nicéia do era criatura de Deus Pai, foi criado e não
qual participaram 330 bispos, e presidiu-o gerado, e que tinha sua natureza diferente da
Ósio, bispo conselheiro de Constantino. do Pai. O Criador era entendido como uma
Diante da heresia Ariana, o Concílio definiu a entidade angélica que poderia ser chamado de
divindade de Jesus, que é consubstancial ao Deus apenas num sentido impróprio.
Pai, da mesma substância, exprimindo a Negavam a consubstancialidade do Filho com o
igualdade entre o Pai e o Filho, enquanto Pai.
ambos são o único e mesmo Deus. Definiu-se
que o Filho é gerado e único, da mesma
substância do Pai, não foi criado, é ingênito e
Ele mesmo se encarnou e se fez homem, Ele
mesmo sofreu, morreu e ressuscitou ao
terceiro dia, subiu ao céu e virá como juiz dos
vivos e dos mortos.
Concílio de Éfeso: O Concílio de Éfeso foi Heresia Nestoriana: Esta heresia teve como
convocado no ano de 431, sob o pontificado seus expoentes principais Diodoro de Tarso e
de Celestino I, para redimir o problema Teodoro de Mopsuéstia; eles afirmavam que
suscitado pela heresia Nestoriana. Nestório em Cristo havia uma dupla personalidade: a do
era patriarca de Constantinopla e “proibiu o homem e a do Verbo, que estavam unidas, de
culto a Maria ‘Mãe de Deus’, afirmando que modo que diziam que o Verbo habitava em
ela foi mãe só de Cristo enquanto homem” Jesus. Nestório via em Cristo uma pessoa
(GONZALES, 1992, p. 279). Com isto Nestório humana unida à pessoa divina do Filho de
negava a divindade de Jesus. Contra esta Deus, sendo assim diz que Maria não é a mãe
heresia o Concílio declarou Maria como Mãe de Deus [Theotókos], mas simplesmente mãe
de Deus e falou de uma misteriosa união das do homem Jesus [Cristotókos].
duas naturezas em Cristo, posteriormente
chamada de união hipostática. O Concílio
definiu que em Jesus, Deus assumiu
realmente uma carne humana, de modo que
a relação entre Deus e Jesus é real no sentido
de que Deus assumiu a humanidade sem
excluir de modo algum a divindade.
Concílio de Calcedônia: No ano de 451, Heresia Monofisista: Surgiu com Eutiques,
sendo Papa Leão I, o imperador Marciano monge em Constantinopla. Afirmava as duas
convocou o Concílio de Calcedônia para bem naturezas de Cristo antes da encarnação,
definir a doutrina sobre quem de fato é Jesus porém quando encarnado dizia que em Cristo
para a Igreja, e combater a heresia preponderava apenas a natureza divina, de
Monofisista de Eutiques, que dizia que em modo que a humanidade de Jesus, após a
Jesus havia apenas a natureza divina, pois a encarnação, ficou dissolvida na sua divindade.
humana havia ficado dissolvida na sua
divindade. Contra isso, o Concílio de
Calcedônia definiu a existência de duas
naturezas em Cristo, perfeitamente Deus e
perfeitamente homem, duas naturezas
inequívocas não mescladas, “divina e
humana, sem confusão, sem divisão e nem
separação” (GONZÁLES, 1992, p. 279).
Concílio de Constantinopla III: Em 681 a Heresia Monotelista: Heresia propagada
Igreja convocou o Concílio de Constantinopla pelo patriarca Sérgio de Constantinopla e
III, sob a orientação do Papa Agatão e foi alguns bispos que não aceitaram o Concílio de
presidido pelo imperador Constantino IV, para Calcedônia. Na tentativa de reconciliar os

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pôr fim a heresia monotelista. Contra os bispos monofisitas, o Patriarca Sérgio propôs
hereges o Concílio ensinou que Cristo quis a uma fórmula que pretensamente poderia
nossa salvação com suas duas vontades agradar a todos: “Jesus Cristo tem em si duas
naturais, e definiu que a vontade humana de naturezas; mas atua com uma só vontade, a
Cristo está em plena conformidade com a divina”.
divina, que há uma única pessoa, duas
naturezas e duas vontades. A intenção latente
deste Concílio “era de salvaguardar a plena e
explícita vontade humana de Jesus, que era
precisamente o que desprezavam os
monofisistas” (GONZÁLES, 1992, p. 310).

4.4 As ramificações do Cristianismo

Desde a sua fundação, o Cristianismo


“Os vários ramos da Igreja cristã devem sua
foi marcado por uma diversidade de povos e existência a três crises históricas. A primeira
foi a cisão do cristianismo católico do Oriente
culturas, que obviamente geraram diferentes no século V. A segunda foi o chamado
expressões da fé cristã e consequentemente ‘grande cisma’ entre Ocidente e Oriente, em
geral datado de 1054 e que resultou na
produziram conflitos entre as comunidades. divisão entre o cristianismo ‘católico’ e o
‘ortodoxo’. A terceira foi a Reforma no século
Neste contexto, as autoridades cristãs XVI, que, junto com suas consequências nos
tentavam sanar as dificuldades por meio dos séculos XVII e XVIII deixaram como herança
o protestantismo e suas várias formas”
Concílios, porém nem sempre obtinham (SADGROVE, 1996, p. 362).
sucesso, pois quase sempre estavam em
jogo fatores doutrinários, culturais e políticos.
Geralmente os grupos mais fortes impunham a sua visão doutrinária aos grupos
menores, e a estes restava acatar a decisão da maioria ou manterem-se à margem das
comunidades maiores, porém quase sempre enfrentando a pressão das grandes
comunidades.
Quando os grupos menores não aderiam a ideia da maioria, estes rompiam a
comunhão com a Igreja Oficial e constituíam comunidades autônomas, governadas por um
clero também autônomo. Neste contexto de discordâncias teológicas e políticas, surgiram as
primeiras rupturas no cristianismo nascente.
No que se refere às comunidades cristãs do mundo antigo, Barros (1995) aponta
que elas eram organizadas por patriarcados e eram as Igrejas mães que fundavam outras
na mesma região. “Assim, havia a Igreja de Jerusalém, de Antioquia, de Alexandria, de
Roma e, depois, de Constantinopla” (BARROS, 1995, p. 76). Segundo o referido autor,
desde “muito cedo estas Igrejas irmãs se desentenderam” (BARROS, 1995, p. 76).
No quadro abaixo apontamos algumas divisões que ocorrem no primeiro milênio do
cristianismo:

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ALGUMAS DIVISÕES NO PRIMEIRO MILÊNIO CRISTÃO

Comunidade Ano Observações

“Proclamou a independência de
qualquer autoridade exterior e
Igreja Oriental da Pérsia 424 d. C
afirmou sua lealdade ao império
persa” (BARROS, 1995, p. 77).

Separou-se das demais


comunidades, sendo acusada pela
Igreja da Síria 450 d. C
Igreja de Roma, de professar o
Monofisismo.

De acordo com Sadgrove (1996), as igrejas do Oriente se dividiram principalmente


após o Concílio de Éfeso em 431 e o Concílio de Calcedônia em 451. Deste período data “a
Igreja Nestoriana, centralizada historicamente na Pérsia, e as igrejas monofisistas, como a
da Síria, do Egito e da Etiópia”. Em resumo, o autor aponta que dentre as Igrejas do
Oriente, “incluem-se as igrejas ortodoxas, junto com as que com estas dividem um etos
espiritual e cultural derivado do Império Bizantino” (SADGROVE, 1996, p. 362).
Vale ressaltar que dentro do universo religioso das Igrejas Orientais, no decorrer dos
séculos, algumas aderiram a Igreja Católica Romana, apesar de continuarem a manter a
própria Tradição Litúrgica e eclesiástica.

Dica de aprofundamento

Para aprofundar os seus conhecimentos sobre as Igrejas Orientais, atualmente


unidas a Igreja Católica Romana, acesse: < https://fasbam.edu.br/2019/12/11/que-
sao-as-igrejas-catolicas-orientais/ Acesso em: 11 maio 2022.

Na sequência dos fatos, apontamos o


A palavra ‘Cisma’ do grego skisma,
Cisma entre oriente e ocidente que aconteceu no significa fenda, separação. Foi
traduzida para o latim como
ano de 1054, segundo milênio da era cristã. Para schisma, com o sentido de
Barros (1995), o problema foi de disputa de poder dissidência religiosa, separação de
uma determinada religião.
entre os bispos de ambos os lugares. “É importante
salientar que tanto as Igrejas do Oriente como do Ocidente caíram neste pecado, ambas se
deixaram atrelar demais pelo Estado” (BARROS, 1995, p. 78). Segundo o referido autor, tais

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desentendimentos “duraram séculos e acabaram provocando uma excomunhão mútua entre
a Igreja de Roma e a de Constantinopla, junto com todas as Igrejas ortodoxas do Oriente a
ela ligadas. [...] A partir daí o cristianismo do Oriente seguiu um caminho, e o do Ocidente
outro” (BARROS, 1995, p. 78).

Dica de aprofundamento

Para aprofundar os motivos que levaram a divisão entre Ocidente e Oriente


acesse:<http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/igreja_ortodoxa/a_igreja_ortodoxa_hist
oria7.html> Acesso em: 11 maio 2022.

4.4.1 A Reforma Protestante

A partir do cisma de 1054, a Igreja de Roma se concentrou em manter a unidade


mediante a uniformidade de doutrinas e ritos litúrgicos. No Ocidente, ela manteve-se
consideravelmente estável até a Reforma Protestante, desencadeada pelo padre Martinho
Lutero no período de 1517 a 1521.
Padre Lutero baseou a sua fé em três pontos fundamentais: a autoridade suprema
da Sagrada Escritura; a justificação somente pela fé; o sacerdócio universal de todas as
pessoas batizadas. Esses pressupostos teológicos não eram aceitos pelas autoridades
eclesiásticas da época e, sendo assim, provocaram grandes conflitos teológicos. Com a
adoção da Sagrada Escritura como centro de tudo, Lutero acabou eliminando os principais
pilares do Cristianismo Católico: a Tradição e o Magistério, pontos basilares da Doutrina
Católica.
A partir do movimento de Reforma desencadeado por Lutero, vários outros
reformistas continuaram a criar seus postulados e a fundar comunidades independentes
dentro do mundo Protestante. Dentre eles destacamos: João Calvino e Ulrico Zuínglio.

Dica de aprofundamento

Para aprofundar seus conhecimentos sobre os Reformistas do Século XVI acesse:


< https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/reforma-protestante/a-reforma-
protestante-do-seculo-xvi/> Acesso em: 11 mai. 2022.

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4.4.1.2 Igrejas da Reforma

O movimento protestante impulsionou o surgimento de diversas Igrejas, que muitas


vezes divergiam entre si e entravam em conflito para a conquista de fieis. Seguindo o
pensamento de Sadgrove (1996, p. 362-364), abaixo, apresentamos as principais tradições
eclesiais que surgiram a partir deste contexto:

a) A Igreja Anglicana: No ano de 1530, o Rei Henrique VIII rompeu com o Papa e
se autoproclamou chefe da Igreja Inglesa. A partir de então, o soberano da Inglaterra
tornou-se o chefe da Igreja Anglicana. De acordo com Wilkinson (2011) “inicialmente a
Igreja Anglicana manteve muitas características do catolicismo, inclusive a estrutura de
bispos e padres e grande parte do ritual” (WILKINSON, 2011, p. 110). Contudo, com o
passar do tempo “sofreu a influência dos reformadores protestantes” (WILKINSON, 2011, p.
110), a tal ponto de perder diversas características católicas. Vale ressaltar que,
inicialmente, a Igreja Anglicana surgiu por disputas políticas entre o Vaticano e a Inglaterra,
não estando tais questões diretamente ligadas às ideias protestantes. Contudo, dado as
circunstancias da época, rapidamente a corrente protestante penetrou no seio do
anglicanismo.

b) As Igrejas Luteranas: tais comunidades se configuraram no principal ramo do


protestantismo na Alemanha e na Escandinávia e dado a sua expansão em diversos países,
atualmente são representadas pela Federação Luterana Mundial. Sua base doutrinária foi
consolidada na confissão de Augsburgo em 1530. De acordo com Sadgrove (1996) “algumas
igrejas luteranas mantiveram o mistério da Trindade [...], enquanto outras são mais
presbiterianas ou congregacionistas” (SADGROVE, 1996, p. 363).

c) As Igrejas Reformadas: as Igrejas da Reforma surgiram a partir da influência


do pensamento Teológico de João Calvino (1509-1564), que tomando como base os
princípios doutrinários de Lutero, “aplicaram-nos de modo mais radical” (SADGROVE, 1996,
p. 363). Segundo Sadgrove (1996), tais Igrejas possuem basicamente duas formas
eclesiásticas de organização: 1) A primeira é denominada de Presbiteriana, que é formada
pelas “igrejas locais agrupadas sob o comando de um sínodo regional de presbíteros
ordenados e decanos leigos” (SADGROVE, 1996, p. 363); 2) A segunda forma é chamada de
Congregacionista, que são “igrejas locais como congregações independentes,
responsáveis por sua vida e sua ordem” (SADGROVE, 1996, p. 363).

De acordo com Sadgrove (1996), com a evolução do Protestantismo, surgiram


diversas outras comunidades nos séculos posteriores a Reforma Protestante, isto é, as
chamadas Igrejas Livres, as Igrejas Batistas, as Igrejas Metodistas, dentre outras.
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Observação: As diversas ramificações cristãs não foram aprofundadas nesta unidade,
dado que este tema deve ser retomado na disciplina de História da Igreja e na
Disciplina de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso.

No gráfico abaixo, é possível observar, de forma resumida, as principais


fragmentações que a Igreja de Cristo foi sofrendo no decorrer dos séculos, vejamos:

Fonte: Sadgrove, 1996, p. 363.

Conforme se observar no gráfico anterior, o único ramo que permaneceu


relativamente uniforme após o Cisma de 1054 e a Reforma Protestante, foi o Católico
Romano. Todos os demais produziram diversas Igrejas, com várias doutrinas comuns, mas
também grande diversidade de crenças e estruturas eclesiásticas. O que dizer das diversas
ramificações do Cristianismo? A resposta é complexa, porém pode ser resumida da seguinte
forma: na busca de encontrar a verdade sobre Jesus, os cristãos deixaram se condicionar
pelas diferenças culturais e pelos problemas políticos, e em nome da Fé em Cristo se

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dividiram ao invés de buscarem a solução para os diversos problemas existentes nas
comunidades.

Para finalizar seu estudo, realize o Exercício 3 e a


Atividade 4.1.

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REFERÊNCIAS

BACH, Marcus. As Grandes Religiões do Mundo: origens, crenças e desenvolvimento.


Tradução de Marli Berg. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

BARROS, Marcelo. O sonho da paz: a unidade nas diferenças: ecumenismo religioso e o


diálogo entre os povos. Petrópolis: Vozes, 1995.

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução de Mauro Gama,


Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BERGER, Peter. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião.
Tradução de José Carlos Barcellos. São Paulo: Paulinas, 1985.

BLECH, Rabino Benjamin. Judaísmo. São Paulo: Editora Sêfer, 2004.

BOURDIEU, Pierre. A Economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva,
1998.

CAZENEUVE, Jean. Sociologia do rito. Porto: Rès, s/d.

COWLING, Geoffrey. Desenvolvimento do Judaísmo. In. VV. AA. As Religiões do Mundo:


do primitivismo ao século XX. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.

______. O sagrado e o profano. Tradução de Rogério Fernandes. São Paulo: Martins


Fontes, 1992.

ENCICLOPÉDIA BARSA. Editora Encyclopaedia Britannica Consultoria Editorial Ltda.


"Crucifixão", São Paulo (1994).

GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O Livro das Religiões. Tradução
de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia de Letras, 2000.

GONZÁLES, C. Ignacio. Ele é a nossa Salvação. São Paulo: Loyola, 1992.

HARLEY, David. O Povo eleito: Judaísmo. In. VV. AA. As Religiões do Mundo: do
primitivismo ao século XX. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

JOMIER. Jacques. Islamismo: História e doutrina. Trad. Luiz João Baraúna. Petrópolis:
Vozes, 1992.

KEPEL, Gilles. La revancha de Dios. Salamanca: Anaya & Mario Muchnik, 1995.

KERR, David. O Culto do Islão. As Religiões do Mundo: do primitivismo ao século XX. São
Paulo: Melhoramentos, 1996.

MALINOWSKI, Bronislaw. Magia, ciência e religião. Tradução de Maria Georgina


Segurado. Lisboa: 70, 1988.

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O’DEA, Thomas F. Sociologia da religião. Tradução de Dante Moreira Leite. São Paulo:
Pioneira, 1969.

OTTO, Rudolf. O sagrado. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1985.

PIAZZA, Waldomiro O. Religiões da Humanidade. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2005.

RIVIÈRE, Claude. Os ritos profanos. Petrópolis: Vozes, 1996.

ROCHER, Guy. Sociologia Geral 1. Tradução de Ana Ravara. Lisboa: Editorial Presença,
1971.

SADGROVE, Michael. Ramificações da Igreja. In. VV. AA. As Religiões do Mundo: do


primitivismo ao século XX. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

SAMUEL, Albert. As Religiões Hoje. Tradução de Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1997.

SIQUEIRA, Deis. A labiríntica busca religiosa na atualidade: crenças e práticas místico-


esotéricas na capital do Brasil. In: SIQUEIRA, Deis; LIMA, Ricardo Barbosa de (Orgs.).
Sociologia das adesões: novas religiosidades e a busca místico-esotérica na capital do
Brasil. Rio de Janeiro: Vieira e Garamond, 2003.

SIQUEIRA, Deis. Novas religiosidades, estilo de vida e sincretismo religioso. In: SIQUEIRA,
Deis; LIMA, Ricardo Barbosa de (Orgs.). Sociologia das adesões: novas religiosidades e a
busca místico-esotérica na capital do Brasil. Rio de Janeiro: Vieira e Garamond, 2003.
[2003a]

WACH, Joachim. Sociologia da religião. Tradução de Atílio Cancian. São Paulo: Paulinas,
1990.

WATT, Montgomery. Islã: O caminho do Profeta. In. VV. AA. As Religiões do Mundo: do
primitivismo ao século XX. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

WEBER, Max. Economia e sociedade. Tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe


Barbosa. Brasília: UNB, 1991, Vol. 1.

WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões no mundo. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1989.

WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

WILSON, Christy. Corão. As Religiões do Mundo: do primitivismo ao século XX. São


Paulo: Melhoramentos, 1996.

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EXERCÍCIOS E ATIVIDADES

EXERCÍCIO 1

1. Em relação à religião, assinale a alternativa correta:


a) O fundamentalismo religioso é uma prática de respeito à diferença.
b) Etimologicamente, vem do latim e pode significar re-leger (re-ler), re-ligare (re-ligar) ou
re-eligiere (re-eleger).
c) A religião é um conjunto de crenças, lei e ritos, que não influenciam as relações sociais.
d) A religião tem uma única forma e significado.

2. Sobre o fenômeno religioso é INCORRETO afirmar:


a) O fenômeno religioso refere-se a manifestações, no âmbito da experiência religiosa,
carregadas de significado.
b) Os elementos que compõem o fenômeno religioso são o sagrado, os mitos, os símbolos e
os ritos.
c) O sagrado é um elemento do fenômeno religioso saturado de significado.
d) A hierofania significa a manifestação do sagrado que torna espaços qualitativamente
profanos.

3. Relacione as duas colunas e escolha a sequência correta:


I. Símbolos Profano
II. Ritos Narrativa
III. Sagrado Padronização
IV. Mitos Mensagem

Escolha a sequência correta:


a) I / IV / II / III
b) II / I / III / IV
c) III / IV / II / I
d) IV / III / I / II

4. Analise os enunciados a seguir:


I. As religiões afro-brasileiras são espaço de preservação da memória e identidade da
população negra.
II. As duas maiores expressões religiosas afro-brasileiras são o Candomblé e a Umbanda.
III. As religiões afro-brasileiras sempre foram respeitadas e nunca sofreram discriminação

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de espécie alguma.
a) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
b) Apenas os enunciados I e III estão corretos.
c) Apenas os enunciados III e II estão corretos.
d) Todos os enunciados estão corretos.

5. Assinale a alternativa INCORRETA:


a) Por secularização entende-se o aumento de influência da religião sobre a vida social.
b) O neopentecostalismo enfatiza o êxtase, a glossolalia, o exorcismo, o milagre e os
resultados imediatos.
c) O Pentecostalismo faz referência à experiência cristã de Pentecostes, a práticas atuais de
êxtase espiritual e a cultos carregados de emoção.
d) Os novos movimentos religiosos podem ter como características o retorno ao passado, o
sincretismo e/ou o fundamentalismo.

Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de


Aprendizagem.

ATIVIDADE 1.1

Faça uma pesquisa e resumo (máximo 10 linhas) sobre a Declaração Universal


dos Direitos Humanos (1948), destacando o que ela enfatiza sobre a religião.
Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>.
Acesso em: 21 abr. 2022.

Submeta a atividade por meio da Ferramenta Tarefa.

EXERCÍCIO 2

1. Assinale a alternativa INCORRETA:


a) O Budismo nasce dentro do Hinduísmo como um caminho individual de salvação.
b) O Budismo compartilha com o Hinduísmo a ideia de castas sociais.
c) O Budismo e Hinduísmo têm em comum as doutrinas de renascimento, carma e salvação.
d) O Budismo aponta três caminhos para se libertar do ciclo de reencarnações: sacrifício,
conhecimento e devoção.

2. Analise os enunciados a seguir:


I. Para o Budismo, a vida humana seria uma série ininterrupta de processos mentais e
físicos que modificam o ser humano a cada instante, sendo que tudo é passageiro.

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II. Na antiguidade, o culto budista era feito com a veneração de relíquias de Buda ou de
outras pessoas santas.
III. A maior festa religiosa do Budismo, é a que comemora o aniversário de Buda, e ocorre
em abril ou maio, na lua cheia.
a) Apenas os enunciados II e III estão corretos.
b) Apenas os enunciados I e III estão corretos.
c) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
d) Todos os enunciados estão corretos.

3. Analise os enunciados a seguir em relação ao Hinduísmo:


I. O Brahman é o conceito de divindade, superior e afastada da realidade terrena.
II. O Hinduísmo caracteriza-se pela crença no sistema de castas, no carma e na vaca como
sagrada.
III. A Constituição Indiana de 1947 estabelece medidas contra o preconceito e a
discriminação por casta.
a) Apenas os enunciados II e III estão corretos.
b) Apenas os enunciados I e III estão corretos.
c) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
d) Todos os enunciados estão corretos.

4. Para acabar com o sofrimento, Buda aponta o “caminho do meio” que se dá em


oito vias. Relacione as duas colunas e escolha a sequência correta:
I. Perfeita Compreensão Caminho para atingir o nirvana.
II. Perfeita Aspiração Lutar contra o desejo.
III. Perfeita Fala Verdades sobre o sofrimento.
IV. Perfeita Conduta Evitar pensamentos destrutivos.
V. Perfeito Meio de Subsistência Escolha correta do trabalho.
VI. Perfeito Esforço Evitar mentiras e intrigas.
VII. Perfeita Atenção Controle do corpo e da mente.
Não matar, não roubar, não ser
VIII. Perfeita Contemplação promíscuo/a, não mentir e não tomar
estimulantes.
Escolha a sequência correta:
a) IV / V / II / VI / I / VII / VIII / III
b) II / V / IV / III / VII / I / VIII / VI
c) VIII / II / I / VI / V / III / VII / IV
d) IV / III / I / II / VIII / V / VI / VII

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ATIVIDADE 2.1

Faça uma pesquisa sobre encontros mundiais entre as religiões, pela promoção da
cultura da paz, destaque a participação da Igreja Católica. Escreva um texto (máximo 15
linhas) sobre o assunto.
Uma dica são os eventos promovidos pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI); as Jornadas
de Oração pela Paz; etc.

Submeta a atividade por meio da Ferramenta Tarefa.

ATIVIDADE 3.1

Leia “A implantação e o crescimento do Islã no Brasil” e escreva um texto (no mínimo


20 linhas) abordando o processo de crescimento da Religião Islâmica no Brasil. Disponível
em: <https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6342480.pdf>. Acesso em: 19 maio 2022.

Submeta a atividade por meio da Ferramenta Tarefa.

EXERCÍCIO 3

1. A respeito da Reforma protestante, analise os enunciados a seguir:


I. A partir do movimento de Reforma levado a cabo por Lutero, vários outros reformistas
continuaram a criar seus postulados e a fundar comunidades independentes.
II. Com a colocação da Sagrada Escritura como centro de tudo, Lutero acabou eliminando os
principais pilares do Cristianismo Católico: a Tradição e o Magistério, pontos basilares da
Doutrina Católica.
III. Lutero baseou a sua fé em três pontos fundamentais: a autoridade suprema da Sagrada
Escritura; a justificação somente pela fé e o sacerdócio universal dos fiéis.
a) Apenas o enunciado I está correto.
b) Apenas o enunciado II está correto.
c) Apenas o enunciado III está correto.
d) Apenas os enunciados II e III estão corretos.
e) Todos os enunciados estão corretos.

2. Marque a alternativa INCORRETA.


a) Os arianos surgiram no século IV com Ário, que ensinava que o Filho era criatura de Deus

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Pai, não foi criado e, sim gerado, e que tinha sua natureza igual à do Pai.
b) A heresia nestoriana afirmava que em Cristo havia uma dupla personalidade: a do homem
e a do Verbo, que estavam unidas, de modo que diziam que o Verbo habitava em Jesus.
c) A heresia monofisista afirmava as duas naturezas de Cristo antes da encarnação, porém,
quando encarnado dizia que em Cristo preponderava apenas a natureza divina, de modo que
a humanidade de Jesus, após a encarnação, ficou dissolvida na sua divindade.
d) A heresia monotelista promulgava que Jesus Cristo tem em si duas naturezas; mas atua
com uma só vontade, a divina”.
e) A palavra dogma designa em seu sentido literal doutrina.

Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de


Aprendizagem.

ATIVIDADE 4.1

A partir das questões apresentadas pelo site do Patriarcado Ecumênico de Buenos Aires,
elabore um texto comentando a organização da Igreja Ortodoxa e suas diferenças com a
Igreja Católica Romana. Acesse: <encurtador.com.br/jCGOU>. Acesso em: 19 maio 2022.

Submeta a atividade por meio da Ferramenta Tarefa.

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