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84 Maria da Conceição da Costa Marques • José Joaquim Marques de Almeida

AUDITORIA NO SECTOR PÚBLICO: UM INSTRUMENTO PARA


A MELHORIA DA GESTÃO PÚBLICA
Maria da Conceição da Costa Marques
Professora Adjunta do Instituto Superior de Contabilidade e Adm. de Coimbra - Portugal
E-mail: mcarvalheira@iscac.pt
José Joaquim Marques de Almeida
Professor Associado da Universidade Aberta - Portugal
Professor Coordenador do Instituto Superior de Contabilidade e Adm. de Coimbra - Portugal

RESUMO ABSTRACT

O programa abrangente de reformas efectuado The broad reform program realized by public
pelas administrações públicas, teve como resultado administrations resulted in the Administration’s
uma nova postura da Administração perante o cida- new attitude towards the citizen, which is known
dão, conhecida como Nova Gestão Pública (New as New Public Management. Public Managers are
Public Management). O papel dos Gestores Públi- now vested with greater responsibility and must
cos é agora de maior responsabilidade, que devem manage public resources efficiently and
gerir os recursos públicos de forma eficiente e efi- effectively. This new framewor k requires a
caz. Este novo enquadramento requer por parte do specialized control from the State, which is able
Estado um controlo especializado, que possa aferir to verify the responsible persons’ correct
da correcta actuação dos responsáveis. performance.
Os antigos procedimentos de fiscalização mos- The former supervision procedures reveal to
tram-se insuficientes e novos mecanismos de con- be insufficient and new control mechanisms have
trolo têm de ser instalados. A prática regular da audi- to be installed. In order to evaluate the correct
toria no sector público, que atinja novos alcances, para application of public resources, regular auditing
avaliar da correcta aplicação dos recursos públicos, practices in the public sector, which acquire a
é cada vez mais uma realidade, embora exista ainda broader range, are increasingly occurring,
um longo caminho a percorrer. Conquanto se avance although there is still a long way to go. While
cada vez mais neste campo, o processo não se en- increasing advances are made in this area, the
contra generalizado, o que pode ser um desafio cada process is not generalized, which may be a bigger
vez maior para os governos dos países. and bigger challenge for governments.
As entidades públicas e as empresas privadas Public and private entities work according to
laboram segundo diferente objectivos, utilizam dife- different aims and use different techniques, which,
rentes técnicas, o que em matéria de auditoria exige in auditing terms, requires the development and
o desenvolvimento e adequação de métodos apro- adaptation of appropriate methods for public
priados para as instituições públicas, para ir ao en- institutions, to attend to their needs.
contro das suas necessidades. In view of these facts, this paper deals with the
Face a este desiderato, este “paper” aborda a fun- auditing functions and outlines this framework in
ção auditoria e traça o respectivo enquadramento no the context of the public sector, explaining what
contexto do sector público, referenciando o que em is done in Portugal in this sphere.
Portugal se faz nesta área. Keywords: Control, Auditing, Management,
Palavras-chave: Controlo, Auditoria, Gestão, Efi- Efficiency.
ciência.

Recebido em 06.07.03 • Aceito em 22.03.04

Revista Contabilidade & Finanças - USP, São Paulo, n. 35, p. 84 - 95, maio/agosto 2004

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INTRODUÇÃO competências destes órgãos tem por objectivo


responder às exigências da sociedade moderna.
Nos últimos anos, na maioria dos países da O Estado, como ente jurídico e social, evoluiu pro-
OCDE, pôs-se em prática um programa abrangente fundamente e a actividade financeira tomou nas or-
de reformas direccionado a introduzir melhorias nos ganizações um lugar de relevo, que contribui de for-
serviços prestados pelas administrações públicas, ma decisiva na formação das instituições.
tentando ir ao encontro das suas necessidades e as- O princípio da legalidade tem tido ao longo dos
segurar a eficiência e a qualidade desses serviços, tempos um papel de primordial importância, es-
sem descurar a aproximação aos cidadãos. tando hoje as organizações confrontadas com a
Essa nova postura da Administração junto dos necessidade de conjugar esta vertente tradicio-
cidadãos é conhecida como nova gestão pública nal com outros indicadores, indispensáveis ao pro-
(New Public Management) e procura avaliar a ges- cesso decisório.
tão num novo enquadramento, que se pauta pela in- Torna-se, por isso, fundamental que se complete
trodução de modelos de gestão utilizados no sector este regime legal com controles sobre a actuação
privado. dos gestores, para poder avaliar se a gestão
Por outro lado, as recentes fraudes contabilísticas económica dos recursos públicos (escassos) está a
de grandes empresas norte-americanas, provocaram operar-se de forma correcta e se é alvo de controlo
junto dos utilizadores (consumidores, investidores, especializado. Ou seja, se está assegurada a ges-
stakeholders1, etc.) a desconfiança na maioria dos tão desses recursos de forma eficaz, eficiente,
organismos de controlo. económica, equitativa e, hoje em dia, também ecoló-
A ocorrência desses episódios, de graves gica. É precisamente aqui que a actuação dos ór-
consequências económicas, tornou-se um veículo gãos de fiscalização e controlo se torna essencial.
privilegiado para que a auditoria venha a conquistar Em Portugal, o sistema nacional de controlo das
um espaço de merecida credibilidade. Neste contex- finanças públicas apresenta-se do seguinte modo:
to, também a auditoria pública vê aumentado o seu Sistema Nacional de Controlo das Finanças Públicas
papel, na medida em que assegura o interesse
colectivo. Controlo externo

Este trabalho enquadra e desenvolve as últimas ASSEMBLÉIA DA TRIBUNAL DE


REPÚBLICA CONTAS
tendências em matéria de auditoria pública e enfatiza Controlo Financeiro
Controlo Político (técnico e jurisdicional)
o papel que a mesma pode desempenhar nas orga-
nizações estaduais. Controlo interno

3º Nível
(controlo estratégico)
1. CONTROLO E SECTOR PÚBLICO
TUTELA 2º Nível
(controlo sectorial)
1.1 Controlo externo e controlo interno 1º Nível
(controlo operacional)
ENTIDADE
Auto-controlo
Num Estado de Direito, todas as actuais es-
truturas organizativas, quer do Estado e de todos
os seus Órgãos, quer dos particulares, devem
cumprir as normas jurídicas existentes nesse mo- Fonte: Tribunal de Contas, 1999, p. 32
mento determinado. Gráfico 1 – Administração Pública
Assim sendo, a administração e manejo dos
bens e dos fundos públicos têm de se pautar pelo O controlo externo tem como principal carac-
rigoroso cumprimento dos requisitos legais neces- terística a de ser efectuado por profissionais alhei-
sários, incumbindo aos organismos de controlo os à instituição, habilitados com qualificações téc-
essa verificação. O alargamento e âmbito das nicas e profissionais de elevado nível para exercer

1
Partes interessadas nas demonstrações financeiras.

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a auditoria. Está fora de qualquer plano ou nível da controlo interno é absolutamente imprescindível,
gestão financeira do Sector Público, e pode e deve para assegurar o cumprimento dos objectivos pré-
avaliar o controlo interno. estabelecidos.
A utilização regular e racional dos fundos públi- Em Portugal, nos últimos anos, tem vindo a ser
cos constitui uma condição essencial da boa ges- feito um esforço significativo em matéria de controlo
tão das finanças públicas, e bem assim, dos interno, dado que até 1995 pouco ou nada se tinha
objectivos alcançados. Desse modo, para que todo idealizado sobre este assunto.
o processo atinja a eficácia desejada, torna-se in- Assim, com o Decreto-Lei nº 166/98, de 25 de
dispensável que cada Estado disponha de uma en- Junho, o Governo instituiu o sistema de controlo in-
tidade de fiscalização superior eficaz, conferindo- terno da administração financeira do Estado (SCI),
lhe a lei total independência. onde se realça a importância dada pelo Governo à
De acordo com a Constituição Portuguesa é o função controlo, procurando promover a difusão de
Tribunal de Contas (TC)2 a entidade fundamental uma “cultura de controlo” em todos os níveis da ad-
do sistema nacional de controlo financeiro externo ministração financeira do Estado.
- organismo independente - que tem poderes Com a institucionalização da Inspecção Geral da
jurisdicionais sobre todas as entidades públicas, Administração Pública (IGAP), através do Decreto-
fiscaliza a legalidade e regularidade das receitas lei nº 220/98, de 17 de Julho, como inspecção de
e das despesas públicas, aprecia a boa gestão fi- alto nível, com atribuições e competências de con-
nanceira e tem autoridade para determinar respon- trolo estratégico, e com o pressuposto de que ao
sabilidades financeiras. controlar a gestão de recursos humanos e a moder-
A Lei nº 98/97, de 26 de Agosto – lei de organiza- nização administrativa, se está a controlar uma gran-
ção e processo do Tribunal de Contas - consagra a de fatia do Orçamento do Estado, foi dado um passo
este organismo a faculdade de exercer o controlo significativo e de grande alcance.
financeiro no âmbito da ordem jurídica portuguesa, A tão apregoada modernidade da Administração
tanto no território nacional, como no estrangeiro. Os implica que se avaliem as instituições, e também os
poderes de jurisdição e de controlo financeiro do TC próprios agentes envolvidos, assegurando um mo-
abrangem o Estado, as Regiões Autónomas, as delo de responsabilização e de indicadores de
Autarquias Locais, os institutos públicos e as institui- performance de cada um dos intervenientes da Ad-
ções de segurança social. ministração Pública. A IGAP pode dar um elevado
Entidades de natureza pública ou privada, contributo na consecução destes objectivos ao nível
maioritariamente financiadas pelo Orçamento do da responsabilização dos agentes e aferição dos re-
Estado ou que nelas se verifique a existência de ca- sultados obtidos.
pitais públicos, estão também sujeitas aos poderes
de controlo financeiro do TC. 1.2 Alcance e efeitos do controlo
O controlo interno é um plano de organização
da empresa que incorpora um conjunto de métodos As entidades de controlo não podem apenas
e procedimentos que assegurem a protecção dos quedar-se pelo controlo do estrito cumprimento da
activos e registos contabilísticos fiáveis, e que a legalidade por parte das administrações públicas,
actividade se desenvolva de forma eficiente e eficaz devem tender cada vez mais para o controlo da ges-
de acordo com objectivos da administração (MAR- tão, no qual se avalia o cumprimento de metas e
QUES DE ALMEIDA, 1998d, p. 202). objectivos. Quer isto dizer, que ao controlar-se a ges-
Dependendo da dimensão da organização, tão de um determinado organismo público, deve ava-
também o controlo interno pode assumir maior ou liar-se a economia, a eficiência e a eficácia da sua
menor relevância, sendo certo que em grandes actuação – a auditoria dos três “E”, pois só assim se
organizações a implementação de um sistema de pode confirmar se foram cumpridos os programas e

2
No artigo 216º da Constituição da República Portuguesa, refere-se que “O Tribunal de Contas é o órgão supremo de fiscalização da legalidade das despesas públicas e de
julgamento das contas que a lei mandar submeter-lhe…..”

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alcançadas as metas e objectivos, em condições a expressar uma opinião sobre os referidos docu-
adequadas de tempo e de custo. mentos de modo a dar aos mesmos a maior
Essa vertente é de tal forma importante, que hoje credibilidade” (TC, 1999, p. 30).
em dia se torna usual serem os próprios cidadãos a A definição da INTOSAI4, segundo a mesma fon-
querer saber se os recursos públicos foram utilizados te, está mais voltada para as finanças públicas “Au-
e investidos de forma eficiente, tendo em conta a sa- ditoria é o exame das operações, actividades e sis-
tisfação das necessidades colectivas. Segundo a AECA temas de determinada entidade, com vista a verifi-
(2001, p. 36), com o controlo pretende-se obter uma car se são executados ou funcionam em conformi-
apropriada e eficaz utilização dos fundos públicos, dade com determinados objectivos, orçamentos, re-
acentuando a procura de uma gestão rigorosa e regu- gras e normas”. Como se constata, existem aspec-
laridade na acção administrativa e a informação. tos comuns nas duas definições.
Sobre a auditoria no sector público, pode dizer-
1.3 Modalidades de controlo se que está ainda a grande distância do que se faz
no sector privado. Para as empresas torna-se por
O controlo exercido pelo TC pode ser prévio, demais importante que as demonstrações financei-
concomitante e sucessivo. O controlo prévio des- ras transmitam uma imagem verdadeira e apropria-
tina-se a verificar se os instrumentos geradores de da da situação financeira, dos resultados e também
despesa ou representativos de responsabilidades fi- dos fluxos de caixa. Para as entidades públicas o
nanceiras directas ou indirectas, se encontram em que interessa, sobretudo, é que a gestão dos fundos
conformidade com a lei e têm cabimento orçamental. públicos tenha sido adequada e que se pautou por
O controlo a posteriori ou sucessivo, tem como critérios de legalidade; aliás, a vertente tradicional
objectivo a apreciação da execução orçamental do do controlo público.
Orçamento do Estado (OE) e dos orçamentos das Todavia, nos dias que correm, novas formas de
regiões autónomas, para emissão de pareceres so- gestão vão sendo adoptadas - a Nova Gestão Públi-
bre as contas, avaliar os sistemas de controlo inter- ca [New Public Management (NPM)] - pelo que a re-
no, bem como proceder a auditorias de contas. levância e a transparência da informação são cruciais,
O controlo concomitante da actividade financeira assim como o controlo. O cidadão adquire um novo
pública, igualmente previsto na lei de organização e papel e torna-se elemento fundamental para a ges-
processo do TC (Lei nº 98/97), é aquele que é tão pública, pois é a ele que a informação se dirige.
efectuado ao longo da gestão, aliás uma medida que O modelo de prestação de contas tem vindo a
vem sendo cada vez mais utilizada pelo Tribunal. ser alterado, precisamente porque são os cidadãos
Em face das funções desempenhadas e dos me- quem, através dos impostos, financia a actividade
canismos existentes, o que se espera é que a fun- pública, daí que deva ter acesso à informação finan-
ção fiscalizadora venha a resultar cada vez mais útil ceira pública. É aqui que o controlo externo ou audi-
e especializada, contribuindo por tal via para a toria externa assume grande relevo, pois a fiabilidade
melhoria da gestão pública. das contas pode não ser garantida se não for acom-
panhada de um relatório de auditoria. Não podemos
deixar de referir o quão imprescindível se torna a
2. A AUDITORIA DO SECTOR PÚBLICO realização de auditorias públicas e dos relatórios
sobre as mesmas.
2.1 Enquadramento A auditoria operativa ou de economia, eficiên-
cia e eficácia, tem um papel de destaque nos no-
Para a IFAC3 a “Auditoria é uma verificação ou vos contornos da NPM pelo facto de introduzir
exame feito por um auditor dos documentos de melhorias na eficiência e no controlo do output e
prestação de contas com o objectivo de o habilitar na gestão por objectivos.

3
Definição dada mais adiante.
4
Idem.

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Sem dúvida que a contabilidade pública é uma da que cada vez mais se avance neste campo, o
peça essencial do processo de reformas que vêm processo não se encontra generalizado, o que a nos-
sendo feitas no sector público, mas existem dificul- so ver constitui um desafio cada vez maior aos go-
dade de pôr em prática, de forma imediata, as refor- vernos dos países.
mas entretanto operadas nesta área, dificuldades A auditoria é um dos meios que o Tribunal de
essas que têm diversas justificações, as quais resul- Contas português utiliza para efectuar o controlo
tam, em grande parte, de se procurar obter uma pres- financeiro das entidades públicas sob sua jurisdi-
tação de contas por objectivos. ção e, dadas as suas amplas competências e po-
Daí que se torne cada vez mais imperioso refor- deres de controlo, cada vez mais a auditoria, para
çar a prática regular da auditoria pública, e que essa além dos aspectos financeiros, visa também a as-
atinja novos alcances que possam aferir da correcta pectos de gestão, ambientais, de utilidade social,
aplicação dos fundos públicos, numa perspectiva de etc. (TC, 1999, p. 30).
controlo de gestão da entidade, para no futuro poder
caminhar-se para auditorias de avaliação da quali- 2.2 As Normas Internacionais de Auditoria
dade dos serviços prestados, como de resto suce- do Sector Público
deu na Nova Zelândia, país pioneiro em matéria de
auditoria pública. (TORRES: 2002). Desde os finais do século XIX que os especialis-
Enquanto que nas empresas é a situação tas de contabilidade e auditoria, sobretudo dos paí-
económico-financeira5 o alvo de maior interesse, nas ses mais avançados, procuram regulamentar a sua
administrações públicas o que releva é a verificação profissão e harmonizar e homogeneizar as normas,
da boa gestão financeira e dos recursos da entida- práticas e relatórios. O sector público esteve presente
de. Uma vez que ao Estado são atribuídas caracte- praticamente desde o início, o que indicia o grau de
rísticas específicas, distintas do sector empresarial, importância que representa este sector para a pro-
como seja a inexistência de um mercado competiti- fissão de auditoria.
vo, complexidade e lentidão na tomada de decisões, O seguinte quadro dá-nos uma ideia dos or-
forte reacção à mudança e dificuldade em avaliar os ganismos internacionais que emitem normas de
outputs, é premente a realização de auditorias. Ain- auditoria:

ORGANISMO COMPETÊNCIAS DESTINATÁRIOS

INTOSAI- International Organization Agrupa as entidades fiscalizadoras supe- As normas aprovadas em Outubro de
of Supreme Audit Institutions riores (órgãos de controlo externo dos 1991 constituem uma referência para a
Estados membros) auditoria do sector público

International Federation of Constituída em 1977, herdeira e Desenvolveu normas completas de audi-


Accountants (IFAC) aglutinadora de diferentes organizações toria, que são uma referência para a pro-
internacionais de profissionais de conta- fissão em todo o mundo.
bilidade e auditoria.
Numa fase posterior acrescenta-se a cada
uma das normas comentários sobre a
aplicabilidade à auditoria do sector público

IGAE – Intervención General de la As normas ditadas pela IGAE aplicam-se As normas devem ser observadas pelos
Administración del Estado a todas as auditorias que se realizem no OCEX6, pelos auditores privados que de-
âmbito do sector público estatal espanhol. senvolvam trabalhos para o sector público.

Fonte: elaboração própria, baseado em AECA, p. 95/97


Quadro 1

5
Numa perspectiva de obtenção de lucro.
6
Órgãos de Controlo externo das comunidades autónomas.

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2.3 Tipos de Auditoria do Sector Público medidas correctivas. Em sequência, a auditoria é uma
técnica ao serviço do controlo necessário, mas não
Resultou da Declaração de LIMA sobre as linhas deve considerar-se como um fim em si mesma.
básicas da fiscalização, aprovadas no IX Congresso Resulta, assim, que as técnicas e procedimentos
da INTOSAI, a necessária inter-relação entre o con- de auditoria não podem ser os mesmos para todos
trolo e a economia financeira pública (AECA, 2001, os objectivos de controlo, devendo alguns deles adap-
p. 101), tornando-se num mecanismo regulador da tar-se aos fins pretendidos. Portanto, podem definir-
legalidade, rentabilidade, utilidade e racionalidade das se diversos tipos de auditoria, em função dos
operações financeiras, a ponto de serem tomadas objectivos visados:

Tipos de Auditoria
Auditoria financeira Auditoria de regularidade
Auditoria do cumprimento da legalidade
Auditoria de Eficácia ou de Programas Auditoria integrada
Auditoria de Economia e Eficiência
Auditoria de Sistemas e Procedimentos Auditoria operativa

Fonte: AECA, 2001, p. 102


Quadro 2

Pina, V. y Torres, L. (2001) organizam o controlo e a auditoria no sector público da seguinte forma:

CONTROLO E AUDITORIA NO SECTOR PÚBLICO

Em função da dependência do Órgão Auditor Controlo internocontrolo externo


Em função do seu objectivo Controlo ou auditoria de legalidade
auditoria financeira ou contabilística
auditoria operativa ou de gestão
auditoria integrada
Em função do seu alcance parcial ou limitada
auditoria completa
Em função da sua periodicidade continua
periodicidade anual
esporádica
Em função do momento prévio ou a priori
simultâneo
a posteriori

Fonte: Pina, V. y Torres, L. (2001)


Quadro 3

A auditoria financeira tem como objectivo obter privado. Exceptuando os “actores”, as diferenças
uma segurança razoável nas contas e verificar se as existentes são as que se relacionam com o con-
demonstrações financeiras sob análise expressam, trolo orçamental e contabilístico, com o conteúdo
em todos os seus aspectos significativos, a imagem das peças contabilísticas e com os utentes da in-
fiel do património, da situação financeira e do resul- formação financeira.
tado da gestão, em conformidade com os princípios No campo da harmonização internacional de
contabilísticos geralmente aceites. Em Portugal é princípios e normas contabilísticas e de auditoria,
chamada de certificação legal de contas7. com a criação em Junho de 1986 do Public Sector
No sector público, essas auditorias não apre- Committee, comité permanente do Conselho da
sentam diferenças significativas em face do sector IFAC (International Federation of Accountants), está

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Efectuada em Portugal por Revisores Oficiais de Contas.

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a contribuir-se para a coordenação e harmonização Segundo Gauthier (citado por PRADAS: 2002)
das necessidades relativas à informação financei- “em conjunto com o sistema contabilístico tradicio-
ra, contabilidade e auditoria para todo o tipo de nal, que enfatiza o cumprimento da legalidade, foi
entidades públicas (PINA E PRADAS: 2001). Des- emergindo um consenso sobre a necessidade de in-
taca-se o empenho na normalização e troduzir na informação fornecida pelas administra-
harmonização da auditoria pública efectuado pela ções públicas uma componente operativa que pres-
International Organization of Supreme Audit te contas sobre o cumprimento dos objectivos numa
Institutions – INTOSAI. perspectiva de eficácia e de eficiência”. Norman, 1995
Auditoria do cumprimento da legalidade tem (citado por PRADAS: 2002) diz que a contabilidade
a ver com a importância dada ao cumprimento das pública é “um elemento essencial das reformas do
normas legais no âmbito do sector público. O seu sector público”. Por outro lado, Pallot, citado pela
não cumprimento acarreta maiores conseqüênci- mesma autora refere que “o quid pro quo do aumen-
as às organizações públicas, do que às privadas. to da autonomia dos gestores está em incrementar a
Portanto, se entre os objectivos da auditoria se en- prestação de contas por resultados e em implementar
contra a verificação dos aspectos legais, estamos mais práticas contabilísticas”.
perante uma modalidade de auditoria conhecida
como do cumprimento. 2.4 Princípios e Normas de Auditoria no
Auditoria de regularidade constituem a maioria Sector Público
das auditorias que se efectuam no sector público,
porquanto se inclui numa mesma auditoria, a audito- Pina, V. y Torres, L. (2001) referem que as difi-
ria financeira e a auditoria do cumprimento. culdades em se estabelecerem normas técnicas
Auditoria de eficácia ou de programas tem de auditoria que garantissem a qualidade do tra-
como objectivo verificar em que medida foram alcan- balho, deram lugar à consideração de uns princí-
çados os resultados e os objectivos pré-definidos pios e procedimentos básicos do trabalho de audi-
para a entidade, nomeadamente programas, servi- toria, de aceitação geral para toda a profissão, que
ços, actividades e funções a auditar. viriam a ser designadas por normas de auditoria
Auditoria de economia e eficiência tem a ver geralmente aceites.
com a forma como a entidade gere os recursos hu- Nesse campo, foi notável o empenho da INTOSAI
manos e materiais, ou seja, se tem em conta critérios que elaborou Normas de Fiscalização ou Auditoria
de economia, o que significa adquirir ao mínimo cus- de aplicação pelas Entidades Fiscalizadoras Superi-
to e de forma eficiente, portanto, de modo produtivo. ores, de carácter orientativo. Note-se que tanto as
Auditoria de sistemas e de procedimentos: normas de auditoria para o sector privado como as
esta modalidade de auditoria foi concebida mais para normas de auditoria do sector público se referem às
o sector público. Antes do seu aparecimento os seus características pessoais do auditor, à realização do
objectivos ou não se enquadravam no âmbito da au- trabalho e ao relatório de auditoria.
ditoria ou eram incluídos ou na auditoria de eficácia, Sobre as características profissionais do audi-
ou na auditoria de economia e eficiência. Adequa-se tor as normas destacam aspectos como a sua for-
a instituições que tenham de cumprir normas relaci- mação técnica, a sua independência e a sua ade-
onadas com o Direito Administrativo e preocupa-se quada responsabilidade profissional. Em Espanha,
com a verificação do seu cumprimento, e ainda so- os “Princípios e Normas de Auditoria do Sector Pú-
bre a detecção de possíveis ineficiências. blico” exigem do auditor as seguintes característi-
Auditoria operativa resulta da conjugação das cas: formação técnica e capacidade profissional;
modalidades anteriores. A auditoria operativa ou au- independência; diligência profissional; responsa-
ditoria da economia, eficiência e eficácia, assume um bilidade e segredo profissional. Em Portugal, o TC
papel de relevância no contexto da nova gestão pú- nos “Princípios aplicáveis aos auditores” inclui a
blica, uma vez que todas as atenções se viram para independência, a competência e a diligência, em
a melhoria da eficiência, no controlo do output e na cujo âmbito se incluem as características exigidas
gestão por objectivos. pelas normas espanholas.
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O trabalho a desenvolver, de acordo com as se obtém através de auditorias às demonstrações


normas, deve ter um planeamento adequado e financeiras, realizadas por profissionais indepen-
respectiva supervisão, a análise do sistema de dentes e experientes.
controlo interno da entidade e determinar o alcan- Os cidadãos pretendem ter acesso à informa-
ce dos procedimentos de auditoria a aplicar, com ção sobre a actuação dos responsáveis políticos
o objectivo de obter elementos destinados à ela- que elegeram, para poder efectuar juízos e actuar
boração de juízo válido e suficiente, como supor- em conformidade, caso venha a ser necessário.
te das opiniões e conclusões. Apenas com uma adequada divulgação da in-
Dessa forma, no documento a elaborar é funda- formação financeira pública, que possa estar dis-
mental seguir determinados princípios na realização ponível a todos os interessados, objecto de audi-
do trabalho de auditoria, desenvolvidos de acordo toria ou não, se consegue uma maior transparên-
com as respectivas normas: cia da gestão do sector público. Esse objectivo
assenta numa nova filosofia de prestação de con-
1 Planeamento tas, das quais faça parte o relatório de auditoria.
2 Supervisão
É certo que esse tipo de cultura de prestação de
3 Controlo interno
4 Evidência contas não faz parte dos países da Europa continen-
5 Revisão das normas legais tal, mas faz parte das regras dos países anglo-
6 Importância relativa e risco na auditoria saxónicos. Mesmo tendo sido auditadas, as demons-
trações financeiras precisam de ser divulgadas, o que,
Quadro 4 – elaboração própria, baseado em
a não ser feito, diminui a sua utilidade.
Pina, V. y Torres, L. (2001)

3.2 Normas para a Elaboração do Relatório


3. OS RELATÓRIOS DE AUDITORIA
de Auditoria
EXTERNA DO SECTOR PÚBLICO
Decorrido o trabalho de auditoria, deve elabo-
3.1 Características e especificidades
rar-se um relatório, conforme se prevê nas dife-
rentes normas de auditoria. Por exemplo, as nor-
A relevância dos relatórios de auditoria do
mas INTOSAI referem:
sector público é diferente dos relatórios de audi-
No final de cada fiscalização, o auditor deve
toria do sector privado, o que se deve, em boa
preparar por escrito a sua opinião ou infor-
medida, aos seguintes factos:
mação, evidenciando de forma adequada os
- O leque de utilizadores da informação finan-
factos descobertos; o seu conteúdo deve
ceira do sector público é muito mais amplo;
ser fácil de entender, estar isento de expres-
- as administrações públicas devem prestar
sões vagas ou ambiguidades, incluir ape-
contas a todos os cidadãos.
nas a informação devidamente documenta-
A informação pretendida pelos utilizadores ex-
da e, além disso, deve ser independente,
ternos são diferentes, não obstante se reconhe-
objectivo, imparcial e construtivo.
cer existirem pontos comuns, como seja o conhe-
Segundo os Órgãos de Controlo Externo do Es-
cimento da boa gestão dos recursos públicos e o
tado Espanhol, podem ser estabelecidas normas
que se espera que venham a fazer no presente e
sobre relatórios de auditoria, que a figura seguin-
no futuro. De igual modo, também exigem que a
te reproduz:
informação financeira seja relevante e fiável, o que

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Forma escrita
Clareza e uniformidade na linguagem
Concisão
Apresentação em forma adequada Objectividade
Ponderação
Adequado fundamento ou suporte
Entrega aos destinatários Oportunidade
Destinatários
Adequada preparação Conformidade com as normas de auditoria
Adaptação à realidade do sector público
Alegações do ente auditado
Identificação dos destinatários
Razões, objectivos e alcance da auditoria
Normas de auditoria aplicadas
Comentário sobre questões e incidências relevantes
Opinião ou conclusão
Normas sobre relatórios Recomendações
Conteúdo mínimo do relatório Data do relatório
Assinatura
Publicidade

Fonte: AECA (2001, p. 550)


Quadro 5 - Esquema sobre normas relativas ao relatório de auditoria

Relativamente aos diferentes tipos de auditoria, Estrutura do relatório de programas


podem incluir-se nos relatórios de auditoria de uma
1. Descrição do programa
entidade pública os seguintes requisitos (PINA E 2. Objectivo, alcance e limitações
TORRES: 2001): 3. Conclusões e recomendações gerais
4. Análise de detalhe ou avaliação do Programa
5. Anexos
3.3 Auditoria de regularidade (contabilística
e de legalidade) Quadro 7 - Fonte Adaptado de Pina, V. y
Torres, L. (2001)
Estrutura do relatório de regularidade

1. Objectivo Os tipos de opinião utilizados nas entidades pú-


2. Alcance e limitações blicas, coincidem com a denominação e com a defi-
3. Opinião
4. Demonstrações financeiras auditadas
nição dos utilizados no sector privado, ou seja:
5. Conclusões e recomendações • opinião sem reservas;
6. Anexos • opinião com reservas;
• opinião adversa e
Quadro 6 – Adaptado de Pina, V. y
• abstenção ou recusa de opinião.
Torres, L. (2001)
3.5 Necessidade de um relatório de
3.4 Auditoria de Economia, Eficiência e
auditoria externa do sector público simples
Eficácia
e independente

Apesar das limitações existentes numa auditoria


Sobre as características e os conteúdos dos re-
dessa natureza, os relatórios de uma auditoria
latórios de auditoria do sector público, constata-
operativa incluem informação relevante sobre a eco-
se a existência de relatórios extensos e pouco per-
nomia, a eficiência e a eficácia na gestão dos recur-
ceptíveis nalguns países e de relatórios sintéticos
sos públicos.
noutros. Observe-se, no entanto, que a qualidade

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AUDITORIA NO SECTOR PÚBLICO: UM INSTRUMENTO PARA A MELHORIA DA GESTÃO PÚBLICA
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da informação deve pesar sobre a quantidade Deste modo, os elementos base do relatório
da mesma. de auditoria são os seguintes (MARTÍNEZ Y
Admitindo que os relatórios de auditoria do sector FLEIXAS: 2002):
público seriam rigorosamente iguais aos do sector • título;
privado, haveria vantagens para os utilizadores, tan- • destinatários;
to mais que a familiarização com o modelo constitui- • as contas e a informação auditada;
ria, à partida, um elemento a seu favor. • o objectivo;
Mas as particularidades de que se reveste a • as responsabilidades na elaboração da infor-
actividade financeira pública e o distanciamento mação e na auditoria;
dos cidadãos da administração pública, quando • descrição do alcance e processo da auditoria,
comparados com o accionista de uma empresa, assim como as normas de auditoria aplicadas;
leva a que se exija mais do relatório do auditor. • referência às normas contabilísticas e legais
Estão em causa questões como a avaliação da que afectam a informação apresentada;
gestão, a fiabilidade da informação financeira pú- • comentários e recomendações mais relevantes;
blica, e se nas empresas privadas o principal • controlo interno;
objectivo é o lucro, nas entidades públicas pre- • opinião e
tende-se o fornecimento de um leque mais vasto • data e dados do auditor.
de informação. Convém referir se a auditoria abarcou a totalida-
Nos Estados Unidos, o auditor emite um relatório de das demonstrações financeiras ou apenas par-
curto, que se anexa às demonstrações financeiras te delas. Por outro lado, o auditor deve emitir opi-
auditadas, de aproximadamente 15 páginas. Esse nião sobre a fiabilidade da informação, a legalidade
relatório sintético de auditoria que se anexa às de- das operações realizadas e caso se trate de uma
monstrações financeiras, não dispensa a emissão, auditoria operativa, indicar os seus resultados.
de forma autónoma, de um relatório analítico tanto Ao nível dos comentários, sugestões e reco-
da auditoria financeira, como da auditoria da legali- mendações, aqueles aspectos que se entenda de
dade e performance, bem como de outros aspectos mencionar, por exemplo, sobre o controlo interno da
que o auditor considere oportunos. As razões para a entidade, esses devem sê-lo de forma breve, reme-
defesa de um relatório simples junto às demonstra- tendo o detalhe para o relatório complementar.
ções financeiras, prendem-se com o facto de se en-
tender que auxilia o utilizador a formular um juízo CONCLUSÕES
sobre a fiabilidade das demonstrações financeiras
auditadas. Mais tarde, pode vir a ter necessidade de A concepção tradicional de controlo (assente na
aprofundar alguns aspectos, socorrendo-se então do legalidade), desde há muito que entrou em crise. Por
relatório complementar. isso, Administração Pública e Gestores Públicos têm
procurado novas formas de gestão, que possibilitem
3.6 Conteúdo do relatório de auditoria a prestação de melhores serviços aos cidadãos.
Parece ser também um dado adquirido que os anti-
A falta de normalização nos relatórios de audito- gos procedimentos de fiscalização não são de modo
ria tem conduzido a que relatórios de auditoria da algum suficientes, e que uma nova cultura de con-
mesma natureza, produzidos por entidades de con- trolo é por demais necessária.
trolo distintas ou por diferentes empresas de audito- Em Portugal, houve significativas mudanças nes-
ria, apresentem estruturas díspares, chegando por sa área, o que pode constatar-se pelas sucessivas
vezes a que também diferente seja o seu conteúdo. reformas do Tribunal de Contas, que lhe facultaram
Ora bem, há elementos indispensáveis a incluir a adequação aos objectivos de uma instituição mo-
no relatório de auditoria, mas cabe ao órgão de con- derna de controlo externo.
trolo externo ampliar, se assim o entender, o leque Em finanças públicas, o controlo assume um
de informação a inserir no mesmo, com o objectivo papel relevante, à medida que garante a utilização
de aumentar a sua compreensão. eficaz dos fundos públicos, permite uma gestão
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rigorosa e origina medidas correctivas na acção públicas só é possível se essa cultura se instalar e
dos poderes públicos e dos cidadãos, fruto dos re- passar a fazer parte das normas de prestação de
latórios que produz. contas. Então, tem-se um novo cenário que passa
A credibilidade de um Estado Democrático, que por uma nova filosofia de responsabilidade na ges-
ao mesmo tempo seja eficiente e transparente junto tão (accountability), o que em muito contribuirá para
dos cidadãos, passa também pela existência de ór- avaliação da eficiência no sector público.
gãos de controlo independentes, dotados de profis- A esse respeito, é bom referir que a auditoria do
sionais de elevado perfil técnico e qualificado, dos sector público requer profissionais com um perfil ade-
quais a gestão pública tem muito a beneficiar. Em quado às especificidade e características intrínsecas
função desse ponto de vista e na esteira das novas desse sector, portanto, profissionais de elevada qua-
exigências, a prática regular de auditorias no sector lidade. E, neste enquadramento, cabe questionar se
público terá de ser instalada. não estará aqui o alicerce para a criação de uma área
A função auditoria junto das organizações de especialização dos Revisores Oficiais de Contas.

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NOTA:
Endereço dos autores:
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra
Quinta Agrícola – Bencanta
Coimbra – Portugal
3000

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