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REVISÃO REVIEW S217

Eqüidade em saúde: uma análise crítica


de conceitos

Health equity: a critical analysis of concepts

Ligia Maria Vieira-da-Silva 1


Naomar de Almeida Filho 1

Abstract Introdução

1 Instituto de Saúde Coletiva,


Health inequalities have been studied mainly A ocorrência de variações na distribuição de
Universidade Federal da
Bahia, Salvador, Brasil. from an epidemiological perspective, with lim- problemas de saúde pode ser considerada co-
ited attention to conceptual issues. The terms mo um fenômeno universal e contemporâneo
Correspondência “equity” and “equality” have often been used as 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10. A despeito de controvérsias loca-
L. M. Vieira-da-Silva
Instituto de Saúde Coletiva, synonyms, as have their opposites, “inequity” and lizadas 11, o volume de estudos existentes sobre
Universidade Federal da “inequality”. The few attempts to establish their o tema 12,13 é, em primeiro lugar, indicativo de
Bahia.
meanings have been either purely descriptive or questões de investigação ainda não suficiente-
Rua Basilio da Gama s/n,
Campus Universitário have failed to add to an understanding of the un- mente elucidadas, particularmente no que diz
do Canela, Salvador, derlying dynamics in health-disease-related phe- respeito à determinação social das doenças e
BA 40110-040, Brasil.
nomena. The present essay explores the semantic eventos relacionados à saúde 14. Além disso, ob-
ligiamvs@ufba.br
series that includes difference, diversity, distinc- serva-se grande interesse em relação a esse tipo
tion, inequality, and inequity and its relation- de pesquisa visando a subsidiar políticas públi-
ship to health phenomena in light of Perelman’s cas necessárias para superar a distribuição desi-
concept of equity, Bourdieu’s sociology, and some gual de saúde na sociedade.
arguments in Heller’s theory of justice, with the Na maioria dos estudos empíricos, não se ob-
aim of contributing to the development of these serva maior preocupação dos autores em defi-
concepts, while discussing their implications for nir termos e estabelecer conceitos. As noções de
policymaking in health. eqüidade e igualdade, por um lado, e seus con-
trários, desigualdade, diferença e iniqüidade, são
Equity in Health; Health Inequalities; Concept tratados como sinônimos. Mesmo nos trabalhos
Formation teóricos a respeito da temática 15,16,17, chamam
a atenção a superposição e diversidade de sig-
nificados atribuídos aos conceitos de diferença,
disparidade, desigualdade, heterogeneidade e
iniqüidade, revelando uma clara confusão termi-
nológica. Não obstante, algumas tentativas têm
sido feitas no sentido de precisar melhor esses
conceitos 18,19,20,21,22,23.
Neste ensaio, pretendemos analisar critica-
mente a série significante diversidade, diferença,

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desigualdade, iniqüidade, distinção no que con- Rawls 35 propõe igualdade de oportunidades e


cerne à produção da saúde-doença em grupos também de distribuição de bens e serviços refe-
sociais e nas suas possibilidades de articulação rentes a necessidades básicas. Nessa linha, Da-
a uma teoria social da saúde. Nesse percurso, es- niels et al. 36 questionam a abordagem de Whi-
taremos apoiados, por um lado, no conceito de tehead tanto no que diz respeito à “evitabilida-
Perelman de eqüidade e em alguns dos argumen- de” quanto no que concerne à “justiça” pelo fato
tos de Heller sobre a justiça e, por outro lado, na de que ambos os conceitos envolvem questões
sociologia das práticas de Bourdieu, procurando complexas e não resolvidas. No que diz respeito
discutir suas implicações para a formulação de ao critério de justiça, esses autores o interpretam
políticas públicas no campo da saúde. a partir da teoria de Rawls 35, segundo a qual, a
justiça está relacionada com igualdade de opor-
tunidades, de liberdade, bem como distribuição
Confusão conceitual igual dos principais determinantes da saúde. Ou-
tros trabalhos 27,28,37 também recorrem a teorias
Uma distinção freqüentemente encontrada na li- de justiça para avaliar o que seriam diferenças
teratura é aquela entre eqüidade horizontal – que evitáveis e injustas.
corresponderia ao tratamento igual de iguais – e Macinko & Starfield 24 revisaram sistemati-
eqüidade vertical – que corresponderia ao trata- camente a bibliografia indexada no MEDLINE
mento desigual de desiguais 14,24,25,26,27,28. Essa entre 1980 e 2001 e consideram que incluir justi-
distinção, correspondente à importante contri- ça no conceito de eqüidade traz problemas ope-
buição aristotélica à cultura política do Ociden- racionais tendo em vista que impõe o recurso a
te, considera eqüidade como equivalente à jus- “julgamentos de valor”. Propõem então usar a
tiça sempre referida a certa forma de igualdade. definição de eqüidade adotada pela Internatio-
Aplicada ao financiamento em saúde, tem sido nal Society for Equity in Health (ISEqH) segun-
traduzida como um princípio geral, em que a do a qual “eqüidade corresponde à ausência de
contribuição para o financiamento dos serviços diferenças sistemáticas potencialmente curáveis
deve manter relação direta com a capacidade de (remediables) em um ou mais aspectos da saúde
pagamento do usuário. em grupos ou subgrupos populacionais definidos
Whitehead seguramente é a autora mais cita- socialmente, economicamente, demograficamen-
da nos trabalhos da literatura internacional que te ou geograficamente” 24 (p. 1). Essa concepção
empregam conceitos de eqüidade em saúde. Em não distingue eqüidade de igualdade ao defini-la
1990, Whitehead elaborou documento de con- como “ausência de diferenças”. Também, ao re-
sultoria para a Organização Mundial da Saúde cusar entrar no debate sobre a justiça em saúde,
(OMS), posteriormente publicado no Internatio- tal posicionamento não enfrenta temas polêmi-
nal Journal of Health Services, no qual propunha cos sobre acesso e oferta de serviços, financia-
distinguir diferenças ou disparidades em saúde mento e formas de organização e controle de
(differences or disparities) de iniqüidades (inequi- sistemas de saúde que constituem dilemas po-
ties) em saúde 18,19. Para essa autora, iniqüidades líticos concretos. E, finalmente, ao não explicitar
constituem diferenças que, além de evitáveis, são qual o sentido atribuído ao conceito de “neces-
também injustas 19. Em nota de rodapé, a autora sidades iguais”, implica alguns problemas con-
explica que ela e a OMS não iriam utilizar o termo ceituais e operacionais. Por exemplo, o que sig-
inequality devido à ambigüidade presente no uso nificaria acesso igual para necessidades iguais?
do mesmo na literatura. Seriam as necessidades de serviços de saúde de
Alguns autores 24,28,29 definem iniqüidade co- um trabalhador rural iguais às de um executivo?
mo desigualdades injustas, sem, no entanto, citar O que significa oferecer cuidado de igual quali-
Whitehead. Contudo, parte dos autores a citam dade para todos que tenham igual necessidade?
de forma imprecisa, pois referem que ela distin- Contudo, a definição do ISEqH tem vantagens
gue desigualdade (inequality) de iniqüidade (in- operacionais pois, ao deslocar o problema das
equity) 20,26,27,30,31,32. Ao agirem assim, esses au- diferenças para o âmbito do controle técnico (di-
tores consideram desigualdade como sinônimo ferenças curáveis), permite uma melhor identifi-
de diferença. Curiosamente, isso ocorre inclusive cação do que seriam situações iníquas para fins
em artigos que trazem a própria Whitehead co- de intervenção.
mo co-autora 31,33. Em uma abordagem histórico-estrutural,
Com base nos trabalhos do filósofo, John Breilh 21,22 propõe um conceito próprio de diver-
Rawls, Peter & Evans 34 desenvolvem teoricamen- sidade, que corresponderia à variação em carac-
te a idéia de justiça a que Whitehead apenas re- terísticas de uma população (gênero, nacionali-
fere. Bastante influente na literatura atual sobre dade, etnia, geração, cultura etc.). A diversidade,
desigualdades em saúde, a teoria da justiça de para esse autor, pode ter um sentido positivo em

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projetos sociais nos quais predominem relações cessidades e distribuição social dos serviços de
solidárias e de cooperação entre gêneros e gru- saúde, bem como sobre natureza, formulação e
pos étnicos. A “iniqüidade” seria, para Breilh 21,22, implantação das políticas de saúde.
uma categoria analítica que marca a essência do Por outro lado, teorias sociais que subsidiam
problema da distribuição de bens na sociedade, a discussão conceitual dos determinantes sociais
enquanto a desigualdade corresponderia a evi- da saúde raramente têm sido desenvolvidas e ex-
dências empiricamente observáveis. Quando a plicitadas na profusa literatura sobre o tema 40,41.
“iniqüidade” surge historicamente, a diversidade Ambas as lacunas são centrais para a compreen-
assume um papel negativo, tornando-se veículo são acerca do significado dos conceitos relacio-
de exploração e subordinação. O termo “iniqüi- nados com diferenças na saúde-doença-cuidado
dade”, por sua vez, seria sinônimo de injustiça. em populações. Isso porque diferenças no estado
As diferenças constituiriam a expressão, nos in- de saúde de grupos e classes são resultantes de
divíduos, ou da diversidade, em sociedades soli- processos biológicos e sociais cuja explicação
dárias, ou da iniqüidade, em sociedades em que pode envolver diversas teorias sobre o social,
haja concentração de poder 21,22. com desdobramentos metodológicos e conceitu-
Esses trabalhos constituem inegável contri- ais variados, a depender do referencial adotado.
buição à temática ao fundamentarem a relevân- Exceção parece ser a abordagem de Breilh
cia da análise conceitual nas investigações acerca 21,22, de clara orientação marxista, que remete a

de variações na saúde e no adoecer. A contribui- uma análise do significado de variações e desi-


ção de Whitehead e seus seguidores relaciona-se gualdades na saúde e na doença frente às suas
com a introdução da idéia de justiça para distin- dimensões individuais e coletivas, situando-as
guir iniqüidades de diferenças ou disparidades historicamente em relação a agendas políticas es-
em saúde. Entretanto, o principal problema com pecíficas. Contudo, na abordagem de Breilh 21,22,
a proposição de Whitehead 18 (p. 431) é que ela a análise do conceito de diversidade não se ba-
não apresenta nenhum conceito de justiça pa- seia em nenhuma sociedade concreta, de for-
ra fundamentar sua proposição das “diferenças ma que não fica claro se, ao lograrmos eliminar
evitáveis e injustas”. Por outro lado, no momento a concentração de poder nas mãos de grupos
em que interpreta “eqüidade no cuidado de saú- sociais, distribuir melhor a riqueza e também o
de” (equity in health care) como “acesso igual pa- acesso aos serviços de saúde, numa sociedade
ra cuidado disponível para necessidades iguais” mais solidária, as diferenças em saúde restariam
(equal access to available care for equal need) 18 apenas biológicas.
(p. 434), acaba incorporando fórmulas implíci-
tas de justiça abstrata no sentido de Perelman 38
(p. 9): “a cada qual a mesma coisa”. Eqüidade e justiça em saúde
A superposição de igualdade e eqüidade feita
por Whitehead e seus seguidores retira da noção Importantes variações na distribuição das doen-
de eqüidade sua função analítica precípua, con- ças em populações têm sido atribuídas às formas
forme argumentação de Perelman 38. Por outro históricas através das quais os homens distri-
lado, ao definir “necessidades iguais” como re- buem a riqueza em sociedades concretas. Tais
ferencial para a eqüidade, parte de um pressu- disparidades se expressam por meio de renda,
posto inexistente na prática, conforme mostrou educação e classe social, correspondendo, nesse
Heller 39 em Além da Justiça. Já na versão modi- caso, à materialização de desigualdades. É inevi-
ficada da proposição de Whitehead, ao igualar tável a consideração de componentes culturais,
diferenças com desigualdades, seus autores des- éticos e políticos em qualquer avaliação teóri-
conhecem que, no pensamento dos principais co-epistemológica das raízes da diversidade, de
filósofos políticos contemporâneos 38, igualdade qualquer natureza, nas sociedades humanas.
associa-se à justiça, e o seu oposto, desigualdade, O conceito de igualdade tem sido relacionado
à injustiça. com a noção de justiça no pensamento dos prin-
Em suma, todos esses enfoques revelam im- cipais filósofos ocidentais, desde Aristóteles 38.
portantes inconsistências terminológicas e con- Como desdobramento lógico, o conceito de desi-
ceituais. Por um lado, a incorporação de teorias gualdade remete automaticamente à idéia de in-
de justiça na análise das desigualdades em saúde justiça. Entretanto, associar simplesmente justiça
tem sido incipiente na maioria dos estudos sobre e igualdade corresponderia a privilegiar apenas
o tema, exceção feita aos trabalhos de Daniels uma das modalidades da justiça formal, aquela
et al. 36 e Peter & Evans 34, conforme menciona- que atribuiria “a cada qual a mesma coisa”.
do acima. Tal carência é crucial na medida em Perelman 38 (p. 9) sistematizou possíveis fór-
que as diversas teorias de justiça social implicam mulas de justiça segundo as quais os homens têm
interpretações distintas sobre relações entre ne- julgado seus semelhantes: “a cada qual segundo

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suas obras”; “a cada qual segundo seus méritos”; fórmula de Whitehead, de acesso igual para ne-
“a cada qual segundo suas necessidades”; “a ca- cessidades iguais, os problemas práticos serão
da qual segundo a lei”; “a cada qual segundo sua insuperáveis. Quando uma criança tem uma
posição”. Na prática cotidiana, essas diversas fór- pneumonia, precisa de uma consulta médica
mulas da justiça podem entrar em contradição. de emergência. Todavia, se a criança nasceu em
Por exemplo, se dois indivíduos, com a mesma uma família rica, seus pais somente considera-
qualificação (mérito), produzem, do ponto de rão que suas necessidades foram satisfeitas se o
vista qualitativo e quantitativo, diferentes bens acesso for imediato a um hospital limpo, moder-
(obras), pode não ser justa uma remuneração no e confortável. Se a mãe vem de família mais
equivalente. pobre, ela pode ficar satisfeita simplesmente ao
Eqüidade, no sentido que lhe é dado por Pe- ter acesso ao cuidado efetivo, em tempo hábil
relman 38, corresponde a um instrumento da jus- para a resolução do problema, com pouca preo-
tiça concreta concebido para resolver as antino- cupação com o tempo de espera ou se o hospital
mias ou contradições entre as diversas fórmulas funciona num prédio sem conservação. Para a
da justiça formal. A eqüidade corresponde, des- definição de políticas de saúde justas, que cor-
sa forma, a uma intervenção de agentes sociais, respondam ao atendimento das necessidades da
quando assumem o papel de juiz, sobre situa- população, quais as necessidades que devem ser
ções de conflito. No caso específico da saúde, o consideradas? As da mãe rica ou as da mãe po-
exercício da eqüidade pode se materializar no bre? Se, por razões econômicas e técnicas, consi-
processo de formulação das políticas de saúde e deramos as expectativas da mãe pobre, não esta-
das políticas públicas intersetoriais que podem remos satisfazendo as necessidades da mãe rica,
ter impacto sobre os determinantes sociais da e ela procurará assistência fora da rede pública
saúde. Nesse sentido, eqüidade corresponderia com implicações para os propósitos de desenvol-
à participação e governança determinada pela vimento de sistemas universais. Mais grave ain-
cidadania plena, em um contexto de liberdade e da, poderemos estar rebaixando a definição do
democracia. Ainda assim, precisaríamos definir cuidado aceitável às expectativas modestas das
melhor o que é cidadania plena. No caso brasilei- classes populares que ajustam, freqüentemen-
ro, por exemplo, os resultados das conferências te, necessidades a possibilidades, como analisou
de saúde mostram que ainda não alcançamos Bourdieu 42 em relação ao gosto popular.
graus mínimos de cidadania. Independentemen- Para resolver esse problema, Heller 39 (p. 52)
te disso, o Estado pode formular políticas mais substituiu a idéia de justiça relacionada com
ou menos promotoras de eqüidade. necessidades ou necessidades essenciais por
Heller 39 critica as fórmulas que definem ne- aquela fórmula: “Para cada um, aquilo que lhe é
cessidades como critérios de justiça e apenas devido por ser um membro de um grupo ou cate-
considera as primeiras três fórmulas, aquelas que goria essencial”. Entretanto, mesmo se a fórmula
envolvem trabalho, mérito e posição. Para Heller, “a cada qual segundo suas necessidades” não é
necessidades humanas não podem ser definidas uma idéia de justiça, ela pode ser aplicada como
de forma objetiva, e definir necessidades iguais uma idéia de justiça corretiva, como uma idéia
é, conseqüentemente, uma tarefa impossível. A de igualdade. Em outras palavras, a pessoa que
partir de uma perspectiva diversa, Perelman 38 está julgando pode levar em conta a singulari-
(p. 9) também tinha consciência de que a fórmu- dade das necessidades pessoais e distribuir bens
la “a cada qual segundo suas necessidades” não e serviços de diferentes formas para diferentes
era uma fórmula de justiça. Por essa razão, suge- pessoas. Essa forma de ação pode ser boa, mas
riu alterá-la para “a cada qual de acordo com suas não justa. O conceito ético de justiça é, portan-
necessidades essenciais” 38 (p. 9). Isso é verdadeiro to, relacionado com as noções de honestidade e
para todos os determinantes sociais da saúde, bondade.
como comida, educação e situação no trabalho, Heller 39 também discute o conceito ético
entre outros. O alimento pode ser considerado político de justiça como relacionado à tarefa,
como necessidade básica e universal. Entretan- historicamente justificada tanto por fé como
to, o tipo e quantidade variam de pessoa para pela razão, de reformar tanto a sociedade injus-
pessoa, de cultura para cultura e de classe para ta como os indivíduos injustos. Ela argumenta
classe. Há também necessidades humanas que que, nos tempos modernos, o conceito ético de
não podem ser distribuídas, como, por exemplo, justiça perde seu componente sócio-político. O
amor e amizade. que resta é referido como justiça distributiva, que
No campo da saúde, tal condição é plena- propõe liberdade igual, oportunidades iguais e
mente aplicável. As necessidades de serviços de acesso igual para recursos visando satisfazer as
saúde e mesmo as necessidades de saúde variam necessidades básicas essenciais 42. Heller então
de pessoa para pessoa. Se decidirmos aplicar a conclui que igualdade e desigualdade são am-

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bos construtos sociais porque cada ser humano arena das variações sociais, um elemento mais
é único. Ela desenvolve um novo conceito ético propriamente dialógico ou interativo, referido
político incompleto de justiça. Esse conceito ten- à linguagem como mediador do valor (estético,
ta estabelecer uma base normativa comum para religioso, mítico, esportivo etc.) das diferenças.
diferentes modos de vida. O conceito é incom- Na dimensão do cotidiano, as opções mais ordi-
pleto porque cada modo de vida específico pode nárias, como o gosto alimentar ou a prática de
ser ideal para o indivíduo que o escolheu. É por esportes, revestem-se de significado social rela-
essa razão que não pode existir um modo de vida cionado com a constituição de classes sociais,
ideal. Justiça, conclui Heller, existe como recipro- classes de gênero e classes de geração.
cidade simétrica, comunicação e cooperação. Transportando essa reflexão para a saúde,
Na presente discussão, como vimos, ambos poderíamos dizer, numa primeira aproxima-
os termos “desigualdade” (inequality) e “iniqüi- ção, que diferenças biológicas produzem – para
dade” (inequity) devem ser relacionados a idéias usar a expressão de Canguilhem 45 – potenciais
de justiça de acordo com diferentes tradições teó- de reação distintos frente às infidelidades do
ricas. Assim, desigualdades em saúde podem ser meio, resultando ou não em diferenças orgâ-
interpretadas como resultado de diferentes for- nicas, fisiopatológicas. Contudo, as diferenças
mas de tratamento a indivíduos que pertencem biológicas, embora aparentemente dadas e na-
a categorias essenciais ou grupos sociais 39,40. Já turais, sempre se expressam através de comple-
eqüidade em saúde pode ser interpretada como xos processos de produção social. Se, por um
o resultado de políticas que tratam indivíduos lado, a expressão fenotípica e fenomênica dos
que não são iguais de forma diferente. Nesse sen- processos biológicos resulta da interação entre
tido, “eqüidade” e “iniqüidade” correspondem a o indivíduo e a sociedade, os mesmos podem,
conceitos relacionados com a prática da justiça por sua vez, ser percebidos e ressignificados de
e à intencionalidade das políticas sociais e dos forma diferente pelos sujeitos. Ou seja, as per-
sistemas sociais. cepções e os sentidos atribuídos aos efeitos dos
processos fenomênicos dependerão da posição
que os sujeitos ocupam em diversos campos do
O conceito de distinção espaço social, nos diferentes momentos históri-
cos, bem como das relações estabelecidas com
Um importante conceito a ser considerado nesta outros indivíduos no trabalho, na família e nos
série significante, apesar de ausente no debate movimentos sociais. Embora essas relações se-
corrente sobre o tema desigualdades em saúde, jam mais freqüentemente de luta e conflito, por-
envolve as dimensões simbólicas individuais e tanto geradoras de estresse, podem ser também
coletivas do existir humano. Trata-se da idéia cooperativas e comunicativas e, dessa forma,
de distinção, que será aqui utilizada no sentido protetoras 46.
proposto por Bourdieu 42, referindo-se a um atri- Para Bourdieu 42, a matriz que orienta essas
buto que não é nem “natural” como pretende a percepções e ressignificações é o habitus, es-
burguesia nem necessariamente corresponde a quemas de visão e de divisão do mundo social
diferenças sociais decorrentes de políticas iní- que funcionam como “estruturas estruturantes”.
quas produtoras de inferioridades. Analisando Além disso, pelo fato de estarem relacionados à
a homologia existente entre o espaço dos estilos posição que os indivíduos ocupam num espaço
de vida e o espaço social, através da investigação social e com as diversas espécies de capital que o
sobre o gosto das diferentes classes e frações de indivíduo acumula – econômico, cultural, social,
classe a respeito do consumo de bens culturais político e simbólico, tais esquemas também con-
(obras de arte, cinema, música, lazer, esporte), formam “estruturas estruturadas”.
mas também vitais (alimentação), esse autor O conceito de habitus é central na teoria das
conclui que o gosto constitui um operador práti- práticas de Bourdieu juntamente com os con-
co da transformação de coisas em signos distin- ceitos de espaço social, campo, illusio e capital
tos e distintivos. 42,47,48,49. O habitus corresponde à incorporação

A distinção faz parte das práticas dos agentes de estruturas relacionadas com a história coletiva
sociais, quer de forma individual quer de forma e com a trajetória individual no inconsciente dos
coletiva, na constituição de sua identidade e de indivíduos. Dessa forma, funciona como esque-
sua significação, o que não quer dizer que essa mas de percepção e classificação das práticas,
busca seja o motor da conduta humana como como um operador prático que ajusta condições
alerta o referido autor 42. São então incorpora- objetivas a esperanças subjetivas. O habitus de
das à análise duas novas dimensões do proble- classe ou de grupo corresponderia a um sistema
ma: a natureza simbólica do homem 43 e o seu subjetivo, mas não apenas individual, de estrutu-
cotidiano 44. A dimensão simbólica introduz, na ras interiorizadas 47.

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Por outro lado, as práticas que implicam de- rizadas principalmente pela clínica, que, nesse
terminadas escolhas, gostos e estilos de vida e sentido, engendrou o aforismo idealizado – exis-
que influenciam na produção de certos estados tem doentes e não doenças –. Numa perspectiva
orgânicos são o resultado da relação entre um comparativa visando à produção de conheci-
habitus e uma situação 42. Dessa forma, o pro- mento de base indutiva, originalmente no nível
cesso saúde-doença-cuidado corresponderia ao subindividual da Patologia, importa mais a se-
produto de uma dupla relação entre os agentes melhança como operador lógico-conceitual do
sociais tanto na produção de certos estados or- diagnóstico; por outro lado, no nível individual
gânicos quanto nas percepções distintas acerca da prática clínica, ressalta-se a diferença entre os
dos últimos. Ambos os complexos de fenôme- casos que demandam intervenção profilática ou
nos são influenciados pela posição ocupada terapêutica específica.
pelo indivíduo no espaço social, pelas relações Por outro lado, ao se considerar a dimensão
sociais de luta e cooperação existentes nas redes coletiva do fenômeno saúde-doença, priorizam-
de relações dos campos a que eles pertencem e se disparidades não entre seres individuais e sim
pelas dinâmicas existentes intra e entre campos entre conjuntos de indivíduos – “populações”. Is-
sociais 46. so tem caracterizado a Epidemiologia, constituí-
da, no século XX, como abordagem científica dos
fenômenos populacionais da saúde-doença, re-
Semelhanças/diferenças no adoecer gistrando as diferenças, inicialmente em relação
ao lugar, tempo, idade e sexo, e, posteriormente,
O processo concreto do adoecimento pode ser em relação a estratos, grupos, etnias, gêneros e
apreendido, numa primeira aproximação, co- classes sociais. A busca de associações entre ex-
mo série fenomênica a um só tempo singular e postos e não expostos implica simultaneamente
particular, com grande variação entre indivíduos na identificação de semelhanças entre indivídu-
(ou espécimes), a despeito da existência de ca- os e diferenças entre grupos.
racterísticas comuns aos diversos casos de uma A Epidemiologia, enquanto dispositivo tec-
mesma doença. Consideremos como operador nológico, pode até ser capaz de medir com algum
teórico dessa primeira aproximação a díade se- grau de precisão variações na mortalidade e na
melhança/diferença. Em segunda aproxima- morbidade, porém encontra limitações para ex-
ção, doenças, padecimentos ou agravos à saúde plicar as raízes das disparidades sociais em saúde
são construídos como objeto de conhecimento e sua persistência mesmo em sociedades indus-
científico, metodologicamente, por referência trializadas. De fato, o estudo das desigualdades
a variações em coletivos humanos. Nesse caso, em saúde implica adoção de um referencial te-
estaríamos falando de igualdade/desigualdade órico capaz de relacionar essas diferenças com
de situações 38, no opus operatum no sentido de os processos através dos quais o espaço social é
Bourdieu ou no simples sentido da igualdade/ constituído e reproduzido tanto na esfera econô-
desigualdade matemática. No âmbito da saúde, mica quanto na simbólica e cultural que podem
a busca de semelhanças entre fenômenos da resultar tanto em apropriação material da rique-
natureza – inspirada na lógica formal aristotéli- za, a partir da exploração do trabalho de um gru-
ca 50 – tem norteado a construção de conceitos po por outro, quanto em violência simbólica, ge-
em ciências descritivas, tais como a Anatomia e rando, assim, diferenças que, por serem produto
a Histologia, nas ciências da função, como a Fi- de injustiças, correspondem a desigualdades.
siologia e a Patologia, bem como nos campos de Como ilustração, tomemos o campo da Ge-
aplicação científica, como a Medicina e a Saúde nética, responsável pelos exemplos mais consis-
Coletiva. Assim, da mesma forma que as diversas tentes de reafirmação das diferenças biológicas
espécies animais e vegetais foram classificadas, entre os seres humanos. Mesmo em relação a
as doenças também foram nomeadas median- essa ordem de determinação, as características
te a identificação de sintomas e sinais comuns de penetrância e expressividade dos genes tradu-
a certos indivíduos e a partir de quadros anáto- zem a variabilidade dos mesmos bem como sua
mo-patológicos correlacionados. Em sua obra expressão concreta como produto da interação
O Nascimento da Clínica, Foucault 51 assinala com o meio 52. Uma criança com síndrome de
a importância da Medicina das Espécies para a Down pode, a depender da rede de relações so-
constituição histórica de um saber racional e ins- ciais estabelecida pela família e pela sociedade,
trumental sobre os fenômenos da saúde-doen- desenvolver atividades habituais e até mesmo ar-
ça-sofrimento-morte, na Europa Ocidental, no tísticas. Pelo contrário, outra criança com quadro
século XVIII. congênito similar, cuja posição no espaço social
As diferenças individuais entre distintas ma- não lhe permite superar seu problema genético
nifestações de certas patologias têm sido valo- e ser normativa (no sentido canguilhemiano),

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dependerá de políticas equânimes de saúde pa- pede politizar os seus diversos sentidos e efeitos.
ra que a diferença biológica não resulte em um A presente proposta de abordagem do problema
problema de saúde. Nesse caso, a diferença bio- da eqüidade em saúde, pelo contrário, possibilita
lógica, na ausência de eqüidade, pode tornar-se reafirmar que as diferenças de ocorrência de do-
desigualdade. enças e eventos relativos à saúde são mediadas
Também outras diferenças biológicas, e tam- social e simbolicamente. Desse modo, refletem
bém socialmente construídas, consideradas no interações entre diferenças biológicas e distin-
plano coletivo como diversidade, no sentido pro- ções sociais por um lado e iniqüidades sociais
posto por Breilh 21,22, e que repercutem na saú- por outro, tendo como expressão empírica as
de (gênero, etnia e geração), são influenciadas e desigualdades em saúde. Por esse motivo, tratar
mediadas por diferenças sociais. A cronificação teoricamente o problema da eqüidade em saú-
de idosos relacionada com o abandono familiar de toma como imperativo examinar as práticas
pode estar relacionada com as características das humanas, sua determinação e intencionalidade
relações familiares que variam, entre outros as- no que diz respeito especificamente a situações
pectos, com os grupos sociais. As repercussões concretas de interação entre os sujeitos sociais.
e a capacidade de enfrentamento da violência No plano metodológico, algumas das contri-
doméstica contra a mulher, fruto da dominação buições dos autores aqui analisados podem ser
de gênero que estrutura a sociedade ocidental, úteis para estabelecer uma terminologia mais
variam também entre campos do espaço social. precisa no sentido de construir uma matriz se-
Quanto mais bem situada no espaço social no mântica comum, passo inicial para melhores
que diz respeito à quantidade de capital cultural, práticas de pesquisa sobre o tema injustiças em
econômico e simbólico acumulados, a mulher saúde. Nesse sentido, identificamos a oportuni-
dispõe de mais recursos para enfrentar a violên- dade e mesmo urgência de restaurar as relações
cia masculina, quer materialmente, quer psico- teóricas entre os conceitos a fim de possibilitar
logicamente. uma prática social transformadora.
Em outras palavras, a pergunta que motiva As considerações feitas aqui sobre a natu-
grande parte das investigações de causalidade reza das iniqüidades em saúde mostram que,
na Epidemiologia é exatamente quais são os atri- além disso, é necessária uma reorganização do
butos comuns ao grupo doente e quais as dife- espaço social, sua estrutura e suas relações. Essa
renças em relação ao grupo que não adoece. A tese, entretanto, pressupõe a existência de atos
resposta a essa questão tem sido norteada, de desinteressados combinada com ações racio-
forma hegemônica, por uma concepção biologi- nalmente direcionadas a finalidades explicita-
cista da determinação das doenças e pelo recurso mente apresentadas. A unanimidade do discur-
ao conceito formal de risco como probabilidade so em prol da eqüidade, não obstante o amplo
de adoecer 53. Assim, o esforço de mapeamento espectro de forças políticas que o formulam, ao
do genoma humano, as tentativas de isolamento tempo em que se contempla a persistência das
de novos vírus em doenças neoplásicas e a cha- desigualdades no mundo, mostra que outras
mada epidemiologia molecular situam-se nessa lógicas devem estar orientando a formulação
direção 54. Segundo tal abordagem, homens e (ou pelo menos a implementação) das políticas
mulheres, negros e brancos, ricos e pobres adoe- públicas.
ceriam porque são constitutivamente diferentes Na atual conjuntura de debate teórico da
entre si, têm genótipos diversos e, conseqüen- Saúde Coletiva no Brasil, tornou-se consenso
temente, desenvolvem respostas imunes dife- afirmar que a superação das desigualdades em
renciadas – em outras palavras –, tratam-se de saúde requer a formulação de políticas públi-
substâncias diferentes. Não poderia haver me- cas equânimes. Isso corresponde ao reconhe-
lhor exemplo, a ser frontalmente questionado, de cimento da saúde como direito e à priorização
uma visão substancialista da ciência, no sentido das necessidades como categoria essencial para
de Cassirer 50. as formas de justiça. Priorizar necessidades não
significa impor necessidades, porém definir o
padrão tecnicamente aceitável interagindo com
Conceitos de Eqüidade em Saúde: as expectativas dos diversos modos de vida dos
conclusão diferentes grupos sociais. Introduzir, no deba-
te da saúde, o conceito de distinção, tal como
À exceção da proposta de Breilh 21,22, as perspec- definido por Bourdieu 42, significa incorporar,
tivas analisadas acima situam os conceitos da na pauta política da Saúde Coletiva, aquelas
série semântica em pauta num mesmo patamar diferenças e diversidades que, por se situarem
hierárquico, como se fossem expressões de pro- predominantemente no plano simbólico, apa-
cessos sociais históricos equivalentes, o que im- reciam como mero resíduo da vida social dos

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seres humanos, como, por exemplo, a questão plicar o real para transformá-lo. Parafraseando
das condutas de risco e das heterogeneidades Bourdieu 55 (p. 736) a respeito do conhecimento
de base étnico-cultural. científico, diríamos que “a alternativa da ciên-
À guisa de conclusão, embora este ensaio cia não é entre a desmedida totalizadora de um
não pretenda ser um estudo semântico apro- racionalismo dogmático e a renúncia esteta de
fundado e sim tão somente uma anotação para um irracionalismo niilista; ela se satisfaz com
abertura de debate, portanto descomprometido verdades parciais e provisórias que ela pode con-
com prescrições e soluções, afirmamos que a quistar contra a visão comum e contra a doxa in-
temática das desigualdades em saúde, marca- telectual e que estão em condições de fornecer os
da pela iniqüidade das políticas econômicas e únicos meios racionais de utilizar plenamente as
sociais, impõe uma tomada de posição tanto margens de manobra deixadas para a liberdade,
epistemológica quanto política. Não basta ex- isto é, para a ação política”.

Resumo Colaboradores

A eqüidade em saúde tem sido estudada principal- L. M. Vieira-da-Silva foi responsável pela concepção da
mente a partir de uma perspectiva epidemiológica e arquitetura do ensaio, realização da síntese da biblio-
pouca atenção tem sido dada às questões conceituais. grafia revisada e redação. N. Almeida Filho contribuiu
Em grande parte dos estudos revisados, a eqüidade na concepção do ensaio, na síntese da bibliografia e na
tem sido utilizada como sinônimo de igualdade, e seu redação.
oposto, a iniqüidade, como sinônimo de desigualdade.
As tentativas de melhor precisar seus significados têm
sido, em boa parte, descritivas, com lacunas no que diz
respeito à discussão das relações entre eqüidade em
saúde, justiça e o processo de determinação social da
saúde-doença. Neste ensaio, pretendemos analisar cri-
ticamente a série significante diversidade, diferença,
desigualdade, iniqüidade, distinção no que concerne
à produção da saúde-doença-cuidado em grupos so-
ciais e suas possibilidades de articulação a uma teoria
social da saúde. Nesse percurso, estaremos apoiados,
por um lado, no conceito de Perelman de eqüidade e
em alguns dos argumentos de Heller sobre a justiça e,
por outro lado, na sociologia das práticas de Bourdieu,
com o objetivo de melhor desenvolver esses conceitos,
procurando discutir implicações para a formulação de
políticas públicas no campo da saúde.

Eqüidade em Saúde; Desigualdade em Saúde; Forma-


ção de Conceito

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EQÜIDADE EM SAÚDE: UMA ANÁLISE CRÍTICA DE CONCEITOS S225

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Recebido em 11/Mar/2008
Aprovado em 17/Jun/2008

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