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A psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a educação da

liberdade
Maria Marta Mazzaro Balestra
Curitiba: Intersaberes, 2012
Victória Ros Soler de Moraes – RA: 622100811
Pós-graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional/ Lato Sensu [Uninove]
São Paulo, SP – Brasil
victoria.ros@uni9.edu.br

O livro: A psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a educação da liberdade, de


autoria de Maria Marta Mazaro Balestra, trata sobre as dificuldades de aprendizagem de
acordo com os estágios do desenvolvimento da teoria piagetiana e o trabalho psicopedagógico
cerceado por atividades elaboradas por Rosa Neto (2005) como alternativa para trabalhar as
dificuldades presentes no processo de ensino-aprendizagem.

Maria Marta Mazaro Balestra nasceu e viveu sua infância em São Joaquim, no Paraná
e, iniciou seu trabalho de educadora após encerrar o Curso Normal Colegial em 1970 na
escola em que frequentou o primário. Licenciou-se em 1974 no curso de Pedagogia pela
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Paranavaí e, no ano seguinte complementou sua
formação com o curso de Orientação Educacional. Em 2003 mudou-se para Curitiba e
formou-se na pós-graduação em Psicopedagogia pelo Instituto Brasileiro de Ensino e
Extensão, terminando seu mestrado em 2004 pela PUCPR. Desde 2000, Balestra exerce o
magistério na Faculdade Cenecista de Campo Largo.

Buscando contribuir para a formação psicopedagógica dos profissionais, Balestra


(2012) procura em diversas correntes do pensamento por alternativas teóricas que visualizam
o contexto dos problemas de aprendizagem, a fim de ampliar os conhecimentos sobre esta
teoria tão pouco difundida e mostrar a influência sobre o processo de ensino-aprendizagem
compreendendo os fenômenos pedagógicos. Esta obra contempla a teoria dos estágios do
desenvolvimento elaborados por Jean Piaget, denominada Epistemologia Genética, e a
importância do trabalho do psicopedagogo em cada etapa da vida, elucidando outros autores
que corroboram com o pensamento do autor principal, bem como exemplifica através de
práticas e exercícios de fixação. Com o objetivo de proporcionar reflexão a respeito da prática
docente e aprofundar os conceitos da teoria piagetiana a autora Maria Marta Balestra utiliza-
se de linguagem clara e objetiva para apresentar as ideias de Piaget, desde a vida e obra do

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autor às contribuições de seu pensamento para a psicopedagogia, perpassando pelo conceito
de inteligência, epistemologia genética, afetividade e os estágios do desenvolvimento.

Balestra (2012) explica que Jean Piaget contribuiu significativamente para a educação
enquanto epistemólogo, com suas buscas pelo “sujeito epistêmico” que é o indivíduo em seu
processo de construção do conhecimento. O objetivo de Piaget era colaborar para uma
sociedade justa e igualitária e, para isto abordou em suas obras problemas relativos à
formação da inteligência infantil, explicando a gênese do conhecimento como construção
simultânea da aprendizagem e do desenvolvimento humano.

Nesta perspectiva, a autora diferencia o conceito de educar – ação conjunta com o


sujeito visando seu desenvolvimento integral – e o conceito de ensinar – possibilitar o acesso
ao conhecimento através de procedimentos cooperativos buscando alcançar a cidadania.
Sendo de suma relevância compreender como se dá o processo de ensinar e aprender no
ambiente escolar conforme as correntes de pensamento piagetiana e empírica. Ou seja, o
profissional da educação deve estar sempre atento e reflexivo com a sua prática pedagógica
no processo de ensinar e aprender.

Além de disseminar os conhecimentos acerca da teoria piagetiana, o texto busca


evidenciar as diferenças entre práticas pedagógicas construtivistas e tradicionais, distinguindo
o olhar do educador em relação ao educando no processo de ensino-aprendizagem. Neste
contexto, o pedagogo cujo pensamento é o de que a criança é uma tábula rasa que está na
escola para adquirir todo o conteúdo depositado pelo professor, sem que haja trocas de
experiências e que os conhecimentos prévios adquiridos no ambiente familiar sejam
completamente desconsiderados é criticado pela autora Maria Marta M. Balestra como uma
prática equivocada que implica no fracasso escolar e frustração do educando. A educação
empírica também afeta a autonomia da criança que nesta corrente de pensamento não possui
liberdade para pensar, agir ou expressar-se, sendo apenas um depositório de conteúdos
padronizados e insignificantes para o cotidiano.

No que tange o fracasso escolar, Balestra (2012) aborda pesquisas realizadas por
Ernesto Rosa Neto acerca da atuação do psicopedagogo para intervir nas dificuldades de
aprendizagem, contemplando atividades lúdicas que avaliam o desenvolvimento da criança no
âmbito da conservação. Todavia, antes de apresentar os instrumentos avaliativos
desenvolvidos por Rosa Neto, a autora aborda os métodos psicopedagógicos, clínico e
institucional, e suas finalidades.

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No que concerne a organização mental do indivíduo, Piaget conceituou a inteligência
como um processo de adaptação composta por três mecanismos, sendo assimilação, esquemas
de ação e acomodação. A autora explica os mecanismos de forma objetiva e utiliza de figuras
para melhor compreensão, tornando o texto acessível à leigos e especialistas da área.

Estes mecanismos devem ser complementares e resultam na reestruturação do


processo de conhecimento, após resolução de problema e vivência de nova experiência que é
compreendida por Piaget como “equilibração”. O desenvolvimento das estruturas mentais e
intelectuais ocorrem a partir do processo de equilíbrio entre os conhecimentos prévios e a
aquisição de novos conhecimentos, portanto, o sujeito necessita de novos desafios e
motivações constantes em seu processo de ensino-aprendizagem para que haja a possibilidade
de ampliar seus esquemas de ação. Neste contexto, Bossa (2000) referência Marina Müller
acerca da participação ativa na apropriação de representações simbólicas, tendo em vista que
o pedagogo piagetiano deve estimular a autonomia para a resolução de situações-problema ao
invés de compreender o sujeito como ser inato.

Balestra (2012) ressalta que no ensino tradicional o educando é visto como um ser
passivo que recebe os conteúdos depositados pelo professor, negligenciando afetividade no
processo de ensino-aprendizagem. Portanto, os conhecimentos adquiridos no ensino empirista
logo se esvaem e o sujeito assim que encerra o ciclo escolar esquece os conteúdos que lhe
foram depositados, por não fazerem sentido algum para este. Em contrapartida, o
interacionismo valoriza a afetividade no ato de aprender como uma motivação que leva o
sujeito a busca pelo conhecimento, ou processo de equilibração, como denomina Piaget. No
capitulo 4 a autora aprofunda-se nas fases do desenvolvimento em concomitância com a vida
afetiva, afirmando que “A afetividade não é nada sem a inteligência, que lhe fornece meios e
esclarece fins” (Balestra, 2012, p.49).

Balestra (2012) esclarece em sua obra que, juntamente aos estágios do


desenvolvimento humano e aos critérios de classificação tal estruturação, Piaget conceitua a
teoria das defasagens compreendendo que as noções de conservação são construídas
gradativamente pela criança, bem como a organização psíquica do sujeito ao longo dos anos,
salientando que:

“O que deve ficar claro para os profissionais da educação, especialmente


para o psicopedagogo, cuja atuação se volta primordialmente para os
problemas decorrentes d dificuldade de aprendizagem, é que a teoria das
defasagens nos permite conhecer as possibilidades de construção de

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estruturas mentais nos diferentes estágios da aquisição do conhecimento.”
(Balestra, 2012, p. 60)
A autora faz questão de ressaltar a magnitude do embasamento teórico na atuação do
psicopedagogo na superação das dificuldades de aprendizagem do educando, tendo em vista
que este profissional deve aprofundar-se nos conceitos piagetianos, compreender o
desenvolvimento intelectual e social da criança analisando os fatores inerentes ao sujeito que
implicam em seu processo de ensino-aprendizagem, a fim de auxiliar tanto o educando quanto
o educador a lidar com as defasagens, buscando recursos e fundamentação que visem o
desenvolvimento integral do indivíduo.

Não somente visando o desenvolvimento intelectual, entretanto, Maria Marta Balestra


evidencia a importância da epistemologia genética no desenvolvimento afetivo que, em sua
maioria, é negligenciado no ambiente escolar de maneira que os interesses do educando são
descartados e a prática pedagógica apresenta enfoque empírico. Piaget denomina a corrente
epistemológica que advém da relação do sujeito com o meio de interacionismo, ao qual
consiste na influência que o meio sociocultural exerce sobre o individuo e vice-versa, assim,
tornando a aprendizagem significativa.

Nesta perspectiva, Balestra (2012) salienta o conceito de conservação e fundamenta a


teoria piagetiana com a obra de Ernesto Rosa Neto “Didática da Matemática”, mencionando
atividades lúdicas que podem ser utilizadas pelo psicopedagogo na avaliação do
desenvolvimento psicogenético. No capítulo 6, a autora aborda essas atividades de forma
objetiva, através de exemplos e imagens ilustrativas que facilitam a visualização da dinâmica
na prática. As atividades confeccionadas pelo autor são de simples elaboração e aplicação,
todavia, a avaliação do psicopedagogo deve ser cautelosa e criteriosa com embasamento
teórico e compreensão das expectativas de cada estágio do desenvolvimento, para que seja
possível identificar as defasagens de aprendizagem e as intervenções sejam efetivas e
eficientes.

No capítulo seguinte, a autora critica a postura pedagógica empirista que contrapõe a


abordagem piagetiana que visa o respeito às diferenças e valorização dos conhecimentos
preexistentes do indivíduo, bem como seus interesses afetivos e relações com o meio
sociocultural. Neste contexto, Balestra (2012) ressignifica o conceito de ensinar como a
socialização do conhecimento por meio de procedimentos cooperativos, no qual o educador
deve estar atento às formas de aprendizagem apresentadas pelos sujeitos para que adeque sua
prática pedagógica. A fim de elucidar tal pensamento, a autora parafraseia o poema Súplica

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do estudante, de Maturana (1994), que remete ao cotidiano de uma classe tradicional na qual
os conteúdos são impostos ao grupo como verdades absolutas e o professor é visto como o
detentor de todo o conhecimento.

Entretanto, nesta concepção (empírica) de educação a liberdade do aluno é retirada


juntamente com sua vontade de aprender, pois a criança não possui interação com questões
sociais significativas e sequer culmina afeto com os conteúdos que lhe é depositado. Além do
desrespeito com os conhecimentos prévios e o ritmo de aprendizagem, no ensino tradicional o
conceito de disciplina é errôneo e requer que o educando seja um sujeito passivo e obediente,
ou seja, o processo de ensino-aprendizagem se torna unilateral no qual não há interações.
Nesta perspectiva, Piaget trata da construção da moral na criança que ocorre em três etapas,
sendo: a anomia, predominante até os 6 anos de idade, na qual existe a dificuldade em seguir
regras coletivas; a heteronomia que ocorre por volta dos 10 anos e, a criança acata às regras
passivamente; e a autonomia, alcançável normalmente entre os 11 ou 12 anos, na qual
entende-se que as regras podem sofrer alterações exigindo respeito mútuo e cooperação,
denominada por Piaget como democracia.

Balestra (2012) finaliza seu estudo concluindo a magnitude da teoria piagetiana no


trabalho psicopedagógico para a construção das estruturas intelectuais, afetivas e morais,
disponibilizando sugestões de leituras ao final de cada capitulo, para que os futuros
psicopedagogos aprofundem seu embasamento teórico, não somente com conhecimentos
superficiais acerca da teoria de Jean Piaget, mas provocando à busca por fundamentação e
recursos indispensáveis ao trabalho docente. A obra é, portanto, de grande valia para
profissionais da área da educação que procuram refletir a respeito de sua prática para com os
discentes.

Referências

BALESTRA, Maria Marta Mazzaro. A psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a


educação da liberdade. Curitiba: Intersaberes, 20212.
BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre:
Artmed, 2000.
MATURANA, H. El sentido de lo humano. Santiago: Dolmen, 1994.
NETO, Ernesto Rosa. Didática da matemática. 5. Ed. São Paulo: Ática, 2005.

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